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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA

PÚBLICA DA COMARCA DE BELO HORIZONTE - MG

LUCIO CARLOS DE SOUSA, brasileiro, casado, advogado, portador da


Carteira de Identidade M-403.482, expedida pela SSP/MG, inscrito no CPF n°
154.570.606-91, residente e domiciliado na Rua Maria Heilbuth Surette, 236, apto. 402,
Bairro Buritis, Belo Horizonte, MG, CEP 30575-100; DELANA SOBREIRA CARLOS
DE SOUSA MORAIS, brasileira, casada, agrônoma, portadora da Carteira de Identidade
MG-6.652.243, expedida pela SSP/MG, e do CPF n° 029.811.726-62, residente e
domiciliada na Rua Manoel Vilela, 47, apt. 101, bairro Centro, Boa Esperança, MG, CEP
37170-000; JOSÉ CARLOS SOUZA FILHO, brasileiro, casado, empresário, portador da
Carteira de Identidade M-624.044, expedida pela SSP/MG, e do CPF n° 110.590.016-91,
residente e domiciliado na Rua Jupiter, 744, bairro Jardim Riacho das Pedras, Contagem,
MG, CEP 32241-350; GETÚLIO FERRAZ CARLOS DE SOUSA, brasileiro, divorciado,
empresário, portador da Carteira de Identidade M-365.455, expedida pela SSP/MG, e do
CPF n° 256.647.276-91, residente e domiciliado na Rua Saturno, 740 bairro Jardim Riacho
das Pedras, Contagem, MG, CEP 32341-340, por seus advogados e bastantes procuradores
que esta subscrevem (instrumentos de mandato inclusos), com escritório Rua Dr. José
Américo Cançado Bahia, n° 1.694, Cidade Industrial, Contagem, MG, CEP 32210-130,
onde receberá as devidas intimações, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
com fulcro no artigo 165 do Código Tributário Nacional e artigo 319 do Código de Processo
Civil, propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO FISCAL

em face do ESTADO DE MINAS GERAIS, pessoa jurídica de direito público interno,


inscrito no CNPJ n° 16.745.465/0001-01, representado pelo Advogado-Geral (Inciso III do
Art. 7º da Lei Complementar nº. 30, Alínea A do inciso I do Art. 7º da Lei Complementar
nº. 35 e inciso I do Art. 6º do Decreto 44.113) com endereço na Avenida Afonso Pena nº
4.000,
bairro Cruzeiro, cidade Belo Horizonte, Estado Minas Gerais, pelas razões de fato e de
direito a seguir aduzidas.

DOS FATOS

Na data de 21/03/2019, faleceu a Sra. LEOVEGILDA FERRAZ CARLOS -


CPF nº 057.025.426-49, em anexo, sem deixar testamento, era viúva, e deixou herdeiros.

No entanto os beneficiário, quando do recebimento do seguro de vida, em


nome da de cujus, constituído sob o regime de previdência privada, com saldo líquido total
de R$ 3.049.450,87 (três milhões quarenta e nove mil quatrocentos e cinquenta reais e
oitenta e sete centavos), recaiu, indevidamente, a título de ITCMD - Imposto sobre
Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos, na alíquota de 5%
(cinco por cento).
Como se verifica do documento “Declaração de Recolhimento de ITCD” em
anexo, emitido pela empresa Itaú Vida e Previdência S/A, cada um dos Autores teve o
montante total de R$38.118,13 (trinta e oito mil, cento e dezoito reais e treze centavos),
conforme tabela abaixo:
Produto/Plano Produto/Plano
AUTORES 2177-0054658 2177-0054659
Banco Itaú Banco Itaú
Lucio Carlos de Sousa 18.209,40 19.908,73
Delana Sobreira Carlos de Sousa 18.209,40 19.908,73
Morais
José Carlos de Souza Filho 18.209,40 19.908,73
Getulio Ferraz Carlos de Sousa 18.209,40 19.908,73

O valor tributário total a título de ITCMD, descontado no montante


supracitado, perfaz o quantum de R$ 152.472,54 (cento e cinquenta e dois mil quatrocentos
e setenta e dois reais cinquenta e quatro centavos), conforme documentos anexos. Contudo,
conforme será demonstrado, referida tributação é indevida.
Isso posto, passe-se à demonstração fundamentada das ilegalidades referente à
cobrança efetuada.

