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Prezados amigos,
O artigo sobre o uso do palavrão em âmbito escolar em determinadas circunstâncias,
servindo como instrumento de defesa ao professor e suas práticas em sala de aula. Ao
final do artigo encontrará uma proposta de atividades neste campo específico da
tolerância e reconhecimento de situação problema e como podemos solucionar,
evitando assim, as vias da suspensão, advertência e outros mecanismos punitivos. É
claro que estão resguardados os casos de extrema violência em que se aplica o
regimento interno e principalmente a Lei Darci Ribeiro 9394/96.
Ademais, o presente artigo é dedicado a todos que amam a Língua Portuguesa e
queiram entender a riqueza vocabular (palavras) de nosso idioma, livre de
preconceitos e com mente aberta ao horizonte da comunicação.
APRESENTAÇÃO
O uso de palavrões nunca foi tão intenso e frenético como nos dias de hoje, está na
boca do aluno e nas mais variadas camadas sociais. Todavia, sabemos que seu
emprego não é recente e sempre tivemos o bom palavrão, o chamado “boca suja”.
Existem palavras ou palavrões usados há muito tempo, sendo objeto de estudos na
linguística aplicada, na semântica e etimologia, por exemplo. Citaríamos aqui a palavra
“coitado”, o que no passado era uma palavra impura definindo o coito anal, o coitus de
um ser miserável, desgraçado, infeliz. Dizemos também o famoso “vai tomar no cu”
que vem de cono e cona que era relativo à vulva, ou da coda ou rabo, cauda, sempre
com alusão à cópula. (Da Cunha, Dicionário Etimológico, MEC)
A Etimologia é o estudo da palavra no sentido de seu nascimento e história através
dos séculos, existindo palavras conhecidas há muito tempo, onde os estudos
caracterizam o palavrão sob diferentes óticas. Notem bem, o palavrão por si só não
bastaria para configurar a agressão verbal, embora venha causar desconforto entre os
falantes da língua. O uso do palavrão deve causar constrangimento e agressão
expressa, dolo e maldade, para que entre os falantes seja importante para
identificação do problema. Temos que ver o seguinte: existiu a intencionalidade no ato
da fala?
Ofensa pessoal: Quando eu uso o palavrão com objetivo de agredir outra pessoa,
pode incorrer em crime no CPB (código penal brasileiro);
Normal ou ritual: Quando uso de maneira corriqueira sem ofender a pessoa, porém,
na intenção de chamar atenção, pode ofender;
Solidária: Quando se torna normal entre os falantes, a tal ponto de não perceberem
qualquer forma de constrangimento.
Ainda que se trate de textos ou obras escritas para adolescentes, temos palavrões e
palavras que induzem má conduta, os vocábulos (palavras) vulgares existentes nos
textos são evitados, mantendo certa flexibilidade em relação a palavrões menos
agressivos ou imoral, como bunda e peido, coxas, gostoso e gostosa, trepar, etc. Os
palavrões impossibilitam a boa comunicação e enfraquece a capacidade
argumentativa, dizem os mais ortodoxos da palavra. Mas, como adotar o mesmo
padrão diante das literaturas? Cabe à escola propiciar aos jovens um espaço para
reflexão linguística e prepará-los para momentos em que não poderão se comunicar
de forma vulgar, porém, em alguns contextos da escola e da vida, estarão diante dos
palavrões e expressões comumente enraizadas no povo, portanto, devem aprender a
diferença.
Abaixo coloco algumas ideias que surgiram através da observação que tive nas
escolas em geral, quase sempre problemáticas e muito pouco com visão técnica de
abordagem do assunto, simplesmente repelem ou evitam falar do assunto, quando
não caem no mesmo dilema “palavrão é falta de respeito” e fim de conversa.
Fiquemos atentos na sequência abaixo:
Não é a primeira vez que eu leciono e ainda não será a última aula de minha vida.
Eu entendo que a atuação do professor para a solução do palavrão não está em
proibir o uso na oralidade, sem que os temas que envolvam as situações sejam
abordados com astúcia e inteligência. Falta esse aspecto no professor, falta muito,
tanto no professor, coordenador, diretor, enfim, todos que ousam trilhar na educação
escolar.
