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29/7/23, 18:02 DESPADEC

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5019972-81.2021.4.04.0000/PR
AGRAVANTE: SINCLAPOL - SINDICATO DAS CLASSES POLICIAIS CIVIS DO
ESTADO DO PARANÁ
ADVOGADO: ANDRÉA ARRUDA VAZ (OAB PR052077)
AGRAVADO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
AGRAVADO: AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA

DESPACHO/DECISÃO

Trata-se de agravo de instrumento interposto por


SINCLAPOL - SINDICATO DAS CLASSES POLICIAIS CIVIS DO
ESTADO DO PARANÁ contra decisão que indeferiu pedido de tutela
de urgência nos autos de ação nº 50128428920214047000, pretendendo
autorização para comprar e/ou importar vacinas para combate à COVID-
19 para distribuição aos seus representados (ev. 13 da origem).

Sustenta o agravante, em síntese, que diante da extrema e


caótica situação de pandemia e frente a lentidão na imunização da
população, em especial os grupos de risco, se faz necessária a concessão
de medida com intuito de facilitar a compra e imunização de grupos que
prestam serviços essenciais, tais como segurança pública, e mais,
auxiliam no combate ao vírus, sendo de maneira direta e indireta.

Alega ainda a inconstitucionalidade do artigo 2° da Lei n°


14.125/2021, ao passo que limita o acesso da iniciativa privada à
compra da vacina, deixando a cargo somente do Estado a atribuição de
imunização da população, fator predominante para postergar a
vacinação. Aduz que permitir que um dispositivo legal imponha de
maneira controversa confisco de propriedade é ilegal, e não pode ser
chancelado pelo judiciário. Diz que em hipótese alguma pode-se
condicionar que o sindicato tenha autorização para comprar as vacinas e
doar para o SUS.

Assevera que pretende somente acelerar por meio próprios


a imunização dos servidores de segurança pública aqui representados.

Requer a concessão da antecipação da tutela recursal


"autorizando o SINCLAPOL, por intermédio de empresa ou laboratório
especializados, e devidamente cadastrados na ANVISA, para comprar e
ou importar as vacinas (já as duas doses) já utilizadas no país, ou

https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=41623415971294980657600108533&evento=4040… 1/12
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mesmo aquelas que em caráter emergencial, que foram aprovadas pela


ANVISA ou pelas agências reguladoras ou sejam aprovadas na
sequência".

Inicialmente distribuído para gabinete da  Turma


Suplementar do Paraná, especializada em Direito Previdenciário, foi
redistribuído a esta gabinete, no último dia 08/06, tendo em vista tratar-
se de matéria de competência desta Seção Administrativa.

É o sucinto relatório.

A respeito da tutela de urgência, dispõe o art. 300 do


Código de Processo Civil:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o


caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os
danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser
dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder
oferecê-la.

§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após


justificação prévia.

§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida


quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

O Juízo da 3ª Vara Federal de Curitiba, MMª. LUCIANA


DA VEIGA OLIVEIRA, assim se pronunciou (evento 13):

1. Trata-se de Ação Ordinária  ajuizada pelo Sindicato das Classes


Policiais Civis do Estado do Paraná em face da União e da ANVISA.

Relata, em apertada síntese, que as atividades dos policiais civis,


consideradas essenciais,  não foram suspensas, mesmo com o
agravamento da situação relativa à pandemia de coronavírus
(COVID-19). Aponta, inclusive, que os policiais foram incluídos na
"Ação Integrada de Fiscalização Urbana, para juntamente com as
demais forças de segurança fiscalizar o cumprimento das medidas de
isolamento e restrições de funcionamento" além das demais
atividades inerentes aos cargos.

Assim, com fundamento no direito constitucional à saúde requer


autorização, inclusive liminar, para obter autorização de importação
particular de vacinas para  combate à doença. Alega ainda
a inconstitucionalidade do artigo 2° da Lei n° 14.125/2021.

Foi proferido despacho (evento 3) condicionando a análise da tutela


antecipada à oitiva prévia das rés.

A União (evento 10) e a ANVISA (evento 9) manifestaram-se.

Os autos vieram conclusos.


https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=41623415971294980657600108533&evento=4040… 2/12
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Decido.

O art.  294  e seguintes, do  CPC, estabelece  os requisitos referentes


à  concessão de tutela provisória,  que pode  fundamentar-se  na
urgência ou na evidência.

