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NEFROLOGIA Prof.

Diego Ennes |Infecção do Trato Urinário (ITU) 2

APRESENTAÇÃO:

PROF. DIEGO ENNES

Querido Estrategista, este resumo abordará o tema


Infecção do Trato Urinário, a famosa ITU! Tema
importantíssimo com relevante interface entre
nefrologia, infectologia e obstetrícia.
Bons estudos e vamos juntos em mais esta etapa!

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Estratégia MED

t.me/estrategiamed

@diego.ennes Estratégia
MED
NEFROLOGIA Infecção do Trato Urinário (ITU) Estratégia
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SUMÁRIO

1.0 DEFINIÇÃO 4
1.1 SÍNDROMES CLÍNICAS 4

2.0 EPIDEMIOLOGIA 6
3.0 FISIOPATOLOGIA 7
3.1 AGENTES ETIOLÓGICOS 7

4.0 DIAGNÓSTICO 9
4.1 EXAME DE URINA 9

4.2 SINTOMATOLOGIA 10

5.0 DIAGNÓSTICO E MANEJO 11


5.1 CISTITE AGUDA 11

5.2 CISTITE DE REPETIÇÃO 12

5.3 PIELONEFRITE AGUDA 13

5.4 ABSCESSO RENAL 16

5.5 PIELONEFRITE ENFISEMATOSA 17

5.6 BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA 18

5.7 INFECÇÃO FÚNGICA 19

5.8 INFECÇÃO RELACIONADA A CATETER VESICAL 19

5.9 CISTITE INTERSTICIAL 19

6.0 LISTA DE QUESTÕES 20


7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21
8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 21

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CAPÍTULO

1.0 DEFINIÇÃO
A ITU, também conhecida como infecção urinária, é definida pela presença de patógenos, normalmente estéreis, no trato urinário. De
maneira geral, a apresentação da ITU pode ter diversas divisões, sendo a anatômica uma delas, isto é, classificar uma ITU em baixa ou alta.

Figura 1 – Divisão do trato urinário.

Por meio dessa figura conseguimos diferenciar o trato urinário em duas partes:
- Baixo: compreende a bexiga e uretra.
- Alto: compreende os rins e ureteres.

1.1 SÍNDROMES CLÍNICAS

Além da divisão anatômica, as principais síndromes clínicas recebem algumas nomenclaturas que merecem ser conhecidas:

• ITU não complicada: acomete indivíduos sem nenhum fator de risco, ou seja, é a infecção da mulher jovem,
hígida, na pré-menopausa, não gestante e sem anormalidade do trato urinário.
• ITU complicada: é todo o resto! Ou seja, é a infecção urinária que acomete indivíduos idosos, homens,
mulheres na pós-menopausa, gestantes, crianças, com presença de anormalidades anatômicas ou funcionais.

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As síndromes clínicas propriamente ditas, que serão pormenorizadas mais adiante, são as seguintes:

Cistite aguda Infecção do trato urinário baixo – caracterizada pela infecção da bexiga

Pielonefrite aguda Infecção do trato urinário alto – caracterizada por infecção do rim

Presença de, no mínimo, 2 episódios de ITU em 6 meses ou 3 episódios


ITU recorrente (ou de repetição)
em 12 meses

Presença de urocultura positiva com contagem de bactérias ≥ 105


Bacteriúria assintomática unidades formadoras de colônia (UFC)/mL na ausência de sintomas
urinários ou sistêmicos
Tabela 1 – Principais síndromes clínicas das ITUs.

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2.0 EPIDEMIOLOGIA
Por razões anatômicas, as mulheres formam o principal grupo acometido pelas ITUs. Isso é verdade desde a infância (exceto nos
menores de um ano) até a menopausa. Em idosos, as infecções urinárias tornam-se tão comuns em homens quanto em mulheres.
Os fatores de risco para ITU complicada (tabela 2) são aqueles que podem propiciar resistência bacteriana, ou por formarem reservatórios
de bactérias ou por prolongarem a estase urinária, que pode aumentar a proliferação bacteriana.

Fatores de risco para ITU

Condição de risco Patologia associada

Hiperplasia prostática
Litíase renal
Fatores obstrutivos Anormalidade anatômica: cistos, estenoses urológicas, divertículo, doença
renal policística
Malignidade do trato urinário

Refluxo vesicoureteral
Fatores anatômicos funcionais
Bexiga neurogênica

Cateter vesical de demora


Presença de corpo estranho Nefrostomia
Duplo J

Transplante renal ou de outro órgão sólido


Sexo masculino
Condições clínicas Gestantes
Diabetes mellitus
Manipulação cirúrgica recente do trato urinário

Tabela 2 – Fatores de risco para ITU.

