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PROPÓSITO
Compreender os fundamentos da hermenêutica filosófica e da hermenêutica jurídica e a
relação
existente entre ambas é fundamental para uma adequada interpretação e aplicação
do Direito,
especialmente quando o texto jurídico apresenta algum desafio à sua
compreensão.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
INTRODUÇÃO
Quando alguém nos pergunta o que é hermenêutica, é comum respondermos
simplesmente:
“interpretar.” Não se trata de uma resposta errada, mas o que significa exatamente
interpretar? Afinal,
grande parte do Direito depende disso.
MÓDULO 1
Distinguir os
conceitos fundamentais da
hermenêutica filosófica
CONCEITO DE HERMENÊUTICA
Antes de analisar os conceitos fundamentais da hermenêutica, é necessário conhecer sua
origem. No
entanto, primeiro precisamos compreender o que ela significa. Duas palavras
são usadas
frequentemente como sinônimos: interpretação e
hermenêutica. Como veremos à
frente, ao lado
delas, coloca-se uma terceira: compreensão.
HERMENÊUTICA É A ARTE
DA COMPREENSÃO.
(SCHMIDT, 2014)
Arte no sentido de que não é uma pura técnica que possa ser
realizada a partir da aplicação de regras
metodológicas. Seu objetivo é
compreender corretamente aquilo que foi expresso por outra pessoa. Em
especial,
a hermenêutica filosófica é uma investigação
de como isso ocorre e quais os
desafios.
CAMINHO DA ORIGEM DA HERMENÊUTICA
FILOSÓFICA
Agora, devemos buscar compreender como essa investigação ocorreu ao longo dos séculos.
Para isso,
devemos investigar alguns autores.
Assim:
(SALGADO, 2018)
SAIBA MAIS
Quem colocou a hermenêutica em uma posição central na Filosofia foi Wilhelm Dilthey
(1833-1911).
Para ele, a pergunta que se faz diante do texto é a mesma que fazemos
diante da história: interessa
saber seu sentido. A história não se
resume a descrever os
fatos. Para Dilthey, o problema da história é
o sentido da história, pelo que ele
transforma o problema da história em um problema hermenêutico.
A pretensão de Dilthey, à qual dedicou sua vida inteira, foi estabelecer um método para
as Ciências
Humanas que pudesse ter a mesma dignidade que os métodos das Ciências
Naturais, mas, ao mesmo
tempo, manter sua autonomia em relação a elas.
Para Dilthey, o método das Ciências Naturais não era adequado às Ciências Humanas. No
entanto, se
não houvesse um método para as Ciências Humanas que fosse defensável, não
seria possível defender
sua cientificidade e sua relação com a verdade (SCHMIDT, 2014).
Para Dilthey, o que elas podem fazer é compreender os fenômenos. Não há exemplo mais
clássico
disso do que a Filosofia: compreender o que é o homem, seus desejos, suas
fraturas constitutivas. Você
deve estar se perguntando: O que isso me ajuda a
resolver?
Nada, mas nos ajuda a compreender, sem
dúvida, e a técnica não é capaz
de fazer isso,
pois ela não nos ajuda a compreender, e sim apenas a
usar, em um mecanismo de
causa e
efeito.
EXEMPLO
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA
HERMENÊUTICA FILOSÓFICA
Para que possamos consolidar nosso estudo sobre hermenêutica filosófica, é necessário
mergulharmos
em alguns conceitos centrais desse assunto. Em especial a partir de Dilthey
e Gadamer, a hermenêutica
passou a valer-se de alguns conceitos para refletir sobre o
processo de interpretação e compreensão
dos textos.
Preconceito;
Autoridade;
Tradição;
Horizonte hermenêutico.
PRECONCEITO
Um dos conceitos que a hermenêutica busca resgatar e colocar em seu devido lugar é o de
preconceito. Comumente, esse conceito está associado a algo negativo e
a consequências
prejudiciais.
Se você perguntasse a qualquer pessoa como definiria preconceito,
provavelmente, ela associaria a
uma visão pejorativa sobre algo ou alguém.
No entanto, a hermenêutica filosófica almeja
restabelecer o preconceito como juízo prévio e natural
ao
processo de compreensão
daquilo que nos cerca.
