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A Artigo Original

Silva VB et al.

Tempo de jejum em perioperatório de cirurgias


gastrintestinais
Fasting time in perioperative period of gastrointestinal surgeries

RESUMO
Vanessa Bezerra da Silva1
Silvia Yoko Hayashi2 Introdução: Os procedimentos cirúrgicos associados ao jejum perioperatório desencadeiam
Daniel Martins Pereira3 diversas alterações metabólicas desfavoráveis à recuperação do indivíduo, de modo que esse tempo
de jejum tem sido muito discutido. Objetivo: Avaliar a prática local, por meio do levantamento do
tempo de jejum ininterrupto que os pacientes em perioperatório de gastrectomia e enterectomia
são submetidos no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS). Método: Foram analisados
51 prontuários médicos de pacientes que realizaram uma destas cirurgias no ano de 2013 até
junho de 2014, sendo quantificado o tempo de jejum prescrito no pré e pós-operatório (PO) e
somado à duração da cirurgia. Resultados: Entre os pacientes enterectomizados, a média de
jejum pré-operatório foi de 9,9 horas, PO 43,1 horas e total 56,7 horas, já os gastrectomizados
apresentaram valores maiores, sendo 15,4 horas, 61,2 horas e 80,6 horas, respectivamente. Os
motivos de prolongamento do jejum no pré e pós-cirúrgico não foram relatados. Conclusões:
Assim como a maioria dos hospitais brasileiros, essa instituição ainda mantém tempo de jejum
elevado em relação aos protocolos atuais, o que pode implicar no aumento de complicações
metabólicas, com recuperação tardia, repercutindo no aumento da estadia e custos hospitalares.

ABSTRACT
Unitermos:
Jejum. Gastrectomia. Nutrição. Introduction: Surgical procedures associated to the perioperative fasting trigger several unfa-
vorable metabolic changes, affecting the individual’s recovery; consequently, this time of fasting
Keywords: has been much discussed. Objective: To evaluate the local practice, through observing and
Fasting. Gastrectomy. Nutrition. surveying patients´ uninterrupted time of fasting in perioperative gastrectomy and enterectomy at
the Regional Hospital of Mato Grosso do Sul (HRMS). Methods: The evaluation was done through
Endereço para correspondência: the analysis of 51 medical records of patients having undergone one of the aforementioned
Vanessa Bezerra da Silva surgeries beginning 2013 until June 2014, and the quantification of the time of prescribed fasting
Rua Manoel Olegário da Silva, 256 – Jardim Itatiaia – before and after surgery and summed the duration of surgery. Results: Among enterectomyzed
Campo Grande, MS, Brasil – CEP: 79042-020 patients the average of preoperative fasting was 9.9 hours, postoperative (PO) was 43.1 hours
E-mail: vanessa_nutribs@hotmail.com
and the average overall time was 56.7 hours. The gastrectomyzed patients’ times of fasting were
Submissão: higher, with 15.4 hours, 61.2 hours and 80.6 hours, respectively. The factors for the extension
22 de março de 2015 of post-surgical fasting were not reported. Conclusions: According to most Brazilian hospitals,
the period of fasting remains high compared to current protocols, which can result in increased
Aceito para publicação: metabolic complications with delayed recovery, leading to an increase of the length of stay, as
11 de maio de 2015 well as the hospital costs.

1. Nutricionista - Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde, Área de concentração: Intensivismo – Hospital Regional de Mato
Grosso do Sul (HRMS), Universidade Anhanguera Uniderp, Campo Grande, MS, Brasil.
2. Nutricionista Doutora em Ciências da Saúde pela FMUSP. Hospital Regional de Mato Grosso do Sul - HRMS, Campo Grande, MS, Brasil.
3. Doutorando e Mestre em saúde e desenvolvimento na região centro-oeste pela UFMS. Universidade Anhanguera Uniderp, Campo Grande,
MS, Brasil.

