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Aluno: João Victor Peixoto Disciplina: Filosofia e Crítica de Arte I Período: 2022.

Como falar sobre uma performance sem nome? Assumi-la, como uma performance de
natureza artística; identificar seu tema central; apresentar um pouco de seu desenvolvimento;
fazer uma breve apresentação das estratégias narrativas das quais dispõe. Seriam estes os
passos para examinar em que medida esta se enquadra no gênero proposto; em que sentido
esta se aproxima de uma palestra performance.
“Oi, meu nome é Kalinda e eu me preparei para apresentar uma palestra performance.”
Seriam estas as primeiras palavras de algo que, aparentemente, seguiria um rumo inteiramente
distinto do previsto; tanto para aqueles que se aconchegavam nas carteiras, buscando
encontrar a melhor posição para assistir sua apresentação, quanto para a própria performer.
Aparentemente, reforço, pois, no decorrer de sua exposição, por mais explícita que tenha sido
a afirmação de que não se trataria de uma encenação, seu espectador encontrar-se-ia, sem
dúvidas, incerto da validade desta informação.
Ao quadro, em projeção, a primeira de suas estratégias narrativas: um vídeo que,
alguns momentos depois, seria apresentado pela performer, como uma gravação, sem edições,
de seu processo criativo. O processo criativo de algo, talvez, inteiramente diferente do que
seria apresentado.
Mas, afinal, do que se trataria a performance em questão? Da incapacidade de realizar
uma produção deste gênero; de uma suposta incapacidade fazer acontecer algo que se
configurasse como de natureza artística. Afinal, às palavras “me preparei para apresentar uma
palestra performance”, bem como a breve explicação do curioso vídeo de uma moça
passeando por um cômodo, com um aspecto de ansiedade e um quê de hiperatividade,
seguiram “mas resolvi fazer uma apresentação sobre o meu processo na construção da palestra
performance que não vou mais apresentar”.
Esta, poderia ser considerada a segunda das estratégias narrativas utilizadas na
composição aqui abordada. Sendo ou não algo pré-estabelecido; montado e ensaiado, é
inevitável a sensação de estar diante de algo que se passa no aqui e agora; algo espontâneo,
autêntico. Entretanto, como elemento adicional à já valiosa estratégia narrativa,
encontrar-se-iam todos aqueles “talvez” e “aparentemente”.
Para além de uma espontaneidade e autenticidade por si sós cativantes,
encontrar-nos-íamos em dúvida acerca da sua verdade. Estratégia esta – a terceira –, que se
desenvolve no decorrer da apresentação, aparecendo outra vez entrelaçada à menção feita
sobre a performance Rítmo 0 de Marina Abramovic. Na medida em que remonta a
performance de Abramovic, aponta para uma espécie de impossibilidade de produzir qualquer
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coisa de natureza semelhante, de pôr seu corpo à disposição e torná-lo objeto da performance,
ou de encontrar em si aquele impulso que deveria levá-la à produção da arte.
Contudo, tal afirmação se torna algo estranho ao conjunto da obra. Conforme são
considerados os elementos anterior e posteriormente apresentados, nota-se que, mesmo em
uma escala menor, ou, trazendo algumas características diferentes, a ação tem uma natureza
mesma. Parte fundamental da performance apresentada trata justamente de pôr-se à
disposição, de tornar seu corpo parte da performance, de mostrar-se incapaz de fazer algo
desta natureza. Contudo, simultânea e paradoxalmente, afirmando-se como capaz de fazê-lo,
na medida em que executa a sua ação; através de um bambear de pernas que lutam para
manter-se em pé, ou de uma fala, vezes engasgada, vezes atropelada que, com dificuldade,
atinge seu objetivo.
A última das estratégias narrativas que nos salta é o recurso à própria experiência: uma
lembrança de sua irmã, que se amarrava a um poste, “fingia ser um cavalo”, levantando um
breve questionamento acerca da natureza da própria performance. “Naquele momento, será
que ela não estava performando para ela mesma? (...) porque ela não sabia que eu estava
olhando.”
Assim, torna-se difícil afirmar se esta é ou não pertinente ao conjunto ao qual se refere
o gênero palestra performance, sobretudo na medida em que se tem dificuldades para
defini-lo. Como diria Bergson em “A Evolução Criadora”, as molduras sempre tendem a se
quebrar, pois são pequenas demais, estreitas demais. Tudo o que nos restaria seria a
apresentação de algumas destas aproximações, através das quais pode se observar que, mesmo
não possuindo uma lida com, ou uma linearidade conceitual precisamente demarcada, obtêm
algum êxito em sua composição.

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