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OBSTETRÍCIA E PEDIATRIA Prof. Natália Carvalho e Prof.

Helena Schetinger | Infecções congênitas 2

APRESENTAÇÃO:

PROF. NATÁLIA
CARVALHO/ PROF.
HELENA SCHETINGER
INFECÇÕES CONGÊNITAS

As infecções congênitas são aquelas que passam para o


feto por transmissão vertical durante a gestação, o parto ou a
amamentação, e levam a complicações que podem aparecer na
vida intrauterina, no período neonatal ou até mais tardiamente,
na infância e na vida adulta.
O diagnóstico e tratamento pré-natal das infecções
congênitas, quando existente, são de extrema importância na
obstetrícia, pois essas doenças, quando não diagnosticadas e não
tratadas na gestação, aumentam a morbimortalidade perinatal.
Na pediatria, as consequências podem ser a curto ou a longo
prazo, inclusive refletindo no desenvolvimento neuropsicomotor
adequado.
Aqui no Estratégia Med montamos os capítulos baseados
em engenharia reversa. Isto é, respondemos às questões de
provas e transferimos para você o conhecimento necessário para
resolvê-las, salientando os pontos mais importantes e essenciais
para alcançar o sucesso no seu objetivo.

@estrategiamed @estrategiamed

t.me/estrategiamed /estrategiamed

@drahelenaschetinger
Estratégia
MED
@profnataliacarvalho
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Através desse método, vimos que as provas de Residência Médica têm abordado esse tema, dada sua importância em Obstetrícia
e Pediatria, fazendo parte do top 10 da Obstetrícia e sendo o assunto mais abordado dentro do período neonatal nas provas de Pediatria.

ESTATÍSTICA OBSTETRÍCIA PROVA DE RESIDÊNCIA MÉDICA ÚLTIMOS 6 ANOS

DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS DA GESTAÇÃO


ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL
SANGRAMENTO DA PRIMEIRA METADE
DOENÇAS INFECCIOSAS
DIABETES NA GESTAÇÃO
ASSISTÊNCIA AO PARTO
SANGRAMENTO DA SEGUNDA METADE
VITALIDADE FETAL
PARTOGRAMA E DISTÓCIAS
TRABALHO DE PARTO PREMATURO
ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS FETAIS
HEMORRAGIAS PÓS PARTO
ESTÁTICA FETAL, BÁCIA OBSTÉTRICA E MACANISMOS DE PARTO
MODIFICAÇÕES FISIOLÓGICAS
GESTAÇÃO MÚLTIPLA
RESTRIÇÃO DE CRESCIMENTO FETAL
INDUÇÃO DO PARTO
ALOIMUNIZAÇÃO E DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL
ULTRASSOM EM OBSTETRÍCIA
PARTO VAGINAL OPERATÓRIO
ABORTAMENTO DE REPETIÇÃO
RASTREAMENTO DE ANEUPLOIDIAS
INFECÇÃO PUERPERAL
ANEMIA NA GESTAÇÃO
ALTERAÇÃO DO VOLUME DE LIQUÍDO AMNIÓTICO
LÚPUS NA GESTAÇÃO
TROMBOSE NA GESTAÇÃO
OUTRAS DOENÇAS NA GESTAÇÃO
CARDIOPATIAS
TIREOIDIOPATIAS
PÓS-TERMO
ÓBITO FETAL
FISÍOLOGIA FETAL

0 20 40 60 80 100 120 140 160

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DISTRIBUIÇÕES DE QUESTÕES DA NEONATOLOGIA

INFECÇÕES CONGÊNITAS 17,6 %

CARDIOPATIAS CONGÊNITAS 16,3 %

ICTERÍCIA 14,0 %

REANIMAÇÃO NEONATAL 13,6 %

EXAME FISÍCO 9,6%

DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS 8,6%

TRIAGEM NENONATAL 7,3%

DISTÚRBIOS METABÓLICOS 4,2%

SEPSE NEONATAL 4,2%

CUIDADOS NEONATAIS 3,4%

DISTÚRBIOS HEMATOLÓGICOS 1,3%

Observamos também que sífilis, HIV e toxoplasmose são as principais infecções congênitas exploradas e sífilis é o tema que
predomina. Com relação às outras infecções congênitas, cobra-se principalmente as manifestações fetais e o diagnóstico. Observe os
gráficos a seguir. O primeiro mostra as principais infecções congênitas nas questões de obstetrícia e o segundo, sua distribuição nas
questões de pediatria.

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2% 1%
2% 1%

3%
3%
3% 3% 9%
3%
3%
9%
20% 42%

39%
23% 39% 20% 3% 42%
23% 26%
9%

20% 42%
Toxoplasmose
26% 26%
26%

CMV
26%

Rubéola

Toxoplasmose
Si�lis Si�lis Herpes simples
Herpes simples Toxoplasmose Zika

Toxoplasmose
Toxoplasmose Citomegalovirus
Citomegalovirus
CMV
CMV Outros
HIV HIV Rubeola
Rubeola
Zika Vírus Parvovírus Rubéola
Zika Vírus Parvovírus
Hepa�tes virais Rubéola
Hepa�tes virais
Zika

Zika
Outros
Neste capítulo faremos uma visão geral sobre as principais infecções congênitas e a seguir falaremos individualmente sobre cada
uma delas, porém algumas doenças estarão ainda em capítulos à parte por serem de extrema importância também para a clínica geral,
Outros
como sífilis, HIV e hepatites virais. A sífilis na gestação terá um capítulo só para ela!
Para você ganhar tempo, ao longo do texto daremos dicas e conceitos-chaves para facilitar o conhecimento e a diferenciação das
doenças, no final, você estará pronto para enfrentar qualquer questão sobre esse assunto e arrasar nas provas!
Então venha com a gente, vamos dar mais um passo no caminho da sua aprovação! Você está pronto?

Estratégia
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SUMÁRIO
1.0 AS PRINCIPAIS INFECÇÕES CONGÊNITAS: TORCHS 8
1.1 RASTREAMENTO DAS INFECÇÕES CONGÊNITAS 8

1.2 TRANSMISSÃO VERTICAL DAS TORCHS 9

1.3 MANIFESTAÇÕES CONGÊNITAS DAS TORCHS 11

2.0 TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO 12


2.1 INTRODUÇÃO 12

2.2 EPIDEMIOLOGIA DA TOXOPLASMOSE 12

2.3 ETIOLOGIA DA TOXOPLASMOSE 13

2.4 TRANSMISSÃO DA TOXOPLASMOSE 13

2.5 PREVENÇÃO NA GESTAÇÃO 16

2.6 RASTREAMENTO NA GESTAÇÃO 17

2.7 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS NA GESTANTE 17

2.8 DIAGNÓSTICO 18
2.8.1 DIAGNÓSTICO NA GESTAÇÃO 18
2.8.2 CLASSIFICAÇÃO DA GESTANTE 24

2.9 TRATAMENTO 26
2.9.1 TRATAMENTO DA TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO 26

2.10 TOXOPLASMOSE CONGÊNITA 31


2.10.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 31
2.10.2 DIAGNÓSTICO DA TOXOPLASMOSE CONGÊNITA 34
2.10.3 CONDUTA 36

2.11 RESUMO 39

3.0 CITOMEGALOVÍRUS 40
3.1 INTRODUÇÃO 40

3.2 ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO 41

3.3 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO 41

3.4 CITOMEGALOVIROSE CONGÊNITA 44


3.4.1 MANIFESTAÇÕES CONGÊNITAS 44
3.4.2 DIAGNÓSTICO PÓS-NATAL 48
3.3.3 TRATAMENTO 49

3.5 RESUMINDO 51

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4.0 RUBÉOLA NA GESTAÇÃO 51


4.1 INTRODUÇÃO 51

4.2 ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO 52

4.3 PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO 52

4.4 RUBÉOLA CONGÊNITA 57


4.4.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 57
4.4.2 DIAGNÓSTICO PÓS-NATAL 59
4.4.3 TRATAMENTO 60

4.5 RESUMINDO 60

5.0 PARVOVÍRUS B19 NA GESTAÇÃO 61


5.1 INTRODUÇÃO 61

5.2 ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO 61

5.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E CONGÊNITAS 61

5.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO 62

5.5 RESUMINDO 64

6.0 ZIKA VÍRUS NA GESTAÇÃO 65


6.1 INTRODUÇÃO 65

6.2 ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO 65

6.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E CONGÊNITAS 66

6.4 PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO 68

6.5 RESUMINDO 73

7.0 HERPES SIMPLES 74


8.0 VARICELA CONGÊNITA 77
9.0 OUTROS 78
9.1 DOENÇA DE CHAGAS CONGÊNITA 78

9.2 DENGUE CONGÊNITA 78

10.0 TABELA COMPARATIVA DAS PRINCIPAIS INFECÇÕES CONGÊNITAS 79


11.0 CARACTERÍSTICAS CHAVES DAS PRINCIPAIS INFECÇÕES CONGÊNITAS 81
12.0 LISTA DE QUESTÕES 83
13.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 84
14.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 84

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CAPÍTULO

1.0 AS PRINCIPAIS INFECÇÕES CONGÊNITAS: TORCHS


As principais infecções congênitas são: Toxoplasmose, O acrônimo TORCH foi inicialmente descrito para agrupar
Rubéola, Citomegalovírus, Hepatites virais, HIV e Sífilis. Além dessas, algumas infecções congênitas: Toxoplasmose, Outras (parvovírus,
outras infecções maternas mais raras também podem cursar com malária, doença de Chagas), Rubéola, Citomegalovírus e Herpes.
infecção congênita, como na infecção por parvovírus B19, herpes Posteriormente, esse acrônimo ficou conhecido como TORCHS,
simples, varicela-zoster, Zika vírus, dengue e doença de Chagas. acrescentando Hepatite B e C, HIV e Sífilis.

1.1 RASTREAMENTO DAS INFECÇÕES CONGÊNITAS

As infecções congênitas aumentam a morbimortalidade Ministério da Saúde preconiza que seja feita triagem sorológica
perinatal, por isso o rastreamento sorológico dessas doenças para todas as gestantes, a fim de prevenir a transmissão vertical
durante a gestação é importante para o diagnóstico e o tratamento das seguintes doenças: sífilis, HIV, hepatite B e C e toxoplasmose.
precoce, quando este existir. O momento da testagem de cada uma dessas doenças
Não existe um consenso internacional sobre quais dessas está resumido na tabela a seguir e será detalhado ao longo deste
doenças devem ser rastreadas durante o pré-natal. No Brasil, o material.

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Sífilis HIV Hepatite B Hepatite C Toxoplasmose

1ª consulta 1ª consulta
HBsAG na 1ª consulta Anti-HCV na 1ª
de pré-natal de pré-natal 1ª consulta pré-natal
de pré-natal consulta de pré-natal

Parto se a gestante História de exposição A cada 1-2 meses se


não tiver vacinação de risco/violência gestante susceptivel
3º trimestre 3º trimestre completa para sexual
hepatite B

História de exposição
Parto ou aborto Parto de risco/violência
sexual

História de exposição História de exposição


de risco/violência de risco/violência
sexual sexual

Fonte: MS, 2022.

Para testagem dessas infecções, dá-se preferência à utilização esteja disponível em até 14 dias.
de teste rápido, pela maior praticidade e rapidez em iniciar as As outras infecções congênitas devem ser rastreadas
medidas necessárias para diminuir o risco de transmissão vertical. conforme suspeita pelo quadro clínico materno ou fetal
Quando utilizar o teste laboratorial, preconiza-se que o resultado

1.2 TRANSMISSÃO VERTICAL DAS TORCHS

A transmissão vertical depende de diversos fatores, incluindo é o período da organogênese. Por outro lado, quando a infecção
a imunidade materna, a idade gestacional que a infecção ocorreu é adquirida tardiamente, a placenta está mais desenvolvida e o
e se a infecção é primária, secundária ou reativação. risco de transmissão vertical é maior. A figura 1 ilustra a relação
Sabemos que infecções primárias, transmitidas via placenta, da transmissão e da gravidade com a idade gestacional do
no início da gestação são muito mais danosas para o feto do que acometimento materno.
infecções secundárias transmitidas no final da gestação, afinal, esse

Figura 1. Gráfico ilustrativo do risco de transmissão e gravidade das infecções congênitas conforme a idade gestacional.

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A maioria das infecções congênitas são transmitidas por pelo HIV e Hepatite B, no caso de lesão mamária de sífilis ou herpes
via transplacentária, porém, em algumas doenças, ela acontece simples. Embora haja relato de transmissão vertical durante a
durante o parto, como é o caso da infecção pelo HIV, hepatite B amamentação, o aleitamento materno só é proscrito nos casos de
e C , herpes simples, Coxsackie e malária. Já a transmissão pela HIV materna.
amamentação é bem rara e foi comprovada apenas na infecção

VAMOS RELEMBRAR?

TRANSMISSÃO VERTICAL: quando a doença é


transmitida de uma geração para a outra por meio da
passagem da infecção materna para o embrião ou feto
ainda dentro do útero ou para o recém-nascido durante
a amamentação. A transmissão pode ocorrer por via
transplacentária, intraparto ou na amamentação.

TRANSMISSÃO HORIZONTAL: quando a infecção


é transmitida de um indivíduo para outro. A transmissão
horizontal pode ser direta, por contato físico ou contato
com secreções, ou ainda indireta, por meio de veículos
intermediários, vivos ou não, que transmitem a infecção
entre os hospedeiros infectados e susceptíveis.

CAI NA PROVA

(HFA-DF 2020 Uma paciente de 21 anos de idade, em acompanhamento pré-natal, apresentou sorologias pareadas para toxoplasmose,
evidenciando aumento de cinco vezes no valor dos títulos de IgG em um intervalo de três semanas. Julgue o item a seguir O risco de transmissão
de toxoplasmose para o feto reduz com a duração da gravidez, sendo no mínimo no terceiro trimestre.

A) CERTO
B) ERRADO

COMENTÁRIOS:

O risco de transmissão de toxoplasmose para o feto aumenta durante a gestação, sendo maior no terceiro
Correta a alternativa B.
trimestre. Portanto, a afirmativa da questão está errada, por isso deve ser assinalada a alternativa “B”.

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CAI NA PROVA

(SUS-BA 2020) Gestante de 12 semanas, primigesta e assintomática, em consulta pré-natal, apresenta sorologia para toxoplasmose IgM
positivo e IgG positivo. O próprio laboratório enviou teste confirmatório do IgM positivo. Diante do resultado do exame, o médico solicita
Teste de Avidez de IgG, cujo resultado indica fraca avidez. De acordo com o quadro descrito, cite o trimestre gestacional de maior risco de
infecção fetal pelo Toxoplasma gondii.

COMENTÁRIOS:

O risco de transmissão de toxoplasmose para o feto aumenta durante a gestação, sendo maior no terceiro trimestre.

1.3 MANIFESTAÇÕES CONGÊNITAS DAS TORCHS

Esse é um dos tópicos mais cobrados sobre infecções congênitas nas provas de Residência Médica. Falaremos das manifestações de
cada infecção congênita de forma individual, mas segue um resumo para melhor fixação.

TOXOPLASMOSE RUBÉOLA CITOMEGALOVÍRUS

• Calcificações intracranianas • Retinopatia, catarata, glaucoma • Calcificações periventriculares


• Hidro ou microcefalia • Malformações cardíacas • Hepatoesplenomegalia
• Coriorretinite • Perda auditiva • Trombocitopenia
• Retardo mental • Perda auditiva

ZIKA VÍRUS SÍFILIS

• Microcefalia • Anormalidades esqueléticas


• Calcificações intracranianas • Lesões cutâneas
• Artrogripose • Pseudoparalisia de Parrot
• Microftalmia • Hepatoesplenomegalia
• Perda auditiva

Então, vamos começar a conhecer cada uma dessas doenças.

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CAPÍTULO

2.0 TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO

2.1 INTRODUÇÃO

A toxoplasmose é uma das infecções parasitárias mais comuns em humanos e possui ampla distribuição
geográfica. Essa zoonose adquire relevância na gestação pelo elevado risco de transmissão vertical e acometimento
fetal.
Nas provas de Residência Médica, a toxoplasmose é uma das infecções congênitas mais cobradas, perdendo apenas para
Sífilis e HIV.
Em um levantamento feito pelas equipes de Obstetrícia e Pediatria do Estratégia MED, encontramos questões sobre toxoplasmose
nas principais provas de Residência Médica e os principais tópicos abordados sobre esse tema foram: diagnóstico, tratamento e características
do neonato acometido. Então, aproveite esse material didático e todas as nossas dicas sobre esse tema.

2.2 EPIDEMIOLOGIA DA TOXOPLASMOSE

A toxoplasmose corresponde a uma das zoonoses mais vivos, sendo que tanto a toxoplasmose na gestação como a
prevalentes do Brasil, com uma soroprevalência na população adulta toxoplasmose congênita são doenças de notificação compulsória.
em torno de 40 a 80%, a depender da região estudada, uma vez que Deve-se, portanto, notificar todos os casos suspeitos, prováveis
se relaciona às condições sanitárias e índices socioeconômicos. e confirmados de toxoplasmose na gestação e toxoplasmose
Segundo o Ministério da Saúde¹, a incidência de toxoplasmose congênita.
congênita no Brasil varia de 5 a 20 casos para cada 10 mil nascidos

Doenças de notificação compulsória relacionadas ao período perinatal:

HIV- gestação e recém-nascido exposto

Sífilis- gestação e congênita

Zika vírus- gestação e congênita

Rubéola congênita

Toxoplasmose congênita

Tétano neonatal

Óbito materno e neonatal

¹Ministério da Saúde 2019

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2.3 ETIOLOGIA DA TOXOPLASMOSE

A toxoplasmose é uma doença causada pelo Toxoplasma gondii, protozoário intracelular obrigatório.
Esse protozoário possui um ciclo de vida com dois hospedeiros: os felídeos como hospedeiros definitivos (aloja o parasita adulto em
sua forma reprodutiva) e homem, aves ou mamíferos, como hospedeiros intermediários (aloja o parasita na forma jovem ou de reprodução
assexuada). Além disso, apresentam um ciclo evolutivo com três formas principais:

• Taquizoítos: presentes na fase aguda ou reagudização


da doença, apresentam altas taxas de multiplicação
e são capazes de infectar o sistema nervoso central,
olhos, músculos e placenta (figura 2).
• Bradizoítos: encontram-se nos tecidos dos seres
humanos e de todos os hospedeiros intermediários,
apresentam baixa atividade de replicação. Em
hospedeiros imunocomprometidos podem transformar-
se novamente em taquizoítos.
• Esporozoítos: encontram-se dentro dos oócitos,
formados exclusivamente no intestino dos felinos e
são eliminados pelas fezes, infectando o hospedeiro
intermediário. É a forma mais resistente do parasita e
Figura 2: Toxoplasma gondii na forma de taquizoítos. As setas indicam os
pode permanecer no ambiente por anos. taquizoítos.

