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LUGAR E MEMÓRIA:
RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES
VILA VELHA
2021
GIULLIANNA DA SILVA SANGALI DE MELLO
LUGAR E MEMÓRIA:
RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES
VILA VELHA
2021
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me conceder força, proteção e ter me dado a oportunidade de
chegar até a conclusão desse grande sonho, sem Ele nada seria possível.
Minha eterna gratidão aos meus pais, Dalmir e Edi, por acreditarem em mim e me
apoiarem a cada momento. Em especial a minha mãe que foi a maior fonte de inspiração
para esse trabalho e que confiou a mim esse tema tão especial. Vocês são os alicerces
da minha vida juntamente à minha irmã Eduarda, que vibrou a cada conquista e segurou
minha mão a cada passo. E ao meu sobrinho Antônio, por sempre me fazer sorrir após
um dia exaustivo.
Aos velhos amigos, pelo apoio e torcida, e aos amigos conquistados durante o curso, por
viverem isso intensamente comigo.
A todos os ex-alunos do Colégio Maria Mattos que colaboraram para o sucesso desse
estudo. Em especial, a ex-aluna Nazareth.
Agradeço a cada um dos professores que se dedicaram todos os dias nas aulas e me
ensinaram sobre o amor pela arquitetura. Em especial a minha querida orientadora,
Larissa por me acompanhar durante todo o curso e por não medir esforços para me
ajudar.
Saibam que o amor de vocês me fez prosseguir em direção à realização desse grande
sonho. Sem vocês, eu não conseguiria.
Muito obrigada!
RESUMO
O presente trabalho consiste em um projeto de requalificação no edifício do Colégio Maria
Mattos na cidade de Anchieta/ES com mudança de uso para o Centro Cultural Lugar e
Memória com o conceito de resgatar as memórias do colégio e transformar o espaço em
um ponto de encontro para o município.
O Colégio Maria Mattos foi fundado em 1932 e deixou uma forte memória afetiva para
todos que passaram por lá. Em 1998 o colégio fechou suas portas por falta de recursos
e 2 anos depois o Estado alugou o prédio para dar início ao funcionamento da escola Irmã
Terezinha Godoy de Almeida. Em 2005 a escola foi municipalizada, atendendo a alunos
de ensino fundamental. Por ser muito antigo, o prédio necessitava de manutenção para
a segurança de seus alunos e até foi proposto pela prefeitura às irmãs carmelitas
(proprietárias do local) uma reforma geral, mas não obtiveram sucesso nesse plano.
Portanto, não foi possível prosseguir com as atividades da referida escola no prédio,
precisando ser transferida para um outro local em 2019. Hoje, o edifício se encontra
abandonado, sem uso e em mau estado de conservação. A população da cidade e os
ex-alunos lamentam o descaso com essa edificação que possui um grande valor afetivo.
Colégio Maria Mattos was founded in 1932 and left a strong affective memory for
everyone who went there. In 1998, the school closed its doors due to lack of resources
and 2 years later the State rented the building to start operating the Sr. Terezinha Godoy
de Almeida school. In 2005, the school was municipalized, serving elementary school
students. As it is very old, the building needs maintenance for the safety of its students
and the city government even proposed a general renovation to the Carmelite sisters
(owners of the site), but they were not successful in this plan. Therefore, it was not
possible to proceed with the school's activities in the building, having to be transferred to
another location in 2019. Today, the building is abandoned, unused and in poor condition.
The city's population and former students regret the neglect of this building, which has
great affective value.
This project seeks to recover the values lost with the degradation of the building, rescuing
them as memories lived there and expanding the offer of public space in the city. The
proposal has painting rooms, ceramics, auditorium, ballet, library, music class, coworking
rooms and other activities offered to visitors. In addition to promoting leisure and culture,
the project has profitable partnerships to boost local commerce, with cafeteria, bistro,
shop and rooms for rent.
Baseado nesse sonho, o trabalho envolve uma revisão bibliográfica sobre o assunto,
estudo de projetos de referência, depoimentos de ex-alunos do Colégio, história do
colégio e análise do edifício e seu entorno a fim de compreender melhor sobre o Colégio
Maria Mattos e eternizar sua história e memórias para a cidade de Anchieta através do
projeto do Centro Cultural Lugar e Memória.
1.3 JUSTIFICATIVA
1.4 METODOLOGIA
Para finalizar, a última etapa compreende a proposta projetual baseada nos estudos
realizados até aqui. Evidenciando as vulnerabilidades e os potenciais do edifício e
seguindo com as diretrizes projetuais. Nesta fase o trabalho apresenta o projeto desde o
conceito até imagens tridimensionais que elucidam a proposta conceitual do Centro
Cultural.
Por fim, o capítulo 7 compreende nas considerações finais que consiste em uma breve
conclusão da pesquisa.
De fato, como recorda o trecho acima, o afeto adquirido através de uma experiência
produz nos seres humanos a memória desta. Ao deparar com imagens, objetos, lugares
ou pessoas que despertam essa sensação é possível recordar e exaltar a memória que
foi transformada nesse sentimento.
