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ATIVIDADE INDIVIDUAL

Matriz de atividade individual

Aluno/a: Vagner Pereira de Oliveira

Disciplina: Direito Empresarial 06-22

Turma: ASG01811-PAADM42

Introdução

As empresas estão sujeitas a imprevistos que causam impactos profundos na estabilidade


econômico-financeira, prejudicando não apenas a pessoa jurídica, mas também pessoalmente os
sócios responsáveis, bem como a comunidade que tem relação direta com a organização ou
produtos usufruídos dela.
A análise proposta para esse trabalho individual versa sobre olhares diferentes sobre casos
que envolvem a necessária e precisa aplicação do direito empresarial, porém com motivações e
resultados diferentes.
O estudo propõe a análise de ferramentas jurídicas que se refere ao relacionamento de
consumo e renegociações de contratos, porém os casos e motivações são bem diferentes, embora
os resultados econômicos e financeiros possam apresentar semelhanças. Nesse trabalho aborda-se
a adequada estrutura jurídica, a desestabilização da segurança patrimonial dos sócios e a
decorrência da crise financeira e das relações contratuais entre empresa, fornecedores e clientes.
Esses são pontos do parecer apresentado sobre as empresas impactadas pela pandemia
causada pelo novo coronavírus, que forçou o isolamento social, causou o fechamento ou limitou o
funcionamento de comércios, e em comparação com o caso da Cervejaria Backer, empresa
responsável pela contaminação da bebida que causou a doença e morte de consumidores, casos
ocorridos a partir de 2019 e com consequências até 2022, dentro do processo de recuperação
econômica, financeira e da segurança jurídica.

Desenvolvimento

PARECER

A pandemia gerada pela disseminação do novo coronavírus (SARs-Cov 2) foi um evento


sem precedentes na história em termos humanitários, sociais, econômicos e culturais, gerando
impactos ainda incalculáveis, mas que necessitam ser avaliados ao mesmo tempo que são aplicadas

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estratégias em busca da continuidade dos projetos e a retomada da normalidade das empresas.
O número de casos de empresas afetadas pelo isolamento social e fechamento dos
comércios, por meio de obrigatoriedade das autoridades a fim de evitar ao máximo a contaminação
pela Covid-19, gerou um impacto sem precedentes no mundo. No Brasil, ainda no início da
pandemia, em abril de 2020, um estudo simulado realizado pela Fipe já indicava que metade das
245 grandes companhias que atuavam no mercado de capitais teriam problemas para cumprir
obrigações com fornecedores, salários e aluguéis em apenas três meses, fechando o caixa no
vermelho (SALOMÃO, 2020).
Assim, foi possível projetar que para as pequenas empresas o cenário seria ainda pior. No
primeiro mês de pandemia pesquisa do Sebrae já indicava que 89% das micro e pequenas
empresas haviam tido queda no faturamento, em média de 69%, e que 36% dos empreendedores
já previam a necessidade de fechar o negócio permanentemente se o isolamento com fechamento
dos estabelecimentos durasse mais de dois meses (SALOMÃO, 2020).
Ainda nem se tinha ideia de que a situação perduraria por anos e não apenas meses,
associada ainda a uma recessão econômica que havia se iniciado em 2016 e o prolongamento de
uma situação ainda não totalmente controlada do coronavírus, resultado de ondas de novas
variantes do coronavírus ainda em 2022, o que elevou a massa de desempregados, e,
consequentemente a redução do poder de compra, agravando a questão financeira, mesmo após a
reabertura dos estabelecimentos, pois a economia foi gravemente impactada.
Dados da pesquisa PNAD do IBGE divulgada em setembro de 2021 davam conta de que
cerca de 600 mil empresas fecharam as portas num intervalo de dois anos, com queda acentuada
em 2020, que se manteve em 2021, especialmente as que contavam com empregados (NADER,
2021)
Já no caso da Cervejaria Baker, a crise econômica e financeira se deu em decorrência da
contaminação de bebidas com monoetilenoglicol (MEG) e dietilenoglicol (DEG), duas substâncias
extremamente tóxicas, que provocam danos ao sistema nervoso e aos rins, que afetaram ao menos
20 consumidores e causou a morte de 10 pessoas. O caso veio à tona em janeiro de 2020, mas
investigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostrou que no início
de 2019 já existia contaminação de tanques onde eram produzidas as cervejas (WIKIPEDIA, 2022).
A Cervejaria Backer se destacava como uma reconhecida produtora de cerveja artesanal na
região sudeste do Brasil, com cerca de 20 rótulos. Assim que os primeiros consumidores passaram
mal e buscaram hospitais em Minas Gerais, sendo feita a associação com o consumo da bebida, a
empresa negou o fato e depois indicou que seria caso de contaminação externa e sabotagem. Mas
com o avanço das investigações foi confirmado que o caso era decorrência de práticas
irresponsáveis na utilização de líquidos refrigerantes tóxicos (MEG e DEG) em substituição ao

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recomendado atóxico, que como o propilenoglicol e álcool etílico potável (WIKIPEDIA, 2022).