2.4 TRANSMISSÃO DA TOXOPLASMOSE

A transmissão do Toxoplasma gondii para o ser humano pode ocorrer pela ingestão de oócitos (esporozoítos) presentes em comida,
água, solo contaminado ou pela ingestão de cistos teciduais (bradizoítos) presentes em carnes cruas ou malcozidas. Chamamos essa
transmissão de “oral”. Além disso, pode ocorrer a transmissão por meio dos taquizoítos durante a infecção aguda, por transfusão sanguínea,
contato com secreções e excreções ou via transplacentária.
O ciclo evolutivo e transmissão do Toxoplasma gondii está representado na figura 3:

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Figura 3. Ciclo evolutivo e transmissão da toxoplasmose.

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A transmissão vertical ocorre, principalmente, por via transplacentária é maior quanto maior for a idade gestacional.
transplacentária durante a infecção materna aguda, através da No primeiro trimestre a taxa de transmissão é de 14%, chegando a
passagem de taquizoítos pela placenta. Além disso, também pode 60% no terceiro trimestre. Por outro lado, a gravidade da doença é
haver transmissão vertical durante o parto e a amamentação maior quando a transmissão vertical ocorre no início da gestação.
se a mulher estiver na fase aguda da doença. Apesar de a Como a taxa de transmissão diminui em torno de 50 %
transmissão transplacentária ser rara em quadros de reativação nas gestantes tratadas durante a gestação, é de fundamental
da infecção materna, ela pode ocorrer se a gestante apresentar importância a prevenção, o rastreamento e o diagnóstico dessa
imunossupressão grave. doença, a fim de evitar as complicações da toxoplasmose congênita.
Conforme falamos anteriormente, a transmissão

CAI NA PROVA

(ISCMSC-SP 2020 A toxoplasmose na gestação é transmitida ao feto pela via transplacentária na forma de:

A) oocisto
B) cisto
C) esporozoíto
D) taquizoíto

COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A: os oócitos estão presentes nas fezes de gato, comida ou solo e são ingeridos pelo hospedeiro intermediário, mas
não passam pela via transplacentária.
Incorreta a alternativa B: os cistos permanecem nos tecidos dos hospedeiros intermediários, mas não passam pela via transplacentária.
Incorreta a alternativa C: os esporozoítos encontram-se dentro dos oócitos e são formados exclusivamente no intestino dos felinos e
eliminados pelas fezes.
a transmissão vertical ocorre, principalmente, por via transplacentária durante a infecção materna aguda,
Correta a alternativa D:
pela passagem de taquizoítos através da placenta.

CAI NA PROVA

(UFMT-MT 2018) Em relação ao agente etiológico da toxoplasmose, analise as afirmativas abaixo.


I - Apresenta três formas durante o seu ciclo de vida: oocistos, taquizoítos e bradizoítos; II - É um protozoário extracelular que acomete
preferencialmente o sistema nervoso central; III - O parasita se multiplica no intestino dos felinos e os oocistos resultantes são eliminados nas
fezes; e, IV - A contaminação humana pode ocorrer pela ingestão de carnes cruas ou frutas, verduras e legumes mal lavados. Está CORRETO
o que se afirma em:

A) I, III e IV, apenas.


B) II e IV, apenas.
C) I, II e III, apenas.
D) III e IV, apenas.

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COMENTÁRIOS:

I - Apresenta três formas durante o seu ciclo de vida: oocistos, taquizoítos e bradizoítos; CORRETO- O Toxoplasma gondii apresenta um ciclo
evolutivo com três formas principais: taquizoítos, bradizoítos e esporozoítos (oócitos).
II - É um protozoário extracelular que acomete preferencialmente o sistema nervoso central; INCORRETO- A toxoplasmose é uma doença
causada pelo Toxoplasma gondii, protozoário intracelular obrigatório.
III - O parasita multiplica-se no intestino dos felinos e os oocistos resultantes são eliminados nas fezes; CORRETO- O Toxoplasma gondii
multiplica-se no intestino dos felinos e é liberado nas fezes em forma de oócitos.
IV - A contaminação humana pode ocorrer pela ingestão de carnes cruas ou frutas, verduras e legumes mal lavados. CORRETO- A contaminação
em humanos pode ocorrer pela ingestão de cistos presentes em carne infectada ou comida e água contaminadas.

Correta a alternativa A.

2.5 PREVENÇÃO NA GESTAÇÃO

A prevenção primária da toxoplasmose é feita evitando-se a ingestão de bradizoítos presentes em carnes de animais (hospedeiros
intermediários) contaminados e oócitos (esporozoítos) presentes em frutas, verduras, solo ou água contaminadas com fezes de gatos
contaminados (hospedeiros definitivos).
As principais medidas de prevenção primária da toxoplasmose são:
• Higienização correta das mãos antes das refeições, após manusear lixo, ter contato com animais e manipular alimentos e carnes
cruas.
• Manusear terra ou solo com luvas e higienizar as mãos após o término.
• Consumir apenas água filtrada ou fervida.
• Higienizar corretamente frutas e verduras (deixar de molho em solução clorada por 10 minutos).
• Congelar carnes antes do consumo.
• Não consumir carnes cruas, malcozidas ou malpassadas.
• Não consumir leite e seus derivados crus.
• Evitar contato com animais de rua.
• Alimentar gatos com ração e não deixar que façam a ingestão de carne crua ou caça.
• Evitar manipulação da caixa de areia dos gatos domésticos e o contato com as fezes dos gatos.

Não há vacina disponível contra a doença.

CAI NA PROVA

(HSJC-SP 2020) Frente a gestante com sorologia negativa para toxoplasmose, é recomendado orientá-la a evitar:

A) consumo ou manipulação de carne crua.


B) contato com pássaros.
C) aglomerações de pessoas.
D) locais com baixa circulação de ar.

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COMENTÁRIOS:

Diante de gestante susceptível à toxoplasmose (sorologia negativa), recomenda-se, dentre outras orientações, evitar o consumo ou
manipulação de carne crua.

Correta a alternativa A.

2.6 RASTREAMENTO NA GESTAÇÃO

HIV (IgG e IgM) . O Ministério


Para todas as gestantes, o rastreamento da toxoplasmose deve ser feito por meio da solicitação de sorologia
da Saúde orienta que gestantes suscetíveis à toxoplasmose realizem sorologia mensalmente ou, no mínimo, a cada dois meses para o
diagnóstico precoce.
SÍFILIS
As sorologias de rastreamento obrigatório na gestação são :

HIV HEPATITE B e C

SÍFILIS TOXOPLASMOSE

HEPATITE B e C
2.7 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS NA GESTANTE

TOXOPLASMOSE
A infecção aguda na gravidez geralmente é assintomática. difuso. Já a doença ocular (coriorretinite) é mais comum na
Quando presentes, os sintomas são inespecíficos: febre, reativação da doença. Por isso, o fato de a infecção aguda ser
calafrios, cefaleia, mialgia, odinofagia, hepatoesplenomegalia, assintomática torna o rastreamento da gestante imprescindível.
linfadenomegalia cervical bilateral simétrica e rash maculopapular

Febre, calafrios, cefaleia, mialgia, odinofagia, hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia


Sintomas inespecíficos
cervical bilateral, rash maculopapular difuso.

Sintoma específico Coriorretinite

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2.8 DIAGNÓSTICO

2.8.1 DIAGNÓSTICO NA GESTAÇÃO

Como a maioria das gestantes é assintomática, o diagnóstico da toxoplasmose é feito pela sorologia materna, com avaliação dos
anticorpos IgG e IgM para toxoplasmose, solicitada no rastreamento de rotina durante o pré-natal.
A tabela 2 mostra as possíveis sorologias com seus respectivos diagnósticos e condutas no primeiro trimestre:

Tabela 2: Interpretação da sorologia para toxoplasmose na gestação

IgG IgM DIAGNÓSTICO CONDUTA

Negativa Negativa Susceptível Medidas de prevenção

Positiva Negativa Imune Pré-natal habitual

Falso positivo Repetir sorologia em 2 semanas


Negativa Positiva
Infecção aguda/muito recente Espiramicina e investigação fetal

Avidez baixa- infecção aguda/


Espiramicina e investigação fetal
recente
Positiva Positiva

Avidez alta- infecção antiga Pré-natal habitual

Gestantes suscetíveis (podem adquirir a infecção na também positiva, trata-se de um caso de toxoplasmose aguda com
gestação) têm resultados negativos para os anticorpos IgG e IgM soroconversão na gestação. Se o IgG não positivar, trata-se de IgM
específicos para toxoplasmose e o acompanhamento deve ser feito falso positivo e deve-se suspender a espiramicina.
com sorologia seriada (1-2 meses) e orientações preventivas, a Se a gestante apresentar IgM e IgG positivas no primeiro
depender do perfil epidemiológico da região. trimestre, deve-se realizar o teste de avidez para IgG, a fim de
determinar se a infecção é recente (baixa avidez) ou tardia
Se a gestante apresentar IgG positiva e IgM negativa, ela
(alta avidez), uma vez que os títulos de IgM podem permanecer
será considerada imune e não precisará repetir a sorologia durante
positivos por até 1 ano e o de IgG por vários anos. Sabe-se que a
o pré-natal, a não ser que seja imunocomprometida.
capacidade de ligação e avidez da imunoglobulina aumenta com a
Por outro lado, quando a gestante apresenta IgM positiva
maturação da resposta imunológica, por isso avidez baixa sugere
e IgG negativa pode ser toxoplasmose aguda ou um caso de
infecção recente (menos de 4 meses) e avidez alta sugere infecção
falso positivo. Por isso, deve-se introduzir espiramicina e repetir
há mais de 4 meses.
a sorologia em 2 semanas. Se a IgM se mantiver positiva com IgG

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MED

Sorologia toxoplasmose
< 16 semanas

lgG + lgG - lgG - lgG +


lgM - lgM - lgM + lgM +

Teste de
Imune Susceptível Espiramicina Espiramicina
Repetir avidez para
sorologia IgG
em 2 semanas

Baixa Alta
lgG - lgG + <60 >60
lgM + lgM +

Infecção Infecção
aguda antiga
Falso positivo Infecção aguda

Suspender
Suspender Espiramicina < 16 semanas espiramicina
espiramicina Esquema tríplice > 16 semanas

Quando a gestante apresenta IgM e IgG positivas após 16 Entretanto, se a gestante apresenta IgM e IgG positivas
semanas, sem sorologia prévia, o teste de avidez para IgG não após 16 semanas, com sorologia no primeiro trimestre IgM
distingue de maneira segura se a infecção foi adquirida antes da e IgG negativas, considera-se infecção aguda/recente com
gestação ou durante a gestação, isto é, não dá para ter certeza se a soroconversão materna e não há necessidade de fazer o teste de
infecção é recente ou antiga. Por isso, deve-se iniciar espiramicina avidez para confirmar.
e fazer investigação fetal, independentemente do teste de avidez.

Sorologia toxoplasmose
> 16 semanas

lgG + lgG - lgG - lgG +


lgM - lgM - lgM + lgM +

Imune Susceptível Espiramicina Espiramicina Sorologia


Repetir
sorologia prévia
em 2 semanas

SIM NÃO
lgG - lgG +
lgM + lgM +

Infecção Infecção
aguda indeterminada
Falso positivo Infecção aguda

Suspender Esquema tríplice


espiramicina

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VAMOS RELEMBRAR

As imunoglobulinas, também conhecidas por anticorpos, placentária, a presença de sorologia reagente para IgM no
são proteínas produzidas pelas células do sistema imunológico recém-nascido é indicação de infecção congênita, pois essas
(plasmócitos) em resposta a um antígeno. Cada imunoglobulina imunoglobulinas foram produzidas pelo próprio sistema imune
é criada para um tipo específico de microrganismo, sendo que do concepto em contato com o antígeno.
existem cinco classes diferentes de imunoglobulinas (IgM, IgG, A IgG, por sua vez, começa a ser produzida depois da
IgE, IgA e IgD). IgM, entre 7 a 14 dias após a infecção, com pico máximo após 2
A IgM é a primeira imunoglobulina a ser formada na meses. Seus níveis declinam após 5 a 6 meses, permanecendo
presença de um novo antígeno, positivando de 5 a 14 dias com títulos baixos por toda a vida, fornecendo proteção
após uma infecção. Essa imunoglobulina é eficiente na lise permanente contra o antígeno correspondente. Essa é a única
de microrganismos. A ausência de IgM indica que não houve classe de imunoglobulina que atravessa a barreira placentária.
infecção recente, porém sua presença pode indicar infecção A propriedade de avidez da IgG refere-se à força de
recente, mas também pode estar presente em infecções tardias, ligação dos complexo antígeno-anticorpo. Sendo assim, a avidez
pois os títulos de IgM permanecem baixos por diversos meses. acentua-se com o passar do tempo, ou seja, a avidez para IgG é
Uma vez que a IgM não consegue ultrapassar a barreira diretamente proporcional ao tempo de infecção.

O teste de avidez para IgG é útil para esclarecer se uma infecção é recente ou antiga quando a sorologia para IgM e IgG são
positivas. Valores elevados de avidez de IgG indicam que a infecção ocorreu há cerca de 12 a 16 semanas, por isso, se a gestante se
encontra no primeiro trimestre, a infecção ocorreu antes do início da gestação. Por outro lado, gestantes com mais de 16 semanas
podem ter adquirido a infecção ainda no período gestacional e o feto pode ser acometido.

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CAI NA PROVA

(UFES 2023 - 4000185782) Quando a infecção por toxoplasmose é adquirida pela primeira vez durante a gravidez,
os parasitas podem ser transmitidos da mãe para o feto, resultando em toxoplasmose congênita. Uma gestante
de 14 semanas comparece à consulta trazendo resultados da primeira rotina laboratorial. Possui sorologia para
toxoplasmose IgG não reagente e IgM não reagente. Qual é a conduta mais correta a ser seguida?
A) Considerar a paciente imune e tranquilizá-la com relação à doença.
B) Solicitar teste de avidez para determinar quando houve a infecção e avaliar se há necessidade de tratamento.
C) Iniciar o tratamento com espiramicina imediatamente.
D) Considerar a paciente não imunizada e repetir a sorologia no segundo e no terceiro trimestres, além de orientar sobre a alimentação e
os riscos da infecção.

COMENTÁRIOS:

Incorreta a a alternativa A, a paciente imune tem sorologia com IgG reagente e IgM não reagente. a alternativa B, a sorologia é negativa e
não devemos solicitar avidez.Incorreta a
Incorreta a a alternativa C, a paciente é suscetível à toxoplasmose não tem infecção aguda.
conforme explicado na introdução, estamos diante de uma paciente suscetível à toxoplasmose que deve
Correta a alternativa D,
repetir a sorologia periodicamente.

(UNESP 2023 - 4000182965) Durante consulta de pré-natal na atenção primária, gestante apresenta os seguintes resultados de sorologia para
toxoplasmose:

As condutas corretas são:


A) espiramicina; encaminhar para a referência para realizar amniocentese.
B) sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico; encaminhar para a referência para realizar amniocentese.
C) espiramicina; não há necessidade de realizar a amniocentese.
D) sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico
E) não há necessidade de realizar a amniocentese.

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COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa , pois após 16 semanas de gestação, é preconizado entrar com esquema tríplice nos casos de infecção aguda.
nos casos de infecção aguda, após 16 semanas, devemos entrar com esquema tríplice e, entre 18 e 32
Correta a alternativa B,
semanas, devemos encaminhar a paciente para amniocentese.

Incorreta a a alternativa C, pois o tratamento deve ser feito com esquema tríplice.
Incorreta a a alternativa D, pois a paciente ainda está em idade gestacional para realizar amniocentese.

(UNICAMP 2022 - 4000167453 - DISCURSIVA) Mulher, 24a, G1P0A0, idade gestacional de 11 semanas e 6 dias, vem para avaliação de exames
de rotina pré-natal. Hb= 11,6g/dL, Ht= 33%, glicemia de jejum= 91mg/dL; Exame sumário de urina= normal, Urocultura= negativa, VDRL= não
reagente, HIV= não reagente, Toxoplasmose: lgG= reagente e lgM= reagente. PARA ELUCIDAÇÃO DIAGNÓSTICA, DEVE-SE SOLICITAR:

COMENTÁRIOS:

Temos uma gestante de 11 semanas e 6 dias com sorologia para toxoplasmose IgG e IgM reagente. Para elucidação diagnóstica, deve ser
solicitado o teste de avidez para IgG.

(ENARE 2022 - 4000167152) G1P0A1, idade gestacional de 9 semanas, volta à consulta de pré-natal trazendo os seguintes exames para
toxoplasmose: IgG reagente e IgM reagente. Foisolicitado o teste de avidez IgG específico, que apresentou, como resultado, alta avidez. Nesse
caso, devemos considerar

A) infecção aguda.
B) infecção materna e fetal.
C) paciente suscetível.
D) infecção adquirida há menos de 4 meses.
E) infecção adquirida há mais de 4 meses.

COMENTÁRIOS:
Incorreta a alternativa A: consideramos infecção aguda/recente, quando o teste de avidez é baixo.
Incorreta a alternativa B: para saber se há infecção fetal, é preciso fazer amniocentese e avaliar a presença de PCR para Toxoplasma gondii
no líquido amniótico.

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Incorreta a alternativa C: pacientes susceptíveis apresentam IgG e IgM negativos.


Incorreta a alternativa D: como o teste de avidez é alto, a infecção ocorreu há mais de 3 meses.
Correta a alternativa E: como a gestante apresentou teste de avidez alto, isso mostra que a infecção é antiga, isto é, foi adquirida há mais de
3 meses.

(USP-RP 2022 - 4000164268) Primigesta, 23 anos, branca, amasiada, do lar, idade gestacional: 11 semanas. Vem à consulta de retorno pré-
natal, na Unidade Básica de Saúde, para checar resultados dos exames descritos a seguir:

Hemoglobina: 12,6 g/dl;


hematócrito: 40%.

Sorologia para toxoplasmose (quimioluminescência): IgG reagente e IgM reagente.


