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TEMA JURÍDICO 07 – DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL

LEGÍTIMA DEFESA

Marcos estava caminhando em via pública, durante a noite,


quando avistou um indivíduo conhecido como “cabura”
abordando uma idosa e exigindo-lhe que entregasse sua bolsa
com uma arma de fogo apontada para a vítima. Em razão da
situação com a qual se deparou, Marcos, com o intuito de cessar
a ameaça, pegou uma grande pedra que estava na via e atirou
no meliante, acertando sua cabeça e causando-lhe a morte
imediata.

Considerando a situação hipotética acima, responda ao que se


pede a seguir:

1) Marcos responderá por algum crime? Por quê?


2) Considere que a situação teria ocorrido da seguinte maneira:
Marcos acertou o assaltante com uma pedra, deixando-lhe
inconsciente. Caso Marcos continuasse a desferir golpes no
indivíduo, após já afastada a injusta agressão, responderia por
crime? Justifique. Caso o indivíduo que Marcos avistou não fosse
assaltante, mas sim filho da senhora, que se aproximou
subitamente com o telefone na mão, levando Marcos a acreditar
tratar-se de uma arma e desferir golpes com tijolo. Marcos
responderia por crime?

ASPECTOS COMENTADOS

ASPECTO 1 – Marcos responderá por algum crime? Por quê?


Marcos, ao arremessar uma pedra em direção ao indivíduo que
estava abordando uma idosa com arma de fogo, possuía a finalidade de
repelir injusta agressão e, por isso, não responderá por crime. Nessa
situação, Marcos estava amparado pelo instituto da legítima defesa de
terceiro, nos termos do artigo 25 do Código Penal.
Assim, ainda que a conduta de Marcos tenha ocasionado a morte
do indivíduo, ele não responderá pelo delito de homicídio, eis que a
legítima defesa configura uma excludente de ilicitude, conforme artigo
23 do CP. Observa-se:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o
fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou
no exercício regular de direito.

ASPECTO 2 – Considere que a situação teria ocorrido da seguinte


maneira: Marcos acertou o assaltante com uma pedra, deixando-
lhe inconsciente. Caso Marcos continuasse a desferir golpes no
indivíduo, após já afastada a injusta agressão, responderia por
crime? Justifique. Caso o indivíduo que Marcos avistou não fosse
assaltante, mas sim filho da senhora, que se aproximou
subitamente com o telefone na mão, levando Marcos a acreditar
tratar-se de uma arma e desferir golpes com tijolo. Marcos
responderia por crime?
Caso, após o assaltante já estar inconsciente, Marcos continuasse
a desferir golpes, ele responderia pela conduta praticada em excesso de
maneira dolosa. Assim, se o sujeito atingido fosse morto pelos ataques
que se seguiram, Marcos responderia por homicídio doloso, pois a
legítima defesa abrange apenas os atos moderados para afastar a
injusta agressão.
Portanto, Marcos responderia pelo excesso doloso, conforme dispõe
o artigo 23, parágrafo único, do Código Penal: “O agente, em qualquer
das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo”.
Entretanto, se o sujeito atingido não fosse assaltante, mas filho da
senhora com telefone na mão, Marcos responderia por homicídio
culposo. Nesse caso, há o instituto da legítima defesa putativa, na qual
o indivíduo acredita estar repelindo ameaça injusta que, de fato, não
existe, por erro justificável pelas circunstâncias.
Trata-se de uma descriminante putativa, em que o agente está em
situação em que acredita estar diante de fatos que, se realmente
estivessem presentes, autorizariam a prática de conduta descrita como
ilícito penal. Na situação em comento, por acreditar estar defendendo
vítima de uma situação de assalto com a presença de arma de fogo,
Marcos atirou pedra em indivíduo e o matou, quando se tratava apenas
do filho da senhora em questão. Nesse sentido, o artigo 20, §1º do
Código Penal prevê:
§ 1º – É isento de pena quem, por erro
plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe
situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime
culposo.
Desta feita, Marcos deveria ter se certificado de que se tratava de
assaltante portando arma antes de atirar uma pedra e, por isso,
responderia por crime de homicídio culposo se a pessoa atingida fosse
filho da senhora e viesse a óbito.
Outras fontes para se inteirar:
1. https://diegocastro.adv.br/descriminantes-putativas/

EXEMPLO DE REDAÇÃO
Marcos, ao arremessar uma pedra em direção ao indivíduo que
abordava idosa com arma de fogo, tinha a finalidade de repelir injusta
agressão e agiu em legítima defesa de terceiro, nos termos do artigo 25
do Código Penal. Desta feita, Marcos não responderá por crime, pois
estava amparado por uma excludente de ilicitude, conforme artigo 23,
II, CP.
Entretanto, se Marcos continuasse a desferir golpes após o
assaltante ficar inconsciente, responderia pelo excesso doloso, conforme
artigo 23, parágrafo único, do Código Penal, eis que a legítima defesa
abrange apenas os atos moderados para afastar injusta agressão.
Ademais, caso o indivíduo atingido não fosse um assaltante, mas apenas
o filho da senhora, Marcos responderia por homicídio culposo, uma vez
que incorreria em legítima defesa putativa cujo erro das circunstâncias
exclui o dolo, mas, se eivado de culpa, o fato é punível como crime
culposo.

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