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Ação civil pública para prevenção de danos ambientais.

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..... VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA


COMARCA DE ....., ESTADO DO .....

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ............., por seus Promotores de Justiça


ao final firmados, todos com atuação na PROMOTORIA DE DEFESA DO MEIO
AMBIENTE DE ........., com endereço na Rua .........., vem à presença de Vossa
Excelência, com base no anexo Inquérito Civil nº ......, e forte no que dispõe o
artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, combinado com os artigos 5º, da Lei
n. 7.347, de 24 de julho de 1985, e 25, inciso IV, alínea "a", da Lei n. 8.625, de 12
de fevereiro de 1993, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido de antecipação de tutela

em face de

ESTADO DO ....... - pessoa jurídica de direito público interno, com sede na Rua .....,
n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado ..... , ....., brasileiro (a), (estado civil),
profissional da área de ....., portador (a) do CIRG n.º ..... e do CPF n.º .....,
residente e domiciliado (a) na Rua ....., n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado .....
e ....., brasileiro (a), (estado civil), profissional da área de ....., portador (a) do
CIRG n.º ..... e do CPF n.º ....., residente e domiciliado (a) na Rua ....., n.º .....,
Bairro ....., Cidade ....., Estado ....., pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos.

DOS FATOS

O inquérito civil nº ..... foi instaurado em 15 de julho de 1996 a fim de apurar a


ocorrência de invasão de uma zona classificada como "Reserva Natural do ..........",
situada na Ilha da Pintada, Porto Alegre. A área é conhecida como ............
A invasão teve início com a construção de apenas três casas ao redor do campo de
futebol. No entanto, com o passar dos anos, a ocupação foi aumentando
consideravelmente, sem que o Estado do Rio Grande do Sul, a quem cabe exercer o
poder de polícia sobre a área, até porque se trata de uma ilha fluvial sob seu
domínio, adotasse medidas concretas para impedir as invasões subseqüentes.

Veja-se que, em 11 de setembro de 1996, a Comissão de Implantação do Parque


Estadual Delta do Jacuí informou ao Diretor Superintendente da Fundação
Zoobotânica, a quem competia, na época, a administração do parque, que, apesar
da irregularidade das edificações construídas no Parque, "nenhuma ação judicial
efetiva foi tomada desde a criação do Parque, quanto à retirada de invasores,
posseiros ou proprietários nas áreas integrantes do Parque Estadual Denta do
Jacuí" (fl. 15). A mesma informação foi reiterada em 14 de janeiro de 1997 (fl. 23).

Em 1998, sobreveio notícia de que haveria um rezoneamento do Parque Delta do


Jacuí, com conversão de parte da área de parque em zona de ocupação urbana, já
que muitas das ilhas encontravam-se antropizadas (fl. 32). No entanto, até o
presente momento não ocorreu tal conversão e a área de invasão aumentou.

Em julho de 1999, o Batalhão de Polícia Ambiental efetuou uma vistoria no local e


constatou a instalação de 11 (onze) residências (fl. 53). A Fundação Zoobotânica,
anterior administradora da Unidade de Conservação Parque Delta do Jacuí, a pedido
do Ministério Público, também efetuou levantamento no local em dezembro de
1999, e constatou a formação de uma pequena "favela", com todos os problemas
ambientais atinentes, tais como contaminação da água e do solo por esgoto
doméstico, deposição irregular de lixo e supressão de vegetação nativa (fls. 71 a
77). Nesta época já havia quatorze casas na área (fl. 77).

Em dezembro de 2001, o DEFAP -Departamento de Florestas e Áreas Protegidas do


Estado do Rio Grande do Sul, atual órgão administrador do Parque, vistoriou a área
e descreveu o quanto segue:

"Observou-se que houve alteração do ambiente natural, pela construção de


aproximadamente 18 residências visíveis e supressão de vegetação nativa
(conforme adensamento de maricás ao fundo, como se pode verificar no ensaio
fotográfico), no entorno de um campo de futebol. (...) Ao entrar pelo acesso (com
entrada pela Avenida Presidente Vargas, entre os números 1178 e 1210) à direita
deste, observou-se uma grande concentração de aterro e uma residência
construída recentemente (foto 2) (...) As intervenções ocorreram em provável área
de banhado, tendo em vista a vegetação. De acordo com a foto n. 1, verifica-se
adensamento ao fundo evidenciando que houve supressão de vegetação nativa,
como maricás (mimosa bimucronata) para ocupação da área" (fls. 136 a 143).

Atualmente, conforme último levantamento feito pelo DEFAP, há 24 (vinte e quatro)


residências instaladas no local (fls. 150 a 172); e o fato, além de caracterizar dano
ambiental pela supressão de vegetação de preservação permanente, implica em
adensamento populacional desprovido de equipamentos urbanos e comunitários
definidos em lei (art. 4º, parágrafo 2º, e art. 5º, parágrafo único, da Lei 6766/79) e
incompatível com o meio físico, intensificando o crescimento caótico da cidade de
Porto Alegre. Ademais, o local transformou-se em foco de marginalização, com o
incremento das desigualdades sociais.

Apesar da realização de diversas reuniões na Promotoria de Justiça com


representantes da Procuradoria-Geral do Estado, da Fundação Zoobotânica e do
DEFAP, que chegaram a aventar a possibilidade de reassentarem os invasores em
outra área, nenhuma medida concreta foi implementada (fls. 94, 99, 106).