Qual é o melhor manejo para essa gestante no pré-natal de origem?
A) Repetir sorologia para toxoplasmose.
B) Encaminhar para realização de amniocentese.
C) Realizar orientações profiláticas e repetir sorologia.
D) Iniciar espiramicina e solicitar teste de avidez.

COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A: não há necessidade de repetir sorologia para toxoplasmose, mas sim de solicitar o teste de avidez.
Incorreta a alternativa B: primeiramente, é preciso avaliar se a infecção é recente ou antiga pelo teste de avidez de IGG para toxoplasmose,
se a infecção for recente (avidez baixa), deve-se fazer amniocentese.
Incorreta a alternativa C: como a paciente já teve toxoplasmose, não adianta mais realizar as orientações profiláticas.
temos uma gestante de 11 semanas com sorologia para toxoplasmose IgG e IgM positivas. Para saber se a
Correta a alternativa D:
infecção é recente ou antiga, deve-se fazer o teste de avidez para IgG. Ao mesmo tempo, deve ser iniciado

o uso da espiramicina para evitar a transmissão vertical.

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UFPB 2021) Gestante, 22 anos, G2P1, com 10 semanas de gestação, chega para consulta de retorno de pré-natal com os seguintes resultados
sorológicos para toxoplasmose: ELISA-IgM = positivo e ELISA – IgG = positivo. Qual seria sua conduta?
A) Solicitar o teste de avidez de IgG para toxoplasmose e iniciar tratamento materno imediato com clindamicina e sulfa.
B) Solicitar o teste de avidez de IgG para toxoplasmose e iniciar espiramicina.
C) Solicitar o teste de avidez de IgG para toxoplasmose e iniciar tratamento da infecção fetal com sulfa e pirimetamina.
D) Fazer cordocentese ou amniocentese para pesquisa de DNA do Toxoplasma gondii.
E) Iniciar sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico de imediato, visto que a paciente está no primeiro trimestre.

COMENTÁRIOS

Incorreta a alternativa A: a conduta frente a um caso de IgM e IgG positivas no primeiro trimestre é solicitar teste de avidez para IgG a fim de
avaliar presença de infecção aguda. Clindamicina e sulfa não fazem parte da conduta inicial nesse caso.
a conduta diante de uma gestante no primeiro trimestre com sorologia de IgM e IgG positivas para toxoplasmose
Correta a alternativa B:
é solicitar o teste de avidez e iniciar profilaxia com espiramicina. Se o teste de avidez for baixo (<60) , trata-
se de infecção recente e deve-se manter o tratamento com espiramicina. Já a presença de avidez alta no primeiro trimestre indica infecção
antiga, por isso deve-se suspender a espiramicina e a gestante pode continuar o acompanhamento no pré-natal habitual, sem necessidade
de tratamento.

Incorreta a alternativa C: a conduta frente a um caso de IgM e IgG positivas no primeiro trimestre é solicitar teste de avidez para IgG, a fim de
avaliar presença de infecção aguda. Se o teste de avidez for baixo, trata-se de infecção recente/aguda e deve-se fazer investigação fetal pela
investigação do PCR do Toxoplasma gondii no líquido amniótico. O tratamento da infecção fetal deve ser instituído somente se a investigação
de infecção fetal vier positiva ou se não for possível fazê-la.
Incorreta a alternativa D: não há indicação de cordocentese para infecção por toxoplasmose e sim de amniocentese, mas ela deve ser
realizada somente quando há suspeita de infecção recente (teste de avidez baixo para IgG).
Incorreta a alternativa E: o tratamento com esquema tríplice deve ser feito somente quando há diagnóstico de infecção fetal.

2.8.2 CLASSIFICAÇÃO DA GESTANTE

O Ministério da Saúde, através do “Protocolo de Notificação e Investigação: Toxoplasmose Gestacional e Congênita de 2018” classifica
as gestantes em: casos suspeitos, prováveis ou confirmados.

Caso suspeito
• Gestante que apresentar IgM reagente ou indeterminado.
• História clínica compatível com toxoplasmose.
• USG obstétrica ou exames de imagem sugestivos para toxoplasmose congênita.

Caso provável
• Gestante com IgM e IgG positivas com baixa avidez ou avidez intermediária, em qualquer idade gestacional.
• Títulos ascendentes de IgG em amostras seriadas e IgM reagente.
• Sorologia após as 16 semanas com IgG maior que 300UI/dL e IgM reagente.

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Caso confirmado
• Soroconversão durante a gestação.
• Detecção de DNA do toxoplasma em amostra de líquido amniótico, tecido placentário fetal ou de órgãos fetais, no
anatomopatológico.
• Mãe de criança com toxoplasmose congênita confirmada.

Lembre-se de que toda gestante com caso suspeito deve iniciar a espiramicina o mais rápido possível, a fim de diminuir o risco
de transmissão vertical.

CAI NA PROVA

(UHG/RJ/2020 - ADAPTADA) Recém-nascido (RN) termo, com 30 horas de vida, está internado no alojamento conjunto. Filho de mãe
com IgG e IgM positivos para toxoplasmose, com teste de avidez baixa no primeiro trimestre da gestação. Na avaliação antropométrica,
paciente apresenta perímetro cefálico no percentil 4 para idade, após duas avaliações, com intervalo de 24 horas entre as medidas. Ao exame
clínico, paciente sem alterações. Trata-se de filho de mãe com toxoplasmose:

A) Diagnóstico Materno: Provável


B) Diagnóstico Materno: Confirmada
C) Diagnóstico Materno: Descartada

COMENTÁRIOS:

De acordo com o Ministério da Saúde, no caso de gestantes com IgM e IgG positivas, com baixa avidez ou avidez intermediária, em
qualquer idade gestacional, é classificada como infecção provável.

Correta a alternativa A.

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2.9 TRATAMENTO

2.9.1 TRATAMENTO DA TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO

A toxoplasmose materna aguda pode levar à transmissão tratar o feto, caso este já tenha sido contaminado.
vertical, causando toxoplasmose congênita. Por isso, o tratamento Nos casos em que há dúvida se a infecção é aguda ou antiga,
da toxoplasmose deve ser instituído se há suspeita ou confirmação como quando há primeira sorologia IgG e IgM positiva após
de infecção aguda na gestação. O tratamento precoce em até 3 16 semanas e o teste de avidez já não é mais fidedigno, deve-
semanas da infecção materna diminui os riscos de infecção fetal. se considerar a gestante como infecção recente e assim iniciar o
Portanto, a principal conduta frente a um caso de suspeita de esquema tríplice e fazer a investigação de infecção fetal.
infecção aguda é a profilaxia para toxoplasmose congênita, com a Portanto, orienta-se utilizar espiramicina até 16 semanas e a
administração materna de espiramicina na dose de 3g/dia via oral. partir de 16 semanas trocar para o esquema tríplice até realizar a
Isso é aplicado para todas as gestantes que apresentam sorologia pesquisa de infecção fetal.
IgM + e IgG – ou sorologia IgM + e IgG + antes de 16 semanas. A A pesquisa de infecção fetal é realizada por meio da
espiramicina não ultrapassa a barreira placentária, mas tem como amniocentese a partir de 18 semanas, com coleta de líquido
objetivo reduzir o risco de passagem transplacentária do parasita, amniótico e pesquisa do DNA do Toxoplasma gondii por PCR.
impedindo a infecção fetal. Caso a pesquisa venha positiva, estamos diante de um feto com
Nos casos confirmados ou prováveis de infecção aguda, isto toxoplasmose congênita ( infecção fetal) e deve-se manter o
é, se houver soroconversão, avidez para IgG baixa ou intermediária esquema tríplice até o parto. Se a pesquisa de infecção fetal vier
ou ascensão dos valores de IgG em amostra seriada, deve-se fazer negativa, trocar o esquema tríplice por espiramicina e manter até
a pesquisa de infecção fetal a partir de 18 semanas e iniciar o o parto.
esquema tríplice com pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico. Lembre-se de não iniciar o esquema tríplice no primeiro
O esquema tríplice ultrapassa a barreira placentária e é capaz de trimestre, pelo risco de teratogenicidade dessas medicações.

Espiramicina = Tratamento materno e profilaxia fetal – não ultrapassa barreira placentária.


Esquema tríplice = Tratamento fetal - ultrapassa barreira placentária.

As doses das medicações estão esquematizadas na tabela 3:

Tabela 3: MEDICAÇÕES PARA TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO


MEDICAÇÃO DOSE DIÁRIA POSOLOGIA
Espiramicina 3 gramas 2 comprimidos (500mg), via oral, 8/8h
Sulfadiazina 4 gramas 2 comprimidos (500mg), via oral, 6/6h
Pirimetamina 50 mg 2 comprimentos (25 mg), via oral, 1x ao dia
Ácido Folínico 15 mg 1 comprimido (15mg), via oral, 1x ao dia

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Muitos serviços não têm disponível a amniocentese na gestação é feito após 32 semanas, deve-se iniciar diretamente
para pesquisa de infecção fetal. Caso não seja possível realizar o esquema tríplice. A amniocentese para pesquisa de infecção
amniocentese para confirmação da infecção fetal, a gestante deve fetal não está mais indicada a partir dessa idade gestacional em
ser tratada com o esquema tríplice (sulfadiazina, pirimetamina decorrência do maior risco de rotura prematura de membranas.
e ácido folínico) a partir de 16 semanas, mantendo-se até o
Vale lembrar que a pirimetamina pode provocar supressão
final da gestação. Além disso, é indicado o acompanhamento
medular com anemia, leucopenia e trombocitopenia, por isso
ultrassonográfico desses fetos até o fim da gestação.
deve ser feita monitorização laboratorial quinzenalmente com
Nos casos em que o diagnóstico de toxoplasmose aguda hemograma completo.

Apesar de ser possível a transmissão vertical durante o parto e a amamentação, como o risco de
transmissão é muito baixo, os benefícios do parto normal e da amamentação superam esse risco, por isso não são
contraindicados nos casos de toxoplasmose aguda.

Infecção aguda ou
indeterminada

Investigação fetal Tratamento

Amniocentese
<16 semanas ≥16 semanas
≥18 semanas

PCR PCR Espiramicina Sulfadiazina


Toxoplasma - Toxoplasma + 3g/dia Pirimetamina
Ácido folínico

suspender esquema Sulfadiazina


triplice e manter Pirimetamina
espiramicina Ácido folínico
até o parto até parto

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CAI NA PROVA

(INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL - IAMSPE 2023 - 000184472) Acerca da toxoplasmose na gestação,
assinale a alternativa correta.

A) Nos casos de infecção aguda no terceiro trimestre (acima de 32 semanas), não é preconizada a administração de sulfadiazina, pirimetamina
e ácido folínico sem a confirmação pré-natal da infecção fetal.
B) A pirimetamina é agonista do ácido fólico, funcionando sinergicamente com a espiramicina no tratamento do feto contra taquizoítos de
T. gondii.
C) Durante o tratamento com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico, deve-se solicitar ultrassonografia obstétrica com Dopplervelocimetria
da artéria cerebral média, devido à possibilidade de anemia fetal.
D) Nos casos em que for confirmada a infecção fetal no primeiro trimestre, deve-se instituir imediatamente o tratamento com sulfadiazina,
pirimetamina e ácido folínico.
E) O uso de espiramicina em idade gestacional abaixo de 18 semanas deve ser evitado, devido à teratogenicidade.

COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A: após 32 semanas, não se faz mais a pesquisa de infecção fetal, mas deve-se manter a gestante com o esquema
tríplice até o fim da gestação.
Incorreta a alternativa B: a pirimetamina funciona sinergicamente com a pirimetamina. A espiramicina não ultrapassa a barreira placentária,
sendo assim não trata o feto.

o tratamento com o esquema tríplice (sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico) pode levar à anemia fetal,
Correta a alternativa C:
por isso é importante realizar Dopplervelocimetria da artéria cerebral média para avaliar a ocorrência de
anemia fetal.
Incorreta a alternativa D: o tratamento com o esquema tríplice pode ser realizado apenas após o primeiro trimestre.
Incorreta a alternativa E: a espiramicina não tem risco de teratogênese, por isso seu uso pode ser feito em qualquer idade gestacional.

(UFCSPA 2023 - 4000182732) RKC, 32 anos, primigesta, consulta com 16 semanas de gestação em uso de espiramicina 3g/dia desde as 10
semanas, quando apresentou IgG e IgM positivos para toxoplasmose. Com 12 semanas, o exame de avidez de IgG foi de 10% (avidez baixa).
Assinalar a alternativa que apresenta o manejo adequado dessa gestante:
A) Suspender a espiramicina, pois os exames indicam infecção anterior à gravidez.
B) Manter a espiramicina intercalando com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico.
C) Manter a espiramicina e indicar a realização da amniocentese com exame de reação em cadeia da polimerase (PCR) a partir de 18
semanas.
D) Trocar o tratamento para sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico.

Prof. Natália Carvalho e Prof. Helena Schetinger | Curso Extensivo | 2023 28


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COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A, a baixa avidez indica que a infecção ocorreu nas últimas 12 a 16 semanas.
Incorreta a alternativa B, a recomendação mais atual do Ministério da Saúde é a substituição por esquema tríplice após 16 semanas.
Incorreta a alternativa C, apesar de haver indicação de investigação fetal a partir de 18 semanas, o esquema deve ser substituído por
sulfadiazina+pirimetamina+ácido folínico.
pois deve ser realizada a troca por esquema tríplice a partir de 16 semanas e aguardar chegar a 18
Correta a alternativa D
semanas para fazer a investigação fetal.

(SUS SP 2022 - 4000170619) Com relação à infecção por toxoplasmose na gravidez, assinale a alternativa correta.
A) Na maior parte das vezes, a infecção aguda apresenta-se como síndrome mono-like e a infecção subclínica ocorre em apenas 10% dos
casos.
B) A presença de IgM positivo e IgG positivo com 26 semanas de gestação indica a realização de teste de avidez da IgG.
C) O risco de transmissão vertical é diretamente proporcional à idade gestacional.
D) Na presença de infecção aguda materna confirmada na gravidez, é necessário o tratamento com sulfadiazina, pirimetamina e ácido
folínico.
E) A infecção fetal pelo Toxoplasma gondii pode ser diagnosticada por ultrassonografia, pois 70% dos fetos apresentam alterações
ultrassonográficas.

COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A: na toxoplasmose a infecção subclínica ocorre em 80% das vezes.


Incorreta a alternativa B: após 16 semanas não é mais eficaz a realização do teste de avidez
para avaliar se a infecção é recente ou antiga, pois já se passaram 4 meses de gestação.

Correta a alternativa C: quanto maior a idade gestacional, maior o risco de transmissão vertical.

Incorreta a alternativa D: o tratamento com o esquema tríplice é utilizado para tratar a infecção fetal e não a infecção materna. Atualmente
trata-se empiricamente a infecção fetal a partir de 16 semanas.
Incorreta a alternativa E: na maioria das vezes não é possível diagnosticar a infecção fetal por meio da ultrassonografia, pois a maioria dos
fetos não apresenta alterações ultrassonográficas.

Prof. Natália Carvalho e Prof. Helena Schetinger | Curso Extensivo | 2023 29


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HCPA 2021) Que tratamento, dentre os abaixo, é o mais adequado para toxoplasmose congênita confirmada durante a gestação?

A) Espiramicina
B) Espiramicina e ácido fólico
C) Pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico
D) Pirimetamina, sulfadiazina e azitromicina

COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A: o uso de espiramicina tem como objetivo a profilaxia para toxoplasmose congênita, isto é, evitar a transmissão
vertical, e não serve para tratar infecção fetal. Como o enunciado já afirmou tratar-se de um caso de toxoplasmose congênita confirmada,
deve-se iniciar o tratamento para infecção fetal com o esquema tríplice e não com espiramicina, pois a transmissão vertical já ocorreu.
Incorreta a alternativa B: o uso de espiramicina tem como objetivo a profilaxia para toxoplasmose congênita e não o tratamento de infecção
fetal. O ácido fólico não é utilizado no tratamento de toxoplasmose congênita, mas sim o ácido folínico.

o tratamento da toxoplasmose congênita, tanto durante a gestação como no recém-nascido, é feito com
Correta a alternativa C:
pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico.

Incorreta a alternativa D: azitromicina não faz parte do tratamento de toxoplasmose congênita.

(HIAE 2019) Em relação à toxoplasmose adquirida durante a gestação, é CORRETO afirmar:

A) A espiramicina é capaz de tratar a infecção fetal, se iniciada no 2º trimestre.


B) A chance de transmissão vertical aumenta quanto maior a idade gestacional.
C) Após teste de IgM positivo, o tratamento com derivados da penicilina deve ser mantido até o parto.
D) A presença de IgM positiva com IgG positiva com alta avidez indica contágio recente, inferior a 4 meses.
E) Quando a pesquisa de toxoplasma por PCR no líquido amniótico for negativa, não é necessário tratamento medicamentoso.

COMENTÁRIO:

O examinador quer saber sobre o diagnóstico e conduta da toxoplasmose na gestação.


Incorreta a alternativa A: a espiramicina é utilizada para prevenir a infecção fetal em gestantes com toxoplasmose recente, não para tratar a
infecção fetal.

Correta a alternativa B: quanto maior a idade gestacional, maior a chance de infecção fetal, mas menores são as sequelas.

Incorreta a alternativa C: o tratamento de toxoplasmose não é feito com penicilina.


Incorreta a alternativa D: a presença de IgM positiva e IgG positiva com alta avidez indica infecção antiga, acima de 3 meses.
Incorreta a alternativa E: se a pesquisa de toxoplasma por PCR no líquido amniótico for negativa, deve-se manter a espiramicina até o parto.

Prof. Natália Carvalho e Prof. Helena Schetinger | Curso Extensivo | 2023 30


OBSTETRÍCIA E PEDIATRIA Infecções Congênitas Estratégia
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2.10 TOXOPLASMOSE CONGÊNITA

2.10.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Já sabemos que uma infecção na gestação pode levar a abortos ou óbitos fetais. Mas, o que acontece se a gravidez for adiante?
É importante ressaltar que a maioria das crianças é assintomática ao nascer.
As sintomáticas, geralmente, foram infectadas durante o primeiro trimestre de gravidez e podem apresentar manifestações sistêmicas,
manifestações neurológicas, perda auditiva e déficits oftalmológicos principalmente em consequência de um estado inflamatório crônico.
Durante a gestação, os principais achados ultrassonográficos são: calcificações intracranianas, ventriculomegalia, microcefalia e
hepatoesplenomegalia, ascite e restrição de crescimento.
Ao nascer, as principais características são:

Manifestações sistêmicas:
• Hepatoesplenomegalia
• Icterícia colestática
• Pericardite
• Pneumonite
• Anemia hemolítica

Manifestações neurológicas:
• Hidrocefalia Icterícia Anemia hemolítica

• Calcificações cerebrais difusas


• Convulsões
• Microcefalia

Manifestações oculares:
• Coriorretinite
• Catarata
• Microftalmia

Manifestações auditivas:
• Perda auditiva neurossensorial
Hepatoesplenomegalia Hidrocefalia

Agora, você deve estar até preocupado: preciso decorar tudo isso?
Vamos facilitar! Meu caro Estrategista, você verá que muitos desses sinais e sintomas são comuns a outras infecções
congênitas, sendo assim, os examinadores precisam de meios para diferenciá-las nas questões! Ensinarei as características-
chaves que você deve buscar para fechar o diagnóstico e marcar a alternativa sem medo de errar!

