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Infecções Odontogênicas
Beatriz Sales
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Beatriz sales - @bia.salss
INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS
MICROBIOLOGIA
Basicamente os microrganismos que propagam as infecções odontogênicas são bactérias da
flora bucal, que em desequilíbrio são cultivadas em sítios mais profundos através da polpa
necrótica ou bolsas periodontais profundas, tornando-se mais patogênicas atingindo espaços
fasciais causando as infecções odontogênicas.
Com isso, temos dois fatores importantes para destacar:
1. Natureza polimicrobiana das infecções odontogênicas (já que são causadas por múltiplas
bactérias);
2. Característica aeróbia e anaeróbica das bactérias;
Microrganismo mais comuns identificados nessas infecções:
AERÓBICAS ANAERÓBICAS ANAERÓBICAS
ETIOLOGIA
➢ Origem periapical: a infecção é originada a partir de uma cárie dental que se propaga pelo
esmalte, dentina, cemento e polpa, se disseminando ao periápice e ao osso alveolar.
➢ Origem periodontal: bactérias causadoras de placas subgengival e periodontite, por meio
de toxinas causam destruição óssea, chegando ao osso alveolar.
➢ Origem pericoronária (saco pericoronário): dentes semi-retidos colonizados por bactérias
que se propagam aos tecidos gengivais e ósseos circunjacentes.
FISIOPATOLOGIA
Os espaços fasciais são compartimentos teciduais revestidos por fáscias, preenchidos por tecido
conjuntivo frouxo areolar, que pode tornar-se inflamado quando invadido por microrganismos.
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Os espaços fasciais em pessoas saudáveis são somente espaços potenciais que não existem,
preenchidos por fáscias e músculos. O tecido areolar frouxo dentro desses espaços fasciais são
utilizados como coxim (área resistente) para músculos, nervos, glândulas e outras estruturas
que este envolve, assim como para permitir um movimento relativo entre essas estruturas.
Em um sistema imunocompetente quando é acometido ocorre:
➢ Hiperemia: provocada por vasodilatação das arteríolas e capilares e aumento da
permeabilidade das vênulas com redução da velocidade do fluxo sanguíneo venoso.
➢ Passagem de exsudato rico em proteínas plasmáticas e extravasamento dos leucócitos para
os tecidos circundantes;
➢ Liberação de leucotaxina (fator de permeabilidade): permitindo migração dos leucócitos
polimorfonucleares + monócitos tardios para área;
➢ Precipitação de uma rede de fibrina do exsudato: tendendo a isolar a região.
➢ Fagocitose das bactérias, outros organismos e células mortas.
➢ Eliminação dos resíduos necróticos pelos macrófagos.
A necrose de liquefação das células brancas do sangue e do tecido conjuntivo é o que leva à
formação de abscessos.
Reação inflamatória:
➢ Rubor: quando a infecção está próxima a superfície tecidual → vasodilatação
➢ Tumor/edema: resultado do acúmulo de exsudato fluido ou pus no local infectado;
➢ Calor: aumento da temperatura devido ao influxo do sangue relativamente quente dos
tecidos profundos e aumento da taxa metabólica;
➢ Dor: devido a compressão das terminações nervosas sensoriais pela distensão tecidual
causada pelo edema ou pela difusão da infecção. E por substâncias liberadas (quininas,
histaminas, metabolitos, bradicinina);
➢ Perda de função: caracterizada pela disfagia, dispneia e dificuldade para mastigar.
A temperatura corpórea é controlada por sistemas complexos envolvendo o hipotálamo e os
sistemas vasomotor, sudomotor e de tremor.
-Na febre clínica, os centros termorreguladores hipotalâmicos são estimulados pelo pirógeno
endógeno que é ativado por endotoxinas bacterianas e liberadas por granulócitos, monócitos e
macrófagos.
-Queixa de calafrios repetidos é comum em bacteremia e abcessos piogênicos.
-Dor de cabeça que acompanha a infecção, geralmente é associada à febre e resulta do
estiramento das estruturas sensitivas circundando as artérias intracranianas dilatadas.
Linfadenopatia:
Caracteriza-se como um aumento de volume nos linfonodos, varia a depender do tipo de
infecção:
➢ Infecções agudas → linfonodos ampliados, moles e sensíveis. Pele avermelhada e tecidos
associados edemaciados.
