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UNIVERSIDADE VILA VELHA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LUGAR E MEMÓRIA:
RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

GIULLIANNA DA SILVA SANGALI DE MELLO

VILA VELHA
2021
GIULLIANNA DA SILVA SANGALI DE MELLO

LUGAR E MEMÓRIA:
RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Vila Velha como requisito parcial
para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista.

VILA VELHA
2021
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me conceder força, proteção e ter me dado a oportunidade de
chegar até a conclusão desse grande sonho, sem Ele nada seria possível.

Minha eterna gratidão aos meus pais, Dalmir e Edi, por acreditarem em mim e me
apoiarem a cada momento. Em especial a minha mãe que foi a maior fonte de inspiração
para esse trabalho e que confiou a mim esse tema tão especial. Vocês são os alicerces
da minha vida juntamente à minha irmã Eduarda, que vibrou a cada conquista e segurou
minha mão a cada passo. E ao meu sobrinho Antônio, por sempre me fazer sorrir após
um dia exaustivo.

Ao meu amor e noivo Lucas, pela cumplicidade e confiança.

Aos velhos amigos, pelo apoio e torcida, e aos amigos conquistados durante o curso, por
viverem isso intensamente comigo.

A todos os ex-alunos do Colégio Maria Mattos que colaboraram para o sucesso desse
estudo. Em especial, a ex-aluna Nazareth.

Agradeço a cada um dos professores que se dedicaram todos os dias nas aulas e me
ensinaram sobre o amor pela arquitetura. Em especial a minha querida orientadora,
Larissa por me acompanhar durante todo o curso e por não medir esforços para me
ajudar.

Saibam que o amor de vocês me fez prosseguir em direção à realização desse grande
sonho. Sem vocês, eu não conseguiria.

Esse não é o fim. É só o início!

Muito obrigada!
RESUMO
O presente trabalho consiste em um projeto de requalificação no edifício do Colégio Maria
Mattos na cidade de Anchieta/ES com mudança de uso para o Centro Cultural Lugar e
Memória com o conceito de resgatar as memórias do colégio e transformar o espaço em
um ponto de encontro para o município.

O Colégio Maria Mattos foi fundado em 1932 e deixou uma forte memória afetiva para
todos que passaram por lá. Em 1998 o colégio fechou suas portas por falta de recursos
e 2 anos depois o Estado alugou o prédio para dar início ao funcionamento da escola Irmã
Terezinha Godoy de Almeida. Em 2005 a escola foi municipalizada, atendendo a alunos
de ensino fundamental. Por ser muito antigo, o prédio necessitava de manutenção para
a segurança de seus alunos e até foi proposto pela prefeitura às irmãs carmelitas
(proprietárias do local) uma reforma geral, mas não obtiveram sucesso nesse plano.
Portanto, não foi possível prosseguir com as atividades da referida escola no prédio,
precisando ser transferida para um outro local em 2019. Hoje, o edifício se encontra
abandonado, sem uso e em mau estado de conservação. A população da cidade e os
ex-alunos lamentam o descaso com essa edificação que possui um grande valor afetivo.

O presente projeto busca retomar os valores perdidos com a degradação do edifício,


resgatando as memórias vividas ali e ampliando a oferta de espaço público na cidade. A
proposta conta com salas de pintura, cerâmica, auditório, ballet, biblioteca, aula de
música, salas de coworking e outras atividades oferecidas aos visitantes. Além de
fomentar o lazer e a cultura, o projeto conta com parcerias lucrativas para impulsionar o
comércio local, com cafeteria, bistrô, loja e salas para aluguel.

Palavras-chave: Anchieta, Centro Cultural, Colégio Maria Mattos, Espaço Público,


Requalificação, Memória.
ABSTRACT
The present work consists of a requalification project in the building of Colégio Maria
Mattos in the city of Anchieta / ES with change of use to the Lugar e Memória Cultural
Center with the concept of rescuing as memories of the school and transforming the
space into a meeting point for the municipality.

Colégio Maria Mattos was founded in 1932 and left a strong affective memory for
everyone who went there. In 1998, the school closed its doors due to lack of resources
and 2 years later the State rented the building to start operating the Sr. Terezinha Godoy
de Almeida school. In 2005, the school was municipalized, serving elementary school
students. As it is very old, the building needs maintenance for the safety of its students
and the city government even proposed a general renovation to the Carmelite sisters
(owners of the site), but they were not successful in this plan. Therefore, it was not
possible to proceed with the school's activities in the building, having to be transferred to
another location in 2019. Today, the building is abandoned, unused and in poor condition.
The city's population and former students regret the neglect of this building, which has
great affective value.

This project seeks to recover the values lost with the degradation of the building, rescuing
them as memories lived there and expanding the offer of public space in the city. The
proposal has painting rooms, ceramics, auditorium, ballet, library, music class, coworking
rooms and other activities offered to visitors. In addition to promoting leisure and culture,
the project has profitable partnerships to boost local commerce, with cafeteria, bistro,
shop and rooms for rent.

Keywords: Anchieta, Cultural Center, Colégio Maria Mattos, Public Space,


Requalification, Memory.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Vista área do projeto do Memorial Brumadinho ........................................... 32
Figura 2 - Implantação do projeto do Memorial Brumadinho ........................................ 33
Figura 3 - Planta baixa do pavilhão do projeto do Memorial Brumadinho. ..................... 34
Figura 4 - Implantação do trecho do percurso do projeto do Memorial Brumadinho. .... 35
Figura 5 - Corte do Espaço Memória .......................................................................... 36
Figura 6 - Imagem do mirante do projeto do Memorial Brumadinho. ............................ 37
Figura 7 - Imagem do interior do pavilhão ................................................................... 38
Figura 8 - Imagem do percurso do projeto do Memorial Brumadinho. .......................... 39
Figura 9 - Imagem do Espaço Memória ....................................................................... 40
Figura 10 - Escultura .................................................................................................. 41
Figura 11 - Montagem com a localização da Casa Daros ............................................ 42
Figura 12 - Planta de situação da Casa Daros............................................................. 43
Figura 13 - Planta baixa do térreo e do 1º pavimento da Casa Daros .......................... 44
Figura 14 - Planta baixa do 2º e 3º pavimento da Casa Daros. .................................... 45
Figura 15 - Interior da Casa Daros .............................................................................. 46
Figura 16 - Interior da Casa Daros .............................................................................. 47
Figura 17 - Pátio interno da Casa Daros...................................................................... 48
Figura 18 - Localização do município de Anchieta. ...................................................... 53
Figura 19 - Praias de Anchieta/ES ............................................................................... 55
Figura 20 - Santuário Nacional de São José De Anchieta ............................................ 56
Figura 21 - Principais edificações históricas da cidade ................................................ 57
Figura 22 - Centro Cultural Anchieta ........................................................................... 58
Figura 23 - Edificações históricas da cidade de Anchieta/ES ....................................... 59
Figura 24 - Colégio Maria Mattos. ............................................................................... 61
Figura 25 - Desenho e pintura em aquarela da parte antiga de Anchieta. .................... 63
Figura 26 - Formatura - Colégio Maria Mattos ............................................................. 64
Figura 27 - Pintura em aquarela com alunas do Colégio Maria Mattos. ........................ 65
Figura 28 - Alunas Externas e Internas do Colégio Maria Mattos ................................. 66
Figura 29 - Alojamento no Colégio Maria Mattos ......................................................... 66
Figura 30 - Pintura em aquarela – Colégio Maria Mattos.............................................. 67
Figura 31 - Pintura em aquarela – cidade antiga com o Colégio Maria Mattos.............. 68
Figura 32 - Momento religioso – Colégio Maria Mattos ................................................ 69
Figura 33 - Pintura em aquarela – esportes no Colégio Maria Mattos........................... 70
Figura 34 - Desfiles pela cidade das alunas do Colégio Maria Mattos .......................... 71
Figura 35 - Eventos no Colégio Maria Mattos .............................................................. 73
Figura 36 - Salão de festas - Colégio Maria Mattos...................................................... 74
Figura 37 - Eventos no Salão do Colégio Maria Mattos ................................................ 75
Figura 38 - Atividades realizadas na escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida ............ 76
Figura 39 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos .................. 77
Figura 40 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos .................. 78
Figura 41 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos .................. 79
Figura 42 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos .................. 80
Figura 43 - Diagrama de análise do entorno ................................................................ 84
Figura 44 - Acesso do Colégio Maria Mattos ............................................................... 85
Figura 45 - Diagrama de análise de condicionantes físicos .......................................... 86
Figura 46 - Visuais do Colégio Maria Mattos ............................................................... 87
Figura 47 - Visuais do Colégio Maria Mattos ............................................................... 88
Figura 48 - Diagrama de figura-fundo.......................................................................... 88
Figura 49 - Análise dos limites e intercessões das poligonais de proteção federal, estadual
e municipal ................................................................................................................. 89
Figura 50 - Proposta de setorização do entorno do Santuário Nacional de São José de
Anchieta ..................................................................................................................... 90
Figura 51 - Planta Baixa Original - Térreo .................................................................... 92
Figura 52 - Planta Baixa Original – 1º Pavimento ......................................................... 93
Figura 53 - Imagens gerais da condição atual do Colégio Maria Mattos ....................... 94
Figura 54 - Patologias encontradas no Colégio Maria Mattos ...................................... 95
Figura 55 - Moodboard ............................................................................................. 101
Figura 56 - Implantação ............................................................................................ 105
Figura 57 - Setorização - Térreo ............................................................................... 107
Figura 58 - Setorização - 1º Pavimento ..................................................................... 109
Figura 59 - Estacionamento e Guarita ....................................................................... 112
Figura 60 - Chegada................................................................................................. 113
Figura 61 - Frente do Centro Cultural ........................................................................ 114
Figura 62 - Frente do Centro Cultural ........................................................................ 115
Figura 63 - Memorial ................................................................................................ 116
Figura 64 - Recepção ............................................................................................... 117
Figura 65 - Memorial ................................................................................................ 118
Figura 66 - Memorial ................................................................................................ 119
Figura 67 - Painel de recordações ............................................................................ 120
Figura 68 - Painel de recordações ............................................................................ 121
Figura 69 - Painéis com a história do Colégio Maria Mattos ....................................... 122
Figura 70 - Painel interativo ...................................................................................... 123
Figura 71 - Hall de circulação vertical ....................................................................... 124
Figura 72 - Vista do alto do Centro Cultural ............................................................... 125
Figura 73 - Vista do Caramanchão............................................................................ 126
Figura 74 - Entrada Secundária ................................................................................ 127
Figura 75 - Pátio Central ........................................................................................... 128
Figura 76 - Vista de cima para o pátio central ........................................................... 129
Figura 77 - Escultura ................................................................................................ 130
Figura 78 - Pátio Central ........................................................................................... 131
Figura 79 - Pátio Central ........................................................................................... 132
Figura 80 - Sino ........................................................................................................ 133
Figura 81 - Bistrô e Painel Instagramável .................................................................. 134
Figura 82 - Bistrô ...................................................................................................... 135
Figura 83 - Jardim .................................................................................................... 136
Figura 84 - Gruta ...................................................................................................... 137
Figura 85 - Espaço Infantil, Gramado para Piquenique e Quadra ............................... 138
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Síntese das Análises dos Estudos de Casos ............................................... 50


Tabela 2 - Tabela de limites construtivos de cada setor ............................................... 91
Tabela 3 - Diretrizes e Ações ...................................................................................... 97
Tabela 4 - Programa de Necesidades ....................................................................... 102
LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 14
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA

Existem momentos, vinculados a um tempo passado, presentes na memória que


despertam sensações e reforçam a identidade de um determinado lugar. O sentimento
de afeto adquirido através de uma experiência produz nas pessoas a memória desta. Os
lugares de memória, criados pelo autor Nora (1993), são aqueles que independente das
suas condições despertam e transcendem sentimentos afetivos. Um espaço que recorda
momentos afetuosos e que é parte de todos que passaram por lá, o Colégio Maria Mattos,
situada na cidade de Anchieta-ES, é de fato um lugar de memória.

Entre o passado e o presente há um abismo chamado tempo e apesar de ser fruto de


recordações especiais, o edifício do Colégio Maria Mattos (datado de 1938) sofreu com
a ação do tempo e a falta de manutenção, encontrando, atualmente, em estado de
desuso, por consequência de problemas estruturais. O edifício faz parte da herança
histórica da cidade de Anchieta/ES e necessita de uma intervenção que atue nas
estruturas pré-existentes com o intuito de relevar seu valor histórico, cultural e social,
fortalecendo sua identidade para as próximas gerações. O problema principal é a
inutilização do edifício e sua deterioração, sendo assim, a presente pesquisa traz uma
proposta que alia a valorização do edifício histórico somada a uma intervenção de
requalificação que propõe uma mudança de uso de escola para centro cultural. A
proposta inclui atividades que reforcem os momentos vivenciados no Colégio, retomando
os valores perdidos com a degradação do prédio, almejando ganhos econômicos,
sociais, culturais e históricos.

Baseado nesse sonho, o trabalho envolve uma revisão bibliográfica sobre o assunto,
estudo de projetos de referência, depoimentos de ex-alunos do Colégio, história do
colégio e análise do edifício e seu entorno a fim de compreender melhor sobre o Colégio
Maria Mattos e eternizar sua história e memórias para a cidade de Anchieta através do
projeto do Centro Cultural Lugar e Memória.

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1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo geral desenvolver um


ensaio projetual de requalificação do Colégio Maria Mattos, de modo a abrigar um centro
cultural para o município de Anchieta, visando resgatar as memórias vividas no colégio,
ampliar a oferta de espaço público na cidade, valorizar o encontro e retomar os valores
perdidos com a degradação.

1.2.1 Objetivos Específicos

Com a finalidade de alcançar o objetivo geral, esse trabalho engloba os seguintes


objetivos específicos:
a) Compreender os tipos de intervenção em edifícios históricos;
b) Analisar projetos de referências com os mesmos objetivos
c) Resgatar as memórias vividas no colégio, enfatizando a importância do edifício
para a cidade;
d) Identificar potencialidades e condicionantes do sítio físico (objeto de estudo);
e) Desenvolver uma proposta projetual considerando novos usos e atividades
relacionadas ao lazer e entretenimento.

1.3 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho se justifica através da importância histórica do Colégio Maria Mattos


e da condição de desuso que o edifício se encontra. Um prédio histórico que compõe a
herança patrimonial da cidade de Anchieta e que marcou a vida de tantas pessoas, hoje,
se apresenta com problemas estruturais e sem uma previsão de manutenção e de
resgate da sua integridade. Essa pesquisa é fruto da inquietação de todos os ex-alunos
e ex-professores - inclusive desta autora e de sua família que estudou e trabalhou por
muitos anos lá - ao ver o prédio que simboliza tantos momentos inesquecíveis e que
participou da formação social de tantas pessoas em estado de abandono. Além da

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relevância deste projeto para os moradores, a proposta contribui na consolidação da
herança histórica da cidade de Anchieta para as futuras gerações. A proposta se atém
não puramente na recuperação do edifício, mas na necessidade de um espaço público
que promova lazer e entretenimento na cidade.

Sendo assim, a pesquisa se desenvolve em rumo a concretização deste sonho, dispondo


da arquitetura para resolver questões sociais e históricas de uma cidade.

1.4 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração desta pesquisa, estrutura-se em seis partes. A


primeira etapa trata sobre a revisão bibliográfica de autores, através de livros e artigos
científicos, cuja suas produções sejam relacionadas ao tema de pesquisa, a fim de
compreender os conceitos e termos pertinentes ao assunto do sentimento de memória e
de intervenções em edifícios históricos.

A segunda etapa da metodologia abrange a análise de estudos de casos relativos ao


tema que contribuam para o desenvolvimento deste projeto. O primeiro trata sobre um
projeto baseado em um forte conceito de memória e o segundo consiste em um projeto
de requalificação de um centro cultural, proposta semelhante à desta pesquisa. A
pesquisa extrai informações de localização, implantação, programas, funcionalidades,
conceito, partido e decisões projetuais advindos de sites que descrevem sobre ambos.

A terceira e quarta etapa da metodologia envolvem pesquisa e a realização de entrevistas


e visitas técnicas para a obtenção de informação acerca da cidade de Anchieta e do
Colégio Maria Mattos. Abrange uma revisão no conteúdo existente sobre a cidade e o
colégio e ainda entrevistas com moradores da cidade, ex-alunos e ex-professores do
colégio. Além da realização de enquetes na rede social Instagram com perguntas sobre
o Colégio Maria Mattos, resultando em várias respostas de ex-alunos que contribuíram
para o desenvolvimento deste projeto.

