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A possibilidade de antecipação de tutela não é, como poderia parecer, completa

novidade, introduzida no direito brasileiro apenas com a lei 8.952/94. Já antes se mostrava
viável, em certos e limitados casos, antecipar-se a providência pleiteada1. Exemplos como a
liminar deferida em ação possessória permitindo o imediato exercício de posse (art.928, do
CPC); a venda antecipada de bens penhorados quando sujeitos à deterioração ou houver
manifesta vantagem; a liminar de despejo e a fixação provisória de aluguel, na pendência de
ação revisional (arts. 59 e 68, II da lei 8.245/91); e ainda na medida liminar do art. 39, §4º, da
lei 7.646/87, relativa à proteção da propriedade intelectual.
A antecipação de tutela, já prevista anteriormente em alguns casos, somente veio a ser
regulamentada pela lei 8.952/94, onde se passou a empregar o instituto de maneira genérica,
extensa e ordenada.
A análise retrospectiva da doutrina processual deixa evidente a sua mutação sofrida ao
longo do tempo, onde cada época forneceu o seu próprio conceito. A justiça, nos tempos
primitivos, era imperfeita e incapaz de gerar a paz social desejada por todos. Era o tempo da
justiça privada, a justiça pelas próprias mãos. Mas ela evoluiu e foi substituída pela justiça
pública, e com essa progressiva estatização da jurisdição, foi banida qualquer forma de
autotutela.
Destarte, o Estado trouxe gradativamente a si a função precípua consistente em dizer o
direito, a jurisdição, a qual, aliada à ação e ao processo, delineou a feição da solução estatal
compulsória de composição dos conflitos de interesse2.
Rememora Manoel Antonio Teixeira Filho, com precisam contuma,que:
“Desde Roma , já se conhecem medidas tendentes a tutelar, de imediato
e em caráter provisório, o direito lesado. Basta lembrar, nesse direito antigo, aqueles atos
interditais que eram concedidos pelo pretor, no exercício do seu imperium, com base na
simples presunção de que fossem verazes os fatos narrados pelo autor”3.
Em Roma, as cautelares eram, por sua vez, satisfativas. Não se orientavam no conceito
de resguardar direito e nem de amparar um processo principal. Nada parecia com as cautelares
atuais.
Luiz Fux:
1
MALLET, Estevão. Antecipação de Tutela no Proc. do Trabalho – 2ª ed.- São paulo: LTr, 1999, pág. 27.
2
SOUSA, Otávio Augusto Reis de. A antecipação da tutela e as pessoas jurídicas de dir. pub., S. Paulo: LTr
1999, pág. 20.
3
SOUSA, Otávio Augusto Reis de. A antecipação da tutela e as pessoas jurídicas de dir. pub., S. Paulo: LTr
1999, pág. 24.
“Há mesmo unanimidade no sentido de que as cautelares do Direito
antigo não guardavam a mesma jus satisfativas e todas inspiraram-se nos ‘interditos
romanos’, remédios céleres mas que inegavelmente protegiam o direito material da parte e
não interesses meramente processuais”4.
Em última analise a antecipação de tutela relaciona-se com os interditos romanos,
emitidos em decorrência de juízo sumário e destinados a contornar os inconvenientes da
lentidão do rito processual ordinário, tutelando, de modo provisório, certos direitos ou
interesses. A cognição superficial presente na tutela antecipada manifestava-se igualmente em
tais provimentos5.
Com o passar dos tempos, verificou-se uma realidade social diferente, onde as relações
jurídicas passaram a fazer parte da vida de todos, e em especial nos contratos de trabalho,
pois, as condições de trabalho foram modificando-se no decorrer dos anos. Inicialmente, o
trabalho era tido como atribuição dos escravos e dos servos. Os nobres não se dedicavam ao
trabalho.
Passado isso, o crescente número de relações jurídicas existentes nas comunidades, fez
crescer também um numero infindável de litígios.
Com a Revolução Industrial, a partir do momento em que passaram a ser utilizadas
máquinas na produção, começaram a surgir novas condições de trabalho. Houve aumento da
mão-de-obra disponível, causando em conseqüência a diminuição dos salários pagos aos
trabalhadores. A partir desse momento, os operários passaram a reunir-se para reivindicar
novas condições de trabalho e melhores salários, surgindo assim, os conflitos trabalhistas. Até
então, o Estado não se manifestava. Somente mais tarde, o Estado verificou que era necessário
intervir para solucionar os conflitos trabalhistas, já que com a paralisação do trabalho
arrecadava menos imposto. Sem mencionar as perturbações sociais, que prejudicavam a
ordem interna6.
Primeiro o Estado ordenava um acordo entre as partes. Em não obtendo resultado, um
representante do Estado (o mediador) era enviado para participar da negociação, e
posteriormente, o Estado passou a designar um árbitro para julgar a controvérsia existente
entre as partes. Nasce então, nesse momento, o Direito Processual do Trabalho, como forma
de solucionar os conflitos trabalhistas.
A evolução histórica do Direito Processual do Trabalho brasileiro se origina do
sistema da França, com os Conseils de Prud’hommes (Conselhos de homens prudentes) em

