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Título: DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DASFUNÇÕES


EXECUTIVAS – DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

Instituição de Ensino: FMU – Centro Universitário


Curso de Pós-graduação em (Psicopedagogia)
Orientador: Profa. Ms. Thailla Fabiane Kataoka Lopes Vance

Introdução

Como se sabe, as funções executivas referem-se à capacidade do sujeito de


engajar-se em comportamentos orientados a objetivos, ou seja, a realização de ações
voluntárias, auto organizadas e orientadas para metas específicas.
Assim, o presente trabalho objetivou explorar evidências da relação entre
funções executivas e altas habilidades intelectuais, bem como as interações entre
desenvolvimento e aprendizagem.
A cada dia vemos novas hipóteses e novos conceitos que procuram explicar por
que aprendemos de determinada maneira ou mesmo de que maneira funciona o
cérebro de quem aprende mais ou de quem aprende menos, no entanto é bom
lembrarmos que cada teórico ou conjunto de teorias relacionadas ao desenvolvimento
e a aprendizagem são definidos de uma maneira diferente e a explicação sobre como
eles ocorrem também se diferencia.
Sabendo-se que essas funções são essenciais para a produtividade do
indivíduo no mundo do trabalho, já que o ajudam a se controlar, interagir e reagir a
estímulos, tomar decisões, mudar percursos quando o caminho escolhido não é mais
a melhor opção, este trabalho se propôs compreender as funções executivas como
sendo um parâmetro para o melhor entendimento dos conceitos relacionado ao
desenvolvimento e aprendizagem.
Sendo esse tema de extenso conteúdo, já que de uma forma ou de outra nos
deparamos constantemente com as mais diversas teorias desde que nos ingressamos
na escola. Portanto, sejam como aluno ou como professor, as discussões sobre o
desenvolvimento e aprendizagem estão sempre presentes em nossa vida, e diante a
esse conceito que o trabalho apresentado se justifica.
Contudo este trabalho foi elaborado buscando facilitar o entendimento e
compreensão de como funciona as funções executivas e quais as suas relações entre
desenvolvimento e aprendizagem na vida do indivíduo, além de fazer um “confronto”
das relações formais e informais nos conceitos de Piaget (1983) e Vygotsky (1996)
sobre os mesmos.
A metodologia aqui apresentada é baseada teoricamente, por meio de livros,
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artigos e sites, aplicados de forma qualitativa, e as referência aqui utilizadas tem o


intuito de servir como suporte para os futuros estudos referentes ao tema.
Desenvolvimento

As funções executivas são conhecidas como aquelas que mais nos diferenciam
dos seres irracionais como os animais, pois compreendem o processo cognitivo
orientado a uma determinada meta.
Para tanto, nós serem humanos, temos a habilidade de processar atividades
com atenção sustentada, memória operacional, inibição dos impulsos, fluência
verbal e especialmente pensamento abstrato. A principal região cerebral
relacionada ao funcionamento executivo é o córtex pré-frontal (Cherkes-
Julkowski, 2005, p.x)

Essas funções são as habilidades cognitivas necessárias para controlar nossos


pensamentos, nossas emoções e nossas ações. E apresentam três categorias: o
autocontrole; a memória de trabalho; e a flexibilidade cognitiva. (MORTON, 2013)
De forma integrada, tais habilidades permitem ao indivíduo direcionar
comportamentos a metas, avaliar a eficiência e a adequação desses comportamentos,
abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, desse modo,
resolver problemas imediatos, de médio e de longo prazo (Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes
& Leite, 2008).
O desenvolvimento das funções executivas é discutido sob o ponto de vista
biológico, neuropsicológico e cognitivo, destacando-se a importância da linguagem
nesses processos, enquanto função reguladora da ação intencional. Essa discussão
propõe que aspectos do desenvolvimento sejam incluídos nos modelos futuros sobre
funções executivas.
No entanto, as funções executivas do cérebro vêm sendo definida como um
conjunto de habilidades, que de forma integrada, possibilitam ao indivíduo direcionar
comportamentos a objetivos, realizando ações voluntárias. (JUNIOR; MELO; 2011, p.
309).
Segundo Gazzaniga (et al, 2002; LEZAK, 1995) as funções executivas
envolvem diferentes componentes, tais como seleção de informações, integração de
informações atuais com informações previamente memorizadas, planejamento,
monitoramento e flexibilidade.
Resumidamente, as funções executivas tem conceito neuropsicológico que se
aplica ao processo cognitivo responsável pelo planejamento e execução de atividades.
São desenvolvidos principalmente nos primeiros anos de vida, e quando há falhas
dessas funções frequentemente apareceram problemas envolvendo planejamento,
organização, manejo de tempo, memória e controle das emoções. (TEIXEIRA, 2011)
Enfim, as funções executivas serão muito importantes no momento em que a
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criança, adolescentes e até adultos precisam planeja e executar as mais diversas