Simônides de Céos, o poeta e pintor grego no século V a.C., relaciona a arte da pintura
com a arte da memória e estabelece um conjunto de técnicas para a memorização: A
Os lugares de memória fundamentado por Nora (1993) são aqueles que possuem
significados genuínos - vinculados a um tempo passado, mas vivo dentro de quem lembra
- e que também resgatam sensações e reforçam as identidades do lugar. A memória
enraíza-se no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto (NORA, 1993).
Para Gastal (2002), os lugares se tornam únicos pelo afeto manifestado por ele, é através
desse sentimento que o torna digno de memorizá-lo.
Halbwachs (2013) foi um sociólogo francês que evidenciou o fator social nos estudos
sobre memória e criou a categoria memória coletiva. Seu conceito baseia-se na memória
advinda de uma experiência coletiva, mediante um convívio social em que a lembrança
individual acontece a partir da interação do indivíduo com outras pessoas. Desse modo,
a construção da memória de uma pessoa é resultado da contribuição de outros indivíduos
de diferentes grupos inseridos no mesmo contexto, assim os dois tipos de memórias
estão presentes, a coletiva e a individual. “Cada memória individual é um ponto de vista
sobre a memória coletiva” (HALBWACHS, 2013, p. 248).
Como foi dito, a memória exerce contribuição sobre vários contextos sociais e está
fortemente atrelada ao da identidade. Para Pollak (1992), a memória, individual ou
coletiva, é parte constituinte do sentimento de identidade, ele reconhece a relação mútua
que uma tem com a outra. A identidade cultural e a memória social se relacionam a partir
do momento em que a identidade de um patrimônio gera significados e com o tempo a
criação de memória se atrela a um estado de pertencimento.
A memória é capaz de levar a lugares inimagináveis, e diante de algo que faz recordar,
através dela é possível despertar as sensações de momentos únicos vividos no passado.
Como diz a música e poesia do Victor Espadinha: Recordar é viver!
A proposta para esse trabalho de conclusão de curso é reunir os momentos afetivos que
foram vividos no edifício do Colégio Maria Mattos e materializar as características
simbólicas que permitem que esses momentos sejam resgatados no coração de quem
viveu por lá.
Por mais desenvolvidos que os estudos estejam as cartas patrimoniais são documentos
vivos quando se trata de preservação e ainda são utilizadas nas intervenções de caráter
patrimonial e histórico. Datada em maio de 1964, no “II Congresso Internacional de
Arquitetos e de Técnicos de Monumentos Históricos” e adotada por várias entidades de
muitos países - tais como o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios a (ICOMOS)
e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
- , a Carta de Veneza, também conhecida como Carta Internacional para Conservação e
Restauro de Monumentos é o documento principal que reconhece a importância da
preservação dos monumentos como tesouro nacional e estabelece diretrizes acerca da
conservação e do restauro de bens culturais, históricos, arqueológicos e artísticos.
Portanto, cabe também nas discussões deste trabalho analisar o que esse documento
direciona sobre as intervenções em edifícios históricos. A Carta de Veneza define
“monumento histórico” como criação arquitetônica isolada, bem como “sítio urbano” ou
“sítio rural” aquele que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução
significativa ou de um acontecimento histórico. O artigo 2º da Carta de Veneza defende
que ao conservar e restaurar qualquer monumento é necessário o amparo e a
colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir de forma genuína
para a proteção do patrimônio.
2.3 TERMINOLOGIAS
Na busca por compreender as terminologias que iniciam com o prefixo “re”, utilizadas
para mencionar intervenções realizadas em áreas urbanas ou edifícios históricos, a Carta
de Lisboa foi usada como referência científica. Renovação, Reabilitação e Requalificação
são algumas das várias expressões utilizadas. Para a Carta de Lisboa (1995), a
renovação refere-se a obra que envolve demolição e atribui nova estrutura para a área,
reabilitação como obras que objetivam a recuperação e beneficiação, resolvendo
questões funcionais e técnicas e a requalificação trata de intervenções que oferecem
atividades adaptadas a esse local no contexto atual. Apesar do cunho científico da carta,
os conceitos explícitos dão margem a outras interpretações e direcionam seus termos
para o espaço urbano.
No livro “Intervenções nos centros urbanos”, Vargas e Castilho (2009), citam o termo
requalificação direcionando as ações que propiciam novas atividades econômicas e que
dão vida a áreas decadentes da cidade, fortalecendo sua identidade e suas
características. Nesta mesma linha, Moura (2005) acrescenta que a requalificação está
ligada a mudança do valor da área, ao âmbito econômico, cultural, paisagístico e social.
Possui também caráter transformador e está voltada a estabelecer novos padrões de
organização e ocupação, visando o desempenho econômico.
Tanscheit (2017) enfatiza que requalificação se refere a dar nova função afim de
promover a melhora no edifício, ao contrário da reabilitação que trata de restaurar o
edifício, mas sem mudança de uso original. Para o professor e mestre Luiz Marcello
Goves Ribeiro, especialista em patrimônio e cultura, a reabilitação valoriza atividades e
modos pré-existentes, sem mudança no uso ou nos comportamentos, já a requalificação
envolve mudanças mais completas, como novo uso e interferência na integração de
novos usuários e atividades.
