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- Antes de estudarmos cada nervo craniano especificamente, precisamos revisar suas origens aparentes
no encéfalo e no crânio (que é por onde os nervos atravessam os forames).
Pares de
Origem aparente no encéfalo Origem aparente no crânio
Nervos
I Bulbo olfatório Lâmina crivosa do osso etmóide
II Quiasma óptico Canal óptico
Sulco medial do pedúnculo
III Fissura orbital superior
cerebral
IV Véu medular superior Fissura orbital superior
V1: Fissura orbital superior
Entre a ponte e o pedúnculo
V V2: Forame redondo
cerebelar médio
V3: Forame oval
VI Sulco bulbo-pontino Fissura orbital superior
Primeiro entra no meato acústico
Sulco bulbo-pontino,
VII interno e depois sai pelo forame
lateralmente ao NC VI
estilomastóideo
Sulco bulbo-pontino, Penetra no meato acústico interno,
VIII
lateralmente ao NC VII mas não sai do crânio
Sulco lateral posterior
IX Forame jugular
(sulco pós olivar)
Sulco lateral posterior
X (sulco pós olivar) Forame jugular
caudal ao NC IX
Sulco pós olivar (raiz craniana)
XI Forame jugular
Medula (raiz espinhal)
Sulco lateral anterior
XII Canal do hipoglosso
(sulco pré olivar)
- Os neurônios periféricos são compostos por células bipolares, cujas porções distais são representados
por processos ciliados. Essas células estão alojadas na mucosa pituitária, rica em pigmento e localizada
na porção superior da cavidade nasal. Essas células se reúnem em filetes desprovidos de mielina em
número de cerca de 20 de cada lado, e que, dirigindo-se para cima, atravessam a lâmina crivosa do
osso etmoide e atingem a face inferior do bulbo olfatório. No bulbo olfatório processa-se, ao nível dos
glomérulos, a sinapse desses neurônios primários com os dendritos das células do segundo neurônio,
este central, das vias olfatórias. Os cilindros eixos desses neurônios dirigem-se dorsalmente através do
trato olfatório para o tubérculo e trígono olfatório. O trato olfatório se aloja no sulco olfatório da face
orbitária do lobo frontal. A partir da região do tubérculo e trígono, as fibras se repartem de cada lado
pelas estrias ou raízes olfatórias, lateral e medial. Algumas das fibras decussam pela comissura branca
anterior, e se unem às fibras do lado oposto; outras por sua vez terminam no trígono e tubérculo
olfatórios. As fibras contidas na estria olfatória medial se destinam a superfície medial do hemisfério
cerebral, na região parolfatória, giro subcaloso e parte inferior do giro do cíngulo. Por sua vez, as fibras
que compõe a estria olfatória lateral colocam-se abaixo do lobo temporal e terminam no úncus e na
parte anterior do giro do hipocampo. Os centros olfatórios superiores são constituídos pelo hipocampo
e pelo giro denteado, que recebem impulsos do giro do hipocampo. Ambos os hipocampos são unidos
através de fibras comissurais.
- Então, o nervo olfatório é representado por numerosos pequenos feixes nervosos que se originam na
região olfatória de cada fossa nasal, que atravessam a lâmina crivosa do osso etmoide e formam o
bulbo olfatório.
- Via olfatória: As células olfatórias (neurônios bipolares, primeiros neurônios) na mucosa nasal
emitem prolongamentos > Formam o “nervo” olfatório > Atravessa a lâmina crivosa > Formam o bulbo
olfatório (local onde ocorre a sinapse do primeiro neurônio com o segundo) > Os axônios do segundo
neurônio formam o trato olfatório > O trato olfatório se divide em estrias olfatórias mediais e estrias
olfatórias laterais > As estrias olfatórias mediais terminam na superfície medial do hemisfério cerebral,
na área paraolfatória, na área subcalosa e na parte inferior do giro do cíngulo > As estrias olfatórias
laterais terminam na parte anterior do úncus e do giro parahipocampal.
- Isso faz do olfato uma via homolateral, ou seja, todas as informações que vêm dos receptores
olfatórios de um lado chegam ao córtex do mesmo lado. Também é importante saber que algumas
fibras da estria olfatória sofrem decussação na comissura anterior e se unem às fibras do lado oposto.
- Como a inervação olfatória é bilateral, uma lesão central na decussação das vias olfatórias nunca
causa perda do olfato, e uma lesão do córtex olfatório não provoca anosmia. A detecção da presença
de um odor, mesmo sem reconhecê-lo, exclui anosmia.
- Com um hipocampo destruído, ainda é possível ter olfação, devido ao outro hipocampo que possui
fibras comissurais.
- Importância de se entender isso: Paciente chega no plantão, caiu de moto, sofreu um trauma frontal,
apresentou epistaxe, estava lúcido e orientado. Raio-x de crânio aparentemente normal. Você receita
anti-inflamatório e antibiótico profilático. Depois de 15 dias, paciente retorna referindo não sentir
cheiro nenhum. Você devia ter examinado mais adequadamente, devia ter feito uma tomografia com
janela óssea, e assim verificaria que houve uma fratura na região do etmoide.
- A olfação tem um ciclo diurno mais acurado, especialmente antes das refeições (papel relacionado
com o apetite e à saciedade).
- Anosmias unilaterais quase nunca são dependentes de lesão do SNC, e sim dependentes de lesões
locais. Há comunicações entre ambos os lados através da comissura branca anterior e das conexões
do hipocampo.
- Substância irritantes da mucosa, tais como amoníaco, ácido acético ou ácido clorídrico podem irritar
terminações sensitivas do nervo trigêmeo e simular percepção mesmo quando a olfação está perdida.
Ou seja, se você der, por exemplo, amoníaco para uma pessoa, essa substância pode estimular e irritar
as terminações nervosas do nervo trigêmeo e pode simular uma olfação.
- Anosmia unilateral ou bilateral + atrofia de papila pode ocorrer em casos de neurossífilis, podendo
ocorrer junto com a Tabes Dorsalis. A atrofia de papila é verificada por meio do exame de fundo de
olho. Então, perceba que na sífilis pode ocorrer tanto anosmia unilateral quanto bilateral.
- O paciente vai lá no posto e fala: “Doutor, eu perdi a visão desse lado”. Daí você pega um pouco
de pó de café e vê se ele vai sentir o cheiro de café, caso ele não sentir, pode suspeitar de um
meningioma de goteira olfatória.
- Parosmia: É a perversão da olfação e depende de fatores corticais. É uma distorção de odores, uma
interpretação errônea de uma sensação olfatória que ocorre em neuropatas, neurite gripal, aura
epilética. O indivíduo refere que “nada cheira certo” ou que “tudo tem o mesmo cheiro”. Depende
de fatores corticais, às vezes podem estar associadas a crises convulsivas generalizadas. Normalmente,
quando um paciente tem uma crise convulsiva que é antecedida por uma perversão olfatória, essas
crises são chamadas de crises uncinadas, porque a sensação olfatória está no úncus do lobo temporal.
- Cacosmia: São sensações de odores desagradáveis, sem objeto. Pode indicar crises convulsivas.
- Alucinação olfativa: É a percepção de um odor qualquer que apenas o paciente sente. As percepções
são descritas como de odores estranhos, desagradáveis e mal definidos. É causada por desordens do
lobo temporal (crises epilépticas no úncus, crises uncinadas) ou doenças psiquiátricas, como no caso
das psicoses.
- Sensibilidade aumentada a estímulos olfatórios: Em geral é rara, mas pode ocorrer em pacientes com
enxaquecas e em pacientes com doença reativa das vias respiratórias, talvez devido à sensibilidade
anterior a desencadeantes olfatórios. Em casos em que o sentido do olfato é tão agudo que se mostra
uma fonte de desconforto contínuo, porém, podem ser psicogênicos.
- Crises uncinadas: As crises uncinadas são manifestações parciais complexas ou do lobo temporal, as
quais são precedidas por aura olfatória ou gustativa, geralmente desagradável, e muitas vezes
acompanhadas, quando o paciente perde a consciência, de movimentos de estalar os lábios ou de
mastigação. Em geral, essas crises são causadas por um foco epiléptico com acometimento de
estruturas mediais do lobo temporal. Nunca há perda objetiva do olfato no período interictal.
- É um nervo exclusivamente sensitivo, cujas fibras conduzem impulsos visuais, classificando-se, pois,
como fibras aferentes somáticas especiais.
- A via óptica tem a seguinte sequência: Nervos ópticos > Quiasma óptico > Trato óptico > Corpos
geniculados laterais > Radiação óptica > Lábios do sulco calcarino no lobo occipital (Brodmann 17).
- Ao exame externo do olho veremos: Aspecto da fenda palpebral, desvios oculares, exoftalmo
(protusão do globo ocular; causa mais comum é o hipertireoidismo), enoftalmo e exame externo da
córnea.
- O estreitamento dessa fenda palpebral pode acontecer por blefarospasmo, que é a contração dos
músculos orbiculares, resultando em piscar involuntário e fechamento ocular forçado. O
blefarospasmo também pode ser definido como uma distonia focal que causa o fechamento
involuntário dos olhos.
- Breve, unilateral e repetido: Distonia focal e pode ser parte de um espasmo hemifacial.
- Bilateral: Distúrbios nos gânglios da base, especialmente o parkinsonismo.
- Isolado (tônico): Afecções locais, como conjuntivite, uveítes, induzido por luz forte.
- Essencial: Neuróticos, idosos.
- Ptose: É a queda da pálpebra superior e também é uma causa de estreitamento da fenda palpebral.
A ptose completa ocorre por alteração do NC III, visto que ele inerva o músculo elevador da pálpebra
superior. Quando a ptose é semicompleta é por alguma alteração simpática (paralisia da musculatura
lisa da pálpebra).
- Ptose com isocoria pode ser um indicativo de miastenia gravis (causa cansaço muscular
progressivo devido ao esforço físico).
- Ptose com anisocoria pode ser indicativo de Síndrome de Horner (é uma doença que
lesiona o sistema nervoso simpático e faz miose no olho afetado).
- Discinesias de face: Também pode causar estreitamento da fenda palpebral e nada mais são do que
movimentos involuntários quando se faz um movimento voluntário. As “caretas” são alterações do
tônus da face. Se ocorrer discinesias nas pálpebras, o que está ocorrendo são contrações involuntárias
do músculo orbicular do olho (inervado pelo NC VII).
- O alargamento da fenda palpebral pode ocorrer pelos seguintes motivos: Queimaduras, paralisia
facial periférica (Fenômeno de Bell ou prosopoplegia), irritação do simpático e exoftalmo.
- Exoftalmia: Também conhecido como proptose, é quando o globo ocular está projetado para frente.
A exoftalmia pode ocorrer por: Tromboflebite do seio cavernoso, paralisia dos músculos extrínsecos
oculares, irritação do simpático (Basedow), tumores da órbita ou fossas média ou anterior e fístula
carótido-cavernosa. Exoftalmo/exoftalmia pode ocorrer por:
- Tromboflebite do seio cavernoso: Uma das causas mais comuns é a sinusite. E ela pode levar à morte
fazendo tromboflebite séptica do seio cavernoso. O quadro clínico seria: Edema de pálpebra,
hemorragia conjuntival, paresia (perda de força/limitação do movimento) dos nervos III e IV, às vezes
dos nervos VI e V1, ingurgitamento de veias da retina e edema de Santorini (edema mole
retromastóideo). Relembrando, dentro do seio cavernoso passam a artéria carótida interna e o nervo
abducente, enquanto os nervos III, IV, V1 e V2 passam na parede do seio. Se houver lesão do seio
cavernoso é possível gerar grande hemorragia por causa da passagem da artéria carótida interna por
ali. Portanto, a tromboflebite do seio cavernoso pode causar exoftalmia.
- Voltando a falar sobre ptose rapidamente, outra coisa importante: Os aneurismas de artéria
comunicante posterior são os causadores mais emblemáticos de ptose palpebral. Algumas vezes o
aneurisma pode estar para dentro do seio cavernoso. Exemplo: Paciente chega na UPA, com o “olho
caído”, sem edema, sem frêmito; o olho caiu ontem depois de uma dor de cabeça forte. Primeira coisa
a se pensar: Aneurisma! Onde? Na artéria comunicante posterior. Nesse caso, temos de 48 a 72 h de
janela para agir agudamente com uma operação, clipando o aneurisma. Depois que passa do terceiro
dia, não posso mais operar, pois desenvolve vasoespasmo. Enquanto não operar, ele pode ressangrar.
O tempo de maior ressangramento após uma ruptura de aneurisma é dentro das primeiras 24h.
- Fístula carótido-cavernosa (FCC): É a comunicação da artéria carótida interna com o seio cavernoso,
havendo saída de sangue da artéria para a veia. O nome já é sugestivo. A maioria das FCC possuem
causa traumática (75%), outra causa importante são os aneurismas dentro do seio cavernoso. Quadro
clínico: Exoftalmia pulsátil, edema de pálpebra sem cianose (quemose ocular), estase e dilatação das
veias da conjuntiva. Exame físico: ausculta palpebral com sopro sistólico intenso, às vezes audível em
todo o crânio. Paciente reclama que escuta o sopro quando vai dormir. Frêmito em todo o globo
ocular. Frêmito nada mais é do que é sensação palpável do sopro, ou seja, você encosta a mão/os
dedos no olho do paciente e percebe o sopro com o tato. Também é possível fazer o teste de Matas,
no qual se faz uma compressão da artéria carótida interna do lado que possui exoftalmia, e essa ação
faz diminuir o sopro, o frêmito e a pulsação. Quando você solta a artéria você percebe tudo de novo.
O tratamento de FCC é feito com passagem de um cateter com balão, que oclui a laceração da carótida
e trata a fístula, tendo, porém, o risco de comprimir o III nervo.
https://sci-hub.se/10.1056/NEJMicm1006035
- Enoftalmo: Nada mais é do que o afundamento do globo ocular na órbita. É um dos fenômenos que
acontece quando se tem uma paralisia do simpático, como, por exemplo, na síndrome de Claude
Bernard-Horner.
- Síndrome Claude Bernard-Horner: É uma lesão destrutiva das vias do simpático que se dirigem para
o globo ocular. Relembrando o quadro clínico: Enoftalmia + Miose com reflexos pupilares normais +
Ptose + Anidrose + Elevação da pálpebra inferior. A síndrome de Horner causa aparente enoftalmia
porque há ptose da pálpebra superior e elevação da pálpebra inferior por hipotonia dos músculos
acessórios de retração da pálpebra. Isso pode causar aparência de afundamento do olho na órbita,
mas é uma ilusão de óptica e a posição real do bulbo do olho é normal.
- Qual lesão externa ao SNC que pode estar associada à síndrome de Horner? Tumor de Pancoast,
que é um tumor de ápice pulmonar, mostrado numa imagem da página 10. Nesse caso, acontece a
síndrome de Horner pois o tumor de ápice pulmonar lesa o gânglio estrelado (C7, supraclavicular).
Em lesões centrais (medula alta ou supraseguimentar) também apresentam a síndrome, pois acometem
o nervo vago.
- Pupila: Dosa a luz que entra no meio ocular e elimina as aberrações esféricas e cromáticas que se
formam na periferia do sistema óptico. Com a diminuição de seu diâmetro, aumenta a profundidade
de foco. Em resumo, a pupila é a janela para o encéfalo. É o único lugar do corpo em que é possível
ver uma veia ou artéria sem ter que abrir. Seu tamanho é regulado por 2 músculos: o constritor ou
esfíncter (controlado pelo parassimpático), e o dilatador (controlado pelo simpático). Através do exame
de fundo de olho também dá para ver o nervo óptico (único nervo possível de ser visto ao examinar).
- Músculo constritor ou esfíncter: Possui inervação parassimpática > É feita essencialmente através de
neurônios pré-ganglionares do núcleo de Edinger-Westphal (EW), formando o complexo do nervo
oculomotor. É importante também para classificar a profundidade do coma e serve como critério para
morte encefálica.
- Músculo dilatador: Inervação simpática > Inicia-se em centros autônomos corticais, diencefálicos ou
reticulares e desce pelo tegmento e porção médio-lateral da porção reticular, até o nível dos 3
primeiros segmentos torácicos da medula espinhal (até T2 ou T3).
- Exame do nervo óptico inclui: Avaliação da acuidade visual, do campo visual e do fundo de olho.
- Apreciação estática da pupila (tamanho): O tamanho da pupila varia de 2 a 5 mm, em adultos gerais
varia entre 3 e 4 mm. Devemos olhar se uma é semelhante a outra, se elas possuem o mesmo tamanho,
observar a sua forma, posição e contorno. Observação: Cuidado com o paciente que aparentar ter
uma “anisocoria” por uso de prótese ocular (globo ocular).
- Anisocoria por midríase de uma pupila: Pode ser causada por paralisia do músculo constritor por
lesão unilateral do NC III (lesão isolada do núcleo de EW, ou dos neurônios pré ou pós-ganglionares
e gânglio ciliar), irritação do simpático em qualquer ponto de seu trajeto e na amaurose unilateral.
- Reflexo consensual: Nada mais é do que o olho não iluminado realizando miose (contralateral à luz).
Ou seja, fisiologicamente, você ilumina o olho direito e faz a miose nele, que é o reflexo fotomotor
direto, e o olho esquerdo também faz miose, que é o reflexo consensual, mesmo não estando
iluminado. Ao examinar, geralmente colocamos a mão entre os olhos para impedir que a luz passe
para o outro lado.
- Lesão do nervo oculomotor: O lado normal (não lesado) responde com miose, independente de qual
olho está sendo iluminado.
- Exemplo de lesão do nervo oculomotor direito: Se iluminar cada olho, somente o lado
esquerdo vai responder com miose, pois há lesão da eferência direita.
- Lesão do nervo óptico: Se iluminar o olho com lesão = ausência de reflexos nos olhos. Se iluminar
o olho normal = reflexos preservados (fotomotor direito e consensual).
- Exemplo de lesão do nervo óptico esquerdo: Se iluminar o olho esquerdo, vai ter ausência de
reflexos; já iluminando o olho direito, tem-se os dois reflexos.
- Sinais de disfunção do nervo óptico:
- Pupila de Marcus-Gunn: Lesão parcial de um nervo óptico, geralmente associada à neurite óptica.
Reflexo fotomotor direto abolido no olho com lesão, mas reflexo consensual presente. Quanto volta a
estimular o olho com lesão há aparente midríase. A resposta direta mais fraca ou a dilatação paradoxal
da pupila estimulada pela luz é denominada DPA ou pupila de Marcus Gunn. É um sinal neurológico
extremamente útil e importante. Alguns usam o adjetivo “relativo” (defeito pupilar aferente relativo
[DPAR]) para enfatizar que o achado depende da diferença entre os dois olhos – o estado do sistema
aferente e a atividade do reflexo fotomotor em um olho em relação ao outro.
- Lesões parassimpáticas causam dilatação pupilar (midríase), pois faz o contrário da função, que é
constrição (miose), e pode ocorrer por compressão do NC III na herniação do úncus ou após ruptura
de aneurisma de artéria carótida interna (Merritt).
- Lesões simpáticas causam constrição pupilar (miose), pode ser por lesão hipotalâmica, infarto bulbar
e síndrome de Horner.
- Lesão em A: Cegueira total do olho direito.
- Os músculos extrínsecos do bulbo ocular são: elevador da pálpebra superior, reto superior, reto
inferior, reto medial, reto lateral, oblíquo superior e oblíquo inferior. Para saber a inervação de cada
um basta decorar que o nervo troclear inerva o oblíquo superior, e que o nervo abducente inerva o
reto lateral. Todos os outros músculos são inervados pelo oculomotor.
- Além disso, o nervo oculomotor possui fibras (eferentes viscerais gerais) responsáveis pela inervação
pré-ganglionar dos músculos intrínsecos do bulbo ocular: músculo ciliar, que regula a convergência
do cristalino, e o músculo esfíncter da pupila. Então, sobre o oculomotor algumas coisas já foram
vistas anteriormente quando falamos sobre o nervo óptico.
- As fibras nervosas que inervam os músculos intrínsecos são classificadas como eferentes viscerais
gerais.
- Nervo oculomotor: Inerva os músculos elevador da pálpebra superior, reto superior, reto inferior,
reto medial, e oblíquo inferior. Inerva também músculos intrínsecos: músculo ciliar (regula o cristalino)
e esfíncter ou constritor da pupila.
- Nervo abducente: Inerva o músculo reto lateral, que faz a abdução lateral do olho. “Abre”
lateralmente o olhar.
- O oblíquo superior puxa a parte posterior do olho para cima, produzindo o olhar para baixo; o
oblíquo inferior puxa a parte posterior do olho para baixo, produzindo o olhar para cima.
- Portanto, o oblíquo superior atua como depressor do olho aduzido e o oblíquo inferior, como
elevador; eles movem o bulbo no sentido oposto ao de seus nomes. Sempre em direção ao nariz.
- Solicitando-se que olhe para a direita, para a esquerda, para cima e para baixo, observa-se se ocorre
estrabismo, interroga-se sobre diplopia e pesquisam-se os movimentos voluntários sacádicos
(movimentos oculares mais rápidos que nos capacitam a redirecionar nossa linha de visão).
- Pedindo-se que olhe alternadamente para os dedos indicadores do examinador colocados a cerca
de 30 cm dos olhos do paciente e distanciados de 30 cm entre si, examina-se a ocorrência de dismetria
(transtorno do cerebelo que causa uma interpretação errônea da distância, desorientação espacial e
incapacidade para alcançar com precisão um ponto determinado) e de oscilações ao final do
movimento.
- Deslocando o indicador à frente dos olhos do paciente, o examinador observa os movimentos lentos
de seguimento laterais, verticais e de convergência.
- Lesões no nervo oculomotor: Ptose palpebral (com incapacidade de abrir o olho), estrabismo
divergente (desvio lateral do olho), midríase paralítica e diplopia, agravada quando o paciente olha
para o lado contrário à lesão. Embora comumente comprimido por aneurismas, o nervo oculomotor é
mais raramente lesado pelo aumento crônico da pressão intracraniana por si só. Todavia, sinais de
lesão do oculomotor, incluindo tipicamente uma pupila dilatada não respondendo à luz aparecendo
subitamente em um paciente com a consciência alterada, devem ser considerados como a herniação
supratentorial do giro uncinado através da incisura tentorial até que se prove o contrário.
- Lesões no nervo troclear: Diplopia e desvio do olho acometido para cima e para dentro. As lesões
do troclear causam a paralisia do músculo oblíquo superior, com alteração da capacidade de mover
o olho para baixo e para dentro. O desvio em repouso é pequeno e a diplopia é corrigida pela
inclinação da cabeça para diante e para o lado do olho contralateral.
- Lesões do nervo abducente: Estrabismo convergente e diplopia, agravada quando o paciente olha
em direção ao lado afetado. A lesão do nervo abducente causa a paralisia do músculo reto lateral. O
olho se desvia medialmente e a diplopia está presente em quase todas as direções do olhar, porém
não quando o olhar se dirige para o lado oposto à lesão. As lesões no tronco cerebral que envolvem
o núcleo do sexto nervo também se acompanham de paralisia do olhar lateral. Se tanto o sexto nervo
quanto seu fascículo longitudinal medial forem lesados ao nível do tronco cerebral, nenhum dos olhos
vai se mover além da linha média à tentativa de se olhar para o lado da lesão.
- Relação entre o fascículo longitudinal medial (FLM) e os NC III, IV, VI: Os núcleos dos nervos
oculomotor, troclear e abducente constituem uma coluna de células mais ou menos contínuas. Eles
são unidos para ação coordenada e conjugada pelo FLM, um trato de fibras extenso e proeminente
que segue na linha mediana no tegmento dorsal do tronco encefálico. O FLM estende-se do
mesencéfalo até a parte superior da medula espinal torácica e faz muitas conexões. Sua principal
função é coordenar o olhar lateral por conexão do núcleo do sexto nervo craniano de um lado com
os núcleos do terceiro e quatro nervos do lado oposto para possibilitar o movimento sincrônico dos
dois olhos. Os sinais da FRPP ativam interneurônios no núcleo do sexto nervo craniano adjacente, que
envia axônios pelo FLM acima. O FLM cruza na ponte, logo depois de começar sua ascensão em
direção ao complexo do terceiro nervo contralateral. As lesões do FLM interrompem a comunicação
entre os dois núcleos, causando oftalmoplegia internuclear (OIN). O FLM também tem conexões
extensas com os NC V, VII, VIII, XI e XII e com os núcleos motores dos nervos cervicais superiores.
Grupos de núcleos na parte rostral do mesencéfalo participam da função do FLM, entre eles o núcleo
da comissura posterior (núcleo de Darkshevich), o NIC (o núcleo do FLM) e o riFLM. Essas conexões
coordenam o movimento dos dois olhos, bem como os movimentos da cabeça e dos olhos, e até
mesmo do corpo. O FLM medeia movimentos reflexos da cabeça e dos olhos em resposta a vários
estímulos e é importante nos reflexos auditivo-ocular, vestibulocular e de endireitamento.
Nervo Trigêmeo (NC V)
- O nervo trigêmeo é um nervo misto, sendo o componente sensitivo consideravelmente maior (nervo
essencialmente sensitivo), ligado a sensações gustativas e sensibilidade (térmica, dolorosa e tátil) da
face. Incorporam-se algumas fibras motoras que inervam os músculos da mastigação.
- A raiz sensitiva tem origem no gânglio de Gasser/semilunar, que se localiza na face superior do ápice
da pirâmide do osso temporal, um uma cavidade dural chamada de cavo trigeminal (cavum de Mekel).
São responsáveis pela sensibilidade somática geral de grande parte da face, com exceção do ângulo
da mandíbula, cuja inervação é a partir do plexo cervical superior (C2). Os prolongamentos periféricos
dos neurônios sensitivos formam, distalmente, os 3 ramos do nervo trigêmeo: ramo oftálmico (V1),
ramo maxilar ou maxilar superior (V2), ramo mandibular ou maxilar inferior (V3).
- Ramo oftálmico (V1): Destaca-se do gânglio de Gasser e se dirige para frente através da parede lateral
do seio cavernoso, abaixo dos nervos oculomotor e troclear. O nervo oftálmico é responsável pela
sensibilidade da cavidade orbital e seu conteúdo, enquanto o nervo óptico é sensorial (visão). Emite
alguns ramos em direção à tenda do cerebelo, e se divide em nasociliar, lacrimal e frontal; penetram
separadamente na órbita através da fissura orbital superior. Algumas fibras no nervo nasociliar,
aferentes ao gânglio oftálmico, constituem fibras iridodilatadoras, provenientes de conexões com
ramos do sistema simpático cervical. Os ramos da terminação do nervo frontal emergem do crânio
através do orifício supraorbital, e se incumbem de inervação sensitiva exteroceptiva (temperatura, dor,
pressão e tato). Portanto, lesões do seio cavernoso podem causar uma sensação dolorosa na testa.
- Ramo maxilar ou maxilar superior (V2): Se destaca do gânglio de Gasser pela parte lateral do seio
cavernoso e abandona o crânio através do forame redondo, cruza a fossa pterigopalatina, na porção
posterior do palato; penetra a órbita pela fissura esfenoidal inferior e surge na face pelo forame
infraorbital; em seu percurso intracraniano fornece um ramo meníngeo destinado a inervar a dura-
máter da fossa média.
- Ramo mandibular ou maxilar inferior (V3): Após emergir do gânglio de Gasser, abandona o crânio
através do forame oval. Fornece o ramo lingual, que participa da sensibilidade geral (térmica, tátil,
dolorosa) nos 2/3 anteriores. O gânglio de Gasser é uma via comum para as enxaquecas, passando
usualmente por esse gânglio (à exceção de grandes variações).
- Raiz motora do nervo trigêmeo: É constituída de fibras que acompanham o nervo mandibular,
distribuindo-se aos músculos mastigatórios: temporal, masseter, pterigoideo lateral (externo) e medial
(interno), milo-hióideo e digástrico (ventre anterior).
- Já adiantando, a inervação da língua é feita por 4 fibras diferentes de nervos cranianos, sendo que
somente 3 chegam, de fato, à língua: O ramo mandibular (V3) possui um ramo que é o nervo lingual,
sendo responsável pela sensibilidade geral (temperatura, dor, pressão e tato nos 2/3 anteriores). O
nervo facial possui um ramo que é o nervo corda do tímpano, que chega à língua por meio de uma
anastomose com o nervo lingual. O nervo corda do tímpano é responsável pela sensibilidade gustativa
nos 2/3 anteriores da língua. O glossofaríngeo faz a sensibilidade geral e gustativa no terço posterior.
E o hipoglosso é responsável pela motricidade da língua. Observe que o nervo facial não chega
diretamente à língua, mas, sim, um ramo seu que se anastomosa com o nervo lingual.
- V3 (nervo lingual): Sensibilidade geral (temperatura, dor, pressão e tato nos 2/3 anteriores).
- VII (nervo corda do tímpano): Sensibilidade gustativa nos 2/3 anteriores.
- IX: Sensibilidade geral e gustativa no 1/3 posterior.
- XII: Motricidade da língua.
- Semiologia do trigêmeo: Tem como objetivo estudar funções sensitivas e motoras, participação em
reflexos e funções gustativas dos 2/3 anteriores da língua - nervo intermédio e nervo lingual.
- Sensibilidade superficial ou exteroceptiva: Pesquisar com mecha de algodão ou com pincel, sem
exercer pressão sobre a pele (evita que ative outras fibras sensitivas, não estimulando o tato
protopático, somente o epicrítico). A temperatura se testa com dois tubos, um de água gelada e outro
de água quente, de 40 a 45 °C. A dor se testa com uma agulha, por exemplo, e isso só é importante
para saber se o paciente está em morte cerebral, onde o trigêmeo não vai funcionar, pois os reflexos
de tronco encefálico e de nervos cranianos estão abolidos.