No entanto, foi declarado pelo representante do DEFAP que "a área tem
importância ambiental em face do banhado e da vegetação identificada. Em caso de
eventual rezoneamento, a proposta do DEFAP é no sentido de que a área continue
na Unidade de Conservação" (fl. 149).

Em síntese, trata-se de invasão de uma área de preservação permanente inserida


na Zona de Reserva Natural da Unidade de Conservação Parque Estadual Delta do
Jacuí, que não será desafetada pelo rezoneamento do Parque, e que, por sua
importância biológica, deverá ser recuperada ambientalmente, promovendo-se a
remoção das edificações e o replantio de espécies vegetais no local, de sorte a
garantir a restauração do ecossistema impactado.

Saliente-se que esta área é circundada por uma grande ocupação clandestina, mas
apresenta peculiaridades exatamente em virtude da situação de risco enfrentada
pelos moradores, pois a área do Campo Sossega Leão é um banhado que sofre
cheias e alaga completamente as edificações. Daí que, mesmo na hipótese de a
ocupação ser, no futuro, objeto de regularização fundiária, as edificações situadas
sobre o Campo deverão ser removidas, pois constituem áreas de risco.

A responsabilidade pela conservação e recuperação do local impactado é solidária


entre os invasores e o Estado do Rio Grande do Sul, com fulcro nos arts. 3o, inc.
IV, e 14, parágrafo 1º, da Lei 6938/81, e nos arts. 258 e 259 do Código Civil. Os
primeiros são causadores diretos dos danos ambientais, pois, ao construírem sobre
a área de preservação permanente, suprimiram vegetação nativa que deveria se
manter intocável. Ademais, impactaram a área pela deposição irregular de lixo e
pelo lançamento de esgoto no banhado sem qualquer tratamento.

Já o Poder Público Estadual vem se mostrando ineficiente e moroso quanto à


adoção de medidas concretas para impedir novas ocupações no local. Trata-se de
responsabilidade indireta pelos danos ambientais perpetrados pelos invasores e
decorre da omissão no exercício do poder de polícia, que, no caso dos autos,
adquire contornos mais graves porque o Parque é uma Unidade de Conservação
Estadual e situa-se sobre uma ilha fluvial, de domínio estatal, como prevê o art. 26,
III, da Constituição Federal de 1988.

O DIREITO

1.A PROTEÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

O art. 225, "caput", da Constituição Federal de 1988, afirma que: "todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações".

No seu parágrafo 1º, inciso III, prevê a Carta que para assegurar o direito
fundamental ao meio ambiente, incumbe ao Poder Público "definir, em todas as
unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem sua proteção".

Reeditado tal princípio na Constituição Estadual (artigo 251, "caput"), há que se


atentar que a referida Carta, de igual sorte, preconiza ser o meio ambiente "bem de
uso comum do povo, e a manutenção de seu equilíbrio é essencial à sadia
qualidade de vida" (artigo 250, "caput"). A par disso, impõe não esquecer que "a
tutela do meio ambiente é exercida por todos os órgãos do Estado" (parágrafo 1o.
do artigo 250).

No plano e na esfera do Município de Porto Alegre, estabelece em sua Lei Orgânica


vigente, promulgada em 03 de abril de 1990, que:
"Art. 235 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo, preservá-lo e
restaurá-lo, cabendo a todos exigir do Poder Público a adoção de medidas nesse
sentido".

Por seu turno, o Código Florestal Federal (Lei n. 4.771, de 15 de setembro de


1965), define o ambiente onde se situa o assentamento irregular como área de
preservação permanente, uma vez que se trata de um banhado natural que foi
indevidamente aterrado e teve sua vegetação nativa suprimida. Confira-se a
legislação florestal federal:

"Art. 1º - As florestas existentes no território nacional e as demais formas de


vegetação, reconhecidas de utilidades às terras que revestem, são bens de
interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de
propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta lei
estabelecem.Parágrafo único - As ações ou omissões contrárias às disposições
deste Código na utilização e exploração das florestas são consideradas uso nocivo
da propriedade".

"Art. 2º - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as


florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d' água, qualquer
que seja a sua situação topográfica num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de
largura";

No âmbito da competência concorrente para legislar sobre proteção à flora, o art.


155, inc. VI, do Código Estadual de Meio Ambiente, refere:

"Art. 155. Consideram-se de preservação permanente, além das definidas em


legislação, as áreas, a vegetação nativa e demais formas de vegetação situadas:

(....)

VI - nos manguezais, marismas, nascentes e banhados".

Por fim, a Lei Orgânica do Município de Porto Alegre prevê no seu art. 245:
"Art. 245 - Consideram-se de preservação permanente:

(...)

VI - as ilhas do Delta do Jacuí pertencentes ao Município".

Pelo fato de ser área de preservação permanente, o campo "Sossega Leão" não
poderia ser objeto de assentamento humano, já que tal atividade implica na
supressão da vegetação, o que é vedado pelo art. 4º do Código Florestal Federal.