Diante de tudo que foi elucidado até aqui e do objetivo deste trabalho, o termo que
melhorar se enquadra com a intervenção do edifício Maria Mattos, proposta para este
trabalho é o de REQUALIFICAÇÃO. Com base nos autores citados, tal conceito
considera sobretudo a intervenção que visa a melhoria da estrutura pré-existente, com o
intuito de revelar seu valor histórico, cultural e social, fortalecendo sua identidade e
focando no crescimento econômico. Abrange a mudança do uso original da construção
e interfere na integração dos usuários e das atividades. Não se restringe apenas ao
funcionamento em termos técnicos e funcionais, mas sim na transformação do edifício
em um complexo que abriga e revela a memória e a identidade com ações e atividades
lucrativas.
A implantação do projeto foi feita a partir de uma estrada próxima ao bloco principal
conectando um percurso de 230 metros até um lago onde estará localizado um mirante
Após o percurso de 230 metros, a água desemboca no lago e o horizonte se abre para o
vale, com a paisagem da área atingida. O fim do caminho oferece um espaço
contemplativo, com um mirante e um lago que pode ser acessado, criando um ambiente
para convivência, meditação e ar puro (Figura 6).
O conceito foi o ponto chave do projeto do Memorial Brumadinho e esse foi o grande
motivo de analisá-lo neste trabalho. Todo o projeto foi pensado e projetado para
proporcionar uma reflexão direta e profunda em cada visitante. Seus elementos, paredes,
tetos, caminhos e até o paisagismo direciona a introspecção e a solidariedade as pessoas
que sofreram com o desastre. Além disso, o projeto desfruta de elementos que despertam
os sentidos relacionados a percepção do meio externo e interno.
As aberturas no teto representam a luz que faltou para as vítimas soterradas. Uma dessas
frestas de luz reflete em uma drusa de cristais a cada dia 25 de janeiro de 2019, no horário
exato de 12:28 horas. Suas paredes são em concreto aparente misturado à terra
vermelha e incorporadas por peças metálicas retiradas dos escombros da tragédia,
tornando testemunhas vivas, que agora foram ressignificadas em homenagem.
Desde o início do trajeto, o visitante avista uma grande escultura suspensa sobre as
paredes, mas antes de chegar até ela se depara com uma parede inclinada convidando
a adentrar ao Espaço Memória, como apresentada na Figura 9. Enterrado e repleto de
heranças que levam, mais uma vez, a reflexão e a introspecção de quem entra.
Após sair desse espaço, o visitante passa por baixo da escultura, evidenciada na Figura
10. Um grande bloco em concreto, onde cai um véu de água sobre suas paredes, que
representam as lágrimas, o pranto, o gesto mais humanitário e sensível existente quando
alguém se depara com o sentimento da perda. Essa cascata d’água escorre pelas laterais
e são conduzidas pelo restante do percurso até o mirante, onde desaguam no lago. E é
ali, no cair da água e banhada pela imensidão da área atingida que a experiência finaliza
(MEMORIAL BRUMADINHO, 2019).
O edifício onde está instalada a Casa Daros fica localizado em um terreno que possui
cerca de 12 mil metros quadrados em Botafogo, no Rio de Janeiro. Como mostra na
Figura 11, o terreno comporta um jardim de palmeiras imperiais e um pátio interno que
foi transformado em uma grande praça a céu aberto. Seu entorno é rico em vegetação e
possui usos comerciais e espaços livres de uso público, reforçando a vocação do lugar
para atividades atrativas ao lazer.
Fonte: Google Earth, 2015 e Ame Arquitetura, 2014 - adaptado pela autora.
O prédio possui 4 pavimentos, contando com o térreo e acontece apenas na lateral direita
do edifício. A Figura 13 mostra que o centro cultural dispõe de usos com acessos restritos
ao público, como administração e área de serviços. A circulação vertical é realizada
através de 6 escadas e 2 elevadores.
Logo na entrada do centro cultural existe uma recepção para direcionar os visitantes ao
andar de cima. O térreo conta com um auditório e uma sala multiuso que são usados em
eventos, exibição de filmes e debates, um grande setor de serviços, uma loja bem
equipada dedicada a livros de arte, acessórios, posters e um famoso restaurante que sua
excelência transcende os cafés oferecidos em muitos centros de cultura da cidade (AME
ARQUITETURA, 2014).
Foi necessário adicionar alguns elementos para adaptar o edifício ao seu novo uso e a
novas tecnologias, como bancos, bancadas, escadas, luminárias, mesas, mas as
soluções tomadas foram pensadas para interferir o mínimo na estrutura do prédio.
Como dito anteriormente, este trabalho busca empregar e ressaltar um conceito que seja
capaz de despertar a memória dos tempos vividos no Colégio e por isso analisar o projeto
do “Memorial Brumadinho” foi tão importante para a evolução do trabalho.
