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Neurose Obsessiva e Pulsão Anal

Neurose obsessiva e Pulsão anal

Com o intuito de entender a estrutura da neurose obsessiva é preciso tentar esclarecer a


relação do neurótico obsessivo com a pulsão anal, a qual vai ser importante para
compreender a relação do obsessivo com o Outro. Segundo Freud (1913) a escolha da
fixação da pulsão é decisiva para a escolha da neurose e o obsessivo regride, a posição
anal-sádica da libido. Essa regressão constante ocorre, particularmente, no momento de
conflito psíquico caracterizado pela ambivalência nas relações com o objeto. Por
conseguinte, a presença de idéias dicotômicas se manifestam na constante indecisão, um
estado de dúvida que acaba paralisando o sujeito e impedindo-o de fazer escolhas. Ao se
tomar uma decisão é preciso suportar a perda de algo e é justamente isso que o obsessivo
não consegue suportar. Assim, ele não sustenta uma determinada opção em detrimento de
outra, permanecendo em estado de dúvida.

Segundo Lacan (1999), o que caracteriza o sujeito obsessivo é a sua capacidade de pensar,
mas com a característica de que ele pensa para si mesmo e para anular o desejo do Outro.
Se, na fase oral, a primazia é a do sujeito de ser nutrido pelo Outro, diferentemente, na fase
anal, é o sujeito que está sujeitado a demanda do Outro. Assim, a introdução na fase anal
ocorre por ser o Outro quem demanda ao sujeito. O obsessivo não se manteria numa
relação possível com seu desejo senão à distância para que esse desejo subsista. Assim,
seu desejo vacila e se oculta na medida de sua aproximação. Contudo, se o obsessivo se
dedica a destruir o desejo do Outro, tende a desvalorizar e depreciar daquilo que é seu
próprio desejo. Freud (1909) comenta sobre a onipotência do pensamento do obsessivo e
que ele não age, ele cogita. Assim, enquanto o sujeito histérico fala, chama atenção; o
obsessivo vive cogitando, encontra-se impedido pela ruminação e envolvido por dúvidas e
incertezas. Conforme Bouvet (2005), há duas fases no estágio anal-sádico. Na primeira fase
os desejos sádicos destrutivos com intenções de incorporação são predominantes; na
segunda é o desejo de posse, de manutenção do objeto, que confere uma satisfação
narcisista ao sujeito. Assim, os diferentes desejos expressam o caráter ambivalente tão
presente na neurose obsessiva, isto é, a retenção, o amor, e a expulsão, o ódio.
Diferentemente da tendência à integração das pulsões da fase fálica, no período
anal-sádico ocorre uma dissociação das diferentes pulsões parciais com a separação de
elementos do erotismo e
separação de elementos do erotismo e da destrutividade. O autor também comenta que no
investimento libidinal anal há um duplo prazer: o de reter as excreções e o de evacuá-las.
Assim, em casos de formação acentuada no caráter anal, pode-se encontrar indivíduos que
se relacionam com os seus objetos de interesse e amor na forma de ter (prender) e de dar,
isto é, uma relação com a propriedade. Para Joel Dor (1991) há uma tendência do
obsessivo em se constituir como tudo para o outro e também de uma forma autoritária tudo
controlar e dominar para que o Outro não consiga lhe escapar. Pode-se então fazer uma
relação com uma das características do neurótico obsessivo, na qual ele está sempre
pedindo explicações e que lhe ordenem sobre aquilo que ele deve fazer. Isso parece uma
tentativa de reduzir o misterioso desejo do Outro, pois perguntando ao Outro o que ele
deseja que o sujeito faça não precisará pensar no que ele, sujeito, realmente deseja. Além
disso, ao corresponder à demanda do Outro o obsessivo impede o aparecimento do desejo
do Outro. Sendo assim, o obsessivo se sente compelido a responder ao Outro de forma
contínua. Pode-se também pensar numa constante insatisfação da posição neurótica, pois
parece que o gozo lhe é algo impossível e é dele que o neurótico se defende colocando em
risco a sua própria singularidade em prol do gozo do Outro. Por Claudia Pizzinatto
FerrariReferências Bibliográficas:
Bouvet, M. O ego na neurose obsessiva. Relação de objeto e mecanismo de defesa. In:
Berlink , M. T. (org.) Obsessiva neurose. São Paulo: Escuta, 2005.
Dor, J. (1991). O Pai e sua função em psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Freud, S. (1909)- Notas sobre um caso de neurose obsessiva – In: Edição Standard
Brasileira das Obras Completas, vol X. Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (1913)-Sobre o início do tratamento. Novas recomendações sobre a técnica da
Psicanálise I. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud, v. XII. Rio de Janeiro: Imago.
Lacan, J. (1999) Seminário V: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: J. Zahar
Lacan (1992) . Seminário VIII. A transferência. Rio de Janeiro: J. Zahar
Lacan, J. (1990). Seminário IV. A relação de objeto e as estruturas freudianas. Rio de
Janeiro: J. Zahar.

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