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Por Marcello Cipullo

Professor de Língua Portuguesa

Prezados amigos,
O artigo sobre o uso do palavrão em âmbito escolar em determinadas circunstâncias,
servindo como instrumento de defesa ao professor e suas práticas em sala de aula. Ao
final do artigo encontrará uma proposta de atividades neste campo específico da
tolerância e reconhecimento de situação problema e como podemos solucionar,
evitando assim, as vias da suspensão, advertência e outros mecanismos punitivos. É
claro que estão resguardados os casos de extrema violência em que se aplica o
regimento interno e principalmente a Lei Darci Ribeiro 9394/96.
Ademais, o presente artigo é dedicado a todos que amam a Língua Portuguesa e
queiram entender a riqueza vocabular (palavras) de nosso idioma, livre de
preconceitos e com mente aberta ao horizonte da comunicação.

HORRORIZAI-VOS! VOCÊS NÃO SABEM O QUE DIZEM


PALAVRÃO – OBSCENIDADE OU CONTEÚDO ESCOLAR?

APRESENTAÇÃO

Não sabemos ao certo explicar com absoluta certeza a ciência da linguagem


humana, nem como toda forma de manifestação dos sentimentos através das palavras
se fixam num determinado grupo. (Noam Chomsky)
Sabemos que o uso de palavrões por alunos em nossa escola, a escola
contemporânea, é mais do que um fato comum, o que me obrigou a estudar alguns
comportamentos sociais que estão relacionados junto ao uso do palavrão.

Prezado amigo, não se trata apenas de trabalhar o significado do palavrão em sala


de aula, é mais do que isso; é necessário vencer o constrangimento e o preconceito
ao discutir esse assunto. Somente estudando as informações sociais do aluno e o
grupo é que teremos a compreensão mais profunda e diferenciada, para que o
palavrão seja construído como elemento cultural e de variação. Gravem bem este
nome: variação.

O uso de palavrões nunca foi tão intenso e frenético como nos dias de hoje, está na
boca do aluno e nas mais variadas camadas sociais. Todavia, sabemos que seu
emprego não é recente e sempre tivemos o bom palavrão, o chamado “boca suja”.
Existem palavras ou palavrões usados há muito tempo, sendo objeto de estudos na
linguística aplicada, na semântica e etimologia, por exemplo. Citaríamos aqui a palavra
“coitado”, o que no passado era uma palavra impura definindo o coito anal, o coitus de
um ser miserável, desgraçado, infeliz. Dizemos também o famoso “vai tomar no cu”
que vem de cono e cona que era relativo à vulva, ou da coda ou rabo, cauda, sempre
com alusão à cópula. (Da Cunha, Dicionário Etimológico, MEC)
A Etimologia é o estudo da palavra no sentido de seu nascimento e história através
dos séculos, existindo palavras conhecidas há muito tempo, onde os estudos
caracterizam o palavrão sob diferentes óticas. Notem bem, o palavrão por si só não
bastaria para configurar a agressão verbal, embora venha causar desconforto entre os
falantes da língua. O uso do palavrão deve causar constrangimento e agressão
expressa, dolo e maldade, para que entre os falantes seja importante para
identificação do problema. Temos que ver o seguinte: existiu a intencionalidade no ato
da fala?

Prezados amigos, o palavrão é um fenômeno da linguagem revestido de tabu, puro


preconceito, ato impuro, pecaminoso. Na Língua Portuguesa, os palavrões pertencem
à categoria gíria ou gergo do Latim ou italiano. Expressões que podem intensificar um
ato ofensivo ou simplesmente o uso popular corriqueiro, nosso cotidiano. Embora
pertença à categoria gíria, desta se distingue porque tem caráter ofensivo, chulo,
obsceno, agressivo e imoral. São formas inadequadas para a norma culta e mais
comumente presentes na linguagem oral popular e coloquial. (A função do professor
de Língua Portuguesa é explicar os palavrões e suas formas de uso)

Podemos caracterizar o uso dos palavrões em nosso cotidiano, ou ficaremos sempre


na retórica do “Deus me livre, não falo palavrões” – Por mais que você não fale,
fazemos o uso dele em significados íntimos, dentro de nós. Estou aqui falando de uma
ciência da linguagem humana, onde os palavrões são classificados, a saber:

Ofensa pessoal: Quando eu uso o palavrão com objetivo de agredir outra pessoa,
pode incorrer em crime no CPB (código penal brasileiro);
Normal ou ritual: Quando uso de maneira corriqueira sem ofender a pessoa, porém,
na intenção de chamar atenção, pode ofender;
Solidária: Quando se torna normal entre os falantes, a tal ponto de não perceberem
qualquer forma de constrangimento.