A “Casa Daros” é um exemplo vivo de um edifício histórico onde funcionava uma escola
e que sofreu uma obra de requalificação transformando o seu uso para um centro cultural,
a mesma ideia que esse Trabalho de Conclusão de Curso deseja propor para o edifício
do Colégio Maria Mattos
Ao sul do Espírito Santo (Figura 18), na região Sudeste do país, a cidade de Anchieta
localiza-se cerca de 82 quilômetros da capital Vitória. Segundo estimativa do IBGE para
2020, sua população é estimada em cerca de 29.779 pessoas, ocupando uma área
territorial de 409,691km² (IBGE, 2020). O município situa-se junto à foz do rio Benevente
e faz divisa com Guarapari, Alfredo Chaves, Piúma e Iconha. A cidade possui 60 bairros
e é dividida em 3 distritos administrativos: Alto Pongal, Anchieta (sede) e Jabaquara.
(PREFEITURA DE ANCHIETA, 2010).
4.1.2 História
Entretanto, seu potencial turístico não se resume apenas nas áreas litorâneas, mas por
ser uma das cidades mais antigas do estado, é proveniente de uma vasta herança
histórica e cultural, testemunhos vivos de sua memória. Retomando os primórdios de sua
fundação, um momento histórico e marcante foi o início da construção da Igreja Nossa
Senhora da Assunção, em 1567, onde foi por muito tempo a única moradia jesuítica do
sul da capitania, local estratégico escolhido pelo padre, de onde era possível avistar as
embarcações que atravessavam o mar e o rio, vista preservada até hoje.
Construída pelo Padre Anchieta juntamente com os índios, o Santuário Nacional de São
José de Anchieta (Figura 20) é um conjunto arquitetônico jesuítico do período colonial,
tombado em 1943 pelo IPHAN, fruto do reconhecimento do patrimônio para a memória
nacional, faz parte do roteiro turístico, religioso e cultural da cidade (SANTUÁRIO
NACIONAL DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA, 2014). Além disso, em anexo a igreja se
encontra o Museu Nacional de Anchieta que abriga muitos vestígios que compõem o
patrimônio histórico e cultural da cidade, como peças arqueológicas, objetos religiosos,
relíquias de São José de Anchieta, entre outros artigos históricos.
Nas imediações do Colégio Maria Mattos, objeto de estudo do corrente trabalho, estão
localizadas as principais edificações do município, como é apresentado na Figura 21 a
seguir.
Com o passar do tempo, o Hotel encerrou suas atividades e ficou em estado de abandono
total. Em 2012, o edifício passou por uma obra de restauro e mudança de uso para um
Centro Cultural. O prédio faz parte da memória histórica da cidade e foi reformado para
abrigar eventos, cursos, apresentações, tornando um atrativo cultural para Anchieta,
porém, com a demanda de um espaço para comportar a Escola Irmã Terezinha Godoy
de Almeida, foi adaptado para exercer essa nova função.
Fonte: Agenda 21, 2006, Google Earth, 2021 - diagramado pela autora.
A Agenda 21 (2006) apresenta alguns eventos e manifestações culturais que ainda são
presentes no cotidiano dos moradores da cidade, tais como:
- Festa Nacional de São José de Anchieta: realizada em 09 de junho, data comemorativa
da cidade.
- Congo: Manifestação cultural dedicada a São Benedito que possui origem afro
descente e está no roteiro de eventos da cidade.
- Passos do Imigrante: Resgate do caminho feito pelos imigrantes que parte de Anchieta
sede em direção ao distrito de Alto Pongal.
Além das visitas aos edifícios históricos, apreciação das belezas naturais e manifestações
culturais presentes no cotidiano dos turistas e dos moradores, Anchieta possui uma
agenda de eventos movimentadas para completar o turismo e o lazer do município. A
Prefeitura de Anchieta promove eventos nacionais e municipais durante todo ano, como
campeonato de esportes, Festival de Verão com shows nacionais, Carnaval, Festa da
Agricultura, Festa de São Pedro, Feira de Negócios (Promove), Festival de Frutos do Mar
de Iriri, reunindo seus moradores e turistas (ANCHIETA, 2019).
Apesar de Anchieta ser detentora de muitas belezas naturais, históricas e ter uma cultura
muito presente na vida de seus moradores, a cidade ainda carece de espaços públicos
e de práticas sociais que reforcem sua beleza, cultura e história. Esse panorama engloba
a ineficiência dos poucos espaços públicos existentes no município, bem como a
deterioração, falta de manutenção e a ausência de um local que propõe acesso à cultura,
a história e atividades de lazer. Além disso, a cidade é muito dependente de ações
municipais para qualquer intervenção em sua área, embora essas ações aconteçam, até
hoje não foi proposto um espaço cultural de qualidade a ponto de envolver a população,
sendo necessário uma parceria público-privada para de fato ser instituído um espaço
Dom Helvécio foi fundador do Colégio Maria Mattos, nasceu na cidade de Anchieta no
ano de 1876. Padre salesiano e arcebispo católico brasileiro, sua vida firmada na fé,
Uma escola católica que baseava suas ações educativas nos princípios evangélicos e a
forma Carmelitana de viver na simplicidade. O desejo da escola era formar pessoas
criativas, conscientes, livres e responsáveis, capazes de assumir responsabilidades
pessoais e sociais, colaborando com sua formação e com a construção de uma
sociedade mais fraterna em exercício da cidadania. Além disso, a escola promovia
experiências que desenvolvesse na prática habilidades artísticas, técnicas, esportivas,
descobertas, vivência em grupo, contribui na formação de sua personalidade quanto aos
aspectos psicofísico, cultural e cívico (COLÉGIO MARIA MATTOS, 1997).