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A quinta etapa consiste no diagnóstico da área de estudo que busca analisar os
condicionantes que poderão impactar nas decisões projetuais. Nessa parte é realizada
uma análise do entorno considerando os fatores físicos pertinentes ao projeto e uma
análise do próprio edifício evidenciando sua atual condição.

Para finalizar, a última etapa compreende a proposta projetual baseada nos estudos
realizados até aqui. Evidenciando as vulnerabilidades e os potenciais do edifício e
seguindo com as diretrizes projetuais. Nesta fase o trabalho apresenta o projeto desde o
conceito até imagens tridimensionais que elucidam a proposta conceitual do Centro
Cultural.

1.5 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS

O presente trabalho se desenvolve em 7 capítulos. Começando pelo capítulo 1 que


apresenta a introdução da pesquisa, com a contextualização do tema, objetivos,
justificativa, metodologia e organização dos capítulos.

O capítulo 2 trata da contextualização teórica deste trabalho que compreende o estudo


de conceitos através de revisão bibliográfica e definição de termos.

O capítulo 3 apresenta o estudo de caso, o qual servirá de base para o desenvolvimento


deste projeto, assim como na definição do conceito e do programa. Procurou-se analisar
um projeto que tinha como base o apelo da memória e um forte conceito e outro que se
assemelha com a proposta deste trabalho.

O capítulo 4 é determinante para o entendimento acerca do tema principal desta


pesquisa, envolve a história do município de Anchieta/ES e da importância que o Colégio
Maria Mattos representa. A primeira parte do capítulo apresenta sobre a localização, o
contexto histórico e aspectos turísticos, de lazer e de entretenimento da cidade de
Anchieta. Já a segunda parte envolve o histórico do Colégio Maria Mattos e reúne relatos
e imagens de ex-alunos e ex-professores.

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O capítulo 5 compreende o diagnóstico da área de estudo que analisa os condicionantes
físicos do terreno, seu entorno e o próprio edifício, apresentando a condição atual do
edifício.

O capítulo 6 que apresenta a proposta projetual do Centro Cultural com as diretrizes


projetuais, conceito e partido, programa de necessidades e o estudo preliminar baseado
em todo o conteúdo que foi disposto na pesquisa.

Por fim, o capítulo 7 compreende nas considerações finais que consiste em uma breve
conclusão da pesquisa.

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2 LUGAR E MEMÓRIA: CONCEITOS RELACIONADOS
2.1 LUGAR E MEMÓRIA

Segundo o dicionário de língua portuguesa Michaelis, o termo memória refere-se ao ato


de lembrar e conservar ideias, momentos, imagens, conhecimentos e experiências
adquiridas no passado. Trata-se da capacidade de recuperar e armazenar informações
e fatos vivenciados através de alguma experiência passada. O cérebro transforma os
momentos vividos no presente em recordações para o futuro. Também se compreende
por memória as lembranças, as recordações, as relembranças, as impressões e
reminiscências.

Para Nora (1993), a memória está em constante evolução, aberta a mudanças,


lembranças, esquecimentos e cercada por grupos vivos. A memória transcende o afeto
e, ao contrário da história, não se atem apenas na continuidade dos fatos. Aristóteles
(1986 apud ALMEIDA, 2015), ao distinguir memória e recordação, esclarece que a
memória desperta a imaginação e percepções de um tempo vivido, considera uma
experiência. Já a recordação é um estado especial da consciência, a evocação do que
está guardado na memória.

[...] a memória pertence àquela parte da alma à qual a imaginação também


pertence [...]. porque é óbvio que se deve considerar o afeto que é produzido
na alma pela sensação, e naquela parte do corpo que contém a alma (o afeto, o
estado duradouro o qual chamamos memória) como um tipo de figura/retrato;
[...]. falta ainda falar da recordação [...] ela não é nem a recuperação nem a
aquisição da memória; porque quando se aprende ou recebe uma impressão
sensória, não se recupera qualquer memória (porque nenhuma aconteceu
antes), nem se adquire pela primeira vez; é somente quando o estado ou afeto
foi induzido que existe memória. (ARISTÓTELES, 1986, p.293, apud ALMEIDA,
2015 p. 73).

De fato, como recorda o trecho acima, o afeto adquirido através de uma experiência
produz nos seres humanos a memória desta. Ao deparar com imagens, objetos, lugares
ou pessoas que despertam essa sensação é possível recordar e exaltar a memória que
foi transformada nesse sentimento.

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Qualquer espaço ocupado por relações humanas passa a ser um lugar dotado de
significados particulares, seja afetivo como numa escola primária, ou trágico como num
cemitério. Os “lugares de memória” citado pelo autor Pierre Nora (1993) são aqueles que
independente das condições do ambiente e da classificação em que ele se encaixam,
evocam e transcendem significados afetivos, qualificando-os como um lugar de memória.

O Gráfico 1 a seguir apresenta os 3 exemplos de lugares de memórias citados por Nora


(1993). O primeiro é o puramente material, como um depósito de arquivos, o segundo é
o funcional, como um testamento e o último o simbólico, como um minuto de silêncio.
Para alguns esses lugares podem ser apenas lugares, mas para outros a experiência
passada envolve afeto e a transforma em um lugar de memória.

Gráfico 1 - LUGARES DE MEMÓRIA

Fonte: NORA, 1993 – adaptado pela autora

Simônides de Céos, o poeta e pintor grego no século V a.C., relaciona a arte da pintura
com a arte da memória e estabelece um conjunto de técnicas para a memorização: A

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recordação mnemônica que requer a lembrança e a criação de imagens na memória,
bem como a organização das imagens em locais, ou lugares da memória. É preciso ver
locais, ver imagens (SMOLKA, 2000).

Os lugares de memória fundamentado por Nora (1993) são aqueles que possuem
significados genuínos - vinculados a um tempo passado, mas vivo dentro de quem lembra
- e que também resgatam sensações e reforçam as identidades do lugar. A memória
enraíza-se no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto (NORA, 1993).

Para Gastal (2002), os lugares se tornam únicos pelo afeto manifestado por ele, é através
desse sentimento que o torna digno de memorizá-lo.

As diferentes memórias estão presentes no tecido urbano, transformando


espaços em lugares únicos e com forte apelo afetivo para quem neles vive ou
para quem os visita. Lugares que não apenas tem memória, mas que para
grupos significativos da sociedade, transformam-se em verdadeiros lugares de
memória. (GASTAL, 2002, p.77)

Halbwachs (2013) foi um sociólogo francês que evidenciou o fator social nos estudos
sobre memória e criou a categoria memória coletiva. Seu conceito baseia-se na memória
advinda de uma experiência coletiva, mediante um convívio social em que a lembrança
individual acontece a partir da interação do indivíduo com outras pessoas. Desse modo,
a construção da memória de uma pessoa é resultado da contribuição de outros indivíduos
de diferentes grupos inseridos no mesmo contexto, assim os dois tipos de memórias
estão presentes, a coletiva e a individual. “Cada memória individual é um ponto de vista
sobre a memória coletiva” (HALBWACHS, 2013, p. 248).

Como foi dito, a memória exerce contribuição sobre vários contextos sociais e está
fortemente atrelada ao da identidade. Para Pollak (1992), a memória, individual ou
coletiva, é parte constituinte do sentimento de identidade, ele reconhece a relação mútua
que uma tem com a outra. A identidade cultural e a memória social se relacionam a partir
do momento em que a identidade de um patrimônio gera significados e com o tempo a
criação de memória se atrela a um estado de pertencimento.

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A recuperação de relatos, práticas e momentos afetivos é um gatilho para a ativação do
sentimento de pertença presente na cabeça de quem lembra. Entre o passado e o
presente há um abismo chamado tempo e a criação arquitetônica deve conectar o novo
e o antigo com base no respeito e sensibilidade com as marcas da história (ALMEIDA,
2016).

A memória é capaz de levar a lugares inimagináveis, e diante de algo que faz recordar,
através dela é possível despertar as sensações de momentos únicos vividos no passado.
Como diz a música e poesia do Victor Espadinha: Recordar é viver!

A proposta para esse trabalho de conclusão de curso é reunir os momentos afetivos que
foram vividos no edifício do Colégio Maria Mattos e materializar as características
simbólicas que permitem que esses momentos sejam resgatados no coração de quem
viveu por lá.

2.2 INTERVENÇÃO EM EDIFÍCIO HISTÓRICO

Com o passar do tempo, o interesse em preservar edifício históricos e patrimônios


culturais cresceu em vários campos disciplinares, seja para legitimar e democratizar a
cultura como para eternizar e enaltecer momentos vividos nesses monumentos. Para
Feilden (1982 apud LERSCH, 2003), um edifício histórico é um testemunho vivo de
valores seja arquitetônico, cultural, estético, histórico, documental, econômico, espiritual
ou simbólico.

O artigo 216 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) define o patrimônio cultural de


forma abrangente, respeitando a memória e a identidade dos grupos envolvidos.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material


e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência
à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

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IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988, p. 126)

Por mais desenvolvidos que os estudos estejam as cartas patrimoniais são documentos
vivos quando se trata de preservação e ainda são utilizadas nas intervenções de caráter
patrimonial e histórico. Datada em maio de 1964, no “II Congresso Internacional de
Arquitetos e de Técnicos de Monumentos Históricos” e adotada por várias entidades de
muitos países - tais como o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios a (ICOMOS)
e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
- , a Carta de Veneza, também conhecida como Carta Internacional para Conservação e
Restauro de Monumentos é o documento principal que reconhece a importância da
preservação dos monumentos como tesouro nacional e estabelece diretrizes acerca da
conservação e do restauro de bens culturais, históricos, arqueológicos e artísticos.

Portanto, cabe também nas discussões deste trabalho analisar o que esse documento
direciona sobre as intervenções em edifícios históricos. A Carta de Veneza define
“monumento histórico” como criação arquitetônica isolada, bem como “sítio urbano” ou
“sítio rural” aquele que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução
significativa ou de um acontecimento histórico. O artigo 2º da Carta de Veneza defende
que ao conservar e restaurar qualquer monumento é necessário o amparo e a
colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir de forma genuína
para a proteção do patrimônio.

A Carta de Veneza (1964) salienta sobre a relevância da conservação dos edifícios e o


quanto esse processo está ligado na consolidação da identidade histórica do
monumento. Dando prosseguimento, ao abordar o tema restauração os artigos da carta
ressalvam que este é um procedimento de caráter excepcional e tem como finalidade
conservar e relevar os aspectos estéticos e históricos respeitando de forma genuína sua
essência e sua estrutura original.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 25


Nessa operação, o embasamento prático e teórico por profissionais especialistas são de
extrema importância visto que só é tolerado o uso de técnicas e materiais novos (ou
diferentes do original) quando testado e comprovado. Ao reconhecer a possibilidade de
eliminar partes irrelevantes do monumento, a Carta é bastante criteriosa. Esse ato é
considerado excepcional, visto que o ideal é conservar, porém só é tolerado quando o
que se elimina é de pouco interesse e o que se releva possui grande valor histórico,
estético e arqueológico. O artigo 12º da Carta destaca que o que for acrescentado ao
monumento deve harmonizar com o conjunto, porém deve ser notório a distinção da parte
original com a parte acrescida, para não haver falso histórico e equívoco quanto a
memória do monumento (CARTA DE VENEZA, 1964).
O autor Cesare Brandi é um dos principais teóricos acerca da restauração e suas
contribuições baseadas no pensamento crítico influenciaram na consolidação do tema
em campo disciplinar. Sua obra baseada na Carta de Atenas, chamada Teoria da
Restauração, foi recentemente traduzida para a língua portuguesa por Beatriz Mugayar
Kühl que contribuiu para a reflexão do tema relativo as práticas de restauro e para os
estudos que envolvem a preservação no Brasil. Segundo Brandi (2004, p. 1) “entende-
se por restauração qualquer intervenção voltada a dar novamente eficiência a um produto
da atividade humana”, ou seja, o termo restauração compreende-se por qualquer
intervenção que objetiva restabelecer o funcionamento do produto, considerado por ele
uma obra de arte, e que sua essência deve ser exclusivamente ligada a esse fim. O autor
também se preocupa com a ausência de autenticidade das intervenções e salienta que
essas não podem cometer falso histórico e apagar os traços do tempo na obra de arte
(BRANDI, 2004).

Outro teórico renomado do campo da preservação é o arquiteto italiano Giovanni


Carbonara, um expoente de Cesare Brandi quando o assunto é restauração. Em seu livro
“Architettura d’Oggi e Restauro, Un confronto antico-nuovo” transita não só pela área
específica do restauro, mas também pela inserção da arquitetura contemporânea em
monumentos pré-existentes e procura compreender o diálogo entre o novo e o antigo.
Carbonara (2011, apud ALMEIDA, 2017) acredita que entre a criatividade e o ato da
intervenção do projeto de restauro, existe uma linha tênue chamada sensibilidade, na
qual o arquiteto deve compreender a vocação do monumento e considerar a história

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 26


vivida ali. O autor destaca que o próprio monumento é que evoca as diretrizes para o
encontro com o novo e que o arquiteto tem o papel de interpretar a obra e restaurá-lo a
fim de manter um bom êxito no final. Carbonara reconhece que a restauração é uma
intervenção realizada em edifício histórico com o intuito de conservá-lo para próximas
gerações, mantendo sua integridade. (CARBONARA, 2011, apud ALMEIDA, 2017).

Ao longo do tempo, várias terminologias foram empregadas para classificar as


intervenções realizadas em contextos urbanos e em edifícios históricos. A partir do
momento que as cidades passaram a propor ações em áreas preexistentes constituídas
de valores históricos e culturais foram surgindo termos para classificar o nível da
intervenção, tais conceitos eram baseados em práticas precedentes de demolição,
expansão e/ou mudança de uso. Considerando que cada país utiliza tais termos de
maneira particular, conforme o contexto e criando significados de acordo com a tipologia
do projeto, existe uma busca para a generalização dessas denominações, a fim de
classificar de forma única as intervenções em edifícios históricos. Apesar da discursão e
do empenho de especialistas em eventos sobre o assunto, a reprodução de vários
documentos similares que serviriam para orientar as ações, somente dificultou a definição
desses termos (VARGAS, CASTILHOS, 2009).

2.3 TERMINOLOGIAS

Na busca por compreender as terminologias que iniciam com o prefixo “re”, utilizadas
para mencionar intervenções realizadas em áreas urbanas ou edifícios históricos, a Carta
de Lisboa foi usada como referência científica. Renovação, Reabilitação e Requalificação
são algumas das várias expressões utilizadas. Para a Carta de Lisboa (1995), a
renovação refere-se a obra que envolve demolição e atribui nova estrutura para a área,
reabilitação como obras que objetivam a recuperação e beneficiação, resolvendo
questões funcionais e técnicas e a requalificação trata de intervenções que oferecem
atividades adaptadas a esse local no contexto atual. Apesar do cunho científico da carta,
os conceitos explícitos dão margem a outras interpretações e direcionam seus termos
para o espaço urbano.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 27


Portanto, na tentativa de encontrar um termo que melhor condiz com a proposta deste
trabalho surge uma dúvida entre os termos reabilitação e requalificação, por isso foi
necessário consultar outras fontes para entender melhor as terminologias e encontrar
aquela mais coerente com a proposta a ser desenvolvida neste Trabalho de Conclusão
de Curso.

No livro “Intervenções nos centros urbanos”, Vargas e Castilho (2009), citam o termo
requalificação direcionando as ações que propiciam novas atividades econômicas e que
dão vida a áreas decadentes da cidade, fortalecendo sua identidade e suas
características. Nesta mesma linha, Moura (2005) acrescenta que a requalificação está
ligada a mudança do valor da área, ao âmbito econômico, cultural, paisagístico e social.
Possui também caráter transformador e está voltada a estabelecer novos padrões de
organização e ocupação, visando o desempenho econômico.

Tanscheit (2017) enfatiza que requalificação se refere a dar nova função afim de
promover a melhora no edifício, ao contrário da reabilitação que trata de restaurar o
edifício, mas sem mudança de uso original. Para o professor e mestre Luiz Marcello
Goves Ribeiro, especialista em patrimônio e cultura, a reabilitação valoriza atividades e
modos pré-existentes, sem mudança no uso ou nos comportamentos, já a requalificação
envolve mudanças mais completas, como novo uso e interferência na integração de
novos usuários e atividades.

