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ASSUNTOS DIVERSOS

Boletim Imposto de Renda n° 23 - 1ª Quinzena. Publicado em: 03/12/2020

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

AÇÕES E QUOTAS EM TESOURARIA


Considerações Gerais

Roteiro 

1. Introdução
2. Conceito
3. Aspectos Fiscais
3.1. Sociedade Anônima
3.2. Sociedade Limitada
4. Aspectos Contábeis
4.1. Aquisições das Ações/Quotas
4.2. Alienação das Ações/Quotas com Lucros
4.3. Alienação das Ações/Quotas com Prejuízo

1. Introdução
Nesta matéria, serão abordados os aspectos societário, tributário e contábil sobre as ações e quotas em tesouraria dentro da sociedade anônima e da sociedade
limitada.

Serão base para este estudo a Lei n° 10.406/2002 em seu artigo 1.053, parágrafo único, Lei n° 6.404/76, artigo 30 e a Instrução Normativa DREI n° 81/2020 - Anexo IV,
Manual de Registro de Sociedade Limitada, Capítulo II, Seção I, Item 5.3.

2. Conceito
Ações em tesouraria são aquelas emitidas por uma companhia e posteriormente adquiridas (recompradas), no mercado, por essa mesma companhia para futuro
cancelamento ou mesmo para mantê-las em tesouraria e posteriormente aliená-las. Essa é uma operação que a princípio não pode ser feita pelas empresas, porém no
artigo 30 da Lei n° 6.404/1976 que regulamenta as ações em tesouraria é possível em algumas situações:

a) operações de resgate, reembolso ou amortizações de ações;

b) aquisição para permanência das ações na empresa ou cancelamento, desde que até o valor do saldo de lucros ou reservas e sem diminuição do capital social ou
recebimento dessas ações por doação;

c) alienação das ações adquiridas e mantidas em tesouraria;

d) aquisição para diminuição do capital.

Essa proibição existe com o intuito de evitar manipulação por parte das companhias na compra e na venda das próprias ações, já no caso das companhias abertas,
devem ser respeitadas as normas editadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) conforme previsto no § 2° do artigo 30 da Lei n° 6.404/76.

Observa-se, que as quotas mantidas em tesouraria não darão à sociedade o direito de participar dos seus próprios lucros, votar em deliberações sociais ou participar de
aumentos de capital social. (Lei n° 6.404/76, artigo 30, § 4°)

Essas ações em tesouraria é como se fosse uma devolução de Patrimônio Líquido, motivo pelo qual é uma Redutora do Patrimônio Líquido.

Entretanto, nos artigos 1.033 e 1.055 do Código Civil, dispondo que dissolve-se a sociedade quando ocorrer falta de pluralidade de sócios e não for reconstituída no
prazo de 180 dias.

Ou seja, a empresa não poderá ficar apenas com um acionista e os restantes das ações em tesouraria, nesta ocasião deverá providenciar a alienação das ações em
tesouraria no prazo máximo de cento e oitenta dias, para manter sua constituição societária regular e evitar a sua dissolução.

Na sociedade Limitada no Código Civil em vigor, já podiam ter quotas em tesouraria, porém não prevê expressamente a possibilidade de a sociedade adquirir suas
quotas integralizadas.

Entretanto, caso um dos sócios quisesse se retirar da sociedade a pessoa jurídica poderia passar a ter tais quotas em seu nome, dando-se a essa situação o nome de
quotas em tesouraria.

Em analise prevista na Instrução Normativa DREI n° 81/2020 posicionou-se na possibilidade de se ter quotas em tesouraria já na constituição da sociedade limitada.

Desde que previsto em seu contrato social a aplicação supletiva da Lei das S.A. previsto na Instrução Normativa DREI n° 81/2020, Anexo IV:

a) poderá ser prevista de forma expressa; ou

b) presumir-se-á pela adoção de qualquer instituto próprio das sociedades anônimas, desde que compatível com a natureza da sociedade limitada, tais como:

I) quotas em tesouraria;

II) quotas preferenciais;

III) conselho de administração; e



IV) conselho fiscal.
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Boletim Imposto de Renda n° 23 - 1ª Quinzena. Publicado em: 03/12/2020

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

3. Aspectos Fiscais

3.1. Sociedade Anônima


As vendas das ações que se encontra em tesouraria (com lucro) não será computado na determinação do lucro real como dispõe no regulamento do Imposto de Renda:
(RIR/2018, artigo 520)

Art. 520. Não serão computadas, para fins de determinação do lucro real, as importâncias creditadas a reservas de capital que o contribuinte, com a forma
de companhia, receber dos subscritores de valores mobiliários de sua emissão a título de:
(...)
III - lucro na venda de ações em tesouraria.
Parágrafo único. O prejuízo na venda de ações em tesouraria não será dedutível para fins de determinação do lucro real (Decreto-Lei n° 1.598, de 1977, art.
38, § 1°).

3.2. Sociedade Limitada


Em se tratando das vendas das quotas em tesouraria com lucro, desde que esse seja registrado como reserva de capital, pode-se questionar se serão aplicadas as
sociedades limitadas - que estejam sob a regência supletiva da Lei das S/As - o mesmo tratamento fiscal previsto para o lucro na venda de ações nas sociedades por
ações indicadas no artigo 520 do RIR/2018.