Na toxoplasmose congênita, apesar de ser muito rara, os examinadores diferenciam-na pela Tétrade de Sabin, uma associação de
sintomas que caracterizam a doença, descritas por Sabin nos anos 40: coriorretinite, calcificações cerebrais difusas, hidro ou microcefalia e
retardo mental. Você também pode achar algumas questões com nome de Tríade de Sabin, quando excluímos o retardo mental.

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CARACTERÍSTICA-CHAVE DA TOXOPLASMOSE CONGÊNITA!

TÉTRADE DE
SABIN

Agora, atente-se que Sabin não especificou a uni ou bilateralidade da coriorretinite. Já tivemos questões anuladas por esse motivo!
Vamos treinar?

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CAI NA PROVA
(FAMERP 2023) Recém-nascido a termo,.de parto vaginal com 38 semanas e Apgar 9/10, pesando 3.460g retorna ao hospital 72 horas após
a alta hospitalar apresentando crise convulsiva tonicoclônica generalizada. Realizado fenobarbital, com cessação da crise. O exame físico
evidenciou hepatoesplenomegalia, petéquias em membros inferiores e fundo de olho com presença de coriorretinite. Foi realizado ultrassom
transfontanela com imagens compatíveis com calcificação intraparenquimatosa difusa. A principal hipótese diagnóstica é:

A) Sífilis congênita
B) Rubéola congênita
C) Toxoplasmose congênita
D) Citomegalovirose congênita

COMENTÁRIOS

Repare como as manifestações-chave ajudam! Essa criança tem coriorretinite e calcificações intracranianas difusas, o
GABARITO C
diagnóstico é

de toxoplasmose congênita.
Incorreta a alternativa A: A sífilis traz como manifestações-chave as lesões cutâneas e ósseas.
Incorreta a alternativa B: Na rubéola, temos cardiopatia, catarata e surdez.
Incorreta a alternativa D: A citomegalovirose traz calcificações intracranianas periventriculares.

HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE 2021) Criança de 3 anos com deficiência mental moderada, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor,
apresenta coriorretinite bilateral no fundo de olho. A tomografia computadorizada de crânio mostra calcificações cerebrais difusas. Assinale
a hipótese diagnóstica mais provável para o caso.

A) Toxoplasmose congênita
B) Infecção por herpes vírus
C) Sífilis congênita
D) Infecção pelo HIV

GABARITO: A

Questão clássica! Observe que temos 3 componentes da toxoplasmose congênita: retardo mental, coriorretinite e calcificações cerebrais
difusas. Não tem como errar!

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RESUMINDO!

PRÉ-NATAL (fetais) PÓS-NATAL (recém-nascido e infância)

Calcificações intracranianas Calcificações intracranianas difusas


Ventriculomegalia Hidrocefalia
Microcefalia Microcefalia
Hepatoesplenomegalia Coriorretinite
Ascite Convulsões

Restrição de crescimento Alterações psicomotoras

Retardo mental

Encefalite

2.10.2 DIAGNÓSTICO DA TOXOPLASMOSE CONGÊNITA

O diagnóstico de toxoplasmose congênita pode ser feito já no pré-natal pela pesquisa do DNA do Toxoplasma gondii por PCR em
amostra de líquido amniótico, a partir de 16 semanas. O período ideal para fazer o diagnóstico fetal é entre 17 e 21 semanas, antes disso, há
um risco alto de perda fetal pela amniocentese.

Em 2022, o Ministério da Saúde introduziu o teste para toxoplasmose congênita na triagem neonatal
biológica, o teste do pezinho. Essa é uma mudança recente e com grandes chances de ser cobrada em prova.

SOROLOGIA bom marcador para o diagnóstico, entretanto, caso positivo, deve


Os anticorpos IgM e IgA antitoxoplasma não atravessam ser acompanhado nos próximos meses. A tendência em crianças
a barreira placentária, logo, a presença deles no neonato ou em não infectadas é a negativação até os 12 meses de idade. A criança
bebês menores de 6 meses confirma a infecção congênita. Mas, começa a produzir seu próprio IgG entre 3 e 6 meses, e a presença
atenção, a ausência deles não descarta a possibilidade de infecção, dele após os 12 meses é considerada como padrão-ouro para o
podendo tratar-se de um falso-negativo. diagnóstico de toxoplasmose congênita.
Já o IgG atravessa a barreira, então sua presença não é um

ANTICORPOS ANTI-TOXOPLASMA
IgM e IgA – confirmam a infecção no neonato.
IgG – confirma apenas se positivo após os 12 meses de idade.

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CAI NA PROVA

(FAMERP 2021) Entre as afirmações abaixo, selecione aquela que NÃO é correta em relação aos anticorpos IgG antitoxoplasma gondii na
criança com suspeita de toxoplasmose congênita.

A) A ausência de IgM, mesmo na presença de altos títulos de IgG ao nascimento, exclui o diagnóstico de toxoplasmose congênita.
B) Embora os anticorpos IgG maternos transferidos passivamente para o feto tenham meia-vida de aproximadamente um mês, esses podem
ser detectados na criança por diversos meses, geralmente desaparecendo completamente com 1 ano de idade.
C) A produção dos anticorpos IgG na criança infectada e não tratada geralmente é detectável em torno de três meses após o nascimento.
Dessa maneira, o declínio dos títulos, observado do nascimento até esse período, não permite afirmar com certeza que a criança não
seja infectada.
D) Na criança tratada, a detecção dos anticorpos IgG naturalmente produzidos pode ser verificada somente após seis meses, sendo
recomendada sua monitorização até pelo menos 1 ano de idade.

COMENTÁRIOS

O examinador pediu a incorreta, então vamos lá.

Incorreta a alternativa A pois a ausência do IgM e do IgA não exclui o diagnóstico.

Correta a alternativa B, pois a presença do IgG após os 12 meses de idade confirma o diagnóstico congênito e descarta que esse IgG seja
materno.
Correta a alternativa C. Ao nascimento, mesmo na criança infectada, temos a presença do IgG materno, que tende a declinar nos primeiros
meses. Caso a criança seja infectada, ela irá produzir seus próprios anticorpos IgG a partir dos 3 meses. Então, uma queda de IgG nesse
período não necessariamente exclui a doença.
Correta a alternativa D. A criança tratada tende a fazer anticorpos IgG mais tardiamente. A tendência é que eles vão declinando ao longo do
tempo.

Outro método diagnóstico é a busca pelo DNA do parasita no sangue, líquor ou urina através do método de PCR, apesar de apresentar
sensibilidade baixa, é recomendada em todas as crianças com dúvida diagnóstica e que não puderam ser diagnosticadas através da sorologia.
Por fim, temos os exames complementares. São eles:
• Coleta de líquor: o líquor pode apresentar anticorpos IgM positivos e hiperproteinorraquia (Proteínas maiores que 1 grama/dL).
• Hemograma e bilirrubinas: para avaliar anemia e comprometimento hepático.
• Estudos de imagem cerebral: tomografia ou ressonância magnética do crânio podem mostrar calcificações difusas, hidrocefalia,
microcefalia. A ultrassonografia transfontanela é um método mais simples, porém com menor sensibilidade diagnóstica.
• Exame de fundo de olho: deve ser realizado por oftalmologista a cada 3 meses, até os 18 meses de idade, e repetido a cada 6
a 12 meses, até 18 anos de idade.
• Avaliação auditiva. Como triagem, através do teste da orelhinha, e acompanhamento, após o diagnóstico.

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2.10.3 CONDUTA

Apesar da MAIORIA DAS QUESTÕES COBRAR APENAS OS MEDICAMENTOS UTILIZADOS PARA TRATAMENTO DA TOXOPLASMOSE
CONGÊNITA, é importante saber que na literatura, temos mais de uma conduta possível frente a um caso suspeito ou confirmado. Vamos focar
nas duas principais: Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatria.
O Ministério da Saúde considera como toxoplasmose congênita comprovada:
• Crianças com IgM Antitoxoplasma positiva entre dois dias e seis meses de idade.
• Crianças que, durante o acompanhamento, apresentam persistência de positividade de IgG após 12 meses de vida,
independentemente da presença de sinais ou sintomas da doença.
• Crianças com sinais e/ou sintomas sugestivos de toxoplasmose congênita, filhas de mães com IgG positiva para toxoplasmose,
após exclusão de outras possíveis etiologias (sífilis, citomegalovirose, rubéola).
• Crianças cujas mães apresentaram PCR positiva para toxoplasmose no líquido amniótico.

O tratamento neonatal deve ser realizado em todas as crianças comprovadamente infectadas, independentemente da presença de
sinais e sintomas clínicos e iniciá-lo mais precoce possível para diminuir a chance de sequelas.
O esquema é tríplice com Sulfadiazina, Pirimetamina e Ácido Folínico e tem DURAÇÃO DE UM ANO.
A SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA REFERE QUE A CONDUTA depende da confirmação de caso de infecção materna na
gestação, segundo as definições de caso Ministério da Saúde vistos no tópico 3.8.2
Frente a um caso assintomático, porém, com infecção materna confirmada, seguimos o fluxo abaixo.

RN assintomático

Realizar:
Anatomopatológico da placenta, Toxoplasmose IgM
e IGM do binômio, US transfontanela, Fundo de olho,
Hemograma.

Exames alterados Exames normais

Criança infectada. Criança não infectada.


Realizar: Estudo do líquor, função Realizar seguimento
hepática e renal, audiometria e TC de crânio. ambulatorial.

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O esquema tríplice é composto de sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico e tem duração de um ano.
• Sulfadiazina 100mg/kg/dia por via oral, a cada 12 horas.
• Pirimetamina 2mg/kg/dia por via oral, a cada 12 horas, por dois dias e, posteriormente, 1mg/kg/dia por via oral, em dose única
diária.
• Ácido folínico 5 a 10mg por via oral, 3 vezes por semana. O ácido folínico é indicado para combater a ação antifolínica da
pirimetamina. ATENÇÃO! Não confundir com ácido fólico!
• Prednisona 1mg/kg/dia de 12 em 12 horas, se houver a presença de hiperproteinorraquia ou coriorretinite, para diminuir a
possibilidade de sequelas da inflamação crônica.

CAI NA PROVA

(UNESP 2023) RN com 39 semanas de idade gestacional, nasceu em boas condições e está em alojamento conjunto e aleitamento exclusivo.
AP PN 2450 g, mãe IgG positiva, com índice de avidez baixo e IgM positiva para toxoplasmose na 20ª semana de gestação, tratada com
Espiramicina por 1 mês, sem seguimento de pré-natal após. Exame físico: BEG, icterícia leve na face, mucosas levemente descoradas.
Fígado a 3,0 cm do RCD, baço a 2,0 cm do RCE, perímetro cefálico 40 cm, perímetro torácico 35 cm e perímetro abdominal 38 cm. Exames
complementares: toxoplasmose IgG reagente 1: 4.096, IgM não reagente, Hb 12 g/dL, Ht 36%, Leucograma normal, BI 4,0 mg/dL; BD 1,5 mg/
dL. Liquor normal, fundoscopia direta com sinais de coriorretinite, ultrassonografia de crânio com calcificações disseminadas. A conduta para
o RN é

A) expectante e, se IgG se mantiver elevada e IgM positiva após 3 meses de seguimento, iniciar o tratamento com espiramicina, sulfadiazina
e pirimetamina por 12 meses, suplementação de ácido folínico e corticosteroide.
B) tratamento com espiramicina e suplementação de ácido folínico por 6 meses.
C) tratamento com sulfadiazina e pirimetamina por 12 meses, suplementação de ácido folínico e corticosteroide.
D) tratamento com sulfadiazina e pirimetamina por 6 a 12 meses e suplementação de ácido fólico.

COMENTÁRIOS

Estrategista, perceba que o RN está sintomático, portanto, nos dois protocolos, há indicação de tratamento medicamentoso.
GABARITO: C
Ele deverá ser feito com o esquema tríplice: sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico. Como há coriorretinite, devemos
utilizar também corticoterapia.

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(UEPA 2020) Sobre a toxoplasmose congênita, é correto afirmar que:

I. Recém nascidos de gestantes com diagnóstico confirmado ou suspeito de infecção aguda por toxoplasmose, devem ser avaliados ainda na
maternidade para se diagnosticar infecção congênita e iniciar tratamento.
II. O diagnóstico sorológico no recém-nascido é particularmente difícil devido a alta concentração de anticorpos IgG maternos que atravessam
a barreira transplacentária e atingem a corrente sanguínea do recém-nascido.
III. A presença de anticorpos IgM ou IgA no sangue do recém-nascido revela infecção congênita, pois essas duas classes de imunoglobulinas
não atravessam a barreira transplacentária, embora a ausência de IgM ou IgA não exclua a infecção na criança.
IV. Fundo de olho, tomografia de crânio, análise de LCR, fazem parte da investigação diagnóstica.
V. O tratamento da criança com toxoplasmose suspeita ou documentada deve ser feito desde o nascimento utilizando o esquema tríplice.

A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:

A) I, II, III, IV e V
B) I, III e V
C) II e IV
D) I e V
E) IV e V

COMENTÁRIO

Vamos analisar as afirmativas:


I - Todo filho de mãe com toxoplasmose suspeita, ou confirmada, ou que apresente sinais característicos da doença, deve ser avaliado ainda
na maternidade e o tratamento iniciado o mais precocemente possível, a fim de diminuir a chance de sequelas. Correta.
II- O IgG materno atravessa a barreira placentária e está presente no sangue do RN, mesmo em casos de infecção pregressa ou imunidade
maternas, portanto esse não é um bom marcador de infecção congênita. Correta.
III- Lembre-se: IgM = Materna. O achado dessas imunoglobulinas confirma o diagnóstico de infecção congênita, porém a ausência não o
exclui, visto que pode se tratar de um falso-negativo. Correta.
IV- São essenciais para o diagnóstico: hemograma, função hepática, bilirrubinas, líquor, neuroimagem e fundo de olho. Correta.
V- O tratamento é baseado no esquema tríplice: Sulfadiazina + Pirimetamina + Ácido folínico. Caso a criança apresente alterações liquóricas
ou oculares, associa-se corticosteroides para diminuir a progressão da doença. Correta.

Estão corretas I, II, III, IV e V.

Correta a alternativa A.

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2.11 RESUMO

• A toxoplasmose é uma doença causada pelo Toxoplasma gondii, protozoário intracelular obrigatório.
• A transmissão vertical ocorre principalmente por via transplacentária, mas também pode ocorrer durante o parto e a
amamentação.
• A prevenção primária da toxoplasmose é feita com medidas de higiene básicas e evitando o consumo de alimentos crus ou
malpassados.
• Os principais achados ultrassonográficos da toxoplasmose congênita são: calcificações intracranianas, ventriculomegalia,
microcefalia, hepatoesplenomegalia, ascite e restrição de crescimento
• O rastreamento da toxoplasmose deve ser feito por meio da solicitação de sorologia (IgG e IgM) para todas as gestantes.

Sorologia toxoplasmose
< 16 semanas

lgG + lgG - lgG - lgG +


lgM - lgM - lgM + lgM +

Teste de
Imune Susceptível Espiramicina Espiramicina
Repetir avidez para
sorologia IgG
em 2 semanas

Baixa Alta
lgG - lgG + <60 >60
lgM + lgM +

Infecção Infecção
aguda antiga
Falso positivo Infecção aguda

Suspender
Suspender Espiramicina < 16 semanas espiramicina
espiramicina Esquema tríplice > 16 semanas

• Quando a gestante apresenta IgM e IgG positivas após 16 semanas, sem sorologia prévia, deve-se iniciar espiramicina e fazer
investigação fetal, independente do teste de avidez. Se sorologia no primeiro trimestre IgM e IgG negativas, trata-se de infecção
aguda/recente com soroconversão materna.
• O diagnóstico de toxoplasmose congênita é feito pela pesquisa do DNA do Toxoplasma gondii por PCR em líquido amniótico, por
meio da amniocentese, a partir de 18 semanas em gestantes com suspeita de toxoplasmose aguda.
• Gestante com infecção recente deve receber profilaxia para toxoplasmose congênita com a administração materna de
espiramicina na dose de 3g/dia via oral e a pesquisa de infecção fetal. Após 16 semanas, pode-se substituir a espiramicina pelo
esquema tríplice, até fazer a pesquisa de infecção fetal.

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• Se a infecção fetal for confirmada, ou se não for possível fazer a investigação fetal, manter o tratamento com sulfadiazina,
pirimetamina e ácido folínico a partir de até o fim da gestação. Não é necessário intercalar com espiramicina.

Infecção aguda ou
indeterminada

Investigação fetal Tratamento

Amniocentese
<16 semanas ≥16 semanas
≥18 semanas

PCR PCR Espiramicina Sulfadiazina


Toxoplasma - Toxoplasma + 3g/dia Pirimetamina
Ácido folínico

suspender esquema Sulfadiazina


triplice e manter Pirimetamina
espiramicina Ácido folínico
até o parto até parto

• A maioria dos RNs é assintomática, a característica chave dos sintomáticos é a tétrade de Sabin: coriorretinite, calcificações
intracranianas difusas, hidro ou microcefalia, retardo mental.
• O diagnóstico pós natal deve ser baseado na história materna, sorologia (IgM, IgA ou IgG após 12 meses), exames complementares
e avaliação especializada.
• O tratamento para o recém-nascido é com esquema tríplice: sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico. Associar corticoide se
hiperproteinorraquia ou coriorretinite. Manter por um ano.

CAPÍTULO

3.0 CITOMEGALOVÍRUS

3.1 INTRODUÇÃO

A infecção pelo citomegalovírus (CMV) tem grande importância na Obstetrícia devido ao risco de transmissão para o feto. A infecção
congênita por CMV leva a efeitos deletérios para o concepto, principalmente no sistema nervoso central, e é a causa mais comum de infecção
congênita viral no mundo.