4
SOUSA, Otávio Augusto Reis de. A antecipação da tutela e as pessoas jurídicas de dir. pub., S. Paulo: LTr
1999, pág. 25.
5
MALLET, Estevão. Antecipação de Tutela no Proc. do Trabalho – 2ª ed.- São paulo: LTr, 1999, pág. 28.
6
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho, 14ª ed. São Paulo-2000, pág. 31.
1426; da Alemanha, com os Tribunais Industriais (1808); do sistema italiano, com os
Conselhos de Probiviri em 1878; do México, com a Lei Aguirre Berlanga (1914); da Espanha,
com os Tribunais Industriais, os Comitês Paritários e os Jurados Mistos; dos Estados Unidos,
que apesar de poucas leis trabalhistas, há uma enorme quantidade de acordos entre os
sindicatos e as empreses; da Argentina em 1944, no que tange a trabalho a domicílio; e por
fim, da Grã-Bretanha, onde, em 1964, criaram-se os Industrial Tribunals.
No Brasil, onde o direito processual comum se insere no sistema romano-germânico,
os primeiros órgãos que surgiram para a solução de conflitos trabalhistas foram os Conselhos
Permanentes de Conciliação e Arbitragem em 1907 (Lei nº 1.637) que não foram
implantados. Só em 1922, com os Tribunais Rurais em São Paulo, é que começaram a ser
resolvidas as controvérsias trabalhistas.
O sistema processual trabalhista brasileiro foi criado copiando-se literalmente o
sistema italiano da Carta Del Lavoro de 1927. E, em 1932, pelo Decreto nº 22.132, criou-se as
antigas Juntas de Conciliação e Julgamento. Naquele mesmo ano, para solucionar os conflitos
coletivos, foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação (Decreto nº 21.364). Tais órgãos
eram anexos ao Ministério do Trabalho, Comércio e Indústria, portanto, pertencentes ao
Estado. Os juízes eram demissíveis ad nutum. Os processos de acidente de trabalho eram
dirimidos na Justiça Comum e não nas Juntas. As Comissões apenas tentavam conciliar os
dissídios coletivos, e as decisões eram prolatadas pelo Conselho Nacional do Trabalho.
No direito comparado é possível perceber alguma semelhança entre as ordonnances de
référé do direito francês e a antecipação da tutela do direito brasileiro, porém, o artigo 273
CPC tem suas raízes na lei italiana n° 990/69, relativa ao seguro obrigatório de veículos, na
qual se prevê a antecipação de até 4/5 do valor da provável indenização7.
A Constituição de 1934 estabeleceu que, para dirimir questões entre empregados e
empregadores, seria instituída a Justiça do Trabalho, que a pesar de tudo, ainda era órgão da
administração e não do judiciário. E assim permaneceu a Constituição de 1937. Mas, o
Decreto-lei nº 1.237/39, regulamentado pelo Dec. nº 6.596/40, organizou a justiça do trabalho,
que passou a ser órgão autônomo em relação ao Executivo e à justiça comum, só não
pertencia ainda ao judiciário.
O Decreto-lei n º 9.797/46 conferia aos juízes trabalhistas as mesmas garantias
inerentes à magistratura, se antecipou assim, à Constituição de 1946 que incluiu a justiça do
trabalho entre os órgãos do Poder Judiciário.
Em 1967, a Constituição mantém o texto anterior.