A primeira a ser entrevistada foi aluna do Colégio Maria Mattos na década de 60, formada
pela Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, especialista em restauração e conservação
fotográfica, Maria de Nazareth Bezerra Coury finalizou sua carreira profissional
trabalhando como restauradora de imagens no Instituto Moreira Sales – RJ. É uma artista
e mora hoje em uma das casas históricas de Anchieta, próximo ao Colégio Maria Mattos.
Faz parte de uma família tradicional da cidade e conheceu o fundador do Colégio Maria
Mattos e do Hotel Anchieta, Dom Helvécio. A Figura 25 evidencia a Nazareth em sua
formatura no Colégio Maria Mattos no ano de 1969.
Em conversa com Nazareth, a ex-aluna relata que na época em que cursava o colegial,
as alunas eram divididas entre internas e externas. As internas, advindas de outras
cidades faziam parte do regime de internato, onde estudavam durante o dia e
pernoitavam no alojamento, nas dependências do colégio. Já as externas, eram aquelas
que estudavam durante o dia e retornavam as suas casas, pois suas famílias residiam na
cidade. A Figura 28 faz referência as alunas externas ao lado esquerdo e ao grupo
completo ao lado direito.
Como o Colégio tinha alunas de outras partes do Brasil, o colégio possuía um alojamento
para abrigá-las e de tempos em tempos, seus pais vinham visitá-las e se hospedavam no
Hotel Anchieta, construído por Dom Helvécio a princípio para esse fim. A Figura 29 mostra
o alojamento das alunas no Colégio Maria Mattos.
O Colégio Maria Mattos faz parte do roteiro histórico da cidade de Anchieta e se situa na
parte antiga, próximo ao Hotel Anchieta, Santuário Nacional de Anchieta e as casas
históricas. A Figura 31 é uma aquarela que mostra um panorama da cidade antiga, sendo
possível ver o Colégio.
Conforme mencionado, a escola era administrada pelas Irmãs Carmelitas e tinha em seu
calendário momentos religiosos que envolviam as alunas. Em entrevista com a ex-aluna
e ex-professora Suzan Mara Gonçalves Rosa, ela apresenta uma imagem (Figura 32) de
um desses momentos religiosos no pátio central do colégio.
Mais uma atividade que era tradição da cidade e fazia parte do calendário do colégio era
o desfile alegórico em comemoração ao dia da cidade, 9 de junho e o desfile cívico no
dia 7 setembro em comemoração à Independência do Brasil. A montagem de imagem a
seguir (Figura 34) evidenciam esses eventos.
A música sempre esteve em evidência nas atividades realizadas no colégio e a irmã Joana
D’Arc compôs uma homenagem a escola que era cantada nos eventos e um de seus
trechos está a seguir:
Para o desenvolvimento desta pesquisa, também foi realizada entrevistas com uma ex-
aluna, ex-professora do Colégio Maria Mattos, mãe da autora desta pesquisa e grande
motivadora deste trabalho. Edi Teresinha da Silva Sangali de Mello, iniciou sua trajetória
na escola no ano de 1977 e teve grande parte de sua vida dedicada ao colégio, possuindo
muitas recordações. Admiradora do trabalho das irmãs carmelitas, começou cursando a
5ª série no colégio, formou-se em Contabilidade em 1983 e em Magistério em 1985
(cursos técnicos oferecidos na época pelo colégio Maria Mattos). Logo no ano de 1986
foi convidada para dar aula na mesma escola, até o seu fechamento em 1998, porém
deu continuidade na escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida (escola que funcionava no
mesmo prédio no ano de 2000, após o fechamento do Colégio Maria Mattos) e trabalha
nesta escola até hoje.
Em anexo ao colégio existe um salão de festas onde eram realizados eventos do colégio
e da cidade (Figura 36).
Com capacidade para 200 pessoas, o Salão do Maria Mattos era o local que acontecia
a formatura do colégio, apresentações e até mesmo festas de aniversário de alunos do
colégio. A Figura 37 evidencia uma das apresentações musicais, danças e até uma
formatura do ensino fundamental I.
No ano de 1998, o Colégio Maria Mattos encerrou suas atividades, pois a mensalidade
não era compatível a realidade financeira dos moradores e ainda o município já ofertava
uma educação pública de qualidade e com isso houve uma baixa na procura de vagas
para o ingresso no Colégio (MELLO, 2021).
Com o fechamento do colégio, logo no ano de 2000 o munícipio sofreu com um aumento
na demanda de escolas de ensino fundamental e com a ausência de prédios para sediar
a escola, o estado alugou o edifício que funcionava o Colégio Maria Mattos para dar início
a nova escola estadual, Irmã Terezinha Godoy de Almeida, nome dado a escola em
homenagem a irmã carmelita que faleceu em exercício como diretora do colégio. Em 25
de julho de 2005, a escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida foi municipalizada, pois a
partir desse ano a responsabilidade do ensino fundamental ficou a cargo dos municípios
(MELLO, 2021).
A escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida começou seu funcionamento com muitos
funcionários que estudaram e trabalharam no Colégio Maria Mattos e eles procuraram
dar continuidade nas atividades que vivenciaram ali. Portanto, a nova escola continuou
com a proposta de formar cidadãos críticos e conscientes para a sociedade,
desenvolvendo habilidades artísticas, esportivas, sociais e empreendedoras. A Figura 38
evidencia algumas dessas atividades, sendo elas desfiles, oficinas artísticas, jogos e
esportes.
As respostas (Figura 40) sobre as atividades que eram realizadas foram basicamente:
feiras culturais, campeonatos, apresentações, acantonamentos, festas juninas, gincanas,
teatro, dança, fanfarra, aulas de músicas, seminários, ballet e projetos de incentivo à
leitura (SANGALI, 2021).
A Figura 41 evidencia a pergunta “O que você mais gostava de fazer por lá?” e suas
respectivas respostas.
As respostas da pergunta (Figura 41) sobre o que os alunos gostavam de fazer por lá
foram basicamente: brincar no pátio central, sentar nas muretas, esportes, atividades
artísticas, subir na pedra, brincar na quadra, escorregar nas barranceiras, brincar no
parquinho, ir até a gruta, aulas de músicas, estudar, feiras, ficar na varanda da capela,
jogar ping pong, comer a merenda da escola e contato com a natureza (SANGALI, 2021).
O lugar favorito do Colégio para os alunos que responderam a pesquisa (Figura 42) eram
basicamente: a quadra, o caramanchão, escadas, biblioteca, salão de festas, o pátio
central, pedra ao lado da mesa de ping pong, raízes das castanheiras, corredor, gruta,
jardim lateral, catavento, jardim entre o refeitório e a quadra e a varanda da capela
(SANGALI, 2021).
Como a área de estudo fica localizada na parte superior da cidade, o gabarito de entorno
pouco interfere, mas as edificações do entorno possuem em geral no máximo 3
pavimentos. O uso predominante do entorno é residencial, mas suas imediações contam
com o Santuário e os demais comércios da parte inferior da cidade que é bem variado
(Figura 43).
Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta e o Arcgis, 2021.
Vale ressaltar que as vias de acesso existentes foram criadas apenas para entrada
e saída das pessoas que visitavam o Colégio Maria Mattos, são duas ruas de mão dupla,
estreitas, sem calçadas e sem sinalização. O primeiro acesso se dá a partir da Avenida
Anchieta, rua de acesso ao Santuário que recebe anualmente visitantes e a caminhada
de peregrinação Passos de Anchieta, sendo um importante eixo de preservação. O
segundo acesso parte do encontro do largo do Santuário e da rua Cristiano Dias Lopes.
Além disso, a Rodovia do Sol (Av. Carlos Lindemberg), via radial que passa pelo litoral
sul capixaba interligando a capital com o sul do estado, é a rua que antecede a Avenida
Anchieta, esta que recebe os veículos que vão em direção ao Santuário e ao Colégio
Maria Mattos (Figura 44).
Para analisar os condicionantes que envolvem o Colégio Maria Mattos foi criado um
diagrama de análise para extrair informações pertinentes ao desenvolvimento do projeto
(Figura 45).
Considerando que a área onde está situado o Colégio compreende a porção com mais
edificações históricas preservadas da cidade sinalizamos a localização dessas que
possuem o uso residencial. Além disso, a Figura 45 também demarca a edificação antiga
do Colégio Maria Mattos (1932) e a parte que foi construída para adaptar a Escola Irmã
Terezinha (2019).
Através do estudo de insolação, constatou-se que fachada leste (parte de trás do colégio)
recebe uma insolação mais amena e a fachada oeste e sul será mais afetada com a
Próximo ao Colégio existe um espaço vazio que faz parte do terreno e é um potencial
para a implantação do estacionamento para os visitantes do Centro Cultural Lugar e
Memória, tal espaço foi destacado na Figura 45.
Figura 45 - DIAGRAMA DE ANÁLISE DE CONDICIONANTES FÍSICOS
Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta, 2021.
A localização estratégica no alto do morro permite que o edifício seja visto da parte baixa
da cidade e a Figura 47 mostra como o edifício é visto dos pontos sinalizados no diagrama
físico (Figura 45).
Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta, 2021.
Além do caráter morfológico e físico, é necessário analisar o contexto legal que envolve
toda essa área histórica da cidade.
Para este trabalho vale a pena ressaltar que o Colégio Maria Mattos faz parte da zona de
proteção de todas as esferas citadas (municipal, estadual e federal), ou seja, apesar de
não ser um patrimônio tombado, os órgãos fiscalizadores o incluem na zona de proteção
por compreender a importância histórica, cultural e social que ele tem para a cidade de
Anchieta. Sendo assim, é necessário seguir os instrumentos legais no desenvolvimento
do Projeto de Requalificação do Colégio Maria Mattos.
O edifício antigo possui dois pavimentos e uma planta em formato de “U” onde as
aberturas são voltadas para um pátio interno descoberto. Por volta do ano de 2004, a
escola municipal Irmã Terezinha Godoy de Almeida funcionava no prédio do Colégio
Maria Mattos e a estrutura original não estava suportando o funcionamento dos banheiros
e da cozinha, sendo necessário construir uma nova estrutura para realocar esses
ambientes para atender os alunos. A partir da construção do anexo, o edifício original
passou a ser utilizado para salas de aulas e para o administrativo da escola.