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Tempo de jejum em perioperatório de cirurgias gastrintestinais

INTRODUÇÃO brasileiros, na grande maioria esse período varia de 16 a


Durante o jejum, as alterações metabólicas ocorrem no mais de 24 horas, podendo contribuir para o aumento da
sentido de poupar energia, porém quando este é prolongado resistência insulínica e piora do estresse perioperatório5.
Frente a essa problemática, observa-se que a maior parte
e associado à resposta ao trauma o gasto energético se eleva
dos hospitais não possui protocolos para realimentar o
para promover suporte no reparo das lesões, e as proteínas
paciente, sendo a dieta liberada sem nenhuma rotina pré-
tornam-se substrato energético obrigatório para os tecidos
estabelecida. E nota-se que essa prática é frequente, mesmo
essencialmente glicolíticos, levando ao aumento da proteólise
em países desenvolvidos, como em 78,5% das unidades
e gliconeogênese (induzidas pela alta concentração plasmá-
obstétricas no Reino Unido3.
tica de cortisol, glucagon e catecolaminas), causando uma
rápida desnutrição pós-traumática, mais grave que a desnu- Desse modo, este projeto justifica-se com a importância
trição simples por inanição, além de lentificar o processo de de avaliar a prática local, no sentido de contribuir para inova-
cicatrização tanto pela imunossupressão, devido ao cortisol ções das técnicas aplicadas, as quais futuramente podem
aumentado, quanto pela catabolização1,2. auxiliar na melhor recuperação dos pacientes e redução
dos custos hospitalares. E tem por objetivo levantar o tempo
A elevada secreção desses hormônios no período pós-
de jejum ininterrupto que os pacientes em perioperatório
operatório (PO) ocorre na chamada fase aguda ou de
de gastrectomia e enterectomia são submetidos, ainda
choque, que dura de 24 a 48 horas, e também é caracte-
quantificá-lo em pré-operatório e PO; identificar os principais
rizada pela inibição da secreção de insulina na proporção
motivos que levam ao seu prolongamento e também verificar
que eleva o glucagon, gerando então a hiperglicemia1. Isto
a existência de protocolo de alimentação perioperatória.
determina um aumento de sua resistência periférica e mantém
o estado hiperglicêmico, mesmo a insulina voltando a suas
concentrações normais, ocasionando maior consumo de MÉTODO
oxigênio, retenção de água e sódio e a hipercoagulabilidade, Foram analisados, retrospectivamente, os prontuários dos
consequentemente o risco para tromboembolismo e infarto pacientes adultos submetidos à gastrectomia e/ou enterec-
agudo do miocárdio, além de piorar a cicatrização1. tomia, em caráter eletivo ou de urgência, no ano 2013 até
Nesse sentido, o tempo de jejum perioperatório vem junho de 2014, no Hospital Regional de Mato Grosso do
sendo muito discutido, pois as técnicas de manejo estabe- Sul (HRMS).
lecidas no passado geraram fortes paradigmas ao ponto de A amostra pesquisada foi obtida por meio da base de
ainda limitarem os profissionais a utilizarem métodos mais dados do relatório de procedimentos cirúrgicos, disponível no
atualizados que possam abreviar esse tempo e evitar tais centro cirúrgico, contemplando apenas os pacientes adultos
complicações3. gastrectomizados e/ou enterectomizados. Os critérios de
O protocolo de jejum pré-operatório, já empregado exclusão do estudo foram pacientes com idade inferior a 20
em cirurgias de emergência, foi estendido para operações anos, também aqueles que apresentaram dados incompletos
gastrintestinais eletivas após a descoberta da síndrome de no prontuário, casos de instabilidade hemodinâmica e outras
Mendelson, em 1946, causada pela depressão dos reflexos condições que impossibilitaram a reintrodução precoce de
laríngeos na indução anestésica, com consequente aspi- dieta via oral ou enteral no PO.