(GADAMER, 2008)
A história da noção de preconceito mostra que foi somente a partir do Iluminismo que a
palavra
assumiu um sentido negativo. O significado originário de
preconceito é o de um
juízo que antecede o
exame definitivo dos elementos determinantes de algo em
análise.
Trata-se de uma pré-compreensão
sobre algo, de uma compreensão provisória que
antecede
uma compreensão mais profunda.
ILUMINISMO
Tradição filosófica que, entre outras características, buscava afastar elementos não
racionais do
processo cognitivo.
Ao contrário do uso que o Iluminismo faz desse termo, o preconceito não é necessariamente
um juízo
falso sobre algo (ou alguém). Afinal, ele pode revelar-se tanto verdadeiro
quanto falso após um
julgamento criterioso daquilo que está em análise. Logo, podemos
identificar dois tipos de preconceito:
os preconceitos legítimos e os
preconceitos
ilegítimos.
Preconceitos legítimos
(GADAMER, 2008)
Muitos desses preconceitos poderão confirmar-se após uma avaliação racional da realidade
— são os
legítimos —, enquanto outros, ilegítimos, deverão ser rejeitados. Desse modo, é
necessário reconhecer
que existem preconceitos ilegítimos, assim como
existem também
preconceitos legítimos.
AUTORIDADE
Para o Iluminismo, não pode haver preconceito ou autoridade que contenha qualquer
verdade. Por
conseguinte, o uso metódico da razão é a única maneira de alcançá-la. Ao
fazer isso, no entanto, o
Iluminismo ignora algo que sempre esteve contido no conceito
de autoridade, isto é, que ela também
pode ser uma fonte de
verdade.
ATENÇÃO
É bem verdade que isso não significa que o professor esteja isento de
erros e, portanto, sempre certo
em seus juízos. O aluno pode — e deve —
usar a razão para avaliar os juízos do professor. Entretanto,
se o aluno
parte do pressuposto de que as afirmações do professor não são
verdadeiras e que todas
elas devem ser reavaliadas por ele próprio,
então a compreensão daqueles assuntos e o processo de
aprendizado
estarão seriamente comprometidos.
TRADIÇÃO
Quanto mais pensamos que, tornando-nos senhores de nós mesmos com o avanço de nossa
capacidade racional, livramo-nos dessas influências, mais nos surpreendemos com sua
constante
presença. No entanto, tradição e razão não se excluem. Ao
contrário, essas
ideias podem conviver ao
mesmo tempo e atuam juntas no processo interpretativo. Afirmar
que, na tradição, não há nada de
racional é um preconceito ingênuo.
É fundamental admitir, portanto, que jamais somos seres inaugurais. Nosso conhecimento
não foi criado
por nós mesmos. Afinal, sempre damos continuidade ao trabalho de homens
que viveram antes de nós.
Quando nossa permanência neste mundo acabar, outros homens que
virão depois de nós também
continuarão. É como se sempre víssemos o mundo sobre os
ombros de gigantes.
Logo, a tradição não deve ser vista como algo recebido passivamente ou como algo que pode
ser
lançado fora. Como observa o filósofo da hermenêutica:
(GADAMER, 2008)
Esse movimento não está muito distante do âmbito jurídico. Ao contrário, pode ser
claramente percebido
nos tribunais. A própria jurisprudência é um fenômeno profundamente
relacionado à tradição, uma vez
que mesmo as mudanças jurisprudenciais precisam levar em
conta as decisões anteriores de
determinado tribunal.
Por essa razão, a leitura de um livro antigo, a despeito da estranheza a alguns aspectos,
é capaz de nos
tocar profundamente. O livro certamente não foi escrito para
nós, mas a
mensagem que ele carrega nos
alcança. O efeito que ele provoca é, por diversas vezes,
muito forte. Logo, não há dúvidas de que a
tradição tem sempre algo a dizer sobre nós
mesmos, e não apenas sobre algo que já passou e não
pertence mais ao nosso tempo.
HORIZONTE HERMENÊUTICO
Finitude
Historicidade
O homem compreende dentro e a partir de suas
experiências históricas.
EXEMPLO
REGIONALISMO
Expressão típica de região em que mora o falante de uma língua.
MEME
Fonte: EnsineMe
Fusão de
horizontes.
