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0160
AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO
REQUERIDOS: CARLOS ALBERTO DE PAULA JÚNIOR e outros
DOUTA MAGISTRADA:
1 – SÍNTESE FÁTICA
2 – DAS PRELIMINARES
2.1 DA INÉPCIA A INICIAL
3 - DO MÉRITO
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CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 7ª ed. rev. ampl. e atual. – Salvador.
JusPODIVM, 2020.
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CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 7ª ed. rev. ampl. e atual. – Salvador.
JusPODIVM, 2020.
Portanto, não há que se falar em questão prejudicial
incidente no que diz respeito à inconstitucionalidade material incidenter
tantum do artigo 11, caput, da Lei n. 8.429/92.
No mais, já é entendimento notório que o STF já
enfrentou na em sede ADI n° 2182 o mérito formal da Lei n. 8.429/92
confirmando sua constitucionalidade.
Por outro lado, será demonstrado, adiante, que há
elementos robustos indicando a prática dos atos de improbidade
administrativa pelos requeridos, inclusive o dolo nas referidas condutas.
Os réus CARLOS ALBERTO DE PAULA JÚNIOR,
ELBER ALMEIDA DA SILVA, LUIZ CARLOS DE AGUIAR, PAULO
SERGIO BERNARDINO DE OLIVEIRA e RAFAEL DOMINGUES
GOTARDO, em suas contestações, alegaram, em mesmo sentido que,
PAULO SERGIO BERNARDINO efetuou as nomeações de ELBER
ALMEIDA DA SILVA e RAFAEL DOMINGUES GOTARDO para
exercerem cargos em comissão, em conformidade com os ditames legais
pertinentes a matéria, sendo ainda, um ato discricionário do administrador
ou no âmbito do mérito administrativo, ou ainda, “estrito exercício regular
de direito, sem a violação de qualquer dispositivo constitucional ou
qualquer violação aos princípios basilares da Administração Pública”.
Ainda, aludiram ausência de elementos
imprescindíveis para a perfectibilização do ato ímprobo está demonstrada,
vez que o “superintendente tem o poder de aceitar indicação como também
pode nomear pessoa diversa; não há vinculação”, afirmando que inexiste
dolo - ou culpa grave - na conduta questionada.
Alegaram ainda que, efetivamente realizava as
atribuições de seu cargo comissionado, tendo em vista que eram estes que
“passaram a desempenhar as atribuições de seus cargos e muitas outras”,
confirmando ainda que os réus ELBER e RAFAEL possuíam competência
para tanto.
Sendo ainda questionado pelos réus qual o princípio
que supostamente foi violado.
Aludiram ainda que não há indícios que o “requerido
CARLOS ALBERTO DE PAULA JUNIOR ou de LUIZ CARLOS DE
AGUIAR – que demonstre a existência de fato tipificável como
improbidade ou, ainda, que o ato cometido tenha substanciado o requisito
do dolo de violar a normalidade administrativa”.
Contudo, conforme demonstrado na exordial, onde há
inclusive a transcrição do depoimento do pai do réu Elber (Sr. Anésio José
da Silva), não deixou dúvidas de ter se valido da amizade existente entre
ele e os requeridos CARLOS ALBERTO DE PAULA JÚNIOR e LUIZ
CARLOS DE AGUIAR (Prefeito Municipal e Vice-Prefeito, ambos ex-
Vereadores da Câmara Municipal local, onde Anésio é Servidor efetivo há
muitos anos) para que o requerido ÉLBER ALMEIDA DA SILVA, seu
filho, ocupasse cargo de provimento em comissão junto ao Poder
Executivo, tendo o requerido PAULO SÉRGIO BERNARDINO DE
OLIVEIRA, Superintendente da autarquia previdenciária municipal,
aderido a esses atos, atendendo às vontades dos correqueridos.
Sendo ainda que tais fatos foram confirmados no
depoimento prestado por ÉLBER ALMEIDA DA SILVA a este órgão nos
autos de inquérito civil (mov. 1.7).