7
MALLET, Estevão. Antecipação de Tutela no Proc. do Trabalho – 2ª ed.- São paulo: LTr, 1999, pág. 29.
Atualmente, a Constituição de 1988 versa sobre a justiça do trabalho nos artigos 111ª
116, nos mesmos moldes das Constituições anteriores8.
A CLT (Dec.5.452/46) trata do Processo do Trabalho a partir do artigo 643 até o 910.
A evolução do sistema processual se dava do tipo acusatório para o inquisitório. Isso
perdurou até a Revolução Francesa de 1789 e do qual se exclui a Inglaterra. Nessa época
começaram surgir, no terreno do processo civil, tipos distintos de procedimentos sumários e
sumaríssimos, bem gerais e especiais, para diminuir a lentidão do juízo comum. Com o
mesmo propósito, no ramo penal, aparece o denominado processo correcional. Esses
processos abreviados caracterizam-se pela tendência à concentração e pela oralidade, pelo
menos como tendência, tomando corpo, também, o processo executivo. Essas tendências
simplificadoras e racionais do processo iriam consagrar-se, bem mais tarde e de modo mais
completo, na processualística trabalhista9.
O direito comparado, principalmente o europeu, não desconhece o instituto, tanto que
no direito alemão, assim como no italiano, está consagrada a tutela antecipatória de mérito, se
bem que não nos mesmos moldes do art. 273 do Código de Processo Civil brasileiro, e
posteriormente cogitou-se ingressar o instituto no processo do trabalho. Ao contrario do
direito italiano, onde a tutela antecipada firma-se como instituto do processo do trabalho,
passando sucessivamente para o processo comum.
Segundo Nery Jr., “Ainda que, direito alemão, o instituto venha tratado dentro do
processo de execução e, não precisamente, dentro das medidas cautelares no processo de
execução, porque lá não há um livro da ZPO (Código Alemão) destinado ao processo
cautelar, a doutrina separa os procedimentos urgentes em assecuratórios (cautelares) e de
regramento (antecipação da tutela de mérito). Afirma ainda que, Calamandrei, em seu
festejado trabalho sobre os procedimentos cautelares, já admitia ser possível o adiantamento
da tutela de mérito, distinguindo essa antecipação de tutela cautelar. No direito italiano já
havia previsão para a tutela antecipatória de mérito, pois o CPC italiano art. 700 fala na
concessão de providência, que assegure provisoriamente os efeitos da decisão sobre o mérito,
fundado no peruculum in mora.”10
Embora a proposta não tivesse a mesma abrangência da atual norma, nem o devido
ajuste dentro do Código de Processo Civil brasileiro, sem dúvida aquela iniciativa deu origem
a estudos que levaram à introdução da tutela antecipatória na legislação processual do Brasil.
Tanto que, em 1985, a Comissão designada pelo então Ministro da Justiça – Fernando Lyra –
apresentou Anteprojeto visando algumas modificações no Código de Processo Civil. Essa
8
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho, 14ª ed. São Paulo-2000, págs. 31-43.
9
Barros, Alice M. de. Colaborador-Octacílio Paula Silva. Compêndio de D. Proc. Do Trabalho. pág.26.
10
Feres, Carlos Roberto. Antecipação da Tutela Jurisdicional. S. Paulo, 1999, pág. 27.
Comissão do Código de Processo Civil, ou Comissão de Modernização do CPC, entre as
demais sugestões, inseriu a tutela antecipatória no livro III, que trata do Processo Cautelar,
que passava a denominar-se Processo de Cognição Sumária, incluindo o Processo Cautelar e a
Antecipação de Tutela.
Foi a Comissão da Escola Nacional da Magistratura, assim denominada a Comissão de
Juristas presididas pelo presidente da Escola Nacional da Magistratura, por atribuição do
Ministro da Justiça, Nelson Jobim, encarregada de promover estudos e propor soluções com
vistas à simplificação dos Códigos de Processo Civil e Processo Penal, quem colocou a
matéria entre as Disposições Gerais, do Código de Processo Civil.
Com o nítido objetivo de criar a figura da tutela antecipatória, o Código de Defesa do
Consumidor (Lei n° 8.078/90) traz em seu artigo 84:
“Art.84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação
de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
“§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu”11.

