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COMITÊ ESTADUAL DE SAÚDE DO AMAZONAS

NÚCLEO DE APOIO TÉCNICO DO JUDICIÁRIO – NATJUS/AM

RESPOSTA TÉCNICA Nº 224/2023 – NATJUS/AM

Medicamento Produto Procedimento Cobertura

PROCESSO Nº: 0494253-21.2023.8.04.0001


SOLICITANTE: Etelvina Lobo Braga
VARA: 3ª Vara da Fazenda Pública
DATA: 18/05/2023
PRAZO: 05 (cinco) dias

TEMA: Realização de procedimento cirúrgico ginecológico


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SUMÁRIO

Nº TÓPICO PÁGINA
01 Informações do Requerente 03
02 Resumo Executivo 03
03 Questionamentos do Juízo 04
04 Conclusão 09
05 Referências bibliográficas 10
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1. INFORMAÇÕES DO REQUERENTE

Nome: R. K. F. d. S. D.
Data de Nascimento: 25/01/1982
Idade: 41 anos
Sexo: Feminino

2. RESUMO EXECUTIVO
Trata-se de ação de obrigação de fazer com pedido de tutela de urgência antecipada,
ajuizada por R. K. F. d. S., em face do Estado do Amazonas objetivando seja o
Requerido compelido a realizar procedimento cirúrgico em favor da Requerente.
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3. QUESTIONAMENTOS DO JUÍZO
Encaminhem-se os autos ao NATJUS/AM para, no prazo de 05 (cinco) dias, apresentar
aos autos as informações técnicas necessárias, esclarecendo:

I) Informar sobre o acompanhamento médico da Autora junto à rede pública;


(evolução da doença)

A paciente está em acompanhamento no ambulatório do Hospital e Pronto Socorro


Delphina Aziz, e teve sua última consulta no dia no dia 16/05/2023, onde foi avaliada
pelo ginecologista (evolução em anexo) e teve seus exames solicitados, inseridos e
aprovados para o dia seguinte (segue guia de aprovação em anexo), entrando assim
no circuito cirúrgico, na sequência do fluxo da unidade, a mesma deve passar pela
avaliação pré-anestésica após resultados do exame, bem como agendar seu retorno
com ginecologista para apresentação dos exames e avaliação pré-anestésica, após
circuito cirúrgico a mesma encontrara-se apta para agendamento da internação e
realização do procedimento.

II) A Autora se encontra em fila de espera para realização do procedimento


cirúrgico? Se sim, informar qual a posição da mesma em fila de regulação.

Segundo o Hospital e Pronto Socorro Delphina Aziz, a paciente passou por consulta no
dia no dia 16/05/2023, onde foi avaliada pelo ginecologista que solicitou exames, e
aprovados para o dia seguinte, entrando assim no circuito cirúrgico, na sequência do
fluxo da unidade, a mesma deve passar pela avaliação pré-anestésica após resultados
do exame, bem como agendar seu retorno com ginecologista para apresentação dos
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exames e avaliação pré-anestésica, após circuito cirúrgico a mesma encontrara-se apta
para agendamento da internação e realização do procedimento.

III) Há indicação de prioridade a Autora para realizar a cirurgia, considerando seu


atual quadro clínico? Quais são os Hospitais da rede pública que realizam o
procedimento cirúrgico pleiteado?

Sim, há indicação de prioridade para realizar a cirurgia, considerando o atual quadro


clínico da paciente. Quanto ao Hospital da rede pública que realiza o procedimento
cirúrgico pleiteado, a Rede Estadual de Saúde disponibiliza no Hospital e Pronto
Socorro Delphina Aziz.

IV) Há quanto tempo a Autora aguarda a realização do procedimento? O que está


ocasionando a demora? Na oportunidade, informar quantos pacientes realizam o
determinado procedimento cirúrgico.

Segundo a análise dos documentos médicos colacionados aos autos, a paciente possui
indicação de cirurgia desde 31/03/2023, ocasião em que o Hospital Universitário
Getúlio Vargas, solicitou consulta em Cirurgia Ginecológica, conforme fls. 43, e está
aguardando a realização do procedimento desde o dia 16/05/2023, quando passou por
consulta com cirurgião ginecológico no Hospital e Pronto Socorro Delphina Aziz. O
motivo da demora foi a demanda da fila de prioridade em que a paciente estava
inserida.