Ficou comprovado que a contaminação não se deu apenas em um tanque fermentador, o


JB 10, onde foi identificado um furo de aproximadamente 2mm na solda, o que gerou contato da
serpentina de resfriamento, por onde passava a substância tóxica, e o líquido das cervejas que
foram envasadas. O Ministério da Agricultura identificou uma grande quantidade de lotes
contaminados, além da marca Belorizontina e Capixaba, que foram as primeiras identificadas, mas
também outras identidades, como Capitão Senra, Brown, Fargo 46, Pele Vermelha, Corleone e os
rótulos Backer D2, Backer Pilsen, Backer Trigo (WIKIPEDIA, 2022).
A empresa havia crescido muito nos últimos dois anos, contando com 70 tanques, sendo 20
adquiridos entre 2018 e 2019. Foi possível detectar a prática nociva da empresa, considerada assim
irresponsável, e não apenas uma contaminação eventual, porque foi identificada que existiam as
substâncias tóxicas em lotes de cervejas que foram produzidas anteriormente à instalação do
tanque JB 10 na cervejaria Backer, além de diversas falhas e lacunas nos sistemas de controle e
gestão, como relatórios incompletos e que não permitem a rastreabilidade dos produtos
(WIKIPEDIA, 2022). O caso de contaminação por MEG e DEG em alimento foi inédito em nível
mundial, afetando gravemente a credibilidade da empresa e até mesmo do setor de bebidas e do
Brasil.
O entendimento em relação à principal diferença entre os dois casos é de que a pandemia
foi um fator imprevisível, de nível mundial, decorrente de um vírus desconhecido e altamente
infeccioso, portanto o fechamento do comércio e a decorrente crise financeira eram incontroláveis,
considerando que o isolamento era a única forma de tentar conter a disseminação da doença, para
qual não existia medicamentos ou vacina. Já no caso da proibição da venda de todas as cervejas e
chopes produzidas pela Backer, retirada do mercado e interdição da empresa, o que causou a
quebra financeira, foi decorrência de decisões estritamente dos sócios da empresa.
Em relação às renegociações de contratos e justificativas para atrasos de pagamentos, no
caso da Covid-19 está embasada pela alegação de caso fortuito, evento totalmente imprevisível ou
força maior, conforme termos do art. 393 do Código Civil (TARTUCE, 2020). Enquanto o caso
Backer fere artigos do Código de Defesa do Consumidor (CDC), nos termos da fraqueza, debilidade
e vulnerabilidade da relação jurídica, por falta de informações técnica, fática ou informacional,
gerando assim riscos e prejuízos a terceiros (MARQUES, 2012).
Como consta no Código de Defesa do Consumidor, em seus artigo 6º, deve ser garantida a
proteção da vida, saúde e segurança do consumidor, além de garantidos produtos e serviços que

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não apresentem riscos, com garantia ainda de reparação dos danos, o que pode ser exigido em
órgãos administrativos e judiciários.

