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A GRAÇA E A JUSTIFICAÇÃO

A graça e a justificação são termos importantes na teologia cristã que têm sido objeto de
debates e sínteses ao longo da história. Agostinho desempenhou um papel fundamental
no desenvolvimento desses conceitos. Antes de abordar sua contribuição, é importante
entender a origem desses termos na literatura bíblica, pois eles se espalharam pela
literatura cristã antiga e moderna. A palavra "graça" tem origem no judaísmo helenista e
na literatura sapiencial contemporânea, sendo especialmente utilizada por Paulo para
enfatizar a gratuidade da salvação em Jesus Cristo. Os termos hebraicos equivalentes a
"graça" são "hanan/hen" e "hesed" que expressam a benevolência e a misericórdia de
Deus. No judaísmo helenista, Fílon de Alexandria desenvolveu a ideia de que tudo na
vida é graça, vindo de Deus para o homem, e que o homem deve ser grato por isso. Ao
longo do tempo, o conceito de graça evoluiu para uma realidade em si, associada à
justiça e à salvação futura. Na literatura judaica, a graça também está ligada à sabedoria
criadora e à Lei. A palavra latina "gratia" traduz o termo grego "charis" e possui
implicações religiosas e profanas que serão exploradas posteriormente na teologia
ocidental.
A "justiça de Deus e do homem" (justitia Dei et hominis) 
De acordo com J. Guillet, a justiça é vista como um estado de equilíbrio e paz em uma
sociedade, baseada em trocas em que cada indivíduo dá o equivalente ao que recebe.
Essa concepção de justiça não é exclusivamente moderna, mas há um aspecto pessoal
marcante no ideal israelita de justiça. Em vez de se concentrar na igualdade das
contribuições, Israel valoriza a comunicação entre as pessoas e a capacidade de ouvir o
apelo do outro e perceber suas necessidades profundas. Essa abordagem pessoal é
evidente nas páginas do saltério, onde a justiça é constantemente referida com pronomes
pessoais.
Na perspectiva bíblica, a justiça é normalmente uma resposta a um direito, que expressa
a necessidade mais profunda de um ser humano de existir no meio dos outros e ser
reconhecido em sua verdade. A ação salvífica de Deus é vista como a manifestação
dessa justiça, revelando Sua fidelidade à humanidade ao permanecer fiel a Si mesmo.
Além disso, além do sentido clássico judiciário de justiça distributiva e comutativa, a
Bíblia tende a associar a justiça humana à caridade, frequentemente manifestada por
meio da esmola. Isso é evidenciado em passagens como Mateus 5,20; 6,1-3; 25,37-39,
onde Cristo fala da necessidade de uma justiça que supere a dos fariseus.
A justificação (dikaiosyné)
A justificação é entendida como a justiça reconhecida por aquele que experimenta seus
efeitos. Somente a pessoa afetada pela justiça pode afirmar se ela foi alcançada no ponto
desejado. A justificação ocorre quando o outro acolhe o dom apresentado e aceita a
palavra do indivíduo. A lei por si só não pode justificar, pois é muda. A presença viva
de Cristo e a segurança que Ele proporciona ao percebermos a palavra do Pai são
capazes de nos trazer a justificação e nos fazer compreender, pela fé, o acolhimento de
Deus.
No livro de Romanos, Paulo descreve quatro etapas do processo de justificação por
parte de Deus. Primeiro, o amor gratuito de Deus predestina, chama, justifica e glorifica
o ser humano. Segundo, esse processo é realizado por meio da redenção em Jesus
Cristo, através da qual somos justificados. Terceiro, a fé em Jesus Cristo é o laço que
nos une à redenção de Cristo e nos salva. Quarto, é a graça que justifica. Paulo usa
Abraão como um exemplo veterotestamentário dessa salvação pela fé, não por dívida
paga.
O termo "justificação" é mencionado principalmente na Carta aos Romanos, como
resultado da ação de Deus no ser humano após a pregação do Evangelho. A graça de
Deus justifica tanto judeus quanto gentios, ambos pecadores, gratuitamente, através da
libertação realizada em Jesus Cristo.