Da mesma forma, o art. 23 do Código Florestal Estadual proíbe a supressão de


vegetação nas áreas de preservação permanente:

"Art. 23 - É proibida a supressão parcial ou total das matas ciliares e da vegetação


de preservação permanente definida em lei e reserva florestal do artigo 9º desta
Lei, salvo quando necessário à execução de obras, planos ou projetos de utilidade
pública ou interesse social, mediante a elaboração prévia da EIA-RIMA e
licenciamento do órgão competente e Lei própria.

Parágrafo único - A supressão da vegetação de que trata este artigo deverá ser
compensada com a preservação de ecossistema semelhante em área que garanta a
evolução e a ocorrência de processos ecológicos."

E o art. 43 do Código Florestal Estadual, prevê a competência do Estado para


fiscalizar as florestas de preservação permanente e demais formações.

"Art. 43 - O Estado, entre outras atribuições, fiscalizará as florestas nativas e


demais formações florísticas do Estado em colaboração com outras entidades de
direito público ou privado.A respeito das áreas de preservação permanente, Nicolao
Dino de Castro e Costa Neto assevera que "o termo preservação permanente impõe
um caráter de rigorosa proteção, acentuando a maior relevância dessas florestas
para o equilíbrio ecológico do sistema. Tal função ambiental projeta-se no campo
da higidez dos recursos hídricos, da preservação das paisagens naturais, da
proteção da biodiversidade, da preservação da estabilidade geológica, da garantia
do fluxo gênico da fauna e da flora, da proteção do solo e da promoção do bem-
estar da coletividade".

O autor elucida que "as áreas de preservação permanente constituem, com efeito,
limites intrínsecos ao direito de propriedade, operando seus reflexos no próprio
núcleo definidor do mesmo. Esse direito não pode dissociar-se de seu conteúdo
funcional, ditado por vontade expressa da Constituição. Atuando internamente
como um atributo ambiental da propriedade, as áreas de preservação permanente
penetram na substância do domínio, para estabelecer, na expressão de Flávio Dino,
uma idéia de 'propriedade intrinsecamente limitada".

Em hipóteses de degradação ambiental infligida sobre as áreas de preservação


permanente, a jurisprudência vem se manifestando pela imediata cessação do
dano, condenando-se os poluidores à restauração integral da lesão:

Desmatamento. "Ação civil pública. Meio Ambiente. Prejuízo ecológico. Concessão


de direito de uso sobre 'área verde' do loteamento - ' área reservada' - destinação
originária alterada - desafetação ilegal da área - art. 180, VII, da Constituição
Estadual, e art. 141, VII, da Lei Orgânica do Município de Birigüi - recurso não
provido. Não se pode admitir sejam postos de lado, de forma incondizente com a
preservação ambiental, os ditames exarados expressamente em leis que visam
garantir a manutenção de áreas verdes reservadas nos locais de moradias".

Importa sublinhar, como referido, que o Campo Sossega Leão é uma área alagadiça
que representa risco para a saúde da população invasora, pelo que, mesmo na
hipótese de futura regularização fundiária da ocupação em seu todo maior, o trecho
compreendido pelo Campo não tem condições de ser objeto de assentamento
humano em caráter definitivo. Para manter as pessoas, o Poder Público teria que
patrocinar o aterramento total do banhado, o que consistiria em ilegalidade, por
expressa violação da legislação acima invocada, produzindo completa
descaracterização do ecossistema.

De outra parte, a invasão situa-se em área definida como ZONA DE RESERVA


NATURAL, cujas características também impedem a utilização humana para fins de
moradia, como expressamente prevê a legislação específica a seguir exposta.

2. O PARQUE ESTADUAL DELTA DO JACUÍ

O Estado do Rio Grande do Sul criou o Parque Estadual Delta do Jacuí através do
Decreto nº 24.385, de 14 de janeiro de 1976, o qual prevê que "as terras, a flora, a
fauna e as belezas naturais da área abrangida..." ficariam "... sujeitas ao regime
especial de proteção do Código Florestal em vigor e outras leis específicas,
concernentes à matéria" (artigo 4o.).
Para tal desiderato, considerou o Decreto que:

"... as ilhas situadas no Delta do Rio Jacuí constituem uma área verde próxima a
parte mais maciçamente edificada e povoada da Capital;

"... as mesmas são parte integrante do Plano de Desenvolvimento Metropolitano,


cujas diretrizes indicam também sua utilização como área verde;

"... as ilhas contribuem para manter o grau de potabilidade das águas do Guaíba
e ... participam, ainda, dos mecanismos de manutenção de bons níveis de
produtividade de pescado;

"... elas oferecem condições básicas para propiciar lazer à população da Capital;

"... as ilhas constituem terrenos cotados, atualmente, como de alta produtividade


biológica, ao mesmo tempo que representam ecossistemas frágeis e de
características peculiares e

"... cabe ao Poder Público criar Parques Estaduais e Reservas Biológicas com a
finalidade de resguardar atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção
integral da flora, da fauna e das belezas naturais, com a utilização para objetivos
educacionais, recreativos e científicos, de acordo com o disposto no art. 5o., alínea
a, do Código Florestal".

Definidas no mencionado Diploma legal as ilhas compreendidas no Parque (artigos


1o. e 2o.) e a entidade responsável por sua instalação e administração,
posteriormente, através dos Decretos ns. 28.160 e 28.161, ambos de 16 de janeiro
de 1979, veio o Estado do Rio Grande do Sul a denominar os acidentes geográficos
inseridos na respectiva área (ilhas e canais) e a ampliá-la.