1. Ferramentas para amenizar os resultados negativos e viabilidades revisionais de


contratos
Independentemente da motivação, considerando os prejuízos econômico-financeiros e suas
decorrências, o ordenamento jurídico brasileiro oferece ferramentas que permitam superar a
instabilidade patrimonial ou sanar as questões, por meio falimentar, quando não há viabilidade
econômica de recuperação (SARTORI; VIVAS, 2019).
Juridicamente, a paralisação decorrente da Covid-19 ou demais problemas financeiros
permitem estudar negociações decorrentes de inadimplementos contratuais individuais e coletivos,
comerciais e financeiros, além de uso de ferramentas coletivas de insolvência, o que agrega
recuperações judiciais, extrajudiciais e falências como forma de superar o período de crise
(MONTEIRO; VIANA, 2020).
Geralmente as partes efetuam um contrato conhecendo as possibilidades, riscos e cenários
possíveis para os negócios, projetando assim o cumprimento dos termos, porém no advento de
algo extraordinário, como foi a pandemia de Covid-19, se configura forte motivo para reavaliar
juridicamente ou em acordo entre as partes novas balizas. A renegociação, revisão ou resolução
contratual estão previstos no direito brasileiro como forma de buscar o equilíbrio material entre as
partes e a efetiva concretização do contrato, considerando sua função social (SANTOS, 2020).
Deve-se considerar que embora as empresas tenham como foco resultados financeiros
privados, as atividades produtivas e comerciais são de relevância social, já que delas depende o
abastecimento e a geração de empregos, a manutenção econômica do país e o desenvolvimento
da sociedade.
Para as empresas atingidas pela crise causada pela Covid-19, os principais instrumentos de
negociação se dão por meio de mediação para a revisão contratos estabelecendo novos prazos,
condições ou descontos. Em caso de não haver consenso, é possível ajuizar revisão contratual, com
objetivo de solicitar a modificação de cláusulas, conforme previsto nos artigos 317 e 478 do
Código Civil:

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta


entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz
corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real
da prestação.

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de


uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a
outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o

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devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar
retroagirão à data da citação.

Em casos mais graves, em que apenas a negociação de contratos não é suficiente, as


empresas podem requerer a recuperação extrajudicial, judicial ou a falência, como prevê a Lei
11.101/2005, que mediante o cumprimento de uma série de requisitos concede prazo de até 180
dias, prorrogável por igual período, como forma de manutenção da atividade empresarial e busca
da saída da situação crítica. Em caso de não recuperação, pode decorrer o pedido de falência
requerido pelo próprio empresário, quando os recursos da massa falida são destinados aos
credores.
Cada uma das ferramentas deve ser considerada mediante a avaliação individual de cada
empresa. No caso da Cervejaria Backer, esses instrumentos também podem ser utilizados a fim de
preservar os bens dos sócios e ganhar tempo com foco na superação da crise econômica, financeira
e de credibilidade da marca, com foco em resgate da confiabilidade de credores, empregados, da
justiça e da sociedade em geral.
Com base no que consta no capítulo 7 do livro sobre Direito Empresarial para Gestores
(SARTORI; VIVAS, 2019), a cervejaria Backer tem garantida a possibilidade de recuperação judicial,
já que atua há mais de dois anos; não teve falência decretada e nem solicitou recuperação judicial
nos últimos oito anos, além de não ter administrador ou sócio condenado por crime falimentar.
Esses são requisitos básicos de enquadramento no benefício da recuperação.
Considerando bons resultados nos processos negociais, a Backer poderia optar pela
recuperação extrajudicial, mediante acordos com credores, uso de passivos a liquidar e o
cumprimento dos requisitos previstos na Lei de Falências e com a apresentação de um plano de
recuperação, a cervejaria Backer pode apresentar um plano de recuperação.
Caso a empresa chegasse a uma condição de dificuldade extrema, ainda há a possibilidade
de pedir falência, como forma de saldar os compromissos financeiros, trabalhistas e judiciais,
principalmente considerando que o caso de contaminação exige da empresa o pagamento de
indenização às vítimas e familiares atingidos. A impontualidade, a execução frustrada; e as práticas
de atos de falência são motivos para responsabilizar os sócios solidariamente.
A questão da revisão por onerosidade excessiva é um fator relevante em referência à crise
causada pela Covid-19, que pode ser avaliada até mesmo como argumento no caso da cervejaria
Backer, pois o período da pandemia criou condições que dificultaram a prestação e contraprestação
dos contratos, por exemplo, prejudicando a recuperação dentro do período corrente, em função da
baixa atividade produtiva e comercial decorrente da crise sanitária e econômica que atingiu
empresas do mundo todo. Ou seja, mesmo que a Backer, dentro da sua crise particular, buscasse
cumprir seus contratos, foi mais prejudicada em função não apenas da paralisação por investigação