ração de conteúdo gástrico líquido de pH ácido, gerando O estudo foi conduzido no HRMS após a aprovação
taquicardia, taquipneia e cianose. Desde então, a margem do Comitê de Ética e Pesquisa da Plataforma Brasil, sob o
de segurança de jejum prolongado, entre 8 e 12 horas, foi parecer nº 720.038, no período de 17 de julho a 17 de
implantada de forma empírica, visando a um limite máximo novembro de 2014. Tratou-se de uma análise documental
de 25 mL de conteúdo gástrico4. da prescrição da dieta, realizada pelo médico, registrada
Associado ao jejum pré-operatório há o estigma de nos prontuários dos pacientes no período pré-operatório
que a nutrição precoce no PO piora o íleo adnâmico, por e PO, visando à mensuração do tempo de jejum contínuo
provocar vômitos, náuseas e distensão abdominal. Todavia, antecedente ao procedimento cirúrgico até o primeiro dia
a incidência desses sintomas está muito mais relacionada de realimentação (via oral ou enteral) no PO, totalizando o
às técnicas rudimentares de anestesia utilizadas há cerca de número de horas com prescrição ininterrupta de dieta zero
100 anos, do que à abreviação da oferta da dieta no PO, somadas ao tempo de duração da cirurgia. Foram conside-
contudo, a crença da necessidade de aguardar a resolução rados dados relativos a sexo, idade e motivo do prolonga-
da dismotilidade intestinal transitória (íleo-pós-operatório) mento do jejum pré-operatório e PO.
ainda é imperiosa3. Para as variáveis contínuas referentes a idade, jejum pré-
Embora preconizado jejum pré-operatório de 8 horas operatório e PO, duração da cirurgia, e tempo total de jejum
para procedimentos cirúrgicos em alguns hospitais foi testada a hipótese de diferença entre os participantes do
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grupo Enterectomia e do grupo Gastrectomia. O teste para porém as evidências afirmam o contrário, pois de acordo
análise da hipótese de diferença entre os grupos foi o teste com Aguilar-Nascimento et al.7, a reintrodução da dieta de
t de Student e o nível de significância foi estabelecido em 4 a 12 horas de PO estimula a atividade propulsiva coorde-
5% (p≤0,05). nada, induz à secreção de hormônios gastrintestinais e sua
motilidade, consequentemente diminui a estase, além de
melhorar a cicatrização, fluxo esplâncnico e ainda reduzir
RESULTADOS
morbimortalidade.
Dos 88 prontuários analisados, foram excluídos 11 Tratando-se do período pré-operatório, este foi de 9,9
por ausência de dados, 11 instabilidade hemodinâmica, 2 e 15,4 horas para enterectomizados e gastrectomizados,
choque séptico, 1 isquemia mesentérica, 1 fístula intestinal respectivamente, aproximando-se do estudo realizado no
com alto débito (> 500 mL), 1 vômitos incoercíveis e 10 Brasil com 14 hospitais públicos e dois privados, onde
por óbito antes da realimentação no PO, totalizando 51 79,7% dos pacientes foram operados após mais de 8 horas
indivíduos avaliados. em jejum e 46,2% mais de 12 horas, o qual apresentou
Dos 51 participantes, 33 eram do gênero masculino e 18 mediana de 12 horas e ressaltou que mesmo as instituições
feminino. A faixa etária variou de 21 a 89 anos e apresentou com protocolos tradicionais de dieta zero entre 6 a 8 horas,
média de 50,3 ± 18,4 anos para os enterectomizados e 65 suas medianas foram de 13 horas, com extensão de 6 a
± 14,7 anos para os gastrectomizados, sendo considerados 216 horas8.
estatisticamente significativos (p = 0,0042). Os resultados ainda se assemelham a uma pesquisa que
Quanto aos resultados da duração do jejum pré-opera- também buscou quantificar o tempo de jejum e de realimen-
tório, PO e total, estão demonstrados na Tabela 1 de acordo tação em pacientes cirúrgicos em um hospital filantrópico na
com o tipo de cirurgia aplicada. qual foi observada uma média de jejum pré-operatório de
Não houve relatos sobre os motivos do prolongamento 13,5 horas, porém o tempo total de horas sem alimentação