O referido réu deixou claro que não detinha não
detinha qualificação alguma para o exercício das funções a que foi
nomeado, não vindo a desempenhar quaisquer funções efetivamente
voltadas a alguma forma de assessoramento, de direção ou de chefia, como
preconiza o inciso V do art. 37 da Constituição Federal para o exercício dos
cargos de provimento em comissão na estrutura do quadro de servidores
públicos. Durante todo o período em que ocupou os cargos de provimento
em comissão em questão, ELBER ALMEIDA DA SILVA limitou-se a
exercer funções de simples rotina burocrática, que devem ser
desempenhadas por servidores públicos efetivos, vinculados por aprovação
em concurso público, restando claro que as nomeações se deram com o
mero e ilícito fim de “dar um emprego” a um “apaniguado”, irregularmente
beneficiado, assim, de forma contrária ao interesse público.
Tais alegações desabonam todo o afirmado pelo réu em
sua contestação, vez que foram confirmadas nos depoimentos de Larissa
Fernanda de Moraes Bueno, Marco Aurélio da Rosa, Karen Cristina Alves,
Roberto Vagner Sant'ana Júnior, Samanta Daniele Rodrigues e Valdicéia
Angelo de Lima.
O mesmo foi alegado pelo réu RAFAEL
DOMINGUES GOTARDO.
Contudo, conforme já levantado nos autos, apurou-se
que o requerido RAFAEL DOMINGUES GOTARDO foi nomeado para
ocupar cargo de provimento em comissão de Diretor de Administração
junto à autarquia PRESERV, cargo que ocupou durante o período de
01/01/2012 a 20/08/2013, por indicação do requerido CARLOS ALBERTO
DE PAULA JÚNIOR, com o mesmo fim único de garantir um emprego a
um aliado e simpatizante, violando-se, assim, os princípios da
Administração Pública, na medida em que o requerido RAFAEL
DOMINGUES GOTARDO, da mesma forma como ocorreu com ÉLBER
ALMEIDA DA SILVA, não detinha qualificação ou experiência que o
recomendasse a cargos de provimento em comissão, restando certo que,
também aqui, o que se deu foi a nomeação para tais cargos de natureza
especial seguida do desempenho de tarefas meramente burocráticas, de
rotina de mero expediente administrativo, desvinculadas de atividades de
assessoramento, direção ou chefia.
Sendo que tais informações foram confirmadas tanto
pelo requerido RAFAEL DOMINGUES GOTARDO (mov. 1.8), quanto
pelo requerido PAULO SÉRGIO BERNARDINO DE OLIVEIRA que
afirmou quando ouvido que CARLOS ALBERTO DE PAULA JÚNIOR
deliberou pela nomeação de RAFAEL DOMINGUES GOTARDO ao cargo
de Diretor do PRESERV, tendo ele aderido a tal conduta ímproba, eis que a
nomeação se baseou unicamente na indicação do Prefeito Municipal de um
aliado político (mov. 1.7).
Quanto a alegação da nomeação dos cargos ser ato
discricionário, é pacífico já o entendimento de que o Poder Judiciário
analisará os atos administrativos no que tange aos aspectos da legalidade
(tanto ato vinculado, como discricionário), o que não viola a Tripartição
dos Poderes, já que esta é essa é uma fórmula clássica dos “checks and
balances” (freios e contrapesos), evitando o excesso de poder e condutas
desarroadas pelo administrador3.
Oportuno destacar que os requeridos CARLOS
ALBERTO DE PAULA JUNIOR e LUIZ CARLOS DE AGUIAR, ao negar
sua participação no ato improbo, em sua contestação, afirmaram que “O
que pode ser verificado é a tentativa de questionar a própria estrutura
institucional e o próprio quadro funcional da autarquia, o que sequer é de
responsabilidade dos requeridos, e tampouco pode lhes ser imputado como
improbidade. Aliás, basta verificar a própria literalidade do inc. I do art.
