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NOME

DA DISCIPLINA: Cognição e Linguagem


CURSO: Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Estudos linguísticos
LINHA DE PESQUISA: LP4
PROFESSORA RESPONSÁVEL (PRIMEIRO MÓDULO): Profa. Dra. Elena
Ortiz Preuss.
CARGA HORÁRIA: 64 h
DIA E HORÁRIO: módulo condensado (23/07/18 a 27/07/18)
SEMESTRE/ANO: 2°/2018.
ALUNA: Luciana de Castro Ferreira e Silva

A cognição humana é um tema que vem sendo estudado por vários


pesquisadores, educadores, psicolinguistas, neurocientistas da linguagem e
outros; e que perpassa certas áreas do conhecimento como a Psicolinguística,
a Psicolinguística Experimental, a Linguística Cognitiva, a Neurociência da
Linguagem, a Neurolinguística e a Neurociência Cognitiva. Baseado nas
definições que trazem os dicionários, cognição significa “conhecimento e
compreensão”. O primeiro módulo da disciplina “Cognição e Linguagem” teve
seus estudos norteados pela abordagem Psicolinguística e Cognitiva da
Linguagem.
A Psicolinguística está relacionada aos processos psicológicos que
envolvem a linguagem verbal (aquisição, compreensão e produção linguística),
evidenciando o comportamento do indivíduo ao executar determinadas tarefas
linguísticas. Para Leitão (2008), a Psicolinguística Experimental constitui uma
subárea envolvida com o processamento linguístico, que vem utilizando o
recurso da tecnologia em experimentos científicos. Ou seja, atualmente, já é
possível visualizar quais áreas cerebrais são ativadas no momento em que
compreendemos e produzimos linguagem verbal. Este processo de
compreensão e produção de linguagem é bastante complexo e depende de
uma grande variedade de processos mentais que caracterizam o
processamento linguístico.
De modo geral, os artigos e capítulos de livros estudados nesta
disciplina discorreram bastante sobre as funções executivas, que são
habilidades que o indivíduo tem e que lhe permite tomar decisões, buscar
estratégias, modificar seu comportamento e resolver problemas. Tais funções
auxiliam na regulação do melhor planejamento de escolhas linguísticas, com o
intuito de atingir objetivos comunicativos.
Segundo Ortega (2013), a cognição refere-se ao mecanismo de como a
informação é processada e adquirida na mente humana. E os recursos
cognitivos necessários para a aquisição de segunda língua (L2) são: memória e
atenção. A autora argumenta sobre o modelo de capacidade limitada de
processamento; uma vez que o acesso ocorre de forma limitada, a demanda
atencional se limita ao processamento de um elemento por vez. Os processos
controlados exigem maior demanda de recursos cognitivos e os automáticos
demandam menor esforço cognitivo. Primeiro ocorre a transformação gradual
do desempenho controlado em automatizado; depois se dá a conversão de um
conhecimento explícito (memória explícita / declarativa) em implícito (memória
implícita); e finalmente, o novo conhecimento é estabelecido e fortalecido na
memória de longo prazo. Assim, há interação das memórias explícitas e
implícitas. Para a autora, é possível que a aprendizagem aconteça de forma
implícita, sem aprendizagem de regras, porém, a aprendizagem declarativa
também auxilia no processo de aquisição de L2.
Com base na argumentação de diversos autores sobre as habilidades
cognitivas envolvidas no processo de aquisição de línguas, os construtos
“memória, atenção e funções executivas” vão adquirindo um elevado grau de
importância no processo de aquisição, compreensão e produção linguística.
Conforme Izquierdo (2002), as memórias são classificadas com base na
sua função, no seu tempo de duração e de acordo com o seu conteúdo. O
autor coloca a memória de trabalho (MT) como um tipo de memória com base
na função. Para ele, a MT já consta nos arquivos e é processada no córtex pré-
frontal, na porção anterior do lobo frontal. Isquierdo pontua que para muitos
autores, a MT não é considerada como um tipo de memória, mas sim como um
“sistema gerenciador on-line”, que mantém a informação viva por um tempo
necessário para que a mesma possa ser arquivada ou não em uma outra
memória propriamente dita. Ainda para este mesmo autor, as memórias podem
ser classificadas de acordo com seu conteúdo em declarativas (explícitas) e
procedurais (implícitas). As explícitas podem ser adquiridas de forma
consciente e as implícitas de maneira inconsciente.
A partir de uma abordagem da Neurociência Cognitiva e no
conhecimento linguístico, Ullman (2013) propõe um trabalho (Modelo
Declarativo Procedural) para a aquisição de L2. Para ele, as memórias
declarativas e procedurais se complementam, se interagem de maneira
dinâmica de várias formas, produzindo uma aprendizagem competitiva e
cooperativa. De acordo com este modelo, a memória declarativa abrange o
léxico mental e a memória procedural engloba os aspectos da gramática
mental. O autor leva em consideração o fator idade na aquisição de L2.
Considerando uma aquisição tardia de L2, a memória a ser primeiramente
afetada é a procedural. Sendo assim, é como se o conhecimento fizesse uma
curva, passando primeiro pela memória declarativa. Depois, através de práticas
para melhorar a fluência, o sotaque, as regras, entre outros aspectos
gramaticais da língua, o conhecimento é transportado para a memória
procedural.
Kroll et al (2012) já havia mencionado em seu artigo “Perspectivas
Psicolinguísticas na aprendizagem de segunda língua e bilinguismo.
O curso e consequência da competição entre linguagens” sobre as
interferências (cross – language) que ocorre entre as línguas e um mecanismo
