Você está na página 1de 2

Leia os fragmentos a seguir para conceituar diversidade

FONTE: GOMES, Nilma Lino. Desigualdades e diversidade na educação. Educ. Soc., Campinas, v.
33, n. 120, p. 687-693, jul.-set. 2012

“A diversidade, entendida como construção histórica, social, cultural e política das diferenças,
realiza-se em meio às relações de poder e ao crescimento das desigualdades e da crise
econômica que se acentuam no contexto nacional e internacional. Não se pode negar, nesse
debate, os efeitos da desigualdade socioeconômica sobre toda a sociedade e, em especial,
sobre os coletivos sociais considerados diversos. Portanto, a análise sobre a trama
desigualdades e diversidade deverá ser realizada levando em consideração a sua interrelação
com alguns fatores, tais como: os desafios da articulação entre políticas de igualdade e
políticas de identidade ou de reconhecimento da diferença no contexto nacional e
internacional, a necessária reinvenção do Estado rumo à emancipação social, o acirramento da
pobreza e a desigual distribuição de renda da população, os atuais avanços e desafios dos
setores populares e dos movimentos sociais em relação ao acesso à educação, à moradia, ao
trabalho, à saúde e aos bens culturais, bem como os impactos da relação entre igualdade,
desigualdades e diversidade nas políticas públicas” (GOMES, 2012, p. 687).

“Dessa forma, devido às pressões sociais, o entendimento da diversidade como construção


social constituinte dos processos históricos, culturais, políticos, econômicos e educacionais e
não mais vista como um “problema” começa a ter mais espaço na sociedade, nos fóruns
políticos, nas teorias sociais e educacionais. São também os movimentos sociais,
principalmente os de caráter identitário (indígenas, negros, quilombolas, feministas, LGBT,
povos do campo, pessoas com deficiência, povos e comunidades tradicionais, entre outros),
que, a partir dos anos de 1980, no Brasil, contribuem para a entrada do olhar afirmativo da
diversidade na cena social. Eles reivindicam que a educação considere, nos seus níveis, etapas
e modalidades, a relação entre desigualdades e diversidade. Indagam o caráter perverso do
capitalismo de acirrar não só as desigualdades no plano econômico, mas também de tratar de
forma desigual e inferiorizante os coletivos sociais considerados diversos no decorrer da
história” (GOMES, 2012, P. 688).

FONTE: MUNANGA, Kabengele. Educação e diversidade cultural. Cadernos Educação e


diversidade cultural. PENESB. n. 10, janeiro de 2008/junho de 2010

“Em vez de opor igualdade e diferença, é preciso reconhecer a necessidade de combiná-las


para poder construir a democracia. É nessa preocupação que se coloca a questão do
multiculturalismo, definido como encontro de culturas, ou seja, a existência de conjuntos
culturais fortemente constituídos, cuja identidade, especificidade e lógica interna devem ser
reconhecidas, mas que não são inteiramente estranhas umas às outras, embora diferentes
entre elas. No plano político, o reconhecimento da diversidade cultural conduz à proteção das
culturas minoritárias, por exemplo, das culturas indígenas da Amazônia e de outras partes do
continente americano, que estão em vias de serem destruídas, seja pelas invasões do território
dessas culturas, seja ainda pela criação das reservas nas quais se acelera a decomposição das
sociedades e dos indivíduos. Nos países da diáspora africana se coloca a mesma questão
política do reconhecimento da identidade dos afro-descendentes” (MUNANGA, 2010, p. 41)

“No plano jurídico, o reconhecimento das identidades particulares no contexto nacional se


configura como uma questão de justiça social e de direitos coletivos e é considerado como um
dos aspectos das políticas de ação afirmativa. Combinar a liberdade individual com o
reconhecimento das diferenças culturais e as garantias constitucionais que protegem essa
liberdade e essas diferenças é uma questão que leva a uma reflexão sobre a educação, pois
sabemos que a lei sozinha com seu conteúdo repressivo não resolve todos os problemas. Pode
a escola ajudar na luta contra o racismo, o machismo, a xenofobia, a intolerância, o sexismo?
Na sua missão de instrução, de abertura e formação ao espírito científico, pode a escola
participar do combate contra os preconceitos? Talvez não, talvez sim, pois existem tantas
formas de escolas quantas formas de educação. (MUNANGA, 2010, p. 42).

“A escola moderna quis fundar uma nova hierarquia social baseada na competência e não na
origem social, e hierarquiza os conhecimentos segundo os níveis de abstração ou formalização.
Até hoje persiste no imaginário coletivo a ideia de que as ciências exatas e naturais são
superiores às humanidades e que até mesmo no seio das humanidades as ciências sociais
ocupam o nível inferior” (MUNANGA, 2010, p. 44)

“Devemos condenar todas as formas de intolerância, mas o que devemos buscar, afinal, não é
a tolerância, mas sim a convivência igualitária das culturas, identidades, dos grupos e
sociedades humanas, dos homens e mulheres. Desse ponto de vista, a melhor educação não é
somente aquela que nos permite dominar a razão instrumental que auxiliará nossa
sobrevivência material numa sociedade baseada na lei do darwinismo social, mas também, e
sobretudo, uma educação cidadã baseada nos valores da solidariedade e do respeito das
diversidades que garantem nossa sobrevivência, enquanto espécie humana.” (MUNANGA,
2010, p. 48)

Você também pode gostar