Finalmente, em 28 de fevereiro do mesmo ano, instituiu o Estado o PLANO BÁSICO


DO PARQUE ESTADUAL DELTA DO JACUÍ - PLANDEL, subdividindo sua área em
cinco zonas perfeitamente definidas em sua caracterização, finalidade e utilização
(Decreto n. 28.436/79):

1.- Zonas de Reserva Biológica - ZRB, correspondentes a áreas de maior ou menor


extensão (suficiente para sua viabilidade ecológica), que têm por finalidade
proteger integralmente a flora, a fauna e seu substrato em conjunto, ou seja,
biótopo e biocenose, assegurando a proteção de paisagem e a normal evolução do
ecossistema. Além de garantir a preservação plena da natureza poderão cumprir
objetivos científicos, educacionais e servir como bancos genéticos (§ 1o. do art.
2o.). - terão sua utilização regulamentada por instrumento interno do órgão
administrativo do Parque, não sendo permitido qualquer uso público ou privado
(alínea "a" do artigo 4o.).
2.- Zonas de Reserva Natural - ZRN, correspondentes a áreas de maior ou menor
extensão que têm por finalidade proteger a flora, a fauna e seu substrato e
conservar a paisagem atual com a permissão de instalações de uso público e
interesse social ou manutenção transitória dos usos humanos existentes, que
devem ser compatíveis com a conservação do ambiente natural (§ 2o. do art. 2o.).

- admitem as instalações existentes ou funções de uso público e interesse social,


desde que não prejudiquem o equilíbrio natural (alínea "b" do art. 4o.)

3.- Zonas de Parque Natural - ZPN, correspondentes a áreas em que se pretende


resguardar atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção da flora, da
fauna e das belezas naturais, com a utilização para objetivos educacionais,
científicos e de lazer (§ 3o. do art. 2o.). - só admitem os usos previstos em
legislação federal para Parques Naturais, que serão regulamentados por
instrumento interno do órgão administrativo do Parque (alínea "c" do artigo 4o.)

4.- Zonas de Uso Restrito - ZUR, correspondentes a áreas que, por suas
características naturais e pela tolerância do ecossistema às interferências humanas,
admitem a liberação de funções, quer para a atividade do próprio Parque como
para determinados tipos de ocupação particular (§ 4o. do art. 2o.).

- onde serão permitidas instalações particulares e semiprivadas, respeitados os


instrumentos legais vigentes e o disciplinamento no presente Decreto (alínea "d" do
art. 4o.).

5.- Zonas de Ocupação Urbana - ZOU, correspondentes a áreas onde, já existente


este uso, as condições permitem a sua manutenção dentro de determinadas
características, adaptadas às necessidades e limitações das ilhas e do Parque (§ 5o.
do art. 2o.).

- onde serão permitidos os usos previstos neste Decreto e respeitado o


disciplinamento estabelecido por legislação municipal específica (alínea "e" do art.
4o..

A área invadida situa-se em Zona de Reserva Natural, pelo que lhe incidem as
restrições previstas nos arts. 6º e seguintes do Decreto Estadual nº 28.436/79, os
quais prevêem que:
"Art. 6º - Nas Zonas de Reserva Natural somente serão permitidos, além das
atividades agrícolas e zootécnicas já existentes em escala reduzida (ao tempo da
edição do Decreto), os seguintes usos:

embarcadouros;

-clubes ou centros culturais, sociais, recreativos e esportivos;

-áreas de recreação pública;

-postos meteorológicos".

(...)

"Art. 9o. Não serão permitidos aterros nem drenagens.

Art. 10. A remoção ou eliminação de árvores ou de qualquer espécie de vegetação


só poderá ocorrer em casos especiais, com autorização expressa do órgão
administrativo do Parque.

Art. 20. Toda e qualquer forma de utilização dos lotes deverá ser feita de modo a
não modificar a paisagem típica das ilhas, devendo as construções se integrar
paisagisticamente no conjunto.

Art. 27. Nenhuma forma de utilização poderá ser feita nas Zonas de Uso Restrito,
Zonas de Reserva Natural e Zona de Ocupação Urbana sem prévia liberação por
parte do órgão administrativo do Parque Estadual Delta do Jacuí e posterior
aprovação da Prefeitura Municipal competente.

Por seu turno, o Decreto Estadual nº 42.010, de 12 de dezembro de 2002, que


aprovou o regulamento dos parques do Estado do Rio Grande do Sul, prevê, no seu
art. 12, que "não será permitido dentro das áreas dos Parques construir quaisquer
residências, salvo as residências funcionais contempladas no Plano de Manejo".