Diante de tudo que foi elucidado até aqui e do objetivo deste trabalho, o termo que
melhorar se enquadra com a intervenção do edifício Maria Mattos, proposta para este
trabalho é o de REQUALIFICAÇÃO. Com base nos autores citados, tal conceito
considera sobretudo a intervenção que visa a melhoria da estrutura pré-existente, com o
intuito de revelar seu valor histórico, cultural e social, fortalecendo sua identidade e
focando no crescimento econômico. Abrange a mudança do uso original da construção
e interfere na integração dos usuários e das atividades. Não se restringe apenas ao
funcionamento em termos técnicos e funcionais, mas sim na transformação do edifício
em um complexo que abriga e revela a memória e a identidade com ações e atividades
lucrativas.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 28


Portanto, por se tratar de uma intervenção em um edifício pré-existente repleto de
histórias e fruto de lembranças inestimáveis e tendo em vista que este trabalho possui
cunho mobilizador e almeja ganhos econômicos, sociais e culturais, o termo que melhor
se enquadra é, de fato, o de requalificação.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 29


3 REFERÊNCIAS PROJETUAIS

O presente capítulo busca analisar projetos referenciais que auxiliarão no


desenvolvimento do trabalho. Com temas pertinentes ao resgate da memória, os projetos
de edifícios históricos e centros culturais analisados buscam compreender as
particularidades da concepção de cada proposta.

Os estudos de caso selecionados foram o “Memorial Brumadinho” que possui um forte


conceito atrelado a memória e a “Casa Daros” que se refere a um projeto de
requalificação para um centro cultural que possui a arquitetura semelhante a do Colégio
Maria Mattos.

Na sequência, serão apresentadas observações sobre os edifícios, no que tange a


relação com o entorno, conceito, partido, programa e demais funcionalidades de modo a
auxiliar nas decisões de projeto.

3.1 MEMORIAL BRUMADINHO: O CONCEITO ATRELADO A MEMÓRIA

Em face a tragédia acontecida no dia 25 de janeiro de 2019, com o rompimento da


barragem de rejeitos de minério da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) que
provocou a morte de 272 pessoas, o projeto do Memorial Brumadinho do escritório
GPA&A, fundado pelo arquiteto Gustavo Penna, propõe uma experiência sensível a esse
momento tão doloroso, evocando uma reflexão sobre a memória e a dor que o desastre
causou na comunidade e no Brasil.

A escolha desse estudo de caso justifica-se em razão do modo em que o projeto é


materializado, retratando um momento da história que marcou a vida de muitas pessoas
e recorda de forma sensível o acidente. A partir da análise desse projeto de referência,
objetiva-se extrair diretrizes projetuais que sirvam de referência para o projeto de
requalificação do Colégio Maria Mattos.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 31


3.1.1 Relação com o entorno: Localização e Implantação

O memorial está localizado na cidade de Brumadinho, Minas Gerais, próximo ao Córrego


do Feijão. O terreno foi escolhido pela Avabrum, com visual para a área atingida pelo
desastre. O terreno foi adquirido pela Vale, engloba uma área de 5 hectares, sendo que
o edifício ocupará 1.220m² de área construída (ARCHDAILY BRASIL, 2020) que também
será custeado pela empresa.

Conforme ilustrado na Figura 1, o edifício é inserido em local estratégico voltado para o


visual da área atingida. No meio do arvoredo original serão plantados mais 272 ipês
amarelos, árvore símbolo do Brasil, para representar cada uma das vítimas da tragédia.

Figura 1 - VISTA ÁREA DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

A implantação do projeto foi feita a partir de uma estrada próxima ao bloco principal
conectando um percurso de 230 metros até um lago onde estará localizado um mirante

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 32


com vista para o lugar da tragédia. A Figura 1 acima evidencia a volumetria retorcida do
pavilhão de entrada que revela o conceito arquitetônico, este descrito no item 3.1.3 deste
trabalho.

A implantação, ilustrada na Figura 2, corresponde a uma planta de cobertura que mostra


os acessos, estacionamento, parte de serviços e áreas externas. A direita tem o
estacionamento de acesso que direciona a caminhos fragmentados até as entradas do
memorial, assinaladas com seta na Figura 2. A parte de trás conta com áreas livres que
dão apoio e um respiro para as pessoas que estão nos espaços internos.

Figura 2 - IMPLANTAÇÃO DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020 - adaptado pela autora.

3.1.2 Programas e Funcionalidades

O programa de necessidades do Memorial foi pensado a fim de receber os visitantes para


um tour que transmita emoção e mistério. Os ambientes acontecem na medida em que
as paredes angulam, com recuos e avanços, que reforçam o mistério.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 33


A setorização interna do pavilhão (Figura 3) respeita as paredes desalinhadas e
anguladas onde os ambientes vão surgindo de maneira despretensiosa. O foyer no
núcleo do edifício serve para conectar os ambientes presentes no programa de
necessidades. Á esquerda está o espaço meditativo que é uma sala ampla com pé direito
variado, com área livre coberta e descoberta, resguardada pelas alturas da diferença da
topografia. Ao lado nordeste, encontra-se o setor de serviços juntamente com uma
cafeteria que também se abre para o jardim. A partir dessas áreas externas o visitante é
conduzido ao percurso de 230 metros.

Figura 3 - PLANTA BAIXA DO PAVILHÃO DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020 - adaptado pela autora.

O percurso (Figura 4) corta o terreno em direção a área do rompimento da barragem e o


visitante percorre pelo caminho que é plano, porém enterrado cerca de 3 metros abaixo
da terra (Figura 5). A forma do percurso lembra uma trincheira e estimula a introspecção,
devido suas paredes altas, circulação estreita e uma única paisagem presente, o
enquadramento final. No meio do caminho, o visitante se deparada com um monumento,
mas antes há uma entrada para um ambiente no subsolo referente ao Espaço Memória
que foi projetado para um descanso e para ser mais um elemento reflexivo.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 34


Figura 4 - IMPLANTAÇÃO DO TRECHO DO PERCURSO DO PROJETO DO MEMORIAL
BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020 - adaptado pela autora.

O corte da Figura 5, ilustra o monumento, o percurso e o Espaço Memória enterrado.


Este espaço convida para uma reflexão sobre as vítimas, suas paredes desalinhadas, seu
teto angulado e o próprio piso completa a experiência de comover os visitantes.
Projeções de imagens, mensagens e até cartas das famílias configura o ambiente
imersivo. A partir daí, o percurso continua, mas agora com duas faixas de água no chão
que escorrem do monumento, criando o conceito, e deságua no lago.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 35


Figura 5 - CORTE DO ESPAÇO MEMÓRIA

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

Após o percurso de 230 metros, a água desemboca no lago e o horizonte se abre para o
vale, com a paisagem da área atingida. O fim do caminho oferece um espaço
contemplativo, com um mirante e um lago que pode ser acessado, criando um ambiente
para convivência, meditação e ar puro (Figura 6).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 36


Figura 6 - IMAGEM DO MIRANTE DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

3.1.3 Conceito, Partido e Decisões Projetuais

O conceito foi o ponto chave do projeto do Memorial Brumadinho e esse foi o grande
motivo de analisá-lo neste trabalho. Todo o projeto foi pensado e projetado para
proporcionar uma reflexão direta e profunda em cada visitante. Seus elementos, paredes,
tetos, caminhos e até o paisagismo direciona a introspecção e a solidariedade as pessoas
que sofreram com o desastre. Além disso, o projeto desfruta de elementos que despertam
os sentidos relacionados a percepção do meio externo e interno.

A volumetria do pavilhão de entrada, retorcida e fragmentada, representa os sonhos que


foram despedaçados e levados com a força avassaladora da lama. No interior do pavilhão
há poucas frestas de luz (Figura 7), tornando o ambiente escuro como a onda de lama
atingindo o edifício e apagando sol. O alto contraste de claro/escuro retrata o dia que não

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 37


amanheceu, mas a esperança que sempre esteve presente, a luz no fim do túnel.
(MEMORIAL BRUMADINHO, 2019).

Figura 7 - IMAGEM DO INTERIOR DO PAVILHÃO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

As aberturas no teto representam a luz que faltou para as vítimas soterradas. Uma dessas
frestas de luz reflete em uma drusa de cristais a cada dia 25 de janeiro de 2019, no horário
exato de 12:28 horas. Suas paredes são em concreto aparente misturado à terra
vermelha e incorporadas por peças metálicas retiradas dos escombros da tragédia,
tornando testemunhas vivas, que agora foram ressignificadas em homenagem.

Após a visita ao pavilhão, o visitante é direcionado a uma circulação enterrada, estreita e


descoberta, que corta a floresta, em direção a área do rompimento da barragem. O
traçado do percurso simboliza, segundo o arquiteto, uma linha no tempo e no espaço
com o ponto final na fratura, servindo como testemunha de um acontecimento
inesquecível na história. No percurso corresponde a Figura 8, nas inflexões das paredes
os registros dos nomes das vítimas estimulam ao visitante uma profunda reflexão.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 38


Figura 8 - IMAGEM DO PERCURSO DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

Desde o início do trajeto, o visitante avista uma grande escultura suspensa sobre as
paredes, mas antes de chegar até ela se depara com uma parede inclinada convidando
a adentrar ao Espaço Memória, como apresentada na Figura 9. Enterrado e repleto de
heranças que levam, mais uma vez, a reflexão e a introspecção de quem entra.

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Figura 9 - IMAGEM DO ESPAÇO MEMÓRIA

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

Após sair desse espaço, o visitante passa por baixo da escultura, evidenciada na Figura
10. Um grande bloco em concreto, onde cai um véu de água sobre suas paredes, que
representam as lágrimas, o pranto, o gesto mais humanitário e sensível existente quando
alguém se depara com o sentimento da perda. Essa cascata d’água escorre pelas laterais
e são conduzidas pelo restante do percurso até o mirante, onde desaguam no lago. E é
ali, no cair da água e banhada pela imensidão da área atingida que a experiência finaliza
(MEMORIAL BRUMADINHO, 2019).

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Figura 10 - ESCULTURA

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

3.2 CASA DAROS: UM PROJETO DE REQUALIFICAÇÃO

A Casa Daros é um edifício neoclássico fundado em 1866 onde funcionava o Educandário


Santa Tereza, projeto do Arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva. O prédio é
de interesse histórico e passou por um processo de requalificação em 2007, pela equipe
de arquitetos Ernani Freire Arquitetos Associados, adequando seu uso para um centro
cultural para abrigar a Coleção Daros Latina Americana, considerada uma das coleções
de artes contemporâneas da América Latina mais abrangentes na Europa. Tombado pelo
Rio de Janeiro, em 1987, sua obra foi vistoriada por vários órgãos municipais. O grande
desafio do projeto era reconhecer o potencial da arquitetura preexistente e trazer
elementos contemporâneos que proporcionem o equilíbrio do passado com o presente
(ARCHDAILY BRASIL, 2015).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 41


A Casa Daros foi escolhida como estudo de caso deste Trabalho de Conclusão de Curso
por se tratar de um projeto de requalificação de um edifício histórico que antes de ser
transformado em centro cultural era um edifício institucional onde funcionava uma escola.
Trata-se de um referencial projetual semelhante ao que é almejado para este trabalho e
por isso a importância de analisá-lo a fim de extrair informações pertinentes ao
desenvolvimento da proposta projetual.

3.2.1 Relação com o entorno: Localização e Implantação

O edifício onde está instalada a Casa Daros fica localizado em um terreno que possui
cerca de 12 mil metros quadrados em Botafogo, no Rio de Janeiro. Como mostra na
Figura 11, o terreno comporta um jardim de palmeiras imperiais e um pátio interno que
foi transformado em uma grande praça a céu aberto. Seu entorno é rico em vegetação e
possui usos comerciais e espaços livres de uso público, reforçando a vocação do lugar
para atividades atrativas ao lazer.

Figura 11 - MONTAGEM COM A LOCALIZAÇÃO DA CASA DAROS

Fonte: Google Earth, 2015 e Ame Arquitetura, 2014 - adaptado pela autora.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 42


A planta de situação evidenciada na Figura 12, mostra que o edifício se localiza na
esquina de duas ruas movimentadas que são a Rua General Severiano e Avenida Lauro
Sodré. O projeto possui uma preocupação com a localização dos acessos, sendo o de
serviços na lateral do prédio, o do público na parte central e o de carga e descarga, na
parte posterior do edifício. Sua forma surge contornando o pátio interno.

Figura 12 - PLANTA DE SITUAÇÃO DA CASA DAROS.

Fonte: ArchDaily, 2015 - adaptado pela autora.

3.2.2 Programas e Funcionalidades

O prédio possui 4 pavimentos, contando com o térreo e acontece apenas na lateral direita
do edifício. A Figura 13 mostra que o centro cultural dispõe de usos com acessos restritos
ao público, como administração e área de serviços. A circulação vertical é realizada
através de 6 escadas e 2 elevadores.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 43


Figura 13 - PLANTA BAIXA DO TÉRREO E DO 1º PAVIMENTO DA CASA DAROS

Fonte: ArchDaily, 2015 diagramada pela autora, 2021.

Logo na entrada do centro cultural existe uma recepção para direcionar os visitantes ao
andar de cima. O térreo conta com um auditório e uma sala multiuso que são usados em
eventos, exibição de filmes e debates, um grande setor de serviços, uma loja bem
equipada dedicada a livros de arte, acessórios, posters e um famoso restaurante que sua
excelência transcende os cafés oferecidos em muitos centros de cultura da cidade (AME
ARQUITETURA, 2014).

Ao chegar no primeiro pavimento, o visitante passa pela recepção e é direcionado as


salas de exposição que abriga o acervo de mais de 1.100 obras da coleção Daros Latino
Americana. Nessa mesmo andar também tem uma sala dedicada a arte e educação.

No segundo pavimento (Figura 14) encontra-se a administração, sendo um espaço


restritivo para os visitantes e, no último pavimento, a biblioteca que é aberta ao público
que visita o centro cultural.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 44


Figura 14 - PLANTA BAIXA DO 2º E 3º PAVIMENTO DA CASA DAROS.

Fonte: ArchDaily, 2015 diagramada pela autora, 2021.

3.2.3 Conceito, Partido e Decisões Projetuais


O prédio que funcionou a Casa Daros é um exemplar do estilo neoclássico carioca dos
anos de 1870 e o grande desafio desse projeto foi justamente atribuir ao edifício histórico
elementos que o adaptasse ao novo uso, mas que ao mesmo tempo respeitasse sua
estrutura original. O arquiteto decidiu utilizar elementos contemporâneos necessários
para a adaptação do uso de centro cultural e se preocupou em recuperar a integridade
da estrutura original do prédio que é emblemática da tipologia dessa construção.

Conforme analisado no capítulo 2 deste trabalho, o teórico Giovani Carbonara defende


que a relação entre o novo e o antigo deve ser feita de forma cautelosa e sensível ao olhar
do arquiteto e que esse diálogo entre arquitetura preexistente e o estilo contemporâneo
deve ser considerar a vocação do monumento e a história incorporada nele.

Como é evidenciado na Figura 15, o projeto de intervenção da Casa da Daros se


preocupou em decidir de forma minuciosa os elementos a serem incorporados à
arquitetura de maneira a evidenciar a diferença do novo e do antigo, com a intenção de
não cometer falso histórico. Por se tratar de um edifício antigo haviam muitas adaptações

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 45


tecnológicas e funcionais para viabilizar o funcionamento do centro cultural e todo estudo
foi feito com a finalidade de estabelecer soluções que fossem adequadas para a tipologia
do edifício.

Figura 15 - INTERIOR DA CASA DAROS

Fonte: ArchDaily, 2015.

O conceito incorporado ao projeto de intervenção valorizou a arquitetura local e


considerou a história e a estrutura original do edifício em todas as fases, da criação a
concepção, fortalecendo a memória e restaurando a construção para eternizar sua
identidade. Para materializar o conceito, o arquiteto propôs elementos contemporâneos
com traços minimalistas e monolíticos com a intenção de minimizar a interferência e
direcionar os olhares para a arquitetura preexistente.

