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Rótulos estéticos e os estereótipos de beleza.

Existem muitas visões que se diluem no meio social e propagam-se,


opiniões diversas que transitam diariamente sem haver uma reflexão introspectiva a fim
de pensar-se nos efeitos e marcas deixadas. Olhares que alimentam um perfil virtual e
são excludentes. Na contemporaneidade, as temáticas que estigmatizam parte da
população passaram a ser abraçadas e defendidas, tornando menos amarga a realidade
das pessoas. Dessa maneira, eis que a discussão sobre os estereótipos de beleza que o
âmbito social fomenta, bem como quanto aos rótulos estéticos estampados, eclode-se
em um cenário ainda resistente, embora os passos dados para amainar sejam
significantes.
É fato que esse universo estético, criado e moldado pela própria sociedade,
circunda precipuamente as mulheres, as quais se tornam reféns de estereótipos que são
materializados nas vitrines – muitas vezes inatingíveis e intrínsecos a uma objetivação
irreal. Há uma corrida para alcançar a visão massificada, uma briga infrene que se
desencadeia em busca de conquistar um perfil estético, um caos existencial e crises
emocionais em ebulição que pouco a pouco afetam e corroem até as características
invisíveis. São contextos diversos que giram em busca de uma beleza externa, cuja
mesma deixa marcas imensuráveis – arranhões que ferem camadas internas.
Trazendo-se um embasamento científico, Erving Goffman foi um sociólogo
que corroborou significativamente para a Ciência Social e em uma de suas
contribuições, Goffman expõe seu olhar quanto ao “estigma”. Acredita haver, no meio
coletivo, indivíduos que a própria sociedade os classifica como “normais” e os
“estigmatizados”. E é nessa perspectiva que se difundem discussões sobre os
estereótipos, de modo que permite evidenciar a realidade enfrentada pelos
“estigmatizados”.
A realidade, por sua vez, tem seu grau de importância vilipendiado. Sofrem
silenciadas, mordaçadas, mãos presas a cordas, insensíveis às navalhas que as ferem –
instigadas pelos estereótipos, pelo culto à beleza. Carregam uma dor anestesiada pelas
mudanças externas que conseguem alcançar devido ao rótulo estético (fruto da
imposição social). Andam por viés em ambição a uma remodelagem de si, mas na
verdade se desmontam e desintegram-se. Os julgamentos e as críticas atingem de um
modo inimaginável, contribuindo para novos ferimentos que o tempo nem sempre
consegue cicatrizar. Cicatrizes que são carregadas desde a infância, em que os apelidos,
as brincadeiras ofensivas, o processo de exclusão entre os alunos, machucavam mais do
que em outra fase da vida. Ao longo do tempo cronológico, enxergam a felicidade e o
cessamento desses pesadelos nos procedimentos cirúrgicos, contudo se aproximam de
riscos e, às vezes, do próprio fim. Há casos específicos, outrossim, que se traduzem em
exageros apenas por haver, arraigado à sociedade, um padrão de beleza intocável que as
fazem olhar para si e apontar um rol de defeitos que não existem. Vítimas dos próprios
pensamentos, da idealização de beleza e do medo quanto aos olhares, às críticas e aos
julgamentos da sociedade. Abdicam-se da felicidade, da alegria, dos próprios gostos,
das vontades, dos risos e dos momentos especiais por esse estereótipo de beleza.
Trancam-se sozinhas em seus quartos, imaginando um mundo em que não haja mais as
lágrimas que escorrem do rosto. Acreditam que a culpa é inerente a si por terem “erros
estéticos”, por não serem semelhantes ou iguais ao que a sociedade aceita como belo, de
modo que se enclausuram e se escondem em um escafandro.
“A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de
atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas
categorias” (GOFFMAN, 1975). Vislumbra-se a partir da citação que o recinto social
tem sua parcela de responsabilidade. O conflito é corroborado pela sociedade ao criar
um padrão de beleza que foi, é e continua sendo repassado por gerações
(hodiernamente, todavia, notam-se mudanças benévolas, embora ainda haja percurso a
caminhar). Ainda fundamentando-se na visão de Goffman, tem-se que “a maioria das
diferenças entre as pessoas são ignoradas em seu cotidiano e socialmente irrelevantes,
no entanto, o social faz com que algumas diferenças sejam relevantes. Isso se dá pela
sociedade criar grupos (categorias) e atributos considerados evidentes, os quais sofrem
modificações de acordo com o tempo e o lugar”. Assim sendo, vê-se que o estereótipo
de beleza (construído pela sociedade) influencia no que tange a evidenciar diferenças.
Às vezes, essas dessemelhanças são irrelevantes, mas ganham importância devido ao
padrão estabelecido.
Uma sociedade adoecida e que propaga sua enfermidade.
A verdade é que...
Você não necessita ser bonita tal como ela, ser ela. Você só precisa ser
bonita como você. Suas características externas vistas como “erros estéticos” pela
sociedade não condiz com o ser que és e com a beleza que tens. A patologia está no
meio social e mesmo que se aproxime do estereótipo, continuará insatisfeita consigo. A
vida é bela demais para que se corra atrás de uma beleza passageira criada pelos
estigmas estéticos e deixe de viver. Não existirá beleza externa mais bela do que a que
se encontra em um ser que não julga outrem e ama-se verdadeiramente do jeito que és.
Por fim, sempre existirá alguém ao seu lado e lhe ajudará a enfrentar a resistência que
existe da sociedade no tocante ao estereótipo estético.

Texto criado por Ewerton Almeida Santos em


17 de Dezembro de 2017.

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