INCIDÊNCIA DO ITCMD

O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou


Direitos – ITCMD está previsto na Constituição Federal em seu artigo 155, inciso I, verbis:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:

I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; (...)


Por sua vez, o fato gerador do ITCMD está disposto no artigo 35 do Código
Tributário Nacional:

“Art. 35. O imposto, de competência dos Estados, sobre a transmissão de


bens imóveis e de direitos a eles relativos tem como fato gerador:

I - a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de


bens imóveis por natureza ou por acessão física, como definidos na lei civil;

II - a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os


direitos reais de garantia;

III - a cessão de direitos relativos às transmissões referidas nos incisos I e II.

Parágrafo único. Nas transmissões causa mortis, ocorrem tantos fatos


geradores distintos quantos sejam os herdeiros ou legatários.”

Já de acordo com a Lei Estadual no 14.941/2003, a incidência do ITCMD está


prevista em seu artigo 1o:

“Art. 1o. O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer


Bens ou Direitos - ITCD - incide:

I - na transmissão da propriedade de bem ou direito, por ocorrência do óbito;


(Inciso com redação dada pelo art. 19 da Lei Estadual no. 20.824, de
13/7/2013)

(…)

Art. 20-A. As entidades de previdência complementar, seguradoras e


instituições financeiras são responsáveis pela retenção e pelo recolhimento do
ITCD devido a este Estado, na hipótese de transmissão causa mortis ou
doação de bem ou direito sob sua administração ou custódia, inclusive aquele
relativo aos planos de previdência privada e seguro de pessoas nas
modalidades de Plano Gerador de Benefício Livre - PGBL -, Vida Gerador de
Benefício Livre - VGBL - ou semelhante, observados a forma, os prazos e as
condições previstos em regulamento.

§ 1º - A responsabilidade pelo cumprimento total ou parcial da obrigação de


que trata o caput fica atribuída ao contribuinte em caráter supletivo.

§ 2º - O responsável apresentará à Secretaria de Estado de Fazenda


declaração de bens e direitos contendo, ao menos, a discriminação dos
respectivos valores e a identificação dos participantes e dos beneficiários.
§ 3º - Sem prejuízo do disposto no § 2º, as entidades de previdência
complementar, seguradoras e instituições financeiras prestarão informações
sobre os planos de previdência privada e seguro de pessoas nas modalidades
de PGBL, VGBL ou semelhante sob sua administração.
Portanto, constata-se que o ITCMD, na hipótese de morte do titular de bens,
incidirá sobre a transferência deste patrimônio aos herdeiros, contudo, não existindo
previsão na legislação federal da ocorrência de fato gerador sobre recebimento de benefícios
decorrentes de planos de previdência privada ou de seguros de vida.

DA NATUREZA DO VGBL

É inegável que o VGBL – Vida Gerador de Benefícios Livres tem natureza


securitária e, como tal, não faz parte do patrimônio do de cujus, transmitindo-se diretamente
ao patrimônio dos beneficiários, sem necessidade de inventário e, consequentemente, de
pagamento de ITCMD.

Os depósitos não integram o patrimônio do poupador e, dessa forma, não


poderiam ser tributados como bem sob a posse ou o domínio titular do autor da herança e
seu levantamento não poderia se tornar hipótese de incidência do ITCMD.

A SUSEP – Superintendência de Seguros Privados já se posicionou:

PERGUNTAS MAIS FREQUENTES SOBRE PLANOS POR SOBREVIVÊNCIA - PGBL E VGBL

1- Qual a diferença entre o VGBL e o PGBL?

VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres) e PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres) são planos por
sobrevivência (de seguro de pessoas e de previdência complementar aberta, respectivamente) que, após um
período de acumulação de recursos (período de diferimento), proporcionam aos investidores (segurados e
participantes) uma renda mensal - que poderá ser vitalícia ou por período determinado - ou um pagamento único.
O primeiro (VGBL) é classificado como seguro de pessoa, enquanto o segundo (PGBL) é um plano de
previdência complementar.

http://www.susep.gov.br/setores-susep/seger/coate/perguntas-mais-frequentes-sobre-planos-por-sobrevivencia-pgbl-e-
vgbl

Esse é o entendimento regulatório da SUSEP, e pacificado na jurisprudência,


inclusive no STJ.

Em verdade, não restam dúvidas de que o VGBL – Vida Gerador de


Benefícios Livres possui natureza SECURITÁRIA, ensejando-se, por corolário, a aplicação
das normas que regulam os demais seguros de vida disponíveis no mercado nacional,
regulamentados pela SUSEP e disciplinados pelo Código Civil.

Nesse diapasão, prevê o artigo 794 do Código Civil que:

“No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital


estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança
para todos os efeitos de direito”.

(Grifamos)
DA NÃO INCIDÊNCIA DO ITCMD

A Constituição Federal, em seu artigo 150, inciso I, veda à União, aos Estados
e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.

"Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;"

A Lei no 11.196/05, por sua vez, em seu artigo 79, dispõe que nos planos de
previdência e seguros o recebimento dos benefícios ocorrerá independente da abertura de
inventário, nos termos do contrato firmado entre o participante ou o segurado e as entidades
abertas de previdência complementar ou as sociedades seguradoras:

“Art. 79. No caso de morte do participante ou segurado dos planos e seguros


de que trata o art. 76 desta Lei, os seus beneficiários poderão optar pelo
resgate das quotas ou pelo recebimento de benefício de caráter continuado
previsto em contrato, independentemente da abertura de inventário ou
procedimento semelhante.”

Ainda, a Lei Complementar no 109/2001, que dispõe sobre o Regime de


Previdência Complementar determina, em seu artigo 73, que: “As entidades abertas serão
reguladas também, no que couber, pela legislação aplicável às sociedades seguradoras.”

Portanto, o VGBL é modalidade de previdência privada com natureza de


seguro de vida, regulado e fiscalizado pela SUSEP e, assim sendo, está adstrito à legislação
aplicável à espécie, em especial, o Código Civil, onde há previsão expressa de que os
benefícios oriundos de seguro de vida não são considerados herança, em seu artigo 794.
Confira-se:

Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o


capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera
herança para todos os efeitos de direito.

(Grifamos)

Não sendo considerado herança, os benefícios do VGBL não poderão sofrer


incidência do ITCMD, cujo fato gerador é especificamente a transmissão de bens deixados
pelo de cujus e que são denominados herança.
Com efeito, ao cobrar o ITCMD sobre saldos de VGBL, o Estado incorre em
extrapolação de competência, uma vez que o levantamento/recebimento dos valores
constituídos como seguro de vida com cobertura por sobrevivência é uma operação
financeira, situada além das atribuições tributárias da unidade federativa.

Tal matéria é definida inequivocamente na Constituição da República de 1988


e no Código Tributário Nacional, Veja-se.

Constituição Federal:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:


(...)
V – operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários;

(Grifamos)

Código Tributário Nacional:

Art. 63. O imposto, de competência da União, sobre operações de crédito,


câmbio e seguro, e sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários
tem como fato gerador:

I – quanto às operações de crédito, a sua efetivação pela entrega total ou


parcial do montante ou do valor que constitua o objeto da obrigação, ou sua
colocação à disposição do interessado;

(...)

III – quanto às operações de seguro, a sua efetivação pela emissão da apólice


ou do documento equivalente, ou recebimento do prêmio, na forma da lei
aplicável;

(Grifamos)

Quanto aos Estados, nos termos da Carta Magna, foram a estes atribuídas
competências para cobrar impostos, dentre eles, o de transmissão causa mortis e
doações.Veja-se:

"Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos

sobre: I – transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;

"
Portanto, o Estado não tem competência para cobrar ITCMD em negócio
jurídico de mera operação financeira, sendo certo que os depósitos que constituem o capital
de VGBL não são herança e muito menos foram constituídos para a transmissão, mas para
fruição, causa mortis após o período de diferimento, pelo próprio contratante e em vida e o
seu levantamento é livre da competência tributante da unidade federativa, no caso em tela,
do Estado de Minas Gerais.