- Motricidade: Pedir para o paciente fechar os dentes com força para verificar o déficit da mordida. A
palpação dos músculos masseter e temporal durante o fechamento da boca pode revelar assimetrias
de massa muscular e atrofias. O acometimento dos músculos mastigadores, quando unilateral, é
facilmente identificável na clínica, pois a mordida fica lateralizada. Quando esse déficit é lateralizado
(direito ou esquerdo), fica fácil perceber que daquele lado o paciente não mastiga ou ele mesmo traz
isso como queixa “não conseguir mastigar porque o lado direito não faz força”. Ao abrir a boca,
também é possível perceber lateralização. O desvio da mandíbula ocorre para o lado acometido, pois
em condições normais, os músculos pterigoides externos de cada lado deslocam a mandíbula para
frente e para o lado oposto. Se um dos lados está paralisado, não empurra para o lado oposto e ocorre
lateralização.
- Reflexo glabelar: Também é um reflexo axial da face. Ao percutir a glabela, o paciente tende
a fechar os dois olhos rapidamente.
- Reflexo mentual: É um reflexo axial da face. Pedir para o paciente deixar a boca semiaberta.
Percutindo o mento, há fechamento súbito da boca por ação dos músculos mastigadores, em
especial o masseter. Esse reflexo será mais intenso ou exuberante em pacientes com
tétano.
- A lesão do trigêmeo acarreta em perda das sensações de tato leve, térmica e de dor na face, perda
dos reflexos corneano e de tosse e paralisia dos músculos da mastigação.
- Neuralgia do trigêmeo (essencial): É caracterizada por uma dor lancinante, paroxística, em choque,
pontada ou agulhada e é descrita como uma das piores dores. Aparece em crises (dura 15 minutos ou
mais) e aparecem a partir de trigger zones (zonas gatilhos). O paciente tem a impressão que as zonas
de gatilho (que deflagram a sensação dolorosa ou a sensibilidade exacerbada) vão mudando de lugar.
Isso acontece mais em lugares com menos acesso à propedêutica armada. A dor acontece em metade
da face, e pode ser desencadeada por estímulos sensitivos como o vento, escovar os dentes, alimentar-
se ou mesmo tocar a face. Esses pacientes, muitas vezes, morrem de fome, literalmente. A dor é tanta
que impossibilita a alimentação. O risco de suicídio em casos graves e refratários é grande.
- Causas de neuralgia do trigêmeo: Podem ser várias. Tumorais, vasculares (compressão do nervo
trigêmeo por alguma artéria que pulsa sobre a raiz nervosa), traumáticas, essenciais (quando não se
sabe a causa), secundárias à esclerose múltipla, cistos, infecções.
- Outros tipos de dores faciais que podem ser confundidas com a neuralgia do trigêmeo: Infecção
por herpes zoster (nesse caso a dor é continua e não paroxística, vesículas e crostas acompanham a
dor), doença dentária, doença orbital e arterite temporal.
- Lesões na ponte comprometem o núcleo sensitivo e motor, causando paralisia dos músculos da
mastigação e perda do tato na face.
- Lesões do bulbo só comprometem o tato na face. Existem inúmeras causas de dormência facial que
entram como diagnóstico diferencial.
- Causas comuns de lesão do nervo trigêmeo associadas à dormência facial: Traumatismos dentários
ou cranianos, herpes zoster, tumores da cabeça e pescoço, tumores intracranianos e a neuropatia
idiopática do trigêmeo. Causas menos frequentes incluem EM, esclerose sistêmica, doenças mistas do
tecido conectivo, amiloidose e sarcoidose. Uma dormência facial isolada pode ocorrer também sem
uma causa claramente identificável (isto é, neuropatia idiopática do trigêmeo), mas esses pacientes
devem ser avaliados cuidadosamente para se assegurar que um processo oculto não passe
despercebido.
- Assim como os nervos óptico e oculomotor formam as vias aferente e eferente, respectivamente, dos
reflexos pupilares, o nervo trigêmeo, juntamente com o nervo facial, formam os reflexos corneanos.
- Reflexo corneano: O reflexo corneano é provocado tocando-se levemente a córnea com um fiapo
de algodão ou lenço de papel. É usado para avaliar a função do NC V1. O ideal é que os estímulos
sejam aplicados na parte superior da córnea porque, em alguns indivíduos, a parte inferior pode ser
suprida pelo NC V2. Os estímulos devem ser aproximados por baixo ou lateralmente para que o
paciente não veja. A resposta à estimulação da córnea é o piscar dos olhos ipsilateral (reflexo direto)
e contralateral (reflexo consensual). O ramo aferente do reflexo é mediado pelo NC V1 e o ramo
eferente, pelo NC VII. O reflexo de piscar é um teste eletrofisiológico no qual se aplica um estímulo
elétrico ao nervo trigêmeo e registra-se a resposta dos músculos faciais. Pode oferecer outras
informações sobre o NC V, o NC VII e as conexões entre estes.
Nervo Facial (NC VII)
- O nervo facial é essencialmente um nervo motor, responsável pela motricidade mímica da face, e
também possui outras funções sensitivas e viscerais que iremos ver.
- O nervo facial emerge do tronco encefálico no sulco bulbo-pontino, lateralmente ao NC VI, através
de uma raiz motora (o nervo facial propriamente dito) e uma raiz sensitiva e visceral (nervo intermédio
ou de Wrisberg).
- A função do nervo facial propriamente dito (raiz motora) é de inervação dos músculos da mímica,
do músculo estilo-hióide, ventre posterior do músculo digástrico e músculo platisma.
- A função do nervo intermédio é de sensibilidade gustativa dos 2/3 anteriores da língua e pela
inervação parassimpática das glândulas lacrimal, salivares e submandibular.
- Juntamente com o nervo vestibulococlear (VIII), os dois componentes do nervo facial penetram no
meato acústico interno, no interior do qual vão formar um tronco nervoso único, e depois penetram
no canal facial (Canal de Falópio). E isso é importante nos casos de paralisia em que o paciente relata
também uma diminuição da audição no lado lesado; ou quando relata que ao comer, o alimento cai
da boca no mesmo lado afetado. Nesse caso, devem ser examinados os nervos que passam juntos pelo
ângulo ponto-cerebelar. Deve-se pensar que o NC VIII possa ter sido lesionado nesse local. Tumores
no ângulo ponto-cerebelar, por serem oligossintomáticos, costumam ser diagnosticados tardiamente.
- O músculo estapédio (também conhecido como músculo do estribo), localizado no ouvido médio,
recebe um ramo do nervo facial: o nervo estapédio. Quando essa parte do nervo facial é afetada, o
paciente passa a sofrer com hiperacusia.
- Então, é importante lembrar que primeiramente o nervo facial entra no meato acústico interno, depois
vai para o canal facial e, por último, sai do crânio pelo forame estilomastoideo.
- Como é a propedêutica do nervo facial? Pode-se testar a motricidade, reflexos profundos e
superficiais, sensibilidade geral (relacionando o nervo intermédio/Wrisberg), funções sensoriais e
simpáticas.
- No exame de rotina, solicitamos ao paciente que realize movimentos como: Franzir a testa e assobiar
(paciente com paralisia é incapaz de franzir a teste e de assobiar). Fechar os olhos com força contra
uma resistência (para analisar se há lagoftalmia e Sinal de Bell). Dar um sorriso forçado (analisar se há
dilatação das narinas e a simetria da rima labial).
- O que é o Sinal de Bell? Existe um reflexo fisiológico chamado de reflexo pálpebro-oculogiro, o qual,
ao fechar os olhos, os globos oculares se viram para cima. Na paralisia periférica, como um dos olhos
não está completamente fechado, fica visível a esclera do olho acometido quando o globo ocular gira,
o que é chamado de Sinal de Bell.
- Rima labial lateralizada para o lado sadio (contralateral): Na paralisia há desvio da rima labial para
o lado em que a musculatura ainda está ativa. Boca fica caída no lado acometido.
- Por exemplo, na paralisia, quando o paciente bebe água, ela escorre pelo canto da boca.
- Avaliar a contração do músculo platisma: Pedir para que o paciente movimento o pescoço. Nas
paralisias faciais, a paralisia do músculo platisma é também chamada de Sinal do platisma de Babinski.
- Abrir a boca para que se avalie a simetria dos sulcos nasogenianos: Na paralisia há desaparecimento
das rugas nasogenianas.
- Testar a sensibilidade da orelha: Também é inervada pelo nervo facial. O músculo estapédio
(também conhecido como músculo do estribo), localizado no ouvido médio, recebe um ramo do
nervo facial: o nervo do estapédio. Quando essa parte do nervo facial é afetada, o paciente passa a
sofrer com hiperacusia (sensibilidade aumentada aos sons, gerando dor de ouvido), como já foi
explicado anteriormente.
- Pesquisar a sensibilidade gustativa dos 2/3 anteriores da língua para verificar se o nervo intermédio
foi atingido: Emprega-se soluções de sabor doce, salgado, amargo e ácido, com auxílio de um algodão
montado numa espátula.
- Se o nervo intermédio for acometido, pode haver redução da secreção lacrimal e salivar.
- Testar reflexo córneo-palpebral: Ao estimular a córnea com algodão na porção externa ou inferior
se espera o fechamento palpebral bilateral (reflexo de piscamento). Na paralisia facial esse reflexo
está ausente devido a paralisia do músculo orbicular (responsável pelo fechamento). Se, ao testar o
lado oposto da lesão, o reflexo córneopalpebral estiver abolido, significa que a lesão é central e, então,
o reflexo não é consensual.
- Neuropraxia: Axônios sem descontinuidade, há apenas uma falha funcional. Há bloqueio fisiológico
do nervo, sem dano estrutural. É reversível.
- Axonotmesis: Axônio degenera, mas mantém a estrutura básica (não é totalmente destruído), há
pouca destruição do tecido conectivo. Lesão de grau maior, caracterizada por dano irreversível ao
axônio por uma pressão intensa, com bloqueio para a sua nutrição; há perda da bainha de mielina e
degeneração walleriana distal ao sítio da lesão.
- Neurotmesis: Destruição anatômica do axônio e também do tecido conectivo. Ocorre uma pressão
tão intensa que o nervo é seccionado de modo que todo o tronco nervoso morre.
- A paralisia facial periférica acomete uma hemiface inteira (1/2 da face), diferentemente da paralisia
facial central que acomete 1/4 da face (um quadrante). Então, é muito importante diferenciarmos uma
paralisia facial periférica de uma paralisia facial central, visto que elas possuem causas totalmente
diferentes.
- A paralisia é causada por edema do nervo dentro do canal facial. Seu pico máximo de aparecimento
é próximo aos 40 anos, não tendo influência do sexo nem predominância do lado da face acometido.
- Fatores que pioram o prognóstico da paralisia: Idade, hipertensão arterial, perda do paladar,
persistência da dor (que não seja a dor de ouvido), paralisia maciça e completa, retardo do
atendimento (o clínico deve começar o tratamento imediatamente após definir o quadro e somente
depois deve encaminhar o paciente ao neurologista).
- Causas de paralisia facial periférica: Todas essas causas geram inflamação do nervo como evento
final, causando edema e compressão, sendo elas:
- Colírio protetor que imita lágrima e pomada Epitezan: Devido ao fechamento incompleto da fenda
palpebral, para evitar ulceras de córnea, que podem levar à perda do olho (3 dias são suficientes para
perfurá-lo). O colírio deve ser aplicado constantemente, sempre que o paciente precisar, a cada
minuto praticamente. A pomada Epitezan, à noite. Também é usada para proteger a córnea, e o
paciente deve aplicar 1 cm da pomada dentro do fundo de saco conjuntival e logo ir deitar-se (isso
vai diminuir o desconforto do embaçamento visual causado pelo uso da pomada e evita que o paciente
a retire).
- Fisioterapia específica de início imediato e massagens: Para melhorar a drenagem venosa e aporte
arterial do nervo. Consiste em massagem externa, com compressões rotatórias realizadas com a mão
espalmada sobre toda a hemiface acometida > Fazer 10 movimentos rotatórios no sentido horário e
depois mais 10 no senti anti-horário. Esses exercícios também devem ser feitos a todo momento.
- Uso de aciclovir em caso de paralisia facial por herpes vírus: Verificar aparecimento de vesículas >
Não usar corticoide, pois diminui a imunidade, podendo levar a meningoencefalia. Então, deve-se
perguntar ao paciente sobre o aparecimento de vesículas características, imaginando a hipótese de
uma paralisia facial de origem viral. Caso o paciente relatar o aparecimento de vesículas, deve-se
prescrever um antiviral, o Aciclovir.
- Uma das complicações mais encontradas é a surdez, que pode aparecer em até 15% dos casos.
- Mais de 80-90% dos pacientes voltam à normalidade total, se o tratamento for feito adequadamente.
- Hemiparesia alternada: Paralisia facial periférica associada à paralisa dos membros contralaterais. É
altamente sugestiva de lesão da ponte (acometendo o núcleo do facial e o trato corticoespinhal).
- Se a lesão for unilateral, acomete apenas a motricidade da parte inferior da hemiface contralateral à
lesão (1/4 da face).
- A inervação da metade superior de uma hemiface, recebe aferências corticais dos hemisférios
ipsilateral e contralateral. Já a inervação da musculatura da mímica da metade inferior da hemiface,
recebe apenas impulsos do hemisfério contralateral.
Geralmente é menos grave, tendo causas: Esta paralisia geralmente é mais grave, tendo
idiopática, viral, diabetes e trauma do nervo causas: AVE, tumor e abscesso cerebral
- Parte coclear: É constituída de fibras que se originam nos neurônios sensitivos do gânglio espiral e
conduzem impulsos nervosos relacionados com a audição, originados no órgão espiral (de Corti),
receptor da audição, situado na cóclea.
- Parte vestibular: É formada por fibras que se originam dos neurônios sensitivos do gânglio vestibular
(Gânglio de Scarpa), que conduzem impulsos nervosos relacionados com o equilíbrio, originados em
receptores da porção vestibular do ouvido interno. O sistema vestibular é formado por 3 canais
semicirculares (com orientação sagital, frontal e horizontal) e 2 bolsas: o sáculo e o utrículo.
- Vias auditivas: Neurônios I no gânglio espiral na cóclea > Neurônios II, núcleos cocleares dorsal e
ventral, cruzam para o lado oposto formando o corpo trapezoide > Lemnisco lateral (algumas fibras
são ipsilaterais) > Neurônios III, colículo inferior > Neurônios IV, corpo geniculado medial > Radiação
auditiva passa pela cápsula interna > Áreas auditivas do córtex (áreas 41 e 42 de Brodmann),
correspondendo ao giro temporal transverso anterior do lobo temporal.
- Vias vestibulares: Neurônios I no gânglio vestibular > Neurônios III, núcleos vestibulares > Existem
2 trajetos (a via inconsciente e via consciente) > Via inconsciente: Axônios de neurônios II dos núcleos
vestibulares formam o fascículo vestíbulocerebelar, que vai para o córtex do vestibulocerebelo > Via
consciente: Conexões entre os núcleos vestibulares e o córtex cerebral, provavelmente o lobo parietal.
- O córtex auditivo está no lobo temporal, chamada área auditiva do lobo temporal ou córtex auditivo.
Fica na parte súperomedial da primeira circunvolução temporal (giro temporal transverso anterior).
- Centros corticais primários de audição dos hemisférios são ligados entre si por fibras que passam
pelo corpo caloso. Por isso, às vezes, um paciente tem lesão do nervo no lado direito e mesmo assim
tem a sensação que sua audição não está prejudicada nesse lado.
- Na prática, cada labirinto gera impulsos tonígenos para o hemicorpo contralateral, assim quando se
estimula o labirinto esquerdo se observa desvios corpóreos para a direita e reações compensadoras
para a esquerda.
- Teste simples: Para pesquisa inicial da audição, uma forma mais simples de se verificar a acuidade
auditiva (ao invés de usar o diapasão) é se posicionar em frente ao paciente, pedir para que ele fechar
os olhos e esfregar o polegar e o indicador próximos às orelhas direita e esquerda, primeiramente de
um lado e depois do outro, e pedir para que ele identifique de qual lado vêm os sons.
- Uso do diapasão: Testar acuidade auditiva para diferenciar se a perda é por condução aérea ou óssea.
- Perda auditiva de condução (PAC): É aquela em razão da deficiência da condução do som até a
cóclea e pode ser causada por oclusão do meato acústico externo, doença da orelha média (p. ex.,
otite) ou anormalidade da cadeia de ossículos (p. ex., otosclerose).
- Perda auditiva neurossensorial (PAN): É causada por doença da cóclea (p. ex., doença de Ménière)
ou do VIII (Por exemplo, neuroma acústico).
- Teste de Rinne: O teste de Rinne compara a condução aérea (CA) e a condução óssea (CO); há pelo
menos duas maneiras de realizá-lo. Pode-se colocar um diapasão ativado primeiro sobre o processo
mastoide e, depois, imediatamente ao lado da orelha (ou vice-versa), em seguida, pergunta-se ao
paciente qual é o mais intenso; sempre deve ser mais intenso ao lado da orelha (CA > CO). O método
tradicional mais demorado é pôr o diapasão sobre o processo mastoide e, quando o paciente não
estiver mais ouvindo, transferi-lo para o lado da orelha, onde ainda deve ser audível. O tempo de
audição do diapasão deve ser duas vezes maior por CA que por CO. O teste de Rinne é normal ou
positivo quando a CA é melhor que a CO por avaliação subjetiva da intensidade percebida ou pelo
tempo em que o diapasão é ouvido nos dois locais. Na PAC, a CO é melhor que a CA, e o teste de
Rinne é negativo. O som não é conduzido normalmente pelo canal ou da membrana timpânica até a
cóclea, pela cadeia de ossículos, mas os mecanismos neurossensoriais estão intactos; a CA está
comprometida, mas a CO está preservada. Na PAC, a CO pode até mesmo ser exagerada porque a
cavidade da orelha média torna-se câmara de ressonância. Na surdez neurossensorial, tanto a CA
quanto a CO estão comprometidas, mas há preservação da relação normal de CA melhor que CO; o
teste de Rinne é positivo ou normal. Na surdez neurossensorial intensa, pode haver perda da CO, mas
leve preservação da CA. Em virtude do uso irregular dos termos positivo e negativo, é preferível afirmar
que a CA é melhor que a CO ou que o teste de Rinne é normal.
- Teste de Weber: No teste de Weber, um diapasão em vibração é posto na linha mediana sobre o
vértice do crânio. Pode ser posicionado em qualquer ponto na linha mediana, sobre a ponte do nariz,
a fronte ou a maxila, mas o resultado melhor é sobre o vértice. Normalmente, o som é ouvido de
modo igual nas duas orelhas ou parece ressoar em qualquer local no centro da cabeça; “não é
lateralizado”. Na PAC, o som é mais bem ouvido (“lateralizado”) no lado acometido. Um método
simples para que o examinador se lembre desse fenômeno é pôr um diapasão sobre o próprio vértice
e induzir a perda de condução pela inserção de um dedo em uma orelha; o som será mais intenso no
lado ocluído. Na surdez neurossensorial, ouve-se melhor o som na orelha normal.
- Prova de Schwalbach: Nesse teste, o examinador tocará a mastoide do paciente com o diapasão em
ativa vibração e solicitará que ele informe quando deixar de escutar o som. Explique ao paciente que
você está interessado na audição e não na sensibilidade vibratória, para evitar erros de interpretação.
Após o paciente informar que não mais escuta, o examinador imediatamente leva o diapasão à sua
própria mastoide. Admitindo que a audição do examinador esteja preservada, se este último continua
a perceber o som, infere-se a deficiência auditiva do paciente.
- Resumindo: Prova de Rinne faz a comparação entre o tempo de percepção de condução óssea e
aérea. Você bate o diapasão, coloca na mastoide (condução óssea), em seguida, coloca junto do
conduto auditivo (condução aérea). Daí você verifica se ele ouve o som tanto com o aparelho em
contato com o osso como sem o contato. Rinne normal ou positivo é o paciente ouvir mais alto na
condução aérea. Prova de Weber faz a lateralização das vibrações do diapasão ao colocá-lo no vértex
do crânio. Você bate o diapasão, coloca no topo da cabeça (linha média), e pergunta se o paciente
escuta igual dos dois lados. Prova de Schwalbach compara a percepção da vibração óssea do paciente
com uma pessoa normal.
- Surdez unilateral de condução: Perdas entre limites de 128-1024 Hz. Perda da audição por via aérea
conservando-se a via óssea. Pode ser lesões de ouvido médio e externo, rolha de cerume. Schwalbach
normal ou aumentado, Rinne negativo e Weber lateralizado para o lado lesado.
- Surdez unilateral de percepção neurossensorial: Perdas de audição para tons mais altos. Perda da
audição por via aérea e óssea (lesões da cóclea ou do nervo auditivo). Schwalbach diminuído, Rinne
positivo e Weber lateraliza para lado não afetado.
- Otoscopia: O exame otológico precede-se por otoscopia. Visualizar e avaliar a presença de cerume
impactado, que pode interferir na audição.
- Audiometria: É feita pelo Otorrinolaringologista. O paciente entra em uma cabine e o técnico coloca
sons em diferentes decibéis e hertz. O paciente vai indicando se está ouvindo ou não pressionando
um botão. Assim, é feita uma medida linear de quanto ele escuta. A audiometria não é muito utilizada
no cotidiano, mas adquire importância em tumores ponto-cerebelares, os quais podem estar
relacionados ao meato acústico interno, por onde passa o nervo acústico, o que irá comprometer a
audição. Deve-se analisar a audição nesse paciente antes e após a cirurgia para a retirada do tumor.
- Um tumor ou um AVC, assim como uma lesão no lobo temporal pode causar surdez, mas é raro.
- Cada labirinto gera estímulos para o próprio lado, sendo que o tônus fica contralateral. Portanto,
quando o labirinto esquerdo é estimulado, há um desvio corporal para a direita. O mesmo vale para
o outro lado.
- Como dito anteriormente, lesões que são destrutivas provocam desequilíbrios homolaterais e lesões
irritativas geralmente provocam desequilíbrios contralaterais.
- O sistema vestibular está ligado ao tônus postural, ao equilíbrio estático e dinâmico. O controle
ocorre pelo recebimento de orientações determinadas pelos movimentos da cabeça, que movimentam
a endolinfa e estimulam as terminações nervosas livres presentes nas células do epitélio ciliar.
- Romberg clássico (funicular): Queda para qualquer lado e imediatamente após interromper a visão,
indicando lesão das vias de sensibilidade proprioceptiva consciente (raízes dorsais e funículo posterior
da medula).
- Prova de indicação de Bárány (dedos embicados): Dedos indicadores do paciente se alinham aos
dedos indicadores do examinador, com os membros estendidos para o horizonte. Pede-se, então, para
que o paciente feche os olhos. O normal é não desalinhar os dedos. Se houver desvio nos dois
membros superiores = disfunção vestibular. Se em só um membro = disfunção cerebelar.
- Potencial evocado: Consiste na emissão de um estímulo e dosar por determinadas provas qual é a
sensibilização do tronco encefálico a esse estímulo, que pode ser tanto visual como auditivo.
- Potencial evocado visual: Avalia a transmissão da imagem desde o nervo óptico até a área do córtex
cerebral responsável pela visão, situada no lobo occipital.
- Potencial evocado auditivo: Consiste no registro da atividade elétrica que ocorre no sistema auditivo,
da orelha interna até o tronco encefálico, decorrente da apresentação de um estímulo acústico. É um
exame objetivo simples e não invasivo para avaliação da função auditiva e tem sido amplamente
utilizado para a detecção de perdas auditivas em crianças, uma vez que não requer a colaboração do
paciente. Permite fazer o diagnóstico de alterações no limiar auditivo, caracterizando o tipo de perda
auditiva, identificar alterações retrococleares ou relacionadas ao sistema nervoso central e avaliar a
maturação do sistema auditivo central em neonato.
- Lesões do sistema vestibular periférico, labirinto posterior ou da via vestibular: São diagnosticadas
com a presença de nistagmo, vertigens de caráter rotatório, desvios posturais estato-cinéticos (não se
consegue parar na mesma posição). Os distúrbios normalmente são proporcionais entre si, e a direção
varia com mudança de posição da cabeça.
- A destruição do labirinto direito causa os mesmos sintomas que a irritação do labirinto esquerdo.
- Nistagmo vestibular: Lesões do sistema vestibular, em que os movimentos dos globos oculares são
desiguais nas 2 direções, distinguindo-se uma contração lenta e uma rápida. O olho vai rapidamente
para um lado e volta lentamente para o outro. Por convenção o sentido que é dado ao nistagmo é o
da fase rápida. Exemplo: Nistagmo para direita é sinal de que a contração rápida é para a direita.
- Testes de nistagmo: Na prova calórica, na prova de rotação, reflexo dos olhos de boneca e
nistagmografia.
- Nistagmo na prova calórica: Parte do protocolo de morte encefálica (ME). Com a estimulação do
ouvido médio com água gelada, o paciente deve mover os olhos para o lado estimulado se o tronco
encefálico estiver funcionando. Esse reflexo deve acontecer em até 30 segundos para que o paciente
não seja declarado com ME, ou seja, existe essa latência que pode demorar até 30 segundos
- Reflexo dos olhos de boneca (reflexo oculocefálico): Ao se girar a cabeça do paciente num sentido,
os olhos movimentam-se no sentido oposto.
- Vertigem oscilatória: Se parece mais com a sensação de estar em um barco, ou pisando em falso. A
sensação de estar oscilando em várias direções pode traduzir um comprometimento não vestibular
como nas neuropatias periféricas e nas lesões cerebelares difusas.
- Neurinomas de ângulo ponto-cerebelar: Correspondem a uma das patologias mais comuns do nervo
vestibulococlear. São tumores formados por células de Schwann que crescem comprimindo o próprio
nervo e também os nervos facial e intermédio. Usualmente, esses tumores começam a crescer dentro
do meato acústico interno e, pela presença do osso, se projetam para fora, comprimindo o tronco
encefálico (ângulo ponto-cerebelar). São 3 tipos de neurinomas: Tipos 1, 2 e 3 (essa classificação é
referente ao seu tamanho e contato com o tronco encefálico).
- A anatomia é caracterizada por uma região de acesso difícil, é um nervo que possui muitas
anastomoses, principalmente com o nervo vago.
- O glossofaríngeo é um nervo misto, que emerge do sulco lateral posterior do bulbo sob a forma de
filamentos radiculares, que se dispõem em linha vertical. Esses filamentos reúnem-se para formar o
tronco do nervo glossofaríngeo, que sai do crânio pelo forame jugular.
- Em seu trajeto, através do forame jugular, o nervo glossofaríngeo apresenta dois gânglios: 1) Gânglio
superior (ou jugular), 2) Gânglio inferior (ou petroso), formados por neurônios sensitivos. Ao sair do
crânio, o nervo glossofaríngeo tem trajeto descendente, ramificando-se na raiz da língua e na faringe.
- As fibras mais importantes do nervo glossofaríngeo são as fibras aferentes viscerais gerais,
responsáveis pela sensibilidade geral e gustativa do 1/3 posterior da língua, faringe, úvula e tonsila.
Sabores de doce, salgado, ácido e amargo. Sensibilidade tátil, dolorosa e térmica.
- A sensibilidade gustativa do 2/3 anteriores da língua é dada pelo nervo facial (nervo corda do
tímpano), como foi explicado anteriormente na página 23.
- Hipogeusia: Diminuição do paladar.
- Lesões isoladas são raras e os sintomas são quase imperceptíveis (perda do paladar no 1/3 posterior
da língua e perda do reflexo do engasgo no lado afetado). Geralmente estão acompanhadas de lesão
nos nervos vizinhos (infecção ou tumor). Muito acometidos em processos tumorais dessa região estão
os nervos IX, X, XI, que saem do canal jugular.
- O único músculo que recebe inervação motora apenas do glossofaríngeo é o músculo estilofaríngeo.
Portanto, o único déficit que poderia ser detectável é uma leve redução do arco palatino em repouso
no lado acometido. Outras funções motoras palatina são mediadas pelo NC X ou pela ação conjunta
dos dois nervos.
Nervo Vago (NC X)
- O nervo vago é o maior dos nervos cranianos e, como dito anteriormente, é difícil diferenciá-lo do
nervo glossofaríngeo, e, portanto, é comum estudarmos a propedêutica dos dois nervos juntos.
- Anatomia: Emerge do sulco lateral posterior do bulbo (sulco pós-olivar, caudal ao NC IX) sob a forma
de filamentos radiculares que se reúnem para formar o nervo vago. Este emerge do crânio pelo forame
jugular, percorre o pescoço e o tórax, terminando no abdome. Neste longo trajeto, o nervo vago dá
origem a numerosos ramos que inervam a laringe e a faringe, entrando na formação dos plexos
viscerais que promovem a inervação autônoma das vísceras torácicas e abdominais.
- Componentes funcionais das fibras do NC X: Fibras aferentes viscerais gerais, eferentes viscerais
gerais e eferentes viscerais especiais.
- Fibras aferentes viscerais gerais: Muito numerosas, conduzem impulsos aferentes originados na
faringe, laringe, traqueia, esôfago, vísceras do tórax e abdome.
- Fibras eferentes viscerais gerais: São responsáveis pela inervação parassimpática das vísceras
torácicas e abdominais.
- Fibras eferentes viscerais especiais: Inervam os músculos da faringe e da laringe. O nervo motor
mais importante da laringe é o nervo laríngeo recorrente, cujas fibras, entretanto, são, em grande parte,
originadas no ramo interno do nervo acessório.
- Como é a semiologia do NC X?
- Avaliação da deglutição: Lembrar que a deglutição depende dos nervos: Facial, glossofaríngeo, vago,
acessório e hipoglosso.