atividades, principalmente nas tomadas de decisões.

2. FUNÇÕES EXEUTIVAS E SUAS CORRELAÇÕES COM AS TEORIAS DE PIAGET


E VYGOTSKY

Na tentativa de obter um panorama mais claro relacionado as Funções


Executivas, inúmeros pesquisadores têm abordado o funcionamento executivo por
diferentes campos e perspectivas, incluindo a psicologia cognitiva, a
neuropsicologia, a neurociência, a psicometria, o desenvolvimento humano e a
educação.
Em consonância com essa ideia, vários modelos e teorias têm sido propostos
para explicar este constructo, e, consequentemente, revisões foram feitas com o
objetivo de mapear todo o conhecimento produzido acerca desta temática.
Para Fuster (2008) o modelo de funções executivas envolve toda uma descrição
de estrutura e funcionamento cerebral, em uma perspectiva filo e ontogenética, e é
nesta descrição que podemos encontrar uma correspondência notável com o modelo
piagetiano de cognição e desenvolvimento cognitivo.
No entanto, para Piaget (1983), o conhecimento decorre da interação entre o
sujeito e o objeto. Tal interação expressa uma tendência de significado biológico –
trata-se da adaptação do organismo ao seu ambiente. A adaptação cognitiva, como a
sua equivalente biológica, consiste em um equilíbrio entre assimilação e acomodação.
A inteligência nada mais é do que um caso particular da adaptação do organismo ao
meio, onde o organismo assimila o meio à sua estrutura ao mesmo tempo em que a
acomoda ao meio.
A interação entre sujeito/organismo e objeto/meio, encontra seu correspondente
e nesse contexto as funções executivas tomam sentido. Fuster (2008) ressalta que as
funções executivas servem a uma ampla variedade de atividades cognitivas e
motoras, do movimento ocular à fala e ao raciocínio, servindo ao propósito geral de
ordenar sequencialmente ações em direção a um objetivo, qualquer que seja ele.
No sistema piagetiano, o conceito de interação e construção são
interdependentes e complementares, pois a atividade assimiladora e
acomodadora, que se desenrola na ação do sujeito, resulta, pelo próprio
funcionamento, na formação de esquemas – estruturas novas – que se
sucedem em complexidade, e que garantem uma adaptação cada vez mais
perfeita ao real. (CORSO, 2009, p. 49).

Para Piaget (1974), a construção das estruturas cognitivas caracteriza um


processo de abstração refletidora, pois procede por abstrações sucessivas, processo
que pode ser analisado tanto do ponto de vista formal quanto psicológico. Sob o ponto
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de vista formal ou lógico, o desenvolvimento de uma estrutura a partir da abstração de


