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Meritíssimo Juiz de Direito do Tribunal

Judicial da Cidade de Gaza


Xai-Xai

António Salomão (maior, solteiro, professor, moçambicano), Bernadete Gustavo (maior,


solteira, artista plástica, moçambicana), José Massinga (maior, casado, mecânico,
moçambicano), Anabela Massinga (maior, casada, costureira, moçambicana), Valdemiro
Moisés (solteiro, maior, aposentado, Sul-africano) e Cristina Zandamela (maior, viúva,
aposentada, moçambicana), todos residentes no Prédio “Baía Azul”, localizado no bairro da
Costa do Sol, Autores, doravante designados por (AA), representados por Belgina Francisco,
advogada, com carteira profissional nº 50005, contactável pelo numero 848488000 e domiciliada
em Maputo, vem propor a presente

ACÇÃO ESPECIAL

Contra, Zaida Bunguene (maior, casada, residente no bairro de Triunfo, economista,


moçambicana,), Estevão Bunguene (maior, casado, residente no bairro de Triunfo, empresário,
moçambicano), ambos, proprietários do Prédio “Bela Vista”, localizado no bairro da Costa do
Sol, e Joshua Bryan (maior, casado, residente no bairro do Alto-Maé, empreiteiro, britânico),
adiante designados Réus (RR), o que o faz nos termos e fundamentos que se seguem:

DOS FACTOS

No pretérito dia 17 de Fevereiro do corrente ano, os vizinhos, proprietários do prédio “Bela
Vista”, decidiram efectuar certas alterações ao edifício de que são donos, com vista a reestruturá-
lo.

Sucede porém que, ao lado deste existia um outro prédio denominado ‘‘Baia Azul” e ambos
foram construídos há centenas de anos.

Pelas características dos solos da área em causa, a resistência a edificações merece um exercício
redobrado dos engenheiros e muita cautela, por forma a garantir a segurança das edificações.

Os vizinhos do prédio ‘‘Baia Azul” foram surpreendidos na manhã seguinte com vedações ao
redor da estrutura do edifício vizinho e um número considerável de trabalhadores vestidos de
uniforme de construção, com instrumentos ligados a efectuarem demolição das paredes; o que
causava, de forma reflexa, movimentos desconfortáveis aos residentes do outro prédio.

Diante disto, a responsável do prédio “Baia Azul”, Cristina Zandamela, de idade um pouco
avançada, dirigiu-se, naquela manhã em direcçao ao prédio “Bela Vista” por forma a averiguar o
que efectivamente estava a acontecer.

No local, a Sra. Zandamela contemplou de perto o que se fazia, tendo inclusive, procurado
informar-se acerca do que se pretendia com aquelas demolições, mas, sem sucesso, esta não
obteve qualquer informação, pois os responsáveis pelo prédio, bem como o empreiteiro,
responsável por dirigir as obras não se encontravam presente.

O cenário dos ruídos e tremores das paredes intensificou-se, chamando a atenção dos outros
moradores do prédio. Portanto, houve, no final do dia, a reunião dos moradores deste por forma a
debater acerca do problema que assolava a todos eles. Nesta sessão, acordaram que deveriam
conseguir obter uma reunião com os proprietários do prédio vizinho.

A reunião com os proprietários do prédio “Bela Vista” realizou-se dois dias depois e, desta
resultou que os proprietários deste eximiam-se de toda e qualquer responsabilidade, pois diziam
não ter nada a ver com o que acontecia no prédio vizinho e que, inclusive, cada um dos
proprietários dos prédios era livre de fazer o que julgasse ideal para o bem-estar e/ou
conservação das suas propriedades. Ademais, consideravam as demolições como mecanismos de
garantir a manutenção do seu edifício; e, de maneira “arrogante” sugeriram que os proprietários
do prédio “Baia Azul” pensassem em acçoes concretas por forma a fazer uma reforma ao prédio
onde viviam.


No entanto, Jonas Francisco, engenheiro de construção civil, convidado para fazer parte da
reunião pela experiência, terá dito que as rachaduras que se viam nas paredes representavam um
perigo enorme para aquela propriedade e vida de muita gente.
10º
Referiu, ainda que as rachaduras e os tremores do edifício eram, efectivamente, consequência
directa do trabalho que vinha sendo realizado e que inclusive, recomendou que, os mesmos
ficassem vigilantes pois, se a obra continuasse, as chances de ruir eram inequívocas.
11 º
Em face disto, os moradores do prédio ‘‘Baia Azul” decidiram que iriam intentar uma
providência cautelar, mas, antes que isso acontecesse, o prédio cedeu, causando lesões corporais
aos moradores que não conseguiram abandonar, com flexibilidade, o edifício; para além de que o
mesmo foi reduzido a entulhos.

