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Descartes e a Silogística Tradicional


O silogismo, constitutivo do raciocínio formal de Aristóteles ao final da Idade
Média, foi tema de uma crítica crescente a partir de meados do século XVI em diante. A
crítica de Descartes ao silogismo no Discurso do Método foi assumida por praticamente
todos os seus sucessores, de Arnauld e Locke à segunda metade do século XIX, como
tendo demolido o raciocínio silogístico. Na avaliação dessas críticas, há dois conjuntos
de fatores que devem ser levados em conta: primeiro, a crítica à silogística acompanha
questões de inferência dedutiva, descoberta científica e um bom número de outros
temas; segundo, o teor das críticas é raramente explicitado, provavelmente porque se
assumiu que sua força era tão óbvia que havia pouca necessidade de enunciá-lo. No
entanto, as críticas são, para nós, frequentemente obscuras e é necessário empreender
alguma reconstrução da base do argumento. Neste capítulo, examinarei e avaliarei duas
das mais importantes críticas: a alegação de que o silogismo é uma petitio principii e a
alegação de que ele não conduz a novas verdades. Ambas afirmam, em sentido muito
amplo, que o silogismo é circular. Diferentemente de outras críticas ao silogismo que
encontramos em Descartes – por exemplo, o argumento de que a silogística cria
empecilho à luz natural da razão – tais alegações são, em muitos aspectos, críticas
tradicionais e, considerando a maneira pela qual foram tradicionalmente concebidas,
podemos conceder maior densidade às críticas do século XVII. Antes disso, porém, será
útil obter alguma ideia do que exatamente está ou não em questão.

O ESCOPO DA LÓGICA
O estudo de lógica no século XVII abarcou não apenas formas dedutivamente
válidas de inferência, mas também, e prioritariamente, o que se pode chamar de ‘lógica
da descoberta’. Nessa concepção ampla do termo ‘lógica’, Descartes é uma figura
formadora no desenvolvimento da lógica. Blake, Buchdahl, Laudan e outros mostraram
a importância da concepção cartesiana de hipótese, dedução-inversa e outras para o
desenvolvimento das concepções modernas de método1, e Howell defendeu que as
ideias sobre lógica da descoberta dos séculos XVIII e XIX remontam a Descartes, cuja
abordagem, tal como foi desenvolvida por Locke, Kames, Campbell e Stewart,