- Reflexo palatino ou uveal: Estímulo lateral e inferior da úvula > Elevação do palato e retração
concomitante da úvula. Está relacionado ao Reflexo da Cortina de Vernet > Lesão de um lado do
glossofaríngeo, quando se emite o som “Aaaaaah” há o repuxamento para o lado são do véu palatino.
- Lesão glossofaríngea-pneumogástrica: Leva à disfagia, por paralisia dos músculos faríngeos (paralisia
isolada de apenas um músculo não gera disfagia).
- Reflexo do seio carotídeo: Veiculado pelo nervo vago, o seio carotídeo exerce importância contínua
na homeostasia circulatória cerebral. Fisiologicamente os baroceptores do seio carotídeo diminuem a
FC e o tônus simpáticovascular conforme o aumento da pressão arterial.
- Formas graves de Guillain-Barré Landry e miastenia gravis podem afetar o nervo vago.
- Síndrome vasovagal: A síncope vasovagal é a causa mais comum de síncope entre todas as etiologias.
Síncope é a perda súbita e breve da consciência e do tônus postural devido à hipoperfusão cerebral.
Tem como causas estímulos deflagrados pela emoção, dor, calor, estresse ortostático, desidratação,
estado pós-prandial, uso de álcool, etc. Costuma ter sua primeira apresentação ainda na idade mais
jovem, especialmente na adolescência. Os sintomas pródromos (sintomas que precedem o evento)
mais comuns da síncope vasovagal são: Palidez cutânea, náuseas, dor abdominal, fraqueza, sudorese,
visão turva e tontura, porém alguns indivíduos não apresentam nenhum tipo de pródromos. A
fisiopatologia da síncope vasovagal não está complemente esclarecida, contudo, pode ser explicada
por uma ativação inadequada do nervo vago cursando com vasodilatação e bradicardia reflexa.
- Lesões unilaterais do núcleo ambíguo: Causam disartria e disfagia, sendo raramente graves.
- Lesão do nervo laríngeo recorrente: Gera disfagia, anestesia da parte superior da laringe e paralisia
do músculo cricotireóideo, voz fraca, afonia, estridor respiratório.
- O NC X inerva as pregas vocais: O movimento normal das pregas vocais é necessário para três
funções vitais (respiração, tosse e fala). Durante a inspiração e a expiração, há abdução das pregas
para possibilitar o livre fluxo de ar; na fala, há adução e vibração das pregas para a fonação. Também
há adução das pregas durante a tosse. Os movimentos dos vários músculos pequenos que controlam
a laringe são complexos e têm diferentes efeitos sobre a função da laringe.
- A causa mais comum de paralisia das pregas vocais é a lesão de um nervo laríngeo recorrente.
- A raiz espinhal é formada por filamentos radiculares que emergem da face lateral dos cinco ou seis
primeiros segmentos cervicais da medula e constituem um tronco comum que penetra no crânio pelo
forame magno. A este tronco reúnem-se os filamentos da raiz craniana que emergem do sulco lateral
posterior do bulbo (sulco pós-olivar).
- O tronco comum atravessa o forame jugular em companhia dos nervos glossofaríngeo e vago, e se
divide em: ramo interno e ramo externo.
- Ramo interno: Contém as fibras da raiz craniana, reúne-se ao nervo vago e distribui-se com ele,
inervando a laringe, cordas vocais etc.
- Ramo externo: Contém as fibras da raiz espinhal, tem um trajeto próprio e, dirigindo-se obliquamente
para baixo, inerva os músculos trapézio (estende a cabeça – lesão unilateral causa abaixamento do
ombro) e esternocleidomastoideo (flete a cabeça, inclina-a para o mesmo lado e gira a face para o
lado oposto). Está também relacionado à fala devido à inervação das cordas vocais.
- Semiologia do esternocleidomastoideo: Solicita-se ao paciente que vire a cabeça livremente e contra
resistência. Compara-se a força e a massa muscular de ambos os lados.
- Trapézio: Paciente eleva os ombros livremente e contra resistência. Na lesão do nervo acessório, o
ombro do lado afetado fica caído e nota-se atrofia dos músculos envolvidos.
- Alterações motoras: Esternocleidomastoideo tem dificuldade de girar a face para o lado oposto. No
trapézio, o ombro do lado afetado fica caído e atrófico.
Nervo Hipoglosso (NC XII)
- O nervo hipoglosso é essencialmente motor. Inerva os músculos intrínsecos e extrínsecos da língua.
- Emerge do sulco lateral anterior do bulbo (pré-olivar) sob a forma de filamentos radiculares que se
unem para formar o tronco do nervo. Saem do crânio pelo canal do hipoglosso, com trajeto
inicialmente descendente, dirigindo-se, a seguir, para os outros sentidos e distribuindo-se aos
músculos intrínsecos e extrínsecos da língua.
- Solicita-se ao paciente que exteriorize a língua. A exteriorização da língua depende dos músculos
genioglossos. Cada genioglosso puxa a língua para a frente e a desvia para o lado oposto.
- Na síndrome piramidal, além da paralisia da porção inferior da face, pode haver desvio da ponta da
língua para o lado paralisado, ao ser exteriorizada. Este fenômeno se deve à inervação quase
exclusivamente unilateral da porção do núcleo do hipoglosso que é responsável pela inervação do
músculo genioglosso. Assim, por exemplo, em caso de hemiparesia esquerda em que os membros
esquerdos e a hemiface esquerda são afetados, ou hemiparesia completa, a língua pode desviar-se
para a esquerda.
- Causas que podem afetar o nervo hipoglosso: Processos degenerativos, infecciosos e tumores
bulbares.
Aula 02 - Hipertensão Intracraniana (Dr. João Bandeira)
- Conceito: Pressão intracraniana (PIC) é a relação entre o conteúdo da caixa craniana (inelástica) e o
seu volume, tendo como referência a pressão atmosférica. É uma das maiores emergências médicas
que podemos atender, o raciocínio deve ser extremamente rápido.
Histórico
- 1760, Lorry: Ao apertar o crânio em pacientes traumatizados, ocorria disfunções neurológicas.
- 1766, Von Haller: Descobriu que o aumento da PIC tinha relação direta com a consciência.
- 1842, Magendie: Apertando a meningomielocele, a fontanela anterior se mexia fazendo protusão.
- 1866, Leyden: Quando a PIC > Pressão Arterial Média (PAM) o paciente ia a óbito.
- 1891, Spencer e Horsley: Análise de cadáveres mostravam pedaços de cerebelo no forame magno.
- 1920, Meyer: Descreveu as hérnias cerebrais internas.
- 1938, Jefferson: Descreveu as hemorragias de tronco cerebral (hemorragias pontinas). Quando
ocorrem herniações ascendentes e descendentes, ocorrem pequenos sangramentos principalmente no
interior da ponte por tração dessas artérias.
- 1959, Thompson: Fez um ensaio colocando um balão inflável no interior do cérebro e ia percebendo
as alterações de consciência, pupilares, parada respiratória e óbito.
- 1960, Lundberg: Descreveu as ondas de pressão.
- 1969, Langfitt: Descreveu a curva de pressão X volume.
- 1974, Symon: Fez um trabalho correlacionando balão inflável X hérnias cerebrais internas X pupila
e respiração.
- O crânio de um adulto pode ser considerado uma esfera oca de paredes rígidas e inelásticas.
- Forame magno: Cavidade que se comunica com o exterior por uma abertura ampla, onde passa a
medula.
- Foice cerebral: É um septo vertical mediano em forma de foice que ocupa a fissura longitudinal do
cérebro, dividindo o compartimento supratentorial em 2 hemisférios: direito e esquerdo.
- Seios ímpares: São 3 relacionados com a abóbada/calvária craniana (sagital superior, sagital inferior
e seio reto) e 3 relacionados com a base do crânio (intercavernoso anterior, intercavernoso posterior,
plexo basilar).
- Seios pares: Estão situados na base do crânio (esfenoparietal, cavernoso, petroso superior, petroso
inferior, transverso, sigmoide, occipital).
- Seio sagital superior: Situa-se na borda superior e acompanha a foice do cérebro em toda sua
extensão.
- Seio sagital inferior: Ocupa 2/3 posteriores da borda inferior da parte livre da foice do cérebro.
- Seio reto: Situado na junção da foice do cérebro com a tenda do cerebelo. Anteriormente recebe o
seio sagital inferior e a veia magna do cérebro (de Galeno, que é formada pelas veias cerebrais internas
do cérebro) e posteriormente desemboca na confluência dos seios.
Fisiologia
- A pressão intracraniana (PIC) é igual ao volume das estruturas que tem dentro (encéfalo + sangue +
LCR). Então, PIC é igual ao volume (encéfalo + sangue + LCR). O fluxo sanguíneo cerebral (FSC) é
diretamente proporcional à pressão de perfusão cerebral (PPC) e inversamente proporcional à
resistência vascular cerebral (RVC). PPC é igual à pressão arterial média (PAM) menos a pressão
venosa (PV), ou seja, PPC = PAM - PV. Como no homem a pressão nos seios venosos é difícil de ser
medida e ela é similar à PIC, substitui-se a PV pela PIC, ficando, então, PPC = PAM - PIC.
- Quanto maior a PIC, menor é a PPC (isso pode levar a uma isquemia focal ou global). Quando a PIC
é superior ou se iguala à PAM, não há mais perfusão cerebral, sendo que o tecido cerebral vai à óbito
após 5 minutos de sofrimento.
- Os vasos intracranianos podem ser divididos em: Sistemas de condução, de resistência, de trocas e
de depósito ou reservatório.
- Sistema de condução: Formado pelas grandes artérias e pelas artérias superficiais do cérebro, esse
sistema é o responsável por uma boa parte da resistência vascular cerebral.
- Sistema de trocas: Constituído pelos capilares, onde ocorre a maioria das trocas.
- A produção de líquor gira em torno de 0,37 ml/min (0,3 a 0,4 ml/min), principalmente nos plexos
coroides dos ventrículos laterais. A produção demanda alta energia e alto fluxo sanguíneo, na falta
destes, a produção de LCR diminui.
- Circulação do líquor: O líquor circula nos ventrículos laterais > Forame de Monroe (interventricular)
> III ventrículo > Aqueduto cerebral > IV ventrículo > Forame de Luschka (2 aberturas laterais) e
Magendie (1 abertura medial) > Cisternas basais.
- A propagação do líquor nos diversos espaços do SNC é atribuída ao efeito de “martelo d’água”,
exercido pelas pulsações cardíacas nas artérias do plexo coroide, o qual provoca uma onda de pressão.
- Reabsorção do líquor: Ocorre nas vilosidades aracnoideas, ao longo do seio sagital, através de um
mecanismo passivo do tipo valvular unidirecional. Quando a pressão liquórica atinge 5mm/H2O,
mecanismos valvulares permitem o escoamento do LCR, para dentro do sistema venoso. As alterações
da circulação liquórica que podem levar à hidrocefalia e HIC são aquelas que causam obstrução ou
da circulação liquórica ou dificuldade na reabsorção do LCR.
- A doutrina de Monroe-Kellie fala que essas estruturas estão em constante equilíbrio (homeostasia).
Basicamente, as doenças que provocam HIC o fazem por um ou mais dos seguintes mecanismos:
- Ciclo vicioso do edema cerebral: Lesão de hemisférios cerebral > Edema cerebral > Aumenta a
pressão intracraniana (PIC) > Queda da pressão de perfusão cerebral (PPC) > Isquemia > Acúmulo de
CO2, gerando quadro de acidose > Cérebro entende que está faltando circulação > Vasodilatação
(↓RVP) > Aumenta a pressão intracraniana (PIC).
- Nas fases tardias, os mecanismos de compensação não fazem mais efeito (exaustão) e um mínimo
aumento de volume gera um aumento muito grande de pressão. Na fase de descompensação, as
artérias contraem, gerando menor volume de deslocamento de sangue arterial para o sistema nervoso,
isso faz uma parada do fluxo sanguíneo cerebral, levando ao óbito. Um tumor pode demorar 10 anos
para atingir o ponto de descompensação e uma hemorragia pode demorar 5 minutos, indicando que
os mecanismos compensatórios podem não ser suficientes sempre. Às vezes, as hérnias já vão
ocorrendo simultaneamente, de maneira menor. Vai colabando o vaso, sai o líquor, hérnia e tudo.
- Elastância: Nada mais é do que o aumento de pressão intracraniana por unidade de volume
acrescentado ao compartimento.
Causas de Hipertensão Intracraniana
- Traumatismo cranioencefálico: Causa mais importante, tendo como consequências os hematomas
subdurais, subcariais, epidurais/extradurais, contusões cerebrais, edema (Brain Swelling).
- Hemorragia cerebral: Corresponde aos aneurismas, HAS, trombose do seio sagital superior,
malformações arteriovenosas.
- Abcessos/infecções: Acúmulo de secreção purulenta que forma uma cavidade. Pode ser complicação
de sinusite, otite ou até mesmo endocardites.
Quadro Clínico
- Tríade da hipertensão intracraniana: Cefaleia + Vômitos + Papiledema.
- Cefaleia: Piora durante a noite (noturna). Paciente deita e dificulta o retorno venoso, aumentando a
pressão intracraniana. Paciente acorda com dor holocraniana, de forte intensidade, compressiva,
contínua, persistente, acompanhada de vômitos matinais. Costuma melhorar quando o paciente
levanta após os episódios de vômitos.
- Vômitos: São vômitos em jato (não precedidos de náuseas, enjoo e alimentação). Os vômitos são
desencadeados por alterações centro específicas, por estiramento ou distorção do assoalho do IV
ventrículo. O vômito decorrente do acúmulo de CO2 durante o sono alivia a cefaleia pela diminuição
do edema cerebral que se segue à hiperventilação provocada pelo ato de vomitar.
- Pode ocorrer alterações de pares cranianos, como paresia do nervo abducente (o paciente tem
diplopia, enxergando duplo), Síndrome de Parinaud (paresia do oculomotor, não move o reto
superior), alterações pupilares também.
- Na HIC grave pode haver o rebaixamento do nível de consciência e chegar até o estado de coma.
Fenômenos responsáveis: Compressão unilateral ou bilateral do tálamo e do mesencéfalo (sistema
reticular ascendente) e hipofluxo cerebral (pela redução da perfusão cerebral). Alterações respiratórias
(Cheynes-Stokes, hiperpneia central) + Reflexo de Cushing: Hipertensão arterial e bradicardia =
indicativos de HIC grave. O reflexo de Cushing tenta proteger o fluxo cerebral já que tenta elevar a
PAM. Por isso que devemos ter muito cuidado ao tentar abaixar a PA, pois é um mecanismo reflexo,
ela está elevada para preservar a função cerebral.
- Hérnias cerebrais internas: São um desvio de alguma estrutura. É um efeito secundário da HIC.
- Hérnia de úncus: É uma hérnia transtentorial descendente. Porque ela passa pelo tentório do cerebelo
e vai para baixo. É o tipo de hérnia mais comum. Ocorre quando um aumento de volume do andar
supratentorial, unilateral ou bilateral, força o cérebro para baixo através da incisura da tenda/tentório
do cerebelo. Essa herniação pode causar um sulco deixado pela borda livre da tenda e pode comprimir
o mesencéfalo e o nervo oculomotor.
- Ainda sobre a hérnia de úncus, temos que saber que o úncus é a porção mais medial do lobo
temporal, então, quando ocorre um aumento de volume na região temporal, ocorre a herniação da
porção medial do lobo temporal sobre o bordo livre da tenda.
- Temos alguns sinais causados por essa herniação. Pode ocorrer dilatação da pupila (midríase)
ipsilateral à hérnia, por compressão e paralisia do nervo oculomotor, deixando o paciente anisocórico.
Esse é o primeiro sinal. O paciente pode ter dor de cabeça, obviamente; alteração do nível de
consciência. Às vezes, essa compressão é tão grande que pode comprimir os dois nervos
oculomotores, fazendo uma midríase bilateral. Pode fazer uma descerebração postural do lado oposto
ao da midríase (extensão dos membros inferiores e superiores + adução, extensão e rotação interna
dos ombros, cotovelos e punhos). Isso ocorre por lesão do trato piramidal. Outros sinais podem estar
presentes, como hemiparesia, alteração da respiração, bradicardia e hipertensão.
- Hérnia transtentorial ascendente: Menos frequente. Principal causa é iatrogenia. Lesão expansiva
na fossa posterior, pelo gradiente de pressão entre esse compartimento anatômico, a fossa
supratentorial e o espaço raquidiano, pode provocar deslocamento cerebelar em direção a tenda
cerebelar.
Exames Complementares
- Radiografia do crânio: Podemos ter sinais indiretos de hipertensão
intracraniana. É importante conhecermos esses sinais, pois, às vezes,
sem querer podemos chegar ao diagnóstico de HIC por meio de um
raio-x. Sinal da prata batida: São impressões digitiformes no crânio
causadas pela pressão das circunvoluções do cérebro no osso. Esse
sinal pode indicar uma hipertensão intracraniana crônica. Absorção
da porção clinóide posterior: Reabsorção óssea/erosão por conta do
aumento da pressão. Diástase de suturas: Afastamento das suturas,
indicando hipertensão intracraniana crônica. Ocorre em crianças e
adultos jovens. Calcificações intracranianas: Sugestivas de alguns
tumores. Também temos calcificações fisiológicas, da glândula pineal
e plexos coroides. Por meio do raio-x também é possível verificar um
desvio da glândula pineal e um aumento da sela túrcica do esfenoide.
- Ressonância magnética nuclear: Como dito anteriormente, é melhor para analisar a fossa posterior.
- Angiografia cerebral: Usados na suspeita de alterações arteriais. Por meio da injeção de contraste
através das artérias teremos imagens que podem nos mostrar uma malformação arteriosa, ou um
meningioma, que tem uma irrigação muito significativa.
- Medidas gerais: Temos a proteção das vias aéreas, pois se o paciente está com Glasgow < 8 começa
a obstruir as vias aéreas e ventilar mal, retendo CO2, gerando hipóxia e vasodilatação cerebral (piora
ainda mais o quadro). Fazer sedação, relaxamento da musculatura para impedir vômitos e aspiração,
e, em seguida, fazer rápido a intubação orotraqueal com cânula de Guedel. Ventilação adequada é
fundamental e a pessoa mais experiente do local deve iniciar o procedimento. Elevação da cabeceira
(30 a 45º): Para favorecer o retorno venoso e diminuir a PIC. Posição neutra da cabeça: Para não
comprimir as jugulares e aumentar o retorno venoso. Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos: Eles
podem agravar a HIC, principalmente a hiponatremia, portanto a hidratação sempre deve ser feita,
procurando a manutenção da homeostase.
- Redução da produção liquórica: Usar Acetazolamida. Se o paciente está com hidrocefalia. Usar um
diurético ou inibidor da anidrase carbônica. É uma forma de “ganhar tempo” até que outros
tratamentos específicos sejam providenciados.
- Drenagem de LCR por via craniana: Casos de hidrocefalia extrema com hérnias. Fazer drenagem
ventricular com cateter e deixar a pressão em torno de 20 mmHg que seria a pressão normal. Não
fazer por via lombar!
- Hiperventilação: Sedação > Analgesia potente > Relaxamento da musculatura > Ventilação
mecânica em frequência respiratória elevada para eliminar o excesso de CO2 (deixar em torno de 30-
35 mmHg) e promover vasoconstrição > Diminuição da pressão intracraniana. Eficiente até o 3º ou 4º
dia. Cuidar para não gerar uma hiperventilação tão intensa a ponto de a vasoconstrição gerar isquemia.
- Barbitúricos (Tiopental): Diminui a atividade elétrica do cérebro (põe o cérebro para dormir) >
Diminui metabolismo cerebral > Diminui edema.
- Solução salina hipertônica: Funciona bem em um primeiro momento, porém gera muitos distúrbios
hidroeletrolíticos, não sendo muito utilizado na prática. Não tem importância.
- Hipotermia: Funciona em alguns casos graves e refratários, como última opção. Coloca-se gelo perto
da cabeça para diminuir o fluxo sanguíneo e o metabolismo cerebral.
- Corticoide: Para casos específicos, como uma lesão tumoral com edema perilesional.
- Neurocirurgia: Pode ser feita uma ventriculostomia com monitorização (tratamento precoce, deve-
se retirar um pouco de líquor até que a pressão se regularize). Craniotomia descompressiva: Retira um
pedaço do osso do crânio e deixa sem até que se reduza a PIC. Lobotomia: Conhecida também como
descompressão interna, técnica agressiva, que nada mais é que a retirada dos locais que estão sendo
afetados, “arranjando” espaço dentro do crânio. Retirada do tumor pode ser feita também.
- Conclusão: A HIC é uma emergência médica, tendo a tríade de cefaleia + vômitos + papiledema.
Nunca deve se realizar a punção lombar, e lembrar que a descompensação pode ser muito rápida.
Casos Clínicos
- Caso clínico 1: Paciente do sexo feminino, branca, 33 anos. QP:
Cefaleia. Exame físico: Escala de coma de Glasgow: 15, acordada,
lúcida, papiledema bilateral, paresia facial à direita, com discreto
apagamento do sulco nasolabial. À ressonância, tem uma enorme
lesão, ao lado direito, com desvio da linha média. Nesse caso,
provavelmente seria uma hérnia do giro do cíngulo.
- Caso clínico 6: Ao lado direito da imagem abaixo vemos uma tomografia normal. A linha média bem
centrada, o plexo coroide, um de cada lado, na altura do terceiro ventrículo. Não se esqueçam de
traçar a linha média. Às vezes tem desvio, hematomas, coleções podem desviar. Do lado esquerdo
temos uma hidrocefalia, um aumento do tamanho dos ventrículos. Paciente com HIC. Essa paciente
estava com queixa de dor de cabeça, com alteração leve da parte comportamental. Estava mais quieta.
Ela emagreceu 15 kg, pois quando ia comer, tinha náuseas. Fizemos uma tomografia, tinha uma
hidrocefalia enorme. Quando foi colocado um cateter, espirrou líquor, ou seja, a PIC estava enorme.
Às vezes, tem variações do que o livro traz. Nem sempre é bem aquilo.
- Caso clínico 9: É um meningioma. Qual a conduta? Glasgow 15, sem déficit motor. Geralmente esses
tumores são de crescimento lento, o cérebro vai sendo complacente, deixa o tumor crescer.
Normalmente tem crise convulsiva. Corticoide, anticonvulsivante, diurético, cabeceira elevada, até
que seja encaminhado para cirurgia.
- Caso clínico 10: Hematoma subdural crônico. Paciente com Glasgow 15, somente hemiparesia.
Enorme desvio da linha média. Faz cirurgia de hematoma subdural agudo.
“Quando estivermos em frente a um paciente com HIC, temos que ter um comprometimento muito
grande, devemos ser proativos, fazer um encaminhamento adequado. Não somos nós que vamos
resolver, mas devemos fazer o mais adequado para alguém resolver. Para isso descompensar, é muito
rápido. A partir do momento que vocês fazem o diagnóstico de maneira adequada, isso é o
fundamental. Devemos ser bons médicos, comprometidos com o paciente.”
Aula 03 - Epilepsias (Dr. Renato Endler)
- Epidemiologia: 50 milhões de pessoas com epilepsia.
- Primeiro, temos que conhecer as definições, para diferenciar crise epiléptica, convulsão e epilepsia.
- Definições: Uma crise epiléptica é resultante de uma disfunção fisiológica temporária do cérebro
causada por uma descarga elétrica hipersincrônica anormal e autolimitada de neurônios corticais.
Uma convulsão é um evento epiléptico transitório, um sintoma de distúrbio cerebral. Nem todas
convulsões indicam epilepsia. A epilepsia é um transtorno crônico, ou um grupo de transtornos
crônicos, em que a característica indispensável é a recorrência das crises convulsivas que são
tipicamente não provocadas e em geral imprevisíveis.
Causas de convulsão
Crises epilépticas
- As crises epilépticas podem ser divididas em:
- Focais/parciais.
- Generalizadas.
- Síndrome de West.
- Epilepsia de ausência (Pequeno mal epiléptico).
- Síndrome de Lennox-Gastaut.
- Síndrome de Janz (Epilepsia mioclônica juvenil).
- Crise epiléptica parcial simples ou perceptiva: É um sintoma focal (de uma determinada área
cortical), sem alteração de consciência, ou seja, o paciente percebe que está tendo a crise, ele não
está inconsciente. É autolimitada, causada por uma descarga cerebral. Tem um foco epileptogênico,
ou seja, há um foco no cérebro que está causando as crises, como, por exemplo, um tumor e isquemia.
Pode acontecer fenômenos sensoriais (auras) que antecedem os fenômenos motores. Essas auras
podem ser, por exemplo, uma sensação epigástrica ascendente (mal estar no estômago), medo,
sensação de irrealidade ou distanciamento, déjà vu (parece que já viveu esse momento), jamais vu
(sabe que aconteceu antes, mas apresenta estranheza na situação), alucinações olfativas, parestesias.
Os fenômenos motores apresentam abalos clônicos (marcha Jacksoniana), crises tônicas focais.
Exemplo: Paciente mexe a mão inconscientemente, percebe isso, mas não consegue parar
(provavelmente contralateral). Estado pós-ictal: Paciente apresenta paresia do membro afetado
(Paralisia de Todd) depois da crise.
- Crise epiléptica parcial complexa ou disperceptiva: Tem comprometimento do lobo temporal, com
alteração da consciência e presença de automatismos. Por meio do EEG, verifica-se que 70 a 80% dos
casos têm origem temporal. Nesse caso, o paciente não percebe que está tendo a crise. Presença de
automatismos durante as crises: Estalar os lábios, deglutição repetida, mastigação, mexer os dedos,
perseveração (movimentos repetidos). Não tem alteração motora. Há uma disseminação bilateral da
descarga convulsiva. Estado pós-ictal: O paciente apresenta um período de confusão e desorientação
depois da crise. Exemplo: O paciente está conversando e do nada para, fica com o olhar vago e
começa a mexer os dedos. Ele não lembra o que fez nesse período. Observação: É semelhante à crise
de ausência que acomete crianças, porém a parcial complexa acomete os adultos.
- Crise epiléptica parcial com generalização: São crises focais que sofrem um processo de
generalização secundária, isto é, a partir de um foco inicialmente restrito a um hemisfério ocorre
disseminação da atividade convulsiva para o restante do cérebro. É uma crise inicialmente focal que
evolui com crise tônico-clônica generalizada. Exemplo: O paciente está estudando, percebe que vai
ter a crise ao ver o braço se mexendo e em seguida cai no chão e começa a se contorcer.
Crises generalizadas
- Ambos os hemisférios são afetados desde o início do quadro. É caracterizada por achados clínicos e
eletroencefalográficos que sugerem o comprometimento de ambos os hemisférios cerebrais ao mesmo
tempo.
- Crise de grande mal (crise tônico-clônica generalizada): Tem perda da consciência, e é caracterizada
por uma queda + fase tônica (se contorce) + fase clônica + salivação + perda urinária. É uma crise
primariamente generalizada (foco epileptogênico que ao mesmo tempo tem descargas bilaterais para
os dois hemisférios). É um tipo de crise convulsiva. A fase tônica é caracterizada por espasmo tônico
extensor bilateral (de todo o corpo), apneia, cianose, grito epiléptico. A fase clônica é caracterizada
por abalos musculares sincrônicos, simétricos e bilaterais. O grito epiléptico é uma vocalização alta
ao ser expelido vigorosamente através de cordas vocais contraídas. Estado pós-ictal: Paciente tem
confusão mental, letargia, dores musculares, fadiga, e muitas vezes preferem dormir após esse período
crítico. Existem manifestações que antecedem a crise (pródromos): Ansiedade, irritabilidade, cefaleia
e diminuição da concentração.
- Crise de pequeno mal (crise de ausência): É uma perda de consciência que dura menos de 30
segundos. São lapsos de curta duração e sucessivos que começam e terminam abruptamente. O
paciente fica parado, com olhar fixo e imóvel, tendo interrupção da atividade no momento. O paciente
não fica confuso após a crise, segue o que estava fazendo antes da crise. Tem acometimento em
crianças (cerca de 10 anos), e geralmente quem percebe são os professores. É um exemplo de crise
não-convulsiva, não tem abalo motor. Existe também a crise de ausência atípica, que nada mais é
quando essa crise de ausência é precedida por automatismos. Quando o início e o fim de uma crise
não são muito nítidos, ou quando ela inclui componentes tônicos e autonômicos, usa-se o termo crise
de ausência atípica (são vistas mais frequentemente em crianças retardadas com epilepsia ou
encefalopatias epilépticas, como a síndrome de Lennox-Gastaut).
- Crises mioclônicas: São abalos clônicos musculares breves de curta duração, simétricos e bilaterais,
como se fossem espasmos. Não há perda de consciência. Algo parecido, que porém é fisiológico, é a
mioclonia benigna do sono. Os abalos mioclônicos variam de pequenos movimentos isolados dos
músculos da face, do braço ou das pernas a espasmos bilaterais maciços que afetam simultaneamente
a cabeça, os membros e o tronco.
- Crises atônicas (astáticas): Também conhecidas como ataques de queda, é uma atonia súbita de
todo o corpo, uma perda súbita do tônus muscular. O paciente tem quedas imediatas. A consciência
é preservada. Essa perda do tônus muscular também pode ser fragmentária, ou seja, pode ser somente
uma queda da cabeça, por exemplo.
- Qual a diferença entre a crise parcial complexa e a crise generalizada de grande mal? A parcial
complexa não vai ter abalos motores, apenas automatismos (é como se fosse a “crise de ausência no
adulto”) e a crise generalizada de grande mal tem acometimento motor.
- O que fazer em um paciente com crise epiléptica? Tirar tudo ao redor dele, virar o paciente de lado.
Não colocar a mão na boca do paciente.