Entretanto, ao se fazer uma interpretação literal conforme o artigo 111 do Código Tributário Nacional, chega-se à conclusão de que aquele tratamento é aplicável
somente ao lucro na venda de ações em tesouraria.

Portanto, a sociedade que venda as quotas em tesouraria, estando no lucro real, adicionará na parte A do LALUR o valor do lucro na venda de quotas em tesouraria
desde que esteja contabilizado á crédito de reserva de capital sem transitar na conta de resultado, pois a mesma será tributada pelo imposto de renda.

Observando o artigo 260 do RIR/2018 dispõe que:

Art. 260. Na determinação do lucro real, serão adicionados ao lucro líquido do período de apuração:
(...)
II - Os resultados, os rendimentos, as receitas e quaisquer outros valores não incluídos na apuração do lucro líquido que, de acordo com o disposto neste
Regulamento, devam ser computados na determinação do lucro real.

Contundo, no mesmo contexto na venda de quotas com prejuízo, entende-se que este não pode ser considerado dedutível, ou seja, não se estendendo o disposto no
artigo 520, parágrafo único do RIR/2018.

Tal entendimento relacionado a não aplicar de forma extensiva o tratamento dado no artigo 520 do RIR/2018 a outras sociedades pode ser verificado em Doutrina
pesquisada (página 281 do Hiromi), como segue:

A interpretação literal do dispositivo legal leva a concluir que a isenção fiscal aplica-se exclusivamente para as sociedades por ações em forma de
companhia. Os outros tipos societários não gozam da isenção fiscal.
A previsão legal da exceção de incidência prevista no art. 343 do RIR/80 (art. 442 do RIR/99), aplica-se exclusivamente às empresas constituídas sob a
forma de sociedade anônima. Vedada a extensão a outros tipos de sociedades em face do que dispõe o art. 111 do CTN (ac. nº 101-93.778/2002 no DOU
de 05-08-03). Aquele artigo dispõe que interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre outorga de isenção.

4. Aspectos Contábeis
Em análise da Lei n° 6.404/76, no artigo182, determina que as ações em tesouraria serão registradas no balanço patrimonial como dedução da conta do patrimônio
líquido que evidenciará a origem dos recursos no momento da aquisição.

As ações ou quotas adquiridas pela companhia ou sociedade limitada serão registradas em conta específica redutora do Patrimônio Líquido identificado como "ações
ou quotas em tesouraria".

Perante a Comissão de Valores Mobiliários no artigo 7° da Instrução CVM n° 567/2015, será vedada a companhia aberta adquirir ações de sua própria emissão nos
seguintes critérios:

I - tiver por objeto ações pertencentes ao acionista controlador;


II - for realizada em mercados organizados de valores mobiliários a preços superiores aos de mercado;
III - estiver em curso o período de oferta pública de aquisição de ações de sua emissão, conforme definição das normas que tratam desse assunto; ou
IV - requerer a utilização de recursos superiores aos disponíveis.

Desta forma as companhias abertas só poderão negociar as ações de sua própria emissão determinados no artigo 2° da Instrução CVM n° 567/2015:

I - adquirir ações para permanência em tesouraria ou cancelamento; e


II - alienar as ações adquiridas nos termos do inciso I e mantidas em tesouraria.

4.1. Aquisições das Ações/Quotas 


Assim, a operação será evidenciada na contabilidade da seguinte forma:
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 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

D- Ações/Quotas em Tesouraria - Conta Redutora dos lucros ou reservas, exceto a legal (Patrimônio Líquido)
C- Caixa ou Bancos (Ativo Circulante)

O valor a ser registrado corresponde ao valor efetivamente pago por seu custo de aquisição pelas ações ou quotas, independentemente do valor nominal, valor
patrimonial ou valor de cotação no mercado.

4.2. Alienação das Ações/Quotas com Lucros


Quando as ações/quotas adquiridas forem alienadas no mercado e gerar resultado positivos (lucro) o mesmo deverá ser registrado a crédito de uma conta de reserva de
capital do Patrimônio Líquido (PL) do balanço Patrimonial (BP) da companhia.

D- Caixa ou Bancos (Ativo Circulante)


C- Ações/Quotas em Tesouraria - Conta Redutora dos lucros ou reservas, exceto a legal (Patrimônio Líquido)
C- Reserva de Ágio - Alienação de Ações/Quotas (Reserva de capital - Patrimônio Líquido)

4.3. Alienação das Ações/Quotas com Prejuízo


Na hipótese das ações/quotas vendidas com prejuízos, esse valor não será registrado no resultado do exercício.

D- Caixa ou Bancos (Ativo Circulante)


D- Deságio na Alienação das Ações/Quotas (Reserva de Capital - Patrimônio Líquido)
C- Ações/Quotas em Tesouraria - Conta Redutora dos lucros ou reservas, exceto a legal (Patrimônio Líquido)

Autor: Equipe Técnica Econet Editora

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