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tutela provisória de urgência 

De acordo com o Código: 

Art.  300.   A  tutela  de  urgência  será  concedida  quando  houver  elementos  que  evidenciem  a 
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. 
o
§1  Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou 
fidejussória  idônea  para  ressarcir  os  danos  que  a  outra  parte  possa  vir  a  sofrer,  podendo  a 
caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê‐la. 
o
§2  A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia. 
o
§3  A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de 
irreversibilidade dos efeitos da decisão. 
Art.  301.   A  tutela  de  urgência  de  natureza  cautelar  pode  ser  efetivada  mediante  arresto, 
sequestro,  arrolamento  de  bens,  registro  de  protesto  contra  alienação  de  bem  e  qualquer 
outra medida idônea para asseguração do direito. 
Art.  302.   Independentemente  da  reparação  por  dano  processual,  a  parte  responde  pelo 
prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se: 
I ‐ a sentença lhe for desfavorável; 
II ‐ obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários 
para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias; 
III ‐ ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; 
IV ‐ o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor. 
Parágrafo  único.   A  indenização  será  liquidada  nos  autos  em  que  a  medida  tiver  sido 
concedida, sempre que possível. 
 

Simples leitura desses dispositivos deixa claro que toda vez que existirem nos autos elementos 
suficientemente seguros indicando a probabilidade do direito invocado pela parte e o perigo de dano 
ou  o  risco  ao  resultado  útil  do  processo,  a  tutela  de  urgência  poderá  ser  concedida, 
independentemente  da  prestação  de  caução  pela  parte  interessada.  Em  alguns  casos,  porém,  o  juiz 
pode exigir caução real ou fidejussória a título de garantia para o eventual ressarcimento de danos que 
a  outra  parte  possa  vir  a  sofrer,  a  qual  poderá  ser  dispensada  se  a  parte  economicamente 
hipossuficiente não puder oferecê‐la (CPC, art. 300, §1º).1 

Como  dito,  qualquer  modalidade  de  tutela  de  urgência  –  isto  é,  tanto  aquela  acautelatória 
quanto  aquela  antecipada  –  pode  ser  concedida  liminarmente  ou  após  audiência  de  justificação 
prévia, desde que, por óbvio, sejam comprovados de forma suficientemente segura seus requisitos, e 
que se não esteja diante de uma situação de absoluta irreversibilidade dos efeitos por ela emanados 
(CPC, art. 300, §3º). 

O assim chamado poder geral de cautela foi mantido pelo Código (art. 301).2 Mas, assim como 
ocorre com a concessão da medida, analisada em tópico anterior, sua efetivação deve, em regra, ficar 
condicionada  a  requerimento  do  interessado,  pois  o  que  o  legislador  permite  é  que  o  juiz  aplique, 
desde  que  provocado  a  tanto  e  desde  que  estejam  presentes  os  requisitos  genéricos  previstos  pelo 

                                                            
1
 Embora tratando do cumprimento provisório de sentença, parece ser aqui aplicável, também, o Enunciado n. 136 da II JDPC/CJF, que dispõe que: “A 
caução  exigível  em  cumprimento  provisório  de  sentença  poderá  ser  dispensada  se  o  julgado  a  ser  cumprido  estiver  em  consonância  com  tese 
firmada em incidente de assunção de competência”. 
2
 Enunciado n. 31 do FPPC: “O poder geral de cautela está mantido no CPC.” 
artigo 300 do CPC, a medida cautelar típica ou atípica que se mostrar mais adequada ao caso, mas não 
que as empregue por sua livre e espontânea vontade. 

A  imposição  de  qualquer  tutela  provisória  por  parte  do  juiz,  sem  prévio  requerimento  é 
medida  excepcionalíssima  e  deve  ser  relegada  a  situações  marcadas  por  essa  nota,  como  aquelas 
voltadas  à  preservação  do  resultado  útil  do  processo,  especialmente  quando  envolver  direitos  de 
vulneráveis ou incapazes, como dito.3 

Afora  essas  hipóteses,  não  cabe  ao  Estado‐juiz  imiscuir‐se  nesse  pormenor  para  ordenar  a 
prática de atos tendentes ao cumprimento da medida sob o pretexto deles serem necessários no caso, 
se a parte não os requerer. Isso seria ingerência estatal negativa, pois qualquer prejuízo processual ou 
material que a efetivação da tutela de urgência eventualmente causar à parte contrária será suportado 
pelo beneficiário, se ela vier a ser cassada no futuro, como será visto mais de perto na sequência (CPC, 
art. 302). 

Justamente por ter receio que isso ocorra no caso concreto, essa parte pode preferir aguardar 
algum  acontecimento  ou  o  decurso  de  determinado  prazo  para  dar  início  aos  atos  tendentes  a  lhe 
conferir efetividade. 

Apesar disso, seria possível se cogitar a viabilidade excepcional de o juiz efetivar de ofício as 
medidas por ele concedidas quando se encontrasse diante de situações sensíveis, pois a preocupação 
maior  mesmo  parece  recair  sobre  a  proibição  de  ele  deferir,  isto  é,  conceder  a  tutela  provisória  de 
ofício,  mas  não  de  ordenar  os  atos  necessários  à  sua  efetivação  no  mundo  empírico  (CPC,  art.  297, 
caput). 

A fungibilidade é outra marca característica das tutelas provisórias de urgência. Só entre elas 
existe  a  possibilidade  de  uma  ser  recebida  pela  outra.  O  artigo  305,  parágrafo  único  deixa  isso  bem 
claro  quando  autoriza  o  magistrado  a  receber  e  ordenar  o  processamento  da  petição  inicial  da  ação 
que  visa  à  prestação  de  tutela  cautelar  antecedente  como  se  fosse  um  pedido  de  tutela  antecipada 
antecedente. A recíproca, por óbvio, é verdadeira, devendo o juiz, tanto em um quanto em outro caso, 
esclarecer as partes a respeito dos respectivos regimes processuais a serem observados (Enunciado n. 
45 da I JDPC/CJF). 

Na  prática  isso  pode  representar  um  significativo  avanço  frente  ao  sistema  anterior.  Muitos 
devem  se  lembrar  do  verdadeiro  terror  que  se  instaurava  sob  a  vigência  do  CPC/73,  quando  o  juiz 
entendia que o requerimento liminar de separação de corpos eventualmente formulado em uma ação 
cautelar autônoma (CPC/73, art. 888, VI) deveria ser deduzido sob a forma de antecipação de tutela 
(CPC/73, art. 273). A emenda à inicial era determinação certa e, infelizmente acabava levando a outra 
cena ainda mais aterrorizante: o magistrado anterior era substituído por outro que, por seu turno, se 

                                                            
3
 Na legislação, por exemplo, a Lei n. 10.259/01, que regula o funcionamento dos Juizados Especiais Cíveis e Federais no âmbito da Justiça Federal, 
estabelece em seu art. 4º que “o juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar 
dano de difícil reparação”. Na jurisprudência do STJ, conferir a título exemplificativo: AgInt no AREsp 975.206/BA, DJe de 27.04.17; REsp 507.167/SC, 
DJe de 05.12.05 
posicionava de forma contrária a seu antecessor no sentido de que a separação de corpos realmente 
seria uma medida cautelar e não uma medida satisfativa que pudesse ser eventualmente antecipada. 
Nova  emenda  era  ordenada  e  um  mini  caos  tomava  conta  do  ambiente,  de  forma  absolutamente 
contraproducente a tudo que se espera de um ecossistema de justiça.  

Situações tão desconfortáveis quanto essa podiam ser enxergadas também em requerimentos 
liminares de alimentos provisórios, quando se entendia que eles seriam alimentos provisionais, e em 
buscas e apreensões de menores, quando eram propostas de forma satisfativa. 

Inevitavelmente, o jurisdicionado, que não tinha nada a ver com isso, é que acabava pagando 
o preço. 

Não  que  o  Código  revogado  não  autorizasse  a  fungibilidade.  Absolutamente,  não!  A  redação 
de seu artigo 273, §7º era até parecida, de certa forma, com a do artigo 305, parágrafo único do CPC, 
não deixando dúvida sobre a aplicabilidade prática dessa alternativa4. Mas, o novo sistema conferido 
pelo Código de 2015 a todas as tutelas provisórias tornou seu emprego muito mais simples, lógico e 
facilmente compreensível, praticamente impossibilitando que o jurisdicionado sofra qualquer tipo de 
prejuízo pelo uso de uma espécie de tutela de urgência no lugar da outra. 

Traçado esse lineamento sobre os aspectos gerais das tutelas provisórias de urgência, pode ter 
início a análise de suas espécies, a iniciar pela tutela de urgência meramente acautelatória. 

A tutela provisória de urgência cautelar (conservativa) 

Por  mais  intuitivo  que  isso  seja  não  custa  relembrar  que  a  finalidade  da  tutela  cautelar  é 
meramente assegurar a eficácia de algum direito a ser acautelado.  

Ela pode ter por objetivo alguma providência voltada a evitar o próprio fracasso do processo, 
assegurando  seu  resultado  útil,  mas  pode  ter  também  o  intuito  de  preservar  a  situação  jurídica  de 
direito  material  nele  discutida,  eliminando,  com  isso,  o  perigo  de  dano.  Medidas  voltadas  a  evitar  a 
adulteração  ou  perecimento  de  provas  a  serem  utilizadas  na  demanda  principal,  exemplificariam  a 
primeira hipótese; já atos destinados a preservar a incolumidade física das pessoas envolvidas nesse 
litígio representariam a segunda. 

Como diria Humberto Theodoro Júnior,5 “a sua finalidade é conservar bens, pessoas ou provas, 
que possam sofrer alguma lesão ou perigo de lesão em razão da longa duração da marcha processual”. 

Daí, inclusive, a opção pela nomenclatura “tutela de urgência conservativa”. 

Portanto, não importa o quê. Seu propósito é sempre servir ao processo principal, seja ele de 
conhecimento ou de execução. Por isso costuma‐se dizer que sua marca característica é possibilitar a 

                                                            
4
 AgInt no AREsp 669.906/SP, DJe de 10.11.16; REsp 1.150.334/MG, DJe de 11.11.10. 
5
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento 
comum. v. I. 59. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. 
convivência simultânea de dois direitos: um direito à cautela – como o direito ao arresto, ao sequestro, 
ao arrolamento constritivo ‐ e um direito a ser acautelado – como o de ter uma quantia paga, o de ter 
uma  obrigação  de  entregar  coisa  cumprida  e  o  de  ter  uma  universalidade  jurídica  dissolvida, 
respectivamente.6 

Graficamente, essa relação de referibilidade poderia ser assim representada: 

direito à cautela 
(direito ao arresto, ao arrolamento, à separação de corpos etc) 

 
 
direito a ser acautelado 
(direito de crédito, direito de dissolver uma universalidade jurídica, integridade física etc) 

Sem essa situação de dependência, não há que se falar em tutela cautelar, mas sim em tutela 
satisfativa. 

Nos conflitos familiares, a tutela de urgência cautelar assume papel de expressiva importância. 
Quem nunca se deparou com pedidos de arrolamento constritivo de bens, de sequestro, de bloqueio 
de bens ou de separação de corpos, não é mesmo? 

  Aliás,  no  campo  dos  direitos  pessoais  de  família,  onde  as  notas  da  indisponibilidade  e  da 
ingerência estatal são mais acentuadas, o bom uso dessa técnica pode trazer incontáveis benefícios ao 
usuário. A bem da verdade, pode ser fundamental para sua vitória no litígio. Veja, por exemplo, como 
a medida de separação de corpos poderia ser útil não só para preservar incolumidade física e psíquica 
de um consorte, ao promover seu afastamento do outro, como também para facilitar a obtenção de 
sua meação, ao deixar claro que, a partir daquele momento, o afeto entre o casal teria sido rompido e, 
por conseguinte, apenas os bens que tivessem sido adquiridos até ali se comunicariam.  

  Obviamente,  a  pessoa  dos  filhos  incapazes  seria  colocada  a  salvo  de  eventuais  problemas 
enfrentados  por  seus  pais,  pois  o  artigo  1.585  do  Código  Civil  estabelece  que,  em  sede  de  medida 
cautelar  de  separação  de  corpos,  “a  decisão  sobre  guarda  de  filhos,  mesmo  que  provisória,  será 
proferida preferencialmente após a oitiva de ambas as partes perante o juiz, salvo se a proteção aos 
interesses  dos  filhos  exigir  a  concessão  de  liminar  sem  a  oitiva  da  outra  parte,  aplicando‐se  as 
disposições do art. 1.584.” 

  Observe,  também,  como  seria  importante  uma  medida  inominada  voltada  à  contenção  da 
assim  chamada  “revenge  porn”,  usualmente  colocada  em  prática  por  meio  de  vazamentos  de  fotos 
íntimas do casal (nudes). 

                                                            
6
 Por todos, conferir: MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 5. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1999.  
  Incontáveis  vantagens  poderiam  ser  percebidas,  ainda,  em  casos  envolvendo  violência 
doméstica  no  ambiente  familiar,  com  o  objetivo  de  que  fossem  aplicadas  ao  agressor  medidas 
assemelhadas às protetivas de urgência de natureza civil (elencadas nos artigos 18 e seguintes da Lei n. 
11.340/06), mas de natureza meramente acautelatória. 

No  campo  patrimonial,  marcado  por  bem  menos  interferência  estatal  e  por  bem  mais 
disponibilidade,  o  aproveitamento  da  medida  cautelar  não  é  menos  perceptível.  Aquele  que  tiver 
interesse em se antecipar à partilha, para não correr riscos de dilapidação patrimonial, por exemplo, 
pode deduzir requerimento de tutela de urgência acautelatória objetivando arrolar e inserir constrição 
sobre  os  bens  comuns  que  tenham  sido  adquiridos  até  a  data  da  separação  de  fato,  para  que  não 
pairem  dúvidas  sobre  o  momento  final  da  comunicabilidade,  logo,  da  verificação  do  acervo  a  ser 
futuramente partilhado. Se o caso envolver suspeita de fraude à meação, ordens de bloqueio de ativos 
financeiros,  de  averbação  da  certidão  premonitória  em  órgãos  públicos  (CPC,  art.  822)  e  de 
transferências  de  cotas  societárias,  assim  como  o  sequestro  ou  a  inserção  de  indisponibilidade  em 
matrículas  de  bens  móveis  ou  imóveis  acentuam  a  suficiência  e  necessidade  da  técnica  sob  estudo, 
bastando que se comprovem a existência de litigiosidade entre os demandantes e o fundado receio de 
desvio ou dilapidação dos bens comuns. Em ações onde se discutem e postulam nulidades de doações, 
pelos  mais  variados  motivos,  é  bastante  comum  o  requerimento  de  averbação  de  protesto  contra  a 
alienação  de  imóveis  à  margem  do  registro,7  não  com  o  propósito  de  obstar  o  respectivo  negócio, 
tampouco de anulá‐lo ou impedir o registro,8 mas apenas de servir como fator de publicidade acerca 
dos direitos que o promovente alega ter sobre a coisa e para inibir o terceiro adquirente de alegar boa‐
fé em eventual demanda voltada a anular a venda.9  

Finalmente,  mas  sem  qualquer  pretensão  de  esgotar  os  exemplos  possíveis,  sabe‐se  ser 
extremamente  útil  em  fases  de  cumprimento  ou  em  ações  executivas,  a  consulta  à  situação 
patrimonial  de  devedores,  realizada  por  intermédio  de  sistemas  informatizados  como  Sisbajud, 
Infojud, Infoseg, Renajud e CCS‐Bacen, sobretudo porque o STJ possui entendimento sólido no sentido 
de  que  o  recurso  a  tais  ferramentas  independe  do  prévio  esgotamento  das  buscas  por  outros  bens, 
justamente por entender que elas são colocados à disposição dos credores para agilizar a satisfação de 
seu crédito.10 

Enfim, o Direito das Famílias é campo fértil para a utilização da tutela cautelar.11 

É  preciso,  entretanto,  observar‐se  o  seguinte:  durante  a  vigência  do  CPC/73,  a  parte  que 
objetivava meramente resguardar o exercício de um direito futuro, provocava a atuação do Estado‐juiz 

                                                            
7
 STJ, AgInt no AResp 975.206/BA, DJe de 04.05.17. 
8
 O fato de se tratar de medida revestida de caráter meramente documental não impede o registro da alienação pelo Oficial do CRI, tampouco justifica 
o ajuizamento de embargos de terceiro pelo suposto prejudicado. Assim: STJ, REsp 1.758.858/SP, DJe de 25.5.20. 
9
 STJ, AgInt no REsp 1.777.412/SP, DJe de 26.6.20. 
10
  Dentre  vários:  REsp  1.944.161/RS,  DJe  de  03.12.20;  AgInt  no  AREsp  1.398.071/RJ,  DJe  de  15.3.19;  AREsp  1.376.209/RJ,  DJe  de  13.12.18;  ‐REsp 
1.723.898/ES, DJe de 23.11.18; AgInt no AREsp 1.293.757/ES, DJe de 14.8.18. Especificamente sobre o CCS‐Bacen: REsp 1.938.665/SP, DJe de 03.11.21; 
REsp 1.464.714/PR, DJe de 1º.4.19. 
11
  Embora  tenha  sido  escrito  sob  a  égide  do  sistema  revogado,  é  imprescindível  a  leitura  do  excelente  o  texto  de:  MARQUES,  Wilson.  As  ações 
cautelares no direito de família. Revista da Emerj, v. 3, n. 11, 2000. 
por  meio  de  duas  técnicas:  a  das  medidas  genuinamente  cautelares  e  a  das  “medidas  cautelares 
satisfativas”.  

As  medidas  genuinamente  cautelares  eram  aquelas  vocacionadas  única  e  exclusivamente  à 


mera  prevenção  de  outro  direito.  Eram  classificadas  em  cautelares  nominadas  conforme  viessem 
trazidas pelo legislador sob formatos preestabelecidos ‐ como o arrolamento de bens e o sequestro ‐ e 
cautelares  inominadas  quando  não  tipificadas  expressamente  –  a  exemplo  daquelas  voltadas  à 
inserção de restrições em matrículas de imóveis ou bloqueios de quantias, por exemplo.  

Em qualquer caso, o pedido correspondente poderia ser deduzido tanto de forma preparatória 
a alguma ação principal (CPC/73, art. 800), quanto diretamente no interior de alguma demanda onde 
também  eram  deduzidos  pedidos  direcionados  à  resolução  definitiva  de  alguma  situação  jurídica,  a 
exemplo do divórcio, da declaração de paternidade e da guarda de filhos (CPC/73, art. 801).  

Para  além  dessa  forma  legítima  e  tecnicamente  adequada  de  tutela  dos  direitos,  as  partes 
usualmente lançavam mão de um expediente tecnicamente inapropriado, mas que comportava larga 
aceitação no cotidiano forense: as assim chamadas “medidas cautelares satisfativas”. Nelas, embora o 
interessado  pretendesse  obter  providência  de  cunho  satisfativo,  recorria  ao  método  e  ao 
procedimento  estabelecidos  para  as  ações  cautelares,  fazendo  com  que  o  processo  perdesse  seu 
objeto  tão  logo  a  medida  liminar  fosse  concedida,  em  atitude  que  beirava  o  contrassenso.  Talvez  o 
mais representativo exemplo dessa prática fosse encontrado na ação voltada à busca e apreensão de 
filhos que já possuíam guardiões definidos na pessoa de algum ascendente, mas que não voltavam aos 
seus  respectivos  lares  depois  das  férias  escolares  ou  de  finais  de  semana  prolongados,  em  razão  de 
óbices  criados  pelo  não  guardião.  Por  meio  dela  a  pessoa  que  tinha  a  guarda  a  seu  favor  pretendia 
única e exclusivamente fazer com que o filho voltasse ao seu convívio, sem depender do acertamento 
de qualquer outra questão relacionada à fixação da guarda ou à regulamentação da convivência, até 
porque tais questões já haviam sido resolvidas em demandas precedentes.  