A tutela de urgência é regulada no art. 300 do CPC/15, nos seguintes


termos:

Art. 300.  A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode,


conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea
para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou


após justificação prévia.

§ 3o  A tutela de urgência de natureza antecipada não será


concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos
efeitos da decisão.

A parte autora requer  a "concessão da medida liminar antes da


citação da parte contrária, pleiteada autorizando o SINCLAPOL, por
intermédio de empresa ou laboratório especializados, e devidamente
cadastrados na ANVISA, a comprar e ou importar as vacinas (já as
duas doses) já utilizadas no país, ou mesmo aquelas que em caráter
emergencial, que foram aprovadas pela ANVISA ou pelas agências
reguladoras ou sejam aprovadas na sequência"

Já há autorização legal para que a parte autora faça a aquisição das


vacinas.

De fato, a  Lei nº 14.125/2021  autoriza a aquisição pelas  pessoas


jurídicas de direito privado, por intermédio de empresa ou
laboratório especializados e devidamente cadastrados na ANVISA,
das vacinas  já aprovadas em caráter emergencial pela ANVISA ou
pelas agências reguladoras. 

Ainda que a lei condicione a aquisição à doação ao SUS, à exigência


de doação da totalidade é afastada após a  imunização dos grupos
prioritários previstos no Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação contra a Covid-19, quando poderão as pessoas pessoas
jurídicas de direito privado distribuir e administrar 50% (cinquenta
por cento) das doses, desde que o façam de forma gratuita.

Apesar de o pedido de liminar ter sido apresentado da forma acima


indicada, so ára comprar as vacinas sem indicação de destinação, no
bojo da inicial a parte autora deixa claro que pretende adquirir
vacinas para entregar somente aos filiados  da SINCLAPOL/PR,
desde já, situação que não se enquadra na lei citada

Entendo que o pedido, ao menos em sede de cognição não exauriente,


não pode ser deferido.
https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=41623415971294980657600108533&evento=4040… 3/12
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A condição imposta pela lei encontra amparo no art. 196 da


Constituição, que prevê expressamente que a saúde é garantida
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Assim, buscando o enfrentamento  da pandemia de coronavírus


(COVID-19) a União instituiu plano de vacinação em observância ao
Programa Nacional de Imunizações objetivando a distribuição justa e
organizada das vacinas, definindo prioridades fundadas em critérios
técnicos. 

Dessa forma, pretendendo a sociedade civil contribuir para o avanço


na vacinação pode fazê-lo nos termos da lei citada. 

Este Juízo reconhece a essencialidade das atividades exercidas pelos


representados pelo sindicato autor, bem como a necessidade urgente
de avanço na vacinação de toda a população, pois há vários grupos
em risco.

No entanto, há lei regulamentando a aquisição, em relação  à qual


não foi demonstrada qualquer inconstitucionalidade, lei esta fundada
no  Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19 que estabeleceu critérios técnicos para a definição dos
grupos prioritários. Observo, ainda, que as forças de segurança e
salvamento estão incluídas dentre os grupos prioritários
estabelecidos pelo  Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação contra a Covid-19.

Assim, os elementos trazidos aos autos não são suficientes a permitir


a interferência do judiciário alterando o plano traçado pelos órgãos
competentes.

Por fim, a tutela provisória pretendida encontra óbice na Lei nº


8.437/92, que veda em seu artigo 1º, § 3º, a concessão de tutela
provisória que esgote em todo ou em parte o objeto da ação.

Posto isso, indefiro o pedido de antecipação da tutela.

Deixo  de designar a  audiência  prevista no art. 334  do Código de


Processo Civil, em virtude da impossibilidade de autocomposição
(art. 334, § 4º, inciso II, do Código de Processo Civil).

Intimem-se.

2. Cite-se a parte ré para que, no prazo legal, apresente resposta, nos


termos do artigo 335, 336, 337 e seguintes do CPC.

3. Apresentada resposta pela parte ré, intime-se a parte autora para


que se  manifeste,  nos termos  dos  art.  350  e 351 do CPC,
oportunidade na qual devera apresentar justificadamente as provas
que pretende produzir.

4. Ao final, nada mais sendo requerido, registrem-se para sentença. 

https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=41623415971294980657600108533&evento=4040… 4/12
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Analisando o conjunto probatório até então presente nos


autos, tenho que devem ser mantidas as conclusões do decisum
hostilizado, não havendo, por ora, elementos suficientes em sentido
contrário.

