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CENTRO DE RECURSOS XAI-XAI

VICE-REITORIA DA ÁREA ACADÉMICA


FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

MÓDULO DE DIREITO PENAL AVALIAÇÃO 3

Tema:
Avaliação 3

Analita Inocência Fernandess

Xai-Xai
2024
1. RESOLUÇÃO DO CASO

1.1.Hipótese

Durante uma discussão, Américo e Bernardo investiram violentamente contra


Carlos. Após sucessivas agressões físicas, Carlos conseguiu fugir. Américo e Bernardo
perseguiram Carlos. Para os dissuadir Carlos que se encontrava armado disparou dois
tiros para o ar. Américo e Bernardo continuaram impávidos e serenos com a
perseguição de Carlos. Quando Américo se preparava para agarrar Carlos, este, vendo-
se na iminência de voltar a ser violentamente agredido por ambos os seus oponentes,
disparou sobre Américo, provocando-lhe a morte. O processo correu os seus trâmites no
Tribunal Judicial da Província de Sofala onde residiam os três intervenientes e, na
sentença, foi aplicada ao Carlos a pena não privativa de liberdade de prestação de
trabalho socialmente útil.

Neste caso, depara-se com uma situação complexa envolvendo agressões físicas,
perseguição e um desfecho trágico. Cada questão será analisada detalhadamente:

a) Tipo legal de crime com base no Código Penal de Moçambique, aprovado


pela Lei n. 24/2019 de 24 de Dezembro:

Agressões físicas: As agressões físicas perpetradas por Américo e Bernardo contra


Carlos configuram o delito de ofensa à integridade física simples, conforme o artigo 327 do
Código Penal de Moçambique. Este dispositivo legal estabelece que quem, sem motivo
justificado, causar dano ao corpo ou à saúde de outrem é passível de pena de prisão até 3
meses.

Disparo de arma de fogo: O acto de disparar uma arma de fogo realizado por Carlos
também constitui crime segundo o Código Penal de Moçambique. O artigo 227 deste código
aborda o crime de disparo de arma de fogo em local habitado ou frequentado por pessoas,
com pena de prisão de 1 a 2 anos para quem efectuar disparos sem que haja perigo para a
vida, integridade física ou património alheio.

Homicídio: O homicídio praticado por Carlos é regulamentado pelo artigo 159 do


Código Penal, tratando-se de homicídio simples. Este artigo determina que quem causar a
morte de outra pessoa é sujeito a uma pena de prisão de 16 a 20 anos.

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Portanto, à luz do Código Penal de Moçambique, Américo e Bernardo cometeram o
crime de ofensa à integridade física simples, enquanto Carlos cometeu os crimes de disparo de
arma de fogo em local habitado ou frequentado por pessoas e homicídio simples.

b) Responsabilidade criminal de Carlos com base no Código Penal de


Moçambique:

Em Moçambique, a legítima defesa está prevista no artigo 53 do Código Penal. Este


artigo estabelece que não há crime quando alguém pratica um acto para repelir uma agressão
actual e injusta, actual ou iminente, contra si próprio ou terceiro, desde que os meios de defesa
utilizados sejam necessários e proporcionais à intensidade da agressão.

No caso em análise, Carlos agiu em legítima defesa ao disparar contra Américo. Ele
estava sendo agredido fisicamente por Américo e Bernardo e, ao tentar fugir, foi perseguido
pelos agressores. Diante da iminência de ser violentamente agredido novamente, Carlos
utilizou os meios necessários para se defender, efectuando disparos contra Américo. Portanto,
de acordo com o artigo 53 do Código Penal de Moçambique, Carlos não pode ser
responsabilizado criminalmente pela morte de Américo, pois agiu em legítima defesa para
proteger a si mesmo.

c) Análise crítica da decisão do Tribunal com base no Código Penal de


Moçambique:

A decisão do Tribunal de aplicar a pena não privativa de liberdade de prestação de


trabalho socialmente útil a Carlos parece adequada à luz dos princípios da legalidade e da
legítima defesa previstos no Código Penal de Moçambique.

No entanto, é importante ressaltar que a legítima defesa deve ser analisada


considerando as circunstâncias específicas de cada caso. No presente caso, Carlos agiu para
proteger sua integridade física diante de uma agressão iminente e violenta, o que está de
acordo com os requisitos da legítima defesa.

Portanto, a decisão do Tribunal parece estar em conformidade com a lei moçambicana,


considerando que Carlos agiu em legítima defesa e não deve ser responsabilizado
criminalmente pela morte de Américo.

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