do jejum no pré-operatório e PO, nem mesmo cancelamento nas cirurgias do aparelho digestivo distinguiu-se de forma
da cirurgia. expressiva com 23,9 horas, sendo o máximo 46 contra 56,7
No tocante à dieta de partida no PO, mais da metade e 80,6 horas na sequência para enterectomizados e gastrec-
(56,9%) utilizou a consistência líquida restrita, seguida tomizados, deste estudo9.
de 23,5% líquida, 1,9% branda, e tratando-se da terapia Walczewski et al.10 igualmente constataram uma média
nutricional enteral, 11,8% reiniciaram com fórmula semi- de jejum pré-operatório de 14 horas e até mais, aplicado em
elementar hipercalórica e hiperproteica e 5,9%, com poli- pacientes submetidos a cirurgias abdominais eletivas, sendo
mérica normocalórica e normoproteica. a reintrodução da dieta realizada entre um a dois dias de PO,
Foi constatada a ausência de protocolo fixo para a dados que não se distanciam dos valores obtidos na atual
alimentação pré e pós-operatória, sendo utilizado como população analisada, cuja permanência em jejum equivale
rotina, segundo a equipe médica, o jejum pré-operatório a, no máximo, dois dias e meio.
de 12 horas e o pós variando de acordo com o tipo de Achados de Assis et al.11 diferem com um período mais
cirurgia, nível de complexidade, exame físico e presença de prolongado, que corresponde a cinco ou mais dias em jejum
ruídos hidroaéreos. após cirurgias do trato digestório e colorretal, os quais foram
correlacionados com maior frequência de admissão no centro
de terapia intensiva e complicação no PO, inclusive aqueles
DISCUSSÃO
que passaram mais de um dia em jejum, apresentaram 4,1
De acordo com o Projeto Diretrizes de terapia nutricional vezes mais chance de desenvolver infecção. Desse modo, o
no perioperatório6, o jejum prolongado é prejudicial ao tempo jejum total detectado no atual estudo pode implicar
paciente, principalmente ao idoso. No presente estudo, os no risco de complicações e maiores chance de desenvolver
pacientes gastrectomizados apresentaram uma média de 65 infecção.
anos de idade, estes foram mantidos em maior tempo de Verificando o tempo médio de jejum de cirurgias digestivas
jejum ininterrupto, de 80,6 horas, comparados aos enterecto- de pequeno e médio porte, Bresan et al.12 constataram um
mizados, com 56,7 horas. Já em relação ao jejum PO, ambos jejum pré-operatório de 20,6 horas, bastante elevado em
os grupos apresentaram reintrodução tardia da dieta, com relação ao presente estudo, todavia o PO de 18,2 e o tempo
61,2 horas e 43,1 horas, respectivamente, distanciando-se total de 38,8 horas foram relativamente menores que os
da recomendação 12 – 24 horas no PO. analisados nessa amostra, de modo que, nem mesmo a sua
Essa prática também pode estar relacionada ao receio de soma de horas em jejum chegou ao valor médio encontrado
que a nutrição precoce possa causar fístulas anastomóticas, no PO da atual pesquisa (Tabela 1).
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Tabela 1 – Tempo de jejum pré e pós-operatório, duração da cirurgia e 3 - Cirurgias de via biliar, herniorrafias e afins, dieta oral
tempo total de jejum entre os grupos enterectomia e gastrectomia realizada líquida oferecida no mesmo dia da operação (6 a 12 horas
no HRMS, entre janeiro de 2013 e junho de 2014 (n=51). após). E em operações com anastomose digestiva, reintro-
Tempos (horas) Enterectomia Gastrectomia Valor p dução de dieta no 1º PO (dieta líquida) ou no mesmo dia
(n=31) (n=20) da operação. Já em anastomose esofágica, dieta via jeju-
Jejum pré-operatório 9,9 ± 8,5 15,4 ± 9,9 0,0408* nostomia ou sonda nasoentérica no 1º PO. Também foram
Duração da cirurgia 3,6 ± 1,4 3,9 ± 1,1 0,4221 ns realizadas outras recomendações relacionada à hidratação
Jejum pós-operatório 43,1 ± 31,8 61,2 ± 27,8 0,0426* venosa, drenos, mobilização, etc19.