Com efeito, restou demonstrado pela decisão agravada que


a Lei nº 14.125/2021 já autoriza a aquisição pelas  pessoas jurídicas de
direito privado, por intermédio de empresa ou laboratório especializados
e devidamente cadastrados na ANVISA, das vacinas  já aprovadas em
caráter emergencial pela ANVISA para o combate ao coronavírus.

Não vislumbro inconstitucionalidade do artigo 2° da Lei n°


14.125/2021, ao prever a doação integral ao SUS das vacinas adquiridas
por pessoa jurídica de direito privado, tendo em vista que, se assim não
o fosse, cairia por terra a delimitação das prioridades constantes do
Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19
- PNOVC.

Ademais, o § 1º  do art. 2º prevê que, após o término da


imunização dos grupos prioritários previstos no Plano Nacional de
Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, as pessoas
jurídicas de direito privado poderão, atendidos os requisitos legais e
sanitários, adquirir, distribuir e administrar vacinas, desde que pelo
menos 50% (cinquenta por cento) das doses sejam, obrigatoriamente,
doadas ao SUS e as demais sejam utilizadas de forma gratuita.

Sobre o tema, peço vênia para transcrever excerto de


recente decisão da E. Desembargadora  Vânia Hack de Almeida, no
agravo de instrumento nº 5015381-76.2021.4.04.0000, que bem
esclarece o até aqui estabelecimento a respeito das prioridades de
vacinação, no que diz com as forças de segurança:

Quanto à probabilidade do direito, ressalta-se que não se está a


analisar eventual inoperância ou desídia na atuação do Governo em
relação ao planejamento para a aquisição das vacinas contra a
COVID-19, porquanto tal questão já está sendo objeto de análise
tanto pelo STF, quanto em CPI instaurada para tal finalidade. A
escassez de imunizantes, assim, é fato notório, que se repete no Brasil
e em âmbito internacional. O caso limita-se a avaliar se há alguma
irregularidade na ação realizada pelo Poder Público, ao incluir
determinada categoria para vacinação prioritária,
concomitantemente aos grupos prioritários compostos por idosos e
deficientes.

Isto porque, segundo alega o MPF, estaria havendo ofensa à ordem


de prioridades descrita no Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação contra a COVID-19 - PNOVC, que assim consigna (ev. 1 –
Anexospet2 – pg. 25):

1 - Pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas;

2 - Pessoas com Deficiência Institucionalizadas;

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3 – Povos indígenas Vivendo em Terras Indígenas;

4 - Trabalhadores de Saúde;

5 - Pessoas de 90 anos ou mais;

6 - Pessoas de 85 a 89 anos;

7 - Pessoas de 80 a 84 anos;

8 - Pessoas de 75 a 79 anos,

9 - Povos e Comunidades tradicionais Ribeirinhas;

10 - Povos e Comunidades tradicionais Quilombolas;

11 - Pessoas de 70 a 74 anos;

12 - Pessoas de 65 a 69 anos;

13 - Pessoas de 60 a 64 anos;

14 - Comorbidades**;

15 - Pessoas com Deficiência Permanente;

16 - Pessoas em Situação de Rua;

17 - População Privada de Liberdade;

18 - Funcionários do Sistema de Privação de Liberdade;

19 - Trabalhadores da Educação do Ensino Básico (creche, pré-


escolas, ensino fundamental, ensino médio, profissionalizantes e
EJA);

20 - Trabalhadores da Educação do Ensino Superior;

21 - Forças de Segurança e Salvamento;

22 - Forças Armadas;

23 - Trabalhadores de Transporte Coletivo Rodoviário de


Passageiros;

24 - Trabalhadores de Transporte Metroviário e Ferroviário;

25 - Trabalhadores de Transporte Aéreo;

26 - Trabalhadores de Transporte de Aquaviário;

27 - Caminhoneiros;

28 - Trabalhadores Portuários; e

29 - Trabalhadores Industriais.

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De outro lado, a Nota Técnica  nº 297/2021-


CGPNI/DEIDT/SVS/MS antecipou, de maneira escalonada, a
vacinação dos seguintes trabalhadores das forças de segurança e
salvamento e forças armadas, ordenados por prioridade:

Trabalhadores envolvidos no atendimento e/ou transporte de


pacientes;

trabalhadores envolvidos em resgates e atendimento pré-


hospitalar;

trabalhadores envolvidos diretamente nas ações de vacinação


contra a COVID-19;

trabalhadores envolvidos nas ações de vigilância das medidas


de distanciamento social, com contato direto e constante com
o público independente da categoria.