É importante referir que a vegetação que cobre a Ilha da Pintada é caracterizada


como de Mata Atlântica, que foi objeto de tombamento por parte do Governo
Estadual através do Edital de Notificação da Secretaria de Estado da Cultura,
publicado no Diário Oficial do Estado de 31 de julho de 1992, onde consta, que a
área tombada abrange a região metropolitana - Delta do Jacuí.
Por todo o exposto, a área invadida, além de caracterizar-se como área de
preservação permanente, situa-se em Zona de Reserva Natural inserida na Unidade
de Conservação Parque Estadual Delta do Jacuí, esclarecendo-se que cada uma
destas peculiaridades, por si só, já justificaria a determinação de imediata remoção
dos invasores. Confiram-se os precedentes jurisprudenciais, oriundos dos Tribunais
de Justiça do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina:

"Apelação cível. Ação reinvindicatória. Ação cautelar de atentado. Reserva florestal


pertencente ao Estado do Rio Grande do Sul. Exceção de usucapião desacolhida.
Súmula 340 do Supremo Tribunal Federal. Desmatamento da área destinada à
reserva florestal. Condenação do ocupante pelos danos causados. Indenização por
benfeitoria. Posse de má fé. Descabimento. Precedentes'. (TJRS - Apelação Cível n.
70004413225 - 18ª Câmara Cível, Rel. Des. Breno Pereira da Costa Vasconcellos).

PARQUE MUNICIPAL DA LAGOA DO PERI. Construções clandestinas em área non


aedificandi. Ação civil pública. Demolição para proteção ao meio ambiente.
Desnecessidade de dano efetivo. Indenização não devida. Direito à igualdade.

A ação civil pública é o instrumento adequado à proteção ao meio ambiente (assim


como ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico), utilizado não só para reprimir como para impedir danos ao
mesmo ambiente, não exige prova de dano efetivo, mas apenas sua probabilidade;
basta ameaça para justificar a via processual, com a qual afasta-se possível
irreparabilidade. Na proteção ao meio ambiente não se requisita tombamento
patrimonial ou dominialidade pública como condição da ação, mas apenas a
existência do interesse público na sua preservação. Da mesma forma, basta a
probabilidade de dano (visa impedir), não sendo lógico esperar sua ocorrência para
depois reprimi-lo.

Havendo limitação ao direito de construir em área de preservação permanente e


declarada non aedificandi, qualquer obra clandestina (entendendo-se por tal a que
for feita sem prévia aprovação do projeto ou sem alvará de licença) deve ser
imediata e sumariamente embargada pela Administração que pode, na esfera de
seu Poder de Polícia, efetivar sua demolição.

"A tolerância com edificações clandestinas em áreas de preservação permanente


fará com que, estimulados pelo uso de meios retardatários da execução da liminar
demolitória, mais violências contra o meio ambiente sejam perpetradas, em
prejuízo de toda a comunidade".
3. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELOS DANOS AO MEIO AMBIENTE

O art. 3º, inc. IV, da Lei 6938/81, conceitua por poluidor "a pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental".

Por sua vez, o art. 14, parágrafo 1º, da mesma lei, estabelece que "Sem obstar a
aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério
Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente".

Os requeridos, porquanto invasores da área do Sossega Leão, são causadores


diretos de degradação ambiental no local. Removeram vegetação de preservação
permanente, construíram clandestinamente no local, aterraram parte do banhado e
estão depositando lixo e esgoto diretamente sobre o solo, sem qualquer pré-
tratamento. Assim agindo, descaracterizaram completamente o ecossistema
natural, o que configura dano ambiental.

Em casos análogos, assim de pronunciou o Tribunal de Justiça de São Paulo:

"Dano ambiental. Proteção. Dano ecológico em área de preservação permanente.


Necessidade de restauração integral do ambiente degradado. Condenação em
indenização pela degradação e pelo reflorestamento. Sentença alterada para essa
finalidade. Provimento do recurso ministerial e da assistente litisconsorcial.
Comprovada a degradação da área de preservação permanente, deve o responsável
ser condenado à indenização para efetivação da recomposição integral do ambiente
danificado".

Frise-se que o fato de serem pessoas pobres não os exime do dever de reparar os
danos e, especialmente, do dever de não agravá-los, o que se requer em caráter de
antecipação de tutela, para que os réus se abstenham de efetuar cortes de
vegetação, deposição de lixo e novas construções no local.
Apenas para argumentar, deve-se perceber que o eventual direito à moradia destas
pessoas não pode conduzir ao sacrifício do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Nesta linha, MIRRA assevera que "nem mesmo sob
aquele argumento tradicionalmente utilizado, de que se pretende a satisfação de
necessidades de igual relevo, porém mais imediatas, se pode admitir o abandono,
sequer temporário, da proteção do meio ambiente. A opção fundamental da
sociedade foi pela preservação do meio ambiente desde logo, tendo em vista as
necessidades das gerações futuras. E essa opção deve ser respeitada pelos agentes
do Poder Público e pelos particulares"

4. A RESPONSABILIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

4.1. A dominialidade estatal sobre a Ilha da Pintada

No que se refere à responsabilidade do Estado do Rio Grande do Sul pela proteção


e conservação das qualidades da Reserva Natural existente no Parque Delta do
Jacuí, a par das previsões constitucionais postas no art. 23, incisos VI e VII, e no
art. 225, parágrafo 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988, importa destacar
que seu especial dever de cuidado e proteção sobre a área objeto da presente ação
decorre do fato de a área situar-se sobre bem de domínio do Estado, consoante
prevê o art. 26, inc. III, da Carta Magna:

"Art. 26 - Incluem-se entre os bens dos Estados as ilhas fluviais e lacustres não
pertencentes à União".