Total de horas em jejum 56,7 ± 34,7 80,6 ± 26,1 0,0112* Constatou-se que o uso dessa solução enriquecida
(*) Valores estatisticamente significativos. (ns) Valores estatisticamente não significativos.
com carboidrato propiciou redução de 70% do jejum pré-
operatório de 16 para 5 horas, maior satisfação, redução nos
episódios de êmese, elevação do pH gástrico e diminuição da
Os achados deste estudo demonstram um tempo médio
resposta orgânica ao estresse cirúrgico, além disto, não foi
de jejum pré-operatório longo, visto que a ASA, a CAS e a
observado nenhum caso de regurgitação ou qualquer outra
SAERJ recomendam um jejum de duas horas para líquidos
complicação durante a indução anestésica19,20.
claros, seis horas para chás claros com torradas (refeição
leve) e oito horas para alimentos gordurosos e carnes, pois Ademais, a realimentação precoce no PO de ressecções e
levam um tempo maior para serem digeridos13-17. anastomoses não oferece riscos e pelo contrário, essa abre-
viação da reintrodução da dieta via oral no PO de 3 para 1
Esses protocolos levaram a um questionamento nos
dia, levou a diminuição do tempo de internação, de 5 para
Estados Unidos sobre as condutas de anestesistas no pré-
3 dias; percentuais de infecções em sítio cirúrgico de 18,2%
operatório, com resultado surpreendente: 62% orientavam
para 4,8%; complicações PO minimizadas de 18,2% para
seus pacientes a ingerir líquidos claros duas ou três horas
7,1% e dentre as complicações de deiscências anastomóticas
antes de cirurgias eletivas, 35% a fazer uma refeição leve
(fístulas PO) redução de 2 para 119.
seis horas antes e apenas 3% relataram cancelar o procedi-
mento em caso do paciente ter ingerido esse tipo de alimento
seis horas antes, demonstrando boa adesão por parte dos CONCLUSÕES
médicos, mas que ainda há poucos pautados em métodos Embora essa instituição hospitalar seja de alta complexi-
ultrapassados, os quais no atual estudo são maioria, pois dade, também deveria seguir os protocolos de acordo com
relatam preconizar jejum de, no mínimo, 12 horas18. as últimas evidências, porém, assim como a maioria dos
Desse modo, novas perspectivas para os métodos de hospitais brasileiros, ainda mantém técnicas bastante ultra-
manejo perioperatório, visando à redução de complicações passadas no que concerne à terapia nutricional em cirurgias
cirúrgicas e aceleração da recuperação dos pacientes, são gastrintestinais, resultando em um tempo de jejum contínuo
apontadas pelo Projeto ACERTO Pós-operatório (Aceleração elevado em relação ao preconizado, que pode repercutir no
da Recuperação Total Pós-operatória) desenvolvido no aumento de complicações metabólicas com recuperação
departamento de Clínica Cirúrgica da Universidade Federal tardia, ocasionando maior estadia e custo hospitalar.
de Mato Grosso (UFMT) norteado pelo ERAS (Enhanced Reco- Portanto, é necessário implantar métodos mais atuali-
very After Surgery), um projeto multicêntrico Europeu, sendo zados, podendo iniciar com oferta de líquidos claros (2 horas)
ambos fundamentados na prática da medicina baseada ou refeições leves (6 horas) antes da cirurgia e reintrodução
em evidências, e defensores da abreviação do jejum pré- da dieta com 12 horas de PO, sendo via oral líquida e
operatório e PO, como redutor da permanência hospitalar enteral com composição de acordo com a localização da
e morbidade operatória19. sonda, observando sempre as exceções, além de realizar o
O Projeto ACERTO Pós-operatório foi implantado com treinamento de todos os profissionais envolvidos.
o objetivo de acelerar a recuperação PO de pacientes
submetidos a cirurgias abdominais, o qual primeiramente
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Local de realização do trabalho: Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde, da Universidade Anhanguera,
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