Na teoria, bastaria a elaboração de mero requerimento de cumprimento de sentença para que 
o não guardião fosse compelido, inclusive liminarmente, a cumprir a obrigação de fazer à qual havia 
sido obrigado: restituir o filho ao convívio do guardião, tão logo escoado o período assinalado para o 
exercício de seu direito à convivência (CPC/73, art. 461, §§ 3º a 6º). Na prática, era confeccionada uma 
petição  inicial  de  “ação  de  busca  e  apreensão  satisfativa”,  que  acabava  sendo  distribuída  por 
dependência  e  autuada  em  apenso  aos  autos  do  processo  onde  a  guarda  havia  sido  deliberada. 
Deferida a liminar, não havia o que mais ser acertado. Como resultado, a ação costumava ser extinta 
na sequência, tornando desnecessária a propositura de qualquer outra demanda que a ela pudesse ser 
considerada “principal”, quando não acontecia algo ainda pior: a propositura de uma “ação principal 
vazia”,  cuja  petição  inicial  era  franca  repetição  daquela  utilizada  na  cautelar  preparatória,  com 
mínimas alterações pontuais. 
Tal  conduta  não  era  exatamente  ilegal,  mas  claramente  sugeria  profundos  questionamentos 
de índole técnico‐jurídica, dada a absoluta distinção entre as naturezas e finalidades de uma e outra 
medidas. 

Definitivamente, essa não era a melhor solução.  

  Da conservação à satisfação 

De certo modo, pode‐se afirmar que a aceitação das “cautelares satisfativas” devia‐se a razões 
de ordem pragmática e casuística, pois é de conhecimento geral que o que “acautela não satisfaz” e 
que “satisfatividade é pressuposto negativo de cautelaridade”.12  

Não  se  trata  de  apego  ao  formalismo,  tampouco  de  questionamento  desprovido  de 
repercussão prática. Pelo contrário. Existem graves e sérias consequências na adoção de um ou outro 
regime, justamente porque o legislador estruturou o procedimento cautelar e a própria tutela cautelar 
com  o  único  e  exclusivo  propósito  de  garantir  e  resguardar  a  eficácia  de  algum  provimento  a  ser 
proferido em uma demanda principal, na qual serão garantidos o contraditório e a mais ampla defesa 
às partes.  

Por isso é que simplesmente não pode haver satisfação por meio dessa técnica.  

A  propósito,  não  faz  muito  tempo  que  o  Superior  Tribunal  de  Justiça  teve  oportunidade  de 
apreciar Recurso Especial em que se discutia exatamente esse ponto. Em razão da precisão da análise, 
faço questão de transcrever toda a ementa, que foi publicada da seguinte forma: 

PROCESSUAL  CIVIL.  CONTRATO  DE  COMODATO.  AJUIZAMENTO  DE  AÇÃO  CAUTELAR 


SATISFATIVA  DE  BUSCA  E  APREENSÃO.  RETOMADA  DOS  BENS  OBJETO  DO  CONTRATO. 
IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. 
1.  A  possibilidade  de  ajuizamento  de  medida  cautelar  satisfativa  é  medida  excepcional  no 
ordenamento jurídico, devendo haver previsão legal expressa para o seu cabimento. 
2.  A  observância  desses  preceitos,  longe  de  apego  excessivo  a  formalismo,  na  verdade 
resguarda  o  devido  processo  legal  e  assegura  o  direito  pleno  de  defesa,  com  possibilidade 
ampla  de  produção  de  provas,  pois  o  processo  cautelar,  com  nítido  escopo  de  garantia  e 
acessoriedade, tem por finalidade apenas assegurar a eficácia do provimento a ser proferido 
na demanda principal. 
3.  Com  efeito,  à  ausência  de  previsão  legal,  descabe  o  ajuizamento  de  ação  de  busca  e 
apreensão  absolutamente  satisfativa,  com  o  escopo  de  retomar  bens  móveis  objeto  de 
contrato  de  comodato,  razão  pela  qual,  se  inexistente  ação  de  conhecimento  ajuizada  no 
prazo do artigo 806 do CPC, mostra‐se de rigor a extinção da ação cautelar, sem resolução de 
mérito. 
4. Recurso especial a que se nega provimento.  
(REsp 540.042/CE, DJe de 24.08.10). 
 
Perceba: não é preciosismo. É técnica! 

                                                            
12
 Dentre vários, p. ex.: SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de processo civil. v. 3. São Paulo: RT, 2000, p. 9‐23; ZAVASCKI, Teori Albino. Medidas 
cautelares e medidas antecipatórias: técnicas diferentes, função constitucional semelhante. RePro 82/56. 
Com  a  entrada  em  vigor  do  novo  Código,  parece  que  não  haverá  mais  espaço  para  a 
propositura  de  ações  cautelares  satisfativas.13  Além  de  ter  suprimido  completamente  o  Livro 
anteriormente  destinado  ao  tratamento  do  Processo  Cautelar,  o  legislador  de  2015  unificou  os 
requisitos necessários para a concessão de toda e qualquer tutela provisória de urgência, bem como 
estabeleceu  um  único  procedimento  para  a  concessão  da  tutela  cautelar  requerida  de  forma 
antecedente,  enunciando  genérica  e  sucintamente  que  ela  pode  ser  efetivada  mediante  arresto, 
sequestro, arrolamento constritivo de bens, registro de protesto contra alienação de bem, assim como 
sob a forma de qualquer outra medida idônea para asseguração do direito (CPC, art. 301). 

Não se pode deixar de registrar, contudo, um inusitado fato: o mesmo Código que nomina pelo 
menos  quatro  procedimentos  cautelares  tipicamente  contemplados  pelo  CPC/73,  não  traz  os 
requisitos  necessários  para  a  concessão  de  nenhum  deles,  podendo  levar  o  aplicador  a  ter  sérias  e 
fundadas  dúvidas  a  respeito  de  quando  o  arresto  tem  lugar,  de  quais  hipóteses  possibilitam  a 
concessão  do  sequestro  ou  do  que  se  exigiria  para  o  deferimento  do  arrolamento  constritivo,  por 
exemplo. 

Como  houve  a  unificação  dos  requisitos,  quer  mesmo  parecer  que  todas  as  cautelares 
dependam apenas da comprovação da probabilidade do direito alegado e do perigo na demora.14   

Especial atenção deve ser dedicada ao arrolamento de bens, contudo. Isso porque o Código, 
em um primeiro momento, o considera medida cautelar (CPC, art. 301), mas em outro como prova a 
ser realizada por meio da ação de produção antecipada de provas (CPC, art. 381, §1º). Não se trata de 
confusão  do  legislador,  como  poderia  parecer  em  uma  leitura  desatenta,  mas  sim  de  técnicas 
diferenciadas  propositalmente.  Tanto  é  assim  que,  para  ser  considerado  medida  cautelar  e,  via  de 
consequência, ser processado sob o rito ora estudado, o arrolamento deverá se destinar, a promover 
atos de apreensão ou bloqueio de bens, sendo esta a razão pela qual está sendo denominado neste 
livro  de  “arrolamento  constritivo”.  Já  para  que  possa  ser  classificado  como  prova,  deve  ter  por 
finalidade unicamente a documentação de fatos ou relações jurídicas, sendo por isso aqui chamado de 
“arrolamento  conservativo”,  o  qual  será  estudado  com  mais  profundidade,  no  capítulo  destinado  à 
produção antecipada de provas.  

Como este tópico se destina ao estudo da tutela cautelar, as menções feitas ao arrolamento 
considerarão apenas o constritivo.  

Seja  como  for,  o  procedimento  a  ser  adotado  para  qualquer  requerimento  antecedente  de 
medida cautelar será o mesmo, abordado detalhadamente no tópico seguinte. 

                                                            
13
 Exatamente assim: STJ, REsp 1.802.171/SC, J. em 21.5.19. 
14
 Exatamente nesse sentido: MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil. V. 2. São Paulo: 
RT, 2015, p. 200. 
O procedimento da tutela cautelar antecedente nas ações de família 

Dentre  as  novidades  trazidas  pelo  novo  sistema,  encontra‐se  o  já  mencionado  fim  da 
autonomia procedimental das antes chamadas “cautelares preparatórias”.  

Mas,  preste  bastante  atenção!  O  que  foi  eliminado  é  a  autonomia  procedimental  ‐  isto  é,  a 
previsão de uma ação específica para a concessão da tutela cautelar ‐, mas não a autonomia inerente à 
tutela cautelar.  

Memorize: o processo cautelar teve fim; não a tutela cautelar. 

Esta não poderia ser abolida do ordenamento por uma lei ordinária, pois encontra assento em 
uma cláusula pétrea, que  assegura que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
“ameaça a direito” (CR/88, art. 5º, XXXV). 

O  CPC  disciplina  normativamente  apenas  o  procedimento  da  tutela  cautelar  requerida  em 
caráter antecedente, pois o requerimento formulado incidentalmente ao processo não terá que seguir 
qualquer  esquema  ritual  predefinido.  Bastará  haver  a  dedução  de  requerimento  cautelar  na  petição 
inicial  ou  em  petição  simples,  durante  o  curso  do  processo,  demonstrando  o  preenchimento  dos 
requisitos do perigo e da probabilidade do direito, como dito.  

Justamente por isso, não serão tecidas maiores considerações a seu respeito.  

De  agora  em  diante,  as  atenções  se  projetarão  mesmo  sobre  a  tutela  cautelar  requerida  em 
caráter antecedente. 

Embora tenha primado por utilizar redação um pouco mais apegada ao preciosismo conceitual 
e  à  sistematização  entre  seus  diversos  institutos,  o  legislador  de  2015  cometeu  seríssimos  erros  de 
organização e de posicionamento topográfico de determinados assuntos, transferindo ao aplicador a 
difícil tarefa de interpretá‐los adequadamente.  

Com a tutela provisória de urgência isso aconteceu com mais frequência do que se desejava, 
pois tanto a disciplina do procedimento da tutela cautelar antecedente quanto o tratamento da tutela 
antecipada  antecedente  foram  tão  mal  organizados  que  se  o  intérprete  não  recorrer  a  técnicas 
hermenêuticas  seguras  e  a  um  bocado  de  criatividade,  chegará  a  conclusões  simplesmente 
insatisfatórias quando não completamente contraditórias. 

Veja. De acordo com os artigos 305 a 310 do CPC: 

Art.  305.   A  petição  inicial  da  ação  que  visa  à  prestação  de  tutela  cautelar  em  caráter 
antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que se objetiva 
assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. 
Parágrafo único.  Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza antecipada, 
o juiz observará o disposto no artigo 303. 
Art.  306.   O  réu  será  citado  para,  no  prazo  de  5  (cinco)  dias,  contestar  o  pedido  e  indicar  as 
provas que pretende produzir. 
Art. 307.  Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir‐se‐ão aceitos 
pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias. 
Parágrafo único.  Contestado o pedido no prazo legal, observar‐se‐á o procedimento comum. 
Art. 308.  Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado pelo autor no 
prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos mesmos autos em que deduzido o 
pedido de tutela cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas processuais. 
o
§ 1  O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o pedido de tutela cautelar. 
§ 2o A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação do pedido principal. 
o
§ 3  Apresentado o pedido principal, as partes serão intimadas para a audiência de conciliação 
ou  de  mediação,  na  forma  do artigo  334,  por  seus  advogados  ou  pessoalmente,  sem 
necessidade de nova citação do réu. 
o
§ 4  Não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma do artigo 
335. 
Art. 309.  Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se: 
I ‐ o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal; 
II ‐ não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias; 
III ‐ o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o processo 
sem resolução de mérito. 
Parágrafo único.  Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é vedado à parte 
renovar o pedido, salvo sob novo fundamento. 
Art.  310.  O  indeferimento  da  tutela  cautelar  não  obsta  a  que  a  parte  formule  o  pedido 
principal,  nem  influi  no  julgamento  desse,  salvo  se  o  motivo  do  indeferimento  for  o 
reconhecimento de decadência ou de prescrição. 

Portanto,  se  antes  da  entrada  em  vigor  do  CPC/15  havia  necessidade  de  que  a  parte 
ingressasse com uma ação cautelar preparatória para depois ajuizar uma ação principal, agora ela só 
precisa promover uma demanda. Esta demanda será iniciada por uma petição contendo a alegação e 
comprovação da probabilidade do direito e do perigo da demora, bem como a mera indicação de qual 
será o pedido principal a ser oportunamente deduzido no mesmo processo (e não em outra ação). Na 
sequência, o juiz se pronunciará sobre o requerimento liminar, ordenando a citação do réu para que 
apresente resposta ao pleito cautelar,  se isso for de seu interesse. Se a  liminar for deferida, o autor 
terá o prazo de 30 dias para deduzir o pedido principal ao qual ele terá feito mera menção, não sendo 
necessária a propositura de uma nova ação, já que o pleito será feito no mesmo processo, para que o 
procedimento tenha continuidade. 

Vejamos de forma mais detalhada como isso acontece. 

A dedução do pedido cautelar antecedente (CPC, art. 305) 

Leitura  atenta  do  texto  do  artigo  305  do  CPC  revela  que  a  parte  que  pretender  deduzir 
requerimento  de  natureza  cautelar  antecedente  deverá  fazê‐lo  por  meio  de  petição  inicial  que 
contenha,  no  mínimo,  a  exposição  sumária  do  direito  que  se  objetiva  assegurar,  as  alegações 
respeitantes ao perigo de dano ou ao risco ao resultado útil do processo e a indicação da lide principal 
e de seu fundamento.  

Ao exigir a exposição sumária do direito, pretende‐se que a parte apresente a probabilidade de 
seu direito, ou seja, o fumus boni iuris. Já ao impor as alegações respeitantes ao perigo de dano ou ao 
risco  ao  resultado  útil  do  processo,  requer‐se,  é  claro,  que  o  interessado  exponha  o  perigo  que  a 
demora na tramitação do processo poderá lhe causar, isto é, o periculum in mora. Finalmente, quando 
o  legislador  permite  que  se  faça  a  mera  indicação  da  lide  principal  e  de  seu  fundamento,  tem  em 
mente que seja declinado qual será o pedido principal e sua causa de pedir, demonstrando, assim, a 
referibilidade. 

Apesar  de  não  haver  previsão  expressa  nesse  sentido,  é  claro  que  o  valor  da  causa  deve 
constar  dessa  inicial,  como,  aliás,  já  foi  mencionado  no  capítulo  deste  livro  dedicado  ao  valor  da 
causa.15  Ele  deve  se  basear,  sempre,  naquilo  que  for  pretendido  a  título  principal.  Portanto,  se  o 
pedido  cautelar  for  a  concessão  de  mera  ordem  de  bloqueio  para  impedir  a  alienação  de  uma 
motocicleta componente de um grande acervo patrimonial do casal, cuja partilha se pleiteia a título de 
pedido  principal,  o  valor  da  causa  deverá  ser  aquele  que  seria  atribuído  à  ação  de  partilha, 
correspondendo,  portanto,  a  50%  da  totalidade  desse  acervo,  pois  isso  corresponderia  à  meação 
pleiteada.  

O mesmo ocorrerá se houver cumulação de pedidos ou a dedução de pedido condenatório na 
lide principal: devem ser obedecidos os comandos dos artigos pertinentes ao valor da causa (CPC, arts. 
291 a 293). 

Caso o juiz não fique convencido dos argumentos apresentados pelo requerente, poderá ouvir 
a parte contrária, inclusive designando audiência de justificação destinada à sua comprovação, se isso 
for necessário. Persistindo a dúvida, deverá indeferir a liminar e ordenar a citação do réu, por meio de 
decisão interlocutória contra a qual caberá agravo de instrumento.16 

Mas,  é  bom  que  se  saiba  que  o  indeferimento  da  tutela  cautelar  não  obsta  a  que  a  parte 
formule o pedido principal, nem influi no julgamento deste, salvo se o motivo do indeferimento for o 
reconhecimento de decadência ou de prescrição (CPC, art. 310). 

Em qualquer hipótese, caso entenda que o requerimento ostenta natureza satisfativa, deverá 
aplicar  a  fungibilidade,  na  forma  permitida  pelo  artigo  305,  parágrafo  único,  ordenando  que  o 
procedimento passe a correr sob a forma prevista pelos artigos 303 e 304, a serem tratados no tópico 
seguinte. 

Por  outro  lado,  caso  se  convença  do  que  o  autor  alega  e  requer  na  inicial,  proferirá  juízo 
positivo  de  admissibilidade,  deferindo  a  liminar.  Nesse  momento,  o  juiz  deve  se  limitar  a  deferir  a 
medida de urgência e a ordenar a citação e intimação do réu para apresentar resposta em 05 dias, sem 
determinar de ofício quaisquer medidas subsequentes destinadas à sua concretização.  

                                                            
15
 Enunciado n. 44 da I JDPC/CJF: É requisito da petição inicial da tutela cautelar requerida em caráter antecedente a indicação do valor da causa. 
16
 Nesse sentido, é o Enunciado n. 70 da I JDPC/CJF, segundo o qual “é agravável o pronunciamento judicial que postergar a análise de pedido de tutela 
provisória ou condicioná‐la a qualquer exigência.” 
A  efetivação  de  toda  e  qualquer  tutela  provisória  é coisa  da  parte  interessada,  como  frisado 
oportunamente.17  

No que toca à citação/intimação, não se esqueça que ela deve ser na pessoa do requerido, por 
força do que determina o artigo 695, §3º do CPC, aplicável a toda ação de família. E, como somente 
haverá uma citação, ela é que projetará os efeitos mencionados pelo artigo 240 do mesmo diploma.18 

É  preciso  que  se  esteja  atento  a  um  episódio  que  acontece  com  bastante  frequência  no 
cotidiano  das  Varas  de  Família:  o  fato  de  o  réu  peticionar  nos  autos  informando  o  cumprimento  de 
tutela  de  urgência  ou  de  evidência  eventualmente  deferida  em  caráter  liminar  não  representa 
comparecimento espontâneo, para fins de configuração de citação.19 

Em sendo a medida efetivada nos 30 dias úteis previstos pelo artigo 309, II, o autor terá que 
formular  o  pedido  principal  em  idênticos  30  dias  úteis,  nos  mesmos  autos  e  independentemente  de 
nova intimação e do pagamento de novas custas, ocasião em que também poderá aditar a causa de 
pedir (CPC, arts. 305 e 308). 

Recapitulando:  a  partir  da  intimação  da  liminar,  o  réu  terá  05  dias  para  contestar  o  pedido 
cautelar  e  o  autor  30  dias  para  adotar medidas  voltadas  à  efetivação  da  decisão.  Depois que  ela  for 
efetivada, o autor terá mais 30 dias para formular o pedido principal.  

De  acordo  com  o  entendimento  do  STJ,  somente  depois  que  a  medida  cautelar  for  total  e 
completamente efetivada, isto é, integralmente satisfeita, é que se inicia a contagem desse novo prazo 
de 30 (trinta) dias, para formulação do pedido principal (CPC, art. 308), o que impede que ele tenha 
curso quando houver sua satisfação meramente parcial.20 Mas, esteja atento ao fato de que não é a 
intimação  da  efetivação  que  dá  início  à  contagem  do  prazo,  mas  a  própria  efetivação  da  liminar  ou 
cautelar concedida em procedimento preparatório, independentemente da intimação a respeito.21 

Perceba que os prazos correm ora da intimação, ora da efetivação, observando‐se, sempre, as 
regras de contagem expostas oportunamente neste Livro.22  

É preciso que se esteja atento a esse detalhe. 

Se o autor não deduzir o pedido principal no prazo a que se refere o artigo 308, caput, a tutela 
cautelar concedida liminarmente perderá sua eficácia e o processo será sem resolução de mérito (STJ, 

                                                            
17
  Reforçando  esse  entendimento,  o  Enunciado  n.  46  da  I  JDPC/CJF  estabelece  que  “a  cessação  da  eficácia  da  tutela  cautelar,  antecedente  ou 
incidental, pela não efetivação no prazo de 30 dias, só ocorre se caracterizada omissão do requerente.” 
18
 STJ, AgInt no AREsp 882.919/SP, DJe de 28.6.16; EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp 48.918/SP, DJe de 25.5.12. 
19
 STJ, REsp 1.904.530/PE, DJe de 11.03.22. 
20
 REsp 1.954.457/GO, DJe de 11.11.21; EDcl no AgInt no AREsp 1.281.096/SP, DJe de 20.4.21; REsp 687.208/RJ, DJ de 16.10.06. Havendo, entretanto, a 
concessão  de  múltiplas  medidas  cautelares  em  que,  pelo  menos,  uma  delas  seja  cumprida  de  forma  integral  (p.  ex.:  arresto  de  um  automóvel 
simultaneamente ao bloqueio da matrícula de um apartamento), o termo inicial do prazo de 30 (trinta) dias recai na data da efetivação da primeira 
delas (AgInt nos EDcl no REsp 1.801.977/MS, DJe de 20.11.20; REsp 1.115.370/SP, DJe de 30.3.10; REsp 757.625/SC, DJ de 13.11.06). 
21
 AgInt nos EDcl no REsp 1.801.977/MS, DJe de 20.11.20; AgInt no REsp 1.367.829/MG, DJe de 22.03.17, AgRg no REsp 1.410.830/PR, DJe de 02.06.15. 
22
  Na  jurisprudência  anterior  do  STJ  era  possível  encontrar  posicionamentos  defendendo  tanto  que  o  prazo  para  dedução  do  pedido  de  tutela 
definitiva  deveria  ser  contado  da  efetivação  da  medida,  como  se  sustenta  neste  livro  (REsp  327.380/RS,  DJ  de  04.05.05;  REsp  278.477/PR,  DJ  de 
12.03.01), quanto da intimação a respeito dessa efetivação (REsp 123.659/PR, DJ de 21.09.98; REsp 72.646/RS, DJ de 18.12.95). 
Súm.  482),  ficando  esta  parte  impedida  de  renovar  o  pedido,  salvo  por  novo  fundamento  (CPC,  art. 
309, I e par. ún.).  