Síndromes epilépticas
- Para serem consideradas síndromes epilépticas (epilepsia propriamente dita), é preciso ter alteração
no EEG.
- As focais dependem da localização do foco epileptogênico: Por exemplo, epilepsia frontal, parietal,
e assim por diante.
- As generalizadas que iremos estudar são: Síndrome de West, epilepsia de ausência, síndrome de
Lennox-Gastaut, epilepsia mioclônica juvenil.
- Epilepsia de ausência (pequeno mal epilético): São crises de ausência com alteração no EEG.
Acomete crianças de 4 a 12 anos. Podem prejudicar significativamente o aprendizado escolar.
Importante: EEG tem complexos ponta-onda bilateral de 3 Hz. Aproximadamente 30 a 50% evoluem
para crise convulsiva tônico-clônica generalizada. Essa epilepsia é caracterizada por não ter crise
convulsiva. O paciente está lendo um livro, fica com o olhar vago, faz inversão ocular, perde a
consciência e o livro cai, e depois volta ao normal. O tratamento é feito com etossuximida (único tipo
de epilepsia que responde a esse medicamento).
- Por que é epilepsia de ausência e não é crise de ausência? Porque tem alteração no EEG.
- Síndrome de Lennox-Gastaut: Tríade = Retardo mental + Múltiplos tipos de crises não controladas +
Sem um padrão no EEG. Essa síndrome pode apresentar múltiplos tipos de crises convulsivas, como
tônico-clônica, tônica, atônica, ausência atípica. Causas: Geralmente acontece por asfixia/hipóxia
perinatal, lesões cranioencefálicas graves, infecções no SNC. Normalmente, acomete crianças
menores de 4 anos. Cerca de 80% desses pacientes terão crises na fase adulta. Não há nenhum
tratamento eficaz. Valproato e Lamotrigina possuem eficácia baixa (síndrome refratária aos
anticonvulsivantes convencionais). Tratamento é essencialmente cirúrgico (corpocalosotomia). Em
geral, tem prognóstico ruim.
- Síndrome de Janz (epilepsia mioclônica juvenil): São abalos mioclônicos bilaterais em sincronia com
alterações eletroencefalográficas correspondentes. Se é mioclônica, logo deve ter espasmos, e se é
epilepsia mioclônica, logo precisa ter alteração do EEG. Ocorre em jovens, dos 8 aos 20 anos de idade
(juvenil). As crises mioclônicas ocorrem, geralmente, pela manhã e, com frequência, evoluem para
uma crise tônico-clônica generalizada. Aumentam de frequência se houver privação de sono. A
história familiar é positiva, geralmente. A inteligência dos pacientes é normal. No EEG: Polipontas de
4-6 Hz (significa pontas bilaterais de 4 a 6 ondas em 1 segundo). O tratamento pode ser feito com
Valproato. A Lamotrigina pode piorar as mioclonias.
- Epilepsia do lobo temporal: É a que mais acomete os adultos. É caracterizada por crises focais
complexas/disperceptivas recorrentes + alteração no EEG. Focos epileptogênicos: Acomete o lobo
temporal, hipocampo e giro parahipocampal. Manifestações clínicas: Inicialmente o paciente pode
apresentar auras (desconforto epigástrico e medo), evolui com olhar imóvel, perda de consciência,
parada comportamental e amnésia anterógrada. Pode ter automatismos (estalar os lábios, movimento
de pinça, deglutição). O diagnóstico é feito com o EEG (alentecimento temporal, as ondas são mais
lentas no lobo temporal). Por meio da RM é possível ver esclerose hipocampal ou esclerose mesial
temporal (seta branca), hipocampo atrofiado. Os pacientes respondem bem ao tratamento clínico.
Pode ser feita cirurgia (amigdalohipocampectomia seletiva, que é a retirada da amígdala do
hipocampo), que é indicada apenas em casos refratários e politerapia em dose máxima. Tem uma boa
resposta: O paciente pode ficar sem crises ou diminuir significativamente o número.
- Epilepsia parcial contínua (Síndrome de Rasmussen): Crise que acomete apenas um hemisfério
cerebral. Crises Jacksonianas (motoras focais) que persistem por horas. Geralmente acontece em
crianças menores de 10 anos de idade, especialmente em menores de 3 anos. Origem: Encefalite focal
crônica (viral, inflamatória ou infecciosa) e que leva uma inflamação e atrofia do hemisfério afetado
(atrofia cortical unilateral). Tratamento: Hemisferectomia funcional (não é feita a retirada da metade
do cérebro, mas há, sim, um desligamento do hemisfério afetado, alterando sua funcionalidade).
Diagnóstico
- É feito com a anamnese + Exames séricos + EEG + Exames de imagem.
- Exame físico: Sempre fazer exame bilateral. Analisar sinais focais, alteração consciência, alterações
além da neurológica (tem alteração cardíaca, pulmonar, se teve Covid-19, por exemplo).
- Séricos: Screening bioquímico, glicemia, cálcio, magnésio, parcial de urina, LCR, EEG e VEEG.
- EEG: É o exame mais importante. Nunca excluir o diagnóstico de epilepsia com EEG normal ou
inespecífico (pode ter alteração eletroencefalográfica, descargas epileptiformes que ocorre em 50%
dos pacientes no primeiro exame e cerca de 10 a 40% não apresentam alteração nenhuma no EEG).
Mesmo EEG normal pode iniciar o tratamento, de acordo com o quadro clínico.
- Exames de imagem: RM, realizar em todos os pacientes maiores de 18 anos (é o melhor exame). A
tomografia não é muito útil. PET e cintilografia tomográfica de perfusão cerebral (SPECT) mostram o
metabolismo cerebral. São mais utilizados para planejamento cirúrgico. A ressonância é superior à
tomografia. A RM avalia o hipocampo, e esses pacientes podem ter esclerose mesial temporal,
cavernoma, displasia cortical, tumor. Resumindo, no PS a tomografia é a melhor opção, mas para
investigar o paciente com mais calma, a RM é o melhor exame.
- Acompanhante observador: É importante que tenha mais alguém da família na consulta, pois o
paciente tem a crise e não lembra o que aconteceu.
- Avaliar os fatores precipitantes: O paciente relata que estava na balada e teve uma crise. É preciso
saber se ele usou alguma coisa, ou se a crise aconteceu de repente, por exemplo.
- Determinar os fatores de risco: Saber o trabalho do paciente, por exemplo, um caminhoneiro tendo
crises convulsivas pode ser bem perigoso, é um fator de risco para ele para os demais. Saber se o
paciente é etilista, se usa drogas etc. Além disso, é preciso planejar o tratamento.
Tratamento
- Objetivos do tratamento: Reduzir a frequência de crises. Evitar os efeitos colaterais. Retornar à vida
social/profissional. Ajustamento psicossocial: Pessoas com epilepsia normalmente sofrem, têm
vergonha das crises.
- Deve-se tratar uma crise única? 25% se tornam epilepsia. Deve tratar pacientes que possuem
profissões de risco, como caminhoneiros, motoristas, nadadores, montanhistas, por exemplo.
- Opções de tratamento de acordo com o tipo de epilepsia: Observe na tabela acima que o Valproato
é um coringa, podendo ser utilizado em todos os tipos, entretanto, possui muitos efeitos colaterais.
- Quando iniciar o tratamento? Se iniciar o tratamento, deve mantê-lo por longos períodos (no mínimo
5 anos). Deve-se avaliar os riscos e benefícios. Após a primeira crise: Avaliar EEG, exame de imagem
e exame neurológico. Se esses 3 vierem normais não é preciso tratar. Alteração no EEG tem indicação
de tratamento, pois o risco de uma segunda crise é maior. Alteração em exame de imagem e exame
neurológico tem indicação de tratamento. No caso de paciente em profissão de risco (por exemplo,
caminhoneiro, nadador), porém com exames normais: Deve tratar sempre esses pacientes.
- O risco de novos eventos após a primeira crise aumenta com: Alteração no EEG, alteração no exame
de imagem e exame neurológico anormal.
- Após a segunda crise é indicado o tratamento, pois o risco de novas crises após a segunda é de 70%.
- Normalmente, se inicia com monoterapia. Se necessário, aumentar a dose até o limite para depois
acrescentar uma outra droga (politerapia).
- Epilepsia refratária: Representa 30% dos casos. Paciente não responde à politerapia em dose
máxima. Nesse caso, há indicação de cirurgia.
- Deve-se iniciar o tratamento em doses baixas e ir aumentando por conta dos efeitos colaterais.
- Fenobarbitol: Sedação, paciente fica sonolento. Tem poucos efeitos colaterais, o problema é o
estigma da sociedade.
- Ácido valpróico: Causa aumento de peso, alopecia, tremor, síndrome do ovário policístico,
hiperamonemia, além de ser teratogênico. Como possui metabolização hepática, não deve ser usado
em pacientes com hepatopatias.
- Na gravidez há mais chance de crises epilépticas por 4 motivos: Alteração de hormônios sexuais,
alteração do metabolismo das DAEs (drogas antiepilépticas), alteração do sono (extremamente ruim
para pacientes que têm convulsão), má adesão às medicações (a mãe tem medo de que possa aumentar
a incidência de uma malformação congênita).
- Quando a droga é ineficaz? Quando não há controle das crises com a dose máxima tolerada, em
qualquer que seja o nível sanguíneo.
- Quais os fatores que podem desencadear as crises? Uso errado da DAE, privação do sono, álcool,
estresse físico (emocional não conta).
- Quando se tem o foco epileptogênico, pode-se fazer uma amigdalectomia (utilizada na esclerose
mesial temporal, baseia-se na retirada do corpo caloso, tem prognóstico ruim). Também dá para fazer
uma lesionectomia, na qual se retina apenas a lesão (angiomas cavernosos, hematomas etc).
- Quando não se tem o foco epileptogênico, pode-se fazer uma corpocalosotomia (utilizada na
síndrome de Lennox-Gastaut, baseia-se na retirada do corpo caloso, tem prognóstico ruim). Na
síndrome de Rasmussen se faz a hemisferectomia funcional. E em casos de crises parciais refratárias,
pode-se fazer uma estimulação do nervo vago, que gera um estímulo que inibe a crise convulsiva.
- O estado de mal convulsivo possui uma alta mortalidade, é uma emergência médica. No PS, o
paciente deve ser monitorado com EEG, O2, deve-se fazer o ABCDE do trauma, acesso venoso
periférico, exame de sangue e medicação.
- Primeira droga: Diazepam 5 mg/min (Infundir lentamente dentro de 10 minutos para sedar o
paciente. Se necessário, pode repetir até 3 vezes). Não precisa dissolver em água destilada.
- Fez Diazepam 3 vezes e não houve melhora? Administrar Fenitoína 20 mg/kg IV lentamente
(hidantalização). Como pode cursar com arritmia, o paciente deve ser monitorado.
- Não respondeu à Fenitoína? Levar o paciente para a UTI, pois tem chances de depressão respiratória
e administrar Fenobarbitol 20 mg/kg IV (50 a 75 mg/min), Midazolam 0,2 mg/kg IV (0,2 a 0,6 mg/kg/h)
ou Propofol 2 mg/kg IV (gadernalização).
- Ainda não funcionou? Induzir coma barbitúrico com o Pentobarbital 5 mg/kg (1mg/kg/h). Nesse
ponto, já está no fim da linha, não tem mais muito o que fazer.
Pontos importantes
- Causas de epilepsia: Sempre lembrem das causas metabólicas, hipoglicemia, trauma, tumor,
malformação arteriovenosa, AVC hemorrágico, drogas. Na infância, a causa mais comum é o erro
inato no metabolismo. Em idosos, neoplasia e AVC.
- Epilepsia do lobo temporal: Lembra uma focal disperceptiva. Lembrar da esclerose mesial temporal,
possível de tratamento cirúrgico. No atendimento, sempre ter um familiar junto. Lembrar dos
medicamentos do tratamento das epilepsias e lembrar dos efeitos colaterais.
Questões
1) Homem de 50 anos apresenta o diagnóstico de epilepsia. Apresentou movimentos involuntários em
membro superior esquerdo e depois não conseguia responder os comandos e tinha memória
comprometida no momento ictal (momento da crise). Como é classificada essa crise epiléptica?
a. Mioclônica.
b. Parcial Simples.
c. Tônico-clônica generalizada.
d. Parcial complexa.
e. Ausência.
3) Um paciente jovem é admitido no PS após ter apresentado o primeiro episódio de crise convulsiva
tônico-clônica generalizada (CCTCG). Na investigação realizou RM de crânio e EEG que não
demonstraram alterações, bem como exames séricos. Na história familiar não apresentava epilepsia e
o exame físico é normal. Qual é a próxima conduta mais correta?
Comentário: O VEEG seria feito se o paciente tivesse crise que não achássemos localização.
4) Menino de 7 anos é atendido com queixa de interrupção de suas atividades por curtos períodos
enquanto estava na aula (não piscava e não respondia em 15 segundos). O olhar permanecia vago,
depois retornava ao normal, como se nada houvesse acontecido. Qual a hipótese diagnóstica?
a. Síndrome de West.
b. Mioclônica.
c. Pequeno mal.
d. Parcial complexa.
e. Parcial simples.
a. Carbamazepina.
b. Diazepam.
c. Etossuximida.
d. Fenobarbital.
e. Fenitoína.
6) Paciente 42 anos, em tratamento para epilepsia sintomática, com crises convulsivas tônico clônicas
generalizadas, fazendo uso de Carbamazepina 200mg ao dia há 2 meses. Realizou investigação com
RM e EEG. No período apresentou 6 episódios de crises convulsivas. Qual a melhor conduta?
Comentário: Está numa dose baixa, 200mg/dia, então, antes de associar, aumentar a dose da droga.
Você não vai pedir dosagem sérica, pois isso só será pedido se ele tiver risco de toxicidade.
7) Criança de 1 ano da entrada no PS com febre de 39ºC, taquicárdico e com bom estado. A febre
começou há 2 dias e, há 10 minutos apresentou episódio de CCTCG (Crise convulsiva tônico-clônico
generalizada). Qual a melhor conduta?
a. Diazepam.
b. Punção Lombar.
c. Observação.
d. Fenobarbital.
e. Etossuximida.
Comentário: Como o paciente teve crise há 10 minutos, e não está tendo no momento, o indicado é
observar. Caso ele venha ter outra crise, administra-se diazepam.
8) Paciente de 2 anos é atendida com perda de consciência associado com movimentos tônico-
clônicos generalizados, que persistem há 40 minutos. Qual a melhor conduta? Lembrar que este
paciente está em Status epilepticus.
a. Fenitoína IV.
b. Diazepam IV.
c. Dipirona IV.
d. Fenitoína IR (Intra-retal).
e. Diazepam IR.
Comentário: Pegar acesso venoso em uma criança com 2 anos e em crise tônico-clônica é muito
difícil.
9) Paciente refere que estava em sua casa quando percebeu que ocorria uma contração do MSE. O
movimento teve duração de 90s. O que o paciente teve?
- Faz parte da atribuição do neurologista esse tipo de diagnóstico. É uma área de imbricação muito
comum e, portanto, vamos passar o resto da vida ouvindo falar se está ou não em coma, o que é um
coma induzido etc.
- Consciência, percepção, requer estar acordado e ter conteúdo mental (sistema reticular ativador
ascendente e córtex cerebral). Estados neurológicos de letargia, obnubilação, torpor e coma dependem
da resposta do paciente a estímulos verbais normais, gritos, sacudidelas ou dor. Sempre registrar tanto
a resposta quanto o estímulo que a evocou.
Patogênese
- O coma é causado por qualquer lesão que comprometa o sistema ativador reticular do tronco
encefálico, os hemisférios cerebrais para os quais aquele se projeta, ou ambos. A identificação do tipo
de lesão é feita pela avaliação neurológica nos seguintes aspectos: 1) Respostas motoras aos estímulos,
2) Padrão respiratório, 3) Tamanho e respostas pupilares, 4) Movimentação ocular. As causas podem
ser classificadas de acordo com Plum & Posner: 1) Lesões estruturais supratentoriais, 2) Lesões
estruturais infratentoriais, 3) Condições difusas ou metabólicas.
- Núcleos da rafe: É um conjunto de 8 núcleos, onde o núcleo magno da rafe é o mais importante
deles (possui neurônios serotoninérgicos).
- Locus coeruleus: Está localizado no assoalho do IV ventrículo (tem neurônios noradrenérgicos). O
locus coeruleus está relacionado à atenção, quando estamos em alerta e ao sono REM.
- Área tegmental ventral: Situado na parte ventral do tegmento do mesencéfalo e ponte (são neurônios
dopaminérgicos). Respostas emocionais e reforço comportamental são estímulos esperados dessas
áreas, passando pelo lobo temporal. Na imagem abaixo é a VTA.
- Substância cinzenta periaquedutal: É uma substância gelatinosa, está ao redor do aqueduto cerebral.
Tem neurônios opioidérgicos, e regula a sensação de dor. Considerada uma área importante na
regulação da dor e comportamento defensivo. Na imagem abaixo é a PAG.
- Os impulsos nervosos sensoriais ganham o córtex, seja através de vias relacionadas com modalidades
específicas de sensação, seja através do SARA (sistema ativador reticular ascendente), em que esses
impulsos perdem sua especificidade e se tornam apenas ativadores corticais. Entende-se, assim, o
porquê os indivíduos acordam quando são submetidos a fortes estímulos sensoriais, como, por
exemplo, um ruído muito alto. Isso se deve não à chegada de impulsos nervosos na área auditiva do
córtex, mas à ativação de todo o córtex pelo SARA, o qual, por sua vez, é ativado por fibras que se
destacam da própria via auditiva.
- Se forem lesadas estas vias depois de seu trajeto pela formação reticular, embora não cheguem
impulsos na área auditiva do córtex, o animal acorda com o ruído (ele acorda, mas não ouve o ruído).
Por outro lado, se forem mantidas intactas as vias auditivas e lesada a parte mais cranial da formação
reticular, o animal dorme mesmo quando submetido a fortes ruídos, apesar de chegarem impulsos
auditivos na área do seu córtex.
- A formação reticular possui conexões amplas e variadas. Além de receber impulsos que entram pelos
nervos cranianos, elas mantêm relações nos dois sentidos com o cérebro, cerebelo e medula.
- Conexões com o cérebro: A formação projeta fibras para todo o córtex, via talâmica e extratalâmica.
Além disso, também projeta para o diencéfalo. Áreas do córtex, hipotálamo e sistema límbico enviam
fibras descendentes à formação reticular.
- Conexões com o cerebelo: Nos dois sentidos entre cerebelo e formação reticular.
- Conexões com a medula: Da formação reticular à medula, temos fibras rafe-espinhais e fibras do
trato reticulo-espinhal. Da medula à formação, temos fibras espino-reticulares.
- Por que toda criança que sofre trauma de crânio vomita? No assoalho do IV ventrículo tem o núcleo
do nervo vago, localizado no trígono do vago. Como o cérebro é uma “bexiga”, e dentro dela tem há
outra “bexiga” cheia de líquor, toda vez que aperta de um lado tende a fazer um movimento como se
fosse uma represa. Esse líquido se movimenta e pressiona os lugares onde ele está perto, e um deles é
o assoalho do IV ventrículo, que fica submetido a uma certa pressão um pouquinho aumentada, pois
ficamos de pé, então, sustenta todo o peso do líquido intracraniano. Quanto de líquido tem dentro do
crânio? Uns 400 ml. Isso fica pressionando o assoalho, de certa forma. Quando tem um trauma, esse
movimento dentro dos ventrículos e por fora do tecido cerebral aumenta a pressão do núcleo do nervo
vago. Quando aumenta a pressão, o estômago contrai, principalmente se estiver cheio, e volta a
comida.
- Vômito é um critério para internamento do paciente com TCE? Não é critério, pois todos vomitam.
Não é um critério de gravidade. Se estiver sonolento e torporoso, com risco de aspiração, um ano e
meio, oito meses, não fica em pé, muita irritabilidade, tudo isso associado a vômito, é critério para
internamento. Só o vômito não é critério.
- Por que não pode deixar a criança dormir depois que bate a cabeça? Essa ideia não é certa. Trauma
e sono. Quando tem um trauma, tem movimento liquórico, movimento de um lado, empurra do outro.
Esse movimento chega no tegmento mesencefálico. É o teto do IV ventrículo na porção mais superior,
que quando chega lá, dá sono. O que acontece é que antigamente quem dormia, aspirava na hora
que vomitava e morria. Pode dormir, mas avalia em torno de 2h/2h. O foco de trauma deve repousar,
nós damos boas condições para o organismo se recuperar e resolver. Se não for imediato, ninguém
morre na hora de TCE, a pessoa deteriora, piora.
Avaliação da consciência
- Fases/graus de diminuição do nível de consciência:
- Letargia.
- Obnubilação: Fala palavras desconexas e dorme.
- Torpor: Mais sonolento, não fala (apenas murmura).
- Coma: Deve-se registrar tanto a resposta quanto o estímulo que provocou. Vai classificar com
base na profundidade do coma baseado no estímulo e na resposta.
- Para estar consciente, você requer um certo conteúdo. Para estar acordado, precisa ter um conteúdo
mental, não basta estar de olhos abertos. Obedecer a ordens não é diretamente proporcional ao nível
de consciência, caso contrário, um cachorro estaria consciente. Quando você suspeita de coma,
nunca esqueça da resposta e do estímulo que provocou aquela resposta. As respostas de acordo com
alguns estímulos serão diferentes. Ficar à beira do leito falando mansinho com o paciente não provoca
a mesma resposta que aumentar o tom de voz e chacoalhar o paciente. Isso deve ser anotado.
Espontânea 4
À voz 3
Abertura ocular
À dor 2
Nenhuma 1
Orientada 5
Confusa 4
Resposta verbal Palavras inapropriadas 3
Palavras incompreensivas 2
Nenhuma 1
Obedece a comandos 6
Localiza a dor 5
Movimentos de retirada 4
Resposta motora
Flexão anormal 3
Extensão anormal 2
Nenhuma 1
- Existem dois componentes da consciência que devemos analisar: O nível de consciência (que é o
grau de alerta) e o conteúdo de consciência (funções cognitivas e afetivas - como a linguagem, praxia,
memória, crítica e gnosia). O conteúdo de consciência depende da função do córtex cerebral, já o
nível de consciência depende da interação entre a formação reticular ativadora (pontomesencefálica)
e o córtex cerebral. Para haver diminuição do nível de consciência por lesões corticais, temos de ter
envolvimento difuso e completo do córtex.
- Em segundo lugar, em caso de coma de causa desconhecida, deve-se realizar um ECG, como dito
anteriormente, para descartar infarto agudo maciço, depois verifica-se a glicemia, para descartar coma
por hipoglicemia (O tratamento nesses casos é com glicose hipertônica de 50% + Tiamina IV). Esse
tratamento na hipoglicemia é indicado mesmo se o paciente for diabético. Se for administrado apenas
a glicose, poderia causar lesão da bainha de mielina. A tiamina é importante pois ajuda a recompor a
bainha de mielina e prevenir a síndrome de Wernicke Korsakoff. A dose de glicose para um adulto de
70 kg é em torno de 30 g.
- Dar glicose para todo paciente? E se ele for diabético? Principalmente se ele for diabético. Pois o
coma hipoglicêmico mata, e o hiperglicêmico não mata (pode piorar, mas não chega a matar).
- Por que glicose + tiamina (B1)? Para a prevenção de Wernicke Korsakoff. Seria uma iatrogenia dar
somente glicose, que não é só repreensível como indefensável. Se não tem complexo B para fazer no
paciente, a porta do pronto socorro deveria estar fechada. Glicose sozinha pode causar lesão da
bainha de mielina em todos os neurônios, como dito anteriormente. Então, fazer glicose a 50% +
tiamina é uma forma de prevenir danos posteriores.
- Caso se suspeite de trauma, deve-se considerar lesões de órgãos internos e da coluna cervical, até
que as radiografias mostrem o contrário.
- Como tratar alcoolismo agudo? Com glicose, e deve-se adicionar tiamina (pois a tiamina carreia a
glicose para dentro da célula), como já foi explicado anteriormente. Se for uma criança pequena, por
exemplo, faz 4-5 ampolas, por exemplo.
Exame geral
- É o terceiro passo, para determinar o local e a causa da lesão. É necessário obter um relato do
incidente ou a história imediata do paciente com um acompanhante. Daí você vai examinar pele,
mucosas, hálito, fundo de olho, temperatura do corpo, assimetria de pulsos, incontinência, couro
cabeludo. Não testar a resistência cervical, pois pode ter trauma cervical.
- Pele: Ver se tem cianose, palidez, rubor, icterícia, petéquias, úlceras de decúbito, depósitos
urêmicos, hipopigmentação ou hiperpigmentação, sinais de trauma.
- Hálito: Cetônico ou alcoólico.
- Fundo de olho: Papiledema, retinopatia hipertensiva ou diabética.
- Temperatura do corpo: Febre (indicação de infecção ou hipertemia) e hipotermia (sugere
exposição a baixas temperaturas, hipotireoidismo, hipoglicemia ou sepse).
- Assimetria de pulsos: Sugere aneurisma dissecante.
- Incontinência: Urinária ou fecal, pode indicar uma convulsão não testemunhada ou não
identificada.
- Couro cabeludo: Averiguar sinais de trauma.
- Ouvidos e nariz: Presença de sangue ou LCR.
- Resistência à flexão cervical: Ter cuidado com o trauma. A resistência à flexão passiva do
pescoço sugere meningite ou hemorragia subaracnóidea ou herniação pelo forame magno.
- Resistência manual em todas as direções: Sugere patologia óssea ou articular, incluindo
fraturas.
- Plum & Posner: Esses dois autores dividiram as causas de coma em lesões estruturais supratentoriais,
infratentoriais e doenças difusas ou metabólicas, concentrando-se nas respostas motoras a estímulos,
padrões respiratórios, pupilas e movimentos oculares. O clínico geralmente consegue identificar a
categoria do coma. Nas lesões supratentoriais, temos as hérnias transtentoriais, que podem ser mediais
ou laterais. As laterais geralmente são as do úncus, causadas por hematomas subdurais, extradurais e
degeneração rostro caudal. A hérnia de úncus pode causar anisocoria (pupilas médias ou midriáticas),
torpor, paralisias oculomotoras, respiração de Cheyne Stokes ou atáxica, posturas flexoras e
extensoras. As hérnias mediais podem ser causa de hemorragia talâmica, que causa rápido
aprofundamento do nível de consciência.
Exame neurológico
Respostas motoras
- Na inspeção, deve-se analisar a presença de movimentos espontâneos, voluntários ou involuntários
e posição dos membros.
- Rigidez decorticada (resposta flexora anormal): Flexão + adução + rotação interna -> Indica uma
lesão mais rostral (tratos corticoespinhais, entre o córtex e o núcleo rubro), acima do tronco encefálico.
Paciente fica com os dedos, punhos e cotovelos flexionados e em flexão plantar, braços em adução,
membros inferiores em extensão e rotação interna.
- Rigidez descerebrada (resposta extensora anormal): Extensão + abdução + rotação externa -> Indica
lesão mais caudal (entre o núcleo rubro e o tronco encefálico). Paciente fica com os braços em
extensão, abdução e pronação, punho e dedos em flexão, pernas em extensão e pés em flexão plantar.
- Ausência de reflexos (flacidez): Reflete a profundidade do coma, suspeita de déficit motor com
deterioração rostro-caudal. Pode ser déficit motor decorrente de trauma raquimedular, pode ser
síndrome de Guillain-Barré ou estado de encarceramento.
- Síndrome de Guillain-Barré (SGB): Inflamação aguda adquirida que leva à desmielinização dos
nervos periféricos e, consequentemente, à fraqueza motora e alterações sensoriais. Entre os agentes
infecciosos mais comuns que precedem a SGB, encontramos o citomegalovírus, Campylobacter jejuni,
Epstein-Barr vírus, entre outros. A evolução clínica se caracteriza por progressiva perda motora
simétrica ascendente (de membros inferiores para os superiores) e hiporreflexia ou arreflexia, com
comprometimento do nervo craniano. A progressão da fraqueza motora se dá de forma rápida. A fase
aguda começa com os primeiros sintomas até a estabilização da desmielinização, a qual pode durar
dias e atingir semanas. Após esse período inicia-se a fase de recuperação, que pode durar cerca de 2
anos e coincide com a remielinização e regeneração dos axônios. Há dois tipos principais de SGB: a
Polineuropatia Inflamatória Aguda Desmielinizante (PIAD), que afeta a bainha de mielina, e a
Neuropatia Motora Axonal Aguda (NMAA), conhecida por ser puramente motora. Sintomas comuns
na fase aguda da SGB são: fraqueza muscular, paralisia, falta de sensibilidade, formigamento, dor que
inicia em pernas e atinge todo o corpo e diminuição dos reflexos. A fraqueza em tronco e membros
superiores pode atingir a musculatura relativa à respiração e levar a necessidade de ventilação
mecânica, cerca de 25% dos casos. O envolvimento do sistema autonômico é frequente e pode causar
retenção de urina, taquicardia, hipertensão, hipotensão postural e arritmia cardíaca. Outras
complicações associadas à fase aguda da doença de Guillain-Barré são insônia, formação de úlceras
de pressão, dificuldade de comunicação, deficiência nutricional, imobilismo e trombose venosa. As
terapias mais utilizadas para tratar SGB em sua fase aguda são a Plasmaferese e a Imunoglobulina
Intravenosa.
- Sinais respiratórios de prognóstico ruim: Esforço respiratório final (tosse, por exemplo) e a “boca de
peixe” (isto é, depressão do maxilar inferior à inspiração), além da respiração estertorosa (isto é, com
ruído inspiratório) é um sinal de obstrução das vias aéreas.
