QUESTÕES PRÉVIAS (ou prejudiciais)
(ao conhecimento do mérito - artigos 92 a 94 do CPP)
QUESTÕES PRELIMINARES
 Ligadas ao Direito processual
 Pressupostos processuais
 Condições da ação
 Ex: citação, extinção por litispendência
- Sempre serão questões homogêneas não devolutivas
QUESTÕES PREJUDICIAIS
 Ligadas ao Direito material
 Ex: Bigamia, propriedade
- Quando o mesmo juízo criminal que resolve, são questões
homogêneas
- Quando outro ramo do direito tem que resolver (ex: mandar a ação
para o cível), são questões heterogêneas
- Tem opção de questão devolutiva ou não
Questão heterogênea absoluta (é obrigatório enviar para o outro ramo
do direito para resolver antes lá) – fala-se que é uma questão
devolutiva, se não devolver, quando for escancarada a prova, será não
devolutiva
Questão heterogênea facultativa ou relativa
Questões prévias são questões de fato e de direito que devem ser
analisadas antes da questão principal e podem ser objeto de
processo autônomo.
Exemplo: um acusado de bigamia (artigo 235 do CP) alega que seu
primeiro casamento é nulo. A validade ou não do casamento é questão
prejudicial que deve ser decidida antes do mérito, pois influi na
decisão; se o acusado de furto alega que o bem é de sua propriedade e
está discutindo isso na seara cível, tal questão deve ser decidida antes,
porquanto se mostra uma verdadeira prejudicial.
A questão prejudicial condiciona a questão prejudicada, a
prejudicada está subordinada à prejudicial
CARACTERÍSTICAS:
 Anterioridade lógica: é sempre anterior à prejudicada, primeiro
decide ou aguarda a decisão da incidente e depois julga o mérito
 Necessariedade: o mérito não pode ser decidido antes de
enfrentar a questão prejudicial
 Autonomia: a questão prejudicial pode ser objeto de processo
autônomo
 Competência na apreciação: é julgada pelo próprio juízo
penal, mas pode, em exceção, ser pelo juízo cível
Atenção: questão prejudicial não se confunde com preliminar. A
questão preliminar versa sobre pressupostos processuais ou condições
da ação.
Tourinho trata “preliminares”, como sinônimo de “prévias”, Capez diz
que prévias é o gênero, no qual estão inseridas as preliminares e
prejudiciais.
Diferenças:
Questão prejudicial:
 Refere-se a direito material (valoração jurídica), ligada ao
mérito
 Podem ser objeto de processo autônomo
 Ex: juiz não suspeito ou impedido; ausência de incompatibilidade
do juiz; não litispendência; ausência de coisa julgada; de
incompetência de ilegitimidade de parte. Lembrete: sempre
decididas pelo juízo penal.
Questão preliminar:
 Refere-se a direito processual
 Não podem ser objeto de processo autônomo
 Exemplo: falta de citação é uma questão preliminar – não se
ajuíza processo autônomo para discutir.
 Outros ex: se o objeto pertencer ao acusado, não há furto
(“subtrair coisa alheia...”); validade do casamento anterior, para
o crime de bigamia (aferir estado civil)
 Lembrete: algumas vezes são julgadas pelo juízo cível
obrigatoriamente, outras podem ser nesse juízo, mas se forem
homogêneas, serão sempre pelo juiz penal
Características em comum:
Anterioridade lógica e necessariedade.
Classificação das questões prejudiciais:
a) Quanto à influência: (Capez)
- Total: condiciona a existência do crime. Uma elementar da
infração penal
- Parcial: refere a uma circunstância do tipo penal.
b) Quanto ao mérito ou natureza:
- Homogênea: pertence ao mesmo ramo do direito da questão
principal.
Exemplo: exceção da verdade na calúnia. Furto é prejudicial quanto à
receptação; a exceção da verdade é prejudicial do crime de calúnia
(art. 138, § 3º, CP).
- Heterogênea: ramo do direito distinto da principal
Exemplo: anulação de casamento e crime de bigamia (a anulação do
casamento pertence ao direito civil)
c) Quanto ao efeito:
- Obrigatória: é a questão que obriga a suspensão do processo
até o julgamento da questão incidental. Versa sobre questão de
estado civil das pessoas. Exemplo: anulação de casamento no cível
e bigamia.
- Facultativa: não obriga a suspensão do processo principal,
mas há controvérsia de difícil solução. Exemplo: acusado de
crime contra o patrimônio alega ser o legítimo possuidor.
Características da prejudicial facultativa não presentes na
obrigatória: existência de ação civil em andamento; inexistência
de limitação à prova, na lei civil, acerca da questão prejudicial
d) Quanto ao juízo competente:
No Brasil: sistema misto (arts. 92 e 93, CPP)
Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de
controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas,
o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia
dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da
inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de
decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do
juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal
poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito
cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição
das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente.
 Questão prejudicial não-devolutiva: deve ser resolvida pelo
juízo criminal.
- São sempre questões prejudiciais homogêneas.
 Questão prejudicial devolutiva absoluta: trata das questões
prejudiciais heterogêneas que deverão ser resolvidas
obrigatoriamente pelo juízo cível.
Requisitos:
- Versar sobre o estado civil das pessoas (casado, solteiro, vivo,
morto, parente ou não)
- Constituir elementar ou circunstância do fato imputado
- Que a controvérsia seja séria, fundada e relevante
 Preenchidos requisitos, juiz obrigatoriamente deve remeter os
autos para o juiz cível e suspender o processo até o trânsito
em julgado da decisão no cível. O Ministério Público poderá
intentar a ação cível, se as partes não o tiverem feito, ou dar
prosseguimento se desistirem do processo

 Questão prejudicial devolutiva relativa: trata das questões

prejudiciais heterogêneas que poderão ou não ser resolvidas
pelo juízo cível a critério do juízo criminal.
Requisitos:
- Que seja da competência do juízo cível
- Que não verse sobre o estado civil das pessoas
- Que seja de difícil solução
- Que não sofra restrições da lei civil quanto à sua prova
(processo penal vigora princípio da verdade real)
- Que já exista ação civil em andamento
A suspensão é por prazo determinado, pode ser prorrogável,
desde que a parte não tenha dado causa ao atraso
Findo o prazo, o juiz retoma o processo e decide as questões
relativas, inclusive a prejudicial.
Tratando-se de crime de ação pública, o MP poderá intervir
na ação cível para promover o rápido andamento (atuando
como fiscal da lei).
Ex: prestação de contas na apropriação indébita; crimes contra a
propriedade imaterial, quando se discute no cível a nulidade de
patente.

Observações:
- Durante a suspensão do processo fica suspensa a prescrição
(artigo 116, inciso I, do Código Penal).

- Apesar da suspensão do processo, o juiz criminal poderá

inquirir testemunhas ou determinar produção de provas que
considere urgente.
- O despacho que determina a suspensão do processo por
questão prejudicial comporta recurso em sentido estrito (artigo
581, inciso XVI, CPP), já a decisão que nega a suspensão do
processo, não cabe recurso, a solução é levantar a questão em
preliminar de apelação.
Se a questão for devolutiva absoluta, o tribunal anula a
sentença e ordena a remessa do julgamento da prejudicial ao
cível.

Se for devolutiva relativa, o tribunal não pode anular a

sentença, mas absolve o réu.
- Cabe correição parcial do despacho que indeferir pedido da
parte sustentando suspensão do feito, alegando tumulto na
tramitação do processo
- A decisão do juízo cível vincula o juízo criminal.