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do caso de contaminação, mas assim que autorizada, agravada a situação por conta do reflexo
também da pandemia, já que o caso ocorreu justamente no início de 2020 e vem se desenrolando
nos últimos dois anos.
No dia 8 de abril de 2022 a Cervejaria Backer anunciou a volta da sua produção, mediante
aprovação do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Prefeitura de Belo Horizonte,
do Corpo de Bombeiros e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que emitiram atestados que
indicam que o processo produtivo da empresa tem condições de operar em segurança. O já
conhecido rótulo Capitão Senra foi o escolhido para a retomada da produção da fábrica, porém
ainda não é possível projetar a retomada da credibilidade dos consumidores e nem o desempenho
financeiro capaz de suprir todos os seus compromissos.
Embora tenha ocorrido o bloqueio de todos os bens da Cervejaria Backer, em fevereiro de
2020, a fim de garantir o pagamento de despesas médicas e indenizações para as vítimas, havia
sido depositado em juízo apenas R$ 200 mil e até maio de 2022 não havia sido realizado o
pagamento de indenizações ainda. Na época, os sócios, irmãos Munir Franco Khalil Lebbos e Hayan
Franco Khalil Lebbos, proprietários da Backer, sofreram o bloqueio de todos os bens pela Justiça de
Minas Gerais, pois eram sócios da Empreendimentos Khalil Ltda e suspeitos de tentarem ocultar
bens, deixar a sociedade e realizar movimentações inadequadas diante da situação (AUGUSTO,
2022).
Em maio de 2022, na última instância do processo, ou seja, sem possibilidade de recursos,
a empresa ainda foi multada pelo Ministério da Agricultura em R$ 5 milhões como punição à
produção, engarrafamento e comercialização de 39 lotes de cerveja com dietilenoglicol ou
monoetilenoglicol, por utilizar a substância no processo de refrigeração, por alterar a composição
de cervejas sem autorização e venda de produtos sem registro, além de ampliação e remodelagem
de área de instalação industrial sem comunicação ao ministério (AUGUSTO, 2022).
A questão que pesa sobre a Cervejaria Backer e seus sócios, inclusive quanto à
responsabilização além da personalidade jurídica, com incidência ao patrimônio pessoal dos sócios,
se dá por conta da grande quantidade de erros ocorridos, como listados na justificativa para a
multa pelo ministério, além da tentativa dos sócios de transferir e ocultar bens para que não fossem
bloqueados ou requisitados para o ressarcimento das vítimas.
Assim, existe infração em diversos âmbitos do direito, em relação ao consumidor, aos
processos produtivos de alimentos, agravando e ampliando a possibilidade de penalização cível e
penal, pois havia a capacidade de evitar ou ao menos minimizar os riscos, como cita o Advogado
Cervejeiro (2020), nos itens citados na sequência: -uso de substância tóxica como anticongelante
(mono/dietilenoglicol); descumprimento do disposto no manual de instruções do tanque, que
recomendava o uso de álcool como anticongelante; Falta de manutenção e inspeção de qualidade,

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no tanque fermentador e nos equipamentos, na supervisão/identificação do vazamento na bomba
de refrigeração; Falta de sistema de controle para redução de riscos, juntamente com o aumento
acelerado da capacidade produtiva sem as adaptações necessárias.
Além do ressarcimento dos danos operacionais, físicos, morais e psicológicos, a empresa e
todos os envolvidos estão sendo responsabilizados, como indicado em inquérito policial ainda em
2020 e no julgamento ocorrido em primeira instância, iniciada em 23 de maio de 2022 no Fórum
Lafayette, em Minas Gerais. Alem dos irmãos, Munir Franco Khalil Lebbos e Hayan Franco Khalil
Lebbos, sócios da Khalil Ltda e também Ana Paulo Lebbos, proprietários da Backer, ocorreram
indiciamentos de uma pessoa por extorsão e falso testemunho; o Chefe da manutenção responde
por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício culposa; seis
responsáveis diretamente pela produção cervejeira, respondem por homicídio culposo, lesão
corporal culposa e contaminação de produto alimentício dolosa; três pessoas da gestão da empresa
por ato pós-produção devido ao descumprimento de normas administrativas.
No dia 27 de maio de 2022, o Diário Oficial da União trouxe a decisão do Ministério da
Justiça sobre a multa de R$ 12 milhões aplicada à cervejaria Backer com base na avaliação da
Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon), de que a empresa deixou de realizar o
devido recall para a retirada dos produtos dos mercados, de forma a orientar os clientes a parar de
comprar e ingerir seus produtos (RODRIGUES, 2022).
Portanto, o que se pode compreender é que o processo como um todo ainda não está
finalizado, assim ainda não é possível saber ao certo qual será o reflexo financeiro à empresa,
portanto impossível prever se a empresa passar por períodos que demandem o uso de diferentes
ferramentas jurídicas, mas certeza que necessita de análise e abordagens dentro do âmbito do
direito empresarial.