Foi necessário adicionar alguns elementos para adaptar o edifício ao seu novo uso e a
novas tecnologias, como bancos, bancadas, escadas, luminárias, mesas, mas as
soluções tomadas foram pensadas para interferir o mínimo na estrutura do prédio.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 46


A luminária da Figura 16, por exemplo, apresenta a preocupação do projeto por optar por
elementos contemporâneos e minimalistas que ao olhar seja possível diferenciá-lo da
estrutura histórica e ao mesmo tempo ele se “perde” ao observar a riqueza do edifício.

Figura 16 - INTERIOR DA CASA DAROS

Fonte: ArchDaily, 2015.

A intervenção realizada na Casa Daros representou um símbolo de reforço e evidência


ao patrimônio histórico do Rio de Janeiro. Um edifício do século XIX impregnado de
memória e integralmente restaurado com exposição de uma coleção de arte
contemporânea, pronto para receber pessoas do mundo inteiro, movimentando a
economia, valorizando a memória e enfatizando a importância da cultura.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 47


Figura 17 - PÁTIO INTERNO DA CASA DAROS

Fonte: ArchDaily, 2015.

3.3 CONTRIBUIÇÕES PROJETUAIS

As análises presentes no Capítulo 3 dos projetos do “Memorial Brumadinho” e da “Casa


Daros” contribuíram para o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso. O
primeiro estudo de caso, destaca-se a forma com que o arquiteto reforçou o conceito
através da arquitetura, e o segundo no modo em que o projeto consegue manter a
integridade do edifício antigo e evidenciar sua estrutura, tomando decisões que
impactassem ao mínimo o projeto original.

A partir da análise do projeto do Memorial Brumadinho foi possível extrair informações


importantes para aplicar no projeto final do Trabalho de Conclusão de Curso. A forma
com que o arquiteto soube representar e materializar a dor e o sentimento causado pelo
desastre foi admirável. A memória foi de fato materializada no projeto e os espaços
proporcionam um sentimento de solidariedade, identidade e reflexão. Além das

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 48


mensagens, fotos, nomes que recordavam diretamente as vítimas, o próprio projeto
possui elementos que despertam a memória e é possível observar como os materiais
usados propõe uma atmosfera nostálgica e estimulam os sentidos, como as peças
metálicas retiradas dos escombros da tragédia, a forma do edifício, o paisagismo e outros
aspectos intrínsecos da estrutura.

De fato, a proposta do arquiteto Gustavo Penna para o Memorial Brumadinho pode


contribuir para o desenvolvimento do projeto de requalificação do Colégio Maria Mattos,
principalmente na maneira em que o conceito foi aplicado, extraindo ao máximo das
informações existentes e incorporando-as na estrutura do projeto, transformando-o em
um espaço imersivo e rico de experiências sensoriais.

Como dito anteriormente, este trabalho busca empregar e ressaltar um conceito que seja
capaz de despertar a memória dos tempos vividos no Colégio e por isso analisar o projeto
do “Memorial Brumadinho” foi tão importante para a evolução do trabalho.

O projeto da “Casa Daros” aproxima-se da proposta de intervenção do Colégio Maria


Mattos. Assim como o edifício da “Casa Daros”, o Maria Mattos também acontece
entorno de um pátio interno onde todas as suas janelas são voltadas para esse espaço.
Evidencia-se no projeto da “Casa Daros”, a importância de manter a integridade e a
originalidade do edifício histórico e a cautela que deve ser tomada de decisão ao escolher
os elementos que irão compor essa arquitetura para nunca desviar o olhar e se confundir
com o original.

A “Casa Daros” é um exemplo vivo de um edifício histórico onde funcionava uma escola
e que sofreu uma obra de requalificação transformando o seu uso para um centro cultural,
a mesma ideia que esse Trabalho de Conclusão de Curso deseja propor para o edifício
do Colégio Maria Mattos

Com a finalidade de sintetizar as informações encontradas nas análises dos estudos de


caso do Memorial Brumadinho e da Casa Daros e que porventura poderão ser utilizadas

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 49


como inspirações no projeto de requalificação do Colégio Maria Mattos foi gerada uma
tabela síntese com as principais diretrizes projetuais de aspectos analisado no capítulo.

Tabela 1 - SÍNTESE DAS ANÁLISES DOS ESTUDOS DE CASOS

TABELA SÍNTESE COM DIRETRIZES DOS ESTUDOS DE CASOS


Memorial Brumadinho Casa Daros

LOCALIZAÇÃO E Objeto principal do projeto. A O projeto exaltou e respeitou a


implantação e localização do beleza e a história do edifício antigo
IMPLANTAÇÃO projeto reforçam o conceito e que foi implantado o Centro
exprimem emoção ao visitante. Cultural.

A própria arquitetura guia o Pensar em espaços para eventos


FUNCIONALIDADE E visitante e direciona dentro do temporários abertos ao público é
Memorial. A presença de áreas uma ótima ideia. A presença de um
PROGRAMA livres e da cafeteria são relevantes bom restaurante, loja e de áreas
ao projeto para dar um respiro a livres tornam o espaço mais
quem visita. atrativo.
Além da volumetria que retoma o
Para adaptar o edifício ao novo uso
conceito, as mensagens e os
o arquiteto tirou partido de
nomes das vítimas são elementos
elementos contemporâneos e
CONCEITO E PARTIDO que resgatam a memória. O uso
minimalistas que minimizassem a
dos metais retirados da tragédia, do
interferência no prédio e
percurso, dos 272 ipês, da água
direcionassem os olhares para a
cair no rio, entre outros são
arquitetura preexistente.
elementos que reforçam o conceito.
Fonte: elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 50


4 O LUGAR DE MEMÓRIA: CONTEXTUALIZAÇÃO
O corrente capítulo apresenta o município de Anchieta onde se localiza o Colégio Maria
Mattos, objeto de intervenção deste trabalho. O estudo visa discorrer sobre a história da
cidade e do colégio, a fim de compreender suas características e particularidades que
poderão ser usadas na fundamentação da proposta deste Trabalho de Conclusão de
Curso.

4.1 A CIDADE DE ANCHIETA/ES


4.1.1 Localização

Ao sul do Espírito Santo (Figura 18), na região Sudeste do país, a cidade de Anchieta
localiza-se cerca de 82 quilômetros da capital Vitória. Segundo estimativa do IBGE para
2020, sua população é estimada em cerca de 29.779 pessoas, ocupando uma área
territorial de 409,691km² (IBGE, 2020). O município situa-se junto à foz do rio Benevente
e faz divisa com Guarapari, Alfredo Chaves, Piúma e Iconha. A cidade possui 60 bairros
e é dividida em 3 distritos administrativos: Alto Pongal, Anchieta (sede) e Jabaquara.
(PREFEITURA DE ANCHIETA, 2010).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 52


Figura 18 - LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ANCHIETA.

Fonte: WIKIPEDIA, 2021.

4.1.2 História

A cidade de Anchieta originou-se de uma aldeia de índios catequizados por padres da


ordem jesuítica, sendo fundada no dia 15 de agosto do século XVI. Seu primeiro nome foi
Reritiba, que em tupi significa “lugar de muitas ostras”. Seu ano de fundação é
proveniente de algumas divergências, sendo considerados entre 1561 e 1569
(ANCHIETA, 2017a).

O Padre José de Anchieta nasceu em 19 de março de 1534, em Tenerife, nas ilhas


Canárias, arquipélago presente no Oceano Atlântico, no litoral da África. Seu interesse
religioso surgiu quando foi para Portugal ingressar na Companhia de Jesus. Logo após,
o Padre veio para o Brasil para pregar a religião católica aos indígenas e se dedicou
intensamente a essa missão convertendo os índios ao catolicismo e por isso recebeu o
título de apóstolo do Brasil (NEVES, 1995).

Em 15 de agosto de 1579, o Padre José de Anchieta celebrava sua primeira missa na

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 53


Igreja Matriz, onde está localizado o Santuário da cidade (GONÇALVES, 1996), e
reconhecendo a proximidade com a cultura e a arte do lugar, passou a viver na cidade
de Anchieta, morando ali até o último dia de sua vida. Há controvérsias sobre o verdadeiro
fundador de Reritiba, porém, segundo a tradição, a aldeia teria sido fundada pelo Padre
Anchieta (NEVES, 1995). O Padre era dramaturgo, poeta, gramático, linguista,
historiador e disseminava ensinamentos cristãos por onde passava. Foi canonizado no
ano de 2014.

Em virtude do crescimento demográfico, a aldeia tornou-se vila em 1759 e passou a se


chamar Benevente, dando referência ao rio Benevente que banha a cidade. Logo, surge
uma lei provincial nº 6 de 12 de agosto de 1887 e a vila Benevente foi elevada a cidade,
nomeada de Anchieta, designação ratificada pela Lei Estadual 1307 de 1921. Anchieta é
considerada uma das cidades mais antigas do estado do Espírito Santo.

4.1.3 Cultura, turismo e lazer

A cidade de Anchieta é conhecida por suas belas praias e paisagens significativas. A


cidade possui aproximadamente 30km de extensão litorânea, composta por enseadas,
balneários, falésias, cabos e manguezais que enriquecem sua paisagem, abrangendo
além do rio Benevente, 23 praias. Essa riqueza natural é explorada principalmente no
verão e é responsável por grande movimentação na economia da cidade (ANCHIETA,
2017b). A Figura 19 a seguir é um esquema com algumas das praias encontradas em
Anchieta.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 54


Figura 19 - PRAIAS DE ANCHIETA/ES

Fonte: Anchieta, 2017 - diagramado pela autora.

Entretanto, seu potencial turístico não se resume apenas nas áreas litorâneas, mas por
ser uma das cidades mais antigas do estado, é proveniente de uma vasta herança
histórica e cultural, testemunhos vivos de sua memória. Retomando os primórdios de sua
fundação, um momento histórico e marcante foi o início da construção da Igreja Nossa
Senhora da Assunção, em 1567, onde foi por muito tempo a única moradia jesuítica do
sul da capitania, local estratégico escolhido pelo padre, de onde era possível avistar as
embarcações que atravessavam o mar e o rio, vista preservada até hoje.
Construída pelo Padre Anchieta juntamente com os índios, o Santuário Nacional de São
José de Anchieta (Figura 20) é um conjunto arquitetônico jesuítico do período colonial,
tombado em 1943 pelo IPHAN, fruto do reconhecimento do patrimônio para a memória
nacional, faz parte do roteiro turístico, religioso e cultural da cidade (SANTUÁRIO
NACIONAL DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA, 2014). Além disso, em anexo a igreja se
encontra o Museu Nacional de Anchieta que abriga muitos vestígios que compõem o
patrimônio histórico e cultural da cidade, como peças arqueológicas, objetos religiosos,
relíquias de São José de Anchieta, entre outros artigos históricos.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 55


Figura 20 - SANTUÁRIO NACIONAL DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA

Fonte: Santuário Nacional de São José De Anchieta, 2014.

Nas imediações do Colégio Maria Mattos, objeto de estudo do corrente trabalho, estão
localizadas as principais edificações do município, como é apresentado na Figura 21 a
seguir.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 56


Figura 21 - PRINCIPAIS EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS DA CIDADE

Fonte: Google Earth, 2021 - adaptado pela autora.

O Santuário Nacional de Anchieta já apresentado acima é a construção mais antiga da


cidade e se localiza próximo ao Colégio Maria Mattos. No Hotel Anchieta, conhecido
como Centro Cultural Anchieta, gerenciado pela prefeitura, funciona atualmente a Escola
Irmã Terezinha Godoy de Almeida. A escola, desde 2000, funcionava no prédio do
Colégio Maria Mattos, porém há dois anos foi impedida de continuar seu funcionamento
por falta de manutenção e por isso as atividades da referida escola foram transferidas
para o Centro Cultural Anchieta. O Hotel Anchieta (Figura 22) foi o primeiro da região e
quando foi fundado, por Dom Helvécio em 1940, recebia os pais das alunas que
estudavam no Colégio Maria Mattos. O hotel atingiu seu auge nos anos 60 e 70 e se
tornou reconhecido no Espírito Santo, recebendo muitas autoridades, como
governadores e vice-presidentes. É localizado em frente a baía e possui vista para o
Santuário Nacional que fica acima do Hotel. (ANCHIETA, 2017a)

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 57


Figura 22 - CENTRO CULTURAL ANCHIETA

Fonte: ANCHIETA, 2017a.

Com o passar do tempo, o Hotel encerrou suas atividades e ficou em estado de abandono
total. Em 2012, o edifício passou por uma obra de restauro e mudança de uso para um
Centro Cultural. O prédio faz parte da memória histórica da cidade e foi reformado para
abrigar eventos, cursos, apresentações, tornando um atrativo cultural para Anchieta,
porém, com a demanda de um espaço para comportar a Escola Irmã Terezinha Godoy
de Almeida, foi adaptado para exercer essa nova função.

A Agenda 21, plano estratégico elaborado pelo Município de Anchieta em 2006,


evidencia algumas edificações representativas no âmbito histórico e artístico da cidade.
A Figura 23 foi elaborada a fim de sintetizar e localizar tais edificações históricas do
município.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 58


Figura 23 - EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS DA CIDADE DE ANCHIETA/ES

Fonte: Agenda 21, 2006, Google Earth, 2021 - diagramado pela autora.

Como apresentado, na Figura 22, o Colégio Maria Mattos, Santuário Nacional de


Anchieta, Museu Nacional de Anchieta, Hotel Anchieta, Capela de Nossa Senhora da
Penha, Poço do Coimbra, Casa da Cultura, Antigo Armazéns do Porto, Antigo
Chuveirinho e o Antigo Quitiba Club são edifício históricos relevantes para a história da
cidade de Anchieta. O Chuveirinho e o Quitiba Club eram clubes de dança que faziam
parte do lazer dos moradores, porém hoje não funcionam mais.

A Agenda 21 (2006) apresenta alguns eventos e manifestações culturais que ainda são
presentes no cotidiano dos moradores da cidade, tais como:
- Festa Nacional de São José de Anchieta: realizada em 09 de junho, data comemorativa
da cidade.

- Passos de Anchieta: Roteiro religioso de 100 quilômetros que resgata a trilha


percorrida por São José de Anchieta. Cerca de 3 mil fiéis brasileiros e estrangeiros se
deslocam da Catedral Metropolitana de Vitória e finaliza a caminhada no Santuário de
São José de Anchieta (ANCHIETA, 2019).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 59


- Procissão Marítima de São Pedro: Evento tradicional em comunidade de pescadores.
Com embarcações que percorrem a praia de Anchieta para comemorar o dia de São
Pedro, considerado protetor dos pescadores.

- Congo: Manifestação cultural dedicada a São Benedito que possui origem afro
descente e está no roteiro de eventos da cidade.

- Passos do Imigrante: Resgate do caminho feito pelos imigrantes que parte de Anchieta
sede em direção ao distrito de Alto Pongal.

- Jaraguá: Tradição folclórica da cidade em época de carnaval. Um grupo de homens


fantasiados com caveira de cabeça de cavalo coberta por musgos.

- Artesanato: Trabalho manual com matéria-prima natural da cidade, como conchas,


fibras, escamas de peixes, resultando em peças decorativas, cestas, esteiras e
luminárias.

Além das visitas aos edifícios históricos, apreciação das belezas naturais e manifestações
culturais presentes no cotidiano dos turistas e dos moradores, Anchieta possui uma
agenda de eventos movimentadas para completar o turismo e o lazer do município. A
Prefeitura de Anchieta promove eventos nacionais e municipais durante todo ano, como
campeonato de esportes, Festival de Verão com shows nacionais, Carnaval, Festa da
Agricultura, Festa de São Pedro, Feira de Negócios (Promove), Festival de Frutos do Mar
de Iriri, reunindo seus moradores e turistas (ANCHIETA, 2019).

Apesar de Anchieta ser detentora de muitas belezas naturais, históricas e ter uma cultura
muito presente na vida de seus moradores, a cidade ainda carece de espaços públicos
e de práticas sociais que reforcem sua beleza, cultura e história. Esse panorama engloba
a ineficiência dos poucos espaços públicos existentes no município, bem como a
deterioração, falta de manutenção e a ausência de um local que propõe acesso à cultura,
a história e atividades de lazer. Além disso, a cidade é muito dependente de ações
municipais para qualquer intervenção em sua área, embora essas ações aconteçam, até
hoje não foi proposto um espaço cultural de qualidade a ponto de envolver a população,
sendo necessário uma parceria público-privada para de fato ser instituído um espaço

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 60


público de qualidade. Diante deste cenário, este trabalho visa propor um projeto de
intervenção no prédio do Colégio Maria Mattos transformando-o em um centro cultural
que reforce a história do colégio, bem como do município, sendo um espaço público que
propõe acesso a cultura e ao convívio social aos moradores da cidade.