Para reflexão
RESPOSTA
COMPREENDENDO A HERMENÊUTICA A
PARTIR DO EXEMPLO DA TRADUÇÃO
Um dos melhores exemplos que podemos utilizar para compreender os desafios hermenêuticos
é o
desafio da tradução. Quando pensamos na tradução de um texto ou de
uma fala,
dificilmente
associamos isso a uma atividade interpretativa. No entanto, Gadamer (2008)
nos lembra que a tarefa do
tradutor talvez seja uma das mais interpretativas por
excelência.
Em sua obra clássica, Gadamer (2008) apresenta a linguagem como meio para a experiência
hermenêutica, isto é, o caminho por meio do qual a compreensão é possível. Dessa
maneira, os
problemas que envolvem a linguagem são aqueles que envolvem questões
hermenêuticas. É o caso da
tradução. Nela, como um desafio interpretativo claro,
tornam-se visíveis os conceitos que estamos
estudando.
Em primeiro lugar, devemos perceber que a linguagem implica um tipo de acordo entre
aqueles
envolvidos nela. Por isso, a compreensão somente é possível quando os
participantes obtiverem algum
tipo de acordo na linguagem. Você deve estar se
perguntando:
ACORDO? EM UMA CONVERSA?
Pensemos em duas pessoas conversando: um brasileiro e um francês. Imagine que nenhum dos
dois
domina o idioma do outro. Seria possível uma conversa fluir entre eles? Se depender
da linguagem
verbal, com toda certeza, não haverá compreensão. Sem que os dois dominem
um idioma em comum, o
acordo é impossível. Portanto, a compreensão recíproca também é
impossível.
No entanto, se eles começarem a fazer gestos que ambos consigam compreender, a barreira
inicial será
superada e a compreensão se fará possível, pois um acordo foi firmado. Os
gestos tornaram viável que
ambos se compreendessem, pois possuíam um significado
semelhante para eles. A isso denominamos
acordo.
DIFICULDADES NA COMPREENSÃO
A resposta a essas perguntas é, inevitavelmente, negativa. Ainda que seja alguém muito
próximo de nós
(um amigo, um familiar, o próprio cônjuge), cada pessoa tem vivências
próprias. Um famoso trecho de
uma música popular brasileira de Caetano Veloso afirma:
“[...] cada um sabe a dor e a delícia de ser o
que é” (DOM, 1982).
Como afirma Gadamer (2008): “[...] a linguagem é o meio em que se realizam o acordo dos
interlocutores e o entendimento sobre a coisa em questão”.
O MEIO
SEU OBJETO
Nenhum dos interlocutores consegue controlar a compreensão. Por esse motivo, a conversa
natural se
desprende das particularidades de cada sujeito, e o acordo adquire um sentido
próprio, não dependendo
da individualidade dos sujeitos.
Segundo o que estamos vendo e conforme mostra o esquema a seguir, isso ocorre porque,
embora
busquemos expressar certa intenção, muitas vezes nosso ouvinte interpreta a
mensagem de outra
forma. Afinal, o emissor não tem controle sobre a compreensão do
ouvinte. A mensagem separa-se do
autor e o acordo existente acerca dela não está mais
sob o controle dele.
(GADAMER, 2008)
(GADAMER, 2008)
Por isso, a mera transição de idiomas não resolve o problema da compreensão, pois a
hermenêutica
depende da linguagem, e não da língua. Para que o texto original seja
compreendido entre os leitores da
tradução, é necessário muito mais que buscar palavras
iguais entre os idiomas — até porque, em muitos
casos, isso não é possível.
Nas palavras de Gadamer (2008): “[...] este é precisamente o comportamento que conhecemos
como
interpretação.” No entanto, não importa o quão dedicado seja o tradutor (o mesmo se
aplica ao
intérprete). Afinal, “mesmo que seja uma reconstituição magistral, sempre
faltar-lhe-ão algumas nuances
que enriquecem o original”.
ATENÇÃO
“A tradição escrita não é apenas uma parte de um mundo passado, mas já sempre se elevou
acima
deste, na esfera do sentido que ela enuncia” (GADAMER, 2008). Nesse sentido, a
escrita é fundamental
à compreensão do passado.