1
BLAKE, R. DUCASSE, C. e MADDENS, E. Teories of Scientific Methode (Seattle, 1960), capítulo 4;
BUCHDAHL, G. ‘Descartes’ Anticipation of a “Logic of Discovery”, in:
conduziu diretamente a Mill. Por outro lado, se compreendermos lógica no sentido do
estudo das formas dedutivamente válidas de inferência, então é geralmente aceita a
perspectiva segundo a qual a contribuição de Descartes seria inexistente. Há um
problema aqui. Não é que não possamos separar questões de inferência dedutiva de
questões de lógica da descoberta, pois nós podemos fazer isso: eu mesmo acabo de as
separar. O problema é antes o seguinte: se podemos aprender algo com esse exercício, é
importante entender por que somos nós que temos de fazer essa separação. O destino da
inferência dedutiva e da lógica da descoberta estiveram atados não apenas pelos
predecessores de Descartes – na antiguidade, na idade média e no Renascimento – e por
Descartes ele mesmo, mas também por seus sucessores. O fato é que, para todos os
efeitos, até a segunda metade do século XIX, a crítica ao raciocínio silogístico, ou seja,
ao raciocínio dedutivo, está intimamente ligada ao desenvolvimento da lógica da
descoberta. Essa última se desenvolve muito mais como uma resposta ao raciocínio
dedutivo e num intercâmbio com as críticas à primeira. Locke, por exemplo,
efetivamente fez pouco mais que desenvolver a crítica herdada de Descartes 2. A
Introduction to Art of Thinking de Lord Kames (1761) e a Philosophy of Rhetoric de
George Campbell (1776), embora textos muito influentes no desenvolvimento da lógica
indutiva, exercem essa influência, não nos falando a respeito da indução, mas antes
mostrando em detalhes por que o raciocínio silogístico caiu em desuso com o avanço
científico. O trabalho seminal de Dugald Stewart sobre lógica indutiva, o segundo
volume de seus Elements of the Philosophy Human Mind (1814), vincula muito
estreitamente os pontos fortes da lógica indutiva à fraqueza do raciocínio silogístico,
assim, como o faz o Sistem of Logic de Mill (1843), cujas críticas ao silogismo são mais
conhecidas que sua lógica indutiva.
Nosso interesse aqui será, contudo, não o de separar lógica dedutiva de ‘lógica
da descoberta’, mas antes entender por que e como estiveram tão estreitamente
conectadas. É somente compreendendo isto que seremos capazes de assumir a delicada
tarefa de separá-las – e trata-se de uma tarefa delicada, pois não devemos perder de vista
o que se pede à lógica fazer, nem o que se pede à inferência alcançar.
A dificuldade envolvida na separação de questões concernentes à inferência
dedutiva a partir de um conceito mais abrangente de noções da lógica pode ser trazida à
tona pela comparação do tipo de abordagem que encontramos em Descartes com aquela
que encontramos em um certo número de escritores humanistas de retórica. Uma razão
2
pela qual se poderia querer ampliar a concepção de lógica para além do estudo de
padrões de inferência formalmente válidos é que poder-se-ia querer acomodar formas de
inferência intuitivamente válidas, razoáveis ou plausíveis ou ainda quaisquer outras
formas incensuráveis de inferência que não são formalmente válidas. Tais argumentos
acarretariam que estaríamos lidando com certeza moral, bons fundamentos para a crença
ou algo do tipo. Esta é a motivação por trás de algumas reformas humanistas da lógica
nos séculos XV e XVI. Lorenzo Valla e outros, por exemplo, tentaram fornecer uma
consideração sistemática de formas de inferência que resistiriam à formalização, na
medida em que o argumento está quase sempre relacionado à persuasão e à antes que à
certeza. Valla assume esta sugestão a partir de Cícero e Quintiliano, cujos interesses
estão voltados tanto para as formas efetivas de argumentos jurídicos quanto para
quaisquer outras, um contexto em que a certeza absoluta nem sempre é acessível.
Uma consideração deste tipo foi desenvolvida de um modo interessante no
século XVI, em reposta a argumentos inspirados pelo pirronismo.3 Fracesco Patrizzi, em
seu Diálogos sobre História (1560), por exemplo, esperava mostrar que a história pode
ser tanto esclarecida quanto imparcial, mas não ambas. Patrizzi começa rejeitando
fontes secundárias como boatos virtuais e dividindo as fontes primárias em partidárias e
objetivas. Então, baseando-se em certo número de pressupostos maquiavélicos sobre a
natureza dos governantes, ele estabelece uma dicotomia entre observador partidário e
observador objetivo. Observadores partidários (isto é, neste caso, aquele simpatizante
do governo), em virtude de serem partidários, têm acesso a informação relevante,
porque o governante pode confiar neles, mas porque são partidários não fornecerão uma
interpretação objetiva da informação. Por outro lado, observadores objetivos (isto é,
neste caso, aqueles que estão preparados para serem críticos em relação ao governante
se ele merece), sendo objetivos, não desfrutarão da confidência do governante e,
consequentemente, não terão acesso à fonte relevante de informação. (Se isto parece
forçado, imagine a situação de alguém escrevendo uma história de IRA Provisória). A
conclusão de Patrizzi é que “é totalmente impossível no que concerne às ações humanas
conhecer como foram levadas a cabo.” O humanismo do século XVI responde a este
desafio com a expectativa de mostrar que há certos caminhos pelos quais podemos
estabelecer credibilidade e plausibilidade, em conformidade com a lei, quando, por
exemplo, temos dúvida sobre a credibilidade de uma testemunha. Em tais casos,
consideramos cada fator como valor probante de reforço dos testemunhos e há um
3
paralelo óbvio entre tais casos na lei e aqueles casos em que estamos interessados na
confiabilidade dos testemunhos e registros históricos. Esta é a resposta de tais
apologistas da história como Melchior Cano, François Baudoin e Jean Bodin. O
propósito deles consiste em mostrar que os desafios céticos não são ameaças efetivas ao
conhecimento histórico per se, mas antes problemas acerca da confiabilidade e
evidencia com as quais os praticantes da disciplina estarão mais aptos para lidar. Eles
lidarão com elas através de recursos que exigem certo grau de raciocínio probabilístico,
mas o problema aqui se baseia em nossa habilidade para alcançar graus de
probabilidades em casos particulares e não no fato de que o raciocínio é probabilístico
em vez de conclusivo.
Nada poderia ser mais distante da perspectiva cartesiana. Em sua perspectiva, o
humanista estaria apenas se engajando em respostas fragmentárias, quando o que é
exigido é uma resposta completa e totalmente geral a qualquer forma concebível de
ceticismo. O modelo de Descartes não é jurídico, como o oferecido pelos humanistas,
mas um modelo rigorosamente geométrico e embora, como mostraremos adiante
(capítulos III e IV), não seja um modelo dedutivo, o propósito cartesiano é alcançar a
certeza. Ele não está interessado em plausibilidade ou alta probabilidade: como afirma
numa carta a Mersenne de outubro de 1637, “eu trato quase como falso o que quer que
seja meramente provável” (AT i. 451). Diante disso, Descartes parece necessitar de uma
distinção nítida entre o emblemático sistema axiomático-dedutivo e aquelas formas de
argumento que não lidam com a certeza. E o problema é, então, que isto pareceria
contradizer seu próprio desempenho em questões de inferência dedutiva e lógica da
descoberta.
Mas isto não ocorre de fato, pois a conexão entre os dois repousa num nível
inteiramente diferente. Eis a razão por que devemos ser cautelosos ao determinar como
estão conectados antes de tentar separá-los. Para Descartes, a conexão repousa num
domínio de questões sobre como a inferência pode ser informativa: em que medida a
conclusão de um argumento nos diz algo diferente a partir das premissas das quais
foram deduzidos? Em Descartes, e de um modo ainda mais geral no século XVII, esta
questão é posta num contexto de questões acerca de quais formas de investigação nos
habilitam a conhecer algo novo. Nossa principal tarefa, no que segue, é entender como
isto acontece e o que envolve precisamente.
O SILOGISMO COMO PETIÇÃO DE PRINCÍPIO
A crítica do silogismo como petitio principii é feita na Regra 10 das Regras de
um modo razoavelmente direto:

“Deve-se notar que os dialéticos são incapazes de divisar


por suas regras qualquer silogismo que tenha conclusão
verdadeira, a menos que tenham já a totalidade do
silogismo, i. e. a menos que tenham já assegurado
antecipadamente a própria verdade que é deduzida neste
silogismo.” (AT x. 406).

A crítica é repetida na Regra 13, onde somos informados de que os dialéticos,


“ensinando sua doutrina das formas do silogismo, assumem que os termos ou
substância de seus silogismos são já conhecidos” (AT x. 430). Após esta crítica,
Descartes se dirige imediatamente, em ambos os casos, à observação de que silogismos
não podem lidar com novas verdades. Mas é importante que mantenhamos dois temas
distintos: a questão da conexão entre premissas e conclusão no silogismo e a questão
sobre se o silogismo faz avançar o conhecimento. Estamos às voltas, no momento, com
o primeiro tema.
A crítica segundo a qual o silogismo é petição de princípio é tradicional,
remonta à antiguidade. Descartes não explicita o que precisamente vê como um
problema, mas presume-se que tenha em mente esta crítica tradicional. Há dois textos
que se tornaram conhecidos a partir do século XVI em que o ceticismo quanto à lógica é
discutido: Academica de Cícero (livro II, §§ xiv – xxx) e Hipotiposes Pirrônicas de
Sexto Empírico (Hipotiposes, II, §§ 134-244; Adversus Mathematicos, II, §§ 300-481).4
O de Sexto é especialmente interessante. O cerne de seu argumento é que qualquer
expectativa de sustentar a inferência através de provas fracassa obrigatoriamente. Para
alcançá-lo, ele observa certas formas pretensamente probantes, dentre as quais as mais
importantes são os argumentos condicionais estoicos e o silogismo categorial
aristotélico. No primeiro caso, o argumento se volta contra a distinção estoica entre
argumentos concludentes e não concludentes. Um argumento concludente é aquele em
que a conclusão é válida em virtude da verdade das premissas e da forma de inferência
que vai das premissas à conclusão. Algumas formas de inferência – tais como ‘Se o
primeiro, então o segundo; mas o primeiro, contudo o segundo’ – são ‘indemonstráveis’
ou axiomas, e sequências de afirmações conforme aquelas são argumentos
concludentes, ou seja, argumentos formalmente válidos. Com argumentos
inconcludentes, por outro lado – argumentos tais como ‘o primeiro, então o segundo’ –