Destarte, a área invadida reveste-se de especiais características: É uma Reserva


Natural regulada por legislação específica que por si só obriga o Poder Público a
uma série de condutas, e bem de domínio do Estado do Rio Grande do Sul,
circunstância que lhe impõe o dever de cumprir a função sócio ambiental do imóvel.

Prevê o art. 186, inc. II, da Constituição Federal de 1988, que "a função social é
cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e
graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente".

O conteúdo da função social da propriedade foi esmiuçado pelo Código Civil de


2002, o qual, no seu art. 1228, parágrafo 1º, dispõe que: "O direito de propriedade
deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e
de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas".

Tais dispositivos aplicam-se indistintamente aos bens sujeitos ao domínio público e


ao domínio particular e criam uma obrigação de caráter real no sentido de que o
titular conserve a qualidade ambiental de sua propriedade. Neste sentido, MIRRA
refere que "a função social ambiental não constitui um simples limite ao exercício
de direito de propriedade como aquela restrição tradicional por meio da qual se
permite ao proprietário no exercício de seu direito, fazer tudo que não prejudique a
coletividade e o meio ambiente. Diversamente, a função social e ambiental vai mais
longe e autoriza até que se imponha ao proprietário comportamentos positivos, no
exercício de seu direito, para que a sua propriedade concretamente se adeqüe à
preservação do meio ambiente".

Por seu turno, José Robson da SILVA refere que "o sujeito titular de um patrimônio,
seja ele constituído por bens imóveis rurais ou urbanos, é obrigado a contribuir
para o equilíbrio ambiental. A situação proprietária inclusive irradia obrigações
propter rem, as quais apanham o sujeito, mesmo ele não tendo praticado
determinado dano ambienta. O fato de ser titular de um imóvel degradado impõe a
este a obrigação de recuperar o dano" .

Consequentemente, o Estado do Rio Grande do Sul enquadra-se no conceito de


poluidor definido no art. 3º, inc. IV, da Lei 6938/81, onde consta que se entende
por poluidor "a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,
direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental". Deve,
então, ser responsabilizado na forma do art. 14, parágrafo 1º, da Lei 6938/81.

4.2. A responsabilidade por omissão no exercício do poder de polícia

Sob outra perspectiva, a responsabilidade do Estado do Rio Grande do Sul decorre


da inobservância dos deveres de fiscalização sobre a área de seu domínio. O art.
23, incisos VI e VII é explícito ao afirmar a competência comum da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para "VI - proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a
fauna e a flora".

Em virtude de a área ser de domínio do Estado, há prevalência da atuação estatal


quanto ao exercício do poder de polícia. Ademais, o art.. 7º, parágrafo 1º, da Lei
Estadual nº 7488/81, relativa à política estadual de meio ambiente, o art. 43 do
Código Florestal Estadual prevêem a competência do Estado do Rio Grande do Sul
para promover a proteção da flora e demais áreas de preservação permanente.

Merecem também referência os arts. 36 e 49 do Código Estadual de Meio


Ambiente:

"Art. 36 - É dever do Poder Público:

(...)

II - dotar o Sistema Estadual de Unidades de Conservação de recursos humanos e


orçamentários específicos para o cumprimento de seus objetivos;

Art. 49 - Nas Unidades de Conservação Estaduais é proibido qualquer atividade ou


empreendimento, público ou privado, que danifique ou altere, direta ou
indiretamente, a flora, a fauna, a paisagem natural, os valores culturais e os
ecossistemas, salvo aquelas definidas para cada categoria de manejo".

Daí que não cabe ao Estado do Rio Grande do Sul alegar ausência de recursos
humanos suficientes para a fiscalização das ocupações no Parque como justificativa
para sua omissão.

Na hipótese dos autos, as pessoas arroladas nesta inicial invadiram a área de


preservação permanente integrante do Parque Estadual Delta do Jacuí, causando
danos ambientais e à ordem urbanística. O Estado concorreu para esta degradação
porque não adotou qualquer providência para impedir as ocupações; bem como
para evitar que o ambiente fosse degradado, pelo que deve ser reputado causador
indireto do dano, como previsto no art. 3º, inc. IV, da Lei 6938/81, incidindo-lhe
responsabilidade solidária, na forma dos arts. 258, 259, 275 e 942, do Código Civil.

A responsabilidade do Estado pelos danos ambientais decorrente de sua omissão no


exercício do poder de polícia é objetiva, como, inclusive, vem se posicionando o
Superior Tribunal de Justiça:

"Processo civil. Ação civil pública. Dano ambiental.

1.É parte legítima para figurar no pólo passivo da ação civil pública, solidariamente,
o responsável direto pela violação às normas de preservação do meio ambiente,
bem assim a pessoa jurídica que aprova o projeto danoso.
2.Na realização de obras e loteamentos, é o Município responsável solidário pelos
danos ambientais que possam advir do empreendimento, juntamente com o dono
do imóvel.

3.Se o imóvel causador do dano é adquirido por terceira pessoa, esta ingressa na
solidariedade, como responsável.

4.Recurso especial improvido".