(GADAMER, 2008)
Então, a interpretação de textos escritos apresenta desafios próprios em relação à
compreensão de uma
conversação. Por um lado, podemos participar dos textos escritos sem
grandes interferências de ordem
subjetiva (do autor e do destinatário do texto). Por
outro, “ao contrário do que ocorre com a palavra
falada, a interpretação do escrito não
dispõe de nenhuma outra ajuda” (GADAMER, 2008).
Nesse contexto, o leitor pode defender sua interpretação como uma possível verdade, ainda
que de
forma diferente da vontade do autor e do leitor originário. Então:
(GADAMER, 2008)
VERIFICANDO O APRENDIZADO
POR ISSO
A) Fusão de horizontes.
B) Horizonte hermenêutico.
C) Tradição.
D) Preconceito.
E) Intepretação.
GABARITO
1. Estudamos o objeto sobre o qual incide a interpretação em geral. A respeito disso, analise as
duas afirmativas a seguir:
POR ISSO
II - A compreensão de uma obra de arte (uma pintura, por exemplo) não exige interpretação por
parte do observador.
Tudo aquilo que pode ser verbalizado (isto é, expresso por meio da linguagem) está sujeito à
interpretação. Isso inclui sinais visuais, como uma obra de arte, pois o observador, para compreendê-la,
precisará refletir sobre ela por meio da linguagem. Por isso, não somente documentos escritos são
sujeitos à interpretação.
2. Gadamer (2008) busca restabelecer um conceito, afastando a visão pejorativa que ele
normalmente assume no cotidiano, bem como ressaltando sua importância para o processo
interpretativo como um juízo prévio. O conceito a que o autor faz referência é:
O preconceito foi recriminado a partir do Iluminismo, porém é um conceito fundamental para o início da
compreensão de um texto. Trata-se de um juízo prévio, que pode ser mantido ou rejeitado na análise
definitiva.
MÓDULO 2
Relacionar os
métodos e sistemas
interpretativos a casos jurídicos
NOÇÕES GERAIS
Agora, devemos buscar compreender como essa investigação ocorreu ao longo dos séculos.
Para isso,
devemos investigar alguns autores.O Direito no Ocidente foi sistematizado em
dois grandes ramos (ou
tradições) por David (2002). Segundo o autor, podemos encontrar
uma tradição de base romano-
germânica (também chamada de civil law) nos países
de
influência latina, incluindo o Brasil, e uma
tradição anglo-saxônica (também chamada de
common law) nos países de influência anglo-americana.
Essa divisão considera, entre outros aspectos, a importância da lei escrita para cada
tradição e o
processo de formação do Direito. Nesse sentido, a tradição
romano-germânica
confere primazia ao
papel da lei escrita, enquanto o sistema anglo-saxônico confere
primazia ao sistema de precedentes
judiciais.
Surgiu na Idade Média buscando a formação dos estudiosos pela necessidade de utilização e
interpretação dos mecanismos jurídicos herdados de Roma, como o Corpus Iuris
Civilis.
Neste momento, vamos nos voltar à hermenêutica jurídica sem ignorar que sua finalidade é
possibilitar a
interpretação jurídica. Para isso, devemos considerar:
Os métodos de interpretação
A integração do Direito
Os sistemas interpretativos
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
A concretização da interpretação exige a aplicação de algum método. Embora possam variar
entre os
autores, alguns sempre são destacados. Esses métodos são de grande utilidade
para que o intérprete
possa, interpretando os enunciados, chegar à norma aplicável a
certo caso. Por isso, esses métodos
precisam ser vistos conjuntamente e não de maneira
isolada.
MÉTODO LITERAL
Também pode ser chamado de método gramatical, textual ou léxico. Esse método busca
interpretar a
norma a partir do uso da linguagem. Então, o intérprete deve recorrer ao
sentido das palavras e
expressões contido em uma definição técnica ou do uso comum da
linguagem (identificado a partir de
um dicionário).
ATENÇÃO
No entanto, esse método é insuficiente. Afinal, muitos conceitos que a lei usa são
controvertidos e,
portanto, impossíveis de serem definidos apenas a partir da
literalidade da lei. Além disso, muitas vezes,
as expressões que a lei usa vão sendo
alteradas com o passar do tempo. Nesse caso, não é possível
um recurso à literalidade
pura e simples. Por exemplo, mulher honesta, bons costumes são expressões
cujos
sentidos
foram alterados ao longo do tempo.