4
Para detalhes do ceticismo quanto à lógica, cf, C. B. Schmitt (...)
a premissa ou premissas não produzem conclusão, então o argumento deve ser
reestruturado, por exemplo, pela suplementação de uma premissa extra. Tomando o
exemplo de Sexto, A é um argumento concludente enquanto B é um argumento
inconcludente:

A: Se é dia, está claro B: É dia (1)


É dia (2)
____________________ ___________
Está claro Está claro (3)

A objeção cética então evolui como segue (Outlines of Pirronisme, II, § 159). Ou (3)
resulta de (2) ou não resulta. Se resulta, então B é um argumento concludente, pois em
B nós simplesmente inferimos (3) a partir de (2). Mas se esse é o caso, então (1) é
claramente redundante. Por outro lado, se (3) não resulta de (2), então (1) é falsa, visto
que (1) claramente afirma que isso ocorre. Em outras palavras, a prova é impossível: o
que A nos diz a mais e além de B é ou redundante ou falso. De fato, os problemas são
compostos para os Estoicos por causa de sua identificação da validade com a validade
formal, e porque eles consideram argumentos com premissas redundantes como
inválidos, então por seus próprios princípios, argumentos formalmente válidos sempre
serão ou inválidos ou terão falsas premissas.5 Como se não bastasse, Sexto compartilha
o mesmo tratamento com o silogismo categórico. A cruz do argumento é esta:

no argumento – ‘O justo é equânime, mas a equidade é boa,


assim sendo o justo é bom’, ou está combinado e pré-
evidente que ‘a equidade é boa’, ou isso é disputado e
não-evidente. Mas se é não-evidente, isso não estará
garantido no processo de dedução e, consequentemente, o
silogismo não será conclusivo; enquanto se é pré-evidente
que o que quer que seja que é equânime é também sem
exceção bom. Desde o momento em que se declara que essa
coisa em particular é equânime, o fato de que é boa está
também implicado, de modo que basta colocar o argumento
na forma ‘O justo é equânime, assim sendo o justo é bom’,
e a outra premissa, na qual foi estabelecido que ‘a
equidade é boa’ fica redundante.6

Esses argumentos são genuinamente desafiadores e é difícil encontrá-los de um


modo simples e direto. Uma coisa está clara, eles não podem ser satisfeitos mediante o
fornecimento de exemplos de casos em que a conclusão de um argumento formalmente
5

6
válido não é aparente a partir das premissas, por exemplo, como ocorre com algumas
demonstrações geométricas ou com argumentos de Lewis Carrol.7 Provas são provas a
despeito de se a conclusão é imediatamente evidente a partir das premissas. Estávamos
preocupados com o que poderia ser denominado as características (os aspectos)
reveladoras do argumento, então poderia haver razões para preferir uma inferência da
forma <{P}, Q > à uma da forma <{ [Se P então Q], P}, Q >. Mas nós estamos
preocupados com a questão de como as premissas produzem conclusões, então nossa
preocupação será especificamente com todas e apenas aquelas inferências que,
independentemente do conteúdo real de premissas particulares e conclusões, são
preservadoras de verdade, e capturando aqueles aspectos que fazem delas preservadoras
de verdade. E se esta é nossa preocupação, então o que o cético dispensa como uma
petição de princípio do modus ponens, devemos considerar sua qualidade de
preservação da verdade.
Mas como, mais especificamente, lidar com o desafio cético? Um modo pelo
qual poder-se-ia estar tentado a responder o cético aqui é ressaltar que o argumento
cético pressupõe o que ele nega: se utiliza de princípios inferenciais que pretendem
provar uma conclusão. Por exemplo, a conclusão que (1) é falsa se (3) não se segue de
(2) requer uma compreensão do modus ponens (se se compreendeu a inferência original)
e modus tollens (se se compreendeu a reductio). Mas isso não é uma resposta efetiva.
Ela não reconhece o fato de que o próprio cético não faz nenhuma afirmação de
conhecimento. O Ceticismo opera tomando afirmações de conhecimento de outros e
mostrando que, por seus próprios critérios, não podem conhecer o que afirmam
conhecer. No caso presente, o argumento cético negocia com o fato de que os próprios
princípios inferenciais formais estoicos podem ser usados para mostrar que esses
princípios são inválidos, mediante os próprios critérios estoicos.
Um tipo mais promissor de resposta consiste em afirmar que (1) simplesmente
não é uma inferência, enquanto B é. A aparência de que (1) é uma inferência deriva de
sua forma ‘se...então...’. Mas nem todas as proposições com essa forma são
propriamente construídas como inferências. Tomemos o caso da implicação material,
por exemplo. Podemos escrever (1) como [ P ᴐ Q ] ou como [ ┐(P & ┐Q) ]. A última não
tem a menor aparência de uma inferência: simplesmente afirma que não podem ambas