Além disso, existe o salão de eventos na frente do edifício, enumerado na legenda pelo
número 6. A planta baixa a seguir corresponde a estrutura original dos dois pavimentos
do edifício e como foi feita a setorização para atender o funcionamento da escola.
O edifício do Colégio Maria Mattos, objeto de estudo deste trabalho, encontra-se hoje em
estado de desuso por uma decisão da Defesa Civil que determinou, em 2019, o
encerramento das atividades no prédio (onde funcionava na época a Escola Municipal
Irmã Terezinha Godoy de Almeida). Considerando a época da construção, ausência de
manutenção e a degradação natural do prédio, o órgão identificou diversas patologias
que oferecem riscos aos usuários e visto que apenas um reparo paliativo não seria capaz
de solucionar o problema e portanto, determinou sua interdição.
O capítulo vigente apresenta a proposta projetual para o Centro Cultural Lugar e Memória
no Colégio Maria Mattos, Anchieta/ES que foi desenvolvido através do embasamento
teórico e analítico obtido nos capítulos apresentados anteriormente. Considerando o valor
social, histórico e cultural que o Colégio representa para os munícipes da cidade, este
trabalho visa desenvolver um ensaio projetual de requalificação do edifício do Colégio
Maria Mattos, a fim de abrigar um centro cultural com o objetivo de ampliar a oferta de
espaço público na cidade, valorizar o encontro e retomar os valores perdidos com a
degradação do prédio.
Degradação e
descaracterização
Criar elementos sensoriais para emocionar
alunos e funcionários que possuem relação
Descaso com o valor Resgatar e fortalecer com o colégio
Importância social do
social dos alunos e a memória afetiva do Criar espaços que relembre a vida no
colégio
funcionários lugar colégio
Valorizar os espaços preferidos dos alunos
do colégio
Ausência de vegetação
no pátio central
Arborização densa e Valorizar os Propor paisagismo para o pátio interno com
Ausência de área
variada elementos naturais vegetação e área permeável
permeável no pátio
central
AMBIENTAL/PAISAGÍSTIO
Para gerar a ativação da memória detalhes foram resgatados, como por exemplo o lugar
do sino, a gruta, o catavento e outros pontos que faça com que o ex-aluno relembre e o
visitante conheça a vida no antigo colégio. Sendo assim, o conceito do projeto se baseia
na memória e na vivência do antigo Colégio Maria Mattos e o partido no resgate de
elementos que correspondem com essa época.
O programa de necessidades foi baseado nas atividades que eram realizadas na época
do funcionamento do Colégio Maria Mattos e os usos foram escolhidos de acordo com a
necessidade da cidade de Anchieta visando o resgate da memória e a oferta de um
espaço público agradável para os visitantes. A proposta visa utilizar as instalações
internas do edifício com atividades socioculturais voltadas ao público, mas também
viabilizar o uso das áreas externas como forma de aumentar a oferta de espaços de lazer
e encontro para a cidade. A Tabela 04 destaca os setores com seus respectivos
ambientes que irão ser ofertados no Centro Cultural e que posteriormente irão ser
apresentados da planta baixa de setorização.
O setor de entretenimento é direcionado aqueles ambientes que são de livre acesso aos
visitantes do Centro Cultural, envolve espaços internos e externos. O memorial fica no
mesmo espaço que a recepção e são os primeiros ambientes a serem visitados, onde o
primeiro abrigará registros do Colégio Maria Mattos e a recepção funcionará para
informar os visitantes. O pátio central será um espaço para os visitantes caminharem,
sentar nos banquinhos, aproveitarem ao ar livre e para a realização de eventos da região.
A capela será direcionada a cerimônias e a visitas os usuários do Centro Cultural. O café
e o bistrô são ambientes importantes para o empreendimento, tanto para movimentar a
economia como para oferecer aos visitantes uma boa experiência gastronômica. As salas
de exposição de arte serão direcionadas aos artistas locais que tenham vontade de expor
suas obras. Para valorizar o comerciante local uma das salas será direcionada ao uso de
O setor educacional oferece aulas de dança, música, ballet, aquarela e cerâmica que
foram atividades muito presentes na vida dos alunos do Colégio Maria Mattos e a cidade
possui essa demanda direcionada aos moradores. O projeto propõe que esse setor seja
administrado por iniciativa privada e essas salas seriam alugadas para professores da
região ministrarem suas aulas. Além disso, o centro cultural conta com salas de
coworking e a biblioteca municipal.
O nome escolhido para o Centro Cultural foi “Lugar e Memória” para enfatizar que o
edifício que abrigou o Colégio Maria Mattos não é um prédio qualquer e sim um lugar que
abriga muitas memórias, fazendo também a alusão ao autor Pierre Nora, citado nesta
pesquisa que discorre sobre os lugares de memórias que são espaços como esse.
Vale a pena relembrar que o objetivo deste trabalho é transformar a realidade atual do
edifício em espaços convidativos de permanência e convivência pensando na
necessidade do público alvo que são os moradores e turistas da cidade de Anchieta,
oferecendo atividades e ainda proporcionar o resgate dos pontos simbólicos que o
edifício em questão foi testemunho na época do Colégio Maria Mattos.