- Embora muitas pessoas apresentem uma ligeira desigualdade pupilar, a anisocoria deve ser
considerada patológica em paciente em coma. Lesões na retina ou no nervo óptico não causam
anisocoria, mesmo que haja um defeito pupilar aferente.
- As lesões parassimpáticas (p. ex., compressão do nervo oculomotor na herniação do úncus ou após
a ruptura de um aneurisma da artéria carótida interna) causam o aumento das pupilas e, finalmente,
uma dilatação completa com perda da reatividade à luz. As lesões simpáticas, quer
intraparenquimatosas (p. ex., lesão hipotalâmica ou um infarto bulbar lateral) ou extraparenquímatosas
(p. ex., invasão do gânglio cervical superior por um câncer pulmonar) causam síndrome de Horner
com miose.
- Com o envolvimento de ambos os sistemas (p. ex., destruição do mesencéfalo), uma ou ambas as
pupilas ficam em posição média e não reativas. Pupilas puntiformes, porém, reativas, após uma
hemorragia pontina são provavelmente consequentes a lesões em vias simpáticas intra-axiais
descendentes, assim como na região da formação reticular que inibe normalmente o núcleo de
Edinger-Westphal.
- Anisocoria: Deve ser considerada anormal em pacientes em coma. Indica gravidade no quadro do
paciente. Lesões da retina ou do nervo óptico não causam anisocoria por conta do reflexo pupilar
consensual à luz. Transtornos metabólicos não produzem anisocoria nem comprometem o reflexo
pupilar.
- Midríase completa e ausência de resposta da pupila: Indica lesão do nervo oculomotor. Pode se
manifestar pelo comprometimento da movimentação ocular pela musculatura extrínseca. Lesão de
vias simpáticas: Evidente pela miose + Síndrome de Horner.
- Pupilas da Síndrome de Horner: É uma anisocoria às custas de uma miose ipsilateral à lesão da via
simpática (em qualquer ponto, desde hipotálamo até a medula cervical baixa e mesmo
perifericamente). O reflexo fotomotor é preservado. Relembrando que a Síndrome de Horner = Miose,
ptose, anidrose, hiperemia, hipertermia e um aparente enoftalmo.
- Pupilas pontinas: Pupilas puntiformes, porém reativas. Causada por lesões na ponte que interrompem
as vias simpáticas descendentes.
- Doenças metabólicas causam comas com pupilas iguais e reativas. Sempre que for ver um paciente
em coma profundo, tem que afastar hipotermia e intoxicação por fenobarbitol, que são quadros que
mimetizam morte cerebral. São tão graves que pode até confundir, ao exame clínico, com morte
cerebral. É aquele paciente que está com Glasgow (ECG) = 3.
Avaliação das pálpebras e movimentos oculares
- Reflexo de piscar: Quando um objeto se aproxima bruscamente dos olhos de uma pessoa, ela
imediatamente fecha os olhos. Via aferente = N. óptico. Via eferente = N. facial (núcleo na ponte). Se
o reflexo estiver preservado, indica que a função da ponte superior está normal, indica atividade
reticular.
- Desvio conjugado dos olhos para o lado oposto à hemiparesia (olhar a lesão): Lesão do lobo frontal
(córtex pré-motor), comum em AVE de A. cerebral média. Exemplo: Lado esquerdo paralisado e olhos
desviam para a direita = lesão do hemisfério cerebral direito.
- Desvio conjugado para o lado parético: Indica lesão de ponte ou crise convulsiva adversa. Se o
paciente não tem lesão cervical, realizar: Fenômeno dos olhos de boneca (reflexo oculocefálico): Teste
para verificar se a área vestibular-troncomuscular ocular está intacta. Em caso de coma, ao girar a
cabeça para a esquerda, há desvio conjugado dos olhos para o lado oposto (direita). Em pacientes
normais, o desvio tônico provocará desvios rápidos compensatórios, causando nistagmo horizontal
para o lado estimulado.
- Oftalmoplegia completa: Indica quadro grave (lesão extensa do tronco) ou quadro metabólico
profundo. Desvio conjugado para baixo (olhar do sol poente): Podem se acompanhar de pupilas que
não reagem à luz (síndrome de Parinaud). Indica lesão no tálamo ou mesencéfalo (pré-tectal) ou coma
metabólico, especialmente na intoxicação barbitúrica e após uma convulsão.
- Olhar alternante periódico ou em pingue-pongue: Olhos que se movem primeiro para um lado,
depois para o outro com pausas de 2 a 3 segundos em cada direção, podem sobrevir após infartos
cerebrais bilaterais ou hemorragias cerebelares com o tronco cerebral intacto.
- Estrabismo: Lesão do tronco encefálico ou de algum dos nervos cranianos envolvidos com a
movimentação ocular, incluindo a paralisia do nervo abducente secundária à hipertensão
intracraniana.
Exames diagnósticos
- É importante para determinar a causa do coma. Por esse diagnóstico vai passar o paciente que tem
coma de causa desconhecida.
- Inicialmente pedimos uma TC/RM, coleta de líquor e no laboratório deverá constar, além de outros
exames, esses daqui: Glicemia, Ca, Na, K, U, Cr, pH arterial, hemograma. EEG, ECG, sempre no local.
Após isso nós fazemos a divisão de lesões supratentoriais, com hérnias e tudo mais, daí mostra as
causas mais comuns das lesões laterais uncinadas (hematomas subdurais, extradurais, degeneração
rostro-caudal, entre outras). É uma maneira de classificar mais didática.
- O EEG é importante para diferenciar o coma de morte cerebral, estado de encarceramento e ausência
de resposta psíquica.
- Causas de coma: Como explicado anteriormente, as causas podem ser divididas em lesões estruturais
supratentoriais (cérebro), lesões estruturais infratentoriais (tronco encefálico e cerebelo) e lesões ou
doenças difusas ou metabólicas.
- Herniacão do úncus: Ocorre um deslocamento do giro temporal medial anterior (úncus) para dentro
da abertura tentorial. Ocorre nos hematomas subdurais e extradurais. Há compressão imediata do
nervo oculomotor pelo lobo temporal inferomedial, gerando aumento da pupila (midríase) ipsilateral.
Tríade: Midríase ipsilateral, coma e hemiparesia contralateral. A vigilância pode não se alterar até que
a pupila se dilate. Quando ocorre a dilatação, pode haver uma aceleração dos sinais: Pupilas fixas e
paralisia oculomotora unilateral e depois bilateralmente (midríase paralítica), respiração de Cheyne-
Stokes, seguida de hiperventilação ou respiração atáxica, posturas flexoras e depois posturas
extensoras, ausência progressiva de resposta. A obstrução do aqueduto e a compressão da artéria
cerebral posterior podem elevar ainda mais a pressão supratentorial. Se o processo não for
interrompido, há evolução para o coma profundo, apneia, pupilas bilateralmente não reativas,
oftalmoplegia e finalmente colapso circulatório e morte.
- Tais lesões também podem causar herniação cerebral, quer em sentido ascendente
transtentorialmente (com pressão do mesencéfalo), quer em sentido descendente, através do forame
magno com distorção do bulbo pelas tonsilas cerebelares.
- Hérnia aguda das amígdalas/tonsilas cerebelares: Herniação das tonsilas cerebelares através do
forame magno (fossa posterior). Esse processo resulta na compressão do tronco cerebral (mais
especificamente do bulbo), o qual contém importantes centros homeostáticos, incluindo centros que
regulam a respiração e nível de consciência. Gera o reflexo de Cushing (Respiração irregular +
Bradicardia + Hipertensão). Causam apneia e colapso circulatório. O coma é secundário, pois a
formação reticular do bulbo tem pouca participação direta na ativação.
- Hemorragia pontina: Além do coma, geram pupilas pontinas (pupilas puntiformes, porém reativas,
causada por lesões na ponte que interrompem as vias simpáticas descendentes).
- Podem cursar com convulsões focais ou generalizadas em caso de hipóxia, hipoglicemia, isquemia
difusa, sedativos, narcóticos, hemorragia subaracnóidea.
- Pupilas permanecem reativas à luz, exceto na intoxicação por anticolinérgicos e na lesão encefálica
anóxico-isquêmica difusa.
- Determinações dos gases arteriais são particularmente úteis para o diagnóstico do coma metabólico.
Diagnósticos diferenciais
- Encarceramento ou síndrome do cárcere privado: É um estado de vigília e consciência, em que os
pacientes apresentam função cognitiva intacta, mas com paralisia motora generalizada. É capaz de
movimentar apenas os olhos verticalmente e piscar (única forma de comunicação). As causas são:
Infarto ou mielinólise central pontina, que gera paralisia total dos últimos nervos cranianos e dos
membros superiores e inferiores (tetraplegia). Preserva a vigília e sono. Não conseguem mover a face,
mastigar, deglutir (disfagia), falar (afonia), respirar, mover os membros ou os olhos lateralmente.
- Mutismo acinético ou estado vegetativo persistente: Estado que pode emergir em pacientes que
sofreram lesões graves ao sistema nervoso central, muitas vezes ficando em coma por algum período.
Entretanto, há retorno íntegro do padrão de sono-vigília e manutenção das funções vegetativas
(cardiorrespiratórias), mas com quase completa ausência de funções cognitivas (interação interna ou
externa). É chamado também de coma vigil, pois nesse caso a vigília está preservada. O paciente
mantém respostas primitivas: reflexo de preensão do dedão, choro, gemidos etc. Os pacientes podem
se recuperar ao estado normal.
- Pseudocoma psicogênico: Sinais típicos são: Eupneia ou hipopneia, fechamento palpebral abrupto e
rápido quando da aproximação de um estímulo, movimentação ocular por meio de espasmos
sacádicos e não aleatória, com produção de nistagmo no teste calórico, e não desvio lento dos olhos.
Estado vegetativo
- É caracterizado em ciclos de sono-vigília, integridade das funções cardiorrespiratórias e manutenção
de respostas primitivas aos estímulos, mas sem qualquer resquício de interação interna ou externa.
- Pode ser considerado permanente quando se mantem por mais de 12 meses após uma lesão
traumática ou por mais de 3 meses após uma lesão não traumática (hipóxia encefálica grave).
- Pacientes podem evoluir para estado minimamente consciente (EMC): Designa uma consciência
gravemente alterada, porém com percepção consciente definida, ainda que mínima, da própria pessoa
ou do ambiente. Pode haver fixação ou acompanhamento visual persistente, obediência a comandos
simples, verbalização inteligível ou um comportamento afetivo apropriado.
- O EMC pode ser um estado de transição em pacientes que estejam melhorando ou piorando ou,
assim como o EV, pode vir a ser urna condição permanente. Uma evolução final favorável é mais
provável no EMC que no EV e alguns raros pacientes recuperaram a fala e a função cognitiva após
anos de EMC. Ainda não há um teste diagnóstico capaz de predizer se um paciente vai melhorar. A
aquisição de imagens funcionais das respostas cerebrais a estímulos auditivos ou somatossensoriais
revela uma ativação mais ampla das redes corticais no EMC que no EV.
Morte encefálica
- Conceito: é um estado irreversível em que o cérebro e tronco perdem o funcionamento. Incapaz de
manter a homeostase interna (funções cardiovasculares, respiratórias, gastrointestinais e controle da
temperatura corpórea).
- Em adultos, a morte cerebral raramente dura mais de alguns dias e é seguida por falência múltipla
de órgãos.
- Nos EUA: A morte cerebral equivale à morte legal. Quando os critérios são satisfeitos, a ventilação
artificial e o suporte à PA são apropriadamente suspensos, quer se pretenda ou não efetuar a coleta de
órgãos para transplantes.
- O fenômeno singular da morte é encarado de maneira distinta nas mais diversas sociedades ao redor
do mundo. Cada uma delas apresenta uma visão peculiar; calcada em princípios raciais, culturais e
religiosos, entre outros. Apesar disso, a morte em si é rigorosamente a mesma e na maior parte das
vezes não é um evento, mas sim um processo onde os vários órgãos e sistemas de manutenção da vida
entram em colapso progressiva e sucessivamente.
- Um corpo que apesar de um coração ativo, apresente abolição persistente das atividades cerebrais,
provavelmente estará morto e, caso esta suposição realmente se confirme, um potencial doador estaria
nascendo.
- Protocolo de morte encefálica: Coma (Glasgow 3), apneia, temperatura maior que 34°C (ausência
de hipotermia). Ausência de reflexos cefálicos: Pupilas, oculocefálico ou reflexo corneano. Ausência
de intoxicação por drogas, etanol e sedativos
- Estudos de confirmação: O EEG isoelétrico. Potencial evocado de tronco encefálico: Teste que avalia
a atividade elétrica da via auditiva ascendente, que tem como trajeto todo o segmento do tronco
encefálico. Angiografia cerebral digital. Sinal de Sutton – ausência de circulação cerebral.
Aula 05 - Patologias da coluna e medula (Dr. João Bandeira)
- Nesta aula serão abordadas as patologias mais frequentes da coluna vertebral e da medula espinhal.
Algumas delas são: 1) Traumatismo raquimedular, 2) Patologias discais, articulares e radiculopatias,
4) Doenças degenerativas da coluna, como mielopatia espondilótica (espessamento ligamentar com a
compressão da medula).
- 7 vértebras cervicais.
- 12 vértebras torácicas.
- 5 vértebras lombares. 7C, 12T, 5L, 5S, 5C
- 5 vértebras sacrais.
- 3 a 5 vértebras coccígeas.
- A região cervical tem uma configuração mais horizontalizada, enquanto a região torácica faz a
articulação com os arcos costais.
- Os traumas mais frequentes são na transição cérvico-torácica e toracolombar, com maior incidência
de lesões nessas regiões, devido a diferenças anatômicas entre as vértebras e alterações ligamentares
nessas transições.
- A medula espinhal fica alojada dentro do canal medular, começando em C1 e indo até L2 (em
indivíduos da raça negra ela pode chegar mais abaixo). Mede cerca de 45 cm de comprimento, em
média. Ela termina se afilando para formar o cone medular, que continua com um delgado filamento
meníngeo, o filamento terminal. Os filamentos situados abaixo do cone medular são denominados
cauda equina.
- Na anatomia da medula espinhal, é importante lembrar das intumescências cervical e lombar,
relacionadas aos plexos braquial e lombossacral, respectivamente. Nessas regiões, a medula ocupa
um pouco mais de espaço dentro do canal medular.
- Observar nas imagens acima: Processo espinhoso, processo transverso, lâmina, processo articular,
forame vertebral (que vai formar o canal medular para alojar a medula espinhal).
- Sulco lateral anterior da medula: Saem os filamentos radiculares que se unem para formar as raízes
ventrais/aferentes (motoras).
- Trato espinotalâmico anterior: É uma via ascendente do funículo anterior (sensitiva). Possui axônios
que penetram na coluna posterior (raiz dorsal = aferente), cruzam o plano mediano e fletem-se
cranialmente para formar o trato espinotalâmico anterior. Levam impulsos de pressão e tato grosseiro.
Ao contrário do trato que se segue pelo funículo posterior, esse trato é pouco discriminativo e permite
apenas de maneira grosseira a localização da fonte do estímulo tátil. A sensibilidade tátil tem 2 vias
na medula: uma direta, no funículo posterior, e outra cruzada, no funículo anterior. Por isso,
dificilmente se perde toda a sensibilidade tátil nas lesões medulares, exceto, naquelas em que há
transecção do órgão.
- Trato espinotalâmico lateral: É também uma via ascendente do funículo anterior (sensitiva). Axônios
penetram na coluna posterior (raiz dorsal = aferente), cruzam o plano mediano e ocupam o funículo
lateral para formar o trato espinotalâmico lateral. O tamanho deste trato aumenta à medida que ele
sobe pela constante adição de novas fibras. Esse trato conduz impulsos de temperatura e dor
(predominantemente termoceptivo e nociceptivo). Junto dele seguem também as fibras espino-
reticulares, que também conduzem impulsos dolorosos. Essas fibras fazem sinapse na chamada
formação reticular do tronco encefálico, onde se originam as fibras reticulo-talâmicas, constituindo
assim a via espino-reticulo-talâmica. Essa via conduz impulsos relacionados com dores do tipo crônica
e difusa (dor em queimação), enquanto a via espinotalâmica se relaciona com as dores agudas e bem
localizadas da superfície corporal.
- Vias descendentes (motoras): As fibras saem do córtex motor e descem até o bulbo. A maioria das
vias corticoespinhais decussam nas pirâmides bulbares (trato piramidal) e descem contralateralmente
na medula formando o trato corticoespinhal lateral. A via que não decussou nas pirâmides desce a
medula do mesmo lado através do trato corticoespinhal anterior e irá decussar somente mais tarde na
medula.
Avaliação clínica
- Realizar o ABCDE do ATLS (Airway, Breathing, Circulation, Disability, Exposure).
- Ao examinar um paciente com suspeita de trauma raquimedular, deve-se realizar o ATLS. Todos os
pacientes devem ser tratados com essa suspeita até a confirmação ou não do quadro, principalmente
aqueles pacientes inconscientes ou com queixa de dor nas regiões cervical, torácica ou lombar.
- Desde que a coluna do doente esteja devidamente protegida, o exame vertebral e a exclusão de
traumas à coluna podem ser postergados sem risco, especialmente na presença de alguma
instabilidade sistêmica.
- Avaliação pré-hospitalar: Aplicar o ATLS, deitar o paciente em decúbito lateral, inspecionar e palpar
as vértebras, sempre no sentido crânio-caudal. Verificar se há deformidades da coluna (angulações
anormais), edema, equimose, crepitações decorrentes de fraturas, dor, laceração de pele, fratura
exposta de coluna. Deve-se estabilizar a coluna do paciente antes do transporte. Levá-lo ao hospital.
Exame neurológico
- Realizar sempre no sentido crânio-caudal. Quando os pacientes estão conscientes, devem ser
questionados acerca de dor cervical, déficits neurológicos e incontinência urinária e fecal. A avaliação
neurológica deve ser focada nos aspectos: Escala de coma de Glasgow (ECG), exame da coluna
espinhal, sensibilidade dos dermátomos, motricidade dos 4 membros, reflexos, força, entre outros
aspectos.
Espontânea 4
À voz 3
Abertura ocular
À dor 2
Nenhuma 1
Orientada 5
Confusa 4
Resposta verbal Palavras inapropriadas 3
Palavras incompreensivas 2
Nenhuma 1
Obedece a comandos 6
Localiza a dor 5
Movimentos de retirada 4
Resposta motora
Flexão anormal 3
Extensão anormal 2
Nenhuma 1
- Red flags: São deformidades, escoriações e crepitações (podem indicar pneumotórax, bolhas
subcutâneas).
- Testar sensibilidade dos dermátomos: A via que está sendo testada é a via ascendente espinotalâmica
anterior ou lateral (via termo-algésica). O teste dos dermátomos é importante para ajudar a localizar o
nível da lesão sensitiva. Lembrar sempre dos seguintes dermátomos: T4 a nível do mamilo, T8 no
processo xifoide, T10 na cicatriz umbilical. Existe uma possível variação de 1 ou 2 níveis para cima
ou para baixo. Deve-se testar a sensibilidade tátil, motora, vibratória e proprioceptiva. Exemplo:
Paciente com hipoestesia abaixo do mamilo. Suspeita-se de uma lesão de T4. Verificar de T2 a T6
para possíveis fraturas. Outro exemplo: Paciente sofreu um acidente e fez uma fratura. Foi testada a
sensibilidade com uma agulha e estava com alteração entre o mamilo e o processo xifoide, então, se
faz uma radiografia de todo o canal medular e uma tomografia para verificar lesão entre os segmentos
T4 e T8. Nesse caso, o paciente tinha uma fratura em T7.
- Testar motricidade dos 4 membros: Pedir para levantar o braço, perna, e assim por diante.
Provavelmente já será testado no Glasgow.
- Paciente com possível traumatismo raquimedular, lesão cervical, não se deve testar se há rigidez de
nuca. Deve-se fazer o exame neurológico com restrições, para evitar lesões secundárias.
- Sinal de Babinski: Como explicado, é um sinal patológico que indica descontinuidade do primeiro
neurônio (motor superior), em que ocorre extensão do hálux (flexão dorsal do hálux) e também pode
ocorrer uma abertura dos dedos em leque.
Figura 9 Reflexo aquileu Figura 10 Reflexo patelar
- Hoffmann: Passa o dedo na unha do terceiro dedo da mão do paciente e se os demais dedos se
flexionarem é positivo. Significa que o neurônio motor superior está acometido.
- Clônus: A partir da planta do pé do paciente, fazer uma dorsiflexão súbita. Será positivo quando o
pé fizer um flapping. É uma contração muscular involuntária e rítmica, causada por uma lesão
permanente em neurônios motores descendentes. É acompanhado por espasticidade (aumento da
resistência ao alongamento, causada por distúrbios envolvendo neurônios motores superiores e
caracterizada por reflexos exagerados, que resultam em aumento do tônus muscular e espasmos
involuntários), além de outros achados de excitabilidade reflexa. O clônus pode ser encontrado no
tornozelo, na patela, no tríceps sural, no punho, na mandíbula, e no bíceps braquial.
Choque medular
- O choque medular é definido como um estado de completa arreflexia da medula espinhal, que
ocorre após traumatismo raquimedular grave. É um evento transitório que se segue após o trauma.
- Na grande maioria dos casos é decorrente de lesão medular alta, acima de T6.
- No início do choque, o paciente perde o reflexo bulbo-cavernoso. Nessa fase, abaixo do nível da
lesão, terá uma paralisia flácida, hipotonia e completa arreflexia da medula, pode estar acompanhada
de hiperextensibilidade e dura cerca de horas a dias.
- Só após o término do choque medular é possível determinar a lesão neurológica causada pelo
trauma.
- A lesão medular incompleta costuma manter a função sacral e ter prognóstico favorável, com
possibilidade de recuperação funcional.
- As fraturas ou luxações de C1-C2 ou C2-C3 com acometimento medular geralmente são fatais, por
levar à parada respiratória imediata, por disfunção frênica.
- A lesão da medula cervical pode ser completa ou incompleta. Nas completas, chamadas de síndrome
de secção medular, provocam tetraplegia, perda de toda a sensibilidade dos dermátomos situados
abaixo da lesão, perda dos reflexos tendinosos e da função neurológica sacral.
- Sem o reflexo bulbo-cavernoso: Sem o tônus, pode ter uma paralisia flácida, hipotonia e arreflexia,
que pode levar horas a dias.
- Com o reflexo bulbo-cavernoso: Pode ter uma hiporreflexia, espasticidade e clônus, porque tem o
arco reflexo ainda, tem a continuidade.
Choque neurogênico
- Os pacientes com lesão medular podem apresentar, também, queda da pressão arterial,
acompanhada de bradicardia, que caracteriza o denominado choque neurogênico.
- Causado pela ruptura das fibras simpáticas (paciente perde a resposta simpática).
- Ocorre vasodilatação dos vasos viscerais e das extremidades, associada à perda do tônus simpático
cardíaco (não consegue aumentar a FC para compensar, gerando bradicardia).
- Diferente do paciente com choque hipovolêmico, que também estará hipotenso e hipocorado, mas
apresentará taquicardia.
- O tratamento consiste na reposição de volume com SF ou Ringer Lactato, que respondem bem. Não
precisa dar drogas vasoativas. Se o paciente não responde a volume, então provavelmente está tendo
alguma hemorragia, um choque hipovolêmico. Suspeitar de ruptura do baço, hemopneumotórax.
- Existem várias classificações, a escala de Frankel, ASIA/IMSOP, Yale, Index Motor. Essas duas últimas
não são usadas na prática. Baseadas na incapacidade, existem as duas primeiras classificações.
- Lesões completas: Normalmente ocorre a secção de toda a medula. Perda sensitiva e motora
completa abaixo do nível da lesão (plegia). Sem função abaixo do nível da lesão. Ausência de
movimento abaixo de S4-S5 (não tem controle do esfíncter anal).
Estabilidade espinhal
- Paciente com suspeita de fratura, ao exame neurológico está com déficits, se faz o raio-x e tomografia
imobilizado na maca, daí evidenciou-se fratura, deve saber se a coluna do paciente está estável ou
não para retirá-lo da maca.
- Nas fraturas instáveis, há risco iminente de deslocamento dos fragmentos provocando lesão medular
ou agravando uma lesão preexistente. Por isso, tais fraturas exigem fixação interna. Nas fraturas
estáveis, apenas a imobilização externa é necessária. Para isso temos algumas classificações.
- Holdsworth (1963): Fez a descrição da teoria das 2 colunas, consistindo na divisão da coluna em
parte posterior e parte anterior.
- Denis (1983): Teoria das 3 colunas, baseada na tomografia. Consiste na divisão em regiões anterior,
média e posterior. É muito usada, procurar saber! Na região anterior: ligamento longitudinal anterior
+ 2/3 anteriores do corpo vertebral e do disco intervertebral. Na região média: 1/3 do corpo vertebral
+ ligamento longitudinal posterior. Na região posterior: Articulações interfacetárias + pedículos +
lâminas + processo espinhoso + complexo ligamentar da coluna posterior (ligamento interespinhoso,
ligamento supraespinhoso, ligamento intertransverso, ligamento amarelo, cápsula articular
interfacetária). Se 2 ou mais colunas estão com lesão, a coluna é considerada instável, e logo não pode
colocar o paciente em pé, pois corre o risco de piorar a lesão. Inicialmente, era uma classificação
apenas para as colunas toracolombares, mas hoje serve também para a cervical. Importante saber.
- Classificação de AOSpine: Baseia-se no mecanismo de lesão da coluna vertebral. É a mais utilizada
atualmente. A AOSpine é uma ONG que é patrocinada por algumas empresas. Nessa escala, as fraturas
são classificadas como: A - fratura por compressão, B - fratura por distração/divulsão, C - fratura por
rotação. Com base nessas classes (A, B e C), ocorre mais uma subdivisão que vai determinar o local
exato na vértebra em que houve a lesão. Como exemplo, A1 é uma lesão compressiva no corpo da
vértebra. Isso é importante, pois norteia quais os possíveis danos causados.
- Fratura por explosão (Burst): Estável. Ocorre após quedas de grandes alturas com os calcanhares. O
corpo vertebral sofre esmagamento e cominuição (fratura resultando em diversos fragmentos),
podendo ou não deslocar fragmentos para o canal medular se houver rotura do ligamento posterior
(nesse caso especial será instável).
- Fratura Seat Belt (Chance Fracture): Instável. É uma Fratura por ruptura. Ocorre por uso de cinto de
segurança de 2 pontos. É uma fratura por distração e flexão (fratura das 3 colunas), tendo o ligamento
longitudinal anterior como ponto de apoio.
- Fratura por deslocamento: Instável. É uma fratura rotacional. São quase sempre causadas por
acidentes automobilísticos, com o passageiro lançado para fora do veículo ou atropelamento. Há
fratura das 3 colunas e luxação entre as vértebras acometidas.
Síndromes medulares
Síndrome medular central
- Lesão que ocorre quase exclusivamente na região cervical, com preservação da sensibilidade sacral
e maior debilidade dos membros superiores do que dos membros inferiores.
- Representam lesões dos fascículos grácil e cuneiforme, localizados na coluna posterior. Associada a
traumas em extensão.
Síndrome de Brown-Séquard
- É caracterizada por uma hemissecção medular.
- Gera perda motora e da propriocepção ipsilateral à lesão (mesmo lado da lesão) e perda da
sensibilidade térmica e dolorosa contralateral.
- Quando as fibras decussam no bulbo, uma lesão de um lado da medula irá comprometer aquele
mesmo lado. Exemplo: propriocepção, tato fino e maior parte da motricidade.
- Quando as fibras decussam na medula, uma lesão de um lado da medula irá comprometer o lado
oposto. Exemplo: dor, temperatura, tato grosseiro.
Síndrome da cauda equina
- A medula termina nos segmentos de L1-L2, depois disso, corresponde à cauda equina, composta por
meninges e raízes nervosas.
- Sinais: Anestesia perianal em sela, disfunção da bexiga, disfunção dos esfíncteres, arreflexia
bulbocavernosa.
- Tem causas: Hérnia de disco, fraturas. Podem apresentar níveis variados de perda sensorial e motora
de membros inferiores.
- Quanto maior o espaço para deslocamento de ossos ou de tecido mole, como a medula, melhor o
prognóstico. Isso porque podem ocorrer herniações traumáticas que pressionam o cone medular, o
que pioraria o quadro clínico.
Exames complementares
Raio-x
- Pedir cervical, torácica, pelve, crânio e raio-x de tórax (melhor
pecar pelo excesso do que pela falta).
Tomografia
- Demora em torno de 15 a 20 minutos.
Mielografia
- Se não tem TC nem RM, em pacientes com ECG = 15, pode-se injetar o contraste no canal medular
e fazer várias radiografias para avaliar se há compressão e bloqueios.
Tratamento do traumatismo raquimedular
NASCIS (National Acute Spinal Cord Injury Study)
- Na década de 80, foram feitos os estudos: NASCIS I, II e III que preconizavam o uso de altas doses
de corticoide (metilprednisolona) em um intervalo curto de tempo (até 3 horas do traumatismo). O
objetivo é bloquear a cascata inflamatória e reduzir os radicais livres da medula, reduzindo as lesões.
- É um estudo controverso.
- Como resultados, os pacientes apresentavam uma melhora significativa da função motora e sensitiva
no período de 6 meses. O uso de corticoide está relacionado ao aumento de infecções, pneumonia,
ITU, sangramentos gástricos, anormalidades de funções hepáticas e outras complicações,
principalmente em pacientes idosos e diabéticos.
- O uso ou não de corticoides na lesão medular é, hoje, um grande assunto de debates em congressos
de neurologia. O que se faz em muitos consultórios é a prescrição de baixas doses de dexametasona,
10 mg/dia, somente em lesões incompletas, por curto período de tempo. A baixa dose e o tempo de
administração reduzido são importantes para evitar o aparecimento de hemorragia digestiva, infecções
(por diminuir a imunidade), somado ao fato de que a maioria dos pacientes com trauma medular são
politraumatizados, tendo risco aumentado de sangramentos.