No contexto social do aluno, no grupo que ele atua diariamente está dentro da
escola o nascedouro do problema. Muito bem, existem professores que tratam
problemas complexos de forma simplista no discurso “eu proíbo e tudo bem” ou “sou
tradicionalista linha dura”, entre tantas outras “educação quem dá são os pais” e por aí
vai. Diante desse festival de desculpas, quase sempre sem nenhum fundamento
prático e nenhuma sabedoria contém de efetividade, jamais teremos um progresso nas
relações humanas dentro da escola, caso continuemos a oferecer sempre a mesma
desculpa.
Andando pelos corredores da escola EAS e tantas outras que trilhei, observo a
linguagem dos alunos transcorrendo de maneira absolutamente normal entre os
termos; caralho, porra, puta que pariu, foda-se (tradicionalmente vernacular e
muitíssimo usado em Portugal), filho da puta, enfim, tantos outros que colocaria uma
lista bastante proveitosa no tocante à curiosidade linguística. A presença do palavrão
na escola pode ser importante ferramenta de mudança para discutirmos valores da
linguagem e que estão presentes na realidade dos alunos, implicando e afetando
muitas vezes suas relações, valores de vivência.
A escola tem obrigação de mostrar os outros caminhos que o aluno tem para se
comunicar e os professores não devem se preocupar somente em abolir os palavrões,
mas também incentivar a prática da norma culta, que ele irá utilizar no mercado de
trabalho. Os alunos devem estar preparados para enfrentar esses desafios,
entenderem que o uso frequente do palavrão é uma limitação do próprio vocabulário,
em substituição daquele que seria o padrão informal aceitável. Ninguém está dizendo
que queremos o aluno formatado em seus pensamentos, trancados nesse verdadeiro
universo vocabular do “tudo correto e perfeito”. Não é o objetivo do professor de
Língua Portuguesa, pode ter sido no passado distante da escola antiga tradicional,
tempos idos que não voltam mais. Eu fui aluno do semi-internato de colégio de Padres
salesianos e não tenho somente boas lembranças, não sinto saudades.
A partir desse momento, notei que o aprendizado se faz presente diante de uma
situação em que o palavrão ou situações inadequadas podem conduzir a um final não
muito agradável. Antes de pensar em qualquer forma punitiva, eu pensei na forma
educativa de tratar o problema e esta é minha visão de momento através deste artigo,
principalmente porque a linguagem, o aluno traz de vários ambientes e na escola é o
lugar de tratar o ambiente educativo. Eu já aplico tais procedimentos em entender e
direcionar com frequência, em casos não muito raros, quando o aluno usa o palavrão,
não aplico punitivismo, eu procuro debater e receber sem medo ou tabu. Deve ser por
esse motivo aplicado, que os alunos sentem maior liberdade ou segurança nas aulas
que ministro. Eu não trato assuntos polêmicos de maneira simplista ou punitiva, trato
de maneira normal e receptiva. É uma técnica ou didática, onde sempre dou voz ao
aluno, porém, não estamos distantes de problemas que possam surgir, mesmo
aplicando tal técnica, mas com certeza amplia os caminhos da compreensão e
empatia.
OBJETIVOS GERAIS
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Escute a situação, deixe o aluno explicar, e não tente colocar sua ideia na cabeça do
aluno. Depois de escutar, tente relaxar o ambiente e manter o humor sempre, sem
cara amarrada, explique o contexto que este palavrão ou referência pejorativa esteja
inserido, saiba reconhecer o palavrão corriqueiro, daquele palavrão de insultos.
Tente focar em situações que possam diminuir o uso frequente de palavrões e os tipos
de violência que possam causar, entre mágoas, brigas e até morte.
METODOLOGIA
O que é palavrão?