Problemas e sempre problemas onde a proibição não resolve

Embora a evolução da linguagem indique que o palavrão está sendo utilizado com


mais frequência em certos espaços sociais, ele ainda não é aceito e providências são
tomadas para conter o seu uso, e o ambiente escolar rege com leis punitivas àquele
que transgredir; o professor que permitir um palavrão em classe, é purgatório eterno.
Não se pode mais estudar um “Primo Basílio” de Eça de Queiros, pois, os atos
impuros da alcova entre amantes podem perverter alunos, e quem dirá “ O crime do
Padre Amaro” pode blasfemar contra a santa madre Igreja, onde padres praticam sexo
à exaustão, o próprio Padre Amaro manda sua namorada abortar. Em outra literatura,
temos os textos de Inácio Loyola Brandão, contista e cronista brasileiro, Jorge Amado
que foi proibido para mulheres. Muitos testos falando do romantismo e desejo das
mulheres, emancipação da mulher como senhora de seus anseios.

Recentemente chegamos ao absurdo do constrangimento, quando proibiram os


melhores escritores do país nas escolas públicas, isso foi em 2011. Trata-se da
distribuição do livro “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século” na rede pública
de ensino de São Paulo, definitivamente vetada. A decisão é da Câmara Especial do
Tribunal de Justiça paulista que confirmou liminar para impedir a circulação da obra a
estudantes da 6ª à 9ª série do ensino fundamental e do ensino médio. (ver anexo)
Triste fim do professor de língua Portuguesa, sempre com essa missão de seguir e
ser criticado por seguir o caminho da língua e literatura. Deixemos, pois, a literatura
portuguesa de lado. Mais vale a moralidade, ou a falta de moral e idade? Não
sabemos nada nessa sociedade de rótulos.

Ainda que se trate de textos ou obras escritas para adolescentes, temos palavrões e
palavras que induzem má conduta, os vocábulos (palavras) vulgares existentes nos
textos são evitados, mantendo certa flexibilidade em relação a palavrões menos
agressivos ou imoral, como bunda e peido, coxas, gostoso e gostosa, trepar, etc. Os
palavrões impossibilitam a boa comunicação e enfraquece a capacidade
argumentativa, dizem os mais ortodoxos da palavra. Mas, como adotar o mesmo
padrão diante das literaturas? Cabe à escola propiciar aos jovens um espaço para
reflexão linguística e prepará-los para momentos em que não poderão se comunicar
de forma vulgar, porém, em alguns contextos da escola e da vida, estarão diante dos
palavrões e expressões comumente enraizadas no povo, portanto, devem aprender a
diferença.

Tenho através das práticas do cotidiano, conversando com professores e colegas de


trabalho, escutando muitas vezes lamúrias das salas dos professores, coordenadores,
diretores, enfim, levantamento de algumas hipóteses sobre este terrível tema
“palavrão” em sala de aula, considerando temas absurdos e que muitas vezes sobra
para o professor de Língua Portuguesa. Geralmente professores procuram evitar
temas relativos ao comportamento sexual dos alunos, o desenvolvimento da
sexualidade que sempre são acompanhados de termos chulos, obscenos, proibidos
por assim dizer, tabus.

Abaixo coloco algumas ideias que surgiram através da observação que tive nas
escolas em geral, quase sempre problemáticas e muito pouco com visão técnica de
abordagem do assunto, simplesmente repelem ou evitam falar do assunto, quando
não caem no mesmo dilema “palavrão é falta de respeito” e fim de conversa.
Fiquemos atentos na sequência abaixo:

1) O professor não se sente confortável em sequer tratar o palavrão em sala de aula,


partindo sempre do pressuposto repressivo e punitivo de toda sala de aula se
assim cometer;
2) O professor ignora o palavrão em sala de aula, fingindo que nem ouviu e foge ao
debate de ideias sobre o assunto, certa covardia diante de um gigante que pode
destruí-lo como professor e comprometer o seu trabalho;
3) O professor não oferece explicações sobre o palavrão quando os alunos solicitam,
quase sempre se calando ou levando o caso para Diretoria, o que é sinal de total
despreparo e conhecimento;
4) O professor se torna presa fácil do aluno e gozações no sentido de discutir
contextos e explicar caminhos para não usar o palavrão onde não cabe a
linguagem vulgar;
5) O professor não sabe que o palavrão faz parte da língua portuguesa, todavia deve
ser ensinado em suas esferas e possibilidades de uso ou evitado em situações
formais de comunicação entre os falantes;
6) O professor se torna tenso e não tem a experiência em situações difíceis, evita
abordar assuntos que geram polêmica.