Paulo utiliza o verbo no indicativo ao falar de justificação, enquanto usa o imperativo ao
mencionar a santificação. A Carta de Tiago destaca o valor das obras que justificam o
ser humano, não para opor a justificação pelas obras à justificação pela fé, mas para
enfatizar o perigo da fé estéril que, sem obras correspondentes, é morta.
Breve balanço sobre a Escritura
As bases para o desenvolvimento da relação entre graça e justificação já estavam
presentes no judaísmo helenista. O Livro da Sabedoria sintetizou essa união,
descrevendo a Sabedoria como um reflexo da luz eterna, um espelho imaculado da
atividade de Deus e uma imagem de Sua bondade. A Sabedoria renova o universo e se
insere nas almas santas para formar amigos de Deus e profetas. Nessa perspectiva, tudo
é graça, segundo Fílon, pois o ser humano está cheio de ação de graça ou entregue à
impiedade.
Por outro lado, o apóstolo Paulo, juntamente com as primeiras gerações cristãs
enraizadas na herança judaica, contrastou a salvação pela Lei (Torah) com a salvação
por meio de Cristo, obtendo pela graça o que o ser humano não pode alcançar por si
mesmo. A visão de Paulo incluía a eleição de Israel, que se completava na eleição dos
cristãos, e o dom de Cristo que suplantava a Lei. A justificação em Cristo era livre e
gratuita para os pagãos que não conheciam a Lei. Esses elementos constituíram a base
para o desenvolvimento futuro do dogma cristão da graça.
Nos escritos bíblicos, os termos "hesed", "charis" e "Torah" eram equivalentes. No
entanto, o judaísmo não reconhecia a futura distinção entre uma justificação pela fé e
uma justificação pelas obras da Lei, porque o cerne da "charis" era a fé na revelação de
Deus na Torah. Posteriormente, Paulo adotou essa concepção, mencionando os heróis
dessa salvação no Antigo Testamento, como Noé, Melquisedeque, Abraão, Isaac e Jacó,
que receberam a graça de Deus independentemente de qualquer obra pessoal.
Da literatura sapiencial, Paulo reteve, em sua perspectiva cristológica, dois aspectos da
graça: a Sabedoria identificada com Cristo e a justiça como dom da eleição divina. Na
história de Israel, o perdão e a salvação provinham da graça de Deus, manifestada
através do dom da Torah, exclusivo para Israel. A literatura sapiencial aprofundou esses
dois elementos. Em Paulo, Cristo substitui a Lei, mas o contraste não é entre a Lei e as
obras, e sim entre a graça da Torah e a graça de Cristo.
Para Paulo, Cristo representa a cultura "eucarística" do judaísmo helenista. A graça é
expressa na forte síntese de 1Coríntios 1,30, onde Cristo é sabedoria, justiça,
santificação e redenção. A generosidade, o amor desinteressado e a gratidão a Deus
através de Jesus Cristo são elementos relacionados com a graça em Paulo. A graça é
frequentemente associada ao agradecimento e à eucaristia.
A perspectiva da graça em Romanos é histórica, enquanto em Colossenses e Efésios é
cósmica, abrangendo todo o cosmos. O cristão agradece a Deus porque Ele o tornou
capaz de dar graças, e a graça em Cristo é o centro do cosmo.
Os carismas ou graças para a constituição da comunidade, exceto em 1Pedro 4,10, são
mencionados apenas por Paulo. A teologia escolástica medieval os chamaria de "graças
dadas gratuitamente" para distingui-los da "graça que torna justo" ou justificação. Esses
carismas estão relacionados com o Espírito e o carisma espiritual. A graça criada,
resultante da "graça incriada" ou de Deus Trindade, influencia a conduta do crente, que
a faz frutificar de acordo com a justificação recebida.
O contexto "mistérico" da teologia dos sacramentos
Textos intitulados "Dos Mistérios" foram escritos tanto por pagãos, como Jâmblico,
quanto por um bispo, como Ambrósio de Milão. Esses textos abordavam os cultos e
iniciações dos deuses pagãos, bem como a iniciação catequética nos sacramentos
cristãos. Tanto os pagãos quanto os cristãos celebravam os sofrimentos, o amor e a
benevolência de um deus (Mitra, Ísis e Osíris para os pagãos; Jesus Cristo para os
cristãos) por meio dessas iniciações, adentrando em um mistério de salvação
anteriormente desconhecido, o mistério oferecido pelo deus celebrado nas iniciações.