Não se pode dizer que o instituto da tutela antecipada não existia até agora em nosso
direito. Inexistia, sim, autonomamente, de forma aplicável genericamente ao processo de
conhecimento, em suas modalidades de procedimento – ordinário sumário e especial12.
Fora desse limitado campo, todavia, a antecipação de tutela firma-se mesmo com a lei
n° 533/73, que deu ao juiz o poder de, em ações trabalhistas, antecipar a condenação das
parcelas não contestadas ou daquelas cujo direito já esteja, num dado momento provado de
modo suficiente13.
O Século XX introduziu no direito processual civil o grande ideário da efetividade,
deslocando suas cogitações primordiais do campo das estruturas normativas para o terreno das
funções das normas processuais. Ao invés das grandes especulações dogmáticas e conceituais,
o direito processual passou a abrigar o empenho por sua adequação e aderência à realidade
sóciojurídica a que o processo deve servir14.
O processo, criado para solucionar os conflitos de interesses, tem-se mostrado, aos
poucos, incapaz de propiciar efetiva e tempestivamente a resposta almejada pelos

11
Vade Mecum Saraiva. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cód. De Defesa do Consumidor. Art. 84 §3ª. pág. 815.
12
Feres, Carlos Roberto. Antecipação da Tutela Jurisdicional. S. Paulo, 1999, págs. 29.
13
MALLET, Estevão. Antecipação de Tutela no Proc. do Trabalho – 2ª ed.- São paulo: LTr, 1999, pág.29.
14
Hunberto, T. Junior. Processo Cautelar. 21ª ed., S. Paulo 2004, pág. 58.
contendores, ameaçando a segurança e a paz social da qual, espera-se, seja ela instrumento 15.
A partir da segunda metade do séc. XX, o processo civil dos novos tempos, através da
superação do conceitualismo positivista pelo instrumentalismo substancial, e da colocação da
luta pela universalização da tutela jurisdicional e pela ampliação do acesso à justiça, tem-se
mostrado capaz de conceber novas e mais adequadas soluções para a denominada crise da
justiça.
O interesse de melhorar o acesso à efetividade da tutela jurisdicional é tamanho, que
os tempos modernos têm sido ricos na concepção de tutelas diferenciadas, criando-se,
mesmo, uma nova e ampla categoria a par dos moldes clássicos das tutelas de conhecimento e
de execução, que veio a ser a denominada tutela diferenciada de urgência16.
È nesse contexto amplo de transformação profunda dos princípios e dos meios de
atuação do direito processual moderno que se inserem as recentes reformas do Código de
Processo Civil brasileiro de 1973, que instituíram, em conjunto, um verdadeiro subsistema da
tutela de urgência no Brasil, com o claro propósito de aumentarem a efetividade da prestação
jurisdicional e de eliminarem graves vazios das tutelas antes existentes.
A crise no processo , longe de ser problema unicamente destas paragens brasileiras,
reveste-se de drama mundial
De inicio, imaginou-se que para contornar os efeitos inconvenientes do tempo sobre o
processo, era necessário dotar o juiz de um poder amplo para preservar os seus elementos, em
face do risco de danos decorrentes da demora do provimento judicial.
O poder geral de cautela, por atuar apenas no nível de proteção ao processo, não se
mostrou suficiente para dotar a prestação jurisdicional da almejada efetividade. Para isso,
ampliou-se o rol dos títulos executivos extrajudiciais, o que ainda foi pouco.
A tutela diferenciada tomou, por isso, novo rumo: se as medidas cautelares e os títulos
executivos são insuficientes, imaginou-se um novo poder para o juiz, segundo o qual, em
casos de ameaça ao próprio direito subjetivo material da parte, que não teria condições de
aguardar o desfecho natural do processo ordinário, legitimar-se-iam medidas satisfativas
antecipadas. Criou-se, de tal maneira, o que se passou a chamar de Tutela de Urgência, como
gênero dentro do qual se abrigaram a tutela cautelar e a tutela de antecipação17.