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Nas provas de Residência Médica, esse tema é menos abordado pelas bancas. Em um levantamento feito pelas equipes de Obstetrícia
e Pediatria do Estratégia MED, os principais tópicos abordados sobre esse tema foram: manifestações congênitas e diagnóstico. Então,
vamos lá.

3.2 ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO

O citomegalovírus (CMV) humano é um vírus DNA da família socioeconômico e etnia.


herpesviridae e tem no ser humano seu único hospedeiro. Esse A infecção por citomegalovírus (CMV) em pacientes
vírus apresenta capacidade de latência, isto é, não é eliminado imunocompetentes é, na maioria das vezes, assintomática ou
pelo organismo, por isso pode reativar-se em casos de modificação apresenta-se como um quadro de mononucleose-símile, com
da resposta imunológica, como na gestação, no uso de medicação febre, astenia mialgia e linfadenopatia cervical.
imunossupressora e em pacientes com HIV. Além disso, pode A transmissão materna ocorre pelo contato interpessoal com
ocorrer reinfecção por novas cepas virais. fluidos corporais infectados, como saliva, sangue, urina e secreções
Não há vacina disponível. genitais. Já a transmissão vertical ocorre, principalmente, por
Grande parte da população apresenta soroconversão para via transplacentária, mas pode ser transmitida durante o parto,
infecção por citomegalovírus, chegando em 40 a 100% da população se houver contato com secreção contaminada, e durante a
adulta, com variação em decorrência da região geográfica, status amamentação, pois o CMV é excretado pelo leite materno.

Apesar de ser possível a transmissão vertical durante o parto e a amamentação, como o risco de transmissão
é muito baixo, os benefícios do parto normal e da amamentação superam esse risco, por isso não são contraindicados
nos casos de citomegalovirose aguda.

Sabe-se que a primoinfecção materna durante a gestação aumenta o risco de transmissão vertical, que pode alcançar até 40% e levar
a grave comprometimento fetal. Além disso, mais uma vez, quanto maior for a idade gestacional, maior é o risco de transmissão vertical, e o
risco de acometimento fetal é inversamente proporcional à idade gestacional.
Por outro lado, a infecção materna recorrente tem efeitos menos devastadores para os fetos e, nesses casos, a maioria encontra-se
assintomático no momento do nascimento.

3.3 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

A infecção por citomegalovírus (CMV) em pacientes é recomendado pelo Ministério da Saúde como triagem de rotina,
imunocompetentes é, na maioria das vezes, assintomática ou pois a imunidade não protege o feto de reinfecção ou reativação
apresenta-se como um quadro de mononucleose-símile, com e não há tratamento efetivo durante a gestação. Sendo assim, os
febre, astenia mialgia e linfadenopatia cervical. testes sorológicos para CMV são preconizados na gestação caso
Por isso,o diagnóstico da infecção materna por CMV é feito haja alguma alteração ultrassonográfica sugestiva de infecção
pela sorologia com a pesquisa de anticorpos específicos IgG e IgM. congênita.
Porém, o rastreamento sorológico na gestação é controverso e não

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Se a gestante apresentar sorologia IgG e IgM negativas, elas são susceptíveis à infecção primária e devem tomar um cuidado maior com
medidas de higiene.
As principais medidas de higiene são:
• Assumir que crianças < 3 anos tenham citomegalovírus na urina e na saliva.
• Lavar as mãos com sabão e água quente após qualquer cuidado com a criança.
• Não compartilhar talheres, copos, toalhas, lençóis e travesseiros.
• Evitar dormir na mesma cama.
• Lavar as roupas separadamente.
• Uso de máscara em caso de infecção confirmada.
Agora, gestantes com sorologia IgG positiva e IgM negativa não apresentam imunidade permanente, pois pode haver reinfecção ou
reativação na gestação.
Se sorologia é IgM positiva e IgG negativa, deve-se repetir sorologia em 1-2 semanas. Caso haja soroconversão, com positivação de IgG,
trata-se de infecção recente.
Quando a sorologia é IgG e IgM positiva e não há sorologia prévia negativa para comprovar a soroconversão, deve-se solicitar o teste
de avidez para IgG, a fim de avaliar se a infecção é recente (menos de 4 meses se a avidez for baixa <30%) ou antiga (mais de 6 meses se a
avidez for alta >60%).

Diante de soroconversão materna, na suspeita de infecção de transmissão. O tratamento com valaciclovir tem se mostrado
recente (avidez baixa) ou na suspeita ultrassonográfica de infecção promissor, embora de custo elevado e ainda não disponível na rede
fetal, o diagnóstico deve ser feito pela pesquisa do DNA por PCR do Sistema Único de Saúde (SUS). Tem sido recomendado na dose
em amostra de líquido amniótico colhido na amniocentese, após de 2 g via oral de 6 em 6 horas, a partir da confirmação diagnóstica
18 semanas de gestação. Caso seja confirmada infecção fetal, deve- até 21 semanas de gestação, além de controle a cada 4 semanas
se fazer acompanhamento ultrassonográfico seriado. de hemograma, creatinina, ureia e enzimas hepáticas. Quanto às
Verifica-se que, até o momento, não existe tratamento gestantes com soroconversão no segundo ou no terceiro trimestre,
eficiente para infecção fetal por CMV durante a gestação. O uso da o tratamento não é recomendado.
globulina hiperimune não demonstrou eficácia na redução da taxa

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CAI NA PROVA

(SCMSJC 2022 - 4000193750) Para que gestantes é necessário fornecer orientações sobre prevenção de( infecção congênita pelo
citomegalovírus?

A) Para todas, independentemente do estado sorológico.


B) Somente para as que apresentem IgG negativa.
C) Somente para aquelas com baixa avidez de IgM.
D) Somente para as que apresentem tanto IgG quanto IgM negativas.

COMENTÁRIOS:

Como a infecção por citomegalovírus não gera imunidade permanente, todas as gestantes necessitam receber orientações sobre a prevenção
durante a gestação. Portanto

está correta a alternativa A.

(SES DF 2020 - 4000024010) Uma criança de três meses de idade, avaliada em consulta de puericultura, é classificada, pelas curvas de
crescimento da Organização Mundial de Saúde como portadora de muito baixo peso e com perímetro cefálico abaixo do esperado para
a idade. É internada para investigação do quadro, sendo solicitada tomografia de crânio, que demonstrou calcificações intracranianas
periventriculares. Acerca desse caso clínico e considerando os conhecimentos médicos correlatos, julgue o item a seguir.
O rastreio dessa infecção durante a gestação é preconizado pelas diretrizes do Ministério da Saúde.

A) Certo.
B) Errado.

COMENTÁRIOS:

O rastreamento sorológico para CMV na gestação é controverso e não é recomendado pelo Ministério da Saúde como triagem de rotina,
pois a imunidade não protege o feto de reinfecção ou reativação e não há tratamento efetivo durante a gestação. Sendo assim, os testes
sorológicos para CMV são preconizados na gestação caso haja alguma alteração ultrassonográfica sugestiva de infecção congênita. Portanto,
a afirmativa está errada.

Gabarito: B

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(ISCMSC 2019) Gestante de 12 semanas comparece a consulta de pré-natal com exame de sorologia para Citomegalovírus IgM + e IgG +. A
conduta apropriada nesse momento é:

A) Solicitar teste de Avidez de IgG para citomegalovírus.

B) Iniciar tratamento imediato.

C) Repetir a sorologia imediatamente.

D) Indicar aborto terapêutico.

COMENTÁRIO:

a conduta frente a um caso de sorologia para CMV positiva para IgG e IgM, sem exames prévios, é fazer teste
Correta a alternativa A:
de avidez para IgG, a fim de identificar se a infecção é recente ou antiga.

Incorreta a alternativa B: não há tratamento para infecção por CMV na gestação que seja eficaz.
Incorreta a alternativa C: não há indicação de repetir a sorologia, mas sim de solicitar o teste de avidez.
Incorreta a alternativa D: não é permitido o aborto terapêutico por infecções congênitas no Brasil.

3.4 CITOMEGALOVIROSE CONGÊNITA

3.4.1 MANIFESTAÇÕES CONGÊNITAS

Os achados ultrassonográficos da infecção congênita por citomegalovírus são muito confundidos com os da toxoplasmose, não havendo
sinal específico que os diferencie nesse exame. São eles:
Restrição do crescimento, microcefalia, ventriculomegalia, calcificações intracranianas, hepatoesplenomegalia, ascite, alças intestinais
hiperecogênicas, cardiomegalia, placentomegalia, hidropisia fetal e alteração do líquido amniótico.
No pós-natal, a infecção congênita por citomegalovírus é assintomática em 90% dos casos.
Os sintomáticos geralmente foram infectados no primeiro trimestre de gestação. Eles podem apresentar manifestações sistêmicas,
neurológicas, oftalmológicas e auditivas. São elas:

MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS
• Hepatoesplenomegalia;
• Icterícia colestática com hiperbilirrubinemia;
• Petéquias;
• Anemia hemolítica;
• Trombocitopenia;
• Pneumonite.

Petéquias

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MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS
• Calcificações intracranianas periventriculares;
• Lisencefalia;
• Hipoplasia cerebral;
• Microcefalia.

MANIFESTAÇÕES AUDITIVAS
• Perda auditiva neurossensorial uni ou bilateral.

Os sinais mais prevalentes ao nascer são icterícia colestática, petéquias e hepatoesplenomegalia. A surdez neurossensorial é a principal
sequela da doença. Aliás, o citomegalovírus é a causa infecciosa mais comum de surdez na infância.

Mais uma vez, como esses sinais são comuns a outras doenças congênitas, os examinadores geralmente
diferenciam-na através da presença de calcificações intracranianas periventriculares associadas à perda auditiva e
petéquias.
Atenção, não confunda com a toxoplasmose congênita, que traz calcificações intracranianas difusas!

CARACTERÍSTICA-CHAVE DA CMV CONGÊNITA!

CITOMEGALOVIROSE CONGÊNITA
Calcificações intracranianas periventriculares.

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TABELA 4: MANIFESTAÇÕES DA INFECÇÃO CONGÊNITA POR CITOMEGALOVÍRUS

PRÉ-NATAL (fetais) PÓS-NATAL (recém-nascidos e infância)

Restrição de crescimento Calcificações intracranianas periventriculares

Calcificações intracranianas Trombocitopenia, anemia

Ventriculomegalia Icterícia e petéquias

Microcefalia Coriorretinite

Hepatoesplenomegalia Hepatoesplenomegalia

Ascite Perda auditiva neurossensorial

Hidropisia fetal não imune Déficit intelectual

Alças intestinais hiperecogênicas Deficiência visual

Convulsões

CAI NA PROVA

(HIAE 2023) Primigesta, 15 anos, com pré-natal tardio, dá à luz um recém-nascido com 38 semanas e peso de 1.894 g.
Ao exame na sala de parto, observou-se hepatoesplenomegalia, petéquias e púrpuras por todo corpo. A criança evoluiu
com icterícia precoce e o ultrassom transfontanela indicou calcificações periventriculares. Entre as seguintes hipóteses
diagnósticas, a mais provável para este recém-nascido é

A) infecção pelo vírus Zika.


B) infecção pelo citomegalovírus.
C) toxoplasmose congênita.
D) sífilis congênita.

COMENTÁRIOS

Temos, aqui, um neonato com baixo peso, hepatoesplenomegalia, petéquias, icterícia. Até então, nenhuma delas define
GABARITO B
diagnóstico, mas, as calcificações periventriculares levam-nos até a infecção pelo citomegalovírus.
Alternativa A incorreta: o Zika traz microcefalia, pé torto congênito, artrogripose.
Incorreta a alternativa C: a toxoplasmose traz a tétrade de sabin.
Incorreta a alternativa D: na sífilis congênita, predominam as lesões cutâneas e ósseas.

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(UERJ 2022) Recém-nascido de mãe sem acompanhamento pré-natal apresenta hepatoesplenomegalia, erupções cutâneas petequiais, icterícia
e microcefalia ao nascimento. Encaminhado à UTI neonatal devido à gravidade, apresenta, aos exames laboratoriais, hiperbilirrubinemia
direta, elevação de transaminases hepáticas e trombocitopenia. A ultrassonografia transfontanela evidencia calcificações periventriculares. A
sequela de longo prazo mais comum em relação a essa doença é:

A) cegueira.
B) convulsão.
C) perda auditiva.
D) retardo mental.

COMENTÁRIOS

Mais uma vez, as calcificações periventriculares nos levam à CMV e precisamos lembrar que a principal sequela dessa
GABARITO C
doença é a surdez neurossensorial bilateral.

(SES/DF/2020) Uma criança de três meses de idade, avaliada em consulta de puericultura, é classificada, pelas curvas de crescimento da
Organização Mundial de Saúde, como portadora de muito baixo peso e com perímetro cefálico abaixo do esperado para a idade. É internada
para investigação do quadro, sendo solicitada tomografia de crânio que demonstrou calcificações intracranianas periventriculares. Acerca
desse caso clínico e considerando os conhecimentos médicos correlatos, julgue o item a seguir. O diagnóstico provável é o de toxoplasmose
congênita.

A) CERTO
B) ERRADO

COMENTÁRIO:

Errado.
As duas grandes infecções congênitas que causam calcificações cerebrais são a toxoplasmose e a citomegalovirose. Porém, as
calcificações da toxoplasmose são difusas e a do citomegalovírus são periventriculares.

Correta a alternativa B.

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3.4.2 DIAGNÓSTICO PÓS-NATAL

Aqui, a sorologia não é um bom método, mas sim a pesquisa do vírus em líquidos corporais.
Os pacientes infectados secretam os vírus em líquidos corporais por anos após a infecção. Então, ele pode ser identificado pelo
método de PCR ou pelo isolamento viral na urina, saliva, sangue, líquor e biópsias.

A presença do citomegalovírus na urina (principal) ou na saliva do neonato até as primeiras três semanas de vida fecha o diagnóstico
de infecção congênita. A detecção após esse período indica infecção perinatal ou pós-natal.

CAI NA PROVA

(USP RP/SP/2020) No exame físico inicial de um recém-nascido de termo, masculino, pequeno para idade gestacional, foi notada microcefalia
(PC: 31 cm) e presença de petéquias em face. Frente aos achados, foi realizada uma ultrassonografia transfontanela, com achado de calcificações
periventriculares, sem outras alterações. Também colhido hemograma, com Hb 16,2, Ht 41%, leucócitos: 11.300, plaquetas: 75.000. Triagem
auditiva neonatal: falhou bilateralmente. Nasceu de parto cesárea por iteratividade, filho de mãe de 32 anos, tercigesta, sem comorbidades
e com pré-natal inadequado, sem coleta de exames. Os seguintes exames maternos foram colhidos nesta internação: HIV: negativo; VDRL:
negativo; Hepatite C: negativo; Hepatite B: Anti-HBs positivo, anti-HBc negativo, Hbs Ag negativo; Toxoplasmose: lgM negativo / lgG negativo;
Rubéola: lgM negativo / IgG positivo; Citomegalovírus: IgM negativo / IgG positivo; Frente a principal hipótese diagnóstica, a conduta indicada
é:

A) Coleta de teste do pezinho ampliado e cariótipo.


B) Pesquisa de citomegalovírus por PCR na urina.
C) Aplicar vacina e imunoglobulina para hepatite B.
D) Pesquisar consumo excessivo de álcool na gestação.

COMENTÁRIO

Vamos buscar as características-chaves: calcificações periventriculares e petéquias! Então, já sabemos que o diagnóstico é de
citomegalovirose congênita, mesmo com a sorologia materna mostrando IgG positivo, sabemos que essa imunidade não é permanente. O
diagnóstico pós-natal é feito com a pesquisa do vírus em líquidos corporais.

Correta a alternativa B.

Incorreta a alternativa A: O teste do pezinho tria hemoglobinopatias, hiperplasia adrenal congênita, hipotireoidismo congênito, fibrose
cística, fenilcetonúria, toxoplasmose congênita e deficiência de biotinidase. O cariótipo serve na suspeita de síndromes genéticas.
Incorreta a alternativa C: O anti-HbS positivo indica imunidade para a doença.
Incorreta a alternativa D: A síndrome alcoólica fetal culmina em um neonato com fácies típicas, restrição de crescimento, alterações
neurológicas.

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A avaliação complementar, baseada na busca dos sinais, deve ser realizada com:
• Hemograma completo, que pode trazer anemia e trombocitopenia.
• Testes de função hepática para pesquisa de colestase neonatal.
• Exames de imagem neurológica, como ultrassonografia transfontanela ou tomografia de crânio.
• Coleta de líquor para verificar a presença do vírus.
• Avaliação oftalmológica com fundo de olho.
• Triagem auditiva neonatal.

(SCMSP 2021) Um recém-nascido de 37 semanas apresenta microcefalia, tomografia de crânio com calcificações periventriculares, fundo de
olho com coriorretinite bilateral e avaliação auditiva com comprometimento à esquerda.
Com base nesse caso hipotético, assinale a alternativa correta.

A) A maioria dos casos de transmissão vertical ocorre no momento do parto.


B) As lesões ósseas encontradas geralmente são bilaterais e simétricas, incidindo mais no rádio e na ulna.
C) A detecção do agente na urina do recém-nascido nas primeiras duas semanas de vida confirma o diagnóstico de infecção congênita.
D) Como há o acometimento do sistema nervoso central, o tratamento deve ser feito por um ano.
E) A decisão do tratamento depende da carga viral.

COMENTÁRIOS

O melhor exame para diagnóstico da citomegalovirose congênita é a pesquisa do vírus em líquidos corporais,
GABARITO: C
especialmente na urina. Sua presença até a terceira semana de vida confirma o diagnóstico.

Incorreta a alternativa A.: A maioria dos casos de transmissão vertical ocorre intraútero.
Incorreta a .Incorreta a alternativa B: As lesões ósseas não são características da doença.
Incorreta a alternativa D. O tratamento é controverso, o MS diz para tratar por 6 semanas e a SBP por 6 meses.
Incorreta a alternativa E. A decisão do tratamento depende da sintomatologia.