➢ Infecções crônicas → nódulos aumentados, geralmente menos firmes (Depende do grau de
inflamação), frequentemente não são sensíveis. Edema não é frequente. *a localização dos
nódulos afetados frequentemente indica o local da infecção.
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ESTÁGIOS
Duração 0 – 3 Dias
Dor Leve/moderada
Volume/tamanho Variável
Localização Difusa
Aspecto clínico Coloração
normal/levemente
avermelhada
Temperatura do local Ligeiramente aumentada
Perda de função Mínima
Pus Ausente
Consistência à Macia
palpação
Sensibilidade local Sensível
Potencial de gravidade Baixa
Bactérias Aeróbica
Duração 1 – 5 Dias
Dor Grave e generalizada
Volume/tamanho Grande
Localização Difusa
Aspecto clínico Vermelho intenso
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Duração 4 - 10 Dias
Dor Localizada
Volume/tamanho Pequeno
Localização Circunscrita
Aspecto clínico Periferia avermelhada
com centro colapsado
Temperatura do local Moderadamente
aumentada
Perda da função Moderada
Pus Presente
Consistência à Flutuante
palpação
Sensibilidade local Pouco sensível
Potencial de gravidade Baixa
Bactérias Anaeróbia
LOCALIZAÇÃO/ESPAÇOS FASCIAIS
Exemplo imagem B: ápice está mais próximo da tábua palatina, fazendo com que o osso nessa
região esteja mais fino, sendo assim a infecção odontogênica irá por esse trajeto penetrando nos
tecidos moles.
➢ Relação muscular: a partir do ponto de perfuração óssea e a inserção muscular, será
definido o espaço fascial envolvido.
Exemplo imagem A: o ápice do
dente está após a inserção muscular,
logo, a perfuração e trajeto da
infecção será abaixo do musculo
(fundo de vestíbulo –abscesso
vestibular).
Exemplo imagem B: o ápice do A B
dente está acima da inserção
muscular, logo, a perfuração e o trajeto da infecção será acima do músculo (espaço bucal).
1 – Espaço vestibular
2 – Espaço bucal
3 – Espaço palatino
4 – Espaço sublingual
5 – Espaço submandibular
6 – Seio maxilar
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Sendo que:
RISCO DAS INFECÇÕES DOS ESPAÇOS FASCIAIS DE ACORDO COM A LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA:
❖ Baixa severidade: pouca ameaça às vias aéreas ou às estruturas vitais.
➢ Vestibular;
➢ Bucal;
➢ Subperiosteal;
➢ Espaço do corpo da mandíbula;
➢ Infraorbitário;
❖ Moderada severidade: acesso obstruindo às vias aéreas.
TOME NOTA!
➢ Espaços perimandibulares;
➢ Submandibular; Quando há o
➢ Sublingual; comprometimento das
➢ Submentoniano;
vias aéreas o paciente
➢ Espaço mastigador;
❖ Alta severidade: ameaça direta às vias aéreas ou às pode chegar ao óbito.
estruturas vitais.
➢ Espaços profundos do pescoço→ espaços potenciais;
➢ Faríngeo lateral;
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➢ Retrofaríngeo;
➢ Pré-traqueal; TOME NOTA!
Maxila:
Quando a raiz do dente é
Incisivo central Espaço vestibular com inclinação palatina e
Incisivo lateral Tábua óssea palatina
longa acomete o espaço
Canino Espaço vestibular
Pré molar superior Espaço vestibular infraorbital/canino (risco de
Molar superior Espaço vestibular trombose do seio cavernoso);
Mandíbula:
Esses espaços acometidos não são via de
Incisivos Inferiores Espaço vestibular
regras, tudo dependerá de como o dente
Canino Espaço submentual
Pré molares Espaço sublingual está posicionado e qual lado será mais
1 e 2° molares Espaço submandibular “fácil” para a infecção atravessar a tábua
3° molar Depende da posição óssea.
TOME NOTA!
O 3° molar se estiver vertical ou distoangulados acomete o espaço submandibular; se estiver
horizontal ou mesioangulados acomete o espaço pterigomandibular, podendo se comunicar com
o espaço laterofaríngeo.