Tratamento conservador
- Para fraturas estáveis, fazendo controle radiológico durante o tratamento. Órteses durante 3-4 meses.
- Paciente com fratura de coluna cervical pequena - (Frankel E e A1), com discreta compressão da
cervical - pode ser utilizado um colar cervical para imobilizar e também como fator antálgico, para
diminuir a dor que esse paciente vai apresentar.
Tratamento cirúrgico
- Quando realizar tratamento cirúrgico:
- Descompressão em caráter de urgência: Indicada nas lesões medulares incompletas por compressão
do canal por fragmentos ósseos. A cirurgia pode ocorrer por 2 vias: Via posterior e via anterior.
- Descompressão via anterior: Lesão grande, linha média e incompleta. Seguindo a descompressão
posterior. Corpectomia parcial ou total (retirada de uma porção do corpo vertebral para aliviar a
pressão da medula e manter a pressão dela). Acrescenta-se uma haste para manter a coluna estável.
Normalmente em lesões na coluna cervical.
Fraturas côndilo-occipitais
- São fraturas nas proeminências ínfero-laterais do osso occipital, a nível do forame magno, que
articulam com as facetas superiores do osso atlas (C1). A fratura é rara e ocorre nos traumas de alta
energia.
- Predominam em jovens, frequentemente associadas a TCE grave e/ou outras fraturas cervicais.
- Este tipo de fratura ocorre pela avulsão (pelo rompimento dos ligamentos alares), devido ao trauma
de rotação e inclinação lateral da cabeça, sendo potencialmente instável.
- O diagnóstico é feito por TC. Aquelas tomografias que renderizam uma imagem tridimensional
ajudam bastante. Antigamente não se fazia diagnóstico desse tipo de fratura.
- Raramente há lesão medular. É um trauma comum em nadadores que saltam de cabeça em água
rasa; ocorre também em casos de capotamento automobilístico. Quando ocorre lesão da artéria
vertebral, pode gerar a síndrome de Wallenberg, e isso ocorre porque a artéria cerebelar inferior
posterior (PICA) é ramo da artéria vertebral. Ocorre, então, uma isquemia bulbar.
- O diagnóstico é feito com raio-x em AP com boca aberta e TC em casos de dúvida. A conduta: Colar
cervical rígido por 3 meses. Se tiver lesão do ligamento transverso, precisa fazer tração craniana por
2-6 semanas e uso de halo-vest por 3 meses.
- Síndrome de Wallenberg: Será vista em outras aulas, mas adiantando um pouco, essa síndrome é
também conhecida como síndrome da artéria cerebelar inferior posterior (PICA). A artéria cerebelar
inferior posterior, ramo da artéria vertebral, irriga a parte dorsolateral do bulbo. Lesões desta região
frequentemente decorrem de trombose da artéria, o que compromete várias estruturas, resultando
sintomatologia complexa. A seguir são enumeradas as principais estruturas lesadas com os respectivos
sintomas:
- Tipo I: Fratura do ápice do processo odontoide, com pequena avulsão. Tratamento com colar
cervical por 3 meses.
- Tipo II: Fratura no meio do processo odontoide. É o mais comum. O tratamento dependerá
da faixa etária do paciente e do grau de deslocamento. Nos casos de deslocamento menor
do que 5 mm e idade menor do que 50 anos, a conduta é conservadora, com halo-vest por 3
meses. Se o deslocamento for maior do que 5 mm ou idade maior do que 50 anos,
prefere-se o tratamento cirúrgico (artrodese atlantoaxial).
- Tipo III: Fratura na base do processo odontoide, atingindo o corpo do áxis. Tratamento é com
halo-vest por 3 meses.
Fratura de Hangman’s
- É a fratura por enforcamento: Espondilolistese (deslizamento) de
C2 por hiperextensão-distração cervical. Arranca o corpo do áxis
do corpo de C3 (distração), ao mesmo tempo em que hiperextende
os pedículos do áxis.
SCIWORA
- Spinal Cord Injury Without Radiologic Anormality.
- É feito um raio-x e TC da coluna do paciente e eles se apresentam com resultados normais, até mesmo
na RM não se encontra nada, mas tem um déficit neurológico.
- Exemplo: Uma criança chega com paraplegia, nível sensitivo, déficit motor, vítima de acidente de
carro (capotamento) e, ao ser feita a radiografia, não se encontra nenhuma lesão, assim como na RM,
que também pode não apresentar nenhuma lesão – mas ele continua com déficit motor. No dia
seguinte, já está caminhando. O paciente pediátrico possui uma frouxidão ligamentar e, por isso,
muitas vezes pode sofrer uma lesão sem necessariamente sofrer fraturas. Luxação fisiológica entre C2
e C3 pode acontecer em crianças e isso só vir a ser descoberto quando ela sofre um trauma e precisa
fazer uma TC. Acontece por frouxidão ligamentar.
- Em torno de 60-70% das lesões que compreendem o trauma raquimedular são cervicais e costumam
também ser as mais graves; 10-15% são lesões torácicas e o restante, lombares.
- Nível de lesão mais frequente: Locais de transição. Entre coluna cervical-torácica e torácica-lombar.
Isso porque, anatomicamente, essas transições têm alterações, sendo assim C7, T1, T11, T12 e L1 são
as mais frequentes.
No paciente pediátrico
- Subluxação fisiológica entre C2 e C3.
Fratura cervical-explosiva
- Após mergulho de cabeça em águas rasas, acidentes esportivos e automobilísticos. Neste caso, a
posição da cabeça era neutra durante o trauma axial. É particularmente comum na vertebra C7 e pode
estar associada à Fratura de Jefferson. O esmagamento do corpo vertebral lança fragmentos ósseos
para o canal medular, o que pode levar ao TRM (um dos critérios de instabilidade é a redução > 50%
da altura do corpo vertebral). Tratamento: tração craniana, sendo muitas vezes necessário cirurgia
descompressiva. Fixação interna está indicada nas fraturas instáveis. Pacientes sem TRM e estáveis são
tratados com Halo vest por 3 meses.
Fraturas toracolombares
- São as fraturas mais frequentes do esqueleto axial e correspondem a 90% das fraturas de coluna. O
segmento torácico até T10-T11 é mais fixo (pelo arcabouço das costelas), enquanto o lombar é mais
móvel. As fraturas incidem mais em T12, L1 e L2. Dividem-se em instáveis e estáveis.
- As fraturas instáveis podem lesar a medula, provocando paraplegia, ou a cauda equina. A síndrome
da cauda equina é caracterizada pela perda da função motora, sensitiva e reflexa de L4-L5 a S5. O
paciente se apresenta com paraparesia, anestesia em sela, ausência dos reflexos sacrais e do tônus
retal, arreflexia tendinosa persistente nos membros inferiores, ausência do sinal de Babinski, e
disfunção esfincteriana.
- Fratura impactada (compressão) são as mais comuns, predominando em idosos com osteoporose. O
paciente cai de costas e bate as nádegas, apresenta dor na coluna e certa cifose. A radiografia mostra
uma redução da altura da porção anterior do corpo vertebral, não mais que 40%. O tratamento será
conservador, com repouso, analgesia, órtese toracolombar em extensão e exercícios para extensão da
coluna.
- Fratura explosiva ocorre após quedas de grandes alturas com os calcanhares batendo no chão. A
força axial é transmitida para a coluna lombar (comum a fratura do calcâneo estar associada). O corpo
vertebral sofre esmagamento e cominuição e pode ou não deslocar fragmentos para o canal medular.
Nas fraturas estáveis, a terapia é conservadora: analgesia, colete ou imobilização gessada por 2-3
meses. Nas fraturas instáveis, a terapia é cirúrgica (descompressão + fixação interna).
- Fratura de Chance “do cinto de segurança” é uma fratura por distração-flexão vertebral causada por
uma batida de carro com o passageiro usando cinto de segurança abdominal. Esta fratura está muito
associada ao trauma abdominal fechado (50-60% dos casos). As forças de distração-flexão fraturam
as três “colunas” da vértebra em duas partes, uma superior e uma inferior. Por vezes, os achados
radiográficos podem ser confundidos com a fratura impactada. Embora a parte óssea tenha boa
consolidação com a terapia conservadora, a parte ligamentar lesada pode manter a instabilidade,
provocando cifose dolorosa posteriormente. Por isso, na presença de lesão dos ligamentos da coluna
média e posterior, o tratamento é cirúrgico.
- Fraturas instáveis com luxação ou rotação São as fraturas toracolombares mais graves e são quase
sempre causadas por acidentes automobilísticos, com o paciente sendo ejetado ou atropelado. Há
luxação entre as vertebras acometidas e quase sempre lesão medular grave com paraplegia
permanente ou síndrome da cauda equina. O tratamento baseia-se nos princípios da abordagem ao
TRM e na redução aberta com fixação interna (artrodese) posterior ou anterior + posterior com placa
e parafusos e reconstrução com enxerto ósseo.
Mielopatia espondilótica
- Degeneração do disco por um processo natural de
envelhecimento. Ocorre principalmente nas partes móveis
da coluna (cervical e lombar).
- O conteúdo de água do disco intervertebral e do anel fibroso diminui progressivamente com o avanço
da idade. Há concomitantemente, alterações degenerativas do disco. O espaço intervertebral se
estreita e pode ser obliterado e o anel fibroso faz protusão no canal vertebral.
- Diagnóstico: Pode ser realizado por meio do raio-x: Espondilose cervical. Estreitamento dos espaços
discais, presença de osteófitos, retificação da coluna (até inversão da curvatura), especialmente em
C5-C6 e C6-C7. RM: Espondilose cervical + mielopatia. Aparece redução do calibre e alteração no
interior da medula (edema). Destaca o nível de compressão medular, através da qual, conseguimos
observar as áreas de estenose e compressão de medula. TC: Avaliação pré-operatória.
- Tratamento não cirúrgico: Evitar atividades que provoquem dor. Fazer fisioterapia, controle do peso
(principalmente para a região lombar). Uso de órteses (Colete de Putti para a lombar e/ou colar
cervical).
- Tratamento cirúrgico: Para casos que não respondem ao repouso e medicação. Quando há falha no
tratamento clínico ou piora dos sintomas. Foraminotomia, laminectomia, discectomia/disco artificial.
- Prognóstico: Depende da gravidade dos sintomas, idade também, duração dos sintomas antes do
tratamento e envolvimento de múltiplos níveis.
- Existem alguns sinais que podem ajudar, como o sinal de Naffziger’s, sinal de Lasègue e o sinal de
Kernig.
- Sinal de Naffziger’s: Dor que irradia para a perna quando faz a manobra de Valsava.
- Sinal de Lasègue: Elevação do membro inferior em extensão. Para fazer a extensão da raiz sobre a
hérnia e o paciente vai sentir dor. Sinal radicular positivo quando dor e irradiação para a perna durante
30 a 70 graus.
- Sinal de Kernig: Coxa a 90 graus do tronco e perna a 90 graus da coxa. Ir levantando a perna e o
paciente terá dor. Também é feito na meningite.
- O paciente pode ter também uma hiporreflexia: Patelar (L4), aquileu (S1) e diminuição da força do
hálux (L5).
Exames complementares
- Raio-x: Não é possível ver o disco. Apenas alteração de altura entre uma vertebra e outra e osteófitos.
- Mielografia: Raio-x com contraste no canal medular. Revela a hérnia de disco e a compressão
nervosa.
Tratamento conservador
- Analgésico/AINES.
- Repouso.
- Sedativos (benzodiazepínicos), para diminuir a contratura da musculatura, uma vez que esses
pacientes têm dor constante, que acaba por contrair a musculatura e aumentar a dor. Faz um quadro
vicioso.
- Fisioterapia.
Tratamento cirúrgico
- Situações de urgência: Até 9h do início dos sintomas para fazer a cirurgia, pois depois disso não
reverte mais.
- Foot drop (urgência): É o pé caído, geralmente tem lesão em raiz de L4, L5. Exemplo: Paciente com
dor lombar há 3 dias, pé caiu faz 3 horas (deve-se fazer a cirurgia o mais rápido possível).
- Faz o tratamento cirúrgico quando não há alívio com tratamento conservador, ou se há recorrência
de dor incapacitante.
- Complicações: Lesão nervosa (durante a retirada, às vezes por aderência do disco ao nervo). Lesão
dos vasos e vísceras. Infecção. Instabilidade mecânica (com a retirada do disco começa a ter
espondilolistese, deslizamento). Aracnoidite adesiva (pela manipulação ou pelo próprio disco pode
haver aderência entre as raízes e aracnoide, causando bastante dor. É bem frequente).
Outras informações para a prova
Irrigação da medula espinhal
- A medula espinal é irrigada, de forma geral, por três artérias espinhais, uma anterior e duas
posteriores. As artérias espinais apresentam disposição longitudinal e se anastomosam com as artérias
radiculares (provenientes das artérias vertebrais e aorta).
- Artéria espinal anterior: Se origina das artérias vertebrais, na cavidade craniana. Desce
longitudinalmente na medula espinal, alojada na fissura mediana anterior da medula, distribuindo
ramos medulares mediais e laterais.
- Artérias espinais posteriores: Cada artéria espinhal posterior se origina da sua respectiva artéria
vertebral. Posteriormente, a artéria espinal posterior contorna a face lateral do bulbo, alcançando o
sulco lateral posterior. Nesse sulco tem trajeto descendente pela medula espinal.
- Além das artérias espinhais, existem as artérias radiculares que são ramos de artérias segmentares.
- A irrigação sanguínea da medula espinhal é muito mais complexa, porém menos efetiva que a do
cérebro, já que depende de vasos de diâmetro muito pequenos que procedem das artérias vertebrais.
Em linhas gerais, a circulação suplementar dos vasos medulares provém das artérias radiculares, as
quais ingressam à medula aproveitando as raízes nervosas que emergem ou chegam até ela. A mais
importante de todas é a artéria de Adamkiewicz, cuja localização tem sido motivo de muitos estudos.
Em 45% dos casos, a origem da artéria situa-se entre os espaços T8 e T12 para as intercostais,
chegando em algumas ocasiões pela L1. A maioria das vezes são artérias intercostais ou lombares do
lado esquerdo. De qualquer modo, a posição exata da radicular magna no homem não permite
desenhar uma estratégia totalmente confiável que descarte, por exemplo, a possibilidade de isquemia
medular durante o pinçamento da aorta. Tem sido relatado alterações da circulação medular que, por
distintos mecanismos (embolias, arteriosclerose, anestesia regional central, etc), podem conduzir a
isquemia da medula com suas respectivas consequências clínicas.
Aula 06 - Demências (Dr. Renato Endler)
- Existem vários tipos de demência:
- Conceito: É uma condição adquirida que representa um decréscimo em relação ao nível cognitivo
prévio do indivíduo com comprometimento das funções sociais e funcionais, em geral com a memória
e outras funções acometidas. O paciente tem comprometimento das atividades de vida diárias (AVDs)
devido à demência. Esse prejuízo no dia a dia pode começar com esquecimento de onde guardou
determinada coisa, ao não lembrar o que fez antes, se perder em determinado lugar e pode
evolutivamente piorar para uma condição em que o paciente não lembra o que comeu, não lembra
se tomou banho, não quer tomar banho porque acha que já tomou, e assim por diante.
- Observação: Não necessariamente tem que haver comprometimento da memória, apesar de ser o
mais frequentemente acometido.
- Devem ser relatados também sintomas de alteração motora ou da marcha, movimentos adventícios,
envolvimento autônomo (hipotensão, disfunção urinária ou intestinal) ou distúrbios do sono.
- Epidemiologia da demência: A maioria dos casos de demência em pessoas idosas apresenta sinais
patológicos de doença de Alzheimer (70 a 80% submetidos à necropsia apresentam Alzheimer
patologicamente definido). Transtornos de corpos de Lewy são a segunda causa mais comum de
demências. Demência frontotemporal se torna sintomática a idades mais baixas, na sexta década.
- Comprometimento cognitivo leve: É uma desatenção na maioria dos casos e geralmente o problema
principal não é a memória, mas sim a atenção. Faz algo desatento e não lembra porque é algo que
você não gravou, ou seja, não lembra não por problema de memória, mas porque a informação não
foi gravada. As principais causas dessa alteração da atenção são ansiedade, alterações metabólicas -
principalmente deficiência de vitamina B12, distúrbios da tireoide, doenças infecciosas (sífilis e HIV),
mas a causa mais comum de todas inclui os distúrbios do sono (apneia do sono, daí acorda cansado).
Mini exame do estado mental (Mini mental)
- É um exame fácil, prático, faz em poucos minutos e avalia todas as funções cognitivas. A partir desse
exame é feita uma triagem para saber se esse paciente deve ser investigado para algo mais aprofundado
ou se é somente uma demência senil ou uma demência da idade.
- O mini mental classifica por pontos, de acordo com os seguintes critérios: Orientação, memória
imediata, atenção e cálculo, linguagem, memória de evocação e função visuoespacial.
- Orientação: No tempo e no espaço. Que horas são? Em que dia estamos? Que dia do mês?
- Memória imediata: Médico fala 3 palavras e logo em seguida pede para o paciente repetir.
- Atenção e cálculo: Pedir para o paciente subtrair 7 de 100 até chegar no 65. Se não souber fazer
cálculos, pedir para soletrar a palavra “Mundo” de trás para frente.
- Linguagem: Pedir para o paciente falar o nome de 2 objetos ilustrados e para que servem. Apraxia é
a incapacidade de realizar um ato motor complexo da maneira correta, apesar de a função motora
permanecer intacta. Lesões em áreas cerebrais responsáveis pelo planejamento e sequenciamento das
funções motoras. Exemplo: O paciente reconhece uma caneta, mas não sabe a sua função e como
usá-la. Agnosia é a incapacidade de reconhecer ou identificar objetos, apesar de a função sensorial
permanecer intacta. Exemplo: O paciente não reconhece o objeto como uma caneta. Ainda sobre a
linguagem, pode se fazer um teste de repetição (pede para repetir uma frase “nem aqui, nem ali, nem
lá”. Dá pra ver como estão os comandos (pegar um papel com a mão direita, dobrar no meio e devolver
com a mão esquerda), e também escrever uma frase completa.
- Memória de evocação: Pedir para o paciente repetir as palavras que foram faladas anteriormente.
- Função visuoespacial: Pedir para copiar/desenhar dois polígonos intercalados. Também tem o teste
do relógio (desenhar o relógio com os ponteiros, números e a hora que for determinada).
- Pontuação: Os parâmetros podem variar muito. A nota máxima é 30 pontos e a nota de corte é 26
pontos para paciente alfabetizados.
- Situações clínicas: Digamos que o paciente fez o teste e deu 28, nesse caso, avisa o paciente que
deu um pouco alterado, mas que não está ruim e pede para repetir o exame em 6 meses. Se em 6
meses der 28 de novo, quer dizer que está igual, então pede para repetir em 1 ano. Agora, um paciente
alfabetizado fez e deu 24 pontos, deve-se iniciar o tratamento com qualquer uma das 3 medicações e
a partir do momento que inicia o tratamento tem que acompanhar esse paciente. Repete o exame em
6 meses para ver se a medicação está funcionando. Se o paciente ficou 4 anos sem acompanhamento,
voltou e seu exame deu 14, deve-se associar Memantina ao medicamento que já está sendo utilizado.
- Degenerativas: Alzheimer.
- Não degenerativas: Demência vascular.
- Corticais: Orientação e memória de armazenamento comprometidos.
- Subcorticais: Atenção, memória e processamento mental comprometidos e alteração da
motricidade.
- Potencialmente reversíveis: Alzheimer.
- Irreversíveis: Creutzfeldt-Jakob (demência da vaca louca).
- Rapidamente progressivas: Creutzfeldt-Jakob.
- Lentamente progressiva: Alzheimer.
- Então existem demências que podem ser degenerativas ou não, corticais ou subcorticais, reversíveis
ou não e as que progridem rapidamente ou lentamente.
- Fatores protetores: Atividade física, alta escolaridade (incidência baixa geralmente, mas quando têm
é mais grave) e ômega 3 (considerado um fator relativo).
- Importante: A maioria dos casos é esporádica (sem relação familiar, 2/3 dos pacientes), são poucos
os casos que ocorrem formas familiares (5% dos casos). Forma familiar ocorre geralmente antes dos
60 anos por mutações de cromossomos 1, 14 e 21.
Perda neuronal
- Excesso de glutamato > Faz morte dos neurônios colinérgicos > Diminui acetilcolina. É por isso que
os inibidores de acetilcolinesterase são usados no tratamento.
- Em situações fisiológicas, a proteína precursora amiloide sofre clivagem pela enzima alfa-secretase,
produzindo fragmentos não amiloidogênicos (não tóxicos).
- No Alzheimer, a proteína amiloide sofre clivagem pelas enzimas beta e gama-secretases, produzindo
peptídeos beta-amiloides que são neurotóxicos. E isso ocorre por alteração no cromossomo 21.
Emaranhados neurofibrilares
- A proteína TAU é codificada por um gene do cromossomo 17.
- Em condições fisiológicas, a proteína TAU faz a formação estrutural do citoesqueleto neural que é
responsável pelo transporte neuronal. Com o tempo, podem acontecer emaranhados de menor
densidade.
- A densidade dos emaranhados aumenta com o passar dos anos, tanto em pessoas sem demência
quanto naquelas com demência. A diferença é que em pacientes com demência, a demência dos
emaranhados é maior. A formação de emaranhados de alta densidade piora a qualidade de vida do
paciente.
- As principais áreas acometidas pelos emaranhados são o córtex entorrinal e a formação hipocampal.
Posteriormente, há o acometimento dos núcleos colinérgicos no prosencéfalo basal, cursando com
perda da inervação colinérgica para o córtex cerebral e depois para áreas neocorticais.
- Quando acomete o córtex associativo (responsável pela integração sensório-motora), cursa com as
alterações cognitivas e comportamentais. É por isso que a alteração microscópica acontece muito
antes do aparecimento dos sintomas.
- O paciente pode ter apraxia (não consegue realizar determinadas funções motoras que sabia fazer
antes) e também agnosia (incapacidade de reconhecer ou identificar objetos).
- Sintomas não cognitivos (neuropsiquiátricos): Já uma fase avançada da doença. Apatia (mais no
início), depressão (quadro crônico), agressão, ansiedade, distúrbios do sono, distúrbios do apetite (a
polifagia é o mais comum), delírio e alucinação (em fases mais avançadas), desinibição e irritabilidade.
- O diagnóstico é clínico (anamnese é o exame principal). Apesar da biópsia cerebral ser o padrão
ouro (diagnóstico definitivo pela neuropatologia), ela não é utilizada.
- O mais importante para o diagnóstico é a anamnese. Conversar com a família. Perguntar sobre:
- Perguntar sobre traumas e AVC. Sempre diferenciar se não tem um comprometimento cognitivo leve,
que tem várias causas (distúrbios do sono, ansiedade, distúrbios hormonais, como disfunções
tireoidianas, alguma outra doença. Se for paciente jovem com queixa de esquecimento é muito
improvável que seja demência.
- Diagnóstico provável: Tem um início insidioso, déficits cognitivos iniciais e mais proeminentes (dois
domínios cognitivos afetados + alteração de vida diária). Apresentação amnéstica (perda de memória
recente). Representação não amnéstica (compromete linguagem, função visual, função executiva).
Não necessariamente o paciente vai ter comprometimento dos outros domínios também. “Provável”
é mais diagnóstico de Alzheimer do que o “possível”, ou seja, é o que tem maiores chances.
- Diagnóstico possível: Preenche os critérios da doença provável, mas tem início abrupto ou detalhes
de histórico insuficiente ou falta de documentação objetiva de declínio cognitivo progressivo. Tem
menos chance de ser Alzheimer.
- Diagnóstico com apresentação mista: Paciente que tem os critérios de Alzheimer, mas tem critérios
de doença cerebrovascular ou característica de demência de corpos de Lewy ou outra doença
neurológica ou uso de medicação.
Diagnóstico
- Tem que ter a presença de alterações cognitivas, comportamentais e funcionais. Tem que ter
alteração da função das atividades do dia a dia.
Tríade do diagnóstico
Exames complementares
Exames complementares
Exames laboratoriais
- Laboratoriais básicos: Hemograma (para descartar anemias), creatinina, sódio, potássio e cálcio.
- Testes para vitamina B12. Se o paciente apresentar alguma deficiência de vitamina B12 e tiver
também sinais de Alzheimer, não pode fechar o diagnóstico. Tem que fazer o tratamento da
deficiência da vitamina, e ver se o paciente melhora.
- Sorologia para sífilis e para HIV, principalmente em pacientes abaixo de 60 anos (mas tem que fazer
em todos os pacientes).
Líquor
- É indicado em demências antes dos 65 anos para afastar apresentação de curso atípico, doenças
infecciosas.
- Dosagem de beta amiloide e proteína TAU no líquor: Podem aumentar a acurácia, mas são exames
caros e não definem diagnóstico. A proteína TAU é hiperfosforilada e é detectada em concentrações
mais altas no LCR. Peptídeo beta amiloide está mais baixo no LCR.
Exames de imagem
- Tomografia de crânio.
- Pode pedir uma ressonância com volumetria do hipocampo. O radiologista calcula o volume do
hipocampo com a finalidade de ver se está diminuído ou não, com valores de referência para a idade.
- SPECT (tomografia por emissão de fóton único): Mostra hipofluxo regional temporoparietal posterior.
- No exame de imagem, compara-se um lado com o outro, analisar a linha média (presença de atrofia
generalizada).
Tratamento
- A medicação tem o intuito de estabilizar a doença ou diminuir sua progressão, mas não existe uma
medicação que faça reverter a memória ao que era antes.
- Aumentam a acetilcolina na fenda sináptica, pois inibem a acetilcolinesterase (enzima que faz
hidrólise/destruição da acetilcolina, ocasionando estimulação do receptor colinérgico).
- Não se deve associar medicamentos dessa mesma classe (Exemplo: Não usar donezepila +
galantamina).
- Mecanismo de ação: Antagonista não competitivo dos receptores NMDA (diminui a ação do
glutamato).
- Utilizada apenas em fase moderada e grave (Mini Mental < 17 já pode considerar).
- Pode ser associada a qualquer outro medicamento na fase moderada ou grave da doença.
- Nunca iniciar de forma abrupta, rápida, pois gera muitos efeitos colaterais. O ideal é iniciar com
meio comprimido ao dia (5 mg) e aumentar meio comprimido a cada 7 dias até tomar 2 comprimidos
ao dia (20 mg).
- Não se faz associação entre os medicamentos, apenas Memantina para os casos graves.
5 mg (1x/dia)
Donezepila 5 / 10 mg 10 mg/dia
geralmente à noite
Rivastigmina Patch
4,6 / 9,5 / 13,3 mg (Colar após o banho, age durante 24h)
(Adesivo)
- Efeitos colaterais: Náuseas (principal), diarreia, insônia, vômitos, câimbras, fadiga, anorexia, tontura,
dor abdominal, perda de peso, ansiedade, síncope, tremores e cefaleia.
Demência vascular
Conceito
- É uma condição adquirida que apresenta um decréscimo em relação ao nível cognitivo prévio com
comprometimento das funções sociais e funcionais (prejuízo de pelo menos 2 domínios cognitivos).
- Principal doença relacionada a um evento isquêmico (AVC) e por isso tem alteração no exame de
imagem.
- Pode ter tido infarto de grandes vasos ou infarto único estratégico (região do tálamo, por exemplo).
- Tem que ter relação entre o AVC e o início dos distúrbios demenciais. Tem que ter um evento
isquêmico previamente e depois o comprometimento de memória, por exemplo.
Epidemiologia
- A prevalência em pacientes que apresentaram infarto vascular é de 10 a 30% após 3 meses, no qual
30 a 48% dos pacientes que tiveram um AVC podem evoluir com demência (não significa que todos
irão evoluir).
- Demência vascular pode ser isolada ou mista e é a segunda causa de demência, depois de Alzheimer.
Características
- Não é uma demência degenerativa. Tem uma causa, que é o AVC, diferentemente do Alzheimer.
- Os fatores de risco incluem idade avançada, diabetes, história prévia de AVC e tamanho e localização
do AVC.
Etiologia
- Infarto único estratégico: Principalmente no tálamo, hipocampo e giro angular. Quadro com início
abrupto (diferente do Alzheimer que tem lentidão para iniciar o quadro clínico).
- Múltiplos infartos: Várias regiões, lesões em territórios de grandes artérias, na cerebral média,
cerebral anterior. Ocorre hipoperfusão.
- Demência por lesões de pequenos vasos: HAS, DM, infartos lacunares nos núcleos da base
(hemorragia das artérias lenticuloestriadas, que são pequenos ramos da artéria cerebral média que
irrigam os núcleos da base). Diferente do Alzheimer, o paciente pode abrir o quadro com uma
disfunção executiva, apatia e sintomas parkisnonianos.
- Quanto maior o número e extensão dos infartos, maior a chance de desenvolver demência
cerebrovascular.
- Relação entre a síndrome demencial e a demência vascular inferida de início de demência após 3
meses do AVC ou deterioração abrupta das funções cognitivas ou progressão flutuante em degraus
(relação do tempo e sintoma).
- Diagnóstico possível: Presença de demência com sinais neurológicos focais em paciente sem exame
de imagem ou ausência de relação temporal clara entre demência e AVC. Pacientes com início sutil
ou curso estável, ou com a melhora do distúrbio cognitivo que não é tão claro que seja demência
vascular, geralmente tem um início mais pontual do que Alzheimer. Exemplo: Paciente chega no PS
acompanhado pelo filho, que relata o problema de memória com início a 6 meses, no exame físico,
paresia de membro superior direito, no mini mental o resultado é 20. Na hora você não tem um exame
de imagem, mas pode fazer uma forte correlação clínica.
