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AO JUÍZO DO DESEMBARGADOR RELATOR DA 3ª CÂMARA CÍVEL DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE ALAGOAS

Processo nº 0700078-79.2019.8.02.0090

LEANDRO JOSÉ PONTES COSTA FILHO, menor impúbere, neste


ato representado por seu genitor, LEANDRO JOSÉ PONTES
COSTA, ambos já qualificados nos autos do processo em
epígrafe, vem perante Vossa Excelência, em atenção ao Ato
Ordinatório de fls. 408, expor e requerer o que segue.

A responsabilidade do ente público de garantir a


tutela de direito à saúde e educação, vejamos o que dispõe
a Constituição Federal:

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a


saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do


Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.

Art. 188 - O acesso aos serviços de saúde será


garantido pelo Poder Público, cabendo ao Estado
e Municípios dispor em Lei, no âmbito de suas
competências, sobre sua regulamentação,
fiscalização e controle.

§ 1º - O sistema único de saúde englobará todos


os órgãos estaduais e municipais de assistência
à saúde, observadas as seguintes diretrizes:
[...]
III - atendimento integral na prestação das
ações preventivas e curativas;

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Art. 208. O dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos
4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para
todos os que a ela não tiveram acesso na idade
própria;
[...]
III - atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino.

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios organizarão em regime
de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no
ensino fundamental e na educação infantil.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14,
de 1996)
[...]
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão
prioritariamente no ensino fundamental e médio.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de
1996).

Ademais, o dever dos entes estatais de disponibilizar


adequado acesso à educação (direito de todos e dever do
Estado que deve ser assegurado em caráter universal) vem
expresso no artigo 23 da Constituição Federal, e é
compartilhado pela União, pelos Estados e pelos Municípios,
sendo todos solidariamente responsáveis.

A Constituição Alagoana, por sua vez, reconhece a


educação como direito de todos, prevendo inclusive, o amplo
acesso para pessoas com deficiência, nos seguintes termos:

Art. 2º É finalidade do Estado de Alagoas,


guardadas as diretrizes estabelecidas na
Constituição Federal, promover o bem-estar
social, calcado nos princípios de liberdade
democrática, igualdade jurídica, solidariedade
e justiça, cumprindo-lhe especificamente:
[...]
V – promover e estimular, com a colaboração da
sociedade, amplas oportunidades de educação,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa

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humana, ao seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho;

Art. 198. O dever do Estado e do Município com


a educação será efetivada com guarda dos
seguintes princípios:
[...]
IV – atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiências, preferencialmente
na rede regular de ensino, garantindo-lhes
recursos humanos e equipamentos públicos
adequados;

Art. 232. O Estado promoverá ações permanentes


de prevenção de deficiência física, sensorial e
mental, bem assim desenvolverá programas de
assistência aos portadores de deficiência,
objetivando integrá-los plenamente no convivo
social, mediante a abertura de oportunidades de
educação e de trabalho e a facilitação do
acesso aos espaços públicos e aos transportes
coletivos.

Outrossim, o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao


disciplinar o direito à educação, ressaltando a necessidade
de atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito


à educação, visando ao pleno desenvolvimento de
sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-lhes:
I – igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola;
II – direito de ser respeitado por seus
educadores;
III – direito de contestar critérios
avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV – direito de organização e participação em
entidades estudantis;
V – acesso à escola pública e gratuita próximo
de sua residência.

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança


e ao adolescente:
[...]

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III – atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino;

Da interpretação dos referidos artigos, verifica-se


que deve ser priorizado o exercício do direito à educação,
outorgando-lhe, portanto, plenitude eficácia e,
consequentemente, sua efetividade de maneira igualitária,
ou seja, por meio de ações que atendam a todos aqueles que
necessitem de assistência.

Não há o que se falar em ilegitimidade do Estado de


Alagoas in casu. A propósito, a solidariedade foi reforçada
pelo comando do art. 198, caput e § 1º também da Carta da
República. Nesse sentido, segue julgado do Supremo Tribunal
Federal, in verbis:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.


DIREITO À SAÚDE. MENOR PORTADOR DE DOENÇA
GRAVE. FORNECIMENTO PELO PODER PÚBLICO DE
FRALDAS DESCARTÁVEIS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES.
SOLIDARIEDADE DOS ENTES FEDERATIVOS.
PRECEDENTES. A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal é firme no sentido de que,
apesar do caráter meramente programático
atribuído ao art. 196 da Constituição Federal,
o Estado não pode se eximir do dever de
propiciar os meios necessários ao gozo do
direito à saúde dos cidadãos. O Poder
Judiciário pode, sem que fique configurada
violação ao princípio da separação dos Poderes,
determinar a implementação de políticas
públicas nas questões relativas ao direito
constitucional à saúde. Trata-se de obrigação
solidária de todos os entes federativos,
podendo ser pleiteado de qualquer deles, União,
Estados, Distrito Federal ou Municípios.
Ausência de argumentos capazes de infirmar a
decisão agravada. Agravo regimental a que se
nega provimento. (AI 810864 AgR, Relator(a):
Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado
em 18/11/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-021
DIVULG 30-01-2015 PUBLIC 02-02-2015).

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É que, o direito à educação também é dever do Estado
em sentido lato. A previsão constitucional menciona a
distribuição preferencial entre os níveis de educação e os
entes públicos, o que não afasta a responsabilidade de um
ou outro suprir o atendimento, sem a demonstração efetiva
de ausência de estabelecimento educacional nos termos
necessários as condições de saúde do requerente.

É de se destacar, ainda, que o caso em exame versa


acerca de direito fundamental à vida e à educação de
criança, o que impõe ainda a observância dos princípios
da prioridade absoluta e do melhor interesse do infante.

Destarte, visando à consagração do direito fundamental


à educação, requer que não seja acolhida a preliminar de
ilegitimidade do Estado de Alagoas, determinando o custeio
por parte do Apelado, da educação especializada do Apelante
em escola inclusiva particular, principalmente ao se levar
em consideração que o Estado de Alagoas não possui
capacidade de receber e educar o Apelante.

Termos em que, pede e espera deferimento.

Maceió/AL, 04 de junho de 2021.

Leandro José Pontes Costa


OAB/AL 13.911

Alberto Jorge Barreto Queiroz Neto


OAB/AL 16.565

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