DE DIREITO
12º
Dispõe o artigo 334.º do Código Civil que “é ilegítimo o exercício de um direito, quando o
titular exceda manifestamente os limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim
social ou económico desse direito”. Nessa situação verifica-se que os proprietários do prédio
“Bela Vista” agem conforme disposto nesse artigo, quando recusam-se a tomar em consideração
as preocupações que lhes foram direccionadas pelos vizinhos do prédio “Baia Azul”, bem como
quando, de modo “arrogante” dizem que cada um deles era proprietário do seu imóvel e, com
isso, cada um deles era livre de fazer o que lhe “apetecesse”; mesmo que de tal facto resulte
danos para a outra parte.
13º
Diante disto, com o desabamento do prédio, causado pelo mau uso do direito por parte dos
proprietários do prédio “Bela Vista” resulta a obrigação de indemnizar os lesados, por essa
violação ilícita do direito, conforme verifica-se no número 1 do artigo 483.º do Código Civil, nos
seguintes termos: “Aquele que, com dolo ou mera culpa violar ilicitamente o direito de outrem
ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar
o lesado pelos danos resultantes da violação”. Portanto, estamos diante da responsabilidade civil
extra-contratual proveniente de actos ilícitos.
14º
Visto que “ incumbe aos lesado provar a culpa do autor da lesão”, nos termos do que dispõe o
número 1 do artigo 487.º do Código Civil, os ex-moradores do prédio “Baia Azul”, que encontra-
se aos “estilhaços”, providenciaram-se relatórios técnicos feitos por peritos, por forma a provar
os factos que são alegados. O referido relatório será anexado a petição e servirá de prova dos
factos que aqui são alegados.
15º
A Sra. Zandamela, responsável pelo prédio que ruiu pretende ainda, com a presente acção provar
que os danos causados aos moradores do prédio de que é responsável, que “não houve culpa da
sua parte ou que, mesmo com a diligência devida, se não teriam evitado os danos”, nos temos
do número 1 do artigo 492.º do Código Civil, conjugado com o artigo 1350.º do Código Civil.
16º
Em relação as lesões que resultaram em morte de alguns indivíduos que viviam no prédio, “é o
responsável obrigado a indemnizar as despesas feitas para salvaguardar o lesado e todas
demais, sem excepção do funeral”, conforme o número 1 do artigo 495.º do Código Civil.
17º
Para além disso, “tem o direito a indemnização aqueles que socorreram os lesados, bem como
os estabelecimentos hospitalares, médicos ou outras pessoas ou entidades que tenham
contribuído para o tratamento ou assistência da vítima”, sem exclusão dos que, “podiam exigir
alimentos ao lesado ou aqueles a quem o lesado os prestava no cumprimento de uma obrigação
natural”, nos termos dos números 2 e 3 do artigo acima referenciado.
18º
Não tendo passado três anos, “a contar da data em que os lesados tiveram conhecimento do
direito que lhes compete”, a acção considera-se feita nos devidos termos, pois não há causas que
justifiquem a prescrição do direito de indemnização, pelo facto de, os factos que geraram a
responsabilidade terem acontecido em Fevereiro do ano em curso, conforme vem estabelecido no
artigo 498.º do Código Civil.
19º
Também, houve oposição por parte dos moradores do prédio “Baia Azul” em relação a produção
de ruídos e movimentos que causavam rachaduras, pelo facto destes “importarem um prejuízo
substancial para o uso do imóvel ou não resultarem da utilização normal do prédio de que
emanam”, conforme estabelecido no artigo 1346.º do Código Civil.

DO PEDIDO:
Nestes termos, e nos mais de direito ao caso aplicável, é com mui
douto suprimento de V. Exa que os AA requerem que seja recebida
a presente acção, por provada deve ser, condenando os RR ao
pagamento de indemnização no valor de 6.000.000.00 MT (seis
milhões de meticais) aos AA, referente aos danos materiais
causados.

Pedem ainda a indemnização por danos morais resultantes da perda


de ente-queridos com o desabamento do prédio, bem como pelo
tratamento das lesões resultantes do acidente, no valor de
600.000.00MT (seiscentos mil meticais).

Para tanto, requer-se a V. Exa se digne ordenar a citação dos RR


para, querendo, contestar, no prazo e sob cominação legal,
seguindo os demais e ulteriores termos até final.

Nestes termos, nos melhores de direito e com o sempre mui douto


suprimento de V. Exª, deve a presente acção ser julgada procedente
por provada e, em consequência, os RR serem condenados a pagar
aos AA, à título de indemnização, o montante de 6.600.00 MT
(Seis milhões e seiscentos mil meticais).
Valor: 6.600.000.00 MT (Seis milhões e seiscentos mil meticais)
Junta: Procuração Forense, documento de identificação das partes, fotografias, relatórios
técnicos e duplicados legais.
Testemunhas:
1. Josefina Paulo, solteira, estudante, residente no bairro de Costa de Sol, contactável pelo
número 878788878;
2. Carlos Samussone, solteiro, estudante, residente no bairro de Costa do Sol, contactável
pelo número 821313130;
3. Jonas Francisco, casado, engenheiro de construção civil, residente no Belo Horizonte,
contactável pelo número 862626007.

Maputo, Agosto de 2023

(Belgina Lourenço Francisco)

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