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3.0 FISIOPATOLOGIA
Em geral, a invasão do trato urinário por microrganismos ocorre quando patógenos da flora retal migram para a bexiga por meio
da uretra. A suscetibilidade maior no sexo feminino deve-se principalmente à proximidade uretral da região perianal, além do pequeno
comprimento uretral (tabela 3).
Em alguns casos, esses uropatógenos podem migrar através dos ureteres até o rim e causar a pielonefrite, que é a infecção do trato
urinário alto. Essa é a principal via de contaminação do trato urinário alto, ou seja, por via ascendente.

Tabela 3 – Fatores para ITU em mulheres.

3.1 AGENTES ETIOLÓGICOS


Caro(a) aluno(a), aqui vai uma informação importantíssima sobre um agente etiológico que você não pode esquecer na hora de sua prova.

A E. coli é o principal agente etiológico de ITU em qualquer situação (comunitária e hospitalar)!

Não importa se estamos falando acerca de cistite, pielonefrite, ITU na gestante ou qualquer outra situação: a E. coli é sempre o
principal microrganismo responsável pela ITU.

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O segundo lugar varia de acordo com a localização da infecção – alta ou baixa:

ITU ALTA ITU BAIXA


(pielonefrite) (cistite)

Enterobactéricas
Staphylococcus coagulasenegativo
Proteus mirabilis
saprophyticus
Agentes etiológicos Klebsiella spp
Enterococos
Enterobacter spp
Enterobactéricas
Pseudomonas aeruginosa

Tabela 4 – Agentes etiológicos nas ITUs.

“Professor, já vi situações em que há sintomas urinários baixos e urocultura negativa. O que pensar?”
Nesses casos, podemos pensar em um típico caso de PIÚRIA ESTÉRIL, em que as possibilidades etiológicas mudam um pouco.

CAUSAS DE PIÚRIA ESTÉRIL

• Uretrite por Chlamydia ou Ureaplasma;


• Tuberculose urinária (será contemplada no módulo de Infectologia).

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4.0 DIAGNÓSTICO
4.1 EXAME DE URINA

A urina é habitualmente estéril, ou seja, negativa para a presença de microrganismos, mas nem sempre a presença de microrganismo,
em qualquer quantidade, é sinônimo de infecção. Para confirmar, precisamos ter certeza de que houve uma coleta adequada para afastar
contaminação e devemos observar um crescimento mínimo de bactérias na urina.

E como interpretamos o exame de urinocultura?


O primeiro ponto que você precisa saber é que definimos ITU pelo crescimento de 105 unidades
formadoras de colônia por mililitro (UFC/mL) na urocultura de micção espontânea.
Na urina coletada de cateter utilizamos como critério diagnóstico o crescimento de 102 UFC/mL!

Lembre-se de que há outro exame muito utilizado na prática bactérias, sobretudo em enterobactérias (bacilos Gram-negativos).
e cujas principais alterações podem cair na sua prova. Estou falando Gram: a coloração de Gram ajuda a diferenciar bactérias em
do sumário de urina, urinálise e urina tipo I. dois grupos: Gram-positivas e Gram-negativas. A presença desse
Leucocitúria/piúria: presença de leucócitos no exame de elemento no exame de urina ajuda a inferir a presença de bactérias
urina, principalmente neutrófilos. Os neutrófilos são células de e guiar o tratamento antibiótico.
defesa do organismo e sua presença pode significar infecção. Não
é, contudo, uma exclusividade da ITU – a leucocitúria pode ocorrer
em outras síndromes clínicas, como glomerulopatias, nefrite Análise urinária Valor de referência
intersticial aguda e rejeição ao transplante renal!
Cilindros leucocitários: cilindros formados por células Até 10.000/mm³ ou até 5/
Leucocitúria
leucocitárias polimorfonucleares. Estão presentes em situações de campo
infecção urinária, nefrite intersticial aguda e, mais raramente, em
glomerulopatias. Cilindros leucocitários Negativo
Esterase leucocitária: é uma enzima produzida pelos
leucócitos degradados, que reflete a presença destes no exame de
urina. Esse exame é realizado por intermédio de uma fita reagente, Esterase leucocitária Negativo
mesmo antes do processamento do exame de urina I, e possui
associação com a presença de ITU.
Nitrito Negativo
Nitrito: a presença de nitrito também é identificada por meio
de fita reagente e denota a presença de bactérias uropatogênicas
Gram Negativo
que são capazes de converter o nitrato, normalmente presente
na urina, em nitrito, por atividade enzimática específica dessas Tabela 5 – Valores de referência no sumário de urina.

