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Descrição do caso clínico (com adaptações)

Bruno, 22 anos, universitário, procurou tratamento por insistência dos seus pais. Sobre sua
história de vida, temos que nasceu de parto normal e é filho único. Aos cinco anos de idade se
afastou de seu estado natal para morar com os pais em outra localidade. Na época, sentiu-se
triste por perder seus amigos, mas aceitou a mudança sem protestar. Em geral aceitava o que
as pessoas lhe impunham, embora sofresse com isso. O pai era uma pessoa exigente e crítica, e
a mãe era mais compreensiva, mas não conseguia deixar que ele se afastasse muito deles.
Segundo o relato de Bruno: “eu tenho de ficar junto dos meus pais, caso contrário eles vão ficar
sozinhos e, me sinto responsável por eles”. O paciente decidiu abandonar o segundo curso
universitário por pensar não ter vocação para a carreira escolhida. Relatou que abandonou o
primeiro curso de graduação quando precisou fazer apresentações de material de estudos em
sala de aula. Na época, sentiu-se incapaz de falar na frente de seus colegas, e atribuiu essa
dificuldade a uma possível incompetência naquela área do conhecimento. Na ocasião em que
buscou tratamento, apresentava novamente sintomas físicos de ansiedade para apresentar
trabalhos em sala de aula e queria abandonar os estudos. Relatava que ao pensar em
apresentar-se na frente de seus colegas passava dias sofrendo por antecipação. Ele dizia: “não
consigo apresentar meus trabalhos, sinto-me envergonhado, inferior, desajeitado, e quando
falo na frente dos meus colegas, meu coração dispara, fico suando, gaguejando e meu rosto fica
muito quente”. Achava que o sofrimento era muito grande, e novamente justificava o possível
abandono do curso por não se sentir competente. Pensava: “tenho que estudar mais, mas vai
ver que não sirvo para isto”. O paciente sempre foi uma criança retraída, mas tinha amigos e se
saía bem na escola, até ter de trocar de colégio, aos doze anos de idade. Na nova escola, não
conseguiu adaptar-se, sentiu-se rejeitado pelos colegas que “eram muito críticos”. Passou a se
isolar e não tinha muitos amigos, apenas um ou outro colega com quem conseguia conversar.
“Para mim era difícil, achava que não me queriam por perto, e então me afastava. Comecei a
falar baixo para ver se não chamava muito a atenção das pessoas, talvez assim elas não fossem
debochar de mim”. Até buscar tratamento, tinha dificuldade em frequentar festas e grupos
sociais, por não saber iniciar uma conversa, sentir-se envergonhado, sem jeito e sentir-se
diferente das demais pessoas. Na avaliação clínica inicial não havia história de abuso de álcool
ou drogas. Bruno sentia culpa quando pensava em afastar-se dos pais, e tinha uma vida bem
limitada. Apresentava dificuldades para fazer amizades e para namorar. Bruno achava ser um
sujeito estranho, diferente, inferior, fracassado e de ser incompetente. Tinha um forte desejo
de ser mais sociável, aberto, ter mais amigos, namorar e executar tarefas, como estudar e ser
um bom profissional, mas não acreditava que tivesse condições, achava que: “falta sempre mais
alguma coisa para estudar”, era muito exigente consigo mesmo e antevia sempre o fracasso. Ele
temia ser avaliado de forma negativa pelos colegas e professores e, assim, sentir-se humilhado,
o que os outros poderiam perceber sua ansiedade, razão pela qual falava muito baixo e não
fitava seus interlocutores. Dizia que: “se eu falar mais alto, eles podem perceber que estou
quase gaguejando, e fico mais nervoso”. Relatava ser incapaz de iniciar uma conversa com
colegas novos da faculdade, por temer que percebessem seu embaraço e ansiedade e que o
julgassem como alguém estranho, então se isolava ainda mais. Apresentava sintomas mais
intensos de depressão nos últimos meses, quando começou a pensar em abandonar a faculdade
novamente. Não ia a festas, cinemas ou encontros sociais, por não saber como se comportar.
Pensava: “todos vão olhar para mim, e não saberei o que dizer ou fazer”. O paciente, ao ter de
apresentar trabalhos em sala de aula, temia ser o foco de atenção, pois acreditava que todos
perceberiam sua ansiedade, julgando-o estranho, inferior e incompetente, e preferia abandonar
a tarefa e até mesmo a faculdade do que ter de enfrentar essas situações. Concluía que o
resultado dessa exposição frente aos colegas e professores seria humilhação e rejeição. Sentia-
se muito ansioso, apresentando sintomas como taquicardia, rubor facial, sudorese e
tartamudez. Ele foi orientado a fazer um relato de automonitoramento. Em situações como
apresentar uma proposta inicial de projeto de pesquisa em sala de aula apresenta nível de
ansiedade 10. Nessas situações pensa que é “uma pessoa muito estranha e ele não me darão
crédito”; “eles não gostam de mim, pois não sei como me comunicar”; “se eu tentar apresentar
meu trabalho, vou ser humilhado”; “eles perceberão minha ansiedade e me julgarão burro”. Ao
pensar assim, acaba tendo o comportamento de “não vou apresentar este trabalho agora, só
quando estiver mais seguro”; “se eu não olhar para meus colegas, eles não vão perceber minha
ansiedade”. Como consequência, foi o último a apresentar o projeto, falou muito baixo e não
fitou seus interlocutores. Com isto, teve um mau desempenho e recebeu de seu professor
críticas de que o trabalho não tinha um foco claro, estava aquém do esperado e confuso. O
resultado reforçou sua crença central de autodepreciação de ser socialmente inadequado e ser
incompetente e indesejado pelos colegas e professores. O paciente não conseguia ir a festas
porque pensava que não saberia o que dizer e novamente seria julgado estranho, com
consequente temor de ser humilhado e rejeitado pelas mulheres. Nas festas, ficava pelos cantos
ou atrás dos conhecidos, escondendo-se. Ao se aproximar de uma mulher, sentia taquicardia,
sudorese, calor no rosto e tartamudez, então falava muito baixo e não era ouvido, tendo
dificuldades para manter uma conversa. Acreditava que teria de falar algo muito interessante,
e uma conversa casual lhe parecia desinteressante. As mulheres efetivamente logo se
afastavam. Ficava decepcionado e concluía ser mesmo um sujeito estranho, sem graça e sem
atrativos. Evitava ir a festas, pois quando o fazia era com grande sofrimento.

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