Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O sentido dessa pergunta precisa ser mais bem elucidado. Nossa suposição é a
de que alguns eventos de nosso passado possam ter perdido seu caráter de
aleatoriedade, sendo, então, compreendidos agora de outras formas. Talvez
possamos vê-los como se encaixando em um padrão, um padrão de escolhas,
um padrão de interesses, um padrão de crenças ou convicções. Se percebemos
aí um padrão, então estamos conseguindo ver a nós mesmos em perspectiva e
isso em grande parte só é possível na medida em que transcendemos os limites
em que anteriormente compreendíamos o mundo e os limites dentro dos quais
nos relacionávamos com outras pessoas.
Muitas vezes isso acontece devido ao fato de termos passado por novas
experiências ou termos encontrado a possibilidade de pensar de maneira
diferente a respeito das mesmas coisas. Isso nos faz pensar de outra maneira
sobre algo que aconteceu conosco. Alguém que, por exemplo, dedicou-se a
algum trabalho ou tarefa nos quais muitas dificuldades foram enfrentadas e, ao
final, não conseguiu alcançar os objetivos inicialmente propostos poderá
reavaliar eventos de seu próprio passado, sobretudo, aqueles que possuem
algum grau de semelhança, mas com relação aos quais seu comportamento foi
diferente. Pode ser que, naquela situação, a pessoa tenha desistido, por uma
razão ou outra, de tentar superar as dificuldades ou ponderou que as dificuldades
não valiam o esforço. Essa pessoa poderá, ao refletir sobre isso, imaginar as
consequências positivas de ter perseverado e imaginar-se hoje em uma situação
distinta. Podemos, por exemplo, achar que éramos muito dedicados aos estudos
antes de entrarmos na faculdade. Tínhamos as melhores notas da turma e isso
era interpretado como um indício de nossa inteligência, dedicação e esforço. No
entanto, podemos acabar nos dando conta de que, na verdade, nossos colegas,
por exemplo, precisavam realizar outras tarefas para além daquelas da escola,
ou que a escola era muito fraca. Em certa altura percebemos que aquela
interpretação era equivocada, pois, na verdade, o esforço exigido era mínimo.
À primeira vista, parece ser algo muito simples, mas aqueles que tentam fazê-lo
percebem de imediato que, por exemplo, uma falsa compreensão de si como
alguém com uma inteligência acima da média pode fazer com que as coisas não
aconteçam. Temos muitas falsas impressões a respeito de nós mesmos e elas
são impeditivos diante de tais projetos. Nós subestimamos o tempo para
realização de tarefas, subestimamos a quantidade de dedicação que um trabalho
exige, subestimamos a força de vontade que um desafio poderá demandar e
assim por diante. Compreender as coisas como elas realmente são e não como
as imaginamos ou gostaríamos que fossem parece ser uma necessidade tanto
do ponto de vista psíquico quanto de uma perspectiva racional.
Referências