No mesmo sentido é o posicionamento dos Tribunais de Justiça do Paraná e do Rio


Grande do Sul:

"Ação civil pública. Meio Ambiente. Danos. Aterramento de uma nascente d' água.
Responsabilidade da empresa ré por ato comissivo. Responsabilidade solidária do
Município, proprietário do imóvel, que não tomou atitude concreta para preservação
do local. Apelos improvidos. Sentença mantida em grau de reexame necessário.
Comprovando, suficientemente, o dano ambiental praticado pela empresa
requerida, consistente no aterramento de uma nascente d' águas, impõe-se a sua
condenação na reparação do dano causado 'ex-vi' do disposto no art. 225,
parágrafo 3º, da Constituição Federal, responde solidariamente, pela mesma
reparação, o Município, proprietário da área que, embora ciente da degradação
feita pela co-ré, nenhuma providência eficaz tomou para impedi-la.

Direito público não especificado. Ação civil pública objetivando responsabilizar o


Poder Público e nosocômio por danos causados à saúde pública e ao meio ambiente
natural. Possibilidade, uma vez que o Município responde pelos danos de modo
objetivo, estando bem configurada sua omissão, enquanto o Hospital de Caridade
de São Jerônimo jamais tomou as providências necessárias para impedir o
extravasamento de sua fossa, com seus efluentes sendo lançados em área habitada
e de banhado próximos, sendo ainda área alagadiça pelas cheias do Rio Jacuí.
Quadro probatório examinado, com o dever do Município de canalizar e tratar o
esgoto da Vila Juventus. Apelações improvidas. Sentença confirmada em reexame".

Demonstrados, por conseguinte, os pressupostos para a responsabilização dos réus


(ação e omissão; evento danoso e relação de causalidade), imperativo se apresenta
imputar-lhes o dever de, solidariamente, repararem os danos ambientais
produzidos, providência a ser levada a efeito através da reconstituição da área de
preservação permanente às condições originais, da demolição das edificações
clandestinas e da revegetação da área afetada com espécies nativas, tudo
conforme procedimento técnico e jurídico, cujo projeto deverá ser apresentado em
Juízo no prazo de 90 (noventa) dias a contar do trânsito em julgado da decisão,
considerado, a partir da expiração deste, idêntico prazo para a sua ultimação
(obrigação de fazer, artigo 3º, segunda parte, combinado com o artigo 11, ambos
da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985), sob pena de pagamento de multa diária a
ser definida na sentença, para a hipótese de inadimplemento de cada uma das
obrigações.

De igual sorte, indispensável é que, solidariamente, sejam os réus condenados a


compensar os danos cuja natureza e extensão tornem impossível a reparação pela
via anterior, danos esses derivados da supressão e afetação da vegetação existente
na área, e no lançamento irregular de esgotos domésticos e de lixo oriundo das
residências, tudo a ser apurado através de perícia e, após, definido em oportuna
liquidação por arbitramento. Esta compensação ecológica encontra previsão legal
no art. 23, parágrafo único, do Código Florestal Estadual, acima transcrito, e é
preferível à indenização pela dificuldade de se atribuir um valor econômico à
Natureza.

Daí que, se a remoção total das residências, com a recuperação integral do dano se
revelar irreversível, parcial ou totalmente, deverão os requeridos ser condenados,
solidariamente, à obrigação de fazer consistente em "preservar ecossistema
semelhante em área que garanta a evolução e a ocorrência de processos
ecológicos" (art. 23, parágrafo único, do Código Florestal Estadual).

Em atenção ao art. 461, parágrafo 1º, do Código de Processo Civil, apenas na


absoluta impossibilidade da execução das medidas acima indicadas é que as
obrigações de fazer poderão ser convertidas em perdas e danos, atentando-se para
que o valor a ser revertido ao Fundo de Reparação de Bens Lesados seja
proporcional ao custo hipotético da execução das obrigações de fazer.

5. A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

O art. 273, do Código de Processo Civil estabelece que "o juiz poderá, a
requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela
pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da
verossimilhança da alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação".

Por sua vez, o art. 461, do mesmo diploma, institui que "na ação que tenha por
objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento". No seu parágrafo
3º, refere que "sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu" (...)

Por fim, seu parágrafo 5º, afirma que "para a efetivação da tutela específica ou
para obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a
requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa
por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas,
desfazimento de obras, impedimento de atividade nociva, além de requisição de
força policial".

A respeito do adiantamento da tutela prevista na legislação acima, Nelson Nery Jr.


aduz que "para o adiantamento da tutela de mérito, na ação condenatória em
obrigação de fazer ou não fazer, a lei exige menos do que para a mesma
providência na ação de conhecimento tout court (CPC 273). É suficiente a mera
probabilidade, isto é, a relevância do fundamento da demanda, para a concessão
da tutela antecipatória da obrigação de fazer ou não fazer, ao passo que o CPC 273
exige, para as demais antecipações de mérito (a) prova inequívoca; (b) o
convencimento do juiz acerca da versossimilhança da alegação; c) ou o periculum
in mora (CPC 273 I) ou o abuso do direito de defesa do réu (CPC 273 II)".

No caso dos autos, apesar do tempo decorrido desde a instauração do Inquérito


Civil, remanesce presente o periculum in mora, em virtude da imperiosa
necessidade de, ao menos, "congelar" a situação atual da área invadida, a fim de
que a ocupação não seja aumentada em níveis de total irreversibilidade quando da
execução da sentença.