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4.2 SINTOMATOLOGIA

É importantíssimo reconhecermos os principais sinais e sintomas urinários, pois estes, aliados aos achados laboratoriais supracitados,
vão compor o diagnóstico de ITU.
Os principais sintomas urinários relacionados às infecções urinárias são disúria, estrangúria, dor suprapúbica, polaciúria e urgência
miccional. Outros sintomas sistêmicos podem estar presentes, como febre, dor lombar, calafrios, náuseas e vômitos – esses sinais são mais
relacionados à pielonefrite.

Vamos retomar aspectos principais da semiologia do aparelho urinário:


• Disúria: dor ou ardor ao urinar, em geral referida na uretra.
• Polaciúria: aumento da frequência miccional.
• Estrangúria: micção lenta e dolorosa, que pode ser referida como jato urinário gota a gota.
• Urgência miccional: vontade súbita e incontrolável de urinar.
• Poliúria: aumento do volume urinário, em geral > 3.000 mL/24horas.
• Oligúria: redução do volume urinário, em geral < 400 mL/24horas.
• Anúria: ausência praticamente total de débito urinário, em geral < 50 mL/24horas.
• Incontinência urinária: perda involuntária de urina.
• Pneumatúria: saída de ar durante a micção (lembrar de fístula urinária em doenças inflamatórias intestinais, doença
diverticular e tuberculose intestinal!)

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5.0 DIAGNÓSTICO E MANEJO


Antes de aprofundarmos nosso estudo sobre as principais síndromes clínicas, vamos fixar os conceitos que nos levam ao diagnóstico
de infecção urinária, com base em sintomatologia e exames complementares.
• Urocultura > 105 UFC/mL + sintomas = ITU
• Sintomas urinários baixos = cistite
• Sintomas sistêmicos = pielonefrite
• Infecções repetidas (2 episódios em 6 meses ou 3 em 12 meses) = ITU de repetição
• Presença de fator não habitual = ITU complicada
• Urocultura > 105 UFC/mL na ausência de sintomas = bacteriúria assintomática

5.1 CISTITE AGUDA

A cistite, na maioria das vezes, possui diagnóstico clínico e é muito frequente na mulher jovem, sobretudo após o início de atividade
sexual. A presença de sintomas típicos ̶ disúria, polaciúria e desconforto suprapúbico ̶ é suficiente para estabelecer a conduta mais apropriada:
antibioticoterapia.
Na cistite não complicada, o tratamento é feito de forma empírica, sem obrigatoriedade de urocultura inicialmente. Lembre-se, por
exemplo, de que Proteus, Serratia e Pseudomonas são intrinsecamente resistentes à nitrofurantoína, por isso é importante a realização do
exame de cultura se, após terapêutica empírica inicial, houver persistência de sintomas!

Fluxograma 1 – Tratamento da cistite aguda.

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ANTIBIÓTICO DOSE DURAÇÃO

Nitrofurantoína (1a escolha) 100 mg, 6/6h 5 dias

Fosfomicina (2a escolha) 3g Dose única

Sulfametoxazol + trimetoprim 800 + 160 mg, 12/12h 3 dias

Amoxicilina + clavulanato 500 + 125 mg, 12/12h 5-7 dias

Ciprofloxacino 250 mg, 12/12h 3 dias

Tabela 6 – Opções antimicrobianas para cistite aguda.

NITROFURANTOÍNA e FOSFOMICINA constituem as primeiras opções para tratamento da cistite aguda não complicada.