11 da LIA para verificar que, bem ao contrário da tese acusatória, o que
fizeram os requeridos foi, justamente, obedecer as prescrições legais de
acordo com a regra de competência”.
Em que pese, bastante demonstrado na inicial, não
haver dúvidas quanto ao atendimento de interesses pessoais ilegítimos dos
envolvidos, em detrimento do interesse público, violando os princípios que
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CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 7ª ed. rev. ampl. e atual. – Salvador.
JusPODIVM, 2020.
devem reger os atos administrativos, nos termos do art. 11, caput, da Lei n.º
8.429/92; assim, não há como os corréus fingirem que não perceberam as
referidas nomeações “apaniguadas”, vez que possuíam o objetivo de lesar o
patrimônio publico, além dos benefícios próprios e troca de favores.
Nesse sentido, cita a doutrina4 que a 9ª Camara do
Direito Público do TJ/SP, no julgamento da Apelação Cível n.
009252.56.2010.8.26.073, em 09/04/2014, considerou aplicável em matéria
de improbidade a Teoria Norte-Americana denominada “cegueira
intencional” (“willful blindness”), com o fim de punir a ignorância
consciente de agentes que intencionalmente fingem não enxergar a pratica
de atos ilícitos para, com isso, obter algum tipo de beneficio.
Assim, esclarece a doutrina que a espécie de ato de
improbidade descrita no art. 11, da Lei 8429/92, embora envolva condutas
de menor gravidade, que atentam dolosamente contra os princípios da
administração publica, violam os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, mesmo que sem provocar qualquer lesão financeira ao erário5,
vez que o agente público deve se pautar na busca dos interesses da
coletividade, não visando a beneficiar ou prejudicar ninguém em especial,
além da obrigatoriedade na observância a padrões éticos de conduta, que
assegure a função púbica de atender ao coletivo6.
Por fim, os réus, afirmaram que todas as nomeações
foram realizadas, e suas funções exercidas pelos nomeados, de boa-fé, sem
a existência de dolo algum, o que descaracterizaria os atos de improbidade
administrativa em questão. Além disso, afirmaram que, deste modo, nada
haveria de ilegal nestas condutas, devendo a demanda ser julgada
improcedente.
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MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo, 7ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2017.
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MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo, 7ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2017.
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CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 7ª ed. rev. ampl. e atual. – Salvador.
JusPODIVM, 2020.
Contudo, observando todo o exposto, incontestável a
existência de improbidade administrativa no caso em apreço, em relação a
todos os réus. Reforçando o já pontuado na petição inicial, o Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná já reconheceu, e vem seguidamente
reconhecendo, que a contratação de servidor para ocupar cargo de
provimento em comissão com o fim de que este realize atividades
rotineiras de atribuição de cargo de provimento efetivo é irregular,
viola os princípios da Administração Pública e o art. 37, V da CF/88 e
caracteriza improbidade administrativa, nos termos do art. 11, caput da
Lei n. 8.429/92:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. (…). IRREGULARIDADE NO DESEMPENHO
DE CARGO EM COMISSÃO DE CHEFE DA DIVISÃO DE
FISCALIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DA SECRETARIA
MUNICIPAL DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE.
REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES BUROCRÁTICAS
DESVINCULADAS DE FUNÇÕES DE DIREÇÃO, CHEFIA OU
ASSESSORAMENTO EM DESACORDO COM O ART. 37, V DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DOLO GENÉRICO
CARACTERIZADO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS QUE REGEM
A ADMINISTRAÇÃO. IMPROBIDADE COMPROVADA. (…).
(TJPR - 5ª C.Cível - ACR - 1415461-5 - Região Metropolitana de
Maringá - Foro Regional de Sarandi - Rel.: Carlos Mansur Arida - Por
maioria - J. 13.09.2016)
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ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. ELEMENTO SUBJETIVO. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE
TRANSPORTE SEM LICITAÇÃO. ATO ÍMPROBO POR ATENTADO AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO. APLICAÇÃO DAS SANÇÕES. (...) 2.