Diagnóstico definido: Tem que ter critérios clínicos para a demência vascular provável, preencher
todos os critérios, tem que ter evidência histopatológica (necropsia e biópsia), ausência de
emaranhados neurofibrilares ou placas neuríticas excedendo o esperado para a idade; ausência de
outras causas.
Exames complementares
Exames de imagem
- Tomografia de crânio: Para descartar/afastar outras causas como tumores, hidrocefalia, hematoma
subdural, infartos lacunares, lesões corticais ou, também, para confirmar o diagnóstico.
- Ressonância: É o exame padrão ouro. As melhores sequências para avaliar são Flair ou T2 (sendo
que a Flair é a principal para avaliar a possibilidade de um AVC prévio). A sequência Flair nada mais
é do que um T2 com supressão (apagamento) do líquor. A sequência T2 é quando a substância branca
fica hipointensa (cinza) e a substância cinzenta fica hiperintensa (branca), sendo útil para ver
inflamações/desmielinizações.
Classificação de Fazekas
0 = Nenhuma alteração.
Quadro clínico
- Variam conforme o território vascular afetado pelo AVC.
- Depressão.
- Acometimento da memória.
- Confusão aguda.
- Crises epilépticas.
- Sintomas cognitivos produzidos pela demência vascular, geralmente, são subcorticais: Redução da
capacidade de concentração, esquecimento, inércia, alentecimento do pensamento (bradifrenia),
apatia e déficits na função executiva.
- Elementos da história clínica que falam a favor de demência vascular: Curso flutuante, confusão
mental de ocorrência noturna, depressão, queixas somáticas e incontinência emocional, assim como
HAS, AVE prévio e sinais focais.
Tratamento
- Tratar os fatores de risco vasculares e cardiovasculares.
- Tratamento do AVC, uso de AAS, investigação por meio do ECG, investigar arritmias, fazer eco de
carótidas, arteriografia, angiotomografia, eco do coração.
- Importante:
- Se o quadro cognitivo vem antes do sintoma motor em até 1 ano = Demência de corpos de Lewy.
- Se o quadro motor vem antes dos sintomas cognitivos em até 1 ano = Demência de Parkinson.
Tratamento
- Donezepila, Rivastigmina, Galantamina, Memantina: Têm baixa eficácia, não usa eles praticamente.
Demência frontotemporal
- É a segunda causa de demência degenerativa na população com menos de 65 anos. A idade é atípica
em relação ao Alzheimer, começa a partir dos 45 anos, até os 65 anos geralmente.
- Apresenta uma evolução muito ruim (prognóstico ruim), com sobrevida de 6 a 8 anos.
Fisiopatologia
- É uma atrofia circunscrita, em geral, assimétrica dos lobos frontais e temporais.
Quadro clínico
- Sintomas de início insidioso e tem como características a mudança da personalidade e mudança do
comportamento já no início do quadro.
Tratamento
- É sintomático.
Outras demências
- São casos que, dependendo do estágio, podem ser reversíveis.
Doença de Wilson
- Ocorre pelo acúmulo de cobre.
Neurossífilis
- Pacientes com cerca de 50 anos, sempre pedir o VDRL, tanto sérico quanto do líquor.
Hipotireoidismo
- Causa possivelmente tratável e reversível de demência.
HIV
- Quadro geralmente atípico.
Doença de Creutzfeldt-Jakob
- Doença da vaca louca.
- O diagnóstico pode ser feito com dosagem de proteína 14-3-3 no LCR (patognomônico).
- Se no exame o paciente tiver uma hidrocefalia no ventrículo, é muito provável que tenha hidrocefalia
de pressão normal, aí pode fazer o TAP teste, que avalia se a derivação pode ter melhora ou não.
- Se ele tiver muito líquor, tira um pouco do líquor pela punção lombar (tira aproximadamente 30 ml
de líquor e pede para o paciente caminhar).
- Se ele melhorar a marcha, melhorar a queixa cognitiva, vai ter uma boa resposta com tratamento
cirúrgico, aí pode fazer uma derivação ventriculoperitoneal para drenar o excesso de liquido.
- Resumindo: Geralmente surge como sequela de uma meningite, TCE ou hemorragia subaracnoide.
Cursa com a síndrome clássica: apraxia da marcha, incontinência urinária, parkinsonismo e demência.
O diagnóstico é feito pela TC de crânio: hidrocefalia sem atrofia cerebral patológica. A punção lombar
revela uma pressão liquórica no limite superior da normalidade (17 cm/H2O). O tratamento é com
Derivação Ventriculoperitoneal (DVP). A resposta ocorre em 30-50% dos casos, geralmente parcial
(Apostila do Medcurso).
Demências tratáveis
- São elas: (1) hipotireoidismo; (2) deficiência de vitamina B12; (3) neurossífilis; (4) complexo de
demência relacionado à AIDS; (5) tumores cerebrais; (6) hidrocefalia comunicante normobárica.
Devemos lembrar que a deficiência de B12 pode cursar apenas com o quadro neurológico (sem
anemia) em alguns pacientes.
- Todo paciente com demência deve ser submetido à investigação de todas estas causas! Exceção seja
feita para o anti-HIV, que precisa do consentimento do paciente. Portanto, temos que solicitar, já na
primeira consulta: T4 livre, TSH, dosagem de B12 sérica, VDRL e TC de crânio com e sem contraste.
Outras causas de demência reversível são o alcoolismo e o uso excessivo de medicamentos para o
SNC, como benzodiazepínicos.
- Cefaleia é uma das queixas provavelmente mais comuns que suscitam consultas médicas (Em UBS,
corresponde a cerca de 9% das consultas). Em estudo realizado em São Paulo, com cerca de 40
médicos de emergências, a média encontrada de consultas devido a cefaleias, em salas de emergência,
foi de duas vezes ao dia (cerca de 1 a 3% dos atendimentos).
- Cefaleia tipo tensional (CTT) é seguramente o tipo mais comum encontrado, porém raramente é
incapacitante e usualmente é causa de automedicação. Com um grande número de medicações
disponíveis sem a necessidade de receita, essa cefaleia raramente leva o paciente a se consultar com
um médico.
- Cefaleia é geralmente um sintoma benigno (Exemplo: Causada pelo uso de anticoncepcional), mas
eventualmente reflete uma condição subjacente grave ou maligna (Exemplo: Tumores, aneurismas e
arterites).
- Quando benignas, a dor de cabeça pode ser ocasionada pelo uso de anticoncepcional, e neste caso,
essa dor apresenta uma base benigna, uma vez que com a retirada do anticoncepcional a dor cessa.
Assim como uma dor de cabeça há oito anos, 3 ou 4 vezes por ano com duração de 3 dias, sempre
apresentando o mesmo padrão de dor, não será considerada grave.
- Quando malignas, deve-se ficar atento àquele paciente que refere dor de cabeça (com náusea,
vômito, anorexia, sudorese etc) diferente daquela que sempre apresentou. Exemplo: Tumores,
aneurismas e arterites, como dito anteriormente. Modificação no padrão da dor deve sempre chamar
a atenção, seja no local, no tipo, na duração, na intensidade.
- Toda dor é urgente. Algumas dores serão apenas analgesiadas, outras, após analgesiadas, passarão
por pesquisa de causas graves. Muitos atendentes de pronto socorro diagnosticam enxaqueca como
vertigem, associando erroneamente um sinal sensitivo relacionado à dor com um sinal sensitivo
relacionado ao movimento.
- Hemograma, VHS.
- Proteína C reativa.
- Anticorpo antinucleares.
- Provas tireoidianas.
- RMN de crânio e de encéfalo.
- Biópsia de artéria temporal (usado em pessoas idosas caso se suspeite de arterite de células
gigantes - em centro médico que admita o exame, ou seja, que tenha um patologista habilitado).
- Líquor.
Qualidade/intensidade
- Pode ser forte ou fraca. Porém, a intensidade da dor raramente tem valor diagnóstico e é bastante
subjetiva.
- Merritt: A intensidade da dor raramente tem valor diagnóstico e é bastante subjetiva. Assim, também,
a resposta à medicação placebo não fornece informações úteis. Não há nenhuma evidência de que os
indivíduos que respondem ao placebo tenham níveis de dor mais baixos que os que não respondem
ou não tenham efetivamente dor. Os pacientes que chegam a um serviço de emergência com a mais
forte cefaleia de sua geralmente têm enxaqueca. Meningite, hemorragias subaracnóides e cefaleia em
salvas também produzem dores cranianas intensas. Contrariamente à crença comum, a cefaleia
produzida por um tumor cerebral geralmente não é intensa.
Localização
- Pode ser focal, multifocal, profunda, e com irradiação.
- Se a origem for uma estrutura extracraniana, como na arterite de células gigantes, a correspondência
com o local da dor é bastante precisa. Exemplo: Desarranjo da articulação temporomandibular pede
que a dor seja na proximidade.
- A inflamação de uma artéria extracraniana causa dores no couro cabeludo e uma hiperssensibilidade
extraordinária, localizada na área do vaso.
- As lesões da fossa posterior causam uma dor que é geralmente occipitonucal, pelo menos ao início,
e as lesões supratentoriais induzem mais comumente dores frontotemporais.
Duração
- Uma hora, duas horas, 30 minutos, 15 minutos.
- Merritt: A ruptura de um aneurisma acarreta uma dor de cabeça que atinge o máximo em um
instante, à maneira do ribombar de um trovão; muito mais raramente, aneurismas não rompidos ou
hemorragias em pequeno volume podem indicar sua presença de maneira semelhante. Portanto, não
é a “pior dor de cabeça da minha vida” que é particularmente preocupante, mas sim o início abrupto
de tais cefaleias. A multifocalidade por si só é um fator indicador de benignidade. O fato de o ataque
ser autolimitado ou responder à medicação não tem nenhum valor diagnóstico. Os ataques de
enxaqueca também podem ter um início apoplético. Os ataques de cefaleia em salvas atingem o
máximo em 3 a 5 minutos, permanecem à intensidade máxima por uma ou duas horas e então
diminuem de intensidade. Muitos ataques de enxaqueca aumentam de intensidade em algumas horas,
se mantêm por algumas a dias e são caracteristicamente aliviados pelo sono. A interrupção do sono é
característica das cefaleias produzidas por tumores cerebrais, mas é vista mais comumente na
enxaqueca e na cefaleia em salvas.
Sintomas associados
- Vômitos, náuseas, amenorreia, febre, fotofobia, fonofobia, lacrimejamento, congestão nasal.
Frequência
- Mensal, semanal, diária.
- Uma cefaleia ocorrendo do nada em paciente reconhecidamente portador de uma condição maligna
sugere uma metástase cerebral, meningite carcinomatosa ou uma infecção oportunista.
- Quando a dor é acentuada pelos movimentos oculares, deve-se considerar uma infecção sistêmica,
especialmente a meningite.
- Uma dor de cabeça aparecendo abruptamente após se inclinar o corpo, levantar um peso ou tossir
pode ser uma indicação de uma massa da fossa posterior ou uma malformação de Chiari.
- Entretanto, o sintoma mais sensível, porém não específico da enxaqueca, é que ela piora ao
movimento. A cefaleia ortostática ocorre após uma punção lombar ou outras causas de vazamentos
de LCR e também ocorre em associação a hematomas subdurais e à hipertensão intracraniana benigna.
- A sinusite aguda se declara quase sempre por um exsudato nasal verde-escuro purulento, apesar do
fato de que os portadores de enxaqueca e de cefaleias em salvas recebem frequentemente esse
diagnóstico quando congestão nasal e lacrimejamento acompanham seus ataques.
- A dor à deglutição é comum em pacientes com carotidínia (enxaqueca facial), pois a artéria carótida
inflamada e hipersensível faz contato com o esôfago durante a deglutição.
- Muitos pacientes com dor facial não descrevem síndromes estereotipadas. Esses pacientes tiveram
suas síndromes categorizadas como “dor facial atípica”. Há escassas evidências demonstrando que as
dores faciais atípicas são causadas por perturbações emocionais. Uma dor facial vaga, mal localizada
e contínua é característica da condição que pode decorrer do carcinoma nasofaríngeo e de outras
doenças somáticas; um elemento de dor e ardência sobrevém frequentemente ao haver a
desaferenciação e aparecem evidências de uma neuropatia craniana. Ocasionalmente, a causa de um
problema doloroso pode não ser elucidada prontamente, tornando necessários exames de seguimento
periódicos, até que apareçam outras indicações (e elas geralmente aparecem).
- As neuralgias são transtornos dolorosos que se caracterizam por episódios paroxísticos, transitórios
e frequentemente semelhantes a choques elétricos na distribuição de um nervo específico, em geral
sem um fundo de dor crônica. As neuralgias são geralmente causadas por alças vasculares ectásicas
comprimindo o nervo assolado, geralmente o trigêmeo ou o glossofaríngeo, na zona de entrada da
raiz do nervo, ativando um mecanismo de geração de dor no tronco cerebral.
Traumas associados
- Verificar se há traumas anteriores, pois um trauma mínimo pode desencadear um problema maior
com o passar do tempo.
- Importante: Não aceitar diagnósticos prontos e sempre adotar uma sequência lógica para a conduta
e tratamento. Exemplo no tratamento de enxaquecas: Primeiro propranolol, depois amitriptilina e
vigabatrina.
- Cefaleia é o tipo mais comum de dor. É resultante da ativação de receptores nociceptivo periféricos
na presença do funcionamento normal do SNC, comparável à queimação ou dor profunda como
apendicite.
- Deslocamento e distensão.
- Irritação e inflamação.
- Compressão de estruturas sensíveis à dor.
- Vasodilatação.
- Merritt: A estimulação elétrica nas proximidades das células da rafe dorsal mesencefálica pode
ocasionar cefaleias semelhantes a enxaquecas. Portanto, a maior parte do cérebro é insensível à
sondagem por eletrodos, mas um local mesencefálico e pontino em particular é ainda assim um
suposto locus para a geração da cefaleia. Exames PET obtidos durante ataques espontâneos de
enxaqueca demonstraram que a substância cinzenta periaquedutal do mesencéfalo e da ponte é
ativada. Os estímulos sensoriais da cabeça são transmitidos ao cérebro pelos nervos trigêmeos,
especialmente a primeira divisão, a partir de estruturas acima do tentório, nas fossas cranianas anterior
e média. Os três primeiros nervos cervicais levam estímulos da fossa posterior e de estruturas
intradurais, o que explica por que a dor no pescoço é um componente comum da enxaqueca. Os NC
IX e X suprem parte da fossa posterior e referem dores ao ouvido e à garganta. A cefaleia pode ocorrer
em consequência do seguinte:
- Merritt: Quando o médico se defronta com um paciente com febre e rigidez de nuca, a punção
lombar é obrigatória. Uma cefaleia aguda e persistente e febre são, com frequência, manifestações de
uma infecção viral sistêmica aguda; se o pescoço estiver com a mobilidade normal, a punção lombar
pode ser postergada, desde que o paciente possa ser acompanhado de perto. Um primeiro ataque de
enxaqueca é sempre uma possibilidade, mas a febre é uma característica associada.
- Cefaleia crônica diária bifrontal ou holocraniana em adolescentes do sexo masculino com início
recente, sem nenhuma alteração em exames de imagem, a dor pode piorar e demorar anos para
resolver. Tem uma grande associação com dor de cabeça psicogênica. A conduta é usar analgésico e
esperar melhorar. Chega a desaparecer quando se passa da fase com grandes alterações hormonais.
- Cefaleia e depressão são comorbidades bidirecionais, mais comum em mulheres, de modo que é
mais provável que ambos os problemas possam se originar de uma base bioquímica comum, do que
uma síndrome efetivamente causando a outra. O médico deve ser cauteloso ao atribuir à depressão a
causa de cefaleia recorrente; algumas drogas com ação antidepressiva são também eficazes na
enxaqueca, independentemente de qualquer ação antidepressiva.
- Desordens de articulação temporomandibular têm dor com irradiação para a região pré-auricular. É
importante saber o local de irradiação para não confundir as desordens dessa articulação com outras
causas de cefaleia.
- Merritt: A articulação temporomandibular (ATM) geralmente produz uma dor pré-auricular que se
associa à mastigação de alimento. Estalidos indolores da ATM não são causas de cefaleia. A dor pode
se irradiar para a cabeça, mas não é facilmente confundida com a cefaleia propriamente dita.
Reciprocamente, pacientes com propensão a cefaleias podem observar que estas são mais frequentes
e mais intensas na presença de um problema ATM doloroso. Assim também, a dor que se associa a
procedimentos cirúrgicos otológicos ou endodônticos pode ativar transtornos de cefaleia.
Classificação/Divisão inicial
- Cefaleias primárias: Sem relação com outras doenças. Devem receber tratamento sintomático na
sala de emergência no caso da crise aguda que não responda a bloqueadores iniciais para alívio dos
sintomas e encaminhamento para possível investigação ou para o especialista. Exemplo: Enxaqueca,
cefaleia de contração muscular, em salvas, processos expansivos, irritação meníngea, hipertensão
craniana.
- Cefaleias secundárias: Associadas com doenças prévias. Sempre passam por investigação e
tratamento das causas bases da dor. Exemplo: Arterite temporal, lesão de nervos cranianos, ATM,
origem cervical, olhos, hipertensão sistêmica, diabetes e sinusite.
- Tipos de cefaleias: Cefaleia da sinusite normalmente tem um local da face que reflete a dor. Tem
também a cefaleia em cluster/em salvas que é ao redor do olho. A cefaleia tensional que é bifrontal
em peso ou nucalgia em peso. A cefaleia migrânea/enxaqueca é apenas de um lado.
Cefaleias primárias
Cefaleia migrânea ou enxaqueca
- O termo migrânea foi criado por Galeno, quando definiu uma desordem periódica de distúrbio
visual, que cursava com cefaleia, vômito, fotofobia, que previa intervalos regulares e alívio com sono
e escuridão.
- Os ataques de cefaleia mais intensos, qualquer que seja sua causa, tendem mais a ser pulsáteis,
associados a vômitos e à hiperssensibilidade do couro cabeludo.
- As cefaleias mais leves tendem a ser um desconforto do tipo aperto em faixa, envolvendo
frequentemente toda a cabeça, o perfil típico da cefaleia em tensão/tipo tensional. Não são causadas
por anomalias estruturais intracranianas.
- Definição: Migrânea ou enxaqueca é uma cefaleia benigna recorrente ou uma disfunção neurológica
recorrente, ou ambos. Não é uma lesão, mas, sim, uma disfunção.
- Há intervalos livres de dor, e ela é usualmente provocada por certos estímulos: Stress, privação de
sono, vinho, menstruação. Os gatilhos não definem a doença, mas, de forma geral, pacientes com
enxaqueca têm menor resistência à dor quando expostos a esses gatilhos.
- É mais comum em mulheres com predisposição hereditária e com fenômeno circulatório (Como, por
exemplo, congestão ocular, congestão nasal, edema...) que mimetiza ataques oriundos de desordem
do tronco cerebral, ou por excitabilidade cortical neuronal.
- Migranosos têm baixo limiar para cefaleias, provavelmente por ativação de autopropagação de onda
neuronal e glial de despolarização migrando através do córtex. Esses indivíduos têm um “cérebro
sensível”.
- Merritt: A designação enxaqueca com aura denota a síndrome de cefaleia associada a sintomas
sensoriais, motores ou visuais premonitórios característicos; a enxaqueca sem aura denota a síndrome
em que não há sintomas neurológicos focais precedendo a cefaleia. Os sintomas focais, porém,
ocorrem unicamente em uma pequena proporção dos ataques e são efetivamente mais comuns
durante os ataques de cefaleia do que como sintomas prodrômicos.
- Sintomas neurológicos focais, sem cefaleia, podem ser devidos à migrânea sem dor. São mais comuns
após os 40 anos. É algo relativamente frequente na neurologia. Então, se você se deparar com sintomas
como ataques e crises de congestão ocular ou nasal seguidos de vasodilatação importante, pode isso
significar uma enxaqueca sem dor. Normalmente, são casos evolutivos, ou seja, antigamente o
paciente tinha enxaqueca, agora, apenas ocorrem crises em que o olho fica vermelho e ele não
enxerga direito.
- A enxaqueca sem aura denota a síndrome em que não há sintomas neurológicos focais precedendo
à cefaleia.
- Características: Dor unilateral, com náuseas, vômitos, fotofobia e/ou fonofobia, irritabilidade e
hiperssensibilidade no couro cabeludo. Sem tratamento a dor se arrasta de 4 a 72 horas. Geralmente
os pacientes apresentam história familiar positiva. Responde ao tratamento com triptanos ou
ergotamina (Apresenta efeitos colaterais mais importantes e característicos que os triptanos, portanto
a ergotamina é usada quando triptanos não funcionam).
- É uma doença comum, cerca de 18% das mulheres e 6% dos homens têm pelo menos uma crise ao
ano.
- Escotomas e alucinações visuais estão presentes em cerca de 1/3 dos casos com aura e aparecem
comumente na parte central dos campos visuais.
- Características: Iniciando com pequeno escotoma paracentral (mosquinha preta, brilhante) que
aumenta progressivamente e toma a forma de C, com ângulos luminosos na borda externa em
expansão e se tornam coloridos à medida que o escotoma cintilante se expande e se move em direção
à periferia da metade envolvida do campo visual (Pode ocorrer hemianopsia), demorando cerca de 20
a 30 minutos. Na sequência dos fenômenos, vem a forte cefaleia, vômitos, fotofobia e fonofobia, que
só melhoram com ambiente escuro, repouso e sono. Essa é uma evolução patognomônica de
enxaqueca. A síndrome característica é referida por cerca de 10% dos pacientes.
- Tratamento na fase de aura: Usar triptanos (Funciona porque é o momento que existe a onda de
despolarização apical) e deitar em torno de 1 hora, 1 hora e meia.
- Tratamento durante a crise: Não tratar com tramal e morfina (Não é resolutivo).
- A aura é um sintoma neurológico temporário que pode se referir à área focal do cérebro afetada. A
explicação neurofisiológica mais aceita para a aura é o fenômeno da depressão alastrante, descrita
pelo brasileiro Aristides Leão. Segundo essa hipótese, durante a aura, ocorreria uma diminuição da
atividade elétrica em ondas, semelhantes às geradas quando se joga uma pedra em uma poça de água
parada. Foi visto que a velocidade de propagação dessas ondas era semelhante à do aumento dos
sintomas na aura. A aura pode ocorrer antes, durante ou após a cefaleia, e a forma mais comum é a
visual. São exemplos sintomas visuais unilaterais de formas geométricas que se expandem e se movem,
visão embaralhada ou sensação anormal “de vaivém”, parestesias e dificuldade na fala. Podem
ocorrer, em outros casos, escotomas sem fenômeno positivo, frequentemente percebidos como de
início agudo, mas que, em um exame minucioso, alargam-se gradualmente. Distúrbios sensitivos
também são possíveis, na forma de agulhadas ou alfinetadas que se movem lentamente, a partir do
ponto de origem, e afetam uma área maior ou menor de um lado do corpo e da face. Cerca de 20%
dos que apresentam enxaqueca descrevem a presença de aura. A duração da aura varia de 5 a 60
minutos, mas em casos de enxaqueca hemiplégica, cuja manifestação da aura é uma hemiparesia,
pode durar até 24 horas.
- Os pródromos surgem até 48 horas antes da cefaleia e são caracterizados por irritabilidade, anorexia,
náusea, bocejos, fome, dificuldade de concentração e/ou raciocínio e retenção hídrica.
3) Migrânea/Enxaqueca basilar
- Sintomas implicando funções do tronco encefálico alteradas, incluem vertigens, disartria, diplopia,
e ocorrem como único sintoma de enxaqueca em cerca de 25% dos pacientes.
- É mais difícil diagnosticá-la depois de 50 anos, devido à possibilidade de doença vascular oclusiva.
- Confusão mental está presente em 25% dos casos. Pode durar até 5 dias e serem confundidos com
surtos psicóticos.
- Tratamento: Não usar triptano, pois ele é vasoconstritor, piorando o quadro ainda mais.
- Merritt: Bickerstaff chamou a atenção para uma sequência estereotipada de eventos neurológicos
dramáticos, frequentemente associados a cegueira total e turvação da consciência; isso é visto mais
comumente em mulheres adolescentes, mas também ocorre em outros pacientes.
- Os episódios começam por cegueira total, acompanhada ou seguida por misturas de vertigens, ataxia,
disartria, tinidos e parestesias distais e periorais. Em aproximadamente 25% dos pacientes sobrevém
um estado confusional (porque despolariza o córtex).
- Os sintomas persistem geralmente por cerca de 30 minutos e são seguidos por uma cefaleia occipital
pulsátil. Essa síndrome de enxaqueca basilar ocorre também em crianças; é mais difícil diagnosticá-la
depois da idade de 50 anos, devido à possibilidade de doença vascular oclusiva.
- As alterações da consciência, incluindo estados confusionais que podem ser tomadas erroneamente
por reações psicóticas, podem durar até 5 dias.
4) Migrânea/Enxaqueca carotidínia
- A síndrome carotidínia, por vezes denominada “cefaleia da metade inferior” ou “enxaqueca facial”,
é mais proeminente em pacientes de idade um tanto mais avançada, com um pico de incidência nas
idades de 30 a 69 anos.
- Ataques ocorrem de uma a várias vezes por semana e cada um deles dura minutos a horas.
- Pode ser feito o diagnóstico diferencial com aneurisma dissecante de carótida e neuralgia trigeminal.
5) Migrânea/Enxaqueca hemiplégica
- Uma hemiparesia ocorre ocasionalmente durante a fase prodrômica da enxaqueca. Assim, como o
espectro de fortificação, ela remite frequentemente em 20 a 30 minutos, iniciando-se então uma dor
de cabeça contralateral.
- O lado afetado pode variar de um ataque para o outro. Uma forma mais profunda se evidencia por
hemiplegia, afetando frequentemente o mesmo lado e persistindo por dias ou semanas após a remissão
da cefaleia.
- É a única forma de enxaqueca em que se foi identificada uma ligação genética específica
(Cromossomo 19).
- Pode haver alteração do líquor: Pleocitose de LCR de até 350 células/mm3 ou elevações transitórias
das proteínas do LCR até 200 mg/dL.
- Deve-se fazer diagnóstico diferencial com AVC. A diferença é que essa hemiparesia da enxaqueca
desaparece depois de 30 minutos. Se a hemiparesia foi irreversível tem grande probabilidade de ser
AVC.
6) Migrânea/Enxaqueca oftalmoplégica
- Em raras ocasiões, os pacientes relatam ataques pouco frequentes de dor periorbital acompanhada
de vômitos por 1 a 4 dias.
- Na enxaqueca oftalmoplégica associa-se a dor, uma ptose palpebral e, em algumas horas, há uma
paralisia completa do terceiro nervo.
- Eventualmente se associam uma paralisia do troclear e do abducente, sendo chamada paralisia ocular
global com ptose.
- Essa síndrome se inicia habitualmente na infância (Professor fala que nunca viu uma dessas).
- Faz diagnóstico diferencial com trombose do seio cavernoso e outras causas de paralisia de terceiro
nervo.
- Sintomas neurológicos focais, sem cefaleia, podem ser devidos à migrânea sem dor, ou equivalente
e são mais comuns após os 40 anos. É chamada enxaqueca sem dor.
- Merritt: Após muitos ataques, pode persistir alguma oftalmoparesia. Essa síndrome se inicia
habitualmente na infância, em contraste com a síndrome de Tolosa-Hunt, outra oftalmoplegia dolorosa
associada a um processo inflamatório e granulomatoso no seio cavernoso que afeta adultos.
Intensificação pelo contraste e espessamento do nervo oculomotor são vistos à RM na maioria dos
casos, sugerindo ser essa uma neuropatia craniana inflamatória e não um transtorno enxaquecoso.
- Ativação do primeiro neurônio: Neurônio trigêmino-vascular que inerva as artérias meníngeas e faz
sinapses com o núcleo caudado trigeminal. Gatilhos exógenos e endógenos podem ativar esta cascata,
possivelmente através da depressão cortical generalizada. Uma resposta inflamatória local é ativada
resultando em vasodilatação local - dor decorrente da ativação dos nociceptores sensibilizados. A dor
é vivenciada na distribuição do trigêmeo, mais comumente no ramo oftálmico (V1), e tem uma
qualidade pulsátil.
- Ativação do segundo neurônio: Que se localiza entre o núcleo caudado trigeminal e tálamo. Como
fazem sinapse no núcleo caudado do trigêmeo, terminações simpáticas são ativadas ocasionando
lacrimejamento e a rinorreia. Centro do tronco encefálico é ativado e sensibilizado e se o ataque não
for abortado, essa região vai permanecer ativada mesmo que cesse a estimulação aferente do neurônio
de primeira ordem. A maioria dos pacientes se beneficia com medicação até esse momento. Nesse
estado, os pacientes descrevem sintomas alodínicos no couro cabeludo e pescoço. Estímulos que
normalmente não são dolorosos causam desconforto.
- Ativação do terceiro neurônio: Que se localiza entre o tálamo e o córtex sensitivo. Caso o ataque
continue, há o envolvimento desse neurônio. A dor se torna mais agressiva, penetrante e não pulsátil.
- Perfusão local: Estudos de perfusão demonstram que a perfusão local pode sofrer um decréscimo de
até 25% (O que é muito pouco para explicar os sintomas) e perdurar por até seis horas, na camada
cortical. Por isso entrar com vasoconstritor sem necessidade é um risco grande sem nenhum benefício.
- Crises de enxaqueca podem ser deflagradas por drogas libertadoras de serotonina. Os níveis
plaquetários de serotonina baixam no início da cefaleia e os episódios de enxaqueca podem ser
desencadeados por drogas que liberam serotonina.