Sempre sobra para o professor de Língua Portuguesa

Não é a primeira vez que eu leciono e ainda não será a última aula de minha vida.
Eu entendo que a atuação do professor para a solução do palavrão não está em
proibir o uso na oralidade, sem que os temas que envolvam as situações sejam
abordados com astúcia e inteligência. Falta esse aspecto no professor, falta muito,
tanto no professor, coordenador, diretor, enfim, todos que ousam trilhar na educação
escolar.
No contexto social do aluno, no grupo que ele atua diariamente está dentro da
escola o nascedouro do problema. Muito bem, existem professores que tratam
problemas complexos de forma simplista no discurso “eu proíbo e tudo bem” ou “sou
tradicionalista linha dura”, entre tantas outras “educação quem dá são os pais” e por aí
vai. Diante desse festival de desculpas, quase sempre sem nenhum fundamento
prático e nenhuma sabedoria contém de efetividade, jamais teremos um progresso nas
relações humanas dentro da escola, caso continuemos a oferecer sempre a mesma
desculpa.

Andando pelos corredores da escola EAS e tantas outras que trilhei, observo a
linguagem dos alunos transcorrendo de maneira absolutamente normal entre os
termos; caralho, porra, puta que pariu, foda-se (tradicionalmente vernacular e
muitíssimo usado em Portugal), filho da puta, enfim, tantos outros que colocaria uma
lista bastante proveitosa no tocante à curiosidade linguística. A presença do palavrão
na escola pode ser importante ferramenta de mudança para discutirmos valores da
linguagem e que estão presentes na realidade dos alunos, implicando e afetando
muitas vezes suas relações, valores de vivência.

A escola tem obrigação de mostrar os outros caminhos que o aluno tem para se
comunicar e os professores não devem se preocupar somente em abolir os palavrões,
mas também incentivar a prática da norma culta, que ele irá utilizar no mercado de
trabalho. Os alunos devem estar preparados para enfrentar esses desafios,
entenderem que o uso frequente do palavrão é uma limitação do próprio vocabulário,
em substituição daquele que seria o padrão informal aceitável. Ninguém está dizendo
que queremos o aluno formatado em seus pensamentos, trancados nesse verdadeiro
universo vocabular do “tudo correto e perfeito”. Não é o objetivo do professor de
Língua Portuguesa, pode ter sido no passado distante da escola antiga tradicional,
tempos idos que não voltam mais. Eu fui aluno do semi-internato de colégio de Padres
salesianos e não tenho somente boas lembranças, não sinto saudades.

Recentemente tive um problema com o palavrão, onde determinado aluno usou de


uma expressão a qual me senti ofendido, quando ele proferiu por três vezes um termo
pejorativo que não condiz com a minha natureza, o que prontamente o repreendi
verbalmente pelo fato. No calor da resposta, segundo o aluno, eu respondi a ele com a
indagação “você acha aceitável que eu queime a rosca?” – Isso em resposta ao que
ele verbalmente tenha me chamado de “gay” por três vezes. É claro que no momento,
somos levados a colocar um basta na situação e o caso teve que parar na diretoria
para devidas providências. Quase sempre é dessa forma na maioria das escolas,
porém, este fato me fez refletir o tratamento e os procedimentos adotados na solução
do problema, o que discordei desde o início, pois o aluno levou uma suspensão
desnecessária sob a ótica pedagógica em questão. Notemos, pois, que eu não tenho
poder de suspender ninguém e tampouco se tivesse, o faria. A situação já estaria
solucionada, pois, pedagogicamente ele se retratou de plano inicial, fomos até a
classe, ele se desculpou publicamente. Depois eu expliquei o ocorrido aos demais
alunos e pedi um momento de reflexão, onde deixei que os alunos opinassem sobre o
fato ocorrido e refletissem as partes envolvidas.