Se, no entanto, for deduzido o pedido, o feito terá prosseguimento na forma abaixo explicada. 

A dedução do pedido principal (CPC, art. 308) 

Antes de se analisarem as questões procedimentais, valem ser feitas algumas observações de 
ordem genérica.  

Durante  muito  tempo,  predominou  o  entendimento  de  que  o  trintídio  referido  pelo  atual 
artigo 308, caput (CPC/73, art. 806) somente seria aplicável se a medida deferida a título de cautelar 
antecedente  ostentasse  índole  restritiva  ou  constritiva  de  direitos,  como  no  caso  do  arrolamento  e 
bloqueio  de  bens,  por  exemplo,  que  obrigariam  o  autor  a  deduzir  pedido  voltado  à  promoção  da 
partilha nesse prazo, por causa dos potenciais prejuízos gerados à parte contrária23. Já as medidas de 
natureza  meramente  conservativa  eram  tidas  como  praticamente  imunes  a  esse  prazo,24  o  que 
permitiria que o autor deduzisse o pedido principal mesmo depois dos 30 dias da efetivação.  

Isso não pode mais ser assim. O entendimento de que o caráter não restritivo de uma medida 
cautelar  pode  imunizar  seu  beneficiário  de  um  ônus  contra  si  imposto  merece  ser  relido  e 
reinterpretado a partir da nova ordem de coisas implantada pelo CPC/15, para que não haja abuso de 
direito  (CC,  art.  187).  Afinal,  mesmo  sem  ostentarem  força  prejudicial  imediata  à  parte  contrária, 
jamais  se  pode  descuidar  do  binômio  necessidade‐adequação  que  recai  sobre  todas  as  providências 
jurisdicionais,  sob  pena  de  medidas  cautelares  perdurarem  indefinidamente  apenas  pelo  fato  de 
serem  “meramente  conservativas  de  direitos”,  transfigurando‐se  em  flagrante  e  desarrazoado 
constrangimento contra sua pessoa. 

Não se esqueça que, contrariamente ao que ocorria no sistema revogado – em que ambas as 
partes  podiam  ajuizar  a  “ação  principal”25  ‐,  agora,  apenas  a  própria  parte  que  deduziu  o  pedido 
cautelar  possui  legitimidade  e  interesse  para  tanto.  O  texto  do  artigo  308,  caput  é  bastante  claro  a 
esse  respeito,  quando  enuncia  que  “efetivada  a  tutela  cautelar,  o  pedido  principal  terá  de  ser 
formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos mesmos autos 
em  que  deduzido  o  pedido  de  tutela  cautelar,  não  dependendo  do  adiantamento  de  novas  custas 
processuais”. 

É preciso que isso fique claro na mente do leitor. 

                                                            
23
 Exatamente assim: REsp 401.531/RJ, DJe de 08.03.10. 
24
 STJ, REsp 436.763/SP, J. em 27.11.07; EREsp 327.438/DF, DJ de 14.08.06; REsp 278.477/PR, DJ de 12.03.01. 
25
 Sob a vigência do CPC/73, o STJ possuía entendimento no sentido de que, se o autor deixasse de ajuizar a ação principal de partilha no prazo de 30 
dias contados da efetivação de medidas cautelares não constritivas, sua inércia não seria sancionada com a revogação da medida e consequente 
extinção  do  processo  se  a  outra  parte  também  tivesse  legitimidade  e  interesse  para  propô‐la.  Neste  sentido,  p.  ex.:  REsp  1.553.137  /RJ,  DJe  de 
11.4.18.  No  entanto,  isso  se  devia  ao  fato  de  o  art.  806  daquele  Código  enunciar  que  “cabe  à  parte  propor  a  ação,  no  prazo  de  30  (trinta)  dias, 
contados da data da efetivação da medida cautelar, quando esta for concedida em procedimento preparatório”, o que não foi repetido pelo atual 
art. 308 do CPC/15 que atribui tal tarefa exclusivamente ao autor. 
Outra consideração a ser feita envolve o ônus imposto à parte requerente pelo artigo 308, §2º. 
Isto porque tal norma a onera a realizar o aditamento objetivo da demanda ‐ isto é, dos fatos e dos 
fundamentos jurídicos que compõem a causa de pedir – no prazo de 30 dias contados da efetivação da 
medida  cautelar,  sem  nada  dispor  sobre  a  possibilidade  de  ele  promover  o  aditamento  subjetivo  da 
demanda – isto é, a inclusão de litisconsortes em quaisquer de seus polos. 

Diante  da  omissão  legislativa,  alguns  poderiam  ser  levados  a  crer  que  o  sistema  estaria 
autorizando  que  o  requerente  trouxesse  ao  processo  parte  não  originariamente  arrolada  na  inicial, 
pois,  como  restou  esclarecido  quando  se  estudou  o  pedido  nas  ações  de  família,  a  estabilização 
subjetiva da demanda deve seguir, em regra, o mesmo regime prescrito para a estabilização objetiva. 

No  entanto,  essa  talvez  não  seja  a  melhor  conclusão  a  ser  chegada.  Com  a  eliminação  da 
autonomia procedimental das antes denominadas “cautelares preparatórias”, o procedimento, como 
um  todo  (ou  seja,  tanto  para  a  tutela  cautelar,  quanto  para  a  tutela  definitiva),  tem  início  com  a 
petição  inicial  referida  pelo  artigo  305,  a  qual,  embora  possa  ser  redigida  de  modo  simples,  será  a 
verdadeira  responsável  por  instaurar  a  relação  jurídico‐processual  entre  autor,  réu  e  Estado,  razão 
pela  qual  deverá  conter,  desde  logo,  os  nomes  de  todos  os  sujeitos  ocupantes  dos  polos  ativo  e 
passivo, nos mesmos moldes de qualquer petição inicial.  

Como  resultado,  a  eventual  inclusão  subsequente  de  litisconsorte  não  deverá  seguir  o 
regramento  especial  trazido  pelo  artigo  308,  §2º  do  CPC,  mas  sim  o  regramento  tradicional 
disciplinado pelo artigo 329 do mesmo Código, segundo o qual o autor poderá livremente promover 
qualquer modificação na demanda, tanto de cunho objetivo, quanto subjetivo, apenas até a citação, 
tornando‐se dependente da anuência do réu a partir de então.26  

Feitas  essas  considerações  de  ordem  formal,  vejamos  como  deve  ser  deduzido  o  pedido 
principal, e como ele será processado. 

De acordo com o texto do artigo 308, caput, o pedido principal “será apresentado nos mesmos 
autos  em  que  deduzido  o  pedido  de  tutela  cautelar,  não  dependendo  do  adiantamento  de  novas 
custas processuais”. Nessa mesma ocasião, a causa de pedir poderá ser aditada (CPC, art. 308, §2º). 

Isso sendo feito, bastará que o requerente e o requerido sejam intimados, por seus advogados 
ou  pessoalmente,  para  a  audiência  de  conciliação  ou  de  mediação  a  que  se  refere  o  artigo  334, 
oportunidade  em  que,  inexistindo  acordo,  será  aberta  oportunidade  para  apresentação  da  segunda 
contestação por este (desta vez, voltada à impugnação do pedido principal). 

                                                            
26
 Esse regramento, por óbvio, não se aplica à desconsideração inversa da personalidade jurídica, que pode ser deduzido a qualquer momento (CPC, 
art. 134). 
Interessante é que não haverá necessidade de que o réu seja citado para tomar ciência desse 
pedido principal, pois a relação jurídica processual é uma só, e já teve início com a dedução do pedido 
cautelar. Bastará, portanto, que ele seja intimado. 

Essa  etapa  é  absolutamente  obrigatória,  no  entanto.  Aditado  o  pedido,  o  réu  terá  que  ser 
intimado na forma acima, sob pena de nulidade do processo.27 

As opções abertas ao réu no procedimento da tutela cautelar antecedente 

Paralelamente  aos  atos  praticados  pelo  autor  –  que  receberam  comentários  acima  ‐,  o  réu, 
quando  for  citado  sobre  o  pedido  cautelar,  terá  o  prazo  de  05  (cinco)  dias  para  contestá‐lo  e  para 
indicar as provas que pretende produzir, como dito (CPC, art. 306). 

Um  primeiro  problema  relacionado  à  compreensão  desse  instituto  pode  surgir  quando  o 
aplicador perceber que o Código prevê a possibilidade de o réu apresentar duas contestações: uma no 
prazo de 05 dias úteis contados de sua citação (acima referida – art. 306) e outra no prazo de 15 dias 
úteis a ser contado a partir da tentativa inexitosa de conciliação ou mediação (CPC, art. 308, § 4º c/c 
art. 335). 

Na  verdade,  essa  hipótese  revela  um  falso  problema  porque,  o  réu  tem  mesmo  o  ônus  de 
apresentar  duas  contestações:  uma  impugnando  o  pedido  cautelar,  outra  impugnando  o  pedido 
principal. Não se esqueça que existirão duas demandas tramitando simultânea e conglobadamente em 
um só processo: a demanda cautelar, cujo objetivo é assegurar algum direito a ser acautelado (ex.: o 
de ter uma universalidade jurídica dissolvida) por meio de alguma medida cautelar (ex.: o arrolamento 
constritivo  de  bens),  e  a  demanda  principal,  que  tem  por  objetivo  promover  o  acertamento  desse 
direito a ser acautelado pela primeira.  

Portanto,  quando  impõe  que  o  réu  deva  ser  citado  para  contestar  em  05  dias  úteis,  o  artigo 
306  do  Código  se  refere  à  oportunidade  dessa  parte  apresentar  resposta  ao  pedido  deduzido  na 
demanda cautelar (ex.: ao pedido de que determinados bens sejam arrolados). 

Nessa oportunidade, ele poderá controverter os fatos alegados juntamente ao requerimento 
liminar, ao argumento, por exemplo, de que o autor não teria interesse na conservação dos bens ou 
que não haveria receio de extravio ou de sua dissipação, pois estes são os requisitos para a obtenção 
do arrolamento constritivo.  

Enfim, o que ele controverterá nesta peça são os requisitos para a obtenção da tutela cautelar, 
ou  seja,  a  probabilidade  do  direito  e  o  perigo  da  demora,  sem  prejuízo,  é  claro,  de  arguir  questões 
preliminares, como a incapacidade do autor ou a ausência de interesse processual, por exemplo. 

                                                            
27
  Ao  julgar  o  Resp  n.  1.802.171/SC  (DJe  de  29.05.19),  o  STJ  anulou  a  sentença  de  primeiro  grau  porque  o  juiz,  em  vez  de  ordenar  a  intimação  do 
demandado para a audiência e eventual contestação sobre o pedido principal, julgou antecipadamente a lide, condenando o réu ao pagamento da 
quantia nele pleiteada. 
Já quando o artigo 308, §4º prevê que esse mesmo réu terá o prazo para contestação contado 
na  forma  do  artigo  335,  isto  é,  a  partir  do  encerramento  infrutífero  da  audiência  de  conciliação  ou 
mediação,  quis  se  referir  à  resposta  destinada  a  contradizer  o  pedido  principal  deduzido  pelo  autor. 
Por isso, o prazo assinado pela lei será de 15 dias úteis e não haverá necessidade de nova citação. Esta 
peça  sim  é  destinada  à  instauração  de  controvérsia  sobre  as  alegações  relativas  ao  direito  a  ser 
acautelado. No caso hipotético aqui tratado, o requerido poderia impugnar a própria propriedade ou 
posse  alegados,  ao  argumento  de  que  o  autor  não  teria  direito  sobre  os  bens  em  vias  de  serem 
arrolados  ou  expor  qualquer  outro  motivo  que  o  leve  a  crer  que  o  autor  não  tem  razão  ou  não 
apresenta provas suficientes para a obtenção de decisão de mérito favorável a seus interesses. 

Muito bem. 

Segundo  a  literalidade  do  artigo  307,  se  o  réu  deixar  de  contestar  o  pedido  cautelar  e  os 
efeitos da revelia lhe forem aplicados, a demanda será decidida. A demanda cautelar, registre‐se, isto 
é,  o  arresto,  o  sequestro,  o  arrolamento  constritivo  etc.  E,  obviamente,  esta  decisão  não 
necessariamente será favorável ao autor, pois revelia não implica necessariamente em julgamento de 
procedência.  

Nesse ponto, é importante observar que o processo prosseguirá normalmente, pois o pedido 
principal  embutido  nos  mesmos  autos  terá  que  ser  apreciado.  Isso  deixa  claro  que  a  decisão  acima 
referida será interlocutória, logo, desafiável por agravo de instrumento (art. 1.015, I).28 

Se, por outro lado, o réu efetivamente a contestar nesse quinquídio, o feito passará a tramitar 
pelo rito das ações de família (o CPC se refere ao rito comum), isto é, será oportunizada a réplica,29 e, 
em seguida, saneado o processo para eventualmente possibilitar o início da fase probatória (CPC, art. 
357).  

Ocorrendo  esse  cenário,  a  conversão  do  rito  para  o  das  ações  de  família  é  absolutamente 
obrigatória, sob pena de nulidade do processo.30 

A continuidade do procedimento (CPC, art. 307, par. ún.) 

Continuando o procedimento, o desenrolar dos acontecimentos renderá ensejo a que ocorra 
uma de duas situações: a) a extinção do conflito (e do processo) pela autocomposição, se a audiência 
de  conciliação  ou  mediação  lograr  êxito  (art.  334,  §11  c/c  artigo  487,  III,  b),  ou  b)  o  saneamento  do 
processo na hipótese de essa audiência resultar infrutífera e o procedimento tiver que continuar rumo 
à sentença (CPC, art. 357).  

                                                            
28
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento 
comum. v. I. 59. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 859. 
29
 O Enunciado n. 381 do FPPC dispõe que “é cabível réplica no procedimento de tutela cautelar requerida em caráter antecedente.” 
30
 STJ, REsp 1.802.171/SC, J. de 21.5.19 
Nada haveria de especial se essa demanda fosse a única a tramitar na ocasião. O problema é 
que não é assim. Lembre‐se que, paralelamente a esses fatos ocorridos na demanda principal, o juiz 
terá que dar continuidade à análise da demanda cautelar que, a essa altura, certamente já terá sido 
saneada, quando não definitivamente julgada (CPC, art. 307). 

Aí  aparece  a  tal  situação  curiosa:  se  a  demanda  principal  contempla  atos  vocacionados  a 
resolver  integralmente  o  conflito  ou  a  sanar  todas  as  irregularidades  eventualmente  existentes,  por 
que então não se suspender o curso da demanda cautelar imediatamente após o réu contestá‐la, até 
que  esses  atos  sejam  praticados?  Será  que  a  designação  de  uma  só  audiência  de  conciliação  ou 
mediação no processo principal não pouparia tempo, atos processuais e dinheiro dos envolvidos? Será 
que por meio de uma só decisão proferida neste processo o juiz não poderia sanear tanto a demanda 
cautelar  quanto  a  demanda  principal?  Será  que  não  seria  melhor  instruir  e  julgar  as  duas  demandas 
simultaneamente? 

Afinal, a situação emergencial relatada na inicial estaria salvaguardada pela liminar. 

Isso não infirmaria a autonomia da tutela cautelar. Antes, conferiria maior efetividade à tutela 
do direito, na medida em que diversos atos poderiam ser poupados. 

De  fato,  a  ideia  pareceria  perfeita,  não  fosse  a  circunstância  dessa  suspensão  não  ser 
contemplada expressamente pelo Código. A boa notícia é que ela também não é proibida.  

Diante  desse  quadro,  talvez  a  alternativa  legitimamente  aberta  ao  magistrado  fosse 
interpretar  extensivamente  a  hipótese  prevista  no  artigo  313,  V,  b,31  para  ordenar  a  suspensão  do 
curso do procedimento cautelar após a apresentação de contestação ao pedido principal, para que as 
demandas pudessem ser saneadas em conjunto. Seria preciso adaptar mais uma vez o procedimento, 
com base no princípio da adequação tantas vezes mencionado ao longo de todo este livro. 

Essa suspensão, contudo, não poderia ultrapassar o período de um ano, por vedação expressa 
do artigo 313, §4º, primeira frase, do CPC. 

Sendo isso feito ou não, o fato é que ambas as demandas deverão ser saneadas, instruídas e 
julgadas por sentença que, ainda que formalmente una, tutelará dois direitos: a) o direito à cautela, 
aqui  representado  figurativamente  pelo  direito  ao  arrolamento  constritivo  dos  bens,  e  b)  o  direito 
acautelado, aqui representado hipoteticamente pelo direito de ter a universalidade jurídica dissolvida. 

O  curioso  é  que,  embora  o  CPC/15  tenha  eliminado  a  autonomia  procedimental  da  tutela 
cautelar, não eliminou a autonomia da tutela cautelar para com a tutela definitiva.  

                                                            
31
 Art. 313.  Suspende‐se o processo: [...]. V ‐ quando a sentença de mérito: b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato 
[...]. 
Nas  palavras  de  Humberto  Theorodo  Júnior,  “a  tutela  cautelar,  como  visto,  é  autônoma  em 
relação  à  tutela  satisfativa,  contendo  mérito  próprio  (pedido  e  causa  de  pedir).  Essa  autonomia 
também  se  destaca  quando  se  percebe  que  o  resultado  do  julgamento  da  demanda  cautelar  não 
influencia no resultado do julgamento da demanda satisfativa. Aquele que venceu a cautelar pode sair 
vencido no pedido principal e vice‐versa. A cautelar é procedente ou improcedente pelos seus próprios 
fundamenots e não em função do mérito da demanda principal e satisfativa”.32 

Isso  torna  possível  que  a  sentença  reconheça  que  não  estão  presentes  os  requisitos 
necessários  para  a  obtenção  da  tutela  cautelar  (o  perigo  da  demora  em  um  arresto  constritivo,  por 
exemplo), mas que estão comprovados os fatos necessários para o acolhimento do pedido principal (o 
direito  à  dissolução  da  universalidade  jurídica,  pela  partilha,  por exemplo),  julgando  improcedente  o 
pedido de tutela cautelar, mas procedente o pedido de tutela definitiva. 

Há,  por  assim  dizer,  um  capítulo  da  sentença  versando  sobre  a  pretensão  cautelar  e  um 
capítulo versando sobre a pretensão principal.33 

Além da hipótese acima mencionada, poderia acontecer, em tese, que: “i) exista a pretensão à 
segurança e não exista a pretensão a ser assegurada [= sentença cautelar de procedência + sentença 
principal de improcedência]; ii) a pretensão à segurança e a pretensão a ser assegurada não existam [= 
sentença  cautelar  de  improcedência  +  sentença  principal  de  improcedência];  iii)  a  pretensão  à 
segurança  e  a  pretensão  a  ser  assegurada  existam  [=  sentença  cautelar  de  procedência  +  sentença 
principal de procedência].”34 

Em qualquer caso, a sentença estipulará honorários sucumbenciais, é claro.35 

Sob  o  aspecto  recursal,  vale  lembrar  que  eventual  apelação  interposta  será  desprovida  de 
efeito suspensivo toda vez que a tutela provisória for concedida ou confirmada em sentença (CPC, art. 
1.012, §1º, V). 

A cessação da eficácia da medida cautelar (CPC, art. 309) 

  Por razões variadas, a medida cautelar oportunamente deferida pode perder a sua eficácia. É o 
artigo 309 do Código quem contempla as hipóteses em que isso pode ocorrer. 