DIAGNÓSTICO
➢ Angina de Ludwig:
Maxila X mandíbula
A Osteomielite ataca mais o osso da mandíbula por ser mais esponjoso e ter uma densa lâmina
cortical, é impedido de ter penetração dos vasos sanguíneos periosteais na maxila, sendo assim
recebe suprimento primário pela artéria alveolar inferior (mandíbula).
→A maxila é mais rica e possui diversas artérias que forma uma rede complexa de vasos de
suprimento primário.
Dessa forma, o osso mandibular é mais propenso a se tornar isquêmico/infectado.
TRATAMENTO
Para seguir no tratamento das infecções odontogênicas é necessário determinar a gravidade da
infecção de acordo com: a história (anamnese) e o exame físico do paciente; avaliar o estado
dos mecanismos de defesa do hospedeiro (condições sistêmicas e fármacos que possam
comprometer o hospedeiro); decidir se o paciente deve ser tratado em ambiente ambulatorial
ou hospitalar. Esses princípios devem ser seguidos para adaptar cada etapa do tratamento:
➢ Remover a causa;
➢ Tratar cirurgicamente (drenagem);
➢ Terapia de suporte;
➢ Antibioticoterapia;
➢ Acompanhamento periódico do paciente.
REMOÇÃO DA CAUSA
TRATAMENTO CIRÚRGICO
DRENAGEM
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ATENÇÃO!
Optar por um tratamento cirúrgico é a última escolha de abordagem, primeiro opta-se por tentar
uma terapia antibiótica. Quando há o fracasso da terapia médica, como a deterioração da
condição do paciente, comprometimento iminente das vias aéreas e identificação de abscesso
por TC, exame clinico... = opta-se pela drenagem cirúrgica.
A drenagem sempre será adequada de acordo com o tipo de infecção e espaço envolvido,
mas basicamente segue esse princípio:
A drenagem – tratamento cirúrgico propriamente dito das infecções odontogênicas – se
baseiam em: utilizar pontos de referência
anatômicos apropriados, incisões pequenas TOME NOTA!
e dissecção romba sem a exposição direta
Para que não seja danificado estrutura nobres,
e visualização do espaço anatômico
é necessário que o cirurgião conduza a pinça
infectado inteiro.
hemostática durante a dissecção romba de
A drenagem pode ser feita de forma: quando insere é com o instrumento
forma intra oral e extra oral: fechado e abri-lo quando estar penetrado até o
Drenagem intrabucal: fundo do local que deseja atingir e retirar o
instrumento aberto.
Anestesia local;
Incisão;
Divulsão;
Colocação do dreno;
Sutura do dreno à mucosa;
Drenagem extrabucal:
Anestesia local ou geral (depende da gravidade da infecção);
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Tipos de drenos:
Dreno de penrose estéril de ¼ polegada: pode ser substituído por uma pequena tira estéril de
dique de borracha ou luva cirúrgica. É colocado com comprimento adequado para alcançar a
profundidade do abscesso por meio de uma pinça hemostática, suturado com fio de sutura nylon
5.0 extraoral e intraoral seda 3.0. Tipo de dreno mais utilizado.
Dreno rígido: irrigação, perfurações, aspirações. Sutura intra oral com o uso de seda 3.0 e
extraoral com o uso de nylon5.0. Não tão usado.
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Remoção do dreno: não há via de regra, o indicado na literatura é que o dreno deva
permanecer no local até que cesse a drenagem do abscesso. Hupp dá uma estimativa de 2 – 5
dias, porém não é via de regra.
A retirada é feita por meio de um corte na sutura e deslizamento do dreno para fora da ferida.
As vezes pode ser necessário a remoção do dreno e recolocação de outro dreno.
TERAPIA DE SUPORTE
ANTIBIOGRAMA
REFERÊNCIAS
HUPP, James R.; TUCKER, Myron R.; ELLIS, Edward. Cirurgia oral e maxilofacial
contemporânea. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 692 p.
TOPAZIAN, R.G.; GOLDBERG, M.H.; HUPP, J.R. Infecções orais e maxilofaciais. 4a ed.
São Paulo: Santos, 2006.
MILORO, Michael et al. Princípios de cirurgia bucomaxilofacial de Peterson. 3. ed. São
Paulo: Santos Editora, 2016. 1344 p.
PRADO, Roberto; SALIM, Martha Alayde Alcantara. Cirurgia bucomaxilofacial:
diagnóstico e tratamento. 2018. p. 728.