de controle que resolve a ativação e a competição de alternativas entre duas
línguas. E que a ativação da língua que não está em uso pode ser controlada
por um mecanismo atencional que ignora concorrentes que não são da língua
alvo. Os autores Ye e Zhou (2009) também mostram a importância do controle
executivo no processamento da linguagem. Pois existem conflitos executivos
no processamento de linguagem dos bilíngues; estes usam as funções
executivas para selecionar a língua – alvo e resolver os conflitos de
interferência.
Baddeley et al (2011) demonstra seus estudos a respeito da memória de
trabalho (MT), especialmente no capítulo três de seu livro “Memória”. O autor
cita outros autores como Atkinson e Shiffrin (1968), que propuseram um
modelo modal de memória, no qual afirmam que a memória de curta duração
servia como memória de trabalho. Este modelo diz que as informações entram
pelo “input” do ambiente e são processadas por uma série paralela de sistemas
de memórias. Baddeley e seus colaboradores apresentaram um modelo
multicomponente para a memória de trabalho composto pela alça fonológica
(memória verbal de curta duração), pelo esboço visuoespacial (mantém
temporariamente as informações visuais e espaciais) e pelo executivo central
(controlador de todo o sistema, principalmente do foco atencional). Em uma
versão mais moderna do modelo de Baddeley, foi incluído um novo
componente (episodic buffer), que explica como se dá a interação entre a
memória de trabalho e a memória de longa duração. De acordo com esse
modelo, o executivo central se restringe ao processo de gerenciamento, em
que ocorre apenas retenção e manipulação de tarefas para atingir um objetivo.
Sabe-se que as funções executivas são mais amplas e vão muito além disso,
englobando aspectos essenciais como atenção, flexibilidade cognitiva e
planejamento. O autor não discutiu sobre a atenção no seu modelo, deixando
uma lacuna.
Para o autor Kristensen (2006), alguns testes neuropsicológicos são
utilizados para avaliar as funções executivas, apesar de tais testes não terem
sido elaborados com esta finalidade. São eles: Torre de Londres; Teste de
Stroop; Teste de Wisconsin de ordenação de cartas; Teste das Trilhas; tarefas
tipo go/no go; e outras tarefas.
Os modelos de MT foram evoluindo, tendo como foco a “atenção”.
Outros autores como Shipstead, Harrison e Engle (2015) apresentaram a
memória de trabalho como atenção. Estes autores estabeleceram as seguintes
medidas de capacidade da memória de trabalho: o span complexo (medida de
controle da atenção) e a matriz visual (medida de capacidade de
armazenamento). Visto que a MT é um sistema cognitivo, no qual ocorre a
interação entre memória e atenção, produzindo cognição complexa. O span
complexo busca resolver o problema com a manutenção do foco atencional.
Nos modelos mais recentes de MT todas as funções cognitivas são
responsáveis por desempenhar as tarefas. Segundo Miyake (2000), o
executivo central é apresentado como um “sistema de atenção central”, que
abrangeria todas as operações das funções executivas.
É importante ressaltar que o desenvolvimento das funções cognitivas
constituem a base para um melhor desempenho linguístico do indivíduo. Para
Rodrigues (2011), os mecanismos de controle executivo têm papel essencial
no desenvolvimento das funções cognitivas, sociais e linguísticas. Pois, quanto
maior for o domínio das funções executivas, maior e melhor será o
desempenho do indivíduo nas tarefas linguísticas. O mesmo autor afirma ainda
que existem processos inibitórios de resolução de conflitos em tarefas
linguísticas, nas quais informações irrelevantes são eliminadas, como seleção
lexical, alternância de códigos e interpretação de sentenças com presença de
ambiguidades. Como o córtex pré-frontal (região da função executiva) é uma
das últimas áreas do cérebro humano a se desenvolver e amadurecer, ficam
comprometidas as funções cognitivas, ocasionando interferências no
desenvolvimento linguístico.
O autor John N. Williams (2013) se baseia em teorias psicológicas e
pontua que não há evidências que confirmem formas de aprendizagem de
segunda língua sem atenção. O pesquisador elaborou a hipótese do “noticing”,
que estimula a orientação adequada para o papel da atenção na aquisição de
L2. Este estudo aponta que a atenção constitui pré-requisito básico para a
aprendizagem. Pode acontecer aprendizagem sem consciência, no entanto,
não é possível que ocorra aprendizagem sem atenção. Se bem que uma
aprendizagem consciente é uma experiência mais ampla.
Assim, corroborando com a ideia de que o desenvolvimento das funções
cognitivas é a base do desenvolvimento linguístico de uma indivíduo
considerado “normal” ou de uma pessoa com lesão cerebral e/ou com
deficiência e/ou diversas síndromes neurológicas, faz-se necessário uma
reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem de linguagem. Não basta
somente a reflexão, mas também é preciso mudança de paradigmas e postura
de nós professores e de profissionais de outras áreas que trabalham com a
linguagem.
Logo, este primeiro módulo da disciplina “Cognição e Linguagem”
contribuiu decisivamente para a mudança de comportamento de todos nós
profissionais e educadores, que de uma forma ou outra estimulamos e
ensinamos linguagem para os nossos alunos. A partir de agora, o nosso olhar
deve estar voltado para a valorização da potencialidade e das capacidades
linguísticas de cada ser integral, propiciando - lhe assim o crescimento pessoal,
linguístico e social.