3.3.3 TRATAMENTO

Há uma controvérsia na literatura quanto ao tratamento. para doença moderada a grave (multissistêmica e/ou alterações
O Ministério da Saúde indica o tratamento com ganciclovir neurológicas) e refere que não há benefícios nos assintomáticos,
no RN com infecção confirmada, sintomáticos e com evidências de nem na doença leve (uma a duas manifestações isoladas e
envolvimento do SNC, alteração auditiva e/ou coriorretinite. transitórias) nem na perda auditiva isolada.
A Sociedade Brasileira de Pediatria indica o tratamento

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TRATAMENTO

Ganciclovir 8 a 12mg/kg/dia, de 12 em 12 horas, endovenoso, por


MINISTÉRIO DA SAÚDE
6 semanas.

Valganciclovir 15mg/kg dose, de 12 em 12 horas, via oral, por 6


meses.
SBP OU
Ganciclovir 10mg/kg/dia, endovenoso, por 14 a 21 dias, seguido
pelo Valganciclovir até completar 6 meses.

CAI NA PROVA

(USP 2023) Recém-nascido de parto normal, a termo, após uma gestação sem intercorrências. Mãe de 25 anos, G2, saudável, com
acompanhamento pré-natal adequado. As sorologias maternas foram negativas com 10 semanas de gestação e no momento do parto (HIV,
VDRL, toxoplasmose IgG/IgM, hepatites B e C). Ao nascimento, foi observado que o recém-nascido apresentava peso no percentil 4 para a idade
gestacional, petéquias em face e tronco, hepatoesplenomegalia e microcefalia. Exames realizados: Hemograma com Hb/Ht normais, série
branca normal, plaquetas 87.000/µL; TGO 92 U/L (VR até 32 U/L); TGP normal; fundoscopia ocular: sem alterações; ultrassom transfontanelar:
presença de calcificações periventriculares; triagem auditiva: ausência de respostas bilateralmente; análise de líquido cefalorraquidiano
normal. Qual é o tratamento indicado para a causa mais provável deste quadro?

A) Aciclovir.
B) Penicilina cristalina.
C) Ganciclovir.
D) Sulfadiazina e pirimetamina.

COMENTÁRIOS

Estrategista, vamos focar no que é importante? Esse bebê apresenta várias manifestações, mas só uma define o
GABARITO C
diagnóstico para nós: a presença dasIncorreta a calcificações intracranianas periventriculares. Isso é CMV eo tratamento
dos sintomáticos é com ganciclovir ou valganciclovir.

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3.5 RESUMINDO

• Citomegalovírus (CMV) humano é um vírus DNA da família herpesviridae.

• A transmissão vertical ocorre principalmente por via transplacentária.

• O principais achados ultrassonográficos são: restrição do crescimento, microcefalia, ventriculomegalia, calcificações intracranianas,
hepatoesplenomegalia, ascite, alças intestinais hiperecogênicas, cardiomegalia, placentomegalia, hidropisia fetal e alteração do
líquido amniótico.

• O diagnóstico da infecção materna é feito pela sorologia com a pesquisa de anticorpos específicos IgG e IgM.

• O rastreamento sorológico na gestação é controverso e não é recomendado pelo Ministério da Saúde como triagem de rotina.

• Sorologia IgG positiva e IgM negativa não indicam imunidade, pois pode haver reinfecção ou reativação na gestação.

• Se a sorologia é IgG e IgM positiva, em gestante previamente negativa, deve-se solicitar o teste de avidez para IgG para avaliar se
a infecção é recente (menos de 4 meses se a avidez for baixa <30%) ou antiga (mais de 6 meses se a avidez for alta >60%).

• Na presença de soroconversão materna, com suspeita de infecção recente (avidez baixa) ou na suspeita ultrassonográfica de
infecção fetal, o diagnóstico de infecção fetal é feito pela pesquisa do DNA, por PCR, em amostra de líquido amniótico por
amniocentese.

• Os principais sinais e sintomas após o nascimento são: calcificações periventriculares, petéquias, trombocitopenia, anemia,
icterícia, coriorretinite, hepatoesplenomegalia, perda auditiva neurossensorial (principal sequela) e retardo mental.

• O diagnóstico do RN é feito por pesquisa do vírus na urina.

• O tratamento é controverso e pode ser feito com ganciclovir ou valganciclovir.

CAPÍTULO

4.0 RUBÉOLA NA GESTAÇÃO

4.1 INTRODUÇÃO

A rubéola é uma doença exantemática aguda de alta por isso é uma doença de notificação compulsória nacional.
contagiosidade, que acomete principalmente crianças e Devido à exaustiva vacinação de toda a população, essa doença está
adolescentes. A importância da rubéola dá-se, sobretudo, pela erradicada no Brasil desde 2008, segundo a Organização Mundial
ocorrência da síndrome da rubéola congênita (SRC) que atinge os da Saúde (OMS), e não faz mais parte do rastreamento obrigatório
fetos e os recém-nascidos de mães infectadas durante a gestação, durante o pré-natal.

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Nas provas de Residência Médica, esse tema é pouco abordado pelas bancas, os tópicos abordados sobre ele foram:
manifestações congênitas e diagnóstico. Então, aqui você encontrará o que precisa saber a respeito desse assunto.

4.2 ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO

O agente etiológico da rubéola é um RNA vírus da família dá no primeiro trimestre. Após 20 semanas de gestação, não há
togavírus e o homem é o único hospedeiro conhecido. relatos de manifestações compatíveis com SRC.
A transmissão materna ocorre pelo contato interpessoal A rubéola é assintomática em mais de 50% dos adultos
íntimo e prolongado, por meio de gotículas de secreção infectados. Quando sintomática, os principais sintomas são: eritema
da nasofaringe. Já a transmissão vertical acontece por via maculopapular de distribuição centrífuga, febre baixa, cefaleia,
transplacentária durante a primoinfecção materna, ocorrendo o anorexia, conjuntivite leve, coriza, tosse e linfadenomegalia.
acometimento fetal extremamente grave quando a infecção se

4.3 PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

A prevenção da rubéola ocorre pela vacinação feita em que a possibilidade de teratogenicidade é apenas teórica e não há
crianças e adultos, fornecendo imunidade por toda a vida. Por sua indicação de interrupção da gestação.
vez, a vacina não deve ser feita em gestantes, crianças menores de A vacina é disponibilizada para crianças aos 12 meses, dentro
12 meses e imunossuprimidos, por se tratar de vírus vivo atenuado. da tríplice viral e aos 15 meses na tetra viral. Adolescentes e adultos
Sendo assim, deve-se aguardar um mês para engravidar depois de até 29 anos não vacinados deverão receber duas doses e para
receber a vacina para rubéola. Além disso, gestantes vacinadas indivíduos dos 30 aos 59 anos é necessário apenas uma dose.
inadvertidamente no primeiro trimestre devem ser informadas

Com a vacinação em massa no Brasil, conseguimos erradicar as seguintes doenças: varíola, poliomielite,
rubéola e sarampo. Contudo, a diminuição da cobertura vacinal por esquecimento da população ou por
movimentos antivacinas, tem levado ao risco de retorno dessas doenças para o território nacional.

A rubéola é assintomática em mais de 50% dos adultos com a pesquisa de anticorpos específicos IgG e IgM. Uma vez que a
infectados. Quando sintomática, os principais sintomas são: eritema rubéola se encontra erradicada desde 2008 no Brasil, o Ministério
maculopapular de distribuição centrífuga, febre baixa, cefaleia, da Saúde não recomenda o rastreamento sorológico na gestação
anorexia, conjuntivite leve, coriza, tosse e linfonodomegalia. como triagem de rotina. A sorologia deve ser solicitada em caso de
O diagnóstico de rubéola na gestação é feito pela sorologia suspeita de rubéola na gestação ou de contato com pessoa suspeita.

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Se as gestantes apresentam sorologia IgG e IgM negativas, apresentam imunidade permanente e devem seguir o pré-natal de
elas são susceptíveis e devem receber a vacinação ainda no rotina.
puerpério. Quando a gestante susceptível entrar em contato com Quando a sorologia é IgG e IgM positivas para rubéola no
algum indivíduo com rubéola, ela deve receber imunoglobulina primeiro trimestre, mas há dúvidas se a infecção é recente (não
hiperimune até seis dias do contato. Vale ressaltar que o uso da sintomática), deve-se solicitar o teste de avidez para IgG para
Imunoglobulina hiperimune pode atenuar as manifestações clínicas esclarecer o diagnóstico. Se a avidez for baixa, a infecção é recente
da rubéola, mas não evita a viremia e, tampouco, a transmissão (menos de 3 meses se a avidez <60%), se for alta, é antiga (mais de
vertical. 3 meses se a avidez >60%).
Já gestantes com sorologia IgG positiva e IgM negativa

Na presença de infecção materna recente ou na suspeita ultrassonográfica de infecção fetal, o diagnóstico de infecção fetal é feito pela
pesquisa do RNA por PCR em amostra de líquido amniótico, colhido pela amniocentese, ou pela pesquisa de IgM no sangue fetal, colhido
por cordocentese. Caso seja confirmada infecção fetal, deve-se fazer acompanhamento ultrassonográfico seriado. Até o momento, não existe
tratamento para a SRC e a interrupção da gravidez não é permitida para esses casos em nosso país.

Como não se observa transmissão vertical durante o parto vaginal e a amamentação, eles não são
contraindicados.

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CAI NA PROVA

(FUBOG 2022 - 4000166980) A rubéola é uma infecção viral que, nas últimas décadas, teve a incidência e a prevalência diminuídas
drasticamente no Brasil. Considerando o rastreio da rubéola no pré-natal, é INCORRETO afirmar:
A) O rastreio para a rubéola no pré-natal, atualmente, deve, em todos os casos, ser realizado com os exames de primeiro trimestre, que
incluem hemograma completo; tipagem sanguínea; glicemia de jejum; urina I; urocultura; sorologias para toxoplasmose, sífilis, hepatite
B, hepatite C e HIV; TSH; protoparasitológico de fezes; ultrassom de primeiro trimestre.
B) Devido à eliminação da rubéola
C) e da síndrome da rubéola congênita no Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que não seja realizado o exame sorológico com pesquisa
de IgM para rubéola na rotina de pré-natal para gestantes em casos de mulheres assintomáticas.
D) A grande quantidade de exames sorológicos com pesquisa de IgM para rubéola resulta em um número alto de falsos positivos, acumulando
casos suspeitos de rubéola que não correspondem à definição de caso da doença.
E) Caso exista a necessidade de saber se a gestante tem títulos protetores para o vírus da rubéola, é recomendado solicitar apenas o IgG.
Mesmo que a mulher seja negativa, não poderá utilizar a vacina dupla (sarampo-rubéola) ou a tríplice viral (sarampo-rubéola-caxumba)
durante a gestação.

COMENTÁRIOS:

como a rubéola está erradicada no Brasil desde 2008, o Ministério da saúde não orienta mais a realização
Incorreta a alternativa A:
dessa sorologia no pré- natal.

Correta a alternativa B: como a rubéola está erradicada no Brasil desde 2008, o Ministério da Saúde não orienta mais a realização dessa
sorologia no pré- natal.
Correta a alternativa C: como a rubéola está erradicada no Brasil desde 2008, os casos de IgM positivo configuram falsos positivos.
Correta a alternativa D: a sorologia que indica imunidade é o IgG. Se a gestante for susceptível ela deve receber a vacina no puerpério, pois
esta vacina está contraindicada na gestação

(HRD-ES 2020) Em relação à rubéola na gravidez, assinale a alternativa INCORRETA:

A) A rubéola é uma doença infecciosa aguda virótica causada pelo vírus da família “Togaviridae”, sendo que a infecção ocorre de forma
horizontal ou vertical.
B) s sintomas são inespecíficos no período prodrômico da rubéola, e o exantema quando surge é do tipo maculopapilar fino.
C) A principal forma de transmissão dessa doença é a vertical e os mecanismos de danos ao feto ocorrem por lesões intensas e bem
localizadas.
D) O diagnóstico clínico de rubéola é muito difícil por algumas razões. Dentre elas os vários tipos de exantema que são atribuídos à rubéola
e vice-versa.

Prof. Natália Carvalho e Prof. Helena Schetinger | Curso Extensivo | 2023 54


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COMENTÁRIOS:

Correta a alternativa A: o agente etiológico da rubéola é um RNA vírus da família togavírus e o homem é o único hospedeiro conhecido. A
transmissão materna ocorre pelo contato interpessoal íntimo e prolongado por meio de gotículas de secreção da nasofaringe. Já a transmissão
vertical acontece por via transplacentária durante a primoinfecção materna.
Correta a alternativa B: a rubéola é assintomática em mais de 50% dos adultos infectados. Os principais sintomas, quando sintomática, são:
eritema maculopapular de distribuição centrífuga, febre baixa, cefaleia, anorexia, conjuntivite leve, coriza, tosse e linfadenomegalia.

a principal forma de transmissão dessa doença é horizontal, pelo contato interpessoal íntimo e prolongado,
Incorreta a alternativa C:
por meio de gotículas de secreção da nasofaringe.

Correta a alternativa D: a rubéola faz parte das doenças exantemáticas, cuja diferenciação diagnóstica muitas vezes se torna difícil, sendo
necessário lançar mão dos exames laboratoriais para confirmar o diagnóstico.

(HCB 2017) Uma importante ferramenta para diagnóstico gestacional de infecções é o Teste de Avidez de IgG, que pode ser realizado em
casos de infecção por: I. toxoplasmose; II. citomegalovírus; III. rubéola. Está CORRETO o contido em:

A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) I e III, apenas.
D) I, II e III.

COMENTÁRIO:

O teste de avidez para IgG é utilizado em casos de infecção por toxoplasmose, citomegalovírus e rubéola, para identificar se a infecção
é recente ou antiga, quando as sorologias são positivas para IgG e IgM.

Correta a alternativa D.

(FMJ 2016) Gestante com oito semanas, iniciando pré-natal na UBS, recebeu resultado da sorologia para rubéola com IgG reagente 1/216 e
IgM negativo. Frente a esses resultados, a conduta é

A) orientar a gestante do risco fetal e encaminhar para o pré-natal de alto risco.


B) introduzir rovamicina.
C) seguir pré-natal normal, pois a gestante é imune à rubéola.
D) pedir teste de avidez para IgG.
E) pedir ultrassonografia morfológica fetal para avaliar comprometimento fetal.

Prof. Natália Carvalho e Prof. Helena Schetinger | Curso Extensivo | 2023 55


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COMENTÁRIO

Profa. Ana Souza (obstetrícia):


Incorreta a alternativa A: porque não há risco fetal uma vez que IgG reagente e IgM negativo revelam que a gestante é imune à rubéola.
Incorreta a alternativa B: porque rovamicina é o nome comercial de Espiramicina, que é indicada quando há suspeita de infecção recente
pelo Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose.

porque a sorologia para rubéola IgG reagente e IgM negativo significa que a gestante é imune à doença e
Correta a alternativa C:
deve manter seguimento pré-natal habitual. Vale ressaltar que esse é o status sorológico desejado durante
a gestação e que gestantes susceptíveis, isto é, aquelas que apresentam IgG negativo e IgM negativo para rubéola, devem ser orientadas a
receber a vacina tríplice viral no puerpério.

Incorreta a alternativa D: porque uma vez que IgM é negativo não há suspeita de doença aguda. Vale ressaltar que o teste de avidez para
IgG é indicado quando se deseja diferenciar IgM cronicamente positivo de IgM positivo, indicando fase aguda, a fim de conseguir determinar
quando ocorreu a infecção.
Incorreta a alternativa E: porque não há risco de comprometimento fetal pela rubéola, uma vez que IgG reagente e IgM negativo revelam
que a gestante é imune à doença, portanto não tem a doença aguda que pode acarretar repercussões fetais. A ultrassonografia morfológica
deve ser solicitada, mas conforme rotina do pré-natal.

(SMA VR 2019) Gestante de primeiro trimestre utilizou, inadvertidamente, vacina contra rubéola. Conduta adequada:

A) Encaminhar para interrupção da gestação.


B) Solicitar sorologia específica e estudo citogenético.
C) Pesquisar anticorpo específico por PCR no líquido amniótico.
D) Acompanhamento pré-natal habitual.
E) Aplicar imunoglobulina.

COMENTÁRIO

Profa. Ana Souza (obstetrícia):


Incorreta a alternativa A: porque, apesar de vacina tríplice viral, que confere imunidade contra rubéola, sarampo e caxumba, ser contraindicada
na gestação por ser de vírus atenuados e, dessa forma, oferecer risco potencial para o feto, não se justifica interromper a gestação uma vez que
não se encontram relatos na literatura médica de malformações fetais relacionadas à vacina realizada inadvertidamente durante a gestação.
Incorreta a alternativa B: Como não se encontram relatos na literatura médica de malformações fetais relacionadas à vacina realizada
inadvertidamente durante a gestação, não há, portanto, indicação para realização de procedimento invasivo para diagnóstico fetal, como
estudo citogenético.
Incorreta a alternativa C: Como não se encontram relatos na literatura médica de malformações fetais relacionadas à vacina realizada
inadvertidamente durante a gestação, não há, portanto, indicação para realização de procedimento invasivo para diagnóstico fetal, como
pesquisa do anticorpo do vírus da rubéola por PCR em amostra do líquido amniótico.

Prof. Natália Carvalho e Prof. Helena Schetinger | Curso Extensivo | 2023 56


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porque, apesar de a vacina tríplice viral, que confere imunidade contra rubéola, sarampo e caxumba, ser
Correta a alternativa D:
contraindicada na gestação por ser de vírus atenuados e dessa forma, ter potencial de oferecer risco para
o feto, não se encontram relatos na literatura médica de malformações fetais relacionadas à vacina realizada inadvertidamente durante a
gestação, portanto a conduta frente a esses casos é manter seguimento pré-natal de rotina.

Incorreta a alternativa E: porque a imunoglobulina para rubéola é indicada para gestantes susceptíveis, que ficaram expostas a situações de
possível contaminação pelo vírus da rubéola, especialmente durante o primeiro trimestre, a fim de tentar evitar que desenvolvam a doença
e reduzir a transmissão fetal.

4.4 RUBÉOLA CONGÊNITA

4.4.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

A doença também pode ser assintomática ou apresentar poucos sintomas ao nascimento. Pode levar a aborto, óbito fetal, nascimento
prematuro, manifestações sistêmicas, déficits auditivos e manifestações oculares.

MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS


• Retardo do crescimento uterino; • Persistência do canal arterial;
• Hepatoesplenomegalia; • Estenose de artéria pulmonar.
• Icterícia;
• Petéquias; MANIFESTAÇÕES OCULARES
• Adenopatia; • Catarata congênita.
• Anemia hemolítica;
• Trombocitopenia;
• Pneumonia intersticial;
• Lesões ósseas;
• Patologias da tireoide;
• Diabetes Mellitus,
MANIFESTAÇÕES AUDITIVAS
MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS • Perda auditiva neurossensorial bilateral.
• Meningoencefalite;
• Panencefalite;
• Microcefalia.