V) Há previsão para a realização da cirurgia pleiteada pela Autora?

Segundo o Hospital e Pronto Socorro Delphina Aziz, a previsão para a realização da


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cirurgia pleiteada será após o retorno da paciente com ginecologista para apresentação
dos exames e avaliação pré-anestésica.

VI) Há riscos à saúde da Autora caso aguarde por demasiado tempo para a
realização do procedimento cirúrgico? Quais? Justifica-se a alegação de
urgência/emergência?

As possíveis consequências ao êxito da cirurgia em caso de retardo na sua realização,


os riscos são inerentes ao caso de progressão da doença.
A Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1.451/1995 traz a definição de
urgência e emergência: “Define-se por URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à
saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência
médica imediata. Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de condições de
agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso,
exigindo, portanto, tratamento médico imediato”.
Assim, de acordo com a definição do CFM, não se pode considerar o caso analisado
por esta demanda técnica como uma urgência ou emergência médica, sendo a
demanda de caráter eletivo.

VII) Em caso de incapacidade de atendimento à Autora, existe alternativa que


possa ser indicada ao caso em tela?

Não existe alternativa que possa ser indicada ao caso da paciente, contudo a mesma
está em processo pré-anestésico para realizado do procedimento.
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VIII) Informar tudo mais quanto for necessário ao esclarecimento e resolução do
caso.

Em atenção ao caso sub judice informamos que a adenomiose é uma condição comum
que afeta cerca de 20 a 35% das mulheres e é caracterizada pela presença de
glândulas endometriais e estroma na camada miometrial do útero. Originalmente, tinha-
se como uma entidade de diagnóstico necessariamente histopatológico, porém, com o
avanço tecnológico na medicina, conseguimos que muitas mulheres tenham
diagnóstico clínico-radiológico precoce para instalação de tratamento e
acompanhamento adequados.
Apesar de tais progressos, ainda há controvérsias quanto à propedêutica dessa
doença. A apresentação clínica é ampla, estando o sangramento uterino anormal,
dismenorreia e infertilidade entre os sintomas mais prevalentes. Tal heterogeneidade
torna o diagnóstico ainda mais desafiador. Ademais, a adenomiose frequentemente
está associada a outras doenças ginecológicas, como endometriose (até 80% de
associação), miomatose (cerca de 20%) e pólipo endometrial (7%).
O sangramento uterino anormal e a dismenorreia são os sintomas mais frequentes,
chegando a estar presente em 60% das mulheres. Também podem apresentar quadro
de dor pélvica crônica e infertilidade. Ademais, aproximadamente 1/3 das pacientes são
assintomáticas.
A adenomiose é uma das doenças estruturais presentes na classificação de PALM-
COEIN da FIGO para causas de sangramento uterino anormal (conforme protocolo de
Sangramento Uterino Anormal). Geralmente, apresenta-se com sangramento menstrual
prolongado e abundante. A frequência e gravidade estão associados à extensão da
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doença.
O sintoma de dor é fortemente associado. Geralmente antecede até uma semana do
início da menstruação. Estudos mostram que há relação entre a gravidade da
dismenorreia e a profundidade e grau de invasão da adenomiose no miométrio. Em
pacientes com miomatose coexistente, a propensão para dor é maior. Algumas séries
também observaram que dor durante a menstruação, dispareunia e dor pélvica não
cíclica são significativamente mais frequentes quando associação de comorbidades.
Ademais, a adenomiose se relaciona com a endometriose de acometimento profundo.
Dessa forma, disúria e disquezia podem estar presentes.
O tratamento clínico objetiva aliviar sintomas de sangramento uterino anormal e dor
pélvica. Tratamento não curativo indicado para mulher que não desejam gestar. Entre
as opções estão os anticoncepcionais hormonais (combinados ou progestágenos
isolados), análogos de GnRH e sistema intrauterino de levonorgestrel (SIU-LNG).
Importante salientar que para a escolha do método devem considerados critérios de
elegibilidade, tolerância, efeitos colaterais, followup e custo.
Os anticoncepcionais orais e os análogos de GnRH atuam suprimindo o eixo
hipotálamohipófise-ovário, melhorando sangramento e dismenorreia. O SIU-LNG é uma
ótima opção terapêutica eficaz que age localmente causando atrofia do tecido.
A histerectomia está indicada em paciente que já apresentam prole definida e
sintomáticas com sangramento uterino e dismenorreia refratários ao tratamento clínico.
A via cirúrgica pode ser laparotômica, vaginal, laparoscópica ou robótica, devendo-se
levar em consideração tamanho e mobilidade do útero, cirurgias prévias e condições
associadas, como endometriose e miomatose.
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4. CONCLUSÃO