Nesse sentido, a Colenda Corte de Justiça do Estado de Minas Gerais tem


entendimento consolidado sobre a impossibilidade de incidência do ITCD sobre os valores
pagos aos beneficiários decorrentes de VGBL e demais seguros como demonstram os
julgados abaixo transcritos:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA - DIREITO


TRIBUTÁRIO - PLANO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA - VGBL - SEGURO
DE VIDA - ITCD - NÃO INCIDÊNCIA - ART. 794 DO CÓDIGO CIVIL
-
SENTENÇA CONFIRMADA. (Ap Cível/Rem Necessári
a 1.0000.18.041516-8/002 5002809- 70.2018.8.13.0433 (1); Relator(a): Des.
(a)
Audebert Delage; Data de Julgamento: 05/02/2019; Data da publicação da
súmula: 13/02/2019)

EMENTA: CIVIL. TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ITCD


SOBRE PLANO DE VGBL DEIXADO AOS BENEFICIÁRIOS PELO
FALECIMENTO DO CONTRATANTE. NÃO INCIDÊNCIA. NATUREZA
JURÍDICA DE SEGURO DE PESSOAS SEMELHANTE AO SEGURO DE
VIDA SOBRE O QUAL NÃO HÁ INCIDÊNCIA DO IMPOSTO. ART.794 DO
CC. PRECEDENTES DO STJ E DO TJMG. SENTENÇA CONFIRMADA. -
A
legislação estadual que disciplina o ITCD não é aplicável ao levantamento,
pelo beneficiário, de saldo de plano de previdência VGBL, haja vista que o
capital segurado não se equipara a herança. (Ap Cível/Rem Necessária
1.0000.18.057596-1/001 5078244- 50.2017.8.13.0024 (1); Relator(a): Des.
(a)
Alberto Vilas Boas; Data de Julgamento: 05/02/0019; Data da publicação da
súmula: 12/02/2019)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - VGBL - PLANO VIDA GERADOR DE


BENEFÍCIOS LIVRES - SEGURO DE VIDA - NÃO INCIDÊNCIA DE ITCD -
ART. 794 DO CC - NATUREZA JURÍDICA DE SEGURO -
NÃO
INCIDÊNCIA DO TRIBUTO. Os valores decorrentes do plano VBGL não
compõem o patrimônio do de cujus, não constituindo parte de sua herança,
razão pela qual, diante de sua natureza jurídica de seguro, sobre ele não
incide a cobrança do ITCD, a teor do art. 794 do Código Civil. (Ap Cível/Rem
Necessária 1.0000.17.040595-5/002 5006864- 89.2017.8.13.0145 (1);
Relator(a): Des.(a) Lailson Braga Baeta Neves (JD Convocado); Data de
Julgamento: 04/12/2018; Data da publicação da súmula: 06/12/2018)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA.


ITCD. INCIDÊNCIA SOBRE PLANOS VGBL E PGBL. MEDIDA
LIMINAR.
REQUISITOS PRESENTES. A concessão da medida liminar, em ação de
mandado de segurança, pressupõe a relevância da fundamentação, aliada à
ineficácia da medida, caso somente ao final deferida (art. 7.o, III, Lei n.o
12.016/09). Os saldos existentes nos planos VGBL (Vida Gerador de
Benefícios Livres) e PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres), não
levantados em vida, não compõem o acervo patrimonial do de cujus e, por
isso, não se sujeitam à exigência do ITCD, cuja hipótese de incidência
tributária pressupõe a transmissão de patrimônio, decorrente do evento morte
(art.155, I, CR/88). Recurso conhecido e desprovido. (Agravo de Instrumento-
Cv 1.0000.18.055057-6/001 0550584- 50.2018.8.13.0000 (1); Relator(a):
Des.
(a) Albergaria Costa; Data de Julgamento: 20/09/2018; Data da publicação
da súmula: 21/09/2018)

EMENTA: REMESSA NECESSÁRIA - APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE


SEGURANÇA - RECURSOS DO PLANO VIDA GERADOR DE
BENEFÍCIOS LIVRES (VGBL) - NATUREZA JURÍDICA DE SEGURO -
INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DO ITCD - INADEQUAÇÃO - ART.
794, DO CC - JUROS DE MORA E MULTA INDEVIDOS - EXIGIBILIDADE
APENAS APÓS A HOMOLOGAÇÃO DO VALOR DO TRIBUTO - SÚMULA
114, DO STF - SENTENÇA CONFIRMADA NA REMESSA NECESSÁRIA -
RECURSO VOLUNTÁRIO PREJUDICADO. 1. O Plano Vida Gerador de
Benefícios Livres (VGBL) tem natureza jurídica de seguro de pessoas, razão
pela qual os recursos dele decorrentes não são considerados para fins de
herança, nos termos do art. 794, do Código Civil. Logo, inadequada a sua
inclusão na base de cálculo do ITCD. Precedentes. 2. Indevida a cobrança
de juros e multa moratória desde a data da abertura da sucessão, haja vista
que o ITCD somente é exigível após a avaliação dos bens do espólio e a
homologação judicial do cálculo do valor do tributo, nos termos do art. 630 e
seguintes do CPC e da Súmula no 114 do STF. 3. Sentença confirmada na
remessa necessária. 4. Apelação prejudicada. (Ap Cível/Rem Necessária
1.0000.17.098473-6/001 5038630- 38.2017.8.13.0024 (1); Relator(a): Des.
(a)
Raimundo Messias Júnior; Data de Julgamento: 14/08/2018; Data da
publicação da súmula: 17/08/2018) Grifo Nosso

APELAÇÃO - MANDADO DE SEGURANÇA - PLANO DE PREVIDÊNCIA


PRIVADA - MODALIDADE VGBL - NATUREZA - SEGURO DE VIDA -
ITCD - NÃO INCIDÊNCIA - APELAÇÃO À QUAL SE DÁ PROVIMENTO.1 -
Dado que o art. 150, I da Constituição da República prevê que os Estados
não podem exigir tributos sem lei que o estabeleça, bem como que os planos
de previdência privada na modalidade VGBL têm natureza de seguro de vida
e não de patrimônio constitutivo de herança, não pode o montante dos
contratos celebrados pelo de cujus servirem de base de cálculo para o ITCD.
2 - Nos termos do art. 794 do Código Civil, o ITCD não pode incidir sobre os
seguros de vida, porquanto esses não constituem herança para todos os
efeitos de direito.(Processo: Apelação Cível 1.0596.17.001966-2/001
0019662- 75.2017.8.13.0596 (1); Relator(a): Des.(a) Marcelo Rodrigues;
Data de Julgamento: 20/02/2018; Data da publicação da súmula:
28/02/2018)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE


SEGURANÇA - DIREITO TRIBUTÁRIO - VGBL - SEGURO DE VIDA -
IMPOSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA DO ITCD - ART. 794 DO CÓDIGO
CIVIL - RECURSO NÃO PROVIDO. Considerando a natureza securitária do
VGBL, aplica-se a redação do art. 794 do Código Civil, que prevê que, no
seguro de vida ou de acidentes pessoais, para o caso de morte, o capital
estipulado não é considerado como herança e nem está sujeito às dívidas do
segurado. (Ap Cível/Rem Necessária 1.0000.17.052552-1/001 5183981-
76.2016.8.13.0024 (1); Relator(a): Des.(a) Carlos Roberto de Faria; Data de
Julgamento: 27/10/0017; Data da publicação da súmula: 31/10/2017) (Grifos
nossos)

Nessa mesma linha, quando do julgamento do RECURSO ESPECIAL No


1.676.801 - MG (2017/0128646-0), em 18/02/2019, decidiu o iminente Ministro
MINISTRO MOURA RIBEIRO, do e. STJ, nos termos da ementa abaixo transcrita:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO


INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
INVENTÁRIO. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 489 E 1.022 DO NCPC.
INOCORRÊNCIA. NATUREZA JURÍDICA DOS PLANOS DE VGBL'S.
CONTRATO DE SEGURO. PRECEDENTES DO STJ. IMPOSSIBILIDADE
DE INGRESSO DE SEUS VALORES NO PATRIMÔNIO DO ESPÓLIO.
RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.