No caso de pacientes gestantes, a coleta de urocultura é


PERMITIDO EVITAR
obrigatória para guiar o tratamento inicial, assim como deve haver
urocultura de controle para confirmar a eficácia terapêutica. Além Cefalexina Quinolonas
disso, deve-se rastrear mensalmente a paciente com urocultura e
Amoxicilina Sulfametoxazol + trimetoprim
tratar (mesmo se assintomática – bacteriúria assintomática virá nos
próximos capítulos, aguarde!). Fosfomicina Aminoglicosídeos
No que se refere à segurança da antibioticoterapia, Nitrofurantoína *
cefalexina, amoxicilina (com ou sem clavulanato) e fosfomicina
Ampicilina
são opções seguras. A nitrofurantoína pode ser utilizada, porém
preconiza-se evitar o uso no primeiro trimestre e próximo ao Tabela 7 – Opções antimicrobianas durante a gestação. *Ressalvas com
termo. Evita-se sulfametoxazol + trimetoprim e quinolonas, assim nitrofurantoína (evitar no primeiro trimestre e último mês, por risco de
hiperbilirrubinemia).
como aminoglicosídeos.

5.2 CISTITE DE REPETIÇÃO

Antes de qualquer coisa, você precisa saber definir o que é uma ITU de repetição.

Definimos como ITU de repetição a ocorrência de TRÊS EPISÓDIOS EM UM ANO OU DOIS OU


MAIS EM SEIS MESES.

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Nos casos clássicos de cistite de repetição, sem evidências Definido o quadro de cistite de repetição, as primeiras
de complicação e sem sinais de alteração anatômica do trato medidas a serem tomadas são não antimicrobianas, a saber:
urinário, não há necessidade de exame de imagem complementar. • modificações comportamentais e de higiene
As indicações de avaliação específica você encontra na tabela adequada;
abaixo. • evitar espermicidas/diafragmas;
• uso de cranberry via oral (muito discutido em
Indicações de avaliação por imagem ou de especialista virtude da baixa evidência de melhora, porém
(urologia) apresenta baixo risco e reduzida incidência de
Relapso de infecção (quando há novo quadro infeccioso efeitos colaterais, o que o torna uma opção viável);
dentro de duas semanas) • terapia estrogênica vaginal em mulheres pós-
menopausa.
Isolamento de Proteus em culturas prévias (associado à
nefrolitíase) Um tópico importante é relacionado à profilaxia antibiótica
na cistite de repetição. Pode, sim, ser indicada com dose reduzida
Histórico de litíase urinária diária, por 3-6 meses, eventualmente prolongando-se até um ano.
Hematúria persistente Se os episódios forem relacionados à atividade sexual, o uso do
antibiótico deve ser administrado antes ou logo após o coito. Se
Mulheres com queixas miccionais persistentes, como for gestante, devemos também proceder à antibioticoprofilaxia,
incontinência, micção incompleta e prolapso, merecem investigação respeitando as opções antimicrobianas seguras do período
uroginecológica. gestacional, e estender até a segunda semana do puerpério.

5.3 PIELONEFRITE AGUDA

O diagnóstico de pielonefrite pode ser feito com base na


presença dos seguintes sinais e sintomas:

- sintomas urinários baixos associados à febre ou


sinais sistêmicos (calafrios, alteração do estado mental);
- desconforto lombar (no exame físico, lembre-se do
clássico sinal de Giordano, que é a punho-percussão lombar
dolorosa), com piúria e/ou bacteriúria.

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Duas dúvidas assombram o aluno na hora de resolver alguma questão sobre pielonefrite. Por isso, fique atento:

INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR


- Pacientes com sepse/choque séptico precisam de internação hospitalar;
- Febre persistente;
- Intolerância de ingestão por via oral;
- Gestantes (!!!).

INDICAÇÕES DE EXAME DE IMAGEM NA PIELONEFRITE


- Gravidade clínica à admissão (sepse ou choque séptico);
- Ausência de melhora clínica após 48-72 horas de antibioticoterapia direcionada;
- Suspeita de obstrução urinária (redução de função renal e/ou oligúria).

No paciente em condições de tratamento ambulatorial, a escolha da antibioticoterapia deverá ser feita inicialmente a partir da
possibilidade de haver infecção por germe multirresistente (fluxograma 2). Se algum dos fatores estiver presente, devemos optar por uma
dose inicial de ertapenem, seguida de prescrição via oral de quinolona.
Se não há risco de resistência inicialmente, optamos pela prescrição via oral de quinolona ou antibiótico parenteral em dose única
(ceftriaxone ou ertapenem, por exemplo), seguida de quinolona via oral.

Fluxograma 2 – Manejo da pielonefrite ambulatorial


(MDR = multidrogarresistente; SMT+TMP =
sulfametoxazol + trimetoprim).