O projeto propõe que a gestão e manutenção do Centro Cultural sejam realizadas através
de uma parceria público privada. Serviços de reformas serão necessários no primeiro
momento para reestabelecer a estrutura original do edifício e adaptá-lo ao novo uso. As
salas destinadas as aulas de aquarela, cerâmica, música, dança, salas de coworking,
cafeteria, loja e bistrô poderão ser alugadas para professores e comerciantes locais,
garantindo lucro ao empreendimento e a economia da região.
O acesso secundário é feito pelo jardim lateral arborizado onde possui espaços
agradáveis, assim como o catavento e o caramanchão que são elementos que foram
resgatados da época do Colégio Maria Mattos e que nesse projeto possuem uma
linguagem estética contemporânea. Inclusive, a proposta de resgatar o catavento é para
reaproveitar o seu trabalho cinético para o fornecimento de energia eólica para abastecer
parte da iluminação das áreas externas.
A parte de trás do centro cultural conta com espaços ao ar livre para as crianças,
gramado para piquenique, quadra, resgate da gruta com lago para meditação e um deck
de contemplação para o visitante apreciar a vista.
Vale a pena evidenciar que a vegetação existente foi preservada e ainda algumas foram
propostas para completar o paisagismo do Centro Cultural para atrair ainda mais
natureza para dentro da cidade proporcionando ambientes agradáveis aos visitantes.
Além do acesso para o auditório, há mais dois acessos que o visitante pode adentrar ao
edifício, um pelo jardim lateral, considerado o secundário e o acesso principal que é a
entrada da recepção e do memorial. O visitante que entrar pelo memorial terá a
oportunidade de conhecer de primeira a história do Colégio Maria Mattos e entenderá o
motivo de ser tão querido por tantos. Após conhecer as memórias guardadas no edifício,
o visitante poderá aproveitar dos outros espaços do centro cultural, como o pátio central,
tomar um café, visitar a capela, contemplar a exposição de arte, visitar a loja, o bistrô,
apreciar as paisagens e usufruir da área externa.
Vale salientar que todos os fluxos percorridos pelos visitantes contemplam acessibilidade
por meio de rampas e plataforma de elevação. O pavimento térreo do Centro Cultural
conta com dois blocos de banheiros, contando com banheiros acessíveis e também com
dois blocos de circulação vertical para acesso ao 1º pavimento por meio de escadas e
elevadores.
Além disso, temos o auditório que será utilizado para a realização de eventos e
apresentações que poderão ser sediados tanto pelos alunos do centro cultural como
pelos moradores de Anchieta que desejarem.
Vale reforçar que as construções novas que foram propostas possuem uma linguagem
contemporânea para não cometer falso histórico, seguindo as ideias de Carbonara
(2011) quando trata da relação do novo com o antigo.
Após a chegada ao
centro cultural, o
visitante é recebido com
um deck de
contemplação,
mobiliário para sentar,
vegetação e o edifício
que o convida para
adentrar tanto pelo
memorial ou pelo jardim
lateral (Figura 60).
A frente do edifício
dispõe de um deck
com bancos sugerindo
ao visitante a adentrar
ao edifício. Nessa
parte foi proposto um
painel instagramável
com o nome do Centro
Cultural que funciona
como um plano de
fundo para os
visitantes tirarem fotos
(Figura 62).
No centro do memorial
foi criado um painel
interativo com a
mensagem “guarde aqui
a sua memória” para os
visitantes que tiverem
vontade de anexar uma
mensagem, fotos ou
qualquer coisa que
relembre da época do
colégio.
Assim foi idealizado esse sonho, um projeto que propõe um espaço público que abriga atividades que reforce os momentos vivenciados
no Colégio Maria Mattos, retomando os valores perdidos com a degradação do prédio, almejando ganhos econômicos, sociais, culturais
e históricos para a cidade, valorizando o encontro e a socialização das pessoas.
O Colégio Maria Mattos simboliza muitos momentos marcantes na vida daqueles que
passaram por lá e é fruto de uma forte representatividade na memória da população da
cidade de Anchieta. Além de fazer parte da formação social de muitas pessoas, o prédio
possui relevância também por compor a herança histórica da cidade. Atualmente, o
edifício se encontra em estado de desuso e através de estudos em busca de intervenções
que possam recuperar a estrutura pré-existente para reestabelecer o seu funcionamento,
a presente pesquisa propõe um projeto de requalificação no prédio do Colégio Maria
Mattos, com mudança de uso para um centro cultural.
Diante da memória afetiva que o Colégio Maria Mattos representa e de sua condição
atual de desuso, o projeto propõe uma intervenção de requalificação com mudança de
uso para centro cultural com a intenção de consolidar a herança histórica do município
de Anchieta para as futuras gerações, abrigando atividades para o público que reforce
os momentos vivenciados ali, retomando os valores perdidos com a degradação do
prédio, almejando ganhos econômicos, sociais, culturais e históricos.
O projeto do Centro Cultural Lugar e Memória oferece espaços agradáveis para receber
o visitante e ambientes que sugerem uma volta aos tempos do Colégio Maria Mattos. A
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