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Este artigo tem como objetivo entender o que Thomas Hobbes explicita de
argumentos em seu livro O Leviatã (1651) – mais especificamente na segunda metade
do capitulo XVII – para justificar a amputação voluntária dos direitos naturais dos
homens em detrimento de uma vida mais segura, para isso, é preciso antes entender o
que ecoa na física, na razão e na ontologia humana hobbesiana que dá lugar a uma
estrutura racional e de representatividade civil de poder absoluto dentro da obra.
Primeiramente, Hobbes é um autor racionalista, materialista, mecanicista e
determinista que tem todo desenvolvimento de sua teoria lógica e prática a respeito
da natureza tributária à nova ciência do séc. XVII – a teoria de movimento e a lei da
inércia. Compreender os conceitos explorados em Hobbes é a chave para desenrolar
todo seu campo racional que se consagra na passagem do estado de natureza para o
estado civil; e na prudência de respeitá-lo enquanto contrato. Buscarei esclarecer seus
principais conceitos de maneira separada e, por fim, legitimar o contrato social.
1
Graduando do curso de Licenciatura em Filosofia/UFRGS. E-mail: juan300@hotmail.com.br
2
BERNARDES 2002, p.7.
campo teórico; e explicado por uma cadeia de pequenos movimentos que regem a
natureza dos objetos sensíveis.
a) Física hobbesiana
A física de Hobbes é baseada no princípio de inércia e tem o movimento
como sendo a causa primeira e única de toda a realidade, ou seja, ela é
mecanicista como afirma Limongi 3. A realidade aqui é interpretada como sendo
material na sua essência, o que não quer dizer que ela é ligada à experiência
bruta como a ciência aristotélica – na verdade, a nova ciência entendida como
matemática e geométrica – recorre à experiência mental para conceber um
plano ideal teórico que atende os requisitos ontológicos experimentais, tal
quanto o senso comum exige, mas que são insuficientes para obter
conhecimento prático a priori. De acordo com Julio Bernardes
Como vimos, Hobbes segue o princípio da causalidade determinado pela lei da inércia
para todos os campos da ciência e da natureza, sendo esta, a ciência a priori de toda sua
teoria, logo devemos antes encarar a abstração possibilitada pela nova ciência para adquirir
conhecimento da realidade sensível e entender a determinação dos objetos devido à
geometrização da realidade que independe da experiência bruta.
5
HOBBES, T. Leviatã, p. 74.
6
BARBOSA FILHO, 1989, p. 68.
7
LIMONGI, M. I. Hobbes.
8
LIMONGI, Maria Isabel. Hobbes. Zahar, 2002.
qualquer tipo de injúria (ainda que a noção de injúria não exista por conta da
soberania generalizada) contra suas vidas, tornando desta maneira o estado de
guerra parte da natureza do homem e por consequência deixa a vida belicosa e
insegura.
**
A SOLUÇÃO CONTRATUALISTA
Hobbes nessas condições cria o artifício que dá nome ao seu livro – o Leviatã –
que seria um corpo artificial político composto por todos os súditos e de absoluto
poder que é erguido deliberadamente pelo povo para sua segurança. O Leviatã se
torna necessário à medida que a preservação da vida fica perigosa devido ao estado de
guerra e, por uma questão lógica, voluntariamente o povo se permite ser governado,
não mais sendo soberano de si mesmo, mas tendo como único soberano, o Leviatã.
9
BARBOSA FILHO, 1989, p. 70.
10
BERNARDES, 2002, p.9.
É esta a geração daquele grande Leviatã, ou antes, (para falar em termos
mais reverentes) daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus
Imortal, nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por
cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de tamanho poder e força
que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de
todos eles, no sentido da paz em seu próprio país, e ela ajuda mútua contra
os inimigos estrangeiros11.
Hobbes então faz um cálculo que contém a liberdade natural – pois a liberdade
natural, ainda que irrestrita, coexiste com o estado de guerra e por isso não há paz –
também coloca na equação o fato de que a razão levaria a adesão ao corpo civil em
detrimento da liberdade para preservar a vida finita que temos desde que todos
também o façam (caso contrário, não haveria motivo a renuncia do estado de
natureza). Aí é consolidado o contrato social, um acordo entre todos os indivíduos que
se permitem serem governados sob a lei do Leviatã que detém não só o controle
absoluto das leis, como também a espada para se fazer valer a lei, pois, de acordo com
Hobbes, ‘’ Lei sem espada não passam de palavras jogadas ao vento 12 ’’, logo, por um
ato racional de preservar a vida, o contrato social é formado com todas as partes do
corpo civil cedendo seu direito de liberdade total para o Leviatã.
11
HOBBES, 1974, p. 109 -110.
12
HOBBES, T. Leviatã, p. 59.
Referências e fontes