A partir desse momento, notei que o aprendizado se faz presente diante de uma
situação em que o palavrão ou situações inadequadas podem conduzir a um final não
muito agradável. Antes de pensar em qualquer forma punitiva, eu pensei na forma
educativa de tratar o problema e esta é minha visão de momento através deste artigo,
principalmente porque a linguagem, o aluno traz de vários ambientes e na escola é o
lugar de tratar o ambiente educativo. Eu já aplico tais procedimentos em entender e
direcionar com frequência, em casos não muito raros, quando o aluno usa o palavrão,
não aplico punitivismo, eu procuro debater e receber sem medo ou tabu. Deve ser por
esse motivo aplicado, que os alunos sentem maior liberdade ou segurança nas aulas
que ministro. Eu não trato assuntos polêmicos de maneira simplista ou punitiva, trato
de maneira normal e receptiva. É uma técnica ou didática, onde sempre dou voz ao
aluno, porém, não estamos distantes de problemas que possam surgir, mesmo
aplicando tal técnica, mas com certeza amplia os caminhos da compreensão e
empatia.

OBJETIVOS GERAIS

Eu proponho a discussão e jamais o tabu do palavrão e demais atitudes que


denotem palavras de uso diário, sempre no sentido ético da convivência e jamais
punitivista, logo, é educando com sabedoria que o aluno reconhecerá as dimensões
sociais que ele pode ou não usar palavrões ou gírias depreciativas;
Trabalhar para que o aluno compreenda a importância da linguagem sem ofensas e
sem insultos nas relações sociais;
Devemos adotar atitudes que vise o resgate do respeito, cordialidade e tolerância,
do companheirismo e valorização do diálogo, solidariedade e justiça.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Prezado amigo, não é somente o palavrão que ofende. Muitas palavras


maledicentes, diretas e polidas podem ferir muito mais do que o palavrão ou gíria.
Sendo assim, no instante que o professor ouvir e presenciar uma situação de palavras
obscenas, não se assuste, muitas vezes as palavras estão num contesto corriqueiro e
não merecem preocupações imediatas, porém, ao passo que tiver o tempo disponível,
faça o corte imediato e com sabedoria, jamais com agressividade.

Escute a situação, deixe o aluno explicar, e não tente colocar sua ideia na cabeça do
aluno. Depois de escutar, tente relaxar o ambiente e manter o humor sempre, sem
cara amarrada, explique o contexto que este palavrão ou referência pejorativa esteja
inserido, saiba reconhecer o palavrão corriqueiro, daquele palavrão de insultos.
Tente focar em situações que possam diminuir o uso frequente de palavrões e os tipos
de violência que possam causar, entre mágoas, brigas e até morte.

Tente colocar a tolerância sempre, pois se agirmos na mesma intensidade,


acabaremos afastando as ideias da esperança, do sorriso, do perdão e da coragem.
Promova constantemente um ambiente de debate de ideias, confronto e convergência,
mesmo que exista muitas vezes a divergência, faça com que o aluno construa suas
próprias argumentações ( eu mesmo faço isso diariamente com os alunos e, quando
me questionaram sobre a liberdade em minhas aulas, é dessa liberdade de expressão
que eu sempre dei ao meu aluno, eu sou Paulo Freire na aplicação de conceitos sobre
liberdade e o processo de revolução interna e humana do aluno).
Por último, valorize a linguagem e a cooperação entre os colegas, seja justo e na
mesma medida com todos, não existindo aluno especial ou predileto. Repudie sempre
qualquer ato de violência.

METODOLOGIA

Primeiro momento: “Tempestades de ideias”


O professor motivará os alunos a apresentar uma definição para o termo palavrão,
buscando dentro de si naquilo que entende e no dicionário. As respostas deverão ser
escritas no quadro sem uma sequência específica, atividade livre.
O professor distribuirá entre os alunos um texto que fala sobre o palavrão, algo que
contenha pontos positivos e negativos. Em seguida, eles deverão confrontar e discutir
o texto com as informações escritas no quadro, ou seja, com aquilo que eles
pesquisaram. O professor poderá pedir aos alunos que procurem no dicionário o
significado das palavras que não entenderem, ou o próprio professor poderá buscar no
dicionário etimológico.

O que é palavrão?