2. O CASO ETERNIT

Empresa com mais de 80 anos no mercado, a Eternit entrou em uma grave crise após a
proibição do uso do amianto por seu alto potencial cancerígeno, decidido em 2017 pelo o Supremo
Tribunal Federal. O amianto era a principal matéria prima das telhas Eternit, o que levou a empresa
ao agravamento de sai crise financeira e ao pedido de recuperação judicial, por meio de uma
reestruturação interna, com uso de acordos extrajudiciais e judiciais como forma de se reestruturar
e se manter no mercado, a partir do investimento em novas tecnologias, produtos e ampliação do
portfólio. Um dos destaques foi deixar de produzir caixas d'água e aumentar a linha de telhas que
absorvem a luz solar e transformam em energia elétrica.
A Eternit, que aparece na bolsa de valores como ETER3, está em recuperação judicial desde

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2019 e tem previsão de sair desse processo em 2023, pois segundo informações publicadas na
Money Times, a companhia já cumpriu as principais etapas do plano de recuperação judicial e está
em ritmo de crescimento. Em 2021, a companhia registrou lucro acima dos R$ 250 milhões, alta de
192% em comparação a 2020; realizou pagamentos de R$ 655 mil aos credores concursais da
Classe I (créditos trabalhistas), investiu na expansão da capacidade instalada (DANTAS, 2022)
O entendimento é de que com a saída da recuperação judicial no próximo ano vai elevar
ainda mais o potencial da empresa, pois a percepção do mercado será positiva em relação ao seu
sucesso, já que mesmo com dívidas a pagar e a pressão sobre os custos de matérias-primas
(cimento, celulose e resina de polipropileno), a empresa manteve a margem bruta elevada (43,7%
em 2021), cresceu e voltou a pagar proventos (R$ 14,918 milhões). Apesar da expectativa positiva,
a empresa tem ciência de quem ainda possui diversos processos judiciais em discussão em diferentes
esferas e áreas judiciais (tributária, cível e trabalhista), negociações para redução de valores, mas
existem riscos de contestação.
A Eternit é um exemplo positivo de recuperação judicial e uma referência de uma empresa
tradicional de São Paulo que se manteve ativa, mas segundo o juiz Paulo Furtado de Oliveira, da 2ª
Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, mesmo com a pandemia, o volume de
empresas que buscam ferramentas judiciais não aumento tanto quanto se esperava em decorrência da
Covid-19. A explicação é de que as negociações extrajudiciais estão sendo cada vez mais utilizadas.
Disse ele: “O sentimento comum de perda criou uma cultura maior de diálogo, de que não é necessário
judicializar sempre", ou seja, está havendo maior solidariedade e negociações em busca de soluções
que sejam satisfatórias para todos e evite assim a falência (VIAPIANA, 2022).
Pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos de Processos de Insolvência (Nepi), da PUC-SP,
e a Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ), demonstrou que a maioria das empresas que
buscaram recuperação judicial (52,7%) entre janeiro de 2010 a julho de 2017 eram de médio a
grande porte (faturavam entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões). Entre janeiro de 2014 e março de
2022, 290 recuperações judiciais foram concedidas, conforme o Tribunal de Justiça de São Paulo,
sendo 2019 o ano com o maior volume. Mas em nível nacional o Serasa Experian vem indicando
redução dos processos desde 2017, após o recorde em 2016 (1.863). Em 2021 foram registrados
891 pedidos de recuperação, 24,4% menor que 2020 (VIAPIANA, 2022).

Conclusão

O desenvolvimento desse trabalho demonstra que mesmo ao enfrentar graves dificuldades


econômicas e financeiras, seja por conta de fontes inimagináveis, como a pandemia de Covid, ou
por erros na gestão administrativa, é possível a recuperar uma empresa, embasada pela legislação,

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normas e regras garantidas no direito empresarial.
A pandemia de Covid-19 abriu o leque para a necessidade de acordos de revisão de
contratos, em relação a valores, multas prazos, adequando às possibilidades para a manutenção
dos negócios. Em outra ponta, mas no mesmo período, o grave caso da cervejaria Backer trouxe o
alerta para as consequências e a responsabilização por erros que afetam a saúde de pessoas e
empresas.
A negociação tem se mostrado cada vez mais relevante para se chegar a um acordo e o
auxílio de especialistas de gestão e com bom embasamento em direito empresarial, elevam as
chances de uma solução harmoniosa para todas as partes, o que se mostra relevante como
resultados positivos para a sociedade.

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