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As manifestações mais comuns da síndrome da rubéola


congênita são a associação de cardiopatia congênita, catarata e
déficit auditivo neurossensorial bilateral.
Reparou, mais uma vez, o que falei dos sintomas serem
parecidos entre as doenças? Não se preocupe! Vamos à
característica-chave da doença!

CARACTERÍSTICA CHAVE DA RUBÉOLA CONGÊNITA!

• Presença de cardiopatia

CAI NA PROVA

(HOB DF 2023) RN com catarata, cegueira, surdez neurossensorial, microcefalia e persistência do canal arterial, apresenta provável diagnóstico
de:
A) Sífilis congênita.
B) Infecção congênita por citomegalovírus.
C) Rubéola congênita.
D) Infecção congênita por herpes simples.

COMENTÁRIO

Cardiopatia, catarata e déficit auditivo são características da síndrome da rubéola congênita. Correta a

Correta a alternativa C.

Incorreta a alternativa A: A sífilis traz lesões ósseas e cutâneas.


Incorreta a alternativa B: A CMV congênita traria as calcificações intracranianas difusas
Incorreta a alternativa D: A herpes geralmente traz lesões cutâneas.

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(HIPP/PR/2019) Uma criança de 20 dias de vida é levada ao hospital porque se observou que ela cansa após as mamadas. Nasceu de parto a termo
e normal, domiciliar, tendo a mãe feito apenas uma consulta no pré-natal. O exame físico mostra um recém-nascido com peso de 1950 gramas,
estatura de 45 cm, perímetro cefálico de 29 cm, icterícia ++/++++, hipoatividade, fontanelas abertas e normotensas, craniotabes negativo,
presença de nistagmo, ausculta pulmonar com murmúrio vesicular presente bilateralmente sem ruídos adventícios, à ausculta cardíaca sopro
contínuo no 2º espaço intercostal esquerdo, palpação abdominal com fígado a 3,5 cm do rebordo costal direito e baço a 3 cm do rebordo
costal esquerdo. Dos reflexos primitivos, o de Moro é ausente. Este quadro sugere que, durante a gestação, a infecção materna mais provável
foi:

A) Sífilis.
B) Aids.
C) Rubéola.
D) Herpes
E) Toxoplasmose.

COMENTÁRIO

Vamos procurar a característica-chave! Observe que a questão traz vários sinais e entre eles um sopro cardíaco, indicando cardiopatia!
Pode marcar rubéola congênita sem medo de errar!

Correta a alternativa C.

Incorreta a alternativa A: lesões de pele e ósseas associadas à hepatoesplenomegalia caracterizam sífilis congênita.
Incorreta a alternativa B: a AIDS é assintomática ao nascer e manifesta-se mais tarde com sinais de imunodepressão.
Incorreta a alternativa D: a herpes simples traz vesículas, hiperemia conjuntival, lesões neurológicas.
Incorreta a alternativa E: a toxoplasmose é caracterizada pela tétrade de Sabin.

4.4.2 DIAGNÓSTICO PÓS-NATAL

A presença de anticorpos IgM confirmam a infecção, mas, mais uma vez, a ausência não a descarta. A persistência do IgG após os 12
meses também é indicativa. Por fim, podemos isolar o vírus em secreção nasofaríngea, líquor e urina, ele está presente em 80% das crianças
no primeiro ano de vida. Além disso, os exames complementares e a história clínica fecham o diagnóstico.
• Hemograma completo, que pode trazer anemia hemolítica e trombocitopenia.
• Testes de função hepática e bilirrubinas para pesquisa de colestase neonatal.
• Radiografia de ossos longos em busca de lesões ósseas.
• Exames de imagem neurológica, como ultrassonografia transfontanela ou tomografia de crânio.
• Coleta de líquor em busca do isolamento viral.
• Ecocardiograma – IMPORTANTÍSSIMO!
• Avaliação oftalmológica com fundo de olho.
• Triagem auditiva neonatal.

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4.4.3 TRATAMENTO

Infelizmente, nesse caso, não há tratamento específico para a infecção congênita, ele deve ser voltado para as complicações da doença.
A criança deve ser acompanhada com oftalmologista, otorrinolaringologista e cardiologista.

CAI NA PROVA
(SUS BA 2023) Lactente, sexo feminino, no 25º dia de vida, residente em zona rural, é levada à UBS para sua primeira consulta. Nasceu de
parto domiciliar e a genitora, multípara, não fez pré-natal regular, tendo registro de apenas uma consulta no segundo mês de gestação.
A bebê nasceu a termo, pesando 2.150g, medindo 48cm. Apresentou icterícia no primeiro dia de vida
. A genitora relata que percebe que há um círculo esbranquiçado no olho esquerdo. É alimentada exclusivamente com leite materno.
Ao exame, ativa, bom estado geral, apresenta microcefalia e opacificação na zona pupilar do olho esquerdo. Sem outros achados anormais.
1. Indique a principal suspeita diagnóstica para o caso descrito.
A criança tem manifestações inespecíficas de infecções congênitas e leucocoria (catarata), essa característica deve nos levar a pensar em
rubéola congênita:
2. Indique um critério laboratorial para o diagnóstico da doença na criança.
Anticorpos antirrubéola IgM positivos, anticorpos antirrubéola IgG persistentes ou demonstração do vírus por PCR ou cultura viral
3. Indique uma outra anomalia que faz parte da síndrome congênita clássica da doença.
Cardiopatia (PCA ou estenose pulmonar) e surdez.

4.5 RESUMINDO

• A rubéola é uma doença exantemática aguda de alta contagiosidade que pode ocasionar a síndrome da rubéola congênita por
transmissão transplacentária quando acomete gestantes no primeiro trimestre.

• O agente etiológico da rubéola é um RNA vírus da família togavírus e o homem é o único hospedeiro conhecido .

• A prevenção da rubéola ocorre pela vacinação de vírus vivo atenuado feita em crianças e adultos, fornecendo imunidade por toda
a vida.

• Deve-se aguardar um mês para engravidar depois de receber a vacina para rubéola.

• O diagnóstico de rubéola na gestação é feito pela sorologia com a pesquisa de anticorpos específicos IgG e IgM. O Ministério da
Saúde não recomenda o rastreamento sorológico na gestação como triagem de rotina.

• Quando a sorologia é IgG e IgM positivas no primeiro trimestre, mas há dúvidas se a infecção é recente (não sintomática), deve-se
solicitar o teste de avidez para IgG.

• O diagnóstico de infecção fetal é feito pela pesquisa do RNA por PCR em amostra de líquido amniótico, colhido pela amniocentese,
ou pela pesquisa de IgM no sangue fetal, colhido por cordocentese.

• As principais manifestações da síndrome da rubéola congênita são: surdez, defeitos cardíacos (característica-chave), alterações
oculares e alterações do sistema nervoso central.

• O diagnóstico é por sorologia, isolamento viral em secreções, história clínica, exames complementares e especializados.

• Não há tratamento específico.

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CAPÍTULO

5.0 PARVOVíRUS B19 NA GESTAÇÃO

5.1 INTRODUÇÃO

O parvovírus B19 causa infecção comum na infância (eritema infeccioso), que cursa com manifestações brandas. Entretanto, a infecção
aguda durante a gestação pode levar ao comprometimento fetal grave, com hidropisia e óbito fetal.

Nas provas de Residência Médica, esse tema é pouco abordado pelas bancas. Em um levantamento feito pela
equipe de Obstetrícia do Estratégia MED, encontramos apenas questões sobre parvovirose na gestação em algumas
poucas provas do estado de São Paulo e os tópicos abordados sobre esse tema foram sobre as manifestações congênitas,
diagnóstico diferencial e tratamento. Não encontramos esse assunto nas provas de Pediatria dos últimos anos. Então,
aqui você encontrará o que precisa saber sobre ele para as provas.

5.2 ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO

A parvovirose em humanos é causada pelo parvovírus B19, sanguínea e transplacentária. A passagem transplacentária ocorre
vírus de DNA fita simples, que tem tropismo por células de rápida em torno 25% dos casos de infecção durante a gestação e é mais
divisão celular, como as da medula óssea. grave quando se dá na primeira metade da gestação.
O parvovírus B19 é transmitido por via respiratória,

5.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E CONGÊNITAS

Em crianças, o parvovírus B19 causa o eritema infeccioso, transplacentária para o feto, mas, na maioria das vezes, não há
doença autolimitada que se caracteriza por febre, eritema malar manifestações fetais. Porém, em alguns casos, ocorre citotoxicidade
(face esbofeteada) e exantema de troncos e extremidades. Em na eritropoiese fetal, resultando em anemia fetal, hidropsia fetal
adultos, a infecção, geralmente, é assintomática. Também pode não imune, perda gestacional precoce e óbito fetal. Apesar disso,
ocorrer aplasia eritrocitária e infecção crônica na medula óssea de esse quadro pode resolver-se espontaneamente, ainda intraútero,
imunocomprometidos. quando as manifestações não forem severas.
A infecção aguda durante a gestação pode levar à transmissão

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CAI NA PROVA

(UFPR 2018) Qual das infecções abaixo está comumente associada à anemia fetal?

A) Citomegalovírus.
B) Parvovírus.
C) Herpes.
D) Sífilis.
E) Toxoplasmose.

COMENTÁRIO:

Incorreta a alternativa A: infecção congênita por CMV não causa anemia fetal.
a principal manifestação da infecção congênita por parvovírus B19 é a anemia fetal, que pode levar à hidropisia
Correta a alternativa B:
e óbito.

Incorreta a alternativa C: infecção congênita por herpes simples não causa anemia fetal.
Incorreta a alternativa D: infecção congênita por sífilis pode causar anemia, mas não é uma manifestação frequente.
Incorreta a alternativa E: infecção congênita por toxoplasmose não causa anemia fetal.

5.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

O diagnóstico de infecção materna na gestação é feito pela sorologia para parvovírus B19, avaliando-se os anticorpos IgG e IgM. Assim,
diante de um caso suspeito de parvovirose na gestação, por exposição recente ao vírus ou por sintomas compatíveis com infecção aguda,
deve-se avaliar a sorologia materna.
Quando a gestante é IgM e IgG negativos, ela é susceptível e deve ser aconselhada a não ter contato com pessoas com sintomas
sugestivos de parvovirose. Se IgM negativo e IgG positivo, a gestante é imune e não há risco de infecção fetal.
Por outro lado, IgM positiva indica infecção aguda na gestação e a gestante deve ser encaminhada para avaliação ultrassonográfica
fetal, com dopplervelocimetria seriada semanal a partir do segundo trimestre. O pico de velocidade sistólica da artéria cerebral média (PVS-
ACM), avaliado pela dopplervelocimetria, é o método que identifica indiretamente anemia fetal.
Quando o PVS-ACM estiver acima de 1,5 múltiplos da mediana (MOM), deve-se fazer cordocentese para confirmação da anemia e
realizar transfusão sanguínea fetal.

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MED

A suspeita de parvovírus B19 na gestação também ocorre


pela presença de hidropisia fetal não imune, caracterizada pelo
excesso de água no corpo do concepto, em pelo menos duas
cavidades serosas (ascite, derrame pleural e pericárdico) ou no
tecido subcutâneo. A hidropisia fetal pode ocorrer na parvovirose
gestacional por anemia fetal grave e é um diagnóstico diferencial
importante das hidropisias. A presença de hidropisia leve a
moderada pode resolver-se espontaneamente, já a hidropisia
severa pode levar à insuficiência cardíaca e óbito fetal, nesses
casos, a transfusão fetal está indicada.
Sendo assim, a transfusão intrauterina é o tratamento
indicado para os casos de parvovirose congênita que cursam com
hidropisia fetal grave ou anemia fetal grave, essa conduta melhora
a sobrevida do feto. Nesses casos, o parto deve ocorrer em centro
terciário, pois o feto necessitará de suporte ventilatório e outros
procedimentos neonatais.

A infecção pelo parvovírus B19 é o principal diagnóstico diferencial de hidropisia imune (por aloimunização
materna), pois também causa a anemia fetal grave diagnosticada pelo aumento do PVS-ACM e também é
tratada com transfusão fetal intraútero nos casos graves.

CAI NA PROVA

(SP - INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL - IAMSPE 2023 - 4000184469) Uma gestante com 8 semanas
de gravidez viajou para visitar sua família na primeira semana de outubro. Ao retornar, foi avisada de que seu sobrinho, com quem teve
contato muito próximo durante a estadia, teve febre e erupção facial de início súbito e confirmou diagnóstico de eritema infeccioso ou “quinta
doença”. No momento, a paciente queixa-se de dor articular nos joelhos e tornozelos, que atribui à viagem longa.
Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, a principal hipótese diagnóstica e a conduta a ser adotada nesse caso hipotético.
A) Infecção por vírus Zika — solicitar pesquisa de anticorpos maternos IgG e IgM específicos para esse arbovírus, prescrever analgésicos e
tranquilizar a paciente.
B) Infecção por parvovírus B19 — solicitar pesquisa de anticorpos maternos IgM e IgG específicos, prescrever analgésicos e pedir que a
paciente fique atenta ao aparecimento de outros sintomas
C) Infecção por coronavírus — solicitar teste rápido materno IgM e IgG para SARS-Cov-2, prescrever analgésicos e orientar a realização
imediata da quarta dose da vacina.
D) Infecção por vírus Zika — solicitar reação em cadeia de polimerase com transcriptase reversa (RT-PCR), específica para esse arbovírus, no
sangue materno, prescrever analgésicos e informar sobre o alto risco de infecção congênita.
E) Infecção por parvovírus B19 — solicitar pesquisa de anticorpos maternos e fetais IgM e IgG específicos, prescrever valaciclovir e informar
sobre o alto risco de infecção congênita.

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COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A: a infecção pelo Zika vírus não causa eritema infeccioso na criança.
o eritema infeccioso é causado por Parvovírus B19. Para confirmar se a gestante foi contaminada, deve-se
Correta a alternativa B:
solicitar os anticorpos IgM e IgG, além de prescrever analgésicos para a dor. Se o anticorpo IgM vier positivo,

trata-se de doença aguda e deve-se fazer a monitorização fetal com Dopplervelocimetria da artéria cerebral média para pesquisa de anemia
fetal.
Incorreta a alternativa C: a infecção pelo coronavírus não causa eritema infeccioso na criança.
Incorreta a alternativa D: a infecção pelo Zika vírus não causa eritema infeccioso na criança.
Incorreta a alternativa E: na infecção por Parvovírus B19, não há tratamento específico. O valaciclovir é utilizado quando há citomegalovírus
no início da gestação.

5.5 RESUMINDO

• A parvovirose em humanos é causada pelo parvovírus B19.

• A transmissão vertical ocorre por via transplacentária e é mais grave na primeira metade da gestação.

• A infecção congênita pelo parvovírus B19 pode causar citotoxicidade na eritropoiese fetal, resultando em anemia fetal, hidropsia
fetal não imune, perda gestacional precoce e óbito fetal.

• Sorologia IgM positiva indica infecção aguda na gestação e deve-se avaliar o PVS-ACM, identificando indiretamente anemia fetal.

• Quando o PVS-ACM estiver acima de 1,5 MOM, deve-se fazer cordocentese para confirmação da anemia e realizar transfusão
fetal.

• A transfusão intrauterina é o tratamento indicado para os casos de infecção congênita por parvovírus B19 que cursam com
hidropisia fetal grave ou anemia fetal grave.

• A infecção congênita por parvovirose que cursa com hidropisia é um diagnóstico diferencial das hidropisias imunes por
aloimunização Rh.

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CAPÍTULO

6.0 ZIKA VÍRUS NA GESTAÇÃO


Caro colega, este assunto bombou nas provas até 2020, porém, de lá para cá, tem aparecido cada vez menos, então vamos resumir o
que temos de importante, ok?

6.1 INTRODUÇÃO
O Zika vírus começou a circular no Brasil em 2015 e, até então, fetal.
causava uma doença não agressiva, entretanto pesquisadores Nas provas de Residência Médica, esse tema vem sendo
brasileiros observaram um aumento na incidência de microcefalia abordado dentro das questões de Obstetrícia em relação às
em fetos de gestantes com infecção pelo Zika vírus e, a partir de manifestações congênitas e ao diagnóstico diferencial. Nas de
então, ficou confirmando que ele é capaz de ultrapassar a barreira Pediatria, apenas como diagnóstico diferencial. Aqui coloco tudo o
placentária, causando infecção congênita com grave acometimento que você precisa saber sobre esse tema para as provas.

6.2 ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO


O vírus Zika é um arbovírus (transmitido pela picada de materno.
mosquitos) do gênero flavivírus e apresenta comportamento Em 2015, confirmou-se a transmissão vertical do Zika vírus
benigno, baixa virulência e baixa letalidade. Sabe-se que a principal por via transplacentária (figura 7). Desde então, a suspeita ou
via de transmissão do vírus Zika é por meio da picada do mosquito, confirmação de infecção pelo Zika vírus na gestação e a síndrome
o Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue, chikungunya e febre congênita pelo Zika vírus (SCZ) são de notificação compulsória no
amarela. Além disso, foi verificada transmissão por via sexual e Brasil. Ainda não há relatos de transmissão durante o parto e o
o vírus já foi identificado no sangue, sêmen, urina, saliva e leite aleitamento materno.

Figura 7. Infecção congênita pelo Zika vírus.

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CAI NA PROVA

(PUC SP 2018) Neuza é gestante de 12 semanas, mora em Sorocaba/SP e é casada com Lúcio, motorista de caminhão. Retornando de viagem
ao Estado de Pernambuco, Lúcio apresentou quadro de exantema maculopapular, febre baixa, artralgia, mialgia, dor de cabeça e hiperemia
conjuntival não purulenta e sem prurido, edema nas pernas, dor de garganta, tosse e vômitos. Procurou o serviço de saúde que suspeitou de
Zika. Assinale a alternativa CORRETA entre as abaixo relacionadas:

A) A paciente não precisa ficar preocupada, pois já passou o primeiro trimestre da gestação
B) Deve-se recomendar que o contato sexual somente seja permitido com o uso do preservativo masculino
C) A paciente não pode receber repelentes a base de n-Dietil-metatoluamida (DEET), por seu potencial teratogênico
D) Há indicação de soroterapia hiperimune para possíveis contactantes de indivíduo com Zika, como é o caso da gestante Neuza

COMENTÁRIO

Por Sérgio Beduschi Filho – infectologia:


Incorreta a alternativa A: pois a infecção por vírus Zika em gestantes pode causar defeitos congênitos em qualquer trimestre da gestação.
devido ao risco de transmissão sexual do vírus Zika, recomenda-se o uso de preservativo masculino em caso
Correta a alternativa B:
de exposição ao vírus pelo parceiro.