Uma palavra de baixo calão, popularmente conhecida como palavrão, é um vocábulo


que pertence à categoria de gíria e, dentro desta, apresenta cunho chulo, ofensivo,
rude, obsceno, agressivo ou imoral sob o ponto-de-vista de
algumas religiões ou estilos de vida. Palavras de baixo calão, ou simplesmente,
palavrões, são formas inadequadas na forma culta da língua portuguesa e geralmente
usados de forma popular e coloquial, exceto por licença poética. (Dicionário, on line
wikipedia)

 Palavrões: por que falamos?

Todos nós sabemos o que são palavrões, correto? Ao contrário das regras
gramaticais, aprendemos palavrões e como usá-los sem precisar estudar e sem
qualquer explicação; aprendemos em casa, com amigos, família, trabalho, escola e até
mesmo na literatura. Mesmo quando somos crianças, iniciamos com aquela coisa de
mãe e sabemos que certas palavras são "feias", embora nem sempre saibamos o
significado delas. Entretanto, os palavrões não são tão simples como parecem ser,
eles causam constrangimentos na maioria das vezes. Nossos sentimentos a respeito
disso são contraditórios: falar palavrões é um tabu em quase todas as culturas, mas
em vez de evitá-los, como fazemos com outros tabus, nós os usamos frequentemente,
é algo sorrateiro e que aos poucos toma conta das nossas palavras e repetimos sem
muito pensar. A maioria das pessoas dizem que aquele que fala palavrão, esteja
associado à raiva ou frustração, mas eles são usados por vários motivos, entre
meninos e meninas e em diversas situações, é muito difícil conter essa onda do
palavrão em toda sociedade. Imagine que você não pode se acertar determinado
oponente mais forte, você então, solta inúmeros palavrões. Ou exatamente quando
você tropeça e cai no chão ou se machuca, o que você faz, então? Chama um monte
de palavrões antes de apanhar, literalmente muitas vezes! Ou depois de tropeçar.
Pensemos que o ato de xingar também satisfaz diversos objetivos em interações
sociais. Além disso, seu cérebro lida com palavrões de forma diferente das outras
palavras, dizem especialistas. O palavrão está dentro da gente, assim como os gestos,
sinais ofensivos e até proibidos.

Segundo Momento: Atividade do quadro (lousa)

Nesta atividade eu sugiro que o professor escreva no quadro da sala de aula a palavra
PALAVRÃO. Logo em seguida, distribua um pedaço de papel para que os alunos
escrevam “O que eu penso do palavrão” em todos os sentidos de insultos, brincadeira
abusiva ou não, gírias ou palavras de conotação negativa. Ao passo que a consciência
coletiva vai se formando, o professor vai abordando os tipos de situações para que os
alunos entendam as dificuldades que possam surgir com o uso dos palavrões e
expressões pejorativas.

Terceiro Momento: Coleta de dados

O professor entregará aos alunos um questionário de múltipla escolha, uma provinha.


O questionário será elaborado de forma que o aluno reflita sobre como os palavrões o
afetam individualmente e coletivamente, entenderam? Seria uma forma de tratar o
problema sem punições e com inteligência.

EXEMPLO – aqui se trata de apenas um questionário simples para coleta de


dados

Questionário 1: Grau de incidência do palavrão.


No seu dia a dia você escuta palavrões:
a) A todo instante
b) Com certa frequência
c) Raramente
d) Nunca

Questionário 2: Local de maior incidência do palavrão.


O lugar em que você mais escuta palavrões é:
a) Na rua
b) Em casa
c) Na escola
d) Em casa de conhecidos

Questionário 3: Constatação da função do palavrão.


Geralmente o palavrão que você mais escuta é dito:
a) Por uma pessoa que xinga a si mesmo
b) Por alguém que xinga outra pessoa
c) Por alguém que xinga objetos e coisas que o cerca

Questionário 4: Constatação de quem mais pronuncia palavrão.


Quem você mais ouve falar palavrões?
a) Seus pais ou responsáveis
b) Alunos
c) Seus amigos
d) Desconhecidos que andam pelas ruas

Questionário 5: Significado do palavrão


Você já solicitou explicação sobre o significado de algum palavrão?
a) Sim, mas não fui atendido
b) Sim, e fui atendido
c) Não, nunca solicitei.