Não é de hoje que o Poder Judiciário é chamado a intervir em


matéria de saúde pública, já tendo assentado que as ações e serviços
de saúde são de competência comum e responsabilidade tripartite
entre União, Estados e Municípios, interpretação que se extrai da
leitura dos artigos 23, inciso II, e 198, § 1º, da Constituição Federal:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios: [...]

II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e


garantia das pessoas portadoras de deficiência; [...]

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma


rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema
único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes.

I - descentralização, com direção única em cada esfera de


governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades


preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade.

§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do


art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
além de outras fontes. [...]

Ao analisar especificamente a adoção de providências normativas e


administrativas necessárias ao combate da COVID-19, o Supremo
Tribunal Federal, no julgamento da ADI 6.341, decidiu ser
concorrente a competência dos entes federados.

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O STF, ainda, ao analisar a Medida Cautelar na Ação Direta de


Inconstitucionalidade nº 6.421, de Relatoria do Min. Roberto
Barroso, assentou que as “Decisões administrativas relacionadas à
proteção à vida, à saúde e ao meio ambiente devem observar
standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como
estabelecidos por organizações e entidades internacional e
nacionalmente reconhecidas. (...) No mesmo sentido, a Lei nº
13.979/2020 (art. 3º, § 1º), que dispôs sobre as medidas para o
enfrentamento da pandemia de COVID-19, norma já aprovada pelo
Congresso Nacional, previu que as medidas de combate à pandemia
devem ser determinadas ‘com base em evidências científicas e em
análises sobre as informações estratégicas em saúde’”,  fixando,
ainda, as seguintes teses:

“1. Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar


violação ao direito à vida, à saúde, ao meio ambiente
equilibrado ou impactos adversos à economia, por
inobservância: (i) de normas e critérios científicos e técnicos;
ou (ii) dos princípios constitucionais da precaução e da
prevenção. 2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir
que as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem
expressamente: (i) das normas e critérios científicos e técnicos
aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações
e entidades internacional e nacionalmente reconhecidas; e (ii)
da observância dos princípios constitucionais da precaução e
da prevenção, sob pena de se tornarem corresponsáveis por
eventuais violações a direitos”.

Partindo destas premissas, tem-se que tanto a União, quanto os


Estados detém competência para legislar sobre o tema,
contudo, para a alteração da ordem de prioridades descrita no
PNOVC, ficou bem clara a posição do STF sobre a
necessidade de justificativa devidamente embasada em
evidências científicas e em análises sobre as informações
estratégicas em saúde. Aliás, o próprio plano já previa a
possibilidade de “alterações na sequência de prioridades
descritas no quadro 1 e/ou subdivisões de alguns estratos
populacionais, bem como a inserção de novos grupos, à luz de
novas evidências sobre a doença, situação epidemiológica e
das vacinas COVID-19.”

Dentre as justificativas para a adoção da ordem acima, o PNOVC


assim expôs:

“O plano de vacinação foi desenvolvido pelo Programa


Nacional de Imunizações com apoio técnico-científico de
especialistas na Câmara Técnica Assessora em Imunização e
Doenças Transmissíveis (Portaria GAB/SVS n° 28 de 03 de
setembro de 2020), pautado também nas recomendações do
SAGE - Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em
Imunização (em inglês, Strategic Advisor Group of Experts on
Immunization) da OMS.  Considerando o exposto na análise
dos grupos de risco (item 1 deste documento) e tendo em vista
o objetivo principal da vacinação contra a covid19, foi
definido como prioridade a preservação do funcionamento dos
serviços de saúde; a proteção dos indivíduos com maior risco
de desenvolver formas graves da doença; a proteção dos

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demais indivíduos vulneráveis aos maiores impactos da


pandemia; seguido da preservação do funcionamento dos
serviços essenciais.”