Incorreta a alternativa C: pois o uso de repelentes à base de n-Dietil-metatoluamida (DEET) não é contraindicado para gestantes.
Incorreta a alternativa D: não há indicação de soroterapia hiperimune ou qualquer outro tratamento profilático para contactantes de
indivíduos com Zika.

6.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E CONGÊNITAS

O Zika vírus causa infecção assintomática em 80% dos casos. achados ultrassonográficos durante a gestação são: microcefalia,
Quando sintomática, apresenta doença exantemática em 90 a calcificações periventriculares, ventriculomegalia, microftalmia, pé
100% desses casos. Pode ocorrer também febre baixa, mialgia, torto congênito e restrição de crescimento fetal.
artralgia leve a moderada, conjuntivite, cefaleia, prurido, hipertrofia A microcefalia é definida por um perímetro cefálico com
ganglionar e acometimento neurológico. mais de 2 desvios-padrão abaixo da média para idade gestacional
A síndrome da infecção congênita pelo Zika vírus (SCZ) ou sexo. Porém, desde 2016, após o surto de zikavirose, o Brasil
pode manifestar-se com microcefalia, microftalmia, pé torto definiu como microcéfalo o menino com medida igual ou inferior a
congênito, artrogripose, hidropisia, restrição de crescimento 31,9 cm e a menina 31,5 cm.
fetal, abortamento e óbito fetal. Observa-se que os principais

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ULTRASSOM < 2DP OU < PERCENTIL 3


PÓS-NATAL SEXO FEMININO <31,5CM E SEXO MASCULINO <31,9CM

Agora, atenção! Como nos primeiros dias de vida podemos ter cavalgamento de suturas, devemos esperar de 24 a 48 horas para
confirmar a medida.
Sabe-se que o vírus Zika tem alta afinidade pelo tecido nervoso e a microcefalia ocorre principalmente quando a infecção se apresenta
no primeiro trimestre. Ademais, o prognóstico fetal pode ser feito conforme o grau de microcefalia, pois quanto mais grave a microcefalia,
maior o comprometimento neuropsicomotor.

NÃO HÁ TRATAMENTO ESPECÍFICO E O ACOMPANHAMENTO DEVE SER MULTIDISCIPLINAR.

CAI NA PROVA

(UERJ 2018) Primigesta é atendida no plantão da maternidade com quadro de exantema maculopapular. Em virtude da epidemia de Zika vírus,
é solicitada investigação, com PCR confirmando a infecção. Entre as ocorrências mais frequentes no recém-nascido, verifica- se:

A) Anencefalia.
B) Agenesia renal.
C) Membros curtos.
D) Calcificações periventriculares.

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COMENTÁRIO:

Incorreta a alternativa A: na infecção congênita pelo Zika vírus, não se observa anencefalia, mas sim microcefalia. A anencefalia faz parte dos
defeitos de fechamento do tubo neural, que se relacionam à deficiência de ácido fólico.
Incorreta a alternativa B: na infecção congênita pelo Zika vírus, não encontramos agenesia renal. A agenesia renal é um defeito geralmente
de etiologia genética.
Incorreta a alternativa C: na infecção congênita pelo Zika vírus, não encontramos membros curtos, mas sim pé torto congênito e artrogripose
(múltiplas contraturas articulares).
as calcificações periventriculares são encontradas na infecção congênita pelo Zika vírus, assim como a
Correta a alternativa D:
microcefalia, a microftalmia e a ventriculomegalia.

6.4 PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

As principais medidas de prevenção individuais da transmissão do Zika vírus na gestação são focadas em evitar a picada do mosquito
Aedes aegypti, confira:

A infecção pelo Zika vírus é considerada uma IST, por isso para dengue, chikungunya e PCR para Zika vírus até 5-7 dias dos
deve-se reforçar a utilização de preservativos durante a gestação, sintomas. Além do mais, deve-se fazer o diagnóstico diferencial
principalmente após viagem a áreas endêmicas ou suspeita/ com outras doenças exantemáticas (TORCHS, varicela zoster,
diagnóstico da infecção nas parcerias sexuais. parvovírus B19). Sabe-se que a sorologia para Zika vírus apresenta
Para o planejamento pré-concepcional, deve-se orientar baixa especificidade, uma vez que os anticorpos IgM apresentam
aguardar dois meses para engravidar se a mulher tiver sido reatividade cruzada com outras doenças, como dengue.
infectada e três meses no caso de infecção no homem. Estabelecido o diagnóstico de infecção pelo Zika vírus, deve-
Durante a gestação, não há indicação de exame para triagem se fazer o estudo da morfologia e da vitalidade fetal, além de
universal da infecção pelo Zika vírus. Entretanto, diante da presença exames ultrassonográficos seriados mensais, a fim de identificar o
de doença exantemática na gestação deve-se solicitar teste rápido comprometimento fetal pelo Zika vírus.

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Por outro lado, a gestante pode não apresentar parto e o puerpério mantêm rotina normal e a amamentação não é
sintomatologia e a suspeição de infecção congênita pelo Zika vírus contraindicada nesses casos.
ocorrer pelo diagnóstico de microcefalia na ultrassonografia de Para as crianças, não há tratamento específico e deve
rotina. Nesses casos, recomenda-se realizar sorologia IgG e IgM haver acompanhamento multiprofissional para estímulo precoce e
para Zika vírus, dengue e chikungunya e afastar outras causas de diminuição da perda do desenvolvimento neuropsicomotor. Frente
microcefalia (sorologia para sífilis, toxoplasmose, rubéola, CMV e à uma suspeita de Zika vírus, a criança será beneficiada com uma
varicela zoster), além de uma avaliação com geneticista. avaliação audiológica, neuroimagem e sorologias STORCH para
Diante do diagnóstico de síndrome congênita pelo Zika diagnóstico diferencial. O Eletroencefalograma não é necessário,
vírus, a gestante deve ser encaminhada para centro terciário. Não pois as convulsões são clínicas, secundárias a uma malformação
há tratamento para a síndrome congênita pelo Zika vírus, assim o cerebral.

CAI NA PROVA

(UFS-SE 2020 A infecção pelo Zika vírus constitui-se uma preocupação no acompanhamento pré-natal no Brasil
devido à sequela da microcefalia no recém-nascido causada pela infecção, o que constitui um grave problema de
Saúde Pública. Diante do exposto é importante que o médico tenha conhecimento sobre a infecção pelo vírus na
gestação, então, das questões abaixo, qual a afirmação VERDADEIRA?

A) Embora o Zika vírus seja encontrado no leite materno no caso de infecção aguda, a amamentação não é contraindicada.
B) O uso de repelentes ambientais do tipo spray é eficaz contra o mosquito vetor da Zika.
C) O repelente à base de Icaridina e a ingestão de tiamina pela gestante são eficazes na proteção contra o mosquito vetor da Zika e aprovados
pela ANVISA.
D) Para um correto diagnóstico ultrassonográfico da microcefalia fetal é necessário apenas saber a data da última menstruação da gestante.

COMENTÁRIOS:

O que o examinador quer saber: sobre a infecção do Zika vírus na gestação.

Prof. Natália Carvalho e Prof. Helena Schetinger | Curso Extensivo | 2023 69


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a amamentação não é contraindicada nos casos de infecção aguda por Zika vírus, pois os benefícios da
Correta a alternativa A:
amamentação superam os riscos de infecção no recém-nascido.

Incorreta a alternativa B: o uso de repelentes ambientais não é eficaz contra o mosquito vetor do Zika vírus, mas sim o uso de repelentes
diretamente na gestante.
Incorreta a alternativa C: o uso de repelente icaridina é eficaz e seguro na gestação, mas o uso de tiamina não se mostrou eficaz para evitar
a picada do mosquito Aedes aegypti.
Incorreta a alternativa D: para o diagnóstico correto de microcefalia fetal, é preciso ter confirmada a idade gestacional por uma ultrassonografia
precoce, pois, muitas vezes, a data da última menstruação pode não estar correta.

(UFCG-PB 201Pesquisas recentes, muitas delas desenvolvidas em Campina Grande por pesquisadoras como as médicas Adriana Melo e
Melania Amorim, trataram da associação entre o Zika Vírus (ZIKV) e casos de microcefalia e outras malformações. Vários protocolos de
prevenção e conduta foram elaborados desde então. Considerando os conhecimentos e recomendações atuais sobre a Síndrome do Zika
Vírus, é correto afirmar:

A) Apesar da presença do ZIKV no leite materno com infecção aguda, a orientação geral nesses casos é que a amamentação não seja
suspensa.
B) A transmissão ocorre exclusivamente através da picada do mosquito Aedes aegypti, não tendo sido identificadas outras formas de
transmissão.
C) Não há necessidade de prevenção de gravidez se o homem estiver sintomático e/ou com diagnóstico de infecção aguda.
D) Mulheres devem aguardar pelo menos 6 meses após o aparecimento dos sintomas para que tentem engravidar.
E) Os sintomas apresentados pelas grávidas diferem de maneira importante dos das não grávidas, especialmente os quadros de exantema
e conjuntivite, mais comuns nas primeiras.

COMENTÁRIOS:

a amamentação não é contraindicada nos casos de infecção aguda por Zika vírus, pois os benefícios da
Correta a alternativa A:
amamentação superam os riscos de infecção no recém-nascido.

Incorreta a alternativa B: além da transmissão pela picada do mosquito Aedes aegypti, foi confirmada também a transmissão por via sexual
e transplacentária. Ademais, o vírus foi identificado no sangue, sêmen, urina, saliva e leite materno.
Incorreta a alternativa C: como a transmissão pode ocorrer por via sexual, é importante o uso de preservativo durante as relações sexuais na
gestação.
Incorreta a alternativa D: mulheres devem esperar de 2 a 3 meses do aparecimento dos sintomas para tentar engravidar.
Incorreta a alternativa E: o Zika vírus causa infecção assintomática em 80% dos casos. Quando sintomática, apresenta doença exantemática
em 90 a 100% desses casos. O quadro clínico nas gestantes é igual ao das não gestantes.

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(UEVA-GO 2017 A infecção pelo Zika vírus é motivo de preocupação durante o ciclo gravídico, uma vez que pode levar à infecção do concepto,
comprometendo seu desenvolvimento e ocasionando sequelas graves. Quanto à profilaxia, deve-se considerar:

A) vacinação de todas as gestantes contra dengue, pois há proteção cruzada, uma vez que o mosquito transmissor é o mesmo.
B) o uso de complexo B via oral (que é excretado pelo suor), durante toda a gestação, a fim de repelir o mosquito transmissor.
C) o uso diário de repelentes e roupas que cobrem o corpo deve ser estimulado.
D) evitar o uso de cosméticos, pois o cheiro dos mesmos atrai o mosquito.

COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A: a vacina contra dengue não protege de infecção pelo Zika vírus e não deve ser aplicada em gestantes.
Incorreta a alternativa B: não há comprovação científica de que o uso de complexo B repele o mosquito Aedes aegypti.

o uso de repelentes e roupas que cobrem o corpo fazem parte das medidas de prevenção individual da
Correta a alternativa C:
transmissão do Zika vírus na gestação.

Incorreta a alternativa D: não há comprovação de que o cheiro de cosméticos atraia o mosquito Aedes aegypti.

(SURCE 2017) Gestante, assintomática, vivendo em zona endêmica de Zika, preocupada com o risco de microcefalia fetal, deseja fazer um
ultrassom para avaliar a possibilidade diagnóstica. Qual o parâmetro do perímetro cefálico (PC) é o LIMITE mais aceito para o diagnóstico de
microcefalia, segundo os boletins de investigação do Ministério da Saúde do Brasil?

A) PC abaixo do percentil 5 para idade gestacional.


B) PC abaixo do percentil 10 para idade gestacional.
C) PC abaixo de menos 2 desvios-padrão para idade gestacional.
D) PC abaixo de menos 3 desvios-padrão para idade gestacional.

COMENTÁRIO:

Incorreta a alternativa A: PC abaixo do percentil 5 para idade gestacional não faz diagnóstico de microcefalia, mas sim abaixo do percentil 3.
Incorreta a alternativa B: PC abaixo do percentil 10 para idade gestacional não faz diagnóstico de microcefalia, mas sim abaixo do percentil 3.

Correta a alternativa C: PC dois desvios-padrão menor para a idade gestacional é o limite para o diagnóstico de microcefalia.

Incorreta a alternativa D: o limite para o diagnóstico de microcefalia é PC dois desvios-padrão menor para a idade gestacional, e não três
desvios-padrão.

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MED

(AMS 2020) Em uma área endêmica para o vírus Zika é recomendado à gestante:

A) O uso de preservativos pelo companheiro até o final da gravidez.


B) Evitar uso de repelentes contendo icaridina no primeiro trimestre da gravidez.
C) Realizar ultrassonografia obstétrica e sorologia para Zika vírus todos os meses.
D) Realizar exames laboratoriais para Zika vírus a cada dois meses.

COMENTÁRIO:

como há suspeita de que o Zika vírus possa ser transmitido por via sexual, orienta-se que as gestantes
Correta a alternativa A:
mantenham relações sexuais apenas com preservativo até o fim da gestação.

Incorreta a alternativa B: os repelentes de Icaridina, DEET e IR 3535 são permitidos durante toda a gestação, o uso deve ser estimulado desde
o início.

Incorreta a alternativa C: não há indicação de realizar sorologia e ultrassonografia obstétrica mensal, deve-se manter as ultrassonografias
preconizadas pelo Ministério da Saúde no pré-natal de rotina.

Incorreta a alternativa D: não há indicação para realizar exames laboratoriais para o Zika vírus a cada dois meses, somente no caso de quadro
clínico de doença exantemática ou de microcefalia.

(HCPA RS 2019) Considere as assertivas abaixo sobre o vírus Zika. I. Além da microcefalia congênita, pode ocorrer uma série de manifestações,
dentre as quais se incluem desproporção craniofacial, espasticidade, convulsões, irritabilidade e anormalidades auditivas e oculares. II. O
Ministério da Saúde adota, como critério de classificação de microcefalia, uma medida de perímetro cefálico ≤ 32 cm logo após o nascimento.
III. Recém-nascidos com perímetro cefálico normal, cujas mães foram expostas ao vírus no terceiro trimestre da gestação, podem apresentar
alterações neurológicas graves nos primeiros meses de vida. Quais são as corretas?

A) Apenas I
B) Apenas II
C) Apenas III
D) Apenas I e III
E) I, II e III

COMENTÁRIOS:

I- Todas essas são manifestações possíveis da zikavirose. Correta.


II- De acordo com o Ministério da Saúde, microcefalia corresponde a perímetro cefálico menor que 31,9cm para meninos e 31,5cm para
meninas. Incorreta.
III- A microcefalia não é obrigatória, qualquer filho de mãe que apresentou zika pode apresentar alterações neurológicas graves, mesmo as
expostas no final da gestação. Correta.
Corretas I e III.

Correta a alternativa D.

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6.5 RESUMINDO

• A principal via de transmissão do vírus Zika é por meio da picada do mosquito, o Aedes aegypti. Ademais, há transmissão por via
sexual e o vírus já foi identificado no sangue, sêmen, urina, saliva e leite materno.

• A transmissão vertical do Zika vírus ocorre por via transplacentária.

• A transmissão materna pode ser reduzida com medidas que evitam a picada do Aedes aegypti.

• A síndrome da infecção congênita pelo Zika vírus (SCZ) pode manifestar-se com microcefalia, microftalmia, pé torto congênito,
artrogripose, hidropisia, restrição de crescimento fetal, abortamento e óbito fetal.

• A microcefalia caracteriza-se por diminuição da medida da circunferência cefálica do feto ou do recém-nascido em dois DP
(desvios-padrões) abaixo da média ou abaixo do percentil 3 do limite normal para sexo e idade gestacional. Pelo Ministério da
Saúde, é menor que 31,9 cm para meninos e 31,5cm para meninas.

• Deve-se suspeitar de infecção pelo Zika vírus na gestação se a gestante apresentar doença exantemática ou feto com microcefalia.

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CAPÍTULO

7.0 HERPES SIMPLES

O vírus causador da herpes simples é membro da família


Herpesviridae, os principais tipos são o herpes-vírus tipo 1 e tipo 2.
A infecção intrauterina é muito rara e não há rastreio
sorológico no pré-natal. A maior parte dos casos é transmitida
durante o parto pelo contato do neonato com lesões no trato
genital materno. Outra forma de transmissão é a pós-natal, através
do contato com lesões ativas. Há um tempo, ficou famoso o caso
de um neonato que adquiriu a doença após ser beijado por uma
pessoa com herpes.
O primeiro episódio na mulher pode ser bem doloroso
e sintomático. Inicialmente aparece dor e prurido genital e
posteriormente aparecem pústulas e vesículas que se transformam
em múltiplas úlceras dolorosas. Os episódios recorrentes
geralmente têm sintomas menos intensos.
Quando o primeiro episódio ocorre durante a gestação,
no primeiro e no segundo trimestre há um aumento do risco de
abortamento e perda fetal. A transmissão intraútero pode ocorrer,
mas é rara. O maior risco de transmissão neonatal acontece quando
a infecção se dá no terceiro trimestre e ocorre contato com o vírus Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/06/18/
no momento do parto. herpes-neonatal-o-beijo-da-morte-que-quase-custou-a-vida-do-meu-bebe.
ghtml, acesso em 23 de Junho de 2020

O diagnóstico na maioria das vezes é clínico, mas o método diagnóstico mais


fidedigno é o isolamento e a cultura ou PCR viral em tecidos e sangue. A sorologia não
serve para confirmar o diagnóstico pois demora 6-8 semanas para positivar.Exames
complementares devem ser solicitados para avaliação clínica: hemograma, função
hepática, função renal e coleta de líquor. Exames de imagem devem ser solicitados
conforme necessário.
Na gestante, o tratamento é feito com aciclovir, tentando evitar tratamento
no primeiro trimestre apesar de estudos não mostrarem aumento do risco de
malformações fetais. A dose para o tratamento das lesões agudas na gestante é de
400 mg 3x ao dia ou 200 mg 5x ao dia, via oral, por 7 a 10 dias.

No neonato, a doença é SEMPRE sintomática e pode manifestar-se como:


• Localizada