Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e99
Luiz Antonio Machado César
Corrente If e o controle da freqüência cardíaca
Atualização Clínica
vários canais iônicos, como o simpático e parassimpático o comportamento dessa corrente, alterando a velocidade
(fig. 3). Assim, a estimulação de receptores beta-1 aumenta a do fluxo dessa e, portanto, modificando a freqüência de
intensidade da corrente If enquanto a estimulação vasovagal, despolarização da membrana celular (fig. 3)8; 2) o bloqueio
através dos terminais colinérgicos muscarínicos, a diminui7. dos canais responsáveis pela I f altera a velocidade de
Esta corrente, diferentemente das outras conhecidas, ativa-se despolarização diastólica espontânea da membrana celular.
a partir de -40 a -50 mV e atinge o máximo de ativação entre
-100 a -110 mV, e é uma corrente de entrada de íons para Bloqueio da corrente If
dentro da célula. Sua ativação acontece de forma lenta na
A existência de uma corrente iônica implica a presença de
hiperpolarização da membrana (fase IV), e sua velocidade de
canais de passagem para íons na membrana celular. O bloqueio
fluxo iônico aumenta, quanto mais negativa estiver a diferença desses canais responsáveis pela corrente If foi demonstrado
de potencial da membrana. A constante de tempo dessa em modelos animais com células do nó sinusal de coelhos10-
corrente é de um segundo aos -55 mV, ficando mais curta, em 13
. A intensidade desse bloqueio, e portanto a capacidade
0,5 segundo aos -75 mV, desativando-se rapidamente após de diminuir a freqüência de despolarização da membrana,
a despolarização da membrana, entre +15 e +30 mV, no varia com o potencial de membrana. Especificamente com a
momento do plateau do potencial de ação (fig. 2B). zetabradina12, um bloqueador razoavelmente específico da
Várias interferências no funcionamento dessa corrente corrente If, o bloqueio é maior em voltagens mais negativas,
já foram descritas, mas de todas elas as mais importantes exatamente quando é maior a corrente de influxo de íons,
são: 1) a modulação que o sistema simpático tem sobre fazendo com que a capacidade de redução da freqüência
A) B)
Fig. 2 - (A) Potencial de ação de célula do nó sinusal mostrando (linha de cor laranja) quando a corrente If está ativa. (B) Entre as duas primeiras linhas verticais,
observa-se como a corrente If se comporta quando é feito clampeamento da membrana (potenciais de ação de -75, -65, -55 e -45 mV). Quanto maior o gradiente
negativo, maior o fluxo dessa corrente, medida em fração de amperes (pA). A última linha, à direita, em cor laranja [Atenção: há indicação de cor na figura. Verificar],
mostra o comportamento da corrente If durante o potencial de ação.(adaptado de DiFrancesco4)
Ivabradina
Essa molécula, um derivado benzocicloalcano, tem uma
especificidade muito grande para bloquear a corrente If e
exerce intensamente a ação de reduzir a FC isoladamente14
(fig. 4). É muito mais seletiva do que a zetabradina e outros
bloqueadores da corrente If, necessitando de muito menor
Fig. 3 - Preparação de células de nó sinusal de coelho. A linha branca concentração na solução para exercer seu efeito13-15. Tal
corresponde ao potencial de ação de membrana. Com estímulo simpático
há um desvio da curva para a esquerda, com aumento da freqüência de qual a zetabradina, a ivabradina age na parte interna da
despolarização espontânea. Com estímulo parassimpático ocorre o contrário. membrana15 e requer que os canais estejam abertos para
Observe que o que muda é somente a fase IV, da despolarização espontânea,
sem outra qualquer alteração na curva. (adaptado8,10). poderem atuar. Em voltagens próximas a zero, quando os
canais estão fechados, não se observa nenhuma ação desse
Atualização Clínica
Atualização Clínica
freqüência, aqueles que podem ter intolerância ao seu uso, como obstipação intestinal, edema de membros inferiores e
tais como portadores de doença pulmonar crônica pulmonar, hipotensão entre outros, a ivabradina é uma opção bastante
asma, insuficiência vascular periférica, diabete melito, atrativa para ser usada como antianginoso, especialmente por
alterações gastrintestinais, ceratite, bem como intolerância proporcionar uma redução da FC sem efeitos hemodinâmicos
ao uso de antagonistas de cálcio que reduzem a FC, tais e com um perfil de tolerabilidade muito bom.