É que a ocupação já conta com mais de 24 residências, as quais progressivamente


estão se ampliando. É imprescindível impedir o aumento da área invadida,
garantindo-se a proteção do que ainda resta da área de preservação permanente
(banhado). Entendimento contrário conduzirá para o agravamento das condições
ambientais do local, intensificando-se a supressão da vegetação e os impactos
vinculados à emissão de efluentes e ao lixo.

A verossimilhança da alegação vem comprovada pelos relatórios de vistoria


elaborados pelo próprio Departamento de Florestas e Áreas Protegidas - DEFAP,
evidenciando o aterramento do banhado e a construção clandestina sobre área de
preservação permanente, no interior da Unidade de Conservação, em área de
Reserva Natural.
Indispensável, pois, para evitar persistam as agressões ambientais - e para
também salvaguardar os objetivos alusivos à tarefa pericial a ser procedida durante
a instrução -, seja concedida antecipação de tutela, para o fim de determinar seja o
Estado do Rio Grande do Sul liminarmente obrigado a impedir a ampliação da área
de invasão existente, bem como para que os invasores, também réus nesta ação,
abstenham-se de promover corte de qualquer espécie de vegetação e de colocar
lixo na área invadida.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO:

a) observado o que dispõe o artigo 2o. da Lei n. 8.437/92, seja concedida, em


caráter de antecipação de tutela, determinação ao Estado do Rio Grande do Sul
para que promova ao cadastramento de todos os ocupantes atuais da área
invadida, obrigando-se a impedir o aumento da invasão sobre o local, sob pena de
aplicação de multa-diária fixada por esse Juízo, em valor não inferior a um mil
reais, para a hipótese de inadimplemento - a ser recolhida para o fundo de que
trata o artigo da Lei n. 7.347/85 -, sem prejuízo de outras cominações porventura
necessárias, relativas ao descumprimento da ordem judicial;

b) a nomeação de funcionários do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas


para acompanharem e fiscalizarem o cumprimento do mandado liminar;

c) também em caráter de antecipação de tutela, sejam os demais requeridos


intimados para que se abstenham de promover qualquer alteração no ambiente da
área que ocupam sem expressa autorização do Departamento de Florestas e Áreas
Protegidas do Estado do Rio Grande do Sul, especialmente que se abstenham de
promover corte de vegetação e colocação de lixo no local sem prévio
acondicionamento, sob pena de desfazimento das edificações existentes no local;

d) a citação das pessoas arroladas e do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, este na


pessoa de seu representante legal, para, querendo, contestarem a presente ação,
sob pena de revelia; e

e) a produção de todos os meios de prova em Direito admitidos, bem assim a


inquirição de testemunhas oportunamente arroladas e a realização de perícias
eventualmente necessárias.
f) a inversão do ônus da prova, com fulcro no art. 6º, VIII, combinado com o art.
90, ambos do Código de Defesa do Consumidor.

Requer, finalmente, a procedência da ação para o fim de

g) condenar todos os réus, solidariamente, ao cumprimento de obrigação de fazer,


consistente na reparação dos danos ambientais produzidos, providência a ser
procedida mediante a reconstituição da área de preservação permanente invadida
às condições originais, a demolição das edificações clandestinas e a revegetação da
área afetada com espécies nativas, tudo conforme procedimento técnico e jurídico,
cujo projeto deverá ser apresentado em Juízo no prazo de 90 (noventa) dias a
contar do trânsito em julgado da decisão, considerando, a partir da expiração
deste, prazo não superior a um ano para sua integral execução (obrigação de fazer,
artigo 3o., segunda parte, combinado com o artigo 11, ambos da Lei n. 7.347, de
24 de julho de 1985), sob pena de pagamento de multa diária a ser definida na
sentença, para a hipótese de inadimplemento de cada uma das obrigações;

h) condenar todos os réus, solidariamente, à obrigação de fazer consistente em, na


hipótese da irreversibilidade dos danos ambientais e da impossibilidade de
recuperação ambiental da área impactada, implementar medida compensatória
ecológica, na forma do art. 23, parágrafo único, do Código Florestal Estadual,
consistente em preservar ecossistema semelhante ao impactado em área que
garanta a evolução e a ocorrência dos processos ecológicos, investindo valor
proporcional àquele que seria despendido à restauração in situ. Para o cumprimento
desta obrigação, deverão, solidariamente apresentar um projeto em Juízo no prazo
de 90 (noventa) dias a contar do trânsito em julgado da decisão, considerando, a
partir da expiração deste, prazo não superior a um ano para sua integral execução
(obrigação de fazer, artigo 3o., segunda parte, combinado com o artigo 11, ambos
da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985), sob pena de pagamento de multa diária a
ser definida na sentença, para a hipótese de inadimplemento de cada uma das
obrigações;

i) na hipótese de absoluta impossibilidade de execução das obrigações de fazer


assinaladas nos itens "g" e "h", sejam os requeridos condenados, solidariamente, a
pagar indenização a ser revertida para o Fundo de Reparação de Bens Lesados de
que trata o art. 13, da Lei 7347/85, em valor proporcional ao valor que seria
despendido na execução das obrigações de fazer, caso estas fossem possíveis.
i) condenar o Estado do ........ a suportar os encargos decorrentes dos trabalhos
periciais porventura necessários, bem assim as custas processuais;

Dá-se à causa valor de R$ .....

Nesses Termos,

Pede Deferimento.

[Local], [dia] de [mês] de [ano].

[Assinatura]

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