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No paciente hospitalizado, temos algumas particularidades (fluxograma 3) e o principal divisor no manejo inicial refere-se à presença
de gravidade clínica à admissão. Se existir sepse (ou choque séptico), optamos por antibioticoterapia de amplo espectro, com cobertura
empírica para enterobactéria produtora de betalactamase de espectro estendido (ESBL) e Staphylococcus oxarresistente (MRSA). Além disso,
indica-se exame de imagem.

Fluxograma 3 – Manejo da pielonefrite em paciente internado


(ATB = antibioticoterapia; ESBL = enterobactéria produtora de
betalactamase de espectro estendido; MRSA = Staphylococcus
aureus meticilina-resistente; * Gram+ em bacterioscopia ou na
parcial de cultura).

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A duração do tratamento antibiótico varia entre 5 e 14 dias – a depender da escolha – e é algo que sempre gera dúvida. Por vezes, é
cobrada nas principais provas, portanto fique atento (tabela 8).

ATB DOSE DURAÇÃO

Ciprofloxacino 500 mg, 12/12h 5-7 dias

Levofloxacino 750 mg, 24/24h 5-7 dias

Amoxicilina + clavulanato 875 + 125 mg, 12/12h 10-14 dias

Ceftriaxone 1 a 2 g/dia, endovenoso 10-14 dias

Meropenem 1 g 8/8h, endovenoso 10-14 dias

Sulfametoxazol + trimetoprim 800/160 mg, 12/12h 7-10 dias


Tabela 8 – Antibioticoterapia na pielonefrite.

5.4 ABSCESSO RENAL


Abscesso renal e perinefrético (externo ao rim, confinado à fáscia de Girota) pode ocorrer como complicação de pielonefrite,
sobretudo naquele paciente que se mostra pouco responsivo ao tratamento, ou por disseminação hematogênica (S. Aureus é a principal
causa, nesse caso).
Para diagnóstico, optamos pela tomografia computadorizada com contraste iodado. O achado confirmatório é a presença de uma
cavidade fechada com realce após injeção do contraste (sinal do anel).

Figura 2 – Abscesso renal (Fonte: acervo pessoal Dr. Joshua Viana).

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A terapia empírica deverá cobrir enterobactérias ou ser direcionada, conforme resultado da cultura de secreção na drenagem cirúrgica – veja
as indicações para tal procedimento abaixo. Quando há concomitância de estafilococcemia, direciona-se o tratamento para esse germe.

E quando indicamos drenagem cirúrgica?

- Drenagem imediata se houver abscesso renal a partir de 5 cm;


- Drenagem imediata se houver abscesso perinefrético a partir de 3 cm.

5.5 PIELONEFRITE ENFISEMATOSA

A pielonefrite enfisematosa é uma grave infecção causada por germes capazes de produzir gás, sendo E. coli (70% dos casos) e K.
pneumoniae (quase 30%) os principais agentes responsáveis. Até 90% dos casos ocorrem em paciente com diabetes.
O diagnóstico é confirmado por imagem (tomografia computadorizada, embora a própria radiografia de abdome possa encontrar sinais
de gás em topografia renal – figura 3).

Figura 3 – Radiografia simples de pielonefrite enfisematosa. (Fonte: Trello)

A mortalidade por essa condição é alta. O tratamento cirúrgico, seja drenagem percutânea ou até mesmo nefrectomia (em casos
graves), associado à antibioticoterapia endovenosa é a escolha.

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5.6 BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA

Relacionamos essa entidade àquele paciente que não apresenta sintomas compatíveis
com infecção do trato urinário e com urocultura positiva, com crescimento de, pelo menos,
105 UFC/mL (lembre-se desse valor!).

O que você precisa saber é a quem rastrear e, sem demora, tratar para bacteriúria
assintomática.

INDICAÇÕES DE TRATAMENTO NA BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA

- Gestantes (PRINCIPAL INDICAÇÃO. ISSO É OBRIGATÓRIO SABER!)


- Pré-operatório de cirurgia urológica (com risco de sangramento de mucosa do trato urinário)

Algumas fontes preconizam tratamento de bacteriúria assintomática em transplante renal recente


(menos de um mês), porém isso não é consenso absoluto.