Enquanto que a alteração feita pela Nota Técnica 297/2021, veio


assim fundamentada:

“2.1. O enfrentamento da pandemia requer uma ampla gama


de medidas de intervenção de múltiplos setores da sociedade,
envolvidos tanto na manutenção do funcionamento dos
serviços de saúde, nas ações de vacinação, bem como na
implementação e fiscalização das medidas não farmacológicas.
Neste cenário, além dos trabalhadores de saúde já
explicitamente descritos no Plano Nacional de
Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO), há
de se ressaltar as ações de determinados segmentos das forças
de segurança e salvamento bem como das forças armadas que
vem atuando diretamente nas ações de controle da pandemia
no País, e que podem ainda não ter sido contemplados nas
ações de vacinação.

2.2. Segundo o Ministério da Justiça, desde o início da


pandemia, as forças de segurança pública têm sido
empregadas no cumprimento das medidas de controle
sanitário, expedidas pelas esferas federal, estadual e
municipal, no sentido de conter ações que contribuam para a
disseminação da doença, dentre estas, a fiscalização de
distanciamento social e de medidas restritivas e preventivas
definidas pelos órgãos responsáveis. Além disso, parte desses
profissionais têm desenvolvido ações diretas de apoio às ações
para operacionalização da Campanha Nacional de Vacinação
contra a Covid-19.

2.3. Os principais trabalhos executados pelas forças de


segurança e salvamento e pelas forças armadas são:

Emprego de 10 comandos conjuntos, dedicados à


coordenação das atividades de apoio à sociedade
brasileira;

ações de apoio à vacinação em todo o território


nacional;

apoio à vacinação de 13 Distritos Sanitários Especiais


Indígenas (DSEI), demandando emprego de meios
aéreos e de saúde para atuar em mais de 135.000
indígenas aldeados e em áreas de difícil acesso;

empregos de meios terrestres, aéreos e navais para o


apoio logístico ao PNO;

transporte de oxigênio e outros insumos para áreas com


alto grau de contaminação;

evacuações médicas de pacientes civis com covid-19,


por meios aéreos e terrestres para locais com
disponibilidade de tratamento;

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operações de emprego visando mitigar a ocorrência dos


crimes transnacionais;

ações de 27 pelotões especiais de fronteira,


contribuindo com a manutenção da soberania nacional;

ações de emprego para o combate aos crimes


ambientais.

Desta forma, visando contemplar os profissionais mais expostos às


ações de combate à covid-19, será antecipado o envio de um
quantitativo de doses de vacinas COVID-19, de maneira escalonada e
proporcional, direcionado exclusivamente para a vacinação dos
seguintes trabalhadores das forças de segurança e salvamento e
forças armadas, ordenados por prioridade:

Trabalhadores envolvidos no atendimento e/ou transporte de


pacientes;

trabalhadores envolvidos em resgates e atendimento pré-


hospitalar;

trabalhadores envolvidos diretamente nas ações de vacinação


contra a COVID-19;

trabalhadores envolvidos nas ações de vigilância das medidas


de distanciamento social, com contato direto e constante com
o público independente da categoria.

2.5. Importante destacar que o Ministério da Saúde dispõe das


estimativas globais desses profissionais (por Unidade Federada e
Municípios), e que a identificação destes conforme linha de atuação
deverá ocorrer em articulação com as representatividades locais, dos
municípios, estados e Distrito Federal com as entidades
representativas deste grupo-alvo.

2.6. Caso ocorram excedentes de doses, estas deverão ser


direcionadas para aqueles com 60 anos ou mais, com comorbidades
ou deficiência permanente, seguindo o ordenamento descrito no
PNO.

2.7. Os demais trabalhadores da segurança pública e forças


armadas, que não se enquadrarem nas atividades descritas acima,
deverão ser vacinados de acordo com o andamento da campanha
nacional de vacinação contra a covid-19, segundo o ordenamento
descrito no PNO. Sendo assim, não serão vacinados neste momento,
aqueles que executam as seguintes atividades:

Ações de apoio logístico ao PNO;

transporte de insumos para áreas com alto grau de


contaminação;

ações de vigilância de fronteiras, espaço aéreo, espaço


marítimo e controle de tráfego aéreo e marítimo;

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apoio à ações de combate aos crimes transnacionais e


ambientais;

demais militares.