Nas iniciações pagãs, o próprio deus se "revelava", oferecendo a salvação ao indivíduo.
A ação mistérica se tornava uma mediação "de salvação" em relação à divindade
celebrada. A relação entre o deus celebrado e essa ação "salvadora" era naturalmente
muito estreita.
A estrutura sacramental cristã amadureceu nesse contexto de iniciação em geral,
trazendo suas próprias correções e, acima de tudo, a referência histórica e narrativa a
Jesus Cristo. No sermão de um pregador do século II, temos um bom testemunho da
compreensão da salvação cristã nesse contexto dos "mistérios". Esse sermão descreve
Cristo consumindo o amargo fel do Dragão e, em troca, derramando sobre nós as fontes
suaves que provêm dele. A abertura do lado sagrado de Cristo, de onde jorram Sangue e
Água, é vista como símbolo das núpcias espirituais, adoção e renascimento místico. A
citação também menciona a referência bíblica de ser batizado no Espírito Santo e no
fogo.
Posteriormente, Cirilo de Jerusalém, em suas Catequeses Mistagógicas, e João
Crisóstomo continuaram a abordar esse tema por meio da categoria do mistério,
afirmando que é na experiência dos mistérios que o ser humano experimenta a salvação.
A convicção deles é que aqueles que não recebem o batismo não recebem a salvação.
Justiça e graça antes de Nicéia: de Clemente de Roma a Orígenes
Clemente de Roma enfatiza que a conversão e o arrependimento são graças
provenientes de Cristo. Ele destaca a preciosidade do sangue de Cristo derramado pela
salvação, trazendo a graça do arrependimento para o mundo. A justificação, por sua vez,
ocorre através da fé em Deus, que nos justifica. A literatura apócrifa, influenciada pela
apocalíptica judaica, retrata a parusia (segunda vinda) da justiça de Cristo como o
desaparecimento do mal no mundo dominado por Satanás. A justiça é associada à vida e
está ligada à encarnação de Cristo como expressão da fidelidade de Deus ao homem.
Os gnósticos se ocupam dos homens "justos" e distinguem entre os elementos
"psíquico" e "pneumático", que são princípios ativos mediadores da fé em Jesus
Salvador. Os apologistas dos séculos II e III enfatizam a possibilidade de reconciliação
do homem com Deus e até mesmo a divinização do homem por meio de Jesus Cristo.
Eles expressam esse conceito de várias maneiras, como a semelhança com Deus
(homoiosis Theo) em Clemente de Alexandria e o retorno do homem à sua criação
original em Orígenes. Isso envolve a conversão religiosa, a graça do batismo e o
desenvolvimento da virtude e da justiça.
Para Justino, a justiça está correlacionada com os dois mandamentos do amor a Deus e
ao próximo. A justiça não é apenas uma virtude, mas uma atitude global enraizada na fé.
Ireneu combate visões distorcidas da justiça, afirmando que a justificação ocorre por
meio de Cristo, e Orígenes desenvolve temas como a redenção gratuita em Jesus Cristo,
a justificação de Abraão pela fé, o pecado de Adão e suas consequências, a vocação da
raça humana para a vida em Cristo e a filiação divina e adotiva.
É importante destacar que o resumo fornecido é uma síntese das ideias apresentadas e
pode não incluir todos os detalhes e nuances contidos no texto original.
Os Padres após Nicéia
Na controvérsia ariana, a afirmação da divindade de Cristo levou à distinção entre a
filiação divina por natureza e a filiação por adoção, também chamada de filiação "por
graça". O princípio soteriológico "o que não é assumido não é resgatado" guiou a
cristologia, assim como a compreensão da divindade do Espírito Santo e da redenção
através da graça do Espírito Santo. A revelação de Deus é considerada gratuita, pois é
impossível ao homem compreender o mistério incomensurável de Deus.
