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DECRETO Nº 10.

502/2020 - COMENTÁRIOS AO DECRETO QUE INSTITUIU A


POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL EXCLUSIVA

Atualmente, no Brasil, vislumbra-se uma estrada que segue na contramão da democracia


em diversos setores. Não bastasse, convivemos também com um constante enfraquecimento dos
direitos humanos ao trabalho, à saúde e bem-estar e à educação – sendo, esse último, nosso foco
– que têm contribuído para o surgimento de novas políticas públicas de inclusão – que nada
incluem, oportunizando a precarização da manutenção dos direitos das pessoas com deficiência
de frequentarem o ensino comum – travestidas de razoabilidade ou liberalidade.

Desencontros sociais similares vêm surgindo desde os anos 90, maculando direitos
outrora conquistados e causando ao que, nas atuais políticas-públicas, se refere como público da
educação especial, a fragilização de seus direitos e de sua condição de cidadãos – como exemplo,
temos o Decreto nº 10.502/2020, que instituiu a Política Nacional de Educação Especial, bem
como seus efeitos potencialmente exclusivos – leia-se com o fim de exclusão – apesar de sua
revogação em 1º de janeiro de 2023.

Entretanto, mesmo revogado, seus efeitos tóxicos à democracia perduram e seus defensores
pulverizam gritos por liberdade, não por igualdade ou justiça distributiva – o que, partindo de um
conceito mui raso, poderia ser traduzido em democracia E, nos mesmos gritos, as propostas
educacionais que permeiam o cenário nacional se sustentam; trata-se da luta pelo direito livre
escolha dos sujeitos envolvidos e da própria pessoa com deficiência pelo melhor espaço para sua
escolarização.

No mesmo sentido, a função estatal em um estado democrático é alcançar a igualdade –


como exemplos: igualdade de direitos, igualdade de deveres, igualdade política, igualdade de
renda, igualdade de acesso e, sendo o fim maior desta pesquisa, igualdade de ensino – entretanto,
mister pontuar a disparidade de conceitos de igualdade.

Enquanto alguns veem igualdade como dar a todos o que lhes é devido por direito na
mesma proporção, outros compreendem – e assim pensamos ser o justo – um conceito de
igualdade pautado na justiça distributiva, em que se dá a todos o que lhes é devido por direito na
proporção de sua desigualdade. Isso também se resume em um princípio aristotélico, mas também
é visto em outras grandes pensadores, como São Tomás de Aquino. Dessa forma, as políticas que
– mui lentamente – se estruturavam em favor da acessibilidade e inclusão escolar têm se
fragilizado. E, para muitos, resta a dúvida: quem ganha com a escola inclusiva?

Por obviedade, a resposta não é tão simples. Os novos ideais de liberdade que se protegem
sob o direito não são compatíveis com o social; com o coletivo. Dessa forma dizer que a igualdade
pode ser reduzida a uma decisão, a um direito individual de escolha, onde os responsáveis ou a
própria pessoa com deficiência podem optar por não seguir o modelo atualmente adequado para
a inclusão social é permitir que não se esteja oportunizando ao individuo experimentar uma
educação com benefícios recíprocos entre pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência,
buscando quebrar os paradigmas da discriminação e da ignorância à diversidade, bem como é não
oportunizar à sociedade envolvida construir novos e melhores valores sociais e democráticos,
baseando-se na isonomia, ou seja, na busca por um tratamento que viabilize oportunidades a todos
– criando-se uma liberdade associal.

É nítido que o PNEE/2020 ressignificou a inclusão escolar e, mesmo advindo de um


ignorante clamor popular, acovardou o direito à inclusão e ao acesso regular à escola comum.
Não bastante, encorajou as escolas especializadas e o atendimento educacional especializado fora
do ambiente escolar comum

Desse prumo, permitiu-se escolher o que seria o atendimento mais adequado na visão de
cada um, emoldurando a ideia de que há apenas um beneficiado com a inclusão: o aluno com
deficiência. Entretanto, tal escolha apenas empurra goela abaixo a não participação de estudantes
com deficiência na escola comum.

Vemos o retroceder dos direitos já conquistados, pois novamente se forma uma escola de
práticas homogêneas, conservadoras ao extremo, baseada em princípios não inclusivos e que se
torna exclusiva, pois preconiza o atendimento educacional especializado em detrimento da
inclusão e condiciona o sucesso do aluno de educação especial às oportunidades viabilizadas pelos
serviços especializados. Não bastante, a mesma conduta fragiliza as estratégias pedagógicas da
escola comum e anuncia que o aluno de educação especial e a sala de aula comum são opostos.

Assim, compreende-se que fortalecimento da democracia é ímpar, garantindo o


fortalecimento das noções de igualdade e justiça social para superação das ofensivas
neoconservadoras. Pois mister compreender que tais noções não se resumem a “boas práticas
institucionais” inspiradas pela defesa das liberdades. O que precisa ser sustentado por uma
coletividade que interrogue constantemente as ações políticas, primando pelo bem comum e
bem viver – como se fez, conquistando a revogação do Decreto nº 10.502/2020, que instituiu a
Política Nacional de Educação Especial.

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