MÉTODO SISTEMÁTICO
O ordenamento jurídico constitui um conjunto de enunciados normativos. Não são textos
isolados ou
independentes uns dos outros.
Por isso, o intérprete deve interpretar cada norma à luz das demais que integram esse
ordenamento, de
modo a preservar esse conjunto normativo de maneira harmônica, e não
isolada ou contraditória. Esse
critério é de suma importância quando comparamos a
legislação infraconstitucional com as normas
constitucionais.
EXEMPLO
MÉTODO HISTÓRICO
Toda norma jurídica surge em um contexto histórico e é elaborada visando a uma intenção
pelo
legislador. Isso faz com que a norma seja interpretada de certo jeito ao longo dos
anos. Segundo esse
método, o contexto original e a interpretação ao longo do tempo devem
ser levados em consideração.
Contudo, o método apresenta dois grandes desafios à sua
aplicação:
MÉTODO EVOLUTIVO
Como a norma jurídica faz referência a fatos sociais, quando esses fatos, com o passar do
tempo, são
alterados substancialmente, cabe ao intérprete ressignificar a norma
jurídica. Essa norma, então, será
interpretada à luz das novas circunstâncias históricas
nas quais se coloca.
MÉTODO TELEOLÓGICO
Segundo esse método, as normas jurídicas devem ser interpretadas à luz de seu
telos.
MÉTODO AXIOLÓGICO
(CF/88)
Para reflexão
RESPOSTA
A posição do STF foi por uma interpretação teleológica, considerando que o propósito
da norma incluía a
finalidade desses instrumentos tecnológicos. Assim fixou o STF:
INTERPRETAÇÃO DECLARATÓRIA
Trata-se do resultado habitual da interpretação, em que se declara o
resultado da interpretação sem
ampliar a aplicação da norma a novos casos ou
sem reduzir sua incidência. Identifica os conceitos e os
efeitos, entre
outras consequências.
INTERPRETAÇÃO AMPLIATIVA
O resultado da interpretação inclui na norma casos anteriormente não
previstos, fazendo com que a
interpretação normativa incida sobre novas
situações antes não expressamente amparadas pelo texto
legal.
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA
O resultado da interpretação permite que apenas alguns casos se submetam à
incidência da norma,
excluindo outros casos de sua aplicação. Alguns ramos
do Direito exigem esse tipo de interpretação. É o
caso, por exemplo, do
Direito Penal e do Direito Tributário.
INTEGRAÇÃO DO DIREITO
Quando existe uma norma, o Direito é aplicado por meio da interpretação — processo pelo
qual busca-
se a compreensão da norma e a realização de sua incidência sobre o caso
concreto. Quando, porém,
não existe um texto legal que resolva o caso, é necessário
buscar uma norma que atenda à exigência do
caso concreto (lacuna). Afinal, é vedado ao
intérprete não resolver o caso. A esse fenômeno chamamos
de integração do
Direito.
AUTOINTEGRAÇÃO
HETEROINTEGRAÇÃO
Quando a norma que será utilizada para sanar a
lacuna existente for de fora do ordenamento jurídico
pátrio
(exceção).
Analogia
Equidade
ANALOGIA
Quando existem casos semelhantes, porém um deles não é regulado, a analogia consiste na
aplicação
da norma do caso regulado ao caso sem previsão normativa.
EXEMPLO
ANALOGIA LEGIS
ANALOGIA JURIS
EQUIDADE
Alguns autores a chamam equidade de justiça, embora não sejam exatamente sinônimos, dada
a
diferença entre Direito e Justiça. Trata-se, de
fato, de um ajuste do Direito às
necessidades do caso
concreto. Assim, o intérprete pode realizar uma espécie de
abrandamento do texto legal em
circunstâncias específicas. Não é regra no sistema
jurídico, e sim uma exceção.
Como são normas abstratas e genéricas, se não houver nenhuma norma mais específica, o
intérprete
poderá recorrer aos princípios gerais do Direito para solucionar o caso. A
própria lei faz referência a
eles, tanto no Direito interno (Lei de Introdução às Normas
de Direito Brasileiro), quanto no Direito
internacional (como na Convenção de Viena
sobre Direito dos Tratados, de 1969).