Todos nós sabemos o que são palavrões, correto? Ao contrário das regras
gramaticais, aprendemos palavrões e como usá-los sem precisar estudar e sem
qualquer explicação; aprendemos em casa, com amigos, família, trabalho, escola e até
mesmo na literatura. Mesmo quando somos crianças, iniciamos com aquela coisa de
mãe e sabemos que certas palavras são "feias", embora nem sempre saibamos o
significado delas. Entretanto, os palavrões não são tão simples como parecem ser,
eles causam constrangimentos na maioria das vezes. Nossos sentimentos a respeito
disso são contraditórios: falar palavrões é um tabu em quase todas as culturas, mas
em vez de evitá-los, como fazemos com outros tabus, nós os usamos frequentemente,
é algo sorrateiro e que aos poucos toma conta das nossas palavras e repetimos sem
muito pensar. A maioria das pessoas dizem que aquele que fala palavrão, esteja
associado à raiva ou frustração, mas eles são usados por vários motivos, entre
meninos e meninas e em diversas situações, é muito difícil conter essa onda do
palavrão em toda sociedade. Imagine que você não pode se acertar determinado
oponente mais forte, você então, solta inúmeros palavrões. Ou exatamente quando
você tropeça e cai no chão ou se machuca, o que você faz, então? Chama um monte
de palavrões antes de apanhar, literalmente muitas vezes! Ou depois de tropeçar.
Pensemos que o ato de xingar também satisfaz diversos objetivos em interações
sociais. Além disso, seu cérebro lida com palavrões de forma diferente das outras
palavras, dizem especialistas. O palavrão está dentro da gente, assim como os gestos,
sinais ofensivos e até proibidos.
Nesta atividade eu sugiro que o professor escreva no quadro da sala de aula a palavra
PALAVRÃO. Logo em seguida, distribua um pedaço de papel para que os alunos
escrevam “O que eu penso do palavrão” em todos os sentidos de insultos, brincadeira
abusiva ou não, gírias ou palavras de conotação negativa. Ao passo que a consciência
coletiva vai se formando, o professor vai abordando os tipos de situações para que os
alunos entendam as dificuldades que possam surgir com o uso dos palavrões e
expressões pejorativas.
AVALIAÇÃO
A avaliação deve ser ampla, contínua e coerente com os objetivos propostos nas
aulas. Temos que usar da inteligência emocional, pois, ela abrange muito mais que
“medir”. É a percepção do aluno em todos os seus aspectos, tais como,
desenvolvimento de atitudes, aquisição de conceitos e domínio de procedimentos. Ele
entenderá que o uso do palavrão e de agressividades não trazem benefício, pois,
afastaremos as pessoas de nosso convívio social.
CONCLUSÃO
Tendo em vista que este artigo também é um o projeto de prioridade, buscando o bom
relacionamento e intervir sobre o uso de palavrões por alunos, o que será interessante
verificar se essa maneira de se expressar tem sua origem no ambiente familiar? Quais
os pontos de origem? Está na escola o foco principal? Em outras palavras, será que
os alunos falam palavrões na escola porque eles os ouvem em casa? Por outro lado, a
escola precisa agir e para isso deve contar com todos para frear o uso de palavrões
entre os jovens, não só pelo vernacular chulo, uma vez que parte da violência dentro
da escola pode ter sua origem no palavrão, quando pronunciado para ofender o outro.
Quantas brigas não tivemos dentro das escolas por causa de ofensa? É por isso que
pensei exclusivamente em fazer um trabalho com os alunos para transformar a sala de
aula em espaço livre de palavrões, e mesmo que existam eventualmente, não seria
um objeto de atraso na educação e que poderia ser o início do trabalho de mais
cuidado com a linguagem utilizada na escola. Este é objeto deste artigo dentro de uma
conclusão eficiente a ser colocado em prática.
Referências
https://www.conjur.com.br/2011-mai-25/tj-paulista-proibe-distribuicao-livro-escolar-
conteudo-obsceno
Lei de Diretrizes- LDB 9394/96 – Artigo 15, item II, liberdade de opinião e expressão,
sancionada na LEI 8069/90.
Noam Chomsky, linguística aplicada
https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/01/noam-chomsky-entenda-
sua-teoria-linguistica-e-seu-pensamento-politico.html