Referências
1. Brown HF, Di Francesco D, Noble SJ. How does adrenaline accelerate the 64-70.
heart? Nature. 1979; 280: 235-6.
13. Gardiner SM, Kemp PA, March JE, Bennett T. Acute and chronic cardiac and
2. Noble D, Tsie RW. The kinetics and rectifier properties of the slow potassium regional haemodynamic effects of the novel bradycardic agent, S6257, in
current in calf Purkinje fibres. J Physiol. 1968; 195: 185-214. conscious rats. Br J Pharmacol. 1995; 115: 579-86.
3. DiFrancesco D. A new interpretation of the pacemaker current in calf Purkinje 14. Monnet X, Chaleh B, Colin P, de Curzon DP, Giudicelli JF, Berdeaux A. Effects
fibres. J Physiol. 1981; 314: 359-76. of heart rate reduction with ivabradine on exercise-induced myocardial
ischemia and stunning. J Pharmacol Exp Ther. 2001; 299: 1133-9.
4. DiFrancesco D. A study of the ionic nature of pacemaker current in calf
Purkinje fibres J Physiol. 1981; 314: 377-93. 15. Bois P, Bescon J, Renaudon B, Lenfant J. Mode of action of bradycardic agent,
S 16257, on ions currents of rabbit sinoatrial node cells. Br J Pharmacol. 1996;
5. DiFrancesco D. The cardiac hyperpolarizing-activated curret, If: origins and 118: 1051-7.
developments. Prog Biophys Mol Biol. 1985; 46: 163-83.
16. Simon L, Gheleh B, Puybasset L, Giudicelli J-F, Berdeaux A. Coronary and
6. Biel M, Ludwig A, Zong X, Hofmann F. Hyperpolarization-activated cation hemodynamic effects of S 16257, a new bradycardic agent, in resting and
channels: a multi-gene family. Rev Physiol Biochem Pharmacol. 1999; 136: exerxising conscious dogs. J Pharmacol Exp Ther. 1995; 275: 659-66.
165-81.
17. Ragueneau I, LAveille C, Jochemsen R, Resplandy G, Funck-Brentano C,
7. Kaupp UB, Seifert R. Molecular diversity of pacemaker ion channels. Annu Jaillon P. Pharmacokinetic-pharmacodynamic modeling of the effects of
Rev Physiol. 2001; 63: 235-57. ivabradine, a direct sinus node inhibitor, on heart rate in healthy volunteers.
8. Accili EA, Proenza C, Baruscotti M, DiFrancesco D. From funny current to Clin Pharamcol Ther. 1998; 64: 192-203.
HCN channels: 20 years of excitation. N Physiol Sci. 2002; 17: 32-7. 18. Borer SS, Fox K, Jaillon P, Lerebours G; Ivabradine Investigators Group.
9. Pape HC. Qeer current and pacemaker. The hyperpolarization-activated Antianginal and Antiischemic Effects of Ivabradine,an If Inhibitor, in Stable
cation current in neurons. Annu Rev Physiol. 1996; 58: 299-327. Angina. A Randomized, Double-Blind, Multicentered, Placebo-Controlled
Trial. Circulation. 2003; 107: 817-23.
10. DiFrancesco D, Ferroni A, Mazzanti M, Tromba C. Properties of the
hyperpolarizing-activated current (If) in cells isolated from the rabbit sino- 19. Tardif JC, Ford I, Tendera M, Fox K. On Behalf: the INITIATIVE study
atrial node. J Physiol. 1986; 377: 61-88. investigators. Anti-anginal and anti-ischaemic effects of the If current inhibitor
ivabradine versus atenolol in stable angina. A 4-month randomised, double-
11. DiFrancesco D. Block and activation of the pace-maker channel in calf blind, multicenter trial. Eur Heart J. 2003; 20 (suppl): 24.
Purkinje fibres: effects of potassium, caesium and rubidium. J Physiol. 1982;
329: 485-507. 20. Ruzyllo W, Ford F, Tendera M, Fox K. On behalf: the study investigators.
Antianginal and antiischaemic effects of the If current inhibitor ivabradine
12. Di Francesco D, Some properties of the UL-FS 49 block of the hyperpolarization- compared to amlodipine as monotherapies in patients with chronic stable angina.
activated current (If) in sino-atrial node myocites. Pflugers Arch. 1994; 427: Randomised, controlled, double-blind trial Eur Heart J. 2004; 25 (Suppl): 138.