Conforme já decidido pela Segunda Turma do STJ (REsp 765.212/AC), o elemento subjetivo, necessário à
configuração de improbidade administrativa censurada nos termos do art. 11 da Lei 8.429/1992, é o
dolo genérico de realizar conduta que atente contra os princípios da Administração Pública, não se
exigindo a presença de dolo específico. (...) (REsp 951.389/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/06/2010, DJe 04/05/2011)
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ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. ELEMENTO SUBJETIVO. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE
TRANSPORTE SEM LICITAÇÃO. ATO ÍMPROBO POR ATENTADO AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO. APLICAÇÃO DAS SANÇÕES. (....) 2.
Conforme já decidido pela Segunda Turma do STJ (REsp 765.212/AC), o elemento subjetivo, necessário
à configuração de improbidade administrativa censurada nos termos do art. 11 da Lei 8.429/1992, é o
dolo genérico de realizar conduta que atente contra os princípios da Administração Pública, não se
exigindo a presença de dolo específico. 3. Para que se concretize a ofensa ao art. 11 da Lei de
Improbidade, revela-se dispensável a comprovação de enriquecimento ilícito do administrador público
ou a caracterização de prejuízo ao Erário. (...) 6. Na hipótese dos autos, a sanção de proibição de
contratar e receber subsídios públicos ultrapassou o limite máximo previsto no art. 12, III, cabendo sua
redução. As penas cominadas (suspensão dos direitos políticos e multa) atendem aos parâmetros legais
e não se mostram desprovidas de razoabilidade e proporcionalidade, estando devidamente
fundamentadas. 7. A multa civil é sanção pecuniária autônoma, aplicável com ou sem ocorrência de
prejuízo em caso de condenação fundada no art. 11 da Lei 8.429/92. Precedentes do STJ. 8. Consoante o
art. 8º da Lei de Improbidade Administrativa, a multa civil é transmissível aos herdeiros, "até o limite do
valor da herança", somente quando houver violação aos arts. 9° e 10° da referida lei (dano ao
patrimônio público ou enriquecimento ilícito), sendo inadmissível quando a condenação se restringir ao
art. 11. 9. Como os réus foram condenados somente com base no art. 11 da Lei da Improbidade
Administrativa, é ilegal a transmissão da multa para os sucessores do de cujus, mesmo nos limites da
herança, por violação ao art. 8º do mesmo estatuto. 10. Recurso Especial parcialmente provido para
reduzir a sanção de proibição de contratar e receber subsídios públicos e afastar a transmissão mortis
causa da multa civil. (REsp 951.389/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
09/06/2010, DJe 04/05/2011)
No entanto, quanto à dosimetria da pena, o próprio
parágrafo único art. 12, da Lei 8429/93, esclarece que “na fixação das
penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano
causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente”.
No mais, traz a doutrina que o Superior Tribunal de
Justiça consolidou o entendimento no sentido que, uma vez caracterizado o
prejuízo ao erário, o ressarcimento é obrigatório e não pode ser considerado
propriamente uma sanção, mas uma consequência imediata e necessária do
ato questionado (Resp 658.389), sendo que a pena de multa civil cumpre o
papel de verdadeiramente sancionar o agente ímprobo, já que o
ressarcimento serve para caucionar o rombo consumado em desfavor ao
erário (Resp 622.234)9, sendo que todas as penas o juiz levará em conta os
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade (Resp 658.389).
Nestes termos, pugna o Ministério Público pelo
desacolhimento de tais alegações formuladas pelos réus, determinando-
se o regular prosseguimento do feito.
4 - CONCLUSÃO
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MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo, 7ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2017.
IVANDECI JOSÉ CABRAL JÚNIOR
Promotor de Justiça