De acordo com seu inciso I, cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se o 
autor não deduzir o pedido principal no prazo legal, pois, como dito, não seria justo que um indivíduo 
obtivesse uma medida meramente conservativa e simplesmente se recusasse a torna‐la definitiva, em 
evidente prejuízo à outra parte, ao próprio sistema de justiça e até à própria coisa ou pessoa colocada 
em  estado  de  conservação  processual,  que  permaneceria  em  situação  de  incerteza  perene,  sendo 
                                                            
32
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo Cautelar. 22. ed. São Paulo: Leud, 2005, pp. 56 e 59  
33
 ARAÚJO, Luciano Vianna. Comentários ao código de processo civil. STRECK, Lenio Luiz [e col.] (Orgs.). São Paulo: Saraiva, 2016, p. 560. 
34
 Idem, p. 559 
35
 STJ, REsp 11.260/SP, DJ de 13.9.99. 
meramente  preservada.  Já  nos  termos  do  inciso  II, a  eficácia  da  medida  cessa  se  sua  efetivação  não 
ocorrer dentro de 30 (trinta) dias de seu deferimento, por culpa do requerente, como aconteceria se 
ele não fornecesse os elementos necessários para identificar precisamente ou para que o bem a ser 
arrestado pudesse ser localizado, por exemplo.Finalmente, o inciso III enuncia que a medida cessará 
toda  vez  que  o  juiz  julgar  improcedente  o  pedido  principal  formulado  pelo  autor  ou  extinguir  o 
processo  sem  resolução  de  mérito,  pois,  como  insistente  dito,  a  tutela  definitiva  substitui  a  tutela 
provisória. 

Importante saber que, se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é vedado à 
parte renovar o pedido, salvo sob novo fundamento (CPC, art. 309, par. ún.). 

Essas  eram  as  principais  observações  respeitantes  ao  procedimento  da  tutela  cautelar 
requerida antecedentemente.  

Para facilitar a compreensão, confira o seguinte mapa mental:  

  Mapa Mental da Tutela Cautelar Antecedente 

  Liminar       Autor pode deduzir pedido         
Indeferida  principal se quiser. 
Exceto se ocorrer  
Prescrição ou decadência 
(art. 310) 
                 
                 
                 
                 
                 
                 
Pedido cautelar                 
(ex.: arrolamento 
constritivo) 
                 
                 
          Não deduziu: processo é       
extinto 
(art. 309) 
                 
                 
                 
                 
    Efetivação da    Autor deve deduzir o pedido         
medida  principal em 30 dias 
(30 dias)  (ex.: partilha) 
(art. 308) 
                 
                 
            Celebração de acordo     
(extinção global do 
processo 
Cautelar + principal) 
                 
                 
                 
                 
                 
  Liminar    Contestação ao    Deduziu:       
deferida  pedido cautelar em  Intimação de todos para a 
05 dias  audiência de conciliação 
(ex.: contestação ao  e mediação 
pedido de  (art. 308, §3º) 
arrolamento) 
(arts. 306 e 307, §ún.) 
                 
                 
                 
    Citação e             
intimação do 
réu 
(pessoal) 
            Não celebração de  réu fica  Réplica 
acordo  intimado para  + 
(continuação do  apresentar  Produção 
processo pelo rito  contestação ao  de provas 
comum)  pedido  + 
principal (ex.:  Sentença 
partilha)  final 
(decidindo 
o pedido 
cautelar e o 
pedido 
principal) 
                 
      Não contestação ao  Pedido cautelar decidido por         
pedido cautelar em  decisão interlocutória 
05 dias  (ex.: torna definitivo o 
(revelia)  arrolamento constritivo) 
(art. 307) 
 
A tutela de urgência antecipada (satisfativa) 

Existem  situações  que  não  adiantam  ser  meramente  acauteladas,  preservadas,  conservadas. 
Para elas, é exigido algo muito mais robusto: a satisfação imediata. 

Daí, inclusive, a opção pela nomenclatura “tutela de urgência satisfativa”. 

 Mas, essa satisfação não se dá pela entrega definitiva do bem da vida, isto é, ado conteúdo, já 
que,  como  dito,  ele  só  pode  ser  concedido  depois  de  exaurida  a  atividade  instrutória,  pois,  apenas 
nesse  momento,  o  juiz  poderá  decidir  com  base  em  cognição  plena  e  exauriente  (tutela  definitiva). 
Quando  se  refere  à  “satisfação”  por  aqui,  se  está  a  referir  à  entrega  apenas  de  um  ou  alguns  dos 
efeitos da tutela definitiva que sejam suficientes para satisfazer provisoriamente o interessado (tutela 
provisória), até que sobrevenha a tutela definitiva. 

Satisfazer, portanto, significa entregar provisoriamente efeitos, não conteúdo. No contexto em 
que  inserida,  a  palavra  “satisfação”  representa  apenas  a  permissão  de  que  o  beneficiário  desfrute, 
goze, frua desde já desses efeitos, mesmo sem ter tido o conteúdo atribuído a seu favor. 

É exatamente essa a percepção do Superior Tribunal de Justiça a respeito do fenômeno. Tanto 
é assim que, há tempos, seu posicionamento foi firmado no sentido de que “o objeto de antecipação 
não é o próprio provimento jurisdicional, mas os efeitos desse provimento”.36 

E, se só se pode antecipar efeitos que seriam naturalmente produzidos pela tutela definitiva, é 
claro que na tutela antecipada inexiste a mesma liberdade que permeia a tutela cautelar, onde vigora 
o  assim  chamado  “poder  geral  de  cautela”.  Deve  haver,  portanto,  “coincidência,  ainda  que  parcial, 
entre  os  efeitos  antecipados  e  aqueles  que  devem  ser  produzidos  pela  tutela  a  ser  concedida  ao 
final”.37 

Na  vigência  do  CPC/73,  quando  a  intenção  da  parte  não  se  limitava  ao  acautelamento  de 
determinada situação, mas sim à obtenção de alguma medida liminar que efetivamente satisfizesse o 
direito  alegado  –  a  exemplo  dos  alimentos  ‐,  o  interessado  não  tinha  outra  escolha:  era  obrigado  a 
requerer  tal  providência  no  interior  de  alguma  demanda  que  contivesse  pedidos  voltados  ao 
verdadeiro acertamento da questão principal.  

Era  comum,  por  exemplo,  que  em  uma  ação  de  guarda,  a  parte  requeresse  liminarmente  a 
antecipação  da  tutela  para  obter  a  assim  chamada  “guarda  provisória”,  objetivando  que  a  sentença 
confirmasse essa liminar, lhe atribuindo a “guarda definitiva”. Também era bastante corriqueiro que, 
em  uma  ação  de  divórcio,  fossem  liminarmente  pleiteados  “alimentos  provisórios”  exclusivamente 

                                                            
36
 REsp 737.047/SC, J. em 16.2.06. 
37
  GAJARDONI,  Fernando  da  Fonseca.  Comentários  ao  art.  294.  Em:  GAJARDONI,  Fernando  da  Fonseca  [e  col.]  (coord.).  Teoria  Geral  do  Processo: 
comentários ao CPC de 2015: parte geral. São Paulo: Forense, 2015. 
para  os  filhos  incapazes,  com  o  propósito  de  que  a  sentença  decretasse  o  fim  do  casamento  e 
estabelecesse os “alimentos definitivos”, enfim.  

Nesses casos, o artigo 273 do Código revogado conferia o necessário suporte normativo. 

Agora,  entretanto,  medidas  de  cunho  nitidamente  satisfativo  poderão  ser  requeridas, 
também,  autonomamente,  isto  é,  sem  que  a  parte  interessada  em  sua  obtenção  tenha  que 
obrigatoriamente  promover  demanda  de  forma  concomitante  ou  subsequente,  com  vistas  ao 
acertamento de qualquer direito por meio de uma sentença de mérito.  

Mas,  observe:  não  é  que  a  parte  esteja  impedida  de  deduzir  requerimento  de  tutela  de 
urgência satisfativa (antecipada) diretamente na petição inicial da demanda, como se fazia no passado. 
Ela podia e continua podendo fazer isso. Basta que, à semelhança do que foi dito a respeito da tutela 
de  urgência  conservativa  (cautelar),  ela  formule  tal  postulação  sob  a  forma  de  requerimento,  faça  a 
comprovação dos requisitos exigidos por lei (probabilidade do direito e  perigo causado pela demora 
ou risco de ocorrência de violação de um direito) e peça a confirmação da tutela provisória por tutela 
definitiva, como aconteceria em uma ação de divórcio cumulada com alimentos e guarda de filhos em 
que a parte autora formulasse, juntamente aos pedidos de decretação de divórcio, de condenação ao 
pagamento de alimentos e de fixação da guarda, o requerimento de concessão de tutela provisória de 
urgência voltado ao arbitramento de alimentos provisórios e de guarda provisória.38 

A importância dada ao novo método é tamanha que, tal como fez ao tratar da tutela cautelar, 
o CPC disciplina normativamente apenas o procedimento da  tutela antecipada requerida em caráter 
antecedente em seus arts. 303 e 304, que serão detalhadamente estudados pouco mais adiante. 

Portanto,  o  que  se  está  chamando  atenção  aqui  não  é  para  o  fato  de  que  a  parte  pode 
requerer  a  tutela  provisória  de  forma  incidental,  mas  sim  para  a  circunstância  de  que,  a  partir  da 
entrada  em  vigor  do  CPC/15,  ela  passou  a  poder  deduzir  o  requerimento  de  tutela  de  urgência 
satisfativa (antecipada) de forma autônoma. 

Para  tanto,  não  será  nem  mesmo  necessário  que  ela  redija  uma  petição  inicial  revestida  de 
todas  as  formalidades  prescritas  pelo  artigo  319  do  estatuto  processual.  O  quadro  emergencial 
possibilitará  que  o  requerimento  correspondente  seja  feito  em  uma  peça  elaborada  de  forma 
extremamente  simples  e  direta,  vazada  em  texto  que  contenha,  no  mínimo,  a  exposição  da  lide,  do 
direito que se busca realizar e do perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, assim como 
a mera indicação do pedido de tutela final, com base no qual deverá ser atribuído valor à causa. 

Isso fica bem claro quando se lê o texto do artigo 303, caput do Código. 

                                                            
38
 Importante anotar que o eventual cumprimento da decisão concessiva da tutela provisória pelo réu não implica perda superveniente do objeto do 
processo, o que significa que o procedimento deve ter continuidade regular, até sentença, que, se for de procedência, a confirmará. Neste sentido, 
dentre vários: REsp 1.670.267/SP, DJe de 19.5.22; AgRg no REsp 1.353.998/RS, DJe de 13.3.15; EDcl no AgRg no REsp 1.310.876/DF, DJe de 19.4.17. 
Mais do que meramente atribuir autonomia ao requerimento de tutela satisfativa, o sistema 
passa a permitir que os efeitos da decisão que eventualmente venha a conceder a medida postulada 
sob  esse  método  se  estabilizem39  na  hipótese  de  o  réu  deixar  de  se  insurgir  contra  ela  por  meio  do 
recurso de agravo de instrumento (CPC, art. 304, caput e §1º).40  

Se transformará, então, em algo imutável, passível de execução definitiva, e não provisória.41 

Depois de estabilizada, a tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não for revista, 
reformada ou invalidada por outra demanda que pode ser proposta por qualquer das partes no prazo 
decadencial de dois anos contados da ciência da decisão que extinguir o processo. Decorrido tal prazo 
sem  que  tal  ação  seja  proposta,  a  estabilização  não  poderá  mais  ser  questionada.  Se  tornará 
indiscutível (CPC, art. 304, §§ 2º a 6º).42 

Perceba: a estabilização imutabiliza; o decurso do biênio subsequente indiscutibiliza.  

Sim, o método é consideravelmente inovador e seu procedimento absolutamente inédito no 
Brasil.  

Ao  que  tudo  indica  a  inspiração  para  que  o  legislador  nacional  adotasse  essa  técnica  foi 
buscada  nos  ordenamentos  francês  e  italiano,  pelo  fato  deles  possibilitarem  que,  comprovadas 
determinadas  exigências,  algumas  medidas  judiciais  concedidas  antecipadamente  conservem  sua 
eficácia de forma autônoma e independente da necessidade de virem a ser confirmadas por decisão 
de mérito.43 

Por  isso  seu  estudo  deve  ser  feito  de  forma  um  pouco  mais  atenta,  para  que  se  consiga 
entender, ao menos, as razões que levaram o legislador brasileiro a incorporá‐lo ao nosso Sistema de 
Direito Positivo e os objetivos passíveis de serem alcançados com ele.  Em se obtendo sucesso nessa 
primeira  empreitada,  como  se  espera,  será  tentada  uma  maior  aproximação  entre  a  técnica  da 
estabilização  da  tutela  antecipada  antecedente  e  as  questões  usualmente  debatidas  nas  ações  de 
família, no intuito de se aferir sua utilidade e possível campo de aplicação nessa seara. 

A isso se destinam os tópicos seguintes.  

                                                            
39
  Lembrando  que  a  “estabilização  da  tutela  antecipada  antecedente”,  aqui  tratada,  não  se  confunde  com  a  “estabilização  objetiva  da  demanda”, 
estudada em tópico específico deste livro. 
40
 Exatamente assim: STJ, REsp 1.766.376/TO, DJe de 28.8.20. Em sentido contrário, admitindo que a contestação também impeça a estabilização: STJ, 
REsp n. 1.760.966/SP, DJe de 07.12.18. 
41
  Assim  também:  GRECO,  Leonardo.  Desafios  à  coisa  julgada  no  novo  Código  de  Processo  Civil.  Disponível  em 
https://www.academia.edu/38020262/desafios_%c3%80_coisa_julgada_no_novo_c%c3%93digo_de_processo_civil.  
42
 Mas, ainda assim, não se poderia afirmar que a decisão seria acobertada pela coisa julgada, pois não teria havido instrução probatória e cognição 
judicial em nível suficiente para que isso pudesse ocorrer. 
43
 Na França, conferir os arts. 484 a 498 e 808 e 809; na Itália, os arts. 669‐octies e 669‐novies de seus respectivos Códigos de Processo Civil. Embora 
não  tenha  diretamente  inspirado  o  legislador  brasileiro  –  ao  menos  não  de  forma  declarada  na  exposição  de  motivos  do  novo  CPC  ‐,  o  direito 
argentino  possivelmente  o  tenha  feito,  pois  já  convive  com  semelhante  fenômeno  há  algum  tempo:  as  medidas  autosatisfactivas,  como  aquelas 
previstas no art. 305 do Codigo Procesal Civil Y Comercial de La Provincia de La Pampa ou no art. 232‐bis do Codigo de la Provincia del Chaco. 
A  estabilização  da  tutela  antecipada  antecedente  como  técnica  de  estrutura 
monitória 

Para que se possa compreender adequadamente o inteiramente novo instituto, é necessário 
que se tenha em mente que o legislador pretendeu introduzir mais uma técnica de estrutura monitória 
ao  sistema  jurídico  brasileiro,  isto  é,  uma  técnica  capaz  de  tornar  consolidados  os  efeitos  de  uma 
decisão  fundada  em  cognição  não  exauriente,  proferida  antes  de  o  réu  ser  ouvido,  na  hipótese  dele 
deixar  de  se  insurgir  por  meio  do  instrumento  legalmente  previsto,  em  determinado  período  de 
tempo.44  

Explico o porquê da comparação entre os institutos: o objetivo principal da ação monitória é a 
obtenção de uma ordem judicial liminarmente, sem oitiva da parte contrária, compelindo‐a a praticar 
alguma  conduta  omissiva  ou  comissiva  constante  do  mandado  monitório  (CPC,  art.  701).  Caso  essa 
parte permaneça silente, deixando de apresentar os embargos monitórios a que se refere o artigo 702 
do Código, os efeitos da decisão concedida se consolidarão e o módulo processual inicial será extinto, 
fazendo  com  que  o  pronunciamento  judicial  correspondente  projete  consequências  processuais 
relevantíssimas, das quais a principal é a constituição de pleno direito do título executivo judicial a que 
se refere o artigo 701, §2º do mesmo diploma. 

Veja o que enunciam os dispositivos abaixo, transcritos apenas no que interessa: 

Art.  701.  Sendo  evidente  o  direito  do  autor,  o  juiz  deferirá  a  expedição  de  mandado  de 
pagamento,  de  entrega  de  coisa  ou  para  execução  de  obrigação  de  fazer  ou  de  não  fazer, 
concedendo  ao  réu  prazo  de  15  (quinze)  dias  para  o  cumprimento  e  o  pagamento  de 
honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa. 
§ 1º O réu será isento do pagamento de custas processuais se cumprir o mandado no prazo. 
§  2º  Constituir‐se‐á  de  pleno  direito  o  título  executivo  judicial,  independentemente  de 
qualquer  formalidade,  se  não  realizado  o  pagamento  e  não  apresentados  os  embargos 
previstos no artigo 702 , observando‐se, no que couber, o Título II do Livro I da Parte Especial. 
§§ 3º a 5º [...]. 
Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios 
autos, no prazo previsto no artigo 701 , embargos à ação monitória. 
§§ 1º a 3º [...]. 
§ 4º A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no caput do artigo 701 
até o julgamento em primeiro grau. 
§§ 5º a 7º [...]. 
§  8º  Rejeitados  os  embargos,  constituir‐se‐á  de  pleno  direito  o  título  executivo  judicial, 
prosseguindo‐se  o  processo  em  observância  ao  disposto  no  Título  II  do  Livro  I  da  Parte 
Especial, no que for cabível. 
 

Perceba:  a  preocupação  de  quem  propõe  uma  ação  monitória  não  é  a  certificação,  o 
acertamento de seu direito a qualquer das vantagens previstas pelo artigo 700 do CPC (adimplemento 
de obrigação de fazer ou  de não fazer  ou recebimento de quantia em dinheiro, de coisa fungível ou 
infungível  ou  de  bem  móvel  ou  imóvel).  Não.  O  que  ele  pretende  é  apenas  que  o  réu  cumpra  a 
obrigação  assumida  de  imediato.  Somente  na  hipótese  desta  parte  apresentar  a  defesa  adequada 
                                                            
44
 Por todos: GRINOVER, Ada Pellegrini. Tutela Jurisdicional Diferenciada: a antecipação e sua estabilização. Revista de Processo, n. 121/16. 
(embargos  ao  mandado  monitório),  é  que  se  abrirão  os  debates  e  terá  início  a  atividade  probatória, 
com vistas à certificação do direito (CPC, art. 702). 

Por isso, as semelhanças para com o que acontece na estabilização da antecipação da tutela 
não  são  mera  coincidência.  Basta  ser  feito  o  cotejo  entre  os  dois  institutos  para  se  perceber  que  as 
áreas de identificação são realmente muito grandes. Veja, por exemplo, que tanto lá quanto cá uma 
decisão judicial é proferida liminarmente, mesmo sem oitiva da parte contrária, instando‐a a cumprir 
determinada obrigação inicial – na monitória, aquela indicada no mandado monitório a que se refere o 
artigo 701; na tutela antecipada antecedente, a decisão liminar a que se refere o artigo 303, §1º. Na 
hipótese de esta parte descumprir a obrigação e também deixar de apresentar a resposta adequada – 
na monitória, os embargos monitórios a que se refere o artigo 702; na tutela antecipada, o recurso de 
agravo  de  instrumento  a  que  se  refere  o  artigo  30445  –,  os  efeitos  daquela  decisão  acarretarão 
consequências  importantíssimas  ‐  na  monitória,  a  constituição  de  pleno  direito  do  título  executivo 
judicial a que se refere o artigo 701, §2º, seguida da extinção da primeira fase; na tutela antecipada, a 
estabilização dos efeitos da liminar a que alude o artigo 304 caput, seguida da extinção do processo. 

Portanto,  tal  como  lá,  a  parte  que  requer  a  estabilização  da  tutela  antecipada  não  está 
preocupada  com  o  mérito  da  causa,  isto  é,  com  a  certificação  de  seu  direito.  Ela  pretende  apenas  a 
obtenção de um provimento liminar que possa socorrer instantaneamente o direito violado ou em vias 
de o ser.  

Tecnicamente falando, ela não busca o conteúdo, mas apenas usufruir dos efeitos da decisão.46 
Somente na hipótese de o réu apresentar a defesa adequada, sob a forma de agravo de instrumento, é 
que o feito poderá prosseguir com vistas à certificação do direito por uma sentença de mérito.  