4.2 O COLÉGIO MARIA MATTOS

Idealizado por Dom Helvécio Gomes de Oliveira e administrado pelas denodadas


religiosas Irmãs Carmelitas da Divina Providência, o Colégio Maria Mattos (Figura 24) foi
fundado em 1932. Sendo a primeira escola do interior do Espírito Santo, onde alunos de
todas as partes do Brasil vinham estudar (GONÇALVES, 1996).

Figura 24 - COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: IBGE, 1983.

Dom Helvécio foi fundador do Colégio Maria Mattos, nasceu na cidade de Anchieta no
ano de 1876. Padre salesiano e arcebispo católico brasileiro, sua vida firmada na fé,

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 61


detinha como objetivo e legado atrair os jovens em busca de melhor instrução
educacional. Em razão do seu amor à terra natal, fundou o colégio para que os jovens da
cidade tivessem acesso à educação sem ter que se deslocar para outra localidade. Em
homenagem a sua mãe, intitulou o colégio com seu nome, Maria Mattos (COLÉGIO
MARIA MATTOS, 1997).

A história da congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência se iniciou quando


a Madre Maria das Neves resolveu dedicar sua vida a serviço de Deus, dos pobres e dos
enfermos, no limiar do século XX. Em 2 de dezembro de 1899, a resolução foi oficialmente
aceita pela igreja, onde outras irmãs juntaram-se a ela, se organizando e definindo-se
como Congregação Religiosa. Sendo assim, como membros de uma igreja atenta a
necessidades das pessoas, as irmãs realizavam trabalhos pastorais, de acordo com suas
possibilidades. Seus trabalhos eram diversificados conforme a vocação do grupo, sendo
estes relacionados a educação de jovens e adultos, em educandários, colégios,
comunidades eclesiais; na área da saúde, em hospitais, asilos, postos de saúdes e na
pastoral, em obras tradicionais em comunidades inseridas no meio do povo (COLÉGIO
MARIA MATTOS, 1997).

As primeiras Irmãs Carmelitas chegaram na cidade de Anchieta no início do ano de 1932


e em março do mesmo ano iniciaram seus trabalhos em função da educação de meninas
aristocratas com uma pequena escola com 35 alunas matriculadas: 18 no curso primário
e 17 no curso complementar. Em 1938, aconteceu o início das obras do Colégio Maria
Mattos, tendo Dom Helvécio como fundador, sendo inaugurado no ano de 1940. A Figura
25 mostra um desenho e uma pintura em aquarela pintada pela ex-aluna Nazareth
Bezerra Coury da parte antiga da cidade de Anchieta que mostra o Colégio Maria Mattos
e o Santuário Nacional de São José de Anchieta (COLÉGIO MARIA MATTOS, 1997).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 62


Figura 25 - DESENHO E PINTURA EM AQUARELA DA PARTE ANTIGA DE ANCHIETA.

Fonte: COURY, 2021.

Uma escola católica que baseava suas ações educativas nos princípios evangélicos e a
forma Carmelitana de viver na simplicidade. O desejo da escola era formar pessoas
criativas, conscientes, livres e responsáveis, capazes de assumir responsabilidades
pessoais e sociais, colaborando com sua formação e com a construção de uma
sociedade mais fraterna em exercício da cidadania. Além disso, a escola promovia
experiências que desenvolvesse na prática habilidades artísticas, técnicas, esportivas,
descobertas, vivência em grupo, contribui na formação de sua personalidade quanto aos
aspectos psicofísico, cultural e cívico (COLÉGIO MARIA MATTOS, 1997).

Apesar de sua extrema importância para a cidade de Anchieta, não há muitas


informações acessíveis sobre o Colégio Maria Mattos, porém algumas ex-alunas
saudosas pelos tempos que viveram ali guardam imagens e recordações da época.
Sendo assim, foi necessário procurá-las para compreender sobre a vida no colégio.

A primeira a ser entrevistada foi aluna do Colégio Maria Mattos na década de 60, formada
pela Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, especialista em restauração e conservação
fotográfica, Maria de Nazareth Bezerra Coury finalizou sua carreira profissional
trabalhando como restauradora de imagens no Instituto Moreira Sales – RJ. É uma artista
e mora hoje em uma das casas históricas de Anchieta, próximo ao Colégio Maria Mattos.
Faz parte de uma família tradicional da cidade e conheceu o fundador do Colégio Maria
Mattos e do Hotel Anchieta, Dom Helvécio. A Figura 25 evidencia a Nazareth em sua
formatura no Colégio Maria Mattos no ano de 1969.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 63


Figura 26 - FORMATURA - COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

Apaixonada pela cidade e pelo Colégio, Nazareth se dedica na produção de pinturas em


aquarelas para eternizar através de sua arte as memórias da sua vida escolar. A Figura
27 é uma das aquarelas da artista que mostra as alunas realizando tarefas agrícolas e o
Colégio ao fundo.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 64


Figura 27 - PINTURA EM AQUARELA COM ALUNAS DO COLÉGIO MARIA MATTOS.

Fonte: COURY, 2021.

Em conversa com Nazareth, a ex-aluna relata que na época em que cursava o colegial,
as alunas eram divididas entre internas e externas. As internas, advindas de outras
cidades faziam parte do regime de internato, onde estudavam durante o dia e
pernoitavam no alojamento, nas dependências do colégio. Já as externas, eram aquelas
que estudavam durante o dia e retornavam as suas casas, pois suas famílias residiam na
cidade. A Figura 28 faz referência as alunas externas ao lado esquerdo e ao grupo
completo ao lado direito.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 65


Figura 28 - ALUNAS EXTERNAS E INTERNAS DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

Como o Colégio tinha alunas de outras partes do Brasil, o colégio possuía um alojamento
para abrigá-las e de tempos em tempos, seus pais vinham visitá-las e se hospedavam no
Hotel Anchieta, construído por Dom Helvécio a princípio para esse fim. A Figura 29 mostra
o alojamento das alunas no Colégio Maria Mattos.

Figura 29 - ALOJAMENTO NO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: ROSA, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 66


A Figura 30 apresenta mais uma aquarela da ex-aluna Nazareth. É possível observar suas
janelas sequenciadas, cobertura em telha cerâmica, a capela na lateral direita, o
catavento no jardim lateral e suas paredes pintadas em bege claro, a arquitetura do
colégio do alto em vários pontos da área central da cidade.

Figura 30 - PINTURA EM AQUARELA – COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

O Colégio Maria Mattos faz parte do roteiro histórico da cidade de Anchieta e se situa na
parte antiga, próximo ao Hotel Anchieta, Santuário Nacional de Anchieta e as casas
históricas. A Figura 31 é uma aquarela que mostra um panorama da cidade antiga, sendo
possível ver o Colégio.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 67


Figura 31 - PINTURA EM AQUARELA – CIDADE ANTIGA COM O COLÉGIO MARIA
MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

Conforme mencionado, a escola era administrada pelas Irmãs Carmelitas e tinha em seu
calendário momentos religiosos que envolviam as alunas. Em entrevista com a ex-aluna
e ex-professora Suzan Mara Gonçalves Rosa, ela apresenta uma imagem (Figura 32) de
um desses momentos religiosos no pátio central do colégio.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 68


Figura 32 - MOMENTO RELIGIOSO – COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: ROSA, 2021.

Muitas atividades eram realizadas no Colégio, como apresentações, teatro, musicais,


ballet, sapateado, jogos e outras práticas artísticas. A ex-aluna Nazareth, retratou em
uma de suas aquarelas uma partida do jogo de vôlei que era um dos esportes favoritos
das alunas (Figura 33).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 69


Figura 33 - PINTURA EM AQUARELA – ESPORTES NO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

Mais uma atividade que era tradição da cidade e fazia parte do calendário do colégio era
o desfile alegórico em comemoração ao dia da cidade, 9 de junho e o desfile cívico no
dia 7 setembro em comemoração à Independência do Brasil. A montagem de imagem a
seguir (Figura 34) evidenciam esses eventos.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 70


Figura 34 - DESFILES PELA CIDADE DAS ALUNAS DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: ROSA, 2021.

A música sempre esteve em evidência nas atividades realizadas no colégio e a irmã Joana
D’Arc compôs uma homenagem a escola que era cantada nos eventos e um de seus
trechos está a seguir:

Erguida na colina, junto ao mar,


Beijada pela brisa, assim fagueira,
que Escola alegre a nossa, singular
Diversa das demais, alvissareira [...]
Maria Mattos, meu segundo lar!
Jamais esquecerei de ti na vida!
No escrínio d’alma, és geme a rutilar...
Oh! Sê bendita, escola tão querida!
(MELLO, 2021)

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 71


É relevante ressaltar que por um bom tempo o Colégio só matriculava alunas, mas
chegou a um ponto (data desconhecida) que as Irmãs Carmelitas passaram a receber
alunos também.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, também foi realizada entrevistas com uma ex-
aluna, ex-professora do Colégio Maria Mattos, mãe da autora desta pesquisa e grande
motivadora deste trabalho. Edi Teresinha da Silva Sangali de Mello, iniciou sua trajetória
na escola no ano de 1977 e teve grande parte de sua vida dedicada ao colégio, possuindo
muitas recordações. Admiradora do trabalho das irmãs carmelitas, começou cursando a
5ª série no colégio, formou-se em Contabilidade em 1983 e em Magistério em 1985
(cursos técnicos oferecidos na época pelo colégio Maria Mattos). Logo no ano de 1986
foi convidada para dar aula na mesma escola, até o seu fechamento em 1998, porém
deu continuidade na escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida (escola que funcionava no
mesmo prédio no ano de 2000, após o fechamento do Colégio Maria Mattos) e trabalha
nesta escola até hoje.

Os eventos sediados pelo colégio envolviam os alunos e suas famílias, sendo na


maioria das vezes aberto ao público. Feira da Vida, Festa Junina, Feira Cultural, Cantatas
de Natal, Festa de Fim de Ano e Campeonatos Esportivos eram algumas das
comemorações que a escola junto dos alunos preparava durante o ano. Sempre
envolviam a música, o teatro, a dança e práticas artísticas (MELLO, 2021). A Figura 35
reúne algumas recordações desses momentos.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 72


Figura 35 - EVENTOS NO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: MELLO, 2021 – adaptado pela autora.

Em anexo ao colégio existe um salão de festas onde eram realizados eventos do colégio
e da cidade (Figura 36).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 73


Figura 36 - SALÃO DE FESTAS - COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: GOOGLE, 2012 - adaptado pela autora.

Com capacidade para 200 pessoas, o Salão do Maria Mattos era o local que acontecia
a formatura do colégio, apresentações e até mesmo festas de aniversário de alunos do
colégio. A Figura 37 evidencia uma das apresentações musicais, danças e até uma
formatura do ensino fundamental I.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 74


Figura 37 - EVENTOS NO SALÃO DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: MELLO, 2021 – adaptado pela autora.

No ano de 1998, o Colégio Maria Mattos encerrou suas atividades, pois a mensalidade
não era compatível a realidade financeira dos moradores e ainda o município já ofertava
uma educação pública de qualidade e com isso houve uma baixa na procura de vagas
para o ingresso no Colégio (MELLO, 2021).

Com o fechamento do colégio, logo no ano de 2000 o munícipio sofreu com um aumento
na demanda de escolas de ensino fundamental e com a ausência de prédios para sediar
a escola, o estado alugou o edifício que funcionava o Colégio Maria Mattos para dar início
a nova escola estadual, Irmã Terezinha Godoy de Almeida, nome dado a escola em
homenagem a irmã carmelita que faleceu em exercício como diretora do colégio. Em 25
de julho de 2005, a escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida foi municipalizada, pois a
partir desse ano a responsabilidade do ensino fundamental ficou a cargo dos municípios
(MELLO, 2021).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 75


Apesar de ser administrado pela prefeitura, para a comunidade de Anchieta a escola Irmã
Terezinha Godoy de Almeida deu continuidade aos trabalhos desenvolvidos pelo Colégio
Maria Mattos. No entanto, a escola criada precisou seguir as normativas municipais e é
conceituada como uma das melhores escolas de fundamental I e II da cidade, sendo
muito procurada para novas matriculas.

A escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida começou seu funcionamento com muitos
funcionários que estudaram e trabalharam no Colégio Maria Mattos e eles procuraram
dar continuidade nas atividades que vivenciaram ali. Portanto, a nova escola continuou
com a proposta de formar cidadãos críticos e conscientes para a sociedade,
desenvolvendo habilidades artísticas, esportivas, sociais e empreendedoras. A Figura 38
evidencia algumas dessas atividades, sendo elas desfiles, oficinas artísticas, jogos e
esportes.

Figura 38 - ATIVIDADES REALIZADAS NA ESCOLA IRMÃ TEREZINHA GODOY DE


ALMEIDA

Fonte: MELLO, 2021.

Com o intuito de reunir informações dos ex-alunos do Colégio a pesquisa desenvolveu


uma enquete na rede social Instagram para coletar dados relevantes para ser utilizado

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 76


no projeto de Requalificação do Colégio Maria Mattos. Iniciando com uma breve
contextualização do tema do trabalho e a primeira pergunta foi “Você já estudou ou
trabalhou no Colégio?” (Figura 39).

Figura 39 - ENQUETE REALIZADA NO INSTAGRAM SOBRE O COLÉGIO MARIA


MATTOS

Fonte: SANGALI, 2021.

Cerca de 40 pessoas participaram da pesquisa e compartilharam sua experiência com a


escola. A Figura 40 apresenta algumas das respostas dos ex-alunos para a segunda
pergunta que foi “Quais atividades eram realizadas na época que você estudou/trabalhou
lá?”.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 77


Figura 40 - ENQUETE REALIZADA NO INSTAGRAM SOBRE O COLÉGIO MARIA
MATTOS

Fonte: SANGALI, 2021.

As respostas (Figura 40) sobre as atividades que eram realizadas foram basicamente:
feiras culturais, campeonatos, apresentações, acantonamentos, festas juninas, gincanas,
teatro, dança, fanfarra, aulas de músicas, seminários, ballet e projetos de incentivo à
leitura (SANGALI, 2021).

A Figura 41 evidencia a pergunta “O que você mais gostava de fazer por lá?” e suas
respectivas respostas.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 78


Figura 41 - ENQUETE REALIZADA NO INSTAGRAM SOBRE O COLÉGIO MARIA
MATTOS

Fonte: SANGALI, 2021.

As respostas da pergunta (Figura 41) sobre o que os alunos gostavam de fazer por lá
foram basicamente: brincar no pátio central, sentar nas muretas, esportes, atividades
artísticas, subir na pedra, brincar na quadra, escorregar nas barranceiras, brincar no
parquinho, ir até a gruta, aulas de músicas, estudar, feiras, ficar na varanda da capela,
jogar ping pong, comer a merenda da escola e contato com a natureza (SANGALI, 2021).

A Figura 42 apresenta a pergunta e as respostas para “Você tinha um lugar preferido na


escola? Qual?”.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 79


Figura 42 - ENQUETE REALIZADA NO INSTAGRAM SOBRE O COLÉGIO MARIA
MATTOS

Fonte: SANGALI, 2021.

O lugar favorito do Colégio para os alunos que responderam a pesquisa (Figura 42) eram
basicamente: a quadra, o caramanchão, escadas, biblioteca, salão de festas, o pátio
central, pedra ao lado da mesa de ping pong, raízes das castanheiras, corredor, gruta,
jardim lateral, catavento, jardim entre o refeitório e a quadra e a varanda da capela
(SANGALI, 2021).