Diante do exposto, o NATJUS-SES/AM informa que a Rede Estadual de Saúde


disponibiliza no Hospital e Pronto Socorro Delphina Aziz, onde a paciente está em
acompanhamento, e teve sua última consulta no dia no dia 16/05/2023, onde foi
avaliada pelo ginecologista (evolução em anexo) e teve seus exames solicitados,
inseridos e aprovados para o dia seguinte (segue guia de aprovação em anexo),
entrando assim no circuito cirúrgico, na sequência do fluxo da unidade, a mesma deve
passar pela avaliação pré-anestésica após resultados do exame, bem como agendar
seu retorno com ginecologista para apresentação dos exames e avaliação pré-
anestésica, após circuito cirúrgico a mesma encontrara-se apta para agendamento da
internação e realização do procedimento.
Segundo a análise dos documentos médicos colacionados aos autos, a paciente possui
indicação de cirurgia desde 31/03/2023, ocasião em que o Hospital Universitário
Getúlio Vargas, solicitou consulta em Cirurgia Ginecológica, conforme fls. 43, e está
aguardando a realização do procedimento desde o dia 16/05/2023, quando passou por
consulta com cirurgião ginecológico no Hospital e Pronto Socorro Delphina Aziz. O
motivo da demora foi a demanda da fila de prioridade em que a paciente estava
inserida. As possíveis consequências ao êxito da cirurgia em caso de retardo na sua
realização, os riscos são inerentes ao caso de progressão da doença.
A Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1.451/1995 traz a definição de
urgência e emergência: “Define-se por URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à
saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência
médica imediata. Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de condições de
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agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso,
exigindo, portanto, tratamento médico imediato”. Assim, de acordo com a definição do
CFM, não se pode considerar o caso analisado por esta demanda técnica como uma
urgência ou emergência médica, sendo a demanda de caráter eletivo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Chapron C, Vannuccini S, Santulli P, Abrão MS, Carmona F, Fraser IS, Gordts S, Guo
SW, Just PA, Noël JC, et al. Diagnosing adenomyosis: An integrated clinical and
Imaging approach. Hum. Reprod. Update 2020, 26: 392–411.
2. Chapron C, Tosti C, Marcellin L, Bourdon M, Lafay-Pillet M C, Millischer A E, et al.
Relationship between the magnetic resonance imaging appearance of adenomyosis
and endometriosis phenotypes. Human reproduction 2017; 32(7): 1393-1401.
3. García-Solares J, Donnez J, Donnez O, Dolmans M M. Pathogenesis of uterine
adenomyosis: invagination or metaplasia? Fertility and sterility, 2018; 109(3): 371-379
4. Gordts S, Grimbizis G, Campo R. Symptoms and classification of uterine
adenomyosis, including the place of hysteroscopy in diagnosis. Fertility and sterility,
2018; 109(3): 380-388.
5. Horton J, Sterrenburg M, Lane S, et al. Reproductive, obstetric, and perinatal
outcomes of women with adenomyosis and endometriosis: a systematic review and
meta-analysis. Hum Reprod Update 2019; 25:592.

Redator:
Jocimar Brito Sousa Lacerda – Enfermeiro – COREN/AM nº 351.847

Revisor:
Dr. Roberto Fleck – Médico auditor CRM/AM - 1641
COMISSÃO TÉCNICA NATJUS-SES/AM

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