Após a coleta de informações, o professor criará com os alunos um gráfico contendo


as respostas em forma de porcentagem. Em seguida, discutirá com os alunos os
resultados apresentados, instigando-os para que eles se expressem sobre o mesmo,
expondo suas opiniões e como encaram os dados obtidos. O gráfico poderá ser
colocado ao lado do cartaz com as frases dos alunos. Ainda o aluno poderá observar
que ele não é personagem único, existe um universo que pode ser transformado num
estudo de caso inteligente, onde ele é o protagonista.

Quarto Momento: “O Valor do perdão”

Realmente neste quarto momento de proposta de atividade é o mais importante.


Onde o professor deve ter conhecimento e bagagem sobre o “perdão”, a humildade de
reconhecimento e jamais autoritarismo e sem aquele velho discurso de gaveta de ser
autoridade. Note bem; existem professores que se acham autoridades sem
legitimidade, ocupam postos, pedem respeito, exigem, porém, os alunos ou o povo
não o reconhece para tanto. Por que isso ocorre? Ocorre porque a autoridade se
adquire com a empatia e confiança, no caminhar dos passos, lado a lado, sendo mais
ouvidos e ombro amigo, companheirismo verdadeiro.
O professor conversará com os alunos sobre o perdão, a humildade que devemos
ter em perdoar e pedir perdão. Ressaltar que o perdão é sinal de humildade e não de
humilhação, e só as pessoas humildes são capazes de usar o perdão. O perdão
verdadeiro é sinal do sábio, ao contrário das desculpas “esfarrapadas” e com
discursos falsos de estabilidade. Através da humildade conseguimos trazer para nós
os amigos, fazemos as pessoas estarem perto de nós porque sentem prazer na nossa
companhia, da nossa conversa. Quantos professores, coordenadores, Diretores e
funcionários podem dizer que sentem exatamente isso na relação com seus alunos?
Reflitamos por um momento. Com a humildade aprendemos a ouvir, a falar na hora
certa sem ofender, a ser mais ouvidos do que simplesmente boca que fragmenta vidas
e a memória.
O ato de perdoar não está no simples fato de dizer “eu te perdoo”, o que se traduz
da “boca pra fora”. O perdão é o esquecimento das ofensas, é não deixar as energias
negativas que nos motivavam a vingança tomarem nossa consciência, induzindo-nos a
praticar algo contra o ofensor. Todos nós devemos praticar à exaustão dos
conhecimentos, em todos os cantos do mundo. Não adianta depois, correr para as
igrejas e cumprir um ritual de corpo presente e mergulhar nos sofismas regados de
hipocrisia.
O perdão é, de consciência tranquila, ignorar e realmente esquecer as falhas da
pessoa que nos ofendeu ou magoou. Todos nós somos imperfeitos e cometemos
falhas. Saber perdoar ou pedir perdão ou desculpas pelos nossos erros nos tornam
pessoas mais preparadas para conviver em harmonia, os nossos alunos poderão
refletir a imagem da confiança que nasce através do perdão verdadeiro, pois ninguém
gosta de se relacionar com pessoas arrogantes e que não sabem reconhecer os seus
erros. Façamos uma reflexão: Não estou aqui falando de prática religiosa, estou
falando de uma prática humana!
É muito importante lembrar que sentimentos de ódio, vingança, arrogância,
superioridade geram consequências negativas de ambos os lados numa relação.
Aquele que não sabe pedir perdão e principalmente não sabe perdoar, certamente
viverá num ciclo vicioso, sempre atraindo e cometendo ofensas em diversas situações
e gerarão outras mais ou menos complicadas, enfim, assim por diante. Aquele
professor que não sabe perdoar e tampouco pedir perdão, jamais terá a legitimidade
do reconhecimento perante seus alunos; aqui está a frase mais dura deste artigo. O
professor pode ser visto como exemplo e cabeça da escola, o diretor pode ser visto
como autoridade, mas o que adianta uma autoridade sem legitimidade? A palavra
legitimidade abarca inúmeras condições para que haja reciprocidade das relações, ou
seja, um líder que não sabe pedir perdão, que não sabe perdoar e esquecer as
ofensas, também é um líder fraco e sairá prejudicado com o passar dos tempos,
carregando mágoas e frustrações, rancor dentro de si, pensa mal, toma decisões
estapafúrdias, trazendo consequências à saúde mental, física e espiritual, o que
significa doenças. Quantos profissionais da educação temos nos consultórios e
clínicas? Milhares e milhares(...)