- Metisergida: Antagoniza as ações periféricas da serotonina. Foi introduzida como a primeira droga
capaz de impedir ataques de enxaqueca pela estabilização do efeito básico. Desuso por conta de ser
derivada do LSD.
- Sumatriptano: É o primeiro medicamento sintético a ter real efeito no tratamento da crise aguda de
enxaqueca. É sintetizado para ativar seletivamente uma população de receptores de serotonina. Todos
os triptanos têm afinidade com determinados receptores serotoninérgicos.
- Dihidroergotamina: É mais potente como agonista de 5HT1A, mas menos potente como agonista de
5HT1B e 5HT1D. Tem afinidade também por receptores alfa-adrenérgicos e dopaminérgicos, o que
contribui efetivamente para os efeitos colaterais. Após a administração, suas concentrações mais altas
são encontradas na rafe dorsal mesencefálica (Contém as concentrações mais altas de receptores para
serotonina no cérebro e pode ser modulador da enxaqueca e o principal local de ação das drogas).
Receptores da rafe são principalmente do tipo 5HT1A, mas 5HT1D também estão presentes.
- Merritt: A enxaqueca pode, portanto, ser considerada uma perturbação hereditária dos mecanismos
inibitórios centrais. Perturbações semelhantes podem ser subjacentes a muitos tipos de dores de
cabeça, e cefaleias periódicas “comuns” podem ser “ruídos” do sistema em funcionamento normal.
Por se tratar de dores de origem meníngea, os ataques de enxaqueca podem ser notavelmente
semelhantes à meningite, com uma dor de cabeça pulsátil, fotofobia, fonofobia, náuseas e rigidez de
nuca. A enxaqueca e a meningite têm origens diferentes, mas é principalmente a natureza recorrente
dos ataques, sem os sinais associados de infecção, que favorece o diagnóstico da enxaqueca.
Tratamento
- O pilar da terapia é o uso criterioso de uma ou mais das muitas drogas disponíveis.
- Prevenção de fatores ativadores/tratamento concomitante dos gatilhos -> Evitar uso de álcool,
estresse, jejum, excesso ou abstinência de cafeína, dormir em excesso ou dormir de maneira
insuficiente. Exemplo: Pessoa relata que quando bebe sempre tem uma crise. Tem que escolher ou
utilizar o fator desencadeante ou ter enxaqueca (Tratamentos não farmacológicos não funcionam
sozinhos).
- Observação: Eventos hormonais, especialmente a retirada de estrógenos, podem desencadear
enxaquecas menstruais, embora a manipulação hormonal não seja comumente utilizada no
tratamento da enxaqueca.
- Em geral, uma dose adequada de qualquer medicação deve ser usada no início da crise, antes da
onda de depressão do córtex e da ativação do tronco cerebral. Então, deve-se tomar a medicação no
momento em que a onda passa do segundo neurônio para o terceiro neurônio, momento em que se
inicia a onda de depressão córtico-subcortical.
- O tratamento inicia-se com medidas gerais, como evitar, quando possível, fatores referidos como
desencadeantes de crises; tratar doenças concomitantes, particularmente hipertensão arterial e
depressão; valer-se de técnicas de relaxamento físico e mental; regular o padrão de sono e aconselhar
a prática de atividades físicas. Também podem ser utilizadas técnicas cognitivas comportamentais e
acupuntura, além de massagens e compressas. Os objetivos do tratamento são tratar a crise migranosa
rapidamente e com eficácia, com mínimos efeitos adversos; recuperar a capacidade funcional do
paciente e minimizar as necessidades de visita hospitalar de emergência.
- Os triptanos são medicações agonistas dos receptores serotoninérgicos com eficácia comprovada no
tratamento sintomático e devem ser considerados dentro de uma abordagem estratificada de controle
da dor para as crises moderadas e fortes. Sensação de calor, peso, formigamento e opressão torácica
são os efeitos colaterais mais comumente descritos em adultos. Estão contraindicados a pacientes com
histórico de insuficiência arterial, periférica, cerebral ou coronariana, a quadros de isquemia ou infarto
do miocárdio e na presença de angina ou claudicação. Também não devem ser utilizados nos casos
de gravidez, amamentação, hipertensão arterial não controlada, uso concomitante de inibidores da
recaptação de serotonina ou lítio, uso de ergotamina nas últimas 24 horas e enxaquecas com aura
prolongada, hemiplégica ou basilar. Antieméticos, como a clorpromazina, também fazem parte do
arsenal terapêutico abortivo das crises. O status enxaquecoso corresponde à crise com duração
superior a 24 horas, e o uso de corticosteroides pode estar associado a demais medicações abortivas
nesse caso.
Tratamento agudo
- A absorção das drogas se altera durante os ataques devido à redução da motilidade gastrintestinal,
que pode estar presente mesmo no período intercrítico. A absorção pode ser retardada na ausência de
náuseas, e o retardo está relacionado à gravidade do ataque, porém não à sua duração.
- Merritt: Em pacientes com um acúmulo prolongado de cefaleias, as drogas orais geralmente são
suficientes. Os tratamentos devem ser ajustados às características históricas dos ataques: Aqueles com
ataques moderados ou graves devem começar por triptanos ou derivados do ergot; aqueles com
ataques mais leves podem ser tratados com êxito com drogas anti-inflamatórias não esteroides,
isometepteno ou drogas combinadas a butalbital. Como os tratamentos eficazes geralmente precisam
ser iniciados prontamente, é essencial não deixar as drogas mais potentes para serem usadas algumas
horas depois de as outras drogas terem falhado. Quando o padrão de cefaleia de um paciente se
transforma em uma síndrome de cefaleia diária crônica, deve-se restringir os opioides ou outros
analgésicos a 2 dias por semana. O pilar da terapia desses pacientes é a administração diária de
amitriptilina ou nortriptilina, divalproex sódio ou topiramato. Um betabloqueador (propranolol,
nadolol, atenolol, metoprolol e nebivolol) pode ser administrado concomitantemente, se necessário.
Em casos recalcitrantes, pode ser necessário recorrer a inibidores da monoamina oxidase (MAO) ou a
neurolépticos atípicos. As drogas que têm efeitos antidepressivos agem independentemente desses
efeitos na enxaqueca, e os inibidores da recaptação de serotonina não demonstraram eficácia na
cefaleia na maioria dos estudos.
Tratamento profilático
- Algumas drogas podem estabilizar a enxaqueca e impedir ataques; para essa finalidade, a droga deve
ser tomada diariamente. Se ocorrem mais de três ou quatro crises mensais, o tratamento deve ser diário
com utilização de:
- Propranolol (Droga mais frequentemente utilizada, tem que ser a primeira escolha).
- Amitriptilina (Dose de 25 mg, praticamente negativando o efeito depressivo).
- Verapamil (Bloqueador de canal de cálcio).
- Valproato (Anticonvulsivantes GABA).
- Topiramato (Anticonvulsivante, última escolha na sequência).
- O tratamento profilático está indicado àqueles com mais de 2 crises por mês ou que, tendo apenas
2, ou mesmo somente 1, esta seja extremamente grave ou demorada, ou aos casos que não respondem
de modo satisfatório à terapêutica abortiva da crise de migrânea. Algumas modalidades de migrânea
justificam tratamento profilático, independentemente da frequência ou da gravidade das crises: a
migrânea hemiplégica familiar da artéria basilar, o infarto migranoso e a migrânea com aura
prolongada.
- Geralmente um período de pelo menos 2 semanas tem de transcorrer para que se veja um efeito
benéfico.
- Comorbidades devem ser tratadas: Depressão, distúrbios bipolares, entre outras. A probabilidade de
sucesso com profilaxia é de 50% (Professor refere que na prática clínica esse número é maior).
- Se a cefaleia crônica diária não for controlada em 6 meses, o prognóstico empobrece muito.
- Merritt: Quando se deve implementar isso depende da frequência dos ataques e da eficácia do
tratamento agudo. Condições comórbidas, como hipertensão e doença bipolar, podem influenciar a
escolha da medicação profilática. Pelo menos quatro ataques por mês podem assinalar uma indicação
dessa abordagem. Uma frequência mais baixa dos ataques ainda pode indicar a necessidade de
prevenção se os ataques forem incapacitantes apesar das medicações agudas disponíveis. Embora
ainda não tenha sido comprovado, há a suspeita de que o uso bem-sucedido de drogas preventivas
pode modificar a doença e reduzir a população de portadores de enxaqueca que desenvolvem a forma
crônica. Geralmente um período de pelo menos 2 semanas tem de transcorrer para que se veja um
efeito benéfico. Embora não se tenha certeza quanto ao modo de ação das drogas preventivas, é de
interesse que propranolol topiramato, amitriptilina e valproato reduzem todos a depressão alastrante
cortical após algumas semanas, e diversas drogas que são inefetivas na enxaqueca, mas são da mesma
classe geral, não têm esse efeito. A ineficácia inicial coincide com o período de efeitos colaterais
máximos, fazendo com que muitos pacientes suspendam essas medicações. As principais drogas são
propranolol, amitriptilina, divalproex e topiramato. Como a hiperexcitabilidade cortical pode ser
subjacente à patogênese da enxaqueca, não é de se estranhar que alguns "antiepilépticos" sejam drogas
preventivas úteis, notadamente topiramato e divalproex. Gabapentina e zonisamida são usadas com
frequência, embora com documentação bem menor da eficácia. Já ficou claro que o tratamento das
dores neuropáticas não está relacionado à enxaqueca. Topiramato e divalproex são drogas úteis na
enxaqueca e pouco benéficas no tratamento de dores neuropáticas, enquanto gabapentina, fenitoína
e carbamazepina são frequentemente úteis nas dores neuropáticas, mas raramente o são na
enxaqueca.
- É quase sempre leve e autorretratada, os indivíduos afetados raramente procuram cuidados médicos
para sua dor.
- A maioria dos casos de CTT incapacitantes revela que essas cefaleias são na realidade uma forma de
enxaqueca.
- Essa cefaleia dura de 30 minutos a uma semana + 2 ou mais das seguintes características:
- Bilateral.
- Em pressão e não pulsátil.
- Intensidade leve/moderada.
- Não agravada pela atividade física rotineira (Limpar a casa, trabalhar).
- Não se associa com náuseas ou vômitos.
- Podem ter fotofobia ou fonofobia, porém não ambas.
- O agravamento da dor a movimentos de rotina é o critério mais sensível para a enxaqueca e tem de
estar ausente para diagnosticar a CTT.
- Pode ser utilizado também antidepressivos tricíclicos em doses baixas para o tratamento preventivo.
- São 1 a 3 ataques de dor periorbital de curta duração, com piora rápida por cerca de 5 minutos,
intensos, com frequência diária durante 4 a 8 semanas, seguido de intervalo livre de dor por até um
ano.
- Tem como características a dor periorbital, ou mais raramente, temporal ou maxilar, começa sem
aviso e atinge um crescendo em 5 minutos.
- Homens são mais afetados que as mulheres em uma proporção de 8:1. Fatores hereditários estão
geralmente ausentes.
- Geralmente se iniciam entre os 20 a 50 anos, mas podem afetar indivíduos na primeira década ou
somente na oitava.
- A forma crônica pode começar como uma condição nova ou pode aparecer depois de se ter
estabelecido um padrão episódico. Os ataques são semelhantes, e não há períodos prolongados de
remissão. Qualquer um dos tipos pode se transformar no outro.
- Apostila do Medcel: A cefaleia em salvas é a principal representante do grupo das cefaleias
trigeminoautonômicas. Tem maior incidência no sexo masculino, início entre 20 e 40 anos e evolui
por crises com duração média de 30 a 180 minutos, que se repetem várias vezes ao dia, com salvas
de até 8 crises ao dia. A dor é de grande intensidade (terebrante) e localização preferencialmente
fronto-orbitária, podendo irradiar-se para o hemicrânio e/ou para a hemiface ipsilateral. É
frequentemente descrita como sensação de “facada no olho”. Ao contrário da migrânea, em que o
paciente procura ficar quieto em um quarto escuro e silencioso, o paciente com cefaleia em salvas
não é capaz disso, em razão da dor, e pode desenvolver ansiedade antecipatória relacionada à
constância de aparecimento em horários predeterminados. Na grande maioria dos casos, a dor é
estritamente unilateral, mas pode haver mudança de lado e, até mesmo, dor bilateral. Com grande
frequência, vem acompanhada por distúrbios autonômicos usualmente do mesmo lado da dor, mas
que podem ser bilaterais ou mesmo, excepcionalmente, do lado oposto ao da algia. A ingestão de
bebidas alcoólicas desencadeia e/ou agrava os ataques. Há certo predomínio à noite, acordando o
paciente, além de que se registra tendência de ocorrência na mesma hora do dia e na mesma época
do ano. Em 85% dos casos, associa-se à apneia obstrutiva do sono. Em alguns casos, a suspeita é
corroborada pelas características faciais, pois algumas pessoas com cefaleia em salvas têm fácies
leonina e pele “em casca de laranja”.
- Apostila do Medcel: O tratamento da cefaleia em salvas é feito com oxigenoterapia a 100% 7 L/min,
por 15 minutos, sumatriptana 6 mg SC, ou ergotamínicos 1 mg 2x/d. A profilaxia é feita com verapamil,
valproato de sódio, prednisona ou carbonato de lítio. Para o tratamento abortivo, há opções como
sumatriptana (6 mg SC), ergotamínicos (1 mg, 2x/d) e inalação de oxigênio a 100%, 7 L/min, durante
15 minutos, por meio de máscara facial. As 3 alternativas têm praticamente a mesma eficácia
terapêutica, porém a cefaleia de rebote é mais habitual com oxigênio e sumatriptana. Em
contrapartida, o oxigênio é destituído de contraindicações e de reações adversas, ao qual é possível
associar a ergotamina, o que reduz de modo significativo a possibilidade dessa cefaleia. O tratamento
profilático é fundamental na maioria dos casos. O verapamil é alternativa terapêutica na forma
episódica e na forma crônica, devendo ser utilizado em doses fracionadas de 120 a 1.200 mg. Para as
formas episódicas, também podem ser utilizados o valproato de sódio e a prednisona (1 mg/kg,
máximo de 60 mg/d por 3 dias; reduzir em 5 a 10 mg VO a cada 3 dias). Nas formas crônicas, pode-
se usar o carbonato de lítio. A dose de lítio, por sua vez, deve ser controlada, e seu nível plasmático,
mantido entre 0,4 e 0,8 mEq/L. A retirada total de qualquer um dos medicamentos é feita após, pelo
menos, 7 dias sem crises. Nas formas crônicas, a medicação deve ser mantida por longo período.
- São vistos cinco ou mais ataques por dia, que podem durar de 2 a 45 minutos.
- A dor tem uma qualidade penetrante, atingindo a intensidade integral com muita rapidez, associada
à lacrimação unilateral, congestão nasal, edema palpebral e a uma síndrome de Horner parcial.
- Os ataques se associam aos mesmos distúrbios autônomos vistos nas cefaleias em salvas: Conjuntivas
injetadas, lacrimação, congestão nasal, rinorreia, ptose e edema palpebral.
- O tratamento é difícil.
- Apostila Medcel: Definida como cefaleia breve, unilateral, neuralgiforme, com hiperemia conjuntival
e lacrimejamento, é pouco frequente (1:15.000), ligeiramente mais predominante em indivíduos do
sexo masculino (proporção homem/mulher de 1,5:1) e idade média de apresentação por volta dos 50
anos. A síndrome, geralmente, afeta o ramo oftálmico do trigêmeo, embora raramente possa afetar
qualquer parte da cabeça. Na maioria dos casos, os ataques são desencadeados por estímulos
cutâneos. Tipicamente, um paciente com SUNCT pode ter de 50 a 100 ataques diários, de predomínio
durante o dia e duração de 1 a 15 minutos. Os ataques podem ser acompanhados por forte hiperemia
conjuntival ipsilateral e lacrimejamento. Também são frequentes congestão nasal e rinorreia. Faz
diagnóstico diferencial com a neuralgia do trigêmeo, e seu tratamento é difícil e de baixa eficácia,
podendo ser utilizadas drogas como carbamazepina, lamotrigina, gabapentina ou topiramato.
4) Cefaleia hemicrania contínua
- Confundida frequentemente com a enxaqueca crônica ou com a cefaleia em salvas, a hemicrania
contínua causa uma cefaleia unilateral, contínua, flutuando em intensidade e associada aos mesmos
sintomas autônomos da cefaleia em salvas.
- Sintomas associados: Conjuntivas injetadas, lacrimação, congestão nasal, rinorreia, ptose e edema
palpebral.
- Não há fatores precipitantes claros, e as cefaleias tendem a se tornar crônicas de saída, em vez de
constituírem uma transformação a partir de uma forma episódica.
- A maioria dos casos envolve pacientes com um transtorno de cefaleia primário que acaba por se
transformar em uma forma crônica, e são vistas cefaleia em salvas crônica, cefaleia tipo tensional
crônica e enxaqueca crônica.
- Porcentagem elevada daquelas com cefaleia crônica por uso excessivo de medicação apresenta
comorbidades psiquiátricas significativas e usa medicações em excesso devido às suas características
psicoativas.
Cefaleia secundária
- É mais rara.
- Quando o tumor vai crescendo, em tempo e espaço, a dor vai piorando cada vez mais.
- Vômitos que precedem o aparecimento da cefaleia em algumas semanas sugerem um tumor de fossa
posterior.
- Dor de cabeça tende a ocorrer mais nas massas de fossa posterior, e essa dor é sentida comumente
no pescoço e no occipício.
- Neoplasias da fossa posterior ou intraventriculares tendem a causar mais cefaleia que aquelas acima
do tentório.
- Merritt: Cerca de 30% dos pacientes com tumores cerebrais consideram a cefaleia sua principal
queixa. As cefaleias tendem mais a ser um sintoma de uma massa tumoral naqueles com uma síndrome
de cefaleia primária preexistente, e a manifestação inicial mais comum é um agravamento de sua
cefaleia preexistente e não um novo tipo de cefaleia. O mais característico é a evolução da cefaleia
por semanas a meses. A síndrome de dor de cabeça é de descrição difícil; uma dor de qualidade surda,
vaga e profunda, de intensidade moderada, ocorre intermitentemente, agravada pelo esforço ou por
mudanças de posição e associada a náuseas e vômitos. Os pacientes podem notar um aumento da
intensidade e da frequência de um tipo de cefaleia preexistente, um padrão que decorre bem mais
frequentemente de enxaqueca que de tumor cerebral.
- Exemplo: Paciente chega com papiledema, cefaleia e vômitos, crise característica de hipertensão
intracraniana, e ao investigar, não se encontra processo expansivo para causar esta crise.
- Pode haver uma dissociação entre o alívio da cefaleia e do papiledema, fazendo com que eles
tenham de ser tratados independentemente.
- Cefaleia geralmente difusa, mas pode ser lateralizada em cerca de 1/3 dos pacientes.
- Incidência de anomalias estruturais intracranianas graves causando essa condição está em torno de
25% (Malformação de Chiari é a mais comum).
- Punção lombar de grande volume faz cessar a síndrome em 50% dos pacientes tratados dessa forma.
- Merritt: Uma síndrome com predominância masculina (4:1) é a da cefaleia da tosse, que se
caracteriza por dores de cabeça intensas e transitórias ocasionadas por tossir, virar o corpo, levantar
objetos, espirrar ou se curvar para diante. Muitos desses indivíduos são homens de meia-idade. A dor
de cabeça persiste por segundos ou por alguns minutos. Muitos pacientes relacionam a origem da
síndrome com uma infecção do trato respiratório inferior acompanhada de tosse intensa. A cefaleia é
geralmente difusa, mas pode ser lateralizada em cerca de um terço dos pacientes. O transtorno
benigno pode persistir por alguns anos.
Cefaleia do coito/orgasmo
- Em outra síndrome com predominância masculina (4:1), as cefaleias ocorrem durante o coito,
geralmente perto do orgasmo. Elas têm início abrupto e remitem em alguns minutos se o coito for
interrompido.
- Se a cefaleia do coito persistir por algumas horas ou se acompanhar de vômitos, deve-se fazer uma
avaliação quanto a hemorragia subaracnoide por TC ou exame do LCR.
- Um aneurisma que não tenha se rompido pode ocasionar uma cefaleia durante o coito e pode ser
indistinguível da cefaleia benigna do coito; por essa razão, deve-se considerar uma punção lombar e
uma ARM no primeiro ataque de cefaleia do coito.
- Pode ser útil, se não for utilizada em excesso, a administração de indometacina a esses pacientes.
- Qualquer exercício realizado contra uma glote fechada, como orgasmo ou levantar objetos pesados,
pode desencadear o início abrupto de dores de cabeça
- Outras cefaleias de esforço ocorrem com a atividade física prolongada (nadar, correr) e têm início
subagudo.
Cefaleia noturna
- Cefaleias hípnicas são vistas nos idosos, com cefaleias que os despertam todas as noites e duram de
15 a 60 minutos
- Merritt: A enxaqueca é a causa mais comum de cefaleias que despertam o paciente do sono. Isso
complica o tratamento, porque as cefaleias muitas vezes já estão bem estabelecidas ao serem iniciadas
as medicações. Há várias razões pelas quais as enxaquecas e as cefaleias em salvas são comumente
desencadeadas pelo sono. Muitas ocorrem com o sono REM, que se associa à vasodilatação cerebral.
A síndrome de apneia do sono pode desencadear enxaqueca. Tratamento: Pressões positivas nas vias
respiratórias. Dormir habitualmente com as cobertas sobre a cabeça, ou "em tartaruga" pode ocasionar
dores de cabeça matinais, possivelmente por hipercapnia. Não são vistos sintomas autônomos como
lacrimação e rinorreia Como esse tipo de cefaleia é raro e se manifesta inicialmente em uma pessoa
idosa, é preciso afasta neoplasias intracranianas e a arterite de células gigantes O tratamento é
geralmente bem-sucedido com a administração de 150 a 300 mg de carbonato de lítio à noite. Quando
tolerada, uma fonte de cafeína ao deitar pode ser suficiente.
Merritt: Ocorrem cefaleias em 17% a 34% dos pacientes com um acidente vascular cerebral agudo.
As enxaquecas, especialmente a enxaqueca com aura, acarretam um risco duas a três vezes maior de
acidente vascular cerebral. Os indivíduos que apresentam enxaqueca têm uma incidência maior de
cefaleia no início no acidente vascular cerebral em comparação às outras pessoas. É comum, portanto,
a coexistência da enxaqueca e sinais e sintomas neurológicos focais. É importante, embora isso seja
frequentemente difícil, distinguir uma enxaqueca com aura de um evento vascular cerebral isquêmico
com uma cefaleia coexistente. A enxaqueca, especialmente com aura, é um fator de risco de acidentes
vasculares cerebrais isquêmicos em mulheres, independentemente de raça, idade ou localização
geográfica. O uso de anticoncepcionais orais contendo estrogênio em mulheres que apresentam
enxaqueca com aura aumenta o risco de acidente vascular cerebral ampliado ainda mais em
tabagistas. As cefaleias no acidente vascular cerebral são mais prevalentes naqueles eventos que
envolvem a circulação posterior. A cefaleia da hemorragia subaracnoide tipicamente atinge a
intensidade máxima instantaneamente. Embora seja comumente muito intensa, isso não ocorre
invariavelmente, e sangramentos de pequeno volume comumente anunciam a ocorrência final de uma
hemorragia catastrófica. Em contraste com muitas das formas de cefaleia secundária, as pessoas jovens
são com frequência aquelas afetadas. Náuseas e vômitos, distúrbios da consciência e finalmente
meningismo são comuns.
- Os sintomas iniciais mais comuns são cefaleia, polimialgia reumática, claudicação mandibular ou
da língua, febre e perda de peso. A cefaleia é o sintoma dominante e aparece geralmente com mal-
estar e mialgias. A dor de cabeça pode ser unilateral ou bilateral e tem localização temporal em 50%
dos pacientes, mas pode afetar qualquer aspecto do crânio. A dor geralmente aparece gradualmente
por algumas horas antes que seja atingida a intensidade máxima; ocasionalmente ela é explosiva desde
o início. A qualidade da dor só raramente é pulsátil; quase que invariavelmente ela é descrita como
surda e penetrante, com dores lancinantes episódicas superpostas tipo furador de gelo, semelhantes
às dores agudas que aparecem na enxaqueca. A maioria dos pacientes reconhece que a origem da dor
é superficial e externa ao crânio e não profundamente dentro do crânio (o local da dor na enxaqueca).
- Depois da biópsia da artéria temporal inicia-se prontamente a prednisona, à dose de 80 mg/dia pelas
primeiras 4 a 6 semanas, nos casos em que a suspeita clínica é alta. Alguns autores recomendam
iniciar por 3 dias com 500 mg de metilprednisolona IV. O tratamento à base de corticosteroides deve
ser mantido por vários meses e ocasionalmente por anos a fio. Como pacientes que apresentam
enxaqueca e outras cefaleias também relatam a melhora das cefaleias com a terapia corticosteroide,
respostas terapêuticas não são diagnósticas. Contrariamente à noção generalizada, é substancial a
prevalência da enxaqueca entre a população idosa, sendo consideravelmente maior do que aquela da
arterite de células gigantes.
Cefaleias pós-traumáticas
- Nem sempre são devido a hematomas, pode ser síndrome pós-concussional.
- Pode mimetizar um quadro infeccioso, porque muitas vezes causa cefaleia, náusea, vômitos e rigidez
de nuca por hipotensão liquórica.
- Merritt: A cefaleia após a punção lombar se inicia habitualmente dentro de 48 horas, mas pode ser
retardada em até 2 semanas. A incidência média é de cerca de 30%. Inicialmente, a dor de cabeça é
dramaticamente posicional; inicia-se quando o paciente se senta ou fica de pé ereto e remite quando
ele se deita ou à compressão abdominal. O valor de um repouso prolongado no leito após a punção
lombar na prevenção de cefaleias por baixa pressão tem sido questionado. Elas são agravadas com o
balançar da cabeça ou pela compressão da veia jugular. A dor é geralmente uma dor surda, vaga e
imprecisa, mas pode ser pulsátil a localização é occipitofrontal. Náuseas e rigidez de nuca
frequentemente acompanham a cefaleia, e alguns pacientes relatam visão borrada, fotofobia, tinidos
e vertigens. Os sintomas geralmente remitem em alguns dias, mas podem persistir por semanas ou
meses. Pode haver uma hipotensão intracraniana espontânea, que pode explicar alguns casos de
cefaleia de início recente, diária e persistente. É vista uma pressão baixa do LCR, e radiologicamente
pode haver espessamento e intensificação dural à RM, assim como um deslocamento descendente das
tonsilas cerebelares e derrames subdurais. Vazamentos devidos ao traumatismo cranioencefálico,
erosões de lesões adjacentes através da dura, ruptura de frágeis cistos aracnoides e rupturas da bainha
de raízes durais podem causar essa síndrome. Embora a intensificação meníngea à RM seja
característica da hipotensão intracraniana, é preciso excluir carcinomatose dural ou linfoma,
sarcoidose ou artrite reumatoide.
- A perda de volume do LCR diminui o coxim de apoio do cérebro; quando o paciente assume a
posição ereta, há provavelmente a dilatação vascular e é colocada tensão sobre as estruturas
intracranianas de ancoragem, incluindo os seios durais sensíveis à dor. Há com frequência hipotensão
intracraniana, mas a síndrome franca pode ocorrer a uma pressão normal do LCR.
- Caso se suspeite clínica ou radiologicamente de uma cefaleia por pressão baixa, deve-se proceder a
uma cisternografia cintigráfica e a uma mielografia TC, com uma punção lombar realizada sob
fluoroscopia. O líquor coletado pode apresentar uma pleocitose leve.
- O tratamento das cefaleias pós punção lombar é notavelmente efetivo. O benzoato de sódio-cafeína
administrado por via intravenosa em alguns minutos em uma dose de 500 mg faz cessar prontamente
a cefaleia em 75% dos pacientes; uma segunda dose 1 h depois leva a frequência total de êxito a 85%.
No caso da cefaleia pós-punção lombar, um curativo sanguíneo epidural realizado pela injeção de 15
ml do sangue do paciente raramente falha naqueles que não respondem à cafeína. A explicação para
o sucesso desse tratamento não foi esclarecida, porque o curativo sanguíneo tem um efeito imediato;
a oclusão de um orifício dural pelo coágulo sanguíneo é um mecanismo de ação improvável. O mais
provável é que o curativo sanguíneo desloque um pleno venoso epidural lombar ingurgitado, fazendo
aumentar a PIC. Em outras etiologias de cefaleia de baixa pressão, tratamentos diversos são dirigidos
ao reparo da origem do vazamento.
Miscelânea/Tipos diversos de cefaleia
- Como causas de cefaleia também podemos ter: Monóxido de carbono, cafeína, álcool, medicações
como nitroglicerina, bloqueadores de canal de cálcio, hidralazina, captopril, minoxidil, cocaína.
- Leitura da aula no Merritt (12ª Edição): Capítulos 7 (página 77) e 155 (página 1411).
Outras informações para a prova
Anticorpos monoclonais (Profilaxia, enxaquecas)
- É uma novidade. Professor cita isso ao falar do tratamento profilático das enxaquecas (página 162).
- Etenumabe (Pasurta).
- No total, os estudos contaram com 2586 pacientes e os resultados mostraram que o fármaco reduziu
de 50% a 100% das crises, quando comparado com o placebo.
Revisão de neuroanatomia topográfica
Vias da dor e temperatura
Trato reticuloespinhais
Trato tetoespinhal
Trato rubroespinhal
Trato vestibuloespinhal
Trato olivoespinhal
Fibras aferentes cerebelares do córtex cerebral. Os pedúnculos cerebelares são delineados com
linhas tracejadas ovoides