Outro aspecto aprofundado da graça divina está nas considerações dos Padres gregos
sobre o pecado de Adão. Por causa desse pecado, o homem perdeu sua condição
original como imagem do Verbo, que o permitia conhecer a Deus e ter imortalidade. A
encarnação do Verbo restabeleceu para a humanidade o conhecimento e a imortalidade
através da graça.
Gregório de Nissa, na tradição grega, abordou a questão da graça em termos próximos
aos de Santo Agostinho. Ele falou sobre a cooperação entre a graça divina comunicada
no batismo e a liberdade do homem. João Crisóstomo viu a graça como a força que
impulsiona a alma a fazer o bem, embora também tenha falado sobre o mérito associado
a essa graça.
A relação entre graça e liberdade foi a base para a ascese e a oração contínua na tradição
monástica. Pseudo-Dionísio destacou a iluminação que leva o homem a Deus
transcendente, enfatizando a origem divina de todo conhecimento. Máximo, o
Confessor, considerou a encarnação do Verbo como modelo de toda graça divina, com a
graça sendo o sobrenatural que aperfeiçoa a natureza. Essas ideias foram retomadas por
João Damasceno, que fez distinções entre natureza e graça, e entre vontade antecedente
e vontade consequente, conceitos que a teologia medieval também adotaria.
Em resumo, a concepção da salvação cristã como justificação pela graça de Cristo por
meio da fé estava presente antes de Agostinho. No entanto, essa tradição não era o foco
principal da reflexão teológica na época e região em questão, que se concentrava mais
no mistério de Cristo em si do que no mistério de Cristo em nós. A relação do crente
com esse mistério era uma questão de contemplação, oração e liturgia. A sinergia da
liberdade do homem era considerada necessária, mas não era objeto de uma
investigação específica. Além disso, após Santo Agostinho, a doutrina da justificação e
da graça não se tornou objeto de controvérsia entre o Oriente e o Ocidente. O Oriente
enriqueceu sua reflexão com elementos dos debates latinos, ao mesmo tempo em que se
manteve distante das últimas obras agostinianas, que exerceram uma influência ambígua
sobre a teologia ocidental.
A Igreja, "instituição de salvação": Cipriano
Cipriano foi o primeiro a expressar a salvação cristã em termos romanos, usando a
categoria de "salus" (salvação). Sua obra "A unidade da Igreja Católica" reflete essa
perspectiva. Enquanto o cristianismo alexandrino enfatizava a relação entre Cristo-
Verbo e a criação, o cristianismo latino introduziu um novo binômio mais institucional
do que pessoal, o de Cristo e a Igreja. Nessa visão, o Verbo encarnado, como redentor
da Igreja, concede-lhe o Espírito Santo e exerce a mediação da salvação para todos os
homens, levando Cipriano a proclamar a famosa fórmula: "Fora da Igreja, não há
salvação". Assim, a Igreja, como instituição divina, é vista não apenas como local de
salvação, mas também como "interesse de salvação".
A conhecida expressão romana "salus populi romani" (salvação do povo romano)
tornou-se um bem próprio das comunidades cristãs latinas, aplicada à Igreja, seus
líderes, sacramentos, atividades e à vida "segundo a Igreja", considerada "caminho de
salvação". Nesse contexto, os sacramentos são entendidos como "instituições
salvíficas": o batismo é uma "água salvífica", a eucaristia é um alimento de salvação, a
penitência é uma "indulgência salvífica". Os líderes da Igreja, especialmente o bispo,
tornam-se mediadores de salvação, como administradores dessas "instituições
salvíficas". Além disso, as categorias da paz romana e da "salvação do gênero humano",
difundidas de Roma para todos os povos, moldaram uma imagem correspondente da
Igreja e uma nova imagem do redentor.
Cristo é o salvador do indivíduo em seu corpo e alma, bem como da Igreja e de toda a
humanidade. Segundo Cipriano, ele é o "autor da salvação" e o "Salvador do gênero
humano". Sua relação com a Igreja é explicitada nas categorias da salvação. Cristo vive
na Igreja, onde, por meio dos sacramentos, comunica a salvação, sendo chamado de
"caminho de salvação", pois está presentemente salvífico na Igreja desde sua
encarnação e nos sacramentos até sua segunda vinda como juiz. A graça, embora não
seja tratada separadamente, faz parte da salvação que Cristo concedeu aos seres
humanos e que podemos alcançar na Igreja e em seus sacramentos.