No complemento dessa atividade, na sala de vídeo, o professor exibirá alguns vídeos


que falam sobre o perdão e o amor ao próximo, e assim poderá acrescentar músicas e
letras de amor e paz, união. Após interagirem, o professor abrirá rodas de discussão,
momentos em que algum colega sente a necessidade do perdão, com bilhetes
trocados entre os alunos no sentido de reconciliação, pode ser professor, aluno,
funcionário da escola, enfim, um ambiente de boas energias. Junto a esse bilhete de
maneira simbólica pode ser colocado um bombom. A resposta do amigo será com um
abraço ou aperto de mão.

Quinto Momento: Uma dramatização

O professor motivará os alunos a montar uma dramatização. Uma simples encenação


que retrate o que aprenderam sobre o projeto. Podem conter fatos da escola, da
família ou do grupo social que estejam participando. Os alunos deverão montar com a
orientação do professor o roteiro da dramatização, a fala de cada componente e o
cenário da apresentação. O professor direcionará. Este momento terá duas etapas: a
elaboração do roteiro e a apresentação da peça, por isso, será o momento mais
demorado, mas que poderá ser mais prazeroso que os outros. No momento em que o
aluno prepara uma situação problema, ele aplica o conteúdo deste artigo, todos os
pontos. Para a apresentação, serão elaborados convites à equipe administrativa e
pedagógica, professores e alunos de outras turmas que quiserem participar.

AVALIAÇÃO

A avaliação deve ser ampla, contínua e coerente com os objetivos propostos nas
aulas. Temos que usar da inteligência emocional, pois, ela abrange muito mais que
“medir”. É a percepção do aluno em todos os seus aspectos, tais como,
desenvolvimento de atitudes, aquisição de conceitos e domínio de procedimentos. Ele
entenderá que o uso do palavrão e de agressividades não trazem benefício, pois,
afastaremos as pessoas de nosso convívio social.

CONCLUSÃO

Prezado amigo professor e professora,


Se o estudo do palavrão é considerado pelos sócios-linguistas como um trabalho de
difícil realização, para os professores, o palavrão como conteúdo escolar não poderia
ser diferente. Eu entendo perfeitamente quando o Diretor ou professor não tem
habilidade para tratar do assunto, sem falsa modéstia. O tabu e a estreita relação com
a obscenidade fazem do palavrão um conteúdo a ser evitado no ensino de línguas,
muitas vezes apenas abordado no método MAXI em questão “linguagem informal não
padrão”. O professor que conseguir explicar aos seus alunos a função linguística do
palavrão é porque tem coragem suficiente para superar preconceitos e tem condições
para convencer pais e outros profissionais da escola de quão importante é receber
orientação para o uso adequado da linguagem. Apenas isso.

Tendo em vista que este artigo também é um o projeto de prioridade, buscando o bom
relacionamento e intervir sobre o uso de palavrões por alunos, o que será interessante
verificar se essa maneira de se expressar tem sua origem no ambiente familiar? Quais
os pontos de origem? Está na escola o foco principal? Em outras palavras, será que
os alunos falam palavrões na escola porque eles os ouvem em casa? Por outro lado, a
escola precisa agir e para isso deve contar com todos para frear o uso de palavrões
entre os jovens, não só pelo vernacular chulo, uma vez que parte da violência dentro
da escola pode ter sua origem no palavrão, quando pronunciado para ofender o outro.
Quantas brigas não tivemos dentro das escolas por causa de ofensa? É por isso que
pensei exclusivamente em fazer um trabalho com os alunos para transformar a sala de
aula em espaço livre de palavrões, e mesmo que existam eventualmente, não seria
um objeto de atraso na educação e que poderia ser o início do trabalho de mais
cuidado com a linguagem utilizada na escola. Este é objeto deste artigo dentro de uma
conclusão eficiente a ser colocado em prática.

Referências
https://www.conjur.com.br/2011-mai-25/tj-paulista-proibe-distribuicao-livro-escolar-
conteudo-obsceno
Lei de Diretrizes- LDB 9394/96 – Artigo 15, item II, liberdade de opinião e expressão,
sancionada na LEI 8069/90.
Noam Chomsky, linguística aplicada
https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/01/noam-chomsky-entenda-
sua-teoria-linguistica-e-seu-pensamento-politico.html

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