No ano de 2019, a escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida suspendeu as aulas no


prédio histórico do Colégio Maria Mattos, pois em virtude de problemas estruturais foi
condenada pela Defesa Civil para interromper as atividades no local. O funcionamento
da escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida foi transferido para o prédio do antigo Hotel
Anchieta. Em nota sobre o funcionamento da escola, a Prefeitura de Anchieta informa
que a Secretaria de Infraestrutura estava avaliando as condições do edifício para
providenciar uma manutenção. Ainda em nota, a prefeitura comunica que estava em
negociação com a Congregação das Irmãs Carmelitas para que o município, por meio de
uma cessão, possa administrar o prédio onde funcionou o Maria Mattos, promovendo
assim as interferências necessárias para o funcionamento da escola. (PREFEITURA DE

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 80


ANCHIETA, 2019). O que se sabe no momento é que a Prefeitura de Anchieta tem como
objetivo desapropriar outro terreno na cidade para realocar a Escola Irmã Terezinha
Godoy de Almeida, ou seja, aparentemente não possui interesse no prédio do Colégio
Maria Mattos. Desde então, o prédio histórico do Colégio Maria Mattos se encontra em
estado de desuso e nenhuma ação corretiva foi realizada.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 81


5 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO

Uma das competências para a elaboração de um projeto é o estudo dos condicionantes


físicos do terreno, seu entorno e a análise do próprio edifício.

Seguindo esses aspectos, para dar prosseguimento ao Projeto de Requalificação do


Colégio Maria Mattos, esse capítulo conta com a apresentação da condição atual do
terreno e do seu entorno imediato, bem como as características atuais do edifício.

5.1 ANÁLISE DO TERRENO

A área do terreno possui aproximadamente 7.376 m² e localiza-se no Centro do município


de Anchieta/ES, como a Figura 43 apresenta. Possui uma localização estratégica, pois
além de situar-se no alto do Morro da Penha, o terreno fica próximo ao Santuário Nacional
de São José de Anchieta, o único bem tombado da cidade a nível federal, e seu entorno
possui características morfológicas de uma cidade colonial, considerando o arruamento
estreito, ausência de calçadas e presença de edificações históricas de interesse de
preservação.

Como a área de estudo fica localizada na parte superior da cidade, o gabarito de entorno
pouco interfere, mas as edificações do entorno possuem em geral no máximo 3
pavimentos. O uso predominante do entorno é residencial, mas suas imediações contam
com o Santuário e os demais comércios da parte inferior da cidade que é bem variado
(Figura 43).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 83


Figura 43 - DIAGRAMA DE ANÁLISE DO ENTORNO

Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta e o Arcgis, 2021.

Vale ressaltar que as vias de acesso existentes foram criadas apenas para entrada
e saída das pessoas que visitavam o Colégio Maria Mattos, são duas ruas de mão dupla,
estreitas, sem calçadas e sem sinalização. O primeiro acesso se dá a partir da Avenida
Anchieta, rua de acesso ao Santuário que recebe anualmente visitantes e a caminhada
de peregrinação Passos de Anchieta, sendo um importante eixo de preservação. O
segundo acesso parte do encontro do largo do Santuário e da rua Cristiano Dias Lopes.
Além disso, a Rodovia do Sol (Av. Carlos Lindemberg), via radial que passa pelo litoral
sul capixaba interligando a capital com o sul do estado, é a rua que antecede a Avenida
Anchieta, esta que recebe os veículos que vão em direção ao Santuário e ao Colégio
Maria Mattos (Figura 44).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 84


Figura 44 - ACESSO DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2021.

Para analisar os condicionantes que envolvem o Colégio Maria Mattos foi criado um
diagrama de análise para extrair informações pertinentes ao desenvolvimento do projeto
(Figura 45).

Considerando que a área onde está situado o Colégio compreende a porção com mais
edificações históricas preservadas da cidade sinalizamos a localização dessas que
possuem o uso residencial. Além disso, a Figura 45 também demarca a edificação antiga
do Colégio Maria Mattos (1932) e a parte que foi construída para adaptar a Escola Irmã
Terezinha (2019).

Através do estudo de insolação, constatou-se que fachada leste (parte de trás do colégio)
recebe uma insolação mais amena e a fachada oeste e sul será mais afetada com a

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 85


incidência solar, mas como apresenta o diagrama, o entorno imediato é arborizado e
protege o edifício da incidência solar, proporcionando um clima agradável.

O diagrama de análise dos condicionantes físicos (Figura 45) também destacou os


possíveis acessos ao Colégio Maria Mattos, destacando a Rodovia do Sol em vermelho
e as vistas da cidade baixa para o colégio.

Próximo ao Colégio existe um espaço vazio que faz parte do terreno e é um potencial
para a implantação do estacionamento para os visitantes do Centro Cultural Lugar e
Memória, tal espaço foi destacado na Figura 45.
Figura 45 - DIAGRAMA DE ANÁLISE DE CONDICIONANTES FÍSICOS

Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 86


Localizado no alto do morro o terreno possui uma paisagem singular, com vistas para o
mar e da cidade de Anchieta quase completa. Além disso, seu entorno arborizado valoriza
as paisagens e propõe um ambiente agradável. A Figura 46 evidencia esses visuais que
estão sinalizados no diagrama da Figura 45.

Figura 46 - VISUAIS DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2021.

A localização estratégica no alto do morro permite que o edifício seja visto da parte baixa
da cidade e a Figura 47 mostra como o edifício é visto dos pontos sinalizados no diagrama
físico (Figura 45).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 87


Figura 47 - VISUAIS DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2021.

A Figura 48 compreende 3 diagramas de figura-fundo para ser possível analisar de forma


mais clara a morfologia urbana do entorno do Colégio Maria Mattos (sinalizado em
vermelho). O primeiro apresenta em negativo as ruas com um traçado desordenado e
orgânico, mostrando a ausência de planejamento urbano para a área e a relação com a
topografia. O segundo diagrama evidencia as edificações que foram construídas de forma
irregular e sem seguir os padrões urbanísticos. O último evidencia as áreas livres do
entorno onde é possível ver a preservação da vegetação.

Figura 48 - DIAGRAMA DE FIGURA-FUNDO

Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta, 2021.

Além do caráter morfológico e físico, é necessário analisar o contexto legal que envolve
toda essa área histórica da cidade.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 88


A dissertação de mestrado da autora Tatiana Alvarenga (ALVARENAGA, 2019)
corresponde a um Projeto de Acessibilidade ao Santuário Nacional de São José de
Anchieta e analisa as esferas de proteção existentes para a área de vizinhança da igreja.
O trabalho observa as poligonais de proteção federal, estadual e municipal, comparando-
as entre si. A Figura 49 evidencia os limites e as intercessões dessas poligonais, onde a
federal (evidenciada em azul) é a mais abrangente e chega a contornar o mangue, o rio
Benevente, o Quitiba (bairro da cidade) e outras partes da cidade.

Figura 49 - ANÁLISE DOS LIMITES E INTERCESSÕES DAS POLIGONAIS DE


PROTEÇÃO FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL

Fonte: ALVARENGA, 2019.

Segundo o parecer técnico federal realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e


Artístico Nacional (IPHAN), à respeito da Proposta de Normativa para delimitação de
Poligonal e Setorização da Área de Vizinhança do bem tombado “Igreja Nossa Senhora
da Assunção”, no município de Anchieta/ES, evidencia que todo entorno de bem tombado
deve receber fiscalização e normativas com instrumentos legais para regular a relação

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 89


do ambiente urbano com o patrimônio tombado, amenizando as possíveis interferências
do entorno em relação ao monumento ou sítio histórico (INSTITUTO DO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, 2019).

A Figura 50 é a proposta da poligonal de setorização do entorno feito pela


Superintendência do IPHAN.

Figura 50 - PROPOSTA DE SETORIZAÇÃO DO ENTORNO DO SANTUÁRIO NACIONAL


DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA

Fonte: IPHAN, 2019.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 90


Segundo a proposta de setorização, o Colégio Maria Mattos faz parte da SE-3B – Zona
de Ocupação Controlada que é o setor:

construído por duas manchas descontínuas que apresentam três


importantes características em comum: baixa densidade de ocupação, o
fato de que parte destes setores se implanta em terrenos de cota elevada
[...] e a consequência óbvia desta condição topográfica que é a
possibilidade de interferência direta na ambiência do monumento
(IPHAN, 2019, p.3).

A Tabela 02 apresenta a tabela com as zonas e os instrumentos de limites construtivos


para cada uma delas.

Tabela 2 - TABELA DE LIMITES CONSTRUTIVOS DE CADA SETOR

Fonte: IPHAN, 2019.

Para este trabalho vale a pena ressaltar que o Colégio Maria Mattos faz parte da zona de
proteção de todas as esferas citadas (municipal, estadual e federal), ou seja, apesar de
não ser um patrimônio tombado, os órgãos fiscalizadores o incluem na zona de proteção
por compreender a importância histórica, cultural e social que ele tem para a cidade de
Anchieta. Sendo assim, é necessário seguir os instrumentos legais no desenvolvimento
do Projeto de Requalificação do Colégio Maria Mattos.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 91


5.2 ANÁLISE DO EDIFÍCIO

O edifício antigo possui dois pavimentos e uma planta em formato de “U” onde as
aberturas são voltadas para um pátio interno descoberto. Por volta do ano de 2004, a
escola municipal Irmã Terezinha Godoy de Almeida funcionava no prédio do Colégio
Maria Mattos e a estrutura original não estava suportando o funcionamento dos banheiros
e da cozinha, sendo necessário construir uma nova estrutura para realocar esses
ambientes para atender os alunos. A partir da construção do anexo, o edifício original
passou a ser utilizado para salas de aulas e para o administrativo da escola.
Além disso, existe o salão de eventos na frente do edifício, enumerado na legenda pelo
número 6. A planta baixa a seguir corresponde a estrutura original dos dois pavimentos
do edifício e como foi feita a setorização para atender o funcionamento da escola.

Figura 51 - PLANTA BAIXA ORIGINAL - TÉRREO

Fonte: elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 92


Figura 52 - PLANTA BAIXA ORIGINAL – 1º PAVIMENTO

Fonte: elaborado pela autora, 2021.

O edifício do Colégio Maria Mattos, objeto de estudo deste trabalho, encontra-se hoje em
estado de desuso por uma decisão da Defesa Civil que determinou, em 2019, o
encerramento das atividades no prédio (onde funcionava na época a Escola Municipal
Irmã Terezinha Godoy de Almeida). Considerando a época da construção, ausência de
manutenção e a degradação natural do prédio, o órgão identificou diversas patologias
que oferecem riscos aos usuários e visto que apenas um reparo paliativo não seria capaz
de solucionar o problema e portanto, determinou sua interdição.

O relatório da vistoria técnica realizada em 2020, disponibilizado pela prefeitura, discorre


sobre a razão da interdição (PREFEITURA DE ANCHIETA, 2020). Telhas quebradas,
estrutura da cobertura infestada por cupins, piso estufado, calha obstruída, infiltrações,
trincas e rachaduras são alguns dos problemas encontrados na construção. A Figura 53
apresenta algumas das imagens disponibilizadas no relatório do edifício em um ângulo
geral.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 93


Figura 53 - IMAGENS GERAIS DA CONDIÇÃO ATUAL DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: PREFEITURA DE ANCHIETA, 2020.

Como o prédio é alugado, a Prefeitura de Anchieta reformou algumas vezes o edifício


com soluções paliativas para os problemas questionados pela administração da escola,
porém chegou a um ponto que somente uma reforma geral seria capaz de reestabelecer
o funcionamento. Além disso, esses reparos temporários realizados pela prefeitura não
consideraram o valor histórico da construção, ou seja, não foram executados respeitando
a integridade original do edifício.

Considerando a época da construção e a ausência de manutenção, o prédio passou por


uma degradação natural, impossibilitando a permanência de pessoas até que alguma
reforma total seja realizada. A Figura 54 apresenta diversas patologias que foram
destacadas no relatório técnico da prefeitura.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 94


Figura 54 - PATOLOGIAS ENCONTRADAS NO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: PREFEITURA DE ANCHIETA, 2020.

Considerando a importância histórica do edifício do Colégio Maria Mattos e da atual


situação que o prédio se encontra, este trabalho busca evidenciar os potenciais do
edifício e recuperar sua estrutura original para servir a população de Anchieta como
espaço de interação social, através de um Centro Cultural.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 95


6 PROPOSTA PROJETUAL

O capítulo vigente apresenta a proposta projetual para o Centro Cultural Lugar e Memória
no Colégio Maria Mattos, Anchieta/ES que foi desenvolvido através do embasamento
teórico e analítico obtido nos capítulos apresentados anteriormente. Considerando o valor
social, histórico e cultural que o Colégio representa para os munícipes da cidade, este
trabalho visa desenvolver um ensaio projetual de requalificação do edifício do Colégio
Maria Mattos, a fim de abrigar um centro cultural com o objetivo de ampliar a oferta de
espaço público na cidade, valorizar o encontro e retomar os valores perdidos com a
degradação do prédio.

6.1 DIRETRIZES PROJETUAIS

Através do referencial teórico, dos estudos de casos e da análise da área de estudo


apresentados nesta pesquisa foi possível reconhecer premissas importantes para o
projeto em questão. Sendo assim, para dar prosseguimento a proposta arquitetônica do
Centro Cultural Lugar e Memória foi elaborado uma tabela síntese com as
potencialidades, vulnerabilidades, diretrizes e ações para serem aplicadas no projeto
(Tabela 03), onde a potencialidade é tudo aquilo que engloba o projeto e possui uma
qualidade para ser explorada, a vulnerabilidade é a fragilidade existente em que o projeto
deve amenizar, a diretriz é aquilo que direciona a ação e por fim vem a ação que se baseia
nas diretrizes para valorizar ou amenizar os pontos resultantes da análise das
potencialidade e vulnerabilidades de maneira a agregar no projeto final.

Tabela 3 - DIRETRIZES E AÇÕES


POTENCIALIDADES VULNERABILIDADES DIRETRIZES AÇÕES
Ausência de calçadas Adotar padrões de acessibilidade nas ruas
Piso irregular de acesso ao centro cultural
Presença de duas vias
Ausência de sinalização Priorização do
de acesso exclusivo ao Transformar os acessos existentes em uso
pedestre
MOBILIDADE

centro cultural para o pedestre restrito a pedestre, ciclistas e embarque e


Vias estreitas desembarque de veículo para o acesso ao
Iluminação precária centro cultural
Sinalizar o acesso ao centro cultural através
Via de acesso
de placas informativas
conectada a Rodovia Ausência de sinalização Informar o condutor
Diferenciar ruas de acesso com pisos
do Sol
diferentes, ciclovia e árvores.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 97


Ofertar serviço de bicicleta de
Oferta de transporte Incentivar o uso de
compartilhada
público próximo ao Ausência de ciclovia transporte coletivo e
Conectar a ciclovia da orla com uma nova
centro cultural não motorizado
ciclovia para acesso ao centro cultural
Adotar padrões de acessibilidade nas ruas
Possibilitar o acesso de acesso ao centro cultural
Situada na parte alta Ausência de
inclusivo ao centro Permitir a subida de carros para embarque
da cidade acessibilidade
cultural e desembarque para pessoas com
deficiência física e mobilidade reduzida
Sinalizar a localização do centro cultural
Localização próxima a Ausência de sinalização Informar os usuários
através de placas informativas e
área de interesse para visita ao centro da presença do
diferenciação no tratamento das vias de
histórico cultural centro cultural
acessos
USO DO SOLO

Espaço vazio próximo


Adequar uso para Utilizar o espaço como estacionamento do
ao centro cultural
Sem controle de uso servir ao centro centro cultural restringindo o uso apenas
usado para
cultural para visitantes e funcionários
estacionamento
Reestabelecer a
Interditado devido a
Edifício com amplo e estrutura para tornar
degradação de sua Reformar a estrutura preexistente
com boa estrutura apta para o
estrutura
funcionamento
Destinar salas e lojas do centro cultural para
Diversos artistas na Incentivar e valorizar exposição e vendas de produtos locais
Pouco incentivo a arte
cidade os artistas locais
Realizar de eventos para exaltar a arte local
Criar circuito cultural através da ida ao
Ausência de sinalização
Santuário e ao Centro Cultural Lugar e
para o centro cultural
SOCIOECONÔMICO

Rota percorrida por Memória


Potencializar o
visitantes e turistas Criar mapa de implantação do Centro
turismo
para o Santuário Pouco incentivo Cultural informando os setores do edifício
turístico Ofertar espaços agradáveis de
permanência para os visitantes
Criar lojas e restaurantes destinados a
Conjunto de comércios Pouco incentivo a Incentivar o comércio comerciantes locais
e produtores locais economia local local Criar calendário de eventos para estimular o
comercio local
Edifício em estado de
desuso Retomar os valores
Riqueza histórica do Recuperar a estrutura e manter a
Diversas patologias perdidos com a ação
edifício integridade original do prédio histórico
do tempo
SOCIOCULTURAL

Degradação e
descaracterização
Criar elementos sensoriais para emocionar
alunos e funcionários que possuem relação
Descaso com o valor Resgatar e fortalecer com o colégio
Importância social do
social dos alunos e a memória afetiva do Criar espaços que relembre a vida no
colégio
funcionários lugar colégio
Valorizar os espaços preferidos dos alunos
do colégio
Ausência de vegetação
no pátio central
Arborização densa e Valorizar os Propor paisagismo para o pátio interno com
Ausência de área
variada elementos naturais vegetação e área permeável
permeável no pátio
central
AMBIENTAL/PAISAGÍSTIO

Ausência de Criar espaços de contemplação para


Visuais importantes Valorizar as visuais
valorização das visuais valorizar as visuais
Ausência de espaços
Criar espaços agradáveis com mobiliários
agradáveis para
que estimulem a permanência
permanência Propor conforto e
Presença de espaços
longa permanência Propor iluminação adequada a nível do
livres Iluminação precária
aos visitantes pedestre
Ausência de mobiliário Criar mobiliário com desenho único para o
urbano centro cultural
Rochas naturais em
Presença de rochas Valorizar os Criar ambientes agradáveis entorno das
locais pouco
naturais elementos naturais rochas
valorizados
Fonte: elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 98


A Tabela 03 sintetiza as ações que devem ser aplicadas no projeto nos aspectos da
mobilidade para garantir o acesso inclusivo e seguro a todos, do uso do solo para
aproveitar os espaços existentes, no ponto de vista socioeconômico com o intuito de
valorizar os comerciantes locais e o turismo, sociocultural para fortalecer a memória
afetiva do lugar e ressaltar a beleza do edifício e por fim no âmbito ambiental e paisagístico
a fim de acentuar a natureza existente, os espaços livres e as visuais do edifício.