Essa  conclusão  não  passaria  despercebida  pelo  Superior  Tribunal  de  Justiça,  que  teve 
oportunidade  de  esclarecer  que  “o  propósito  da  previsão  dos  arts.  303  e  304  do  CPC  é, 
especificamente,  proporcionar  oportunidade  à  estabilização  da  medida  provisória  satisfativa, 
valorizando a economia processual por evitar o desenvolvimento de um processo de cognição plena e 
exauriente, quando as partes se contentarem com o provimento sumário para solucionar a lide”.47 

Obviamente, tamanha celeridade e imensa limitação cognitiva impediriam que houvesse coisa 
julgada recobrindo o conteúdo do pronunciamento concessivo dessa liminar. Por isso é que apenas os 
efeitos  da  decisão  antecipada  são  estabilizados,  isto  é,  tornados  indiscutíveis,  como,  aliás,  parece 
deixar claro o texto do artigo 304, §6º.48 Os efeitos práticos, para ser mais preciso. 

                                                            
45
 Exatamente assim: STJ, REsp 1.766.376/TO, DJe de 28.8.20. Em sentido contrário, admitindo que a contestação também impeça a estabilização: STJ, 
REsp n. 1.760.966/SP, DJe de 07.12.18. 
46
  Assim  também:  CABRAL,  Antonio  do  Passo.  As  estabilidades  processuais  como  categoria  incorporada  ao  sistema  do  CPC.  Em,  DIDIER  JR.,  Fredie. 
CABRAL, Antonio do Passo (coords.). Coisa julgada e outras estabilidades processuais. Salvador: Juspodivm. 2018, pp. 35‐37. 
47
 REsp 1.766.376/TO, DJe de 28.8.20. 
48
 Art. 304 [...].   §6º A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos respectivos efeitos só será afastada por decisão que 
a revir, reformar ou invalidar, proferida em ação ajuizada por uma das partes, nos termos do §2º deste art.. 
Com  isso,  rompe‐se  definitivamente  com  a  tradição  do  sistema  até  então  vigente  no  nosso 
país,  que  permitia  apenas  que  a  tutela  cautelar  pudesse  ser  deferida  em  procedimento  autônomo  e 
antecedente,  de  forma  preparatória  (CPC/73,  art.  800),  e  vedava  terminantemente  que  a  tutela 
antecipada pudesse ser concedida da mesma forma, independentemente de processos em curso e da 
confirmação subsequente por sentença de mérito (CPC/73, art. 273). 

Prestigia‐se, assim, a celeridade e efetividade, em detrimento da segurança jurídica. 

Muitos  questionam  o  porquê  da  adoção  dessa  técnica  pelo  sistema  brasileiro.  Em  minha 
opinião, o legislador finalmente percebeu que o interesse das partes pode, em algumas circunstâncias, 
se  limitar  exclusivamente  à  obtenção  de  provimento  judicial  que  solucione  o  problema  que 
imediatamente lhes aflija, sem qualquer outra intenção de promover maiores discussões envolvendo a 
certificação do direito e a prolação de uma sentença de mérito.  

Por isso, o Código permite a estabilização desse provimento apenas na hipótese de o réu não 
interpor  o  recurso  de  agravo  de  instrumento  no  prazo  legal  (art.  1.015,  I).49  Por  isso,  também,  o 
sistema impede que haja estabilização em todos os casos em que houver necessidade de ser nomeado 
curador  especial  ao  réu,  na  forma  do  artigo  72  do  CPC.  Afinal,  não  haveria  nenhum  sentido  em  se 
obrigar  este  profissional  a  interpor  recurso,  quando  seu  dever  funcional  lhe  autoriza  até  mesmo  a 
apresentar contestação genérica (CPC, art. 341, par. ún.). 

De  todo  modo,  é  preciso  ficar  claro  que  o  autor  não  precisa  pedir,  ou  melhor,  requerer  a 
estabilização  da  tutela  provisória  antecipada,  concedida  em  caráter  antecedente.  O  que  o  sistema 
impede  é  que  o  juiz  conceda  tutelas  provisórias  de  ofício,  mas,  desde  que  elas  tenham  sido 
requeridadas,  o  impulso  oficial  se  encarregará  do  resto.  Logo,  a  estabilização  decorrerá  da  mera 
incidência da norma, prescindindo de qualquer solicitação da parte nesse sentido. 

Apesar da significativa operabilidade que a técnica é capaz de trazer ao procedimento, existem 
alguns problemas, porém: conforme mencionado nos capítulos iniciais deste livro, embora a iniciativa 
legislativa  seja  digna  de  aplausos,  a  forma  pela  qual  o  instituto  foi  estruturado  topograficamente  no 
Código não foi das melhores e por isso a leitura dos textos normativos dos arts. 303 e 304, assim como 
sua aplicação prática devem ser precedidas de grande e cuidadoso esforço hermenêutico. 

Esta é, inclusive, a maior preocupação do tópico seguinte. 
 
 
 
 

                                                            
49
  Exatamente  assim:  STJ,  TP  3417/MG,  DJe  de  25.5.21;  REsp  1.766.376/TO,  DJe  de  28.8.20.  Em  sentido  contrário,  admitindo  que  a  contestação 
também impeça a estabilização: REsp n. 1.760.966/SP, DJe de 07.12.18. 
A difícil interpretação dos textos dos arts. 303 e 304 do CPC: uma proposta de aplicação 

Não  é  o  que  a  leitura  pura  e  simples  dos  artigos  303  e  304  do  CPC  leva  a  concluir,  mas  a 
estabilização  somente  terá  lugar  se  determinados  fatores  forem  obrigatoriamente  ocorrendo  em 
ordem sucessiva.50  

Assim,  é  preciso,  em  primeiro  lugar,  que  o  autor  requeira  a  tutela  provisória  de  natureza 
satisfativa  em  caráter  antecedente,  deixando  claro  para  o  juiz  que  pretende  não  só  se  valer  do 
simplificado método de peticionamento previsto no artigo 303, caput, mas também que se contentará 
com a estabilização dos efeitos da decisão liminar, na hipótese de ela não ser atacada por agravo de 
instrumento (CPC, art. 304, caput).  

Além de servir de alerta ao órgão julgador – que, então, adotará o procedimento específico, 
em  vez  do  comum  ‐,  funcionará  como  aviso  ao  réu,  evitando‐se  surpresas  e  permitindo  que  ele 
desenvolva  a  estratégia  processual  que  entenda  mais  adequada,  que  pode,  até  mesmo,  incluir  a 
desnecessidade de interposição do agravo.  

Em  segundo  lugar,  é  absolutamente  necessário  que  essa  liminar  seja  deferida,  por  óbvio.  A 
decisão que a indeferir jamais se estabilizará, até porque isso não faria nenhum sentido. 

Em  terceiro,  mostra‐se  imprescindível  que  o  autor  se  abstenha  de  adotar  posturas 
incondizentes com a estabilização, após o deferimento da liminar ‐ a exemplo da desistência da ação e 
da protocolização de petição aditando a inicial ou requerendo a conversão do rito para o comum. Isso, 
é claro, se o réu não agravar. Afinal, se o autor quisesse buscar a resolução do mérito, teria deduzido o 
verdadeiro pedido na inicial, já que lhe seria lícito fazê‐lo (art. 294, par. único); optando por formular 
apenas  o  requerimento  liminar  com  a  mera  indicação  do  pedido  de  tutela  final,  deixa  claro  que  se 
contentaria com a estabilização, não podendo, agora, ir contra seus próprios passos para surpreender 
o réu a esse nível.  

Em quarto e último, é absolutamente  necessário que o réu não agrave dessa decisão.51 Para 
tanto,  é  imprescindível  que  ele  seja  cientificado  precisamente  a  respeito,  tornando  obrigatória  a 
advertência correspondente no mandado/carta, inclusive (CPC, art. 250, III). Caso contrário, os efeitos 
não se estabilizarão. Daí porque o instituto sob estudo não se concilia com as hipóteses de réus que se 
encontrem em juízo por meio de curador especial (CPC, art. 72).52  

                                                            
50
 Em sentido próximo: SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto à chamada “estabilização da tutela antecipada”. Revista 
do Ministério Público do Rio de Janeiro, nº 55, pp. 85‐102. 
51
 Exatamente assim: STJ, REsp 1.766.376/TO, DJe de 28.8.20. Em sentido contrário, admitindo que a contestação também impeça a estabilização: STJ, 
REsp n. 1.760.966/SP (DJe de 07.12.18). 
52
  Também  nesse  sentido:  DIDIER  JR.,  Fredie  [et.al.].  Curso  de  Direito  Processual  Civil.  V.  2.  10  ed.  Salvador:  Juspodivm,  2015,  p.  609;  TALAMINI, 
Eduardo.  Tutela  de  urgência  no  Projeto  de  novo  Código  de  Processo  Civil:  a  estabilização  da  medida  urgente  e  a  monitorização  do  processo 
brasileiro. Revista de Processo. v. 209, p. 29. 
É  preciso  que  se  esteja  atento  apenas  ao  que  já  foi  dito  por  ocasião  do  estudo  da  tutela 
cautelar: o fato de o réu peticionar nos autos informando o cumprimento de tutela de urgência ou de 
evidência  eventualmente  deferida  em  caráter  liminar  não  representa  comparecimento  espontâneo, 
para  fins  de  configuração  de  citação.53  Tampouco  acarreta  a  perda  superveniente  do  objeto  do 
processo, como entende de forma pacífica o STJ, o que impede que o juiz extinga o processo por este 
motivo.54 

Na  eventualidade  de  esses  passos  não  serem  seguidos,  a  estabilização  não  terá  lugar. 
Portanto, se o autor não disser expressamente que pretende se valer da técnica sob estudo, a decisão 
liminar eventualmente concedida não poderá se estabilizar, pois o réu será citado normalmente para o 
rito  das  ações  de  família,  sem  a  cientificação  a  respeito  da  necessidade  de  agravar  para  evitar  a 
estabilização.  Como  resultado,  o  processo  será  seu  fluxo  normal,  rumo  à  certificação  do  direito. 
Justamente  por  isso  é  que  o  autor  terá  obrigatoriamente  que  se  abster  de  adotar  condutas 
incompatíveis com a estabilização, após obter a liminar. Logo, petições objetivando o aditamento da 
inicial,  por  exemplo,  não  poderão  ser  formuladas,  sob  pena  de  ele  dar  mostras  que  pretenderia 
instaurar  discussão  voltada  à  certificação  do  direito,  ou  seja,  à  obtenção  de  sentença  de  mérito,  em 
atitude absolutamente incondizente com a estabilização.  

Por fim, é claro que os efeitos da decisão não se estabilizarão se o réu agravar de instrumento 
tempestivamente, pois é justamente essa a conduta que ele terá que adotar se quiser ver a questão 
resolvida pelo mérito (CPC, art. 304, caput). Caso o agravo seja interposto, aí sim o autor deverá aditar 
a inicial, pois a petição destinada à obtenção meramente da liminar não conterá todos os requisitos 
exigidos pelo artigo 319. 

Não é isso, contudo, que se extrai da mera leitura dos artsigos 303 e 304 do Código. A intenção 
do legislador é clara e merecedora de aplausos, mas os textos desses dispositivos foram elaborados e 
estruturados de forma um tanto confusa, aparentemente desorganizada sob a perspectiva sistêmica. 

Veja. De acordo com o artigo 303: 

Art.  303.   Nos  casos  em  que  a urgência  for  contemporânea  à  propositura  da  ação,  a  petição 
inicial pode limitar‐se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela 
final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco 
ao resultado útil do processo. 
§1º Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo: 
I  ‐  o  autor  deverá  aditar  a  petição  inicial,  com  a  complementação  de  sua  argumentação,  a 
juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias 
ou em outro prazo maior que o juiz fixar; 
II ‐ o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de mediação na forma do 
artigo 334; 
III ‐ não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma do artigo 
335. 

                                                            
53
 STJ, REsp 1.904.530/PE, DJe de 11.03.22. 
54
 REsp 1.670.267/SP, DJe de 19.5.22; AgRg no REsp 1.353.998/RS, DJe de 13.3.15; EDcl no AgRg no REsp 1.310.876/DF, DJe de 19.4.17. 
§2º Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do §1º deste artigo, o processo será 
extinto sem resolução do mérito. 
§3º O aditamento a que se refere o inciso I do  §1º deste artigo dar‐se‐á nos mesmos autos, 
sem incidência de novas custas processuais. 
§4º Na petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o autor terá de indicar o valor da 
causa, que deve levar em consideração o pedido de tutela final. 
§5º O autor indicará na petição inicial, ainda, que pretende valer‐se do benefício previsto no 
caput deste artigo. 
§6º  Caso  entenda  que  não  há  elementos  para  a  concessão  de  tutela  antecipada,  o  órgão 
jurisdicional  determinará  a  emenda  da  petição  inicial  em  até  5  (cinco)  dias,  sob  pena  de  ser 
indeferida e de o processo ser extinto sem resolução de mérito. 

Por seu turno, diz o artigo 304:  

Art.  304.    A  tutela  antecipada,  concedida  nos  termos  do  artigo  303,  torna‐se  estável  se  da 
decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso. 
§1º No caso previsto no caput, o processo será extinto. 
§2º  Qualquer  das  partes  poderá  demandar  a  outra  com  o  intuito  de  rever,  reformar  ou 
invalidar a tutela antecipada estabilizada nos termos do caput. 
§3º  A  tutela  antecipada  conservará  seus  efeitos  enquanto  não  revista,  reformada  ou 
invalidada por decisão de mérito proferida na ação de que trata o §2º. 
§4º Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em que foi concedida 
a medida, para instruir a petição inicial da ação a que se refere o §2º, prevento o juízo em que 
a tutela antecipada foi concedida. 
§5º O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no § 2o deste artigo, 
extingue‐se após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, nos 
termos do §1º. 
§6º A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos respectivos 
efeitos  só  será  afastada  por  decisão  que  a  revir,  reformar  ou  invalidar,  proferida  em  ação 
ajuizada por uma das partes, nos termos do §2º deste artigo. 

Pois bem. 

Se  uma  das  características  da  técnica  de  estrutura  monitória  é  a  transferência  ao  réu  da 
responsabilidade e iniciativa pela instauração do contraditório, a técnica de estabilização tem que se 
guiar  por  essa  mesma  trilha.  Por  isso  é  que,  apesar  de  os  incisos  I  e  II  do  artigo  303,  §1º 
aparentemente imporem que o autor tenha que aditar a inicial logo após o deferimento da liminar, e 
que  o  réu  tenha  que  ser  subsequentemente  citado  e  intimado  para  comparecer  à  audiência  de 
conciliação ou mediação, isso não necessariamente acontecerá, pois o processo pode ser extinto antes 
de tudo isso acontecer. Basta que o réu deixe de agravar no prazo legal para que os efeitos da liminar 
se  estabilizem  e  o  processo  seja  automática  e  imediatamente  extinto,  sem  que  haja  qualquer 
possibilidade de aditamento e de continuidade do processo (CPC, art. 304, §1º).  

Então, é melhor se aguardar o decurso do prazo recursal aberto ao réu, para que as próximas 
medidas sejam adotadas. E, para que isso ocorra, os prazos previstos pelo artigo 303, §1º, incisos I e II 
devem ser sucessivos, jamais concomitantes, como dá a entender o texto normativo. 
Em sendo interposto o recurso – e apenas nessa hipótese55 – aí sim o requerente deverá ser 
intimado  para  aditar  a  inicial  na  forma  e  prazo  estabelecidos  no  artigo  303,  §1º,  I,  para  que  haja  o 
prosseguimento  da  demanda  rumo  à  possível  obtenção  de  uma  sentença  de  mérito.  Por  isso  é  que 
logo  depois  de  ser  feito  o  aditamento,  o  réu  deverá  ser  intimado  para  audiência  de  conciliação  ou 
mediação (CPC, art. 303, §1º, II e III), prosseguindo‐se o procedimento sob o rito das ações de família 
(CPC,  arts.  693/699).  Nesse  caso,  não  haverá  espaço  para  se  falar  em  estabilização  dos  efeitos  da 
liminar, mas sim em coisa julgada a recobrir oportunamente o conteúdo da sentença. Por outro lado, 
se o autor não aditar a inicial, sofrerá duas graves consequências: a liminar será revogada e o processo 
extinto sem resolução do mérito (CPC, art. 303, §2º), pois não haverá como ter prosseguimento uma 
ação iniciada por uma petição simples, elaborada em desconformidade com os requisitos do artigo 319 
do CPC.  

Em meu sentir, esse é a melhor interpretação a ser dada aos textos dos artigos 303 e 304 do 
CPC. Caso contrário, o sistema seria levado a colapso. Isso porque, se o juiz deferir a liminar e seguir à 
risca o que enunciam os incisos I a III do artigo 303, §1º, ele determinaria, na mesma ocasião, que a 
inicial fosse aditada e que o réu fosse citado e intimado para comparecer à audiência de conciliação ou 
de mediação. Como o autor deveria ser intimado desta decisão na pessoa de seu advogado (pelo DJ – 
art.  272),  muito  provavelmente  seu  prazo  para  aditar  a  inicial  teria  início  antes  mesmo  de  o  réu  ser 
intimado/citado, pois o Código impõe que a citação seja obrigatoriamente feita em sua própria pessoa 
e não na de seu advogado, que a esta altura pode ainda nem ter sido constituído (CPC, art. 695, §3º).  

Como  a  consequência  pelo  não  aditamento  da  inicial  é  por  demais  severa  ‐  revogação  da 
liminar e extinção do processo (CPC, art. 303, §2º) ‐, o autor se encontraria em uma difícil situação: a 
aditaria,  abrindo  mão  da  estabilização,  ou  não  a  aditaria,  mas  suportaria  a  revogação  da  liminar  e  a 
correspectiva extinção do processo.  

Isso  conturbaria  todo  o  procedimento,  fadando  a  inovadora  técnica  ao  mais  absoluto 
insucesso. 

Portanto,  a  correta  e  adequada  interpretação  desses  textos  impõe  que  o  primeiro  ato 
processual a ser empreendido logo após a concessão da liminar seja a citação e intimação do réu com 
o propósito exclusivo de torna‐lo ciente de que deverá agravar de instrumento caso queira impedir a 
estabilização  dos  efeitos  da  tutela  e  a  subsequente  extinção  do  processo  (art.  304,  caput  e  §1º). 
Apenas na hipótese desse recurso ser interposto tempestivamente é que o autor deverá ser intimado 

                                                            
55
 A mera interposição do agravo já implica na imediata conversão do rito, não havendo necessidade de que tal recurso seja provido. Nesse sentido, é 
o Enunciado n. 28 da ENFAM, segundo o qual “admitido o recurso interposto na forma do art. 304 do CPC/2015, converte‐se o rito antecedente em 
principal para apreciação definitiva do mérito da causa, independentemente do provimento ou não do referido recurso.” 
para promover o aditamento a que se refere o artigo 303, §1º, I, ciente de que sua inatividade levará à 
revogação da liminar e à automática extinção do processo (CPC, art. 303, §2º).56  

É preciso que isso fique absolutamente claro na mente do aplicador, e por isso a insistência: a 
intimação  precisa  ser  específica,  com  a  indicação  precisa  da  necessidade  da  emenda  da  inicial, 
conforme prevê o artigo 321 do Código. 