A Graça e liberdade em ligação com a cristologia no Ocidente
Tertuliano, seguindo a linha de Ireneu, faz uma distinção entre "imagem" e
"semelhança": ele relaciona a "imagem" ao Verbo e a "semelhança" ao Espírito Santo,
estabelecendo assim as bases para o desenvolvimento futuro da doutrina da graça no
contexto latino, especialmente na região da África. Em sua polêmica contra Marcião,
Tertuliano aborda a antítese entre um Deus bom e um Deus justo, discutindo a liberdade
do homem, suas capacidades de mérito e satisfação, e vincula a justiça ou graça à
predestinação ou bondade de Deus. Cipriano, por sua vez, vê o batismo como o
caminho para a luz da salvação do homem, mas enfatiza que essa graça é gratuita na
Igreja, que possui o Espírito Santo.
Santo Hilário de Poitiers, influenciado pela teologia oriental, destaca que o
compromisso da liberdade merece o auxílio posterior de Deus, ou seja, a graça. Em
Márcio Vitorino, a salvação é vista como a misericórdia da graça divina concedida aos
seres humanos. No contexto da polêmica antiariana, a distinção entre a filiação divina
do Verbo encarnado e a filiação adotiva daqueles que creem em Jesus Cristo leva os
interlocutores a distinguir entre natureza e graça, destacando a gratuidade dessa última
como um dom.
Ambrósio, uma das fontes teológicas mais diretas de Agostinho, já desenvolveu o
esquema que a doutrina da graça seguirá no futuro. Ele ensina que todo homem nasce
com a herança de Adão, ou seja, o pecado original que o priva da justiça original, e,
portanto, ele precisa de uma redenção que só pode receber. Ambrósio chama essa
redenção, especialmente relacionada ao batismo, de "graça da conversão inicial",
citando o texto dos Provérbios: "Com efeito, é Deus que prepara a vontade humana".
Conclusão:
A teologia pré-agostiniana da graça, tanto no Oriente quanto no Ocidente, utiliza as
palavras "charis" e "gratia" em um sentido genérico de condescendência de Deus para
com o homem, especialmente no contexto da economia da salvação, que abrange desde
a obra redentora de Cristo até os sacramentos da Igreja, a prática ascética pessoal e o
testemunho de uma vida cristã. Termos como "eudokia, eunoia, euergesia,
philanthropia, synkatabasis, vocatio, electio, praedestinatio" são empregados para
expressar a condescendência de Deus, assim como palavras como "pneuma, dynamis,
doxa, donum, justitia" são usadas para denotar o favor comunicado. Cristo é
frequentemente referido nessas diversas categorias; por exemplo, em relação ao
batismo, Gregório de Nazianzo usa a imagem da luz: "por meio do batismo, Cristo é
iluminado; brilhemos com ele."
As fontes da doutrina da graça de Agostinho podem ser encontradas principalmente em
Tertuliano, que trata do dom da salvação e da liberdade do homem, e em Ambrósio, que
relaciona o pecado original, a perda de uma justiça anterior, à redenção em Cristo. O
pecado de Adão herdado pelo nascimento e o livre-arbítrio humano, que deve ser curado
pela graça de Cristo, são os principais temas do desenvolvimento da doutrina da graça
em Agostinho, cuja reflexão é guiada pelo testemunho bíblico de São Paulo.
Agostinho é conhecido como o "doutor da graça" e foi o primeiro a escrever de forma
sistemática sobre esse assunto, deixando um legado que se tornou uma referência para
todos que o seguiram. Ele se concentrou especialmente nas expressões "justiça de Deus,
justiça do homem", abordando o problema da correlação entre a graça de Deus e o livre-
arbítrio e a liberdade humana.
Agostinho também é conhecido por sua doutrina sobre o pecado original, e o debate
sobre esse tema já estava presente em sua época, com a crise pelagiana. Ele desenvolveu
sua doutrina da graça nesse contexto, explorando os significados dos termos "graça e
justificação" em seu tempo, apresentando suas obras que tratam mais diretamente da
questão da graça e expondo a doutrina desenvolvida por ele nessa polêmica.

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