6.2 CONCEITO E PARTIDO

Considerando a importância do edifício para toda a cidade de Anchieta e ex-alunos do


Colégio Maria Mattos o conceito escolhido para o projeto do Centro Cultural não poderia
ser outro a não ser a exaltação da memória afetiva pelo Colégio Maria Mattos e por toda
a história que se passou no edifício. A ideia é que o visitante sinta a experiência única que
foi fazer parte do Colégio Maria Mattos e experimente de perto como e o motivo daquele
espaço ser tão importante para tantas pessoas que tiveram suas vidas transformadas ali.
O conceito é justamente enaltecer as memórias que foram construídas desde 1932 e não
podem morrer com o passar do tempo. É preciso eternizá-las para que a herança afetiva
seja consolidada para as futuras gerações.

Com base em toda a pesquisa e nos depoimentos de vários ex-alunos e pessoas


envolvidas com o colégio, o projeto propõe valorizar os espaços e as atividades que eram
presentes na época do Colégio Maria Mattos para de fato relembrar e reviver esses
momentos. Sendo assim, a proposta conta com um programa de necessidades que
atenda essas atividades e ambientes agradáveis para o encontro que permitam que a
experiência desse tempo reviva no coração dos visitantes.

Para gerar a ativação da memória detalhes foram resgatados, como por exemplo o lugar
do sino, a gruta, o catavento e outros pontos que faça com que o ex-aluno relembre e o
visitante conheça a vida no antigo colégio. Sendo assim, o conceito do projeto se baseia
na memória e na vivência do antigo Colégio Maria Mattos e o partido no resgate de
elementos que correspondem com essa época.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 99


Vale a pena ressaltar que a linguagem dos materiais e dos elementos a serem acrescidos,
fora a estrutura original do edifício, possuem uma linguagem totalmente contemporânea
com o objetivo de fazer o contraste do novo com o antigo. Essa escolha foi baseada nos
princípios de alguns teóricos do campo disciplinar do patrimônio histórico, assim como
do autor Carbonara, citado nesta pesquisa no capítulo 2, que discorre sobre a inserção
da arquitetura contemporânea em monumentos preexistentes. Nenhuma intervenção que
foi proposta teve o intuito de falsear os elementos antigos ou cometer um falso histórico,
pelo contrário, o objetivo foi justamente valorizar a estrutura antiga e as partes acrescidas
terem uma linguagem contemporânea para diferenciar do antigo.

A Figura 55 ilustra o moodboard com os elementos e materiais que foram utilizados no


projeto do Centro Cultural Lugar e Memória. A madeira foi um material que foi explorado
de várias formas, em decks, guarda corpo, como painel ripado e outros elementos que
estarão presentes nas imagens em 3D. Além disso, uma cor que foi muito aplicada no
projeto foi a bordô que é um tom presente nos revestimentos existentes do Colégio, nos
uniformes dos alunos e que foi resgatada em várias superfícies por esse motivo. O piso
escolhido para as áreas externas foi placas menores de concreto em um tom natural e
mais claro. A vegetação também foi muito explorada no projeto para proporcionar
passeios agradáveis aos visitantes. A curadoria dos mobiliários do projeto foi feita visando
um design contemporâneo e limpo.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 100


Figura 55 - MOODBOARD

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

6.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES

O programa de necessidades foi baseado nas atividades que eram realizadas na época
do funcionamento do Colégio Maria Mattos e os usos foram escolhidos de acordo com a
necessidade da cidade de Anchieta visando o resgate da memória e a oferta de um
espaço público agradável para os visitantes. A proposta visa utilizar as instalações
internas do edifício com atividades socioculturais voltadas ao público, mas também
viabilizar o uso das áreas externas como forma de aumentar a oferta de espaços de lazer
e encontro para a cidade. A Tabela 04 destaca os setores com seus respectivos
ambientes que irão ser ofertados no Centro Cultural e que posteriormente irão ser
apresentados da planta baixa de setorização.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 101


Tabela 4 - PROGRAMA DE NECESSIDADES
SETOR AMBIENTES PAVIMENTO
1. Memorial
2. Recepção
3. Pátio Central
4. Capela
5. Café
6. Exposição de Arte
7. Loja
8. Bistrô Térreo
Setor Entretenimento 9. Deck de Contemplação
10. Gruta
11. Espaço Infantil
12. Espaço para Piquenique
13. Quadra
14. Jardim Lateral
15. Pomar/Horta
16. Auditório 1º Pavimento
17. Sala de Aquarela
Térreo
18. Sala de Cerâmica
19. Sala de Música
Setor Educacional
20. Sala de Ballet/Dança
1º Pavimento
21. Coworking
22. Biblioteca Municipal
23. Coordenação Administrativa
Térreo
24. Apoio Administrativo
25. Diretoria
Setor Administrativo
26. Coordenação Técnica
1º Pavimento
27. Museologia
28. Serviço Educativo
29. Almoxarifado
30. Sanitários
31. Limpeza
Térreo
32. Estacionamento
Setor de Serviços
33. Guarita
34. Copa/Vestiário
30.Sanitários
1º Pavimento
31.Limpeza
Fonte: elaborado pela autora, 2021.

O setor de entretenimento é direcionado aqueles ambientes que são de livre acesso aos
visitantes do Centro Cultural, envolve espaços internos e externos. O memorial fica no
mesmo espaço que a recepção e são os primeiros ambientes a serem visitados, onde o
primeiro abrigará registros do Colégio Maria Mattos e a recepção funcionará para
informar os visitantes. O pátio central será um espaço para os visitantes caminharem,
sentar nos banquinhos, aproveitarem ao ar livre e para a realização de eventos da região.
A capela será direcionada a cerimônias e a visitas os usuários do Centro Cultural. O café
e o bistrô são ambientes importantes para o empreendimento, tanto para movimentar a
economia como para oferecer aos visitantes uma boa experiência gastronômica. As salas
de exposição de arte serão direcionadas aos artistas locais que tenham vontade de expor
suas obras. Para valorizar o comerciante local uma das salas será direcionada ao uso de

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 102


loja para a venda de produtos da região, como artesanato, cerâmicas, roupas, produtos
caseiros, entre outros. A gruta é um elemento que sempre existiu no Colégio Maria Mattos
e no projeto do Centro Cultural ela tem uma proposta de espaço para reflexão e
meditação dos visitantes. O salão de eventos tem capacidade para cerca de 150 pessoas
e abrigará o auditório do Centro Cultural para a realização de eventos, aulas de teatro e
outras apresentações. Além desses, temos decks, espaço para piquenique, parquinho,
quadra e jardins que são localizados em posição estratégicas para aproveitar os visuais,
vegetação e elementos naturais com o intuito de proporcionar ao usuário uma
experiência agradável.

O setor educacional oferece aulas de dança, música, ballet, aquarela e cerâmica que
foram atividades muito presentes na vida dos alunos do Colégio Maria Mattos e a cidade
possui essa demanda direcionada aos moradores. O projeto propõe que esse setor seja
administrado por iniciativa privada e essas salas seriam alugadas para professores da
região ministrarem suas aulas. Além disso, o centro cultural conta com salas de
coworking e a biblioteca municipal.

O setor administrativo são ambientes como diretoria, coordenação, apoio, museologia e


serviço educativo que são fundamentais para a gestão do centro cultural. Esse setor será
responsável pela estrutura do Centro Cultural, organização do calendário de eventos,
cadastro dos alunos interessados nas atividades ofertadas, controle dos
estabelecimentos (loja, bistrô e café), administração dos funcionários, logística das salas
de exposição, pelo sistema de reserva das salas de coworking, entre outras atividades.
Por fim, o setor de serviços que são aqueles ambientes responsáveis pelo funcionamento
e limpeza do empreendimento.

6.4 ESTUDO PRELIMINAR

O projeto de requalificação do edifício do Colégio Maria Mattos que propõe o Centro


Cultural Lugar e Memória para a cidade de Anchieta dispõe de um estudo preliminar para
apresentar a proposta conceitual do projeto seguindo aspectos que priorizem a

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 103


funcionalidade, a estética garantindo aos visitantes um passeio agradável e cheio de
memórias para guardar.

O nome escolhido para o Centro Cultural foi “Lugar e Memória” para enfatizar que o
edifício que abrigou o Colégio Maria Mattos não é um prédio qualquer e sim um lugar que
abriga muitas memórias, fazendo também a alusão ao autor Pierre Nora, citado nesta
pesquisa que discorre sobre os lugares de memórias que são espaços como esse.

Vale a pena relembrar que o objetivo deste trabalho é transformar a realidade atual do
edifício em espaços convidativos de permanência e convivência pensando na
necessidade do público alvo que são os moradores e turistas da cidade de Anchieta,
oferecendo atividades e ainda proporcionar o resgate dos pontos simbólicos que o
edifício em questão foi testemunho na época do Colégio Maria Mattos.

O projeto propõe que a gestão e manutenção do Centro Cultural sejam realizadas através
de uma parceria público privada. Serviços de reformas serão necessários no primeiro
momento para reestabelecer a estrutura original do edifício e adaptá-lo ao novo uso. As
salas destinadas as aulas de aquarela, cerâmica, música, dança, salas de coworking,
cafeteria, loja e bistrô poderão ser alugadas para professores e comerciantes locais,
garantindo lucro ao empreendimento e a economia da região.

A implantação do Centro Cultural Lugar e Memória foi elaborada para apresentar a


proposta como um todo em uma escala macro que engloba acessos, estacionamentos,
áreas externas e internas e o paisagismo existente e proposto.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 104


Figura 56 - IMPLANTAÇÃO

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 105


O visitante tem duas opções de acesso. A primeira é pela parte central da cidade onde
foi proposto um estacionamento e uma guarita para informação, onde o visitante deixa o
carro e sobe a pé até o edifício. E a segunda opção é pelo bairro Morro da Penha que é
possível chegar ao Centro Cultural de carro, mas não estacionar, pois as vagas propostas
são para embarque e desembarque, carga e descarga ou para idosos e pessoas com
deficiência física e mobilidade reduzida. A ideia é que os visitantes subam a pé e apreciem
o caminho agradável sombreado pelas copas das árvores.

O acesso secundário é feito pelo jardim lateral arborizado onde possui espaços
agradáveis, assim como o catavento e o caramanchão que são elementos que foram
resgatados da época do Colégio Maria Mattos e que nesse projeto possuem uma
linguagem estética contemporânea. Inclusive, a proposta de resgatar o catavento é para
reaproveitar o seu trabalho cinético para o fornecimento de energia eólica para abastecer
parte da iluminação das áreas externas.

A parte de trás do centro cultural conta com espaços ao ar livre para as crianças,
gramado para piquenique, quadra, resgate da gruta com lago para meditação e um deck
de contemplação para o visitante apreciar a vista.

Vale a pena evidenciar que a vegetação existente foi preservada e ainda algumas foram
propostas para completar o paisagismo do Centro Cultural para atrair ainda mais
natureza para dentro da cidade proporcionando ambientes agradáveis aos visitantes.

A planta baixa a seguir corresponde ao pavimento térreo com a setorização do edifício e


das áreas externas identificadas e os acessos da proposta.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 106


Figura 57 - SETORIZAÇÃO - TÉRREO

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 107


O pavimento térreo abriga muitos espaços livres como o largo da entrada com decks,
vegetação, bancos, o jardim lateral que retoma o catavento que sempre existiu no colégio
e foi retirado com passar dos anos, o pomar e a horta, o pátio central e ainda o jardim
inferior que possui bancos, gruta para meditação, parquinho e espaço para piquenique.

Além do acesso para o auditório, há mais dois acessos que o visitante pode adentrar ao
edifício, um pelo jardim lateral, considerado o secundário e o acesso principal que é a
entrada da recepção e do memorial. O visitante que entrar pelo memorial terá a
oportunidade de conhecer de primeira a história do Colégio Maria Mattos e entenderá o
motivo de ser tão querido por tantos. Após conhecer as memórias guardadas no edifício,
o visitante poderá aproveitar dos outros espaços do centro cultural, como o pátio central,
tomar um café, visitar a capela, contemplar a exposição de arte, visitar a loja, o bistrô,
apreciar as paisagens e usufruir da área externa.

Vale salientar que todos os fluxos percorridos pelos visitantes contemplam acessibilidade
por meio de rampas e plataforma de elevação. O pavimento térreo do Centro Cultural
conta com dois blocos de banheiros, contando com banheiros acessíveis e também com
dois blocos de circulação vertical para acesso ao 1º pavimento por meio de escadas e
elevadores.

A seguir apresenta a planta baixa do 1º pavimento assim como a setorização proposta


para o projeto do Centro Cultural Lugar e Memória.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 108


Figura 58 - SETORIZAÇÃO - 1º PAVIMENTO

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 109


O 1º pavimento do Centro Cultural contempla os ambientes de sala de música e dança,
que são práticas que existiam na época do Colégio Maria Mattos e a cidade de
Anchieta possui moradores interessados nessas atividades. Professores de dança e
música da região poderão dar aulas nessas salas e as aulas poderão ser agendadas na
recepção.

As salas de coworking presentes também nesse pavimento são destinados aquelas


pessoas que precisam de um espaço com estrutura para reuniões, aulas de reforço
escolar ou algo semelhante e a reserva do espaço será feita também na recepção do
prédio.

A biblioteca municipal de Anchieta funciona em um imóvel alugado pela prefeitura e


esse projeto dispõe de um espaço adequado para a acomodação da biblioteca aberta
ao público.

Os visitantes do centro cultural que desejam visitar o primeiro pavimento terão a


oportunidade de conhecer a biblioteca e observar pelas janelas do alto o espaço do
térreo.

Além disso, temos o auditório que será utilizado para a realização de eventos e
apresentações que poderão ser sediados tanto pelos alunos do centro cultural como
pelos moradores de Anchieta que desejarem.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 110


As imagens tridimensionais a seguir ilustram a proposta para o Centro Cultura Lugar e
Memória, evidenciando a relação do novo com o preexistente e valorizando os pontos
simbólicos do Colégio Maria Mattos.

Para receber os visitantes foi proposto um pórtico de entrada com um estacionamento e


uma guarita para informações (Figura 59). A ideia é que o visitante deixe seu carro
estacionado e suba a pé até o Centro Cultural Lugar e Memória, considerando que apesar
do percurso ser inclinado é possível subir sem se desgastar e ainda aproveitar o caminho
arborizado. Para aqueles que preferirem ou para pessoas com deficiência e mobilidade
reduzida foi proposto um segundo acesso com vagas para cadeirante, idoso ou para
embarque e desembarque no nível do centro cultural.