Felizmente,  este  parece  ser  o  caminho  que  vem  sendo  trilhado  pelo  Superior  Tribunal  de 
Justiça, como se vê da ementa abaixo transcrita no que interessa: 

RECURSO  ESPECIAL.  PROCESSUAL  CIVIL.  TUTELA  ANTECIPADA  REQUERIDA  EM  CARÁTER 


ANTECEDENTE.  PROCEDIMENTO.  ARTS.  303  E  304  DO  CPC/15.  ADITAMENTO  DA  INICIAL. 
INTIMAÇÃO  ESPECÍFICA.  PRINCÍPIOS  DA  PRIMAZIA  DO  JULGAMENTO  DE  MÉRITO  E  DA 
ECONOMIA PROCESSUAL. ARTS. 4º, 139, IX, 321, CAPUT, 304, CAPUT E § 1º, e 1.003, § 5º, do 
CPC/15.  PETIÇÃO.  JUNTADA.  CONTEÚDO.  CONHECIMENTO  INEQUÍVOCO.  HIPÓTESE 
CONCRETA. NÃO CARACTERIZAÇÃO. 
[...]; 
8.  No  CPC/15,  a  tutela  provisória  passa  a  ser  uma  técnica  aplicada  na  relação  processual  de 
conhecimento ou de execução, mas que, na forma do art. 303, pode ser também requerida em 
caráter antecedente à própria formação da relação jurídica processual da tutela definitiva. 
9.  O  propósito  da  previsão  dos  arts.  303  e  304  do  CPC  é,  especificamente,  proporcionar 
oportunidade  à  estabilização  da  medida  provisória  satisfativa,  valorizando  a  economia 
processual  por  evitar  o  desenvolvimento  de  um  processo  de  cognição  plena  e  exauriente, 
quando as partes se contentarem com o provimento sumário para solucionar a lide. 
10. O procedimento da tutela provisória é, portanto, eventualmente autônomo em relação à 
tutela definitiva, pois, para a superação dessa autonomia, é preciso que o requerido recorra da 
decisão que concede a antecipação da tutela, sob pena de a tutela estabilizar‐se e o processo 
ser extinto. 
11.  Como,  na  inicial  da  tutela  antecipada  antecedente,  o  autor  somente  faz  a  indicação  do 
pedido de tutela final, existe a previsão de que deve complementar sua argumentação, com a 
confirmação do pedido de tutela final, no prazo de 15 (quinze) dias ou outro maior fixado pelo 
juiz. 
12.  Os  prazos  do  requerido,  para  recorrer,  e  do  autor,  para  aditar  a  inicial,  não  são 
concomitantes, mas subsequentes.  
13. Solução diversa acarretaria vulnerar os princípios da economia processual e da primazia do 
julgamento  de  mérito,  porquanto  poderia  resultar  na  extinção  do  processo  a  despeito  da 
eventual  ausência  de  contraposição  por  parte  do  adversário  do  autor,  suficiente  para 
solucionar a lide trazida a juízo. 
14.  Como  a  interposição  do  agravo  de  instrumento  é  eventual  e  representa  o  marco 
indispensável  para  a  passagem  do  "procedimento  provisório"  para  o  da  tutela  definitiva, 
impõe‐se  a  intimação  específica  do  autor  para  que  tome  conhecimento  desta  circunstância, 
sendo  indicada  expressa  e  precisamente  a  necessidade  de  que  complemente  sua 
argumentação e pedidos. 
15.  Na  hipótese  dos  autos,  o  conteúdo  da  petição  juntada  pelo  autor,  na  qual  requer  a 
aplicação de multa em razão do descumprimento da tutela antecipada, não permite concluir 
por seu conhecimento inequívoco da determinação de aditar a inicial. 
16.  Além  disso,  a  intimação  do  autor  para  o  aditamento  da  inicial  e  o  início  do  prazo  de  15 
(quinze)  dias  para  a  prática  desse  ato,  previstos  no  art.  303,  §  1º,  I,  do  CPC/15,  exigem 
intimação específica  com  indicação precisa da emenda necessária,  como realizado pelo juízo 
do primeiro grau de jurisdição.  
(REsp 1.766.376/TO, DJe de 28.8.20) 
 

                                                            
56
 Enunciado n. 28 da ENFAM: “Admitido o recurso interposto na forma do art. 304 do CPC/2015, converte‐se o rito antecedente em principal para 
apreciação definitiva do mérito da causa, independentemente do provimento ou não do referido recurso.” 
  Este  mesmo  entendimento  foi  aplicado  em  julgado  superveniente,57  demonstrando  que  a 
jurisprudência dominante do STJ parece caminhar em um só sentido. 

  Uma possível solução para o problema 

Para  que  esse  rearranjo  normativo  possa  ser  adequadamente  aplicado  ao  caso  concreto, 
entretanto,  o  juiz  terá  que  promover  a  adaptação  do  procedimento,  deslocando  o  termo  inicial  do 
prazo destinado ao aditamento referido no artigo 303, §1º, I para momento posterior ao termo final 
estipulado para o réu interpor o agravo a que alude o artigo 304, caput, como sugerido nos capítulos 
iniciais deste livro.  

Dito de outro modo, o magistrado deverá ordenar a citação e intimação do réu para agravar da 
decisão  liminar  no  prazo  de  15  dias  úteis  e,  nesse  mesmo  pronunciamento,  deslocar 
fundamentadamente  o  termo  inicial  do  aditamento  para  dia  posterior  ao  fim  dessa  quinzena  ou 
determinar que os autos aguardem o decurso do prazo em Secretaria, para que possa saber qual será 
o próximo passo a ser dado.58 

Sim, o novo sistema traz também essa possibilidade. E, com o máximo respeito aos que assim 
não pensam, existe fundamento normativo mais do que suficiente para essa adequação formal, pois o 
artigo 139, VI, admite  que o magistrado dilate os prazos processuais, adequando‐os às necessidades 
do conflito, para conferir maior efetividade à tutela do direito. Se essa adaptação do procedimento é 
permitida  para  que  se  possa  “conferir  maior  efetividade  à  tutela  do  direito”,  com  muito  mais  razão 
deve  ser  admitida  quando  for  a  única  saída  para  se  conferir  aplicabilidade  e  coerência  ao  instituto, 
pois, em última análise, apenas assim se conferirá alguma efetividade à tutela dos direitos. 

Essa sugestão, inclusive, foi acatada na I JDPC/CJF. Por provocação deste autor, foi aprovado 
por  unanimidade  o  Enunciado  n.  13,  cujo  teor  é  o  seguinte:  "O  artigo  139,  VI,  do  CPC  autoriza  o 
deslocamento para o futuro do termo inicial do prazo". 

Lembre‐se  das  duas  observações  tantas  vezes  feitas  ao  longo  de  todo  este  livro:  a)  norma 
jurídica  é  produto  da  interpretação  humana.  O  texto  normativo  que  a  veicula  é  apenas  um  dos 
veículos por meio dos quais ela é introduzida no ordenamento jurídico;59 b) o Código de Processo Civil 
de 2015 precisa ser pensado e aplicado sob a percepção de que ele se trata de um inteiramente novo 
Código e não de um Código velho reformado. 

Portanto, se houver a interposição do agravo, a juntada da petição correspondente no 1º grau 
de jurisdição, em cumprimento ao que determina  o artigo 1.018 do CPC, terá uma função adicional: 

                                                            
57
 Também assim: TP 3417/MG, DJe de 25.05.21. Em sentido contrário: REsp n. 1.760.966/SP, DJe de 07.12.18.  
58
 Nesse sentido é o Enunciado nº 581 do FPPC: “O poder de dilação do prazo, previsto no inciso VI do art. 139 e no inciso I do §1º do art. 303, abrange 
a fixação do termo final para aditar o pedido inicial posteriormente ao prazo para recorrer da tutela antecipada antecedente”. 
59
 Daí Humberto Ávila, por exemplo, afirmar com razão “que os dispositivos se constituem no objeto da interpretação; e as normas, no seu resultado”. 
Em, Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 16 ed. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 54. 
noticiar que a estabilização da tutela antecipada não mais poderia ocorrer, o que obrigará o autor a 
promover a emenda da inicial, caso não queira que a ação seja extinta.60 

Compreendida a função e estrutura dessa nova técnica, será tentada uma maior aproximação 
entre ela e as demandas de família, com o objetivo de demonstrar seu enorme potencial de resolver 
questões familiares complexas de forma um tanto célere e econômica.  

O procedimento da tutela antecipada antecedente, sua estabilização e aplicação às ações 
e relações de família 

Imagine a situação de uma criança que já tenha tido sua guarda unilateral atribuída à mãe em 
demanda  precedente.  Imagine,  agora,  que  seu  pai  a  tenha  retirado  deste  lar  para  passar  férias  ou 
feriados prolongados consigo, mas se recusado a restitui‐la no momento estabelecido para tanto, em 
flagrante descumprimento ao que ficara acertado anteriormente.  

A  grande  possibilidade  de  que  esta  criança  falte  às  aulas  na  escola  em  que  se  encontra 
matriculada ou simplesmente deixe de retornar ao lar de sua guardiã atribuiria caráter emergencial à 
situação,  fornecendo  o  panorama  ideal  para  que  fosse  elaborada  rapidamente  uma  petição  simples, 
desprovida  de  maiores  requintes  técnicos,  mas  que  fosse  suficiente  a  apresentar  ao  magistrado  um 
resumo desses fatos e do direito assegurado pela sentença proferida na demanda precedente, assim 
como  um  quadro  a  respeito  da  urgência  e  da  gravidade  da  situação  que,  se  não  socorrida 
imediatamente  pelo  Judiciário,  poderia  causar  sérios  prejuízos  a  todos  os  envolvidos.  A  título  de 
complemento, bastaria haver a indicação do pedido de tutela final, a atribuição de valor à causa em 
consideração  ao  proveito  econômico  por  este  proporcionado  e,  por  óbvio,  o  requerimento  de 
concessão  da  tutela  de  urgência  de  busca  e  apreensão,  deixando‐se  claro  que  se  estaria  valendo  da 
prerrogativa  de  peticionamento  simplificado  (CPC,  art.  303)  e  que  a  mera  estabilização  dos  efeitos 
dessa  tutela  satisfaria  os  interesses  da  autora  (CPC,  art.  304,  caput  e  §1º),  poupando‐se  tempo  e 
possivelmente dinheiro com isso.61 

Caso seja deferida a liminar e não apresentado agravo pela parte contrária,  o processo seria 
extinto e os efeitos da decisão se estabilizariam. 

O  procedimento  sob  enfoque  poderia  ser  aplicado,  ainda,  à  seguinte  situação  hipotética:  o 
casal se separa de corpos e o consorte que continua habitando sozinho o imóvel comum se recusa a 
permitir  o  acesso  do  outro  a  seus  próprios  documentos  pessoais  e  a  diversos  bens  particulares  que 
ainda se encontram no local. O fato de inexistir controvérsia a respeito da titularidade exclusiva sobre 
tais  coisas  atribuiria  probabilidade  suficiente  às  alegações  desta  parte.  Já  a  circunstância  de  se 
tratarem  de  documentos  pessoais  ou  então  de  bens  prometidos  à  venda  ou  em  risco  de  sofrerem 

                                                            
60
 STJ, REsp 1.766.376/TO, DJe de 28.8.20. 
61
 Também com este pensamento: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: famílias. v. 6. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 
2020, p. 669. 
deterioração naquele lugar emprestaria considerável urgência à situação, possibilitando a elaboração 
de um requerimento de busca e apreensão desses papéis e objetos.  

Semelhante  episódio  poderia  ocorrer  quando  uma  das  partes  retivesse  em  seu  poder 
contratos assinados por ambos ou quaisquer documentos que, por seu conteúdo, fossem comuns ao 
casal,  ou  tivessem  sido  mencionados  por  ela  em  processo  judicial  ou  administrativo  em  que  os  dois 
figurem como parte, com o objetivo de constituir prova. Neste caso, a exibição desses papéis poderia 
ser perfeitamente pleiteada por meio do procedimento aqui estudado, com base nas mesmas razões 
utilizadas para fundamentar a hipótese anteriormente mencionada. 

Pense,  ainda,  como  esse  método  poderia  ser  útil  quando  o  ascendente  responsável  pela 
inclusão do nome do filho como dependente de seu plano de saúde se recusasse a assim proceder, em 
franco  descumprimento  à  obrigação  imposta  em  sentença  transitada  em  julgado.  A  urgência  da 
situação  talvez  até  pudesse  ser  considerada  presumida  nesse  caso,  em  razão  da  importância  da 
prestação.  

Observe,  igualmente,  a  conveniência  da  utilização  da  técnica  diante  de  um  episódio  em  que 
um dos consortes, movido por nítido sentimento de vingança, hackeasse os perfis de redes sociais do 
outro,  apagando  dados  importantes  ou  efetuando  postagens  ofensivas  ou  de  fotos  intimas  do  casal 
(nudes),  naquela  terrível  prática  que  ficou  conhecida  como  “revenge  porn”.  Nesse  caso,  os  riscos  à 
honra  e  imagem  seriam  tão  grandes  que  a  vítima  conseguiria  facilmente  comprovar  a  urgência  e 
necessidade da medida, que poderia ser utilizada em face da empresa administradora da rede com a 
finalidade  exclusiva  de  que  ela  resetasse  a  senha  antiga,  permitindo  a  criação  de  uma  nova  pelo 
verdadeiro titular da conta, sem prejuízo de efetuar a imediata retirada das postagens desautorizadas. 

Cogite  também  o  quadro  de  um  dos  consortes  necessitar  urgentemente  de  alimentos  para 
manter  seu  sustento,  depois  de  ter  sido  subitamente  expulso  do  lar  comum  sem  qualquer  motivo 
aparente.  A  gravidade  e  surpresa  com  que  acontecimentos  desse  tipo  costumam  vir  à  tona 
possivelmente impediriam que essa parte tivesse tempo hábil para reunir documentos necessários à 
comprovação  de  suas  necessidades  e  da  capacidade  contributiva  do  outro.  Daí  ela  poder  se  escorar 
apenas  nas  provas  que  possuísse  para  deduzir  requerimento  voltado  à  obtenção  pura  e  simples  de 
alguma medida liminar que lhe assegurasse prestação alimentícia. 

No  exemplo  exposto  imediatamente  acima,  a  situação  ainda  se  agravaria,  toda  vez  que  a 
pessoa  afastada  do  lar  fosse  mulher  gestante  necessitando  de  “valores  suficientes  para  cobrir  as 
despesas  adicionais  do  período  de  gravidez  e  que  sejam  dela  decorrentes,  da  concepção  ao  parto, 
inclusive  as  referentes  a  alimentação  especial,  assistência  médica  e  psicológica,  exames 
complementares, internações, parto,  medicamentos e demais  prescrições  preventivas e  terapêuticas 
indispensáveis, a juízo do médico”. 
Caso  a  liminar  fosse  deferida  nesse  caso  também,  e  o  réu  não  recorresse,  os  efeitos  dessas 
decisões também se estabilizariam e o processo simples e rápido seria extinto, sem maiores discussões 
a respeito do direito à percepção desses alimentos.62 

A técnica sob estudo também poderia ser bastante útil como forma de aceleração das Medidas 
Protetivas  de  Urgência  requeridas  por  mulheres  inseridas  em  situação  de  violência  doméstica,  nos 
termos da Lei Maria da Penha. Isto porque, como será visto em capítulo específico deste livro, essas 
Medidas  Protetivas  representam,  na  verdade,  uma  demanda  de  natureza  cível,63  em  cujo  âmbito 
podem  ser  requeridas  diversas  providências  de  caráter  provisório,  inclusive  liminarmente,  como  o 
afastamento do ofensor do lar comum, a proibição de que ele pratique certas condutas, a restrição ou 
suspensão  de  visitas  aos  dependentes  menores  e  a  prestação  de  alimentos  provisórios  à  ofendida, 
apenas para citar algumas (LMP, arts. 22, II, IV e V).64 

Já  que  diversas  dessas  providências  representam  meros  efeitos  projetados  pelo  conteúdo 
postulado a título de tutela definitiva, tudo recomenda que elas sejam postuladas e deferidas a título 
de tutela antecipada antecedente, contando com o grande atrativo de que a mulher sequer precisará 
contratar  advogado  para  tanto,  pois  a  Lei  Maria  da  Penha  lhe  atribui  capacidade  postulatória  para 
requerer a aplicação de medidas protetivas de urgência a seu favor (LMP, art. 19, parte final). 

O tema voltará a ser abordado no capítulo destinado ao estudo dessas medidas.  

 Imagine,  por  fim,  como  a  técnica  sob  estudo  poderia  ser  útil  até  mesmo  aos  pais  que 
pretendessem obter a guarda ou regulamentar a convivência com seus filhos sem adentrarem a fundo 
nas discussões a respeito. Enfim. Mais e mais situações poderiam ser conjeturadas envolvendo os mais 
diversos  conflitos  familiares,  se  os  exemplos  acima  não  fossem  suficientemente  representativos  do 
aflitivo  panorama  em  que  as  partes  usualmente  se  encontram  e  dos  benefícios  da  utilização  da 
técnica. 

Em  todas  elas  o  que  se  verifica  em  comum  é  um  quadro  de  extrema  e  contemporânea 
urgência  que  o  interessado  pretende  ver  remediado  pelo  Judiciário  através  da  concessão  de  uma 
medida que faça cessar a violação ou ameaça a seus direitos – enfim, que satisfaça e não meramente 
os  acautele  ‐,  pouco  importando  que  ela  seja  fundamentada  em  cognição  sumária,  que  venha 
involucrada  por  um  pronunciamento  denominado  “sentença”  ou  que  tenha  aptidão  para  fazer  coisa 
julgada material. 

É a verificação prática da satisfação preponderando sobre a segurança jurídica.  

                                                            
62
 Nesse sentido é, inclusive, o Enunciado n. 500 do FPPC, segundo o qual: “O regime da estabilização da tutela antecipada antecedente aplica‐se aos 
alimentos provisórios previstos no art. 4º da Lei 5.478/1968, observado o §1º do art. 13 da mesma lei”.  
63
 STJ, REsp 1.550.166/DF, DJe de 18.12.17; AgRg no REsp 1.441.022/MS, DJe de 02.02.15; REsp 1.419.421/GO, DJe de 07.04.14. 
64
 O STJ já reconheceu o caráter satisfativo da medida protetiva de urgência “alimentos” (RHC 100.446/MG, DJe de 05.12.18). 
Felizmente, para que isso aconteça não existe mais necessidade de propositura das demoradas 
e  cansativas  ações  de  guarda,  de  alimentos,  de  regulamentação  de  regime  de  convivência,  enfim. 
Basta o uso do método sob estudo. 

Deferida  a  liminar  em  qualquer  das  hipóteses  antes  tratadas,  seria  expedido  o  mandado 
correspondente, no qual também constaria a ordem de citação e intimação do réu para interposição 
do  agravo  de  instrumento  no  prazo  de  15  dias  úteis  (CPC,  art.  1.003,  §5º).  Cumprida  a  ordem  e 
escoado em branco este prazo, os efeitos da liminar se estabilizariam, o que equivaleria a dizer que a 
busca e apreensão, a inclusão do nome do filho no plano de saúde, os alimentos para ex‐consorte ou 
gravídicos65  e  a  atribuição  da  guarda  se  tornariam  estáveis  sob  aquelas  circunstâncias,  somente 
podendo vir a ser modificados por meio de ação autônoma, ajuizável dentro do biênio decadencial de 
02 anos a que se refere o artigo 304 do Código. 

E  nem  se  alegue,  sob  equivocada  premissa,  que  a  estabilização  seria  incompatível  com  a 
indisponibilidade  de  alguns  direitos  ou  com  as  relações  jurídicas  continuativas,  tão  comuns  nas 
situações jurídicas de direito de família. Em primeiro lugar, porque não é apenas pelo fato de o direito 
ser  indisponível  que  se  impedirá  a  estabilização,  pois  mesmo  direitos  indisponíveis  geram  efeitos 
passíveis  de  disposição,  sobretudo  relacionados  à  forma  de  seu  exercício.  Que  o  digam  o  valor  e  a 
periodicidade dos alimentos. Tanto é assim que existe entendimento doutrinário pacífico  no sentido 
de que cabe estabilização da tutela antecipada antecedente até mesmo contra a Fazenda Pública;66 em 
segundo, porque o que se estabilizam são os meros efeitos e não o conteúdo das decisões concessivas 
da liminar, como dito.  

E  as  situações  envolvendo  direitos  indisponíveis,  por  óbvio,  projetam  efeitos  fáticos 
perfeitamente  possíveis  de  serem  antecipados  e  estabilizados.  Aliás,  a  indisponibilidade  talvez  torne 
até mais importante e urgente a concessão da liminar, como acontece com os casos de fornecimento 
de  medicamentos  diversos  com  o  objetivo  de  tutelar  o  direito  à  saúde  de  crianças  ou  pessoas  em 
estado  de  vulnerabilidade,67  por  exemplo;  em  terceiro,  porque  essa  estabilização  envolve  e  diz 
respeito apenas à situação fática existente no momento em que a liminar é deferida, não alcançando 
situações  futuras.  Ou  seja,  acoberta  determinada  causa  de  pedir  e  não  outra;  em  quarto  e  último, 
porque  a  alteração  de  qualquer  quadro  fático‐jurídico  sempre  possibilitará  a  revisão  do  julgado 
proferido  com  base  na  situação  alterada,  pois  não  existe  no  ordenamento  jurídico  algo  que  seja 
absolutamente  indiferente  a  essa  mutação.  Eventualmente  modificando‐se  o  cenário  fático‐jurídico, 

                                                            
65
 O Enunciado n. 522 da V JDC/CJF dispõe que: “Cabe prisão civil do devedor nos casos de não prestação de alimentos gravídicos estabelecidos com 
base na Lei n. 11.804/2008, inclusive deferidos em qualquer caso de tutela de urgência”. 
66
 O Enunciado n. 582 do FPPC dispõe que: “Cabe estabilização da tutela antecipada antecedente contra a Fazenda Pública”. Por sua vez, o Enunciado 
n.  135  da  JPSEL/CJF  é  no  sentido  de  que:  “Recomenda‐se  à  Administração  Pública  permitir  a  estabilização  de  tutela  antecipada,  evitando  a 
interposição de agravo de instrumento, em casos cuja concessão se deu conforme entendimento pacificado de normas legais e constitucionais pelo 
Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente do julgamento em caso de recursos repetitivos ou repercussão 
geral ou edição de súmula vinculante.” 
67
 STJ, REsp 931.513/RS, J. em 25.11.09; AgRg no REsp 1.016.847/SC, DJe de 07.10.13; REsp 963.939/RS, DJe de 06.06.08. 
alteram‐se  os  elementos  da  ação  (causa  de  pedir),  formando‐se  uma  nova  demanda  apta  a  ensejar 
nova decisão, completamente diferente da anterior (CPC, art. 505, I).68  

De mais a mais, se nem mesmo a coisa julgada impediria a reabertura do debate a respeito das 
situações  de  cunho  continuativo,  a  estabilização  jamais  poderia  representar  óbice  a  que  a  questão 
fosse  novamente  discutida  e  rediscutida  tantas  vezes  quantas  ocorressem  alteração  na  relação 
jurídico‐material  base,  abrindo‐se  oportunidade,  inclusive,  a  que  as  partes  refletissem  melhor  a 
respeito da necessidade de agirem e do melhor momento para tanto. 