SAIBA MAIS
SISTEMAS INTERPRETATIVOS
A organização da interpretação jurídica segundo certos sistemas interpretativos não é um
ponto
consensual na doutrina. No entanto, podemos identificar, de maneira relativamente
majoritária, algumas
escolas de pensamento sobre a interpretação jurídica ao longo da
Idade Moderna e Contemporânea,
que deram origem aos seguintes sistemas:
SISTEMA EXEGÉTICO
A característica desse sistema interpretativo (também chamado de
sistema dogmático ou sistema
jurídico tradicional) é a limitação da
interpretação à lei. Em intensidade maior ou menor, considera que a
lei
revela a vontade do legislador e que é possível compreender o significado da
lei de modo
relativamente claro.
SISTEMA HISTÓRICO
Com as intensas transformações ocorridas no século XIX,
especialmente motivadas pelas alterações
socioeconômicas, os teóricos
viram-se confrontados pela necessidade de fazer uma interpretação mais
ampla
do Direito, inclusive por meio da correção de imperfeições na lei.
SISTEMA TELEOLÓGICO
Conduzido principalmente por Rudolf Von Ihering (1818-1892) —
conhecido por sua obra clássica A luta
pelo Direito (1890) —, de
acordo com
esse sistema interpretativo, o Direito deve ser compreendido a
partir de sua
finalidade, de modo que sua interpretação deve ser conduzida de forma
teleológica.
A solução do caso diz que não, pois o título da dívida não incluía
esse dado explicitamente, de modo
que não poderia ser exigido pelo credor.
Para reflexão
RESPOSTA
A atividade foi proposta com o objetivo de reflexão acerca do caso apresentado acima
para análise.
Diferentemente dos demais já expostos no tema, este não apresenta
resposta, pois trata-se de um caso
fictício medieval que dispensa raciocínio único.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Dogmático.
B) Tradicional.
C) Histórico.
D) Exegético.
E) Teleológico.
A) Literal.
B) Textual.
C) Analógico.
D) Histórico.
E) Teleológico.
GABARITO
1. Ao deparar-se com um caso em que o réu era acusado de cometer a contravenção penal de
“explorar jogos de azar” por manter uma banca de “jogo do bicho”, determinado juiz passou a
refletir sobre a referida norma. Ao final, concluiu que as mudanças sociais ocorridas nas últimas
décadas no país não justificavam mais a aplicação de uma pena por causa desse fato. Embora a
norma pudesse ser justificada em sua origem, as transformações sociais não permitiam a
continuidade da mesma interpretação sobre a referida norma.
Em razão das transformações sociais, o juiz percebeu a necessidade de fazer uma interpretação mais
ampla do Direito, inclusive por meio da correção de imperfeições na lei.
2. O Supremo Tribunal Federal adota em sua jurisprudência a teoria dos poderes implícitos.
Dessa maneira, interpreta as normas constitucionais que atribuem certas funções a um órgão ou
a uma instituição, incluindo, também, de forma implícita, os poderes necessários à realização
desse papel. Em outros termos, se a Constituição Federal fixa um objetivo, também assegura,
ainda que implicitamente, os meios para alcançar esse resultado.
A teoria dos poderes implícitos visa resguardar a finalidade da norma constitucional, de forma a não
frustrar seus objetivos. Assim, a interpretação do STF segue um método teleológico.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pudemos ver, embora muitas vezes a interpretação pareça um exercício simples ou
mesmo
inexistente, trata-se de um fenômeno complexo e sempre presente quando ocorre a
compreensão. Por
isso, a hermenêutica apresenta-se como um objeto relevante para a
reflexão filosófica.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF: Presidência
da
República. Publicada em: 5 de out. 1988.
DOM de iludir. Compositor: Caetano Veloso. Intérprete: Gal Costa. Rio de Janeiro:
Philips, 1982. 1 LP
(43 min).
VIANNA, J.; BRODBECK, P. Juíza cita raça ao condenar réu negro por organização
criminosa.
In:
G1, 12 ago. 2020.
EXPLORE+
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CONTEUDISTA
Elden Borges Souza
CURRÍCULO LATTES