Destarte, sob o ponto de vista legal e jurisprudencial, resta demonstrado que


não cabe a incidência do ITCD sobre os valores deixados pela de cujus em VGBL,
denotando-se, à toda prova, arbitrária a imposição do pagamento do referido tributo.

Considerando que ao Fisco está vedado exigir tributo não previsto em lei, sob
pena de ferir a Carta Magna, e, considerando a natureza securitária do VGBL, em razão da
qual, encontra-se regulado pelo Código Civil e disposições da SUSEP, e não se constitui em
herança, sendo, portanto, isento de tributação estadual de transmissão causa mortis – ITCD,
resta inequívoco a ilegalidade da pretensão da autoridade de aplicar regras incidentes sobre
as aplicações financeiras sobre os prêmios recebidos pelos beneficiários, decorrentes do
seguro de vida, na modalidade VGBL.

DOS PEDIDOS

Face ao exposto, tendo em vista a ilegalidade do ato praticado pelo Estado, e


os danos advindos aos AUTORES, pedem e requerem a Vossa Excelência:

A) a citação do Estado de Minas Gerais, através da Procuradoria do Estado de


MG, órgão do Estado, para que, querendo, conteste a presente ação.
B) seja julgado o pedido totalmente procedente a fim de seja determinado a
devolução dos valores recolhidos indevidamente, atualizados monetariamente inclusive com
juros, nos seguros VGBL abaixo discriminados, contratados pela de cujus LEOVEGILDA
FERRAZ CARLOS, e tendo como beneficiários os AUTORES, declarando-se a ilegalidade
do lançamento tributário.

Produto/Plano Produto/Plano
AUTORES 2177-0054658 2177-0054659
Banco Itaú Banco Itaú
Lucio Carlos de Sousa 18.209,40 19.908,73
Delana Sobreira Carlos de Sousa 18.209,40 19.908,73
Morais
José Carlos de Souza Filho 18.209,40 19.908,73
Getulio Ferraz Carlos de Sousa 18.209,40 19.908,73
C) requer a expedição de um precatório para cada Autor, com o valor que
couber a cada parte, ressaltando que três dos Autores são idosos e têm direito a tramitação
processual preferencial, nos termos do art. 1048, inciso I, do CPC/15.
D) requer seja destacado do valor devido a cada Autor o valor dos honorários
advocatícios contratuais, conforme contratos anexos, sendo no importe de 20% sobre os
valores a serem recebidos pelos Autores, Lúcio Carlos de Sousa, José Carlos de Sousa Filho
e Delana Sobreira Carlos de Sousa Morais e no importe de 15% para o Autor Getúlio Ferraz
Carlos de Sousa;
E) Condene o requerido ao pagamento das despesas processuais e honorários
advocatícios conforme os critérios estabelecidos no art. 85 e seu §3º do CPC/15, balizando-
os em 20% do valor da condenação.
F) Requer provar o alegado por todas as provas em direito admitidas.
G) As publicações deste feito devem constar os nomes das advogadas que esta
subscrevem, sob pena de nulidade.
H) Requer, por fim, prioridade de tramitação deste processo por serem os
autores José Carlos de Sousa Filho e Getúlio Ferraz Carlos de Sousa idosos e, ainda, o autor
Lúcio Carlos de Sousa ser idoso e deficiente físico, nos termos previstos no art. 1048, inciso
I, do CPC/15 e no art. 9º, VII, da Lei nº 13.146/15 do novel Estatuto da Pessoa com
Deficiência Física.

VALOR DA CAUSA - R$152.427,52 (cento e cinquenta e dois mil cento quatrocentos e


vinte e sete reais cinquenta e dois centavos).

Termos em que pedem e esperam deferimento.

Belo Horizonte, 28 de setembro de 2020.

Ana Lúcia Oliveira Carlos de Sousa Maria Angelina Rocha de Carvalho


OAB/MG 97.397 OAB/MG 57.652

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