Portanto, não é pelo fato de ser direito indisponível ou referente a relações de trato sucessivo 
que a técnica ficará impedida de ser aplicada. 

Nem  mesmo  a  eventual  participação  do  Ministério  Público  como  fiscal  da  ordem  jurídica  nas 
ações  que  versem  sobre  direitos  de  incapazes69  ou  a  respeito  de  interesse  público  parece  impedir  a 
estabilização.  Muito  pelo  contrário.  Pode  até  reforçar  a  necessidade  de  que  ela  ocorra  no  caso 
concreto.  

Mas,  para  que  se  possa  chegar  a  essa  conclusão,  é  preciso  que  o  leitor  entenda  que  tal  as 
funções  desse  órgão  sofreram  intensa  e  profunda  reconfiguração  a  partir  da  promulgação  da 
Constituição Federal e de diversas leis que a seguiram, as quais se tornaram ainda mais perceptíveis 
com a entrada em vigor do CPC de 2015.  

Basta  ver  que  tal  Código  não  mais  impõe  a  participação  obrigatória  do  órgão  nas  demandas 
concernentes  ao  estado  da  pessoa,  pátrio  poder,  curatela,  interdição,  casamento,  declaração  de 
ausência e disposições de última vontade, como fazia o artigo 82, II do CPC/73, mas sim positiva uma 
regra muito mais elástica, estabelecendo que o órgão será intimado para, no prazo de 30 dias, intervir 
como  fiscal  da  ordem  jurídica  nas  hipóteses  previstas  em  lei  ou  na  Constituição  Federal  e  nos 
processos que envolvam interesse público ou social, interesse de incapaz e litígios coletivos pela posse 
de terra rural ou urbana (CPC, art. 178).  

Nas  ações  de  família,  em  particular,  o  Ministério  Público  somente  intervirá  quando  houver 
interesse de incapaz e quando figurar como parte vítima de violência doméstica e familiar, nos termos 
da  Lei  Maria  da  Penha  (L.  11.340/06),  devendo,  em  qualquer  caso,  ser  ouvido  previamente  à 
homologação de acordo, diz o artigo 698, caput e parágrafo único do Código.  

                                                            
68
 Art. 505. Nenhum  juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo:  I  ‐ se, tratando‐se de relação jurídica de trato 
continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença.  
69
 Lembrando que as alterações promovidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (L. 13.146/15) no regime das incapacidades traçado pelo Código 
Civil (arts. 3º e 4º), impossibilitam que se considere como absolutamente incapaz a pessoa adulta que, por causa permanente, encontra‐se inapta 
para gerir sua pessoa e administrar seus bens de modo voluntário e consciente. Logo, a incapacidade absoluta para exercer pessoalmente os atos da 
vida civil é algo que se restringe aos menores de 16 (dezesseis) anos, pois o critério passou a ser exclusivamente etário, tendo sido eliminadas as 
hipóteses de deficiência mental ou intelectual anteriormente previstas no Código Civil. (STJ, REsp 1.927.423/SP, J. em de 27.4.21). 
Acontece  que  nenhuma  dessas  intervenções  será  obrigatória.  Não.  O  que  se  mostra 
absolutamente necessário é que haja sua intimação pessoal, na forma imposta pelos arts. 178 e 179 
do  CPC,  para  que  seu  membro  proceda  à  identificação  do  interesse  público  no  processo  ao  seu 
exclusivo juízo, pautando‐se de acordo com essa convicção (Recomendação CNMP nº 34/16).70 Tanto é 
assim que os atos praticados pelo juízo sem a efetiva participação do órgão ministerial, serão válidos a 
princípio, pois a nulidade só poderá ser decretada após a intimação da instituição, que se manifestará 
sobre a existência ou a inexistência de prejuízo, conforme dispõe o artigo 279, §2º do Código e o que 
já foi longamente explicado em Capítulo específico deste livro, dedicado ao estudo do procedimento 
especial das ações de família.71 

 Portanto,  além  de  o  Ministério  Público  não  necessariamente  intervir  em  todas  as  ações  de 
família,  naquelas  em  que  se  mostrar  necessária  sua  intimação,  seu  representante  terá  vista  pessoal 
dos  autos  somente  depois  do  decurso  do  prazo  aberto  ao  réu  para  interposição  do  agravo  de 
instrumento  (CPC,  art.  179),  o  que,  longe  de  representar  qualquer  obstáculo  à  adoção  da  técnica, 
muito provavelmente reforçaria a necessidade de estabilização, em razão de ela favorecer o incapaz.  

Talvez um único retoque devesse ser feito ao subsistema de consectários da sucumbência nas 
sentenças  que  extinguem  os  procedimentos  pela  não  interposição  de  agravo  pelo  réu,  para  que  o 
instituto sob estudo fosse aprimorado. É que, embora o novo método pretenda desestimular o réu a 
se  defender  justamente  para  que  os  efeitos  da  tutela  se  estabilizem  logo  no  início  do  curso  do 
processo,  a  não  interposição  de  recurso  no  prazo  legal  não  lhe  imporá  apenas  um  mero  ônus 
imperfeito, mas sim um ônus perfeito, decorrente da estabilização obrigatória e automática dos efeitos 
práticos da tutela antecipada e da correspectiva extinção do processo, sem que nada possa ser feito a 
respeito naquele mesmo procedimento e grau de jurisdição.72  

Por isso é que o regramento dos custos financeiros inerentes à sucumbência talvez merecesse 
seguir  o  modelo  da  ação  monitória,  que  prevê  a  isenção  do  pagamento  de  custas  processuais  e 
redução do percentual de honorários advocatícios para 5% do valor atribuído à causa, na hipótese de o 
réu  cumprir  a  liminar  ou  deixar  de  apresentar  o  recurso  de  agravo  de  instrumento,  como  vem 
defendendo respeitável parcela da literatura,73 o que, ao menos em tese, pode encontrar permissão 
na regra do artigo 327, §2º do CPC – que autoriza a aplicação de “técnicas processuais diferenciadas” 
previstas nos procedimentos especiais a outros ritos. 

Ao fim e ao cabo, percebe‐se que a autonomização da tutela antecipada concedida sob essa 
modalidade realmente tem tudo para agilizar e incrementar o procedimento. Afinal de contas, tanto 

                                                            
70
 ADI 1.936/PE (Informativo nº 278/STF). 
71
 Dentre vários: STJ, REsp 1.795.395/MT, J. em 04.05.21;  REsp 1.831.660/MA, DJe de 13.12.19. 
72
 A outra possibilidade aberta ao réu (e ao autor também) é a promoção de demanda autônoma do art. 304. 
73
 Nesse sentido, p. ex.: CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 13 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 313. O enunciado n. 18 da 
ENFAM  dispõe  que:  “Na  estabilização  da  tutela  antecipada,  o  réu  ficará  isento  do  pagamento  das  custas  e  os  honorários  deverão  ser  fixados  no 
percentual de 5% sobre o valor da causa (art. 304, caput, c/c o art. 701, caput, do CPC/2015).” 
aquele  guardião  que  veja  o  filho  retornar  a  seu  lar,  quanto  o  consorte  expulso  do  lar  comum  que 
consiga receber pensão alimentícia ou o ascendente que logre êxito na inclusão do filho no plano de 
saúde,  podem  se  contentar  com  as  medidas  concedidas  em  seu  benefício  pelo  Poder  Judiciário, 
abrindo mão provisória ou definitivamente de continuarem litigando em busca da certificação de seus 
direitos,  por  meio  de  uma  decisão  de  mérito  a  respeito.  Por  outro  lado,  os  réus  desses  processos, 
cientes de que a estabilização não impedirá a rediscussão futura ‐ logo, jamais dará azo à formação de 
precedentes obrigatórios (CPC, art. 927) ‐, e de que o agravo possui altos custos para sua interposição 
(CPC,  art.  1.017,  §1º),  que  incluem  a  contratação  de  advogado,  talvez  reflitam  melhor  sobre  a 
desnecessidade  de  oporem  resistência  a  determinadas  postulações  e  se  deem  por  satisfeitos  com  a 
estabilização, notadamente se o Judiciário tiver a sensibilidade e coerência de lhes conceder a “sanção 
premial” referente aos consectários da sucumbência, na forma antes sugerida.  

Não  sendo  essa  a  intenção,  a  via  litigiosa  inerente  ao  rito  das  ações  de  família  lhes  estará 
sempre aberta. 

Particularmente,  não  tenho  dúvida  de  que  o  sistema,  como  um  todo,  sairá  lucrando  com  a 
adoção  desse  método,  pois  uma  enorme  quantidade  de  processos  e  recursos  poderá  deixar  de  ser 
apresentada de modo a contribuir significativamente para a redução das taxas de congestionamento 
do Poder Judiciário.  
Para facilitar a assimilação do que foi dito, confira o seguinte mapa mental: 

Mapa Mental da Tutela Antecipada Antecedente 

          Não aditamento  Processo extinto sem   
resolução do mérito 
               
  Liminar       Autor pode aditar, sem       
Indeferida  possibilidade de estabilização 
               
          Aditamento     
Requerimento              Celebração de 
de Tutela  acordo 
Antecipada  (Processo extinto 
(ex.: entrega de  com resolução do 
chaves de  mérito) 
veículo) 
          Aditamento do  Audiência de conciliação   
pedido  e mediação 
(art. 303, §1º, I c/c 334) 
              Não celebração de 
acordo 
(continuação do 
processo pelo rito 
comum) 
(art. 303, §1º, III) 
               
        Autor deve ser intimado para aditar       
  o pedido em 15 dias 
(art. 303, §1º, I) 
               
               
            Processo extinto sem   
Não aditamento  resolução do mérito 
do pedido  + 
Revogação da liminar 
(art. 303, §2º) 
               
      Agrava de instrumento         
(art. 304, caput) 
               
               
               
  Liminar  Citação e           
deferida  intimação do réu 
(pessoal) 
(art. 303, §1º, II) 
               
               
               
      Não agrava de         
instrumento 
(liminar estabilizada  

processo extinto sem 
resolução do mérito) 
(art. 304, caput e §1º) 
               
               
               

A tutela provisória da evidência 

Devido  ao  fato  de  a  tutela  da  evidência  ser  uma  espécie  de  tutela  provisória,  mais 
precisamente uma subespécie de tutela satisfativa, muito do que foi dito anteriormente pode lhe ser 
aplicado. Logo, sua concessão dependerá, em regra, de requerimento da parte interessada, a decisão 
que  eventualmente  vier  a  deferi‐la  será  caracterizada  pela  precariedade,  sua  efetivação  será 
processada na forma prevista para a tramitação do cumprimento provisório de sentença etc. 

No entanto, uma característica em especial a diferencia sobremaneira da tutela de urgência: o 
fato  de  ela  independer  da  comprovação  de  situação  de  urgência  e  de  qualquer  perigo  para  sua 
concessão, justamente em razão da altíssima probabilidade de o direito e dos fatos alegados estarem 
suficientemente comprovados no processo.  

Não por acaso ela é denominada tutela “da evidência”. 

Mas,  se  a  parte  não  precisa  comprovar  o  “perigo  da  demora”,  é  claro  que  necessita 
demonstrar a “probabilidade de seu direito” para que a tutela possa ser concedida. Afinal, não custa 
repetir: a tutela da evidência é uma espécie do gênero tutela provisória. 

A  “evidência”,  portanto,  é  uma  situação  processual.  Uma  situação  processual  resultante  do 
somatório da probabilidade do direito alegado pela parte com alguma outra exigência expressamente 
imposta pelo legislador, que não seja a urgência.  

Essa  “exigência”  é  algo  bastante  variável  e  fica  sempre  ao  alvedrio  do  legislador.  Em  certos 
casos,  ela  pode  ser  um  comportamento  da  parte  contrária,  como  o  abuso  do  processo.  Em  outros, 
pode ser a robustez da prova apresentada pelo demandante. 

Não existe, contudo, rigidez a respeito. O legislador é livre para criar hipóteses de cabimento 
da tutela da evidência. 

Devido  ao  fato  de  ela  exigir  probabilidade  do  direito,  mas  não  exigir  urgência,  muitos  dizem 
que  ela  representa  “uma  tutela  provisória  sem  o  requisito  da  urgência”,  sendo  bastante  comum, 
também, escutar por aí que ela permite uma “liminar sem demonstração de urgência”. 

Embora  sejam  expressões  coletadas  do  dia‐a‐dia  forense,  e  não  conceitos  elaborados  pela 
academia, ambas possuem um fundo de verdade.  

A  partir  do  momento  em  que  se  tem  essa  compreensão,  torna‐se  mais  fácil  identificar  as 
diversas hipóteses de cabimento de tutela da evidência espalhados pelo texto do Código de Processo 
Civil  e  da  legislação  extravagante.  Alguns  são  verdadeiros  clássicos,  como  a  liminar  das  ações 
possessórias, a liminar dos embargos de terceiro e a liminar da ação monitória.  

 
No  entanto,  o  legislador  de  2015  pretendeu  traçar  um  regime  geral  a  seu  respeito  no  artigo 
311 do CPC, da seguinte forma: 

Art.  311.   A  tutela  da  evidência  será  concedida,  independentemente  da  demonstração  de 
perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: 
I ‐ ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da 
parte; 
II  ‐  as  alegações  de  fato  puderem  ser  comprovadas  apenas  documentalmente  e  houver  tese 
firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; 
III ‐ se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato 
de  depósito,  caso  em  que  será  decretada  a  ordem  de  entrega  do  objeto  custodiado,  sob 
cominação de multa; 
IV ‐ a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do 
direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. 
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente. 
 
Lendo‐se  este  texto  normativo  com  o  auxílio  do  que  foi  dito  há  pouco,  pode‐se  traçar  o 
seguinte esquema para auxiliar a compreensão da tutela da evidência: 

  abuso  do  direito  de  defesa  ou  manifesto  propósito 


  protelatório da parte contrária 

  ou 
  comprovação documental das alegações de fato e existência 
EVIDÊNCIA = PROBABILIDADE DO DIREITO    +    de  tese  firmada  em  julgamento  de  casos  repetitivos  ou  em 
  súmula vinculante 

ou 

haver pedido reipersecutório fundado em prova documental 
adequada do contrato de depósito 

ou 

fatos  constitutivos  do  direito  do  autor  estiverem 


comprovados  documentalmente  na  petição  inicial  e  o  réu 
não opor prova capaz de gerar dúvida razoável 

Perceba que nessas e em outras situações trazidas pelo ordenamento, o direito se mostra tão 
evidente que não faria sentido privar o autor de obter imediatamente a tutela provisória, ainda que o 
estado de coisas não apresentasse qualquer urgência. É uma questão de justiça. Como diria Fernando 
da Fonseca Gajardoni,74 “com a concessão da tutela da evidência, o tempo do processo é distribuído 
com  mais  Justiça  entre  as  partes,  fazendo  com  que  aquele  que  aparenta  não  ter  razão  acabe  por 
suportá‐lo (e não o autor, como é a regra)". 

Além do mais, não custa repetir que ela só pode ser requerida e concedida em processo em 
curso, pois apenas sob esse cenário é que se poderia verificar tamanha clareza. Não existe, assim, algo 
como uma tutela da evidência antecedente. 

  Convém  deixar  claro,  no  entanto,  que  o  dispositivo  acima  transcrito  não  encerra  todas  as 
situações que autorizam a concessão da tutela da evidência. Isto é, ele não contempla um rol taxativo. 

                                                            
74
  GAJARDONI,  Fernando  da  Fonseca.  Comentários  ao  art.  311.  Em:  GAJARDONI,  Fernando  da  Fonseca  [e  col.]  (coord.).  Teoria  Geral  do  Processo: 
comentários ao CPC de 2015: parte geral. São Paulo: Forense, 2015, p. 459. 
Muito  pelo  contrário.  Como  dito  linhas  acima,  o  ordenamento  jurídico  contempla  diversas  outras, 
tanto no CPC, quanto em leis extravagantes. A decisão liminar das ações possessórias (art. 562) e dos 
embargos  de  terceiro  (art.  678),  bem  como  o  pronunciamento  do  juiz,  no  âmbito  da  partilha 
sucessória,  que  concede  a  qualquer  dos  herdeiros  o  uso  e  fruição  de  determinado  bem, 
antecipadamente, sob condição de oportunamente leva‐lo à colação (art. 647, par. ún.), ou, ainda, a 
decisão inicial da ação monitória (art. 701), representam exemplos da primeira hipótese. Já a liminar 
de busca e apreensão  de bem alienado fiduciariamente (DL n. 911/69), a liminar de despejo para uso 
próprio (L. 8.245/91, art. 47, III) e a decretação da indisponibilidade de bens em ações de improbidade 
administrativa  (Lei  n.  8.429/92,  art.  7º),  assim  como  todas  aquelas  hipóteses  em  que  o  legislador 
autorizar  a  concessão  de  tutelas  provisórias  fundadas  em  cognição  sumária  sem  exigência  da 
demonstração de urgência, representam casos de tutela provisória da evidência previstos na legislação 
extravagante. 

  No Direito das Famílias, talvez a mais significativa hipótese de tutela da evidência advenha dos 
alimentos  provisórios  previstos  pela  Lei  5.478/68,  já  que  o  legislador  deixa  absolutamente  claro  a 
desnecessidade de haver urgência na situação tutelanda, ao enunciar que “ao despachar o pedido, o 
juiz  fixará  desde  logo  alimentos  provisórios  a  serem  pagos  pelo  devedor,  salvo  se  o  credor 
expressamente  declarar  que  deles  não  necessita”  (art.  4º,  caput).  Isso  não  obsta,  é  claro,  que  eles 
sejam fixados a título de tutela de urgência, naqueles casos em que inexistir “evidência”, a exemplo do 
que  acontece  quando  não  há  prova  pré‐constituída  do  parentesco  ou  da  obrigação  alimentar  do 
devedor (L. 5.478/68, artigo 2º, caput, interpretado em sentido  contrário), como costuma  acontecer 
nas ações dissolutórias de união estável cumuladas com alimentos.  

  Nesse caso, será indispensável a demonstração tanto da probabilidade do direito, quanto do 
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo (CPC, art. 300). 

Neste  livro,  porém,  serão  tratadas  apenas  as  hipóteses  referidas  no  artigo  311,  pois  elas 
consagram o regramento geral, aplicável a todo e qualquer processo.  

Apesar de, normalmente, ser concedida no curso do procedimento, isto é, antes da prolação 
da  sentença,  nada  impede  que  o  juiz  conceda  a  tutela  da  evidência  em  sentença,  entregando 
provisoriamente ao autor uma ou mais providências concedidas antecipadamente. Essa prática possui 
o  grande  atrativo  de  retirar  o  efeito  suspensivo  de  apelação  eventualmente  interposta  pela  parte 
vencida, contribuindo significativamente para a efetivação do direito conferido ao vencedor (CPC, art. 
1.012, §1º, V c/c artigo 1.013, §5º).  