˫
ser o caso, tanto P quanto ┐Q. Para evitar confusão, reservamos o sinal ‘ ’ para

7
inferências, de modo que A assume a forma ... e B, a forma... Agora condicionais
estoicas não são mais condicionais materiais (porque a lógica estoica é uma lógica
relevante, poderíamos esperar algo mais forte que as condicionais materiais) e, em todo
caso, há muitos problemas sobre como lidar com condicionais, exacerbados naqueles
casos em que elas têm falsos antecedentes, de modo que a formalização simples que
forneci não faz mais que sugerir uma estratégia geral. Mas essa estratégia é certamente
sólida, pois, como quer se se concebam os condicionais, considera-los como sendo
todos eles inferências é, além de desnecessário, procurar problemas: problemas que o
cético fica feliz em fornecer. // (p. 14)

O PAPEL HEURÍSTICO DO SILOGISMO

Na Regra X das Regulae, Descartes dá seguimento a suas observações sobre


silogismos requererem já ter averiguado a verdade do que pretendem deduzir, com a
rejeição do silogismo como não produtor de verdade:

Por isso, claro está que nada se acrescenta que


seja novo [a partir do silogismo]; e visto que a
dialética, como habitualmente entendida, é inútil
àqueles que desejam investigar a verdade das coisas, e
pode apenas servir para explicar mais facilmente as
verdades que já foram estabelecidas a outros, deveria,
por conseguinte, ser transferido((a) a dialética ou o
silogismo?) da filosofia para a retórica. (AT x. 406)

O Discurso do Método contém mais da mesma questão:

Eu observo acerca da lógica que seus silogismos e


grande parte de seus outros ensinamentos/regras servem
melhor para explicar a outros as coisas que conhecem,
ou como na arte de Lulio, capacitando alguém a falar
sem julgamento sobre coisas em relação as quais é
ignorante, que para aprender o que é novo.

Em resumo, o silogismo não pode ser um instrumento de descoberta, no sentido


de a conclusão nos dizer algo factualmente novo.
Descartes seguramente está certo aqui, mas o ponto é tão facilmente garantido
que podemos ficar inclinados a perguntar se subsiste aí uma incompreensão sobre a
função exercida pelo silogismo demonstrativo. Se compararmos os dois silogismos
Barbara acima, um não demonstrativo e outro demonstrativo, com o caso paralelo na
perspectiva estoica da demonstração, um fato muito interessante vem à tona. O caso
paralelo é este:

Novamente, não há diferença formal entre esses argumentos, mas o segundo é


supostamente uma demonstração científica, enquanto o primeiro não. A razão, xxx, é
que no segundo a conclusão, separada do argumento, não é evidente, enquanto no
primeiro ela é. No argumento científico, as premissas são evidentes: a premissa
condicional é dita racionalmente auto evidente (é de fato o resultado de uma inferência
[para melhor explicação]), a premissa menor é empiricamente auto evidente. Então
deduzimos uma conclusão não evidente de premissas auto evidentes8.

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