Na gestante, devemos solicitar urocultura a partir de 12 a 16 semanas de gestação. A bacteriúria na


gestação ocorre com maior facilidade, além de suscetibilizar à pielonefrite, parto prematuro, baixo peso ao
nascimento e mortalidade perinatal. Feito o diagnóstico de bacteriúria assintomática, devemos tratar com
opções terapêuticas guiadas pelo antibiograma, respeitando a segurança dos antimicrobianos na gestação e
por tempo de tratamento igual à cistite. Finalizado o tratamento, realiza-se urocultura de controle.

IMPORTANTE:

Pacientes diabéticos, idosos, com cateter vesical, pré-operatório não urológico


NÃO têm indicação de tratar bacteriúria assintomática!

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5.7 INFECÇÃO FÚNGICA

Fungúria é algo relativamente comum em pacientes A candidúria assintomática geralmente dispensa tratamento.
hospitalizados e com fatores de risco (quadro abaixo), raramente Este é indicado, contudo, em pacientes neutropênicos ou que serão
representa infecção invasiva grave, sendo as espécies de Candida submetidos à manipulação do trato urinário.
os patógenos mais encontrados.
A candidúria sintomática deve ser tratada. A escolha, na
FATORES DE RISCO PARA CANDIDÚRIA maioria das vezes, recai sobre o fluconazol, com duração de 14 dias
• Antibioticoterapia prévia (tanto para cistite como pielonefrite). Para Candida spp resistente
• Dispositivos urológicos a fluconazol, anfotericina deoxicolato, por 7 dias, é a escolha (não
• Diabetes se usam as formulações lipídicas de anfotericina na suspeita de
• Neoplasias pielonefrite por Candida devido à má penetração desse antifúngico
no parênquima renal).

5.8 INFECÇÃO RELACIONADA A CATETER VESICAL


A presença de cateter vesical de demora (CVD) é o principal fator de risco para ITU hospitalar, com
uma taxa de colonização desse dispositivo por patógenos de 3 a 10% por dia. ATENÇÃO!
Definimos ITU relacionada ao cateter vesical quando há presença de bacteriúria e sintomatologia
sugestiva (disúria, febre e desconforto suprapúbico).
Para a coleta de urocultura, idealmente deve-se trocar o CVD e coletar a amostra no novo dispositivo.
Confirmada a infecção, deve-se trocar o cateter, caso ainda não tenha sido feito.
Nos pacientes impossibilitados de micção espontânea e que precisam de cateterismo vesical, em vez
de manter o dispositivo de longa permanência, o cateterismo intermitente é uma opção com menor risco de
causar infecção.

5.9 CISTITE INTERSTICIAL


A cistite intersticial é uma síndrome dolorosa crônica relacionada a sintomas vesicais (pressão, dor e desconforto) associada a outros
sintomas urinários baixos, com duração acima de 6 semanas e sem associação com agentes infecciosos ou outras causas uroginecológicas.
O diagnóstico é clínico, considerando as características acima e, principalmente, descartadas as demais causas.
O tratamento envolve analgesia comum, antidepressivos tricíclicos, fisioterapia e, em casos mais graves, anestésicos intravesicais.

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Prof. Diego Ennes | Curso Extensivo | Outubro 2021 20


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CAPÍTULO

7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. Johnson, R.J. et al. Comprehensive Clinical Nephrology, 5th ed. Elsevier: 2015
2. Nicolle, L.E. et al. Clinical Practice Guideline for the Management of Asymptomatic Bacteriuria: 2019 Update by the Infectious Diseases
Society of America. Clin Infect Dis. 2019 May 2;68(10):e83-e110.
3. Brenner, B.M. editor. Brenner & Rector’s The Kidney. 10th ed. Philadelphia: Elsevier, 2016
4. Anger, J. et al. Recurrent Uncomplicated Urinary Tract Infections in Women: AUA/CUA/SUFU Guideline. J Urol. 2019 Aug;202(2):282-289.
5. Tópicos UpToDate:
Acute complicated urinary tract infection (including pyelonephritis) in adults
Acute simple cystitis in women
Catheter-associated urinary tract infection in adults
Sampling and evaluation of voided urine in the diagnosis of urinary tract infection in adults
Urinary tract infections and asymptomatic bacteriuria in pregnancy

CAPÍTULO

8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Muito bem, Coruja!
Vimos aqui um resumo desse importante tema em nefrologia. Logo abaixo, deixo um fluxograma com tópicos fundamentais para
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Prof. Diego Ennes | Resumo Estratégico | Novembro 2021 21

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