CONCEITO

15
SOUSA, Otávio Augusto Reis de. A antecipação da tutela e as pessoas jurídicas de dir. pub., S. Paulo: LTr
1999, pág. 22.
16
Hunberto, T. Junior. Processo Cautelar. 21ª ed., S. Paulo 2004, pág. 59.
17
Hunberto, T. Junior. Processo Cautelar. 21ª ed., S. Paulo 2004, pág. 60.
Os conceitos utilizados na ciência do direito apontam que o ordenamento jurídico em
vigor nos mais variados países e em distintos momentos históricos, são incertos e relativos.
O direito processual tem pouco mais de um século de autonomia. A atual denominação
do Direito Processual do Trabalho é relativamente moderna, de origem canônica, medieval, e
latino do ponto de vista filológico. O processo do trabalho é formado por atos que se
encadeiam sob a regência de princípios e normas legais, objetivando a aplicação da lei ao
conflito submetido à justiça18.
Sabe-se que o Estado moderno assumiu para si o encargo e o monopólio de definir e
realizar o direito concretamente aplicável diante das situações litigiosas. E para desempenhar
essa função, estabeleceu-se a jurisdição, que é o poder que toca ao Estado de formular e de
fazer atuar praticamente a regra jurídica concreta que, por força do direito vigente, foi
substituída pela Justiça pública ou Oficial. O Estado, então, criou órgãos especialiozados que
se subordinam a um método ou sistema de atuação, que vem a ser o processo19.
Na etimologia da palavra voltada para a expressão latina procedere, processo
significa seguir adiante.
Segundo Eduardo G. Saad, o processo constitui-se de atos sucessivos praticados
perante a autoridade judiciária, tendentes a assegurar a aplicação do direito objetivo ao caso
concreto levado a exame pelos órgãos competentes.
Humberto Theodoro Jr., afirma que processo é o método, o sistema de compor a lide
em juízo por meio de uma relação jurídica vinculada de direito público, onde, entre o pedido
da parte e o provimento jurisdicional impõe-se a prática de uma série de atos que formam o
procedimento judicial, que é o que dá exterioridade ao processo revelando o modus faciendi
com que se vai atingir o escopo da tutela jurisdicional20.

Sabe-se que o processo deve amoldar-se aos desígnios do direito material, de sorte a
proporcionar a melhor e mais rápida e objetiva concretização do direito da parte que tem
razão. O processo tem de estar voltado para a efetividade, evitando, quando possível, o dano
ou agravamento do dano ao direito subjetivo.

O procedimento é a formalização que obrigatoriamente se deve assumir na prática de


um ato do processo; é o modo pelo qual a lei determina que ato, ou a atividade processual seja
realizada. Também é a ordem a que se deve obedecer; a marcha dos atos21.

18
Saad, Eduardo Gabriel. D. Processual do Trabalho. Ed. Ltr., 2º ed. S. Paulo-1998, pág. 35.
19
Hunberto, T. Junior. Processo Cautelar. 21ª ed., S. Paulo 2004, págs. 30 e 35.
20
Hunberto, T. Junior. Processo Cautelar. 21ª ed., S. Paulo 2004, pág. 36.
21
Barros, Alice M. de. Colaborador-Manoel Galdino da Paixão. Compêndio de D. Proc. Do Trabalho. pág. 92.
Classifica-se o processo em três espécies distintas, o processo de cognição, execução e
cautelar.
A parte, perante o Estado-juiz, dispõe de um poder jurídico, que consiste na faculdade
de obter a tutela para os próprios direitos ou interesses: o direito de ação. Que é direito
subjetivo, e consiste no poder de produzir o evento a que está condicionado o efetivo
exercício da função jurisdicional.