As hipóteses genéricas de cabimento da tutela da evidência 

Analisando‐se  detidamente  o  caput  do  artigo  311,  nota‐se  que  ele  enuncia  que  a  tutela  da 
evidência  será  concedida  independentemente  da  demonstração  de  perigo  de  dano  ou  de  risco  ao 
resultado  útil  do  processo.  Mas  é  claro  que  o  autor  tem  que  demonstrar  também  a  plausibilidade 
inicial  de  seu  direito,  já  que  o  assim  chamado  fumus  boni  iuris  é  um  requisito  inerente  a  toda  e 
qualquer tutela provisória.75 

A “evidência”, como dito, é uma situação jurídica processual, uma consequência decorrente de 
um  somatório  de  fatores,  e  não  uma  decorrência  automática  da  aplicação  das  regras  previstas  nos 
incisos do artigo 311, às situações fáticas que atraírem sua incidência. Não seria sequer sensato que a 
mera protelação de uma parte gerasse automaticamente a aplicação da tutela da evidência, se a outra 
parte  não  demonstrasse,  pelo  menos,  a  probabilidade  de  seu  direito,  até  porque  não  seria  de  se 
desconsiderar por completo que o litigante protelatório, e até de má‐fé, merecesse tutela favorável a 
seu direito no caso concreto, ainda que viesse a sofrer sanções processuais por sua conduta. 

Por isso é que o aplicador deve ter redobrada atenção na análise, sempre e em qualquer caso, 
da probabilidade do direito colocado em debate. 

De acordo com o disposto no inciso I do dispositivo em questão, a tutela da evidência pode ser 
concedida  toda  vez  que  restar  caracterizado  nos  autos  o  abuso  do  direito  de  defesa  ou  o  manifesto 
propósito protelatório da parte. Portanto, sempre que o réu se opuser injustificadamente à pretensão 
autoral  tanto  praticando  atos  postulatórios  –  como  a  apresentação  de  peças  defensivas  vazias  ou 
simplesmente  repetitivas,  a  dedução  de  requerimentos  unilaterais  de  suspensão  do  curso  do 
procedimento,  por  exemplo  –  quanto  adotando  comportamento  omissivos  ou  comissivos 
contraditórios  –  como  o  não  comparecimento  à  audiência  de  conciliação/mediação  designada  a 
requerimento dele mesmo ou o não fornecimento de meios necessários para a produção da prova por 
ele  mesmo  requerida,  por  exemplo  ‐,  ou,  ainda,  praticando  atos  extraprocessuais  –  como  a  retenção 
indevida de autos ou a retirada de autos da secretaria com seguidos pedidos de carga, por exemplo ‐, o 
autor  poderá  requerer  ao  juiz  que  antecipe  alguns  efeitos  da  tutela  definitiva,  não  com  base  em 
alguma situação de urgência ou de qualquer perigo de dano ou do risco ao resultado útil ao processo, 
mas  sim  com  fundamento  no  fato  de  o  réu  estar  se  comportando  de  modo  processualmente 
inadequado  ao  deixar  de  controverter  seriamente  suas  alegações  para,  em  vez  disso,  apresentar 
manifestações desprovidas de qualquer base legítima com o nítido propósito de atrasar a entrega da 
prestação jurisdicional definitiva.  

Como  o  dispositivo  sob  comentário  não  se  refere  especificamente  a  comportamentos 


anticooperativos adotados pelo réu, mas sim pela “parte”, mostra‐se perfeitamente possível, também, 
que o demandado requeira a tutela da evidência, toda vez que o demandante esteja abusando de seu 
direito ou manifestamente protelando o andamento do feito.  

Nesse  caso,  não  haverá  necessidade  de  ser  deduzido  pedido  a  respeito.  Bastará  mero 
requerimento  nesse  sentido,  a  ser  formulado  em  contestação  ou  reconvenção,  podendo  o  juiz  até 
mesmo  concedê‐la  de  ofício  em  situações  excepcionais  que  envolvam  sujeitos  vulneráveis,  por 
                                                            
75
 Enunciado n. 47 da I JDPC/CJF: “A probabilidade do direito constitui requisito para concessão da tutela da evidência fundada em abuso do direito de 
defesa ou em manifesto propósito protelatório da parte contrária.” 
exemplo. Afinal, a tutela da evidência, por ser subtipo de tutela provisória, não entregará o conteúdo 
ao interessado – ou seja, uma condenação, uma declaração ou uma constituição ‐, mas meros efeitos 
deste conteúdo, como a fruição prática de algum benefício que, a rigor, somente seria concedido pela 
sentença de procedência. 

Perceba: não existe urgência, porém o que era mera probabilidade do direito alegado passa a 
constituir  uma  “quase  certeza”,  uma  evidência,  portanto,  justamente  em  razão  do  comportamento 
displicente  da  parte.  Por  isso  enxerga‐se  nessa  hipótese  algo  punitivo  ou  sancionatório,  ainda  que  a 
averiguação do elemento subjetivo por detrás dessa conduta seja absolutamente desnecessária.76 

Sim,  o  elemento  subjetivo  é  necessário  para  o  reconhecimento  da  litigância  de  má‐fé  pela 
prática de condutas assemelhadas (CPC, art. 80, III, IV e VI, p. ex.), mas não para a aplicação da técnica 
sob estudo. 

Como existe necessidade de participação do réu para que a evidência surja nesse caso, o artigo 
9º, parágrafo único, II proíbe a concessão da medida liminarmente. 

No inciso II, o legislador prevê a possibilidade de a tutela da evidência ser concedida quando as 
alegações  de  fato  puderem  ser  comprovadas  apenas  documentalmente  e  houver  tese  firmada  em 
julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante. Nesse caso a evidência do direito decorre 
de um duplo acontecimento: o fato de já existirem nos autos provas documentais suficientes para a 
comprovação  dos  fatos  alegados  pela  parte  e  o  fato  de  haver  tese  jurídica  firmada  em  precedente 
obrigatório no mesmo sentido daquilo que é sustentado por essa parte.  

Apesar  de  o  enunciado  desse  inciso  exigir  que  a  tese  tenha  sido  firmada  apenas  “em 
julgamento  de  casos  repetitivos  ou  em  súmula  vinculante”,  a  razão  parece  estar  com  a  parcela  da 
literatura  que  sugere  que  tal  trecho  do  texto  seja  interpretado  extensiva  e  sistematicamente  para 
admitir que teses firmada em qualquer precedente obrigatório previsto pelo art. 927 do CPC possam 
levar a idêntica conclusão.  

Nesse  sentido,  inclusive,  foi  aprovado  o  Enunciado  n.  48  na  I  JDPC/CJF,  dispondo  que  “é 
admissível a tutela provisória da evidência, prevista no art. 311, II, do CPC, também em casos de tese 
firmada em repercussão geral ou em súmulas dos tribunais superiores”, cuja redação se assemelha à 
do Enunciado n. 30 da ENFAM.  

Afinal,  o  que  a  norma  parece  requerer  é  que  exista  tese  jurídica  consolidada  na 
jurisprudência.77 

Mas, assim como na hipótese anterior, não existe urgência nem risco. 

                                                            
76
 DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. v. 2. 10. ed. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 
633. 
77
 Nesse sentido: BODART. Bruno V. da Rós. Tutela de Evidência: teoria da cognição, análise econômica do direito processual e comentários sobre o 
novo CPC. São Paulo: RT, 2015. p. 124. 
Bem  vistas  as  coisas,  nota‐se  que  este  inciso  exerce  uma  verdadeira  função  de  reforço  ao 
sistema de precedentes instituído pelo CPC/15.  

O  inciso  III  autoriza  a  concessão  da  medida  naqueles  casos  em  que  a  parte  deduzir  pedido 
reipersecutório  fundado  em  prova  documental  adequada  do  contrato  de  depósito,  de  pouco  ou 
nenhum interesse para as ações de família. 

Por  fim,  o  inciso  IV  trata  da  hipótese  em  que  a  petição  inicial  venha  instruída  com  prova 
documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz 
de  gerar  dúvida  razoável.  Perceba  que  essa  situação  também  prescinde  de  urgência  ou  risco  e  é 
bastante  assemelhada  àquela  autorizativa  de  julgamento  antecipado  da  lide  (CPC,  art.  355,  I  e  II), 
justamente pelo fato de ambas tornarem desnecessária a produção de outras provas.  

Como existe necessidade de participação do réu para que a evidência surja nesse caso, o artigo 
9º, parágrafo único, II proíbe a concessão da medida liminarmente. 

Apesar de se referir à prova documental, é claro que este inciso também admite a concessão 
de tutela provisória da evidência se a parte interessada fizer a comprovação necessária por meio de 
“prova documentada”, ou seja, por aquela prova de natureza diversa da documental, mas que tenha 
sido  documentada  em  algum  suporte  físico,  como  a  ata  notarial  (CPC,  art.  384),  a  oitiva  de 
testemunhas  e  o  depoimento  pessoal  coletados  em  outros  processos,  sob  contraditório  (CPC,  art. 
372), por exemplo. 

O grande atrativo deste tipo de prova é o fato de ela manter a natureza daquela que por ele 
tenha  sido  documentada,  o  que  faz  com  que  um  depoimento  pessoal  ou  uma  perícia  realizadas  em 
outro  processo,  por  exemplo,  continuem  sendo  prova  oral  e  pericial,  respectivamente,  mesmo  em 
outro processo, no qual ingressarão como prova emprestada (CPC, art. 372). 

Fechando  o  sistema,  o  parágrafo  único  do  artigo  311,  lido  conjuntamente  com  o  artigo  9º, 
parágrafo  único,  II  do  Código,  deixa  claro  que  apenas  as  hipóteses  versadas  nos  incisos  II  e  III 
autorizarão o juiz a decidir liminarmente, mesmo sem prévia oitiva do réu, o que chega a ser intuitivo 
em  razão  de  as  demais  hipóteses  previstas  nos  incisos  I  e  IV  dependerem  de  comportamento  a  ser 
adotado por esta parte, após sua citação. 

A tutela da evidência nas ações de família 

  Nas  ações  de  família,  em  que  a  litigiosidade  é,  por  vezes,  bastante  intensa,  a  técnica  sob 
estudo encontra grande campo de aplicação.  

  Para além dos alimentos provisórios, quem nunca se deparou com um caso concreto em que 
uma das partes fazia de tudo para atravancar a marcha do processo, requerendo dilatação de prazos, 
opondo  sucessivos  embargos  declaratórios,  arrolando  testemunhas  residentes  nos  recantos  mais 
distantes  da  federação,  solicitando  designação  de  audiências  às  quais  não  comparece  etc?  Quem 
nunca vivenciou situações de carga de autos físicos (retirada do processo físico da Secretaria da Vara) 
que pareciam não ter fim, porque o profissional simplesmente se recusava a restituí‐los ou se deparou 
com casos em que a parte se recusava a fornecer informações ou apresentar documentos requisitados 
pelo  juízo?  Quem  nunca  teve  que  replicar  contestações  que  não  controvertiam  seriamente  os  fatos, 
nem continham qualquer documento capaz de causar dúvida razoável na mente do julgador, quando 
não se limitavam à negativa geral dos fatos fora das hipóteses autorizativas a que isso acontecesse? 

  Esses  e  diversos  outros  cenários  atrairiam,  em  tese,  a  aplicação  das  regras  prescritas  pelos 
incisos I e IV do artigo 311, possibilitando a aplicação da técnica desde que, é claro, haja comprovação 
da probabilidade do direito alegado. 

  É  muito  comum,  também,  que  as  alegações  de  fato  consigam  ser  comprovadas  apenas 
documentalmente,  demonstrando  a  probabilidade  do  direito,  e  ainda  exista  tese  firmada  em 
julgamento  de  casos  repetitivos  ou  em  súmula  vinculante.  Seria  exemplificar  com  o  caso  de  uma 
questão  envolvendo  a  incidência  da  pensão  alimentícia  sobre  o  décimo  terceiro  salário  e  o  terço 
constitucional de férias (gratificação natalina e gratificação de férias),78 ou, ainda, a penhora de imóvel 
no  qual  se  localiza  o  estabelecimento  da  empresa,  quando  inexistentes  outros  bens  passíveis  de 
penhora  e  desde  que  não  seja  servil  à  residência  da  família,79  já  que  ambas  são  teses  firmadas  em 
Recursos Especiais repetitivos. 

  Situações  como essas possibilitariam, teoricamente, a aplicação  da regra prevista no inciso II 


do artigo 311. 

  Incontáveis  outros  panoramas  poderiam  ser  imaginados  no  cotidiano  das  Varas  de  Família, 
desfiando a criatividade e o senso inovador do profissional. 

Uma  diferenciação  necessária:  tutela  da  evidência  x  julgamento  antecipado  do 


mérito 

Ao contrário do que se poderia imaginar em um primeiro momento, a tutela da evidência não 
se confunde com o julgamento antecipado da lide. Apesar de se assemelharem em alguns pontos, se 
distinguem basicamente pelo fato deste permitir a concessão da tutela definitiva baseada em cognição 
completa (CPC, arts. 355 e 356) e não meramente uma tutela de natureza provisória. 

Veja o que enunciam tais dispositivos: 

Art.  355.   O  juiz  julgará  antecipadamente  o  pedido,  proferindo  sentença  com  resolução  de 
mérito, quando:  
I ‐ não houver necessidade de produção de outras provas;  
II  ‐  o  réu  for  revel,  ocorrer  o  efeito  previsto  no artigo  344 e  não  houver  requerimento  de 
prova, na forma do artigo 349. 

                                                            
78
 STJ, Súm. 301: “em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter‐se ao exame de dna induz presunção juris tantum de paternidade”. 
79
 STJ, Súm. 451 e REsp 1.114.767/RS, DJe de 02.12.09 (Tema 287). 
 
Art. 356.  O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados 
ou parcela deles:  
I ‐ mostrar‐se incontroverso;  
II ‐ estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do artigo 355. 
 

Eles  tratam  de  situações  absolutamente  distintas,  que  não  podem  receber  tratamento 
assemelhado ao da tutela provisória.  

Lembre‐se que a tutela provisória, por todos os motivos e características já mencionados neste 
livro,  não  se  presta  a  conceder  o  conteúdo  do  ato  jurídico,  mas  apenas  a  antecipar  alguns  de  seus 
efeitos  fáticos  ou  jurídicos.  Todavia,  não  se  pode  desconsiderar  que,  em  algumas  situações,  como 
aquelas já mencionadas, os requisitos necessários para o julgamento antecipado do mérito (CPC, art. 
355,  I)  e  para  a  concessão  da  tutela  da  evidência  (CPC,  art.  311,  II  e  IV)  meio  que  se  assemelham, 
permitindo  que  o  juiz  tanto  julgue  a  causa  de  forma  definitiva,  entregando  seu  conteúdo,  quanto 
meramente defira a tutela provisória, entregando meros efeitos às partes. 

O quadro abaixo bem demonstra a semelhança acima referida: 

 
DA TUTELA DA EVIDÊNCIA  DO JULGAMENTO ANTECIPADO DO 
  MÉRITO 
   
Art.  311.  A  tutela  da  evidência  será  Art. 355.  O juiz julgará antecipadamente o 
concedida,  independentemente  da  pedido, proferindo sentença com resolução 
demonstração  de  perigo  de  dano  ou  de  de mérito, quando: 
risco  ao  resultado  útil  do  processo,   
quando:   
[...]   
II  ‐  as  alegações  de  fato  puderem  ser  I ‐ não houver necessidade de produção de 
comprovadas  apenas  documentalmente  e  outras provas; 
houver  tese  firmada  em  julgamento  de   
casos repetitivos ou em súmula vinculante;   
[...]   
IV ‐ a petição inicial for instruída com prova  II  ‐  o  réu  for  revel,  ocorrer  o  efeito 
documental  suficiente  dos  fatos  previsto  no  artigo  344  e  não  houver 
constitutivos  do  direito  do  autor,  a  que  o  requerimento  de  prova,  na  forma  do 
réu  não  oponha  prova  capaz  de  gerar  artigo 349. 
dúvida razoável. 
 

Veja que, se o pedido deduzido na demanda se fundamentar em tese firmada em precedente 
vinculante, e as alegações de fato dependerem de comprovação meramente documental já realizada 
nos  autos,  o  juiz  se  encontrará  autorizado  tanto  a  conceder  a  tutela  provisória  com  fundamento  no 
artigo 311, II, quanto a julgar antecipadamente o mérito com lastro no artigo 355, I, pois o processo 
estará maduro para julgamento, tornando desnecessário o prolongamento da instrução.  

O  mesmo  ocorrerá  quando  a  petição  inicial  já  vier  acompanhada  de  prova  documental 
suficientemente  segura  a  respeito  dos  fatos  e  o  réu,  depois  de  ouvido,  não  opuser  prova  capaz  de 
gerar  dúvida  razoável  na  convicção  do  juiz,  pois  a  evidência  daí  resultante  tornará  os  fatos 
incontroversos, autorizando tanto a concessão da tutela provisória com base no artigo 311, IV, quanto 
o julgamento do mérito fundamentado no artigo 355, I. 

Comparando‐se as possibilidades, constata‐se que a diferença reside apenas na consequência 
que  essa  desnecessidade  [de  urgência]  projetará  sobre  a  convicção  do  juiz.  Se,  após  a  oportunidade 
aberta  ao  réu  de  contrapor  a  prova  documental  apresentada  na  inicial,  o  magistrado  estiver 
plenamente convencido da desnecessidade de produção de qualquer outra prova para comprovação 
dos  fatos  alegados  pelo  autor,  poderá  prestar  a  tutela  definitiva  baseado  em  cognição  plena  e 
exauriente. Nesse caso, julgará antecipadamente o pedido por meio de sentença de mérito (CPC, art. 
355,  I)  dotada  de  aptidão  para  ser  acobertada  pela  coisa  julgada  (CPC,  art.  502),  entregando  o 
verdadeiro  conteúdo  do  ato.  Por  outro  lado,  se  a  prova  documental  apresentada  pelo  autor  e 
precariamente controvertida pelo réu não for suficiente para formar sua convicção de forma plena e 
exauriente,  mas  servir  apenas  para  reforçar  a  probabilidade  acerca  do  direito  em  que  se  funda  a 
pretensão autoral, poderá ser concedida a tutela provisória da evidência a que se refere o dispositivo 
em  questão,  por  meio  de  decisão  interlocutória  inapta  a  formar  coisa  julgada,  já  que  concederá 
meramente alguns efeitos do ato. 

No primeiro caso, estaria concedendo a própria tutela em si, como faria ao decretar a partilha 
de  determinado  bem,  por  exemplo;  no  segundo,  apenas  adiantaria  provisoriamente  algum(ns)  do(s) 
efeito(s)  dessa  tutela,  como  ocorreria  se  ordenasse  a  mera  a  indisponibilidade  de  tal  bem,  sem, 
contudo, determinar seu efetivo partilhamento. 

Isso  conduz  à  conclusão  de  que  “é  o  grau  de  convencimento  do  juiz,  pautado  na  maior  ou 
menor completude da instrução, que penderá o fiel da balança para uma ou outra direção”.80 

Havendo  o  preenchimento  simultâneo  dos  requisitos  suficientes  e  necessários  para  a 


concessão  de  uma  e  outra  espécie  de  tutela,  o  ideal  é  que  o  juiz  julgue  diretamente  o  mérito, 
entregando a tutela definitiva às partes, mas o faça utilizando a técnica da tutela  da evidência, para 
que,  ao  mesmo  tempo  em  que  encerre  a  discussão  no  primeiro  grau  de  jurisdição,  atribua  eficácia 
imediata  ao  correspondente  capítulo  da  sentença,  retirando  o  efeito  suspensivo  de  apelação 
eventualmente interposta pela parte vencida (CPC, art. 1.012, §1º, V c/c art. 1.013, §§ 1º e 5º). 

E nem se argumente, sob equivocada premissa, que o julgador dependeria de provocação para 
fazer isso. Afinal, a técnica em estudo seria aplicada aqui como um mero método de atuação judicial, 
pois o requerimento pertinente já teria sido externado pela parte por ocasião da dedução do próprio 
pedido e os elementos existentes nos autos já o teriam conduzido, a essa altura, a um juízo de certeza 
proporcionado pela evidência, restando‐lhe meramente julgar a causa. 

Considerando‐se tudo o que foi dito, percebe‐se que a tutela da evidência é daquelas técnicas 
que, aplicadas adequadamente, podem contribuir de forma significativa para que o procedimento das 

                                                            
80
 Nesse sentido: RODRIGUES, Marco Antonio dos Santos; RANGEL, Rafael Calmon. A tutela da evidência como técnica de atuação judicial. Revista de 
Processo n. 271, 2017, pp. 210‐234. 
ações de família tenha maior rendimento, dado seu enorme potencial de penalizar o réu desidioso e, 
de certo modo, inverter o estado agônico que normalmente aflige o autor que se encontra em busca 
de uma tutela célere e eficiente, mas que vem sendo resistida imotivadamente. 

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