REFERÊNICIAS BIBLIOGRÁFICAS
BADDELEY, A.; Memória de trabalho. In: BADDELEY, A.; ANDERSON, M. C.;
EYSENCK, M. W. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 54-82.
IZQUIERDO, I. Os tipos e as formas de memória. In: IZQUIERDO, I. Memória.
Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 19-33.
KROLL, J. F.; BOGULSKI, Cari A.; MCCLAIN Rhonda. Psycholinguistic
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consequence of cross-language competition. Linguistic Approaches to
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LEITÃO, M. M. Psicolinguística Experimental: focalizando o processamento da
linguagem. In: MARTELOTTA, M.E. (org.). Manual de Linguística. 1a Ed., 1ª
reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008. P. 217-234.
ORTEGA, L. Cognition. In: ORTEGA, L. Understanding second language
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RODRIGUES, E. dos S. O papel de mecanismos de controle executivo no
processo linguístico: diferença de desempenho entre crianças e adultos em
tarefas experimentais. Revista LinguíStica. Volume 7, número 2, dezembro de
2011. Disponível em: [http:// www.letras.ufrj.br/poslinguistica/revistalinguistica]
SHIPSTEAD, Z.; HARRISON, T.; ENGLE, R. W. Working memory capacity and
the scope and control of attention. Attention Perception Psychophysics. Nº 77.
Springer US. 2015.
ULLMAN, M. T. Uma perspectiva da Neurociência Cognitiva na aquisição de
segunda língua: o modelo Declarativo/Procedural. In: PERNA, C. B. L.;
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Alegre: EdiPUCRS, 2013.
WILLIAMS, J. Attention, Awareness, and Noticing in Language Processing and
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57.
YE, Z. ZHOU, X. Executive control in language processing. Neuroscience and
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