Vale reforçar que as construções novas que foram propostas possuem uma linguagem
contemporânea para não cometer falso histórico, seguindo as ideias de Carbonara
(2011) quando trata da relação do novo com o antigo.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 111


Figura 59 - ESTACIONAMENTO E GUARITA

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 112


Figura 60 - CHEGADA

Após a chegada ao
centro cultural, o
visitante é recebido com
um deck de
contemplação,
mobiliário para sentar,
vegetação e o edifício
que o convida para
adentrar tanto pelo
memorial ou pelo jardim
lateral (Figura 60).

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 113


Figura 61 - FRENTE DO CENTRO CULTURAL Além disso, logo na chegada está o
auditório que teve sua arquitetura
mantida e recebeu uma intervenção
na parte da escada e foi acrescido
a plataforma elevatória para
garantir a entrada acessível. Na
imagem a seguir também mostra
aos fundos o segundo acesso que
corresponde a uma rotatória com
vagas para cadeirante, idoso e
vaga para carga e descarga e
embarque e desembarque. O deck
que aparece na imagem na lateral
esquerda propõe uma parada de
contemplação sombreada pela
árvore existente de copa ampla e
Fonte: Elaborado pela autora, 2021. ainda por uma cobertura em
madeira que se localiza onde era
antigamente o caramanchão da
escola (Figura 61).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 114


Figura 62 - FRENTE DO CENTRO CULTURAL

A frente do edifício
dispõe de um deck
com bancos sugerindo
ao visitante a adentrar
ao edifício. Nessa
parte foi proposto um
painel instagramável
com o nome do Centro
Cultural que funciona
como um plano de
fundo para os
visitantes tirarem fotos
(Figura 62).

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 115


Figura 63 - MEMORIAL

O visitante que optar por adentrar ao


edifício pela entrada principal irá
encontrar a recepção e o memorial do
Centro Cultural. O memorial foi pensado
para ser um espaço que reúna
memórias do Colégio Maria Mattos para
que o visitante entenda o motivo
principal da valorização daquele edifício
que ele está conhecendo e para que
aqueles que já conhecem a história
relembrar e reviver um pouquinho
daqueles momentos novamente. A
imagem a seguir mostra a recepção na
lateral direita e o memorial na lateral
esquerda. A parede do centro da
Fonte: Elaborado pela autora, 2021.
imagem possui o nome gravado de
alguns dos ex-alunos do Colégio Maria
Mattos para representar o nome de
tantos outros que também passaram
pelo colégio (Figura 63).

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 116


Figura 64 - RECEPÇÃO

A recepção foi envolvida com um


pórtico de madeira ripada e possui
um balcão de apoio com cadeiras de
espera. Uma cor que foi muito
explorada nesse ambiente foi o
bordô que é um tom emblemático
para o colégio, pois sempre esteve
presente nos revestimentos, nos
bancos do pátio e até no uniforme
dos alunos. A recepção foi criada
para informar os visitantes e também
atender aquelas pessoas que
desejam usufruírem das atividades
oferecidas no Centro Cultural.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 117


Figura 65 - MEMORIAL

Logo ao lado da porta de


entrada temos um totem
eletrônico informativo como
uma espécie de guia para
direcionar o visitante dentro
do prédio. Ao caminhar até o
centro do ambiente o
visitante irá encontrar uma
maquete física do centro
cultural também para
informar sobre as partes
constituintes do edifício e
para ser mais uma forma de
eternizar a construção desse
edifício importante.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 118


Figura 66 - MEMORIAL

O objetivo desse espaço foi


justamente reunir as memórias
afetivas que hoje viraram
saudade. Sendo assim, através
de um levantamento de
imagens, relatos e histórias de
ex-alunos do colégio foi possível
reunir fotos de vários momentos
especiais e foi criado um painel
para abrigar essas recordações.
Além desse painel, a Figura 66
a seguir mostra o pórtico que foi
criado com portas pivotantes
para convidar o visitante a
continuar o percurso.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 119


Figura 67 - PAINEL DE RECORDAÇÕES

A Figura 67 a seguir mostra as


fotos de momentos reais dos
alunos do Colégio Maria
Mattos, tem algumas mais
antigas e outras mais novas,
fotos de eventos, das
atividades do dia a dia e de
apresentações anexadas ao
painel da memória que possui
a frase “recordar é viver” para
instigar ao visitante a voltar no
tempo ao apreciar aquelas
imagens.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 120


Figura 68 - PAINEL DE RECORDAÇÕES

Seguindo com o objetivo de eternizar as


memórias no espaço do Memorial foi
criado um painel com o nome, foto e
biografia de algumas personalidades
importantes que foram cruciais para o
Colégio Maria Mattos. Dentre essas
personalidades se encontram Madre Maria
das Neves que foi a fundadora da
Congregação das Irmãs Carmelitas da
Divina Providência, Dom Helvécio fundador
do Colégio Maria Mattos, Irmã Silvia
professora de música e de geografia, Irmã
Maria do Carmo professora de religião e
geografia, Irmã Ignez foi a última diretora
do Colégio, Irmã Tarcísia professora de
Língua Portuguesa e diretora, Irmã Sônia
diretora e Irmã Isolete que foi professora
Fonte: Elaborado pela autora, 2021. de psicologia e diretora.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 121


Figura 69 - PAINÉIS COM A HISTÓRIA DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Do outro lado temos 3


painéis que contam um
pouco da história do
Colégio Maria Mattos
para os visitantes se
informarem.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 122


Figura 70 - PAINEL INTERATIVO

No centro do memorial
foi criado um painel
interativo com a
mensagem “guarde aqui
a sua memória” para os
visitantes que tiverem
vontade de anexar uma
mensagem, fotos ou
qualquer coisa que
relembre da época do
colégio.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 123


Figura 71 - HALL DE CIRCULAÇÃO VERTICAL

Nesse mesmo ambiente


encontra-se o hall de
circulação vertical para o
acesso ao pavimento
superior com escada e
elevador, assim como, o
acesso aos sanitários que
se localiza abaixo da
escada.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 124


Figura 72 - VISTA DO ALTO DO CENTRO CULTURAL

Voltando ao jardim lateral que sugere um


acesso secundário, o visitante passa por
uma guarita de informação e por pórticos
de madeiras que o recepciona para
adentrar ao jardim. Esse espaço dispõe de
dois elementos simbólicos para o Colégio
Maria Mattos. O primeiro é o catavento que
foi retirado há alguns anos atrás, mas que
sempre foi lembrado no jardim e esse
projeto retoma com ele na mesma posição
e com a proposta de reutilizar sua força
cinética para a produção de energia eólica
para abastecer parte da iluminação das
áreas externas. E o segundo foi o
Fonte: Elaborado pela autora, 2021. caramanchão que com o passar do tempo
foi destruído, e o projeto propõe um
caramanchão no mesmo lugar e com a
mesma proposta que é ser um lugar para
sentar, conversar apreciando a vista, mas
com uma linguagem contemporânea.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 125


Figura 73 - VISTA DO CARAMANCHÃO

O caramanchão sempre foi um


elemento muito emblemático para
a escola, além do visual que era
possível apreciar, era um lugar de
muita conversa e este projeto não
poderia deixar de traze-lo de volta
para continuar sendo testemunhos
de momentos agradáveis. Com o
passar do tempo, o caramanchão
foi sendo destruído e o projeto
propõe uma releitura
contemporânea desse elemento
com cobertura em madeira e
guarda-corpo de vidro. A imagem
a seguir mostra ao fundo a visual
Fonte: Elaborado pela autora, 2021. do caramanchão onde é possível
contemplar a vista da praia de
Anchieta e da região central da
cidade.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 126


Figura 74 - ENTRADA SECUNDÁRIA

Após passar pelo


jardim lateral, o
visitante encontra a
capela a esquerda,
o pomar a direita e é
direcionado a uma
escada ou
plataforma
elevatória para
adentrar ao pátio
central.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 127


Figura 75 - PÁTIO CENTRAL

O pátio central é esse espaço amplo


e livre que foi cenário de muita
brincadeira, apresentações e
momentos especiais do Colégio
Maria Mattos. O aluno se sentia livre
ao sair da sala e se deparar com
esse espaço amplo e descoberto. A
proposta desse projeto foi justamente
continuar com essa sensação de
liberdade que o espaço propõe,
apesar de ser rodeado pelo edifício é
um espaço agradável e propõe o
passeio ao visitante. Um detalhe que
não poderia faltar no projeto e que
também é muito representativo do
Fonte: Elaborado pela autora, 2021.
Colégio são esses banquinhos que
dividem a varanda do pátio que
possuem alturas diferentes e sempre
serviram de assentos para os alunos.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 128


Figura 76 - VISTA DE CIMA PARA O PÁTIO CENTRAL

A Figura 76 a seguir é uma


vista de cima para o pátio
central que mostra uma
faixa proposta na
paginação do piso com um
trecho do hino da escola
que é lembrado por todos
os alunos que diz “Maria
Mattos, meu segundo lar!
Jamais esquecerei de ti na
vida! No escrínio d’alma,
és geme a rutilar... Ôh sê
bendita, escola tão
querida!”

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 129


Figura 77 - ESCULTURA

O projeto propõe no pátio


central uma escultura para
os visitantes tirarem fotos
com letras gigantes escrito
“Lugar e Memória Desde
1932” que faz uma alusão
ao nome do centro cultural
que foi escolhido por se
tratar de um lugar com
muitas memórias
juntamente com a data da
fundação do Colégio Maria
Mattos. Além da escultura,
a Figura 77 a seguir mostra
a capela aos fundos.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 130


Figura 78 - PÁTIO CENTRAL

O pátio central e o auditório


do Centro Cultural foram
pensados para serem
espaços para a realização
de eventos da cidade, como
o desfile para a divulgação
do comércio local, eventos
culturais, apresentações
artísticas, palestras,
concursos, entre outros. A
Figura 78 a seguir mostra,
na lateral esquerda da
imagem, um deck que foi
pensado para a
apresentações e, na lateral
direta da imagem, o deck

Fonte: Elaborado pela autora, 2021. para as mesas da cafeteria


do Centro Cultural.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 131


Figura 79 - PÁTIO CENTRAL

Além disso, o pátio central


será utilizado pelos alunos
do Centro Cultural e será
rotineiro encontrar por
acaso uma aluna pintando
sua tela e praticando o que
foi aprendido nas aulas de
pintura ofertadas pelo
edifício. As salas de
aquarela, música, pintura,
dança, salas de coworking,
lojas e biblioteca são
localizadas no edifício que
circunda o pátio.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 132


Figura 80 - SINO

Outro elemento que foi


resgatado da época
do Colégio Maria
Mattos foi o sino que
alertava os horários
aos alunos. A proposta
foi voltar com o sino e
ainda propor ao
visitante a relembrar
os velhos tempos
tocando o sino. Ideias
como essa faz com
que os visitantes
interajam com o
edifício e sinta prazer
em está ali.
Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 133


Figura 81 - BISTRÔ E PAINEL INSTAGRAMÁVEL

A imagem a seguir mostra um painel


instagramável para o visitante tirar
fotos localizado no lugar que tinha
outro caramanchão e que também foi
destruído com o passar do tempo. O
painel em forma de arco possui um
jardim vertical e uma frase que diz
“Quantas memórias cabem no
caramanchão?” para fazer com que o
visitante relembre os momentos que
passou ali. A esquerda aparece o
bistrô que representa uma construção
nova e consequentemente uma
arquitetura contemporânea com
pergolado, vidro, madeira e pórtico em
Fonte: Elaborado pela autora, 2021.
microsseixos. Para adentrar ao bistrô
o visitante passa por cima de um
espelho d’água e um jardim
recepcionando o cliente.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 134


Figura 82 - BISTRÔ

Uma vista mais próxima no


bistrô que é um espaço de
passagem para aqueles que
vão ao jardim dos fundos,
mas também um espaço
agradável para um happy
hour, encontrar os amigos e
se divertir com uma bela
vista.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 135


Logo após o bistrô o visitante é
Figura 83 - JARDIM
direcionado ao último espaço do
Centro Cultural. Nesse jardim o
visitante encontra a gruta com um
espelho d´água, um deck para
contemplação, um parquinho, um
gramado para piquenique e uma
quadra poliesportiva, além de
bancos para sentar e aproveitar o
espaço.

Um detalhe interessante que ao


adentrar nesse jardim o visitante
encontra do chão uma frase muito
especial para o Colégio Maria
Mattos que era dita pela fundadora
da Congregação das Irmãs
Fonte: Elaborado pela autora, 2021.
Carmelitas da Divina Providência
que dizia “A vida é curta! Vivamos
com a consciência tranquila e
teremos o céu perto de nós”.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 136


Figura 84 - GRUTA

A gruta sempre foi um


elemento importante e
representativo para o Colégio
Maria Mattos e a proposta
desse projeto foi resgatá-la
com um espelho d’água e
uma cruz para ser um espaço
de meditação e sem uma
religião definida. É um
cantinho para o visitante
relaxar, meditar e elevar o
pensamento para coisas
boas.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 137


Figura 85 - ESPAÇO INFANTIL, GRAMADO PARA PIQUENIQUE E QUADRA

O espaço infantil foi pensado de uma forma


interativa e orgânica com brinquedos em
madeira para subir, escalar, pular, escorregar
e correr. O gramado para piquenique foi
direcionado para aqueles que gostam de
reunir, fazer festinha e aproveitar o espaço. A
quadra poliesportiva que existe até hoje, mas
nunca teve boa estrutura para abrigar os
usuários e foi destruída com o passar do
tempo, foi proposta com cobertura e
arquibancada para a realização de partidas,
torneios e campeonatos da cidade.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Assim foi idealizado esse sonho, um projeto que propõe um espaço público que abriga atividades que reforce os momentos vivenciados
no Colégio Maria Mattos, retomando os valores perdidos com a degradação do prédio, almejando ganhos econômicos, sociais, culturais
e históricos para a cidade, valorizando o encontro e a socialização das pessoas.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 138


7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Colégio Maria Mattos simboliza muitos momentos marcantes na vida daqueles que
passaram por lá e é fruto de uma forte representatividade na memória da população da
cidade de Anchieta. Além de fazer parte da formação social de muitas pessoas, o prédio
possui relevância também por compor a herança histórica da cidade. Atualmente, o
edifício se encontra em estado de desuso e através de estudos em busca de intervenções
que possam recuperar a estrutura pré-existente para reestabelecer o seu funcionamento,
a presente pesquisa propõe um projeto de requalificação no prédio do Colégio Maria
Mattos, com mudança de uso para um centro cultural.

As análises feitas a partir dos estudos de referência contribuíram para o entendimento de


um projeto que se atém em um forte conceito e de outro que possui uma proposta
semelhante com a desta pesquisa, sendo possível extrair informações pertinentes ao
projeto em questão.

Ao questionar na rede social Instagram sobre atividades e recordações do Colégio Maria


Mattos muitos ex-alunos compartilharam suas lembranças e foi possível perceber o valor
afetivo que esses momentos representam na vida dessas pessoas, assim como a
importância da recuperação do edifício para Anchieta. Além disso, a coleta dessas
informações foi relevante para a aplicabilidade das diretrizes projetuais deste trabalho.

Diante da memória afetiva que o Colégio Maria Mattos representa e de sua condição
atual de desuso, o projeto propõe uma intervenção de requalificação com mudança de
uso para centro cultural com a intenção de consolidar a herança histórica do município
de Anchieta para as futuras gerações, abrigando atividades para o público que reforce
os momentos vivenciados ali, retomando os valores perdidos com a degradação do
prédio, almejando ganhos econômicos, sociais, culturais e históricos.

O projeto do Centro Cultural Lugar e Memória oferece espaços agradáveis para receber
o visitante e ambientes que sugerem uma volta aos tempos do Colégio Maria Mattos. A

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 139


proposta conta com um memorial que abriga recordações de ex-alunos do colégio, salas
de aquarela, cerâmica, música, dança e exposição de arte para relembrar as atividades
que eram praticadas antigamente ali. O programa de necessidades também conta com
auditório, capela, espaço infantil, gramado para piquenique, quadra poliesportiva, gruta,
biblioteca, bistrô, café e loja. Além disso, o visitante encontra espaços livres, arborizados
e agradáveis para estar. A cada passo no centro cultural o visitante conhece um
pouquinho da história do Colégio Maria Mattos.

Sendo assim, a proposta se atém na história do Colégio e se sustenta com base na


inquietação dos moradores de Anchieta e dos ex-alunos ao ver o edifício que tanto
representa em estado de abandonado.

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES 140


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