A insatisfação do direito material da parte é um dano imediato que o adversário já lhe


impôs. Ao processo corresponde a tarefa de repará-lo. No entanto, não pode de ordinário,
fazê-lo senão após a tramitação mais ou menos longa dos atos que compõem o procedimento
judicial. O simples fato de o direito subjetivo permanecer insatisfeito durante o tempo
reclamado pelo desenvolvimento do processo já configura um novo dano, quase sempre
inevitável, mas que a prestação jurisdicional procura compensar com expedientes com o dos
juros moratórios, a correção monetária e outras combinações acessórias. Além desse prejuízo
natural, outros eventos indesejáveis podem ocorrer, agravando a situação do litigante e pondo
em risco a efetividade da tutela jurisdicional22.
Publicada em 31/12/2004, a Emenda Constitucional nº 45, assegurou a todos os
jurisdicionados mais uma garantia fundamental, qual seja, a da razoável duração do processo,
com a inserção do inciso LXXVIII no art. 5º com a seguinte redação:
“Art. 5º (...)
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativos, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Múltiplos são os expedientes de que o direito processual se vale na luta em prol da


efetividade do processo e na coibição dos efeitos do tempo sobre os resultados do processo,
como a criação de títulos executivos extrajudiciais e a redução dos procedimentos (ritos
sumários, ações monitórias, julgamento antecipado da lide etc.) Com todos esses caminhos
especiais se intenta proporcionar as chamadas tutelas diferenciadas, que, além da sumarização
dos procedimentos comuns, conduzem também àquilo que configura as modernas TUTELAS
DE URGÊNCIA, de que o direito processual atual não pode prescindir para realizar o anseio
de efetividade.
Todas essas medidas formam o gênero “Tutelas de Urgência” porque representam
providências tomadas antes do desfecho natural e definitivo do processo, para afastar
22
Hunberto, T. Junior. Curso de D. Proc. Civil, Vol. II, Ed. Forense-2006, págs. 658.
situações graves de risco do dano à efetividade do processo, prejuízo que decorrem da sua
inevitável demora e que ameaçam consumar-se antes da prestação jurisdicional definitiva.

A tônica comum da tutela de urgência é enfrentar o perigo da demora do processo


(periculum in mora), criando expedientes capazes de impedir que um dano irremediável, ou
de difícil reparação, ocorra ao processo ou a direito material da parte, antes do provimento
jurisdicional definitivo. Dentro do gênero de tutela emergencial, o direito positivo brasileiro
distinguiu a tutela de urgência cautelar e a tutela de urgência satisfativa23.
O que, no sistema do Código de Processo Civil brasileiro, distingue as espécies “tutela
cautelar” e “tutela antecipada”, é o terreno sobre o qual a medida irá operar. As medidas
cautelares são puramente processuais. Preservam a utilidade e eficiência do provimento final
do processo, sem, entretanto, antecipar resultados de ordem do direito material para a parte
promovente (são apenas conservativas). Já a tutela antecipada proporciona à parte
provisoriamente satisfativa do próprio direito material cuja realização constitui objeto da
tutela definitiva a ser provavelmente alcançada no provimento jurisdicional de mérito24.

ATIVIDADE CAUTELAR

23
Hunberto, T. Junior. Processo Cautelar. 21ª ed., S. Paulo 2004, págs. 60.
24
Hunberto, T. Junior. Curso de D. Proc. Civil, Vol. II, págs. 659.
A função cautelar situa-se na Teoria Geral do Processo, de forma que está, hoje,
inteiramente superada a perspectiva que entrevia na ação cautelar apenas o objeto de
assegurar o resultado do processo de execução.
A cautela processual abrange todo e qualquer processo, seja de execução seja de
conhecimento, já que as medidas preventivas podem perfeitamente tender a conservar um
meio de prova relevante para a obtenção de uma sentença ou a atingir uma composição
provisória dos interesses em conflito, como se dá na separação de corpos e nos alimentos
provisionais.
Na verdade, até o próprio processo cautelar pode ser objeto da tutela cautelar, como,
por exemplo, no caso de obras de conservação da coisa arrestada ou seqüestrada (art. 888 nº. I
CPC), no de busca e apreensão da mesma coisa, quando desviada ou sonegada (art. 839,
CPC)etc.

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