elementos retirados da estrutura anterior, que serão recombinados num novo plano.
A nova estrutura se faz a partir da anterior, ao mesmo tempo que a engloba. Do
ponto de vista psicológico, este processo de abstração é característico do pensamento
lógico matemático e se faz sobre as ações ou as operações prévias do próprio sujeito
com seus resultados. Trata-se de um processo de reconstrução, num plano superior,
do que foi transferido ou retirado de um plano inferior, permitindo a integração da
estrutura precedente numa mais rica e de nível superior.
A construção cognitiva na descrição piagetiana é o estágio das operações
formais, que provê o indivíduo com a habilidade de raciocinar sobre conceitos
abstratos, ou sobre hipóteses, graças, justamente, à inversão de sentido entre o real e
o possível, garantido pela passagem da estrutura das operações concretas à estrutura
das operações formais, tão presentes nas funções executivas.
Um outo fator que parece contribuir para o desenvolvimento das funções
executivas nos anos pré-escolares é a aquisição da linguagem. Vygotsky, em seu livro
Pensamento e Linguagem (1987), já discutia sobre a importância da linguagem no
desenvolvimento cognitivo do ser humano. Para o autor, a função autorregulatória da
linguagem surge entre os 3 e 5 anos de idade juntamente com o uso da fala
internalizada. De acordo com Vygotsky (1987), a internalização da fala representa
como o desempenho cognitivo começa a ser verbalmente mediado na infância,
permitindo que a linguagem se torne uma ferramenta para planejar, controlar e avaliar
as ações.
Vygotsky (1998) buscou compreender o processo por meio do qual a criança
desenvolve as funções cognitivas, de funções elementares para funções complexas.
Durante os primeiros estágios do desenvolvimento, as ações infantis apoiam-se no
uso de sinais evocativos exteriores, denominados signos externos. Posteriormente, no
curso do desenvolvimento, a criança passa por um processo de internalização, em que
os signos externos são gradualmente substituídos por signos internos, gerando a base
para a capacidade representacional.
Ainda segundo Vygotsky (1998), o desenvolvimento do sistema simbólico ou da
linguagem representa a construção sobre a qual todas as demais funções cognitivas
estão alicerçadas, tais como planejamento, raciocínio, memória, capacidade de avaliar
opções e realizar escolhas, entre outras, e diante a essa perspectiva, pode-se concluir
que prejuízos na capacidade simbólica necessária à linguagem gerariam dificuldades
na coordenação da ação intencional.
Entretanto, é plausível pensar que o conjunto de processos cognitivos
envolvidos nas funções cognitivas seja dependente da intencionalidade tanto quanto a
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linguagem. Ou seja, para atingir um objetivo por meio de uma ação qualquer, é preciso
que se saiba o que se quer. De uma forma análoga, a comunicação por meio da
linguagem só parece possível quando se conhece que há uma intencionalidade
própria e, de forma mais aprimorada, a linguagem torna-se mais eficaz quando se
conhecem as intenções do outro.

Considerações finais

Diante do que foi apresentado dentro deste trabalho vê-se que os conceitos
relacionados às funções executivas são muitos esclarecedores no que se trata do
desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem, já que assim como Piaget e Vygotsky
nos mostra tais processos de desenvolvimento são construídos constantemente no
indivíduo.
Assim sendo, o presente trabalho se conclui de forma bastante satisfatória, visto
que as correlações relacionadas entre funções executivas e as teorias de Piaget e
Vygotsky relacionadas ao desenvolvimento e a aprendizagem são essenciais para a
produtividade do indivíduo já que os ajudam a se controlar, interagir e reagir a
estímulos, tomar decisões, mudar percursos entre outros aspectos que constroem e
aperfeiçoa cada vez mais o seu desenvolvimento.

Referências
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CORSO, Helena Vellinho. Funções cognitivas – convergências entre


neurociências e epistemologia genética. Porto Alegre, Revista Educação e
Realidade, 34(3): 225-246. 2009.

FUSTER, Joaquín M. The prefrontal cortex (4th ed.). London: Academic Press, 2008.

JUNIOR, Carlos Alberto Mourão; MELO, Luciene Bandeira Rodrigues. Integração de


Três Conceitos: Função Executiva, Memória de Trabalho e Aprendizado.
Psicologia: Teoria e Pesquisa Jul-Set 2011, Vol. 27 n. 3, pp. 309-314.

MORTON, J. Bruce. Funções Executivas. EDPI – Enciclopédia para o


Desenvolvimento na Primeira Infância. Canadá. 2013.

PIAGET, Jean. Aprendizagem e Conhecimento. In.: Aprendizagem e


conhecimento. Tradução Equipe da Livraria Freitas Bastos. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1974.

PIAGET, Jean. A epistemologia Genética. In: Os pensadores. Tradução de


Nathanael C. Caixeiro. São Paulo: Abril Cultural, 2ª edição, 1983.

TEIXEIRA, Gustavo. Funções executivas. Blog Comportamento Infantil. 2011.


Disponível: em: http://www.comportamentoinfantil.com/artigos_funcoesexecutivas.html.
Acesso: set/2020.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes,


1998.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

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