3. CONCLUSÃO

3.1. Diante do exposto, recomenda-se a vacinação, a partir da data


de publicação desta nota, bem como quantitativos de vacinas
disponibilizados para os estados e municípios por meio dos informes
técnicos semanais, dos profissionais das forças de segurança e
salvamento e forças armadas, envolvidos nas ações de combate à
covid-19, ordenados por prioridade: Trabalhadores envolvidos no
atendimento e/ou transporte de pacientes, Trabalhadores envolvidos
em resgates e atendimento préhospitalar, Trabalhadores envolvidos
diretamente nas ações de vacinação contra a covid-19,
Trabalhadores envolvidos nas ações de vigilância das medidas de
distanciamento social, com contato direto e constante com o público
independente da categoria.

3.2. Os demais trabalhadores da segurança pública e forças


armadas, que não se enquadrarem nas atividades descritas acima,
deverão ser vacinados de acordo com o andamento da campanha
nacional de vacinação contra a covid-19, segundo o ordenamento
descrito no PNO.

Neste contexto, em que pese as alegações da parte agravante, ao que


tudo indica, a referida Nota Técnica não parece se distanciar do
PNOVC, estando justificada, notadamente pela atuação estratégica
necessária ao combate da pandemia, além de cumprir com o objetivo
central de dar ênfase à vacinação e preservação do funcionamento
dos serviços de saúde, mesmo que de forma acessória, tais como o
transporte de pacientes, atendimentos, resgates e enfrentamento
direto na vigilância das aglomerações, aqui amparado pelas mesmas
evidências científicas que justificam priorizar os profissionais da
saúde.

Destarte, ao menos por ora, tenho que deve ser prestigiada a decisão
recorrida, por não constatar a probabilidade do direito suscitado
pelo MPF.

Isto posto, indefiro a tutela de urgência." (grifei)

Diante de tais parâmetros de prioridades já estabelecidos


em relação às forças de segurança, não encontro motivos para
modificar a decisão agravada.

Por fim, acresçam-se a tais razões  as recentes notícias de


avanço da vacinação, publicadas em 08/06/2021, no site do governo
do Estado do Paraná, que dão conta de que aquele Estado "aplicou 23,1
mil doses contra a Covid-19 nas forças de segurança e salvamento":

Mais de 23 mil doses de vacina contra a Covid-19 já foram


aplicadas em servidores das forças de segurança pública e de
salvamento do Paraná. Eles recebem a vacina nas cidades-sede das
22 Regionais de Saúde do Estado.

https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=41623415971294980657600108533&evento=404… 11/12
29/7/23, 18:02 DESPADEC

A distribuição  das doses  segue os critérios  e cronogramas


estabelecidos pela Secretaria de Estado da Saúde, a partir dos lotes
recebidos do Ministério da Saúde. A aplicação é feita pelas equipes
municipais.

De acordo com informações do vacinômetro nacional, até as 11h18


desta terça-feira (08) já tinham sido aplicadas 23.145 doses do
imunizante neste grupo, sendo 16.123 primeiras doses (D1) e 7.022
segundas (D2). Segundo o balanço federal, em integrantes das forças
armadas foram aplicadas 675 doses, sendo 459 D1 e 216 D2.

Estão sendo  vacinados  profissionais da ativa das polícias Civil,


Militar e Científica, Corpo de Bombeiros, guardas municipais,
polícias Federal e Rodoviária Federal, além de integrantes
das  Forças Armadas que atuam no Estado.  A administração de
cada  instituição  comunica  internamente aos  profissionais  a data em
que estão  escalados para tomar a vacina,  a partir de um
planejamento. (...)

(https://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php)

Ora, examinando-se  os números constantes da fl. 11 do


Plano Estadual Vacinação  Contra a COVID-19 - publicado em 30 de
abril 2021, pelo Estado do Paraná -  constata-se que, para o Grupo
Prioritário 21 - Forças de Segurança e Salvamento - foi estimada   uma
população de  28.350, o que significa dizer que os representados pelo
sindicato agravante vem sendo efetivamente contemplados
na  vacinação.  (vide: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Coronavirus-
COVID-19)

De todo o exposto, indefiro o pedido de antecipação da


tutela recursal.

Intimem-se, sendo a parte agravada para os fins do


disposto no art. 1.019, II, do Código de Processo Civil.

Documento eletrônico assinado por ROGERIO FAVRETO, Desembargador Federal


Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e
Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código
verificador 40002633689v13 e do código CRC b61098f8.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): ROGERIO FAVRETO
Data e Hora: 11/6/2021, às 10:8:21

5019972-81.2021.4.04.0000 40002633689 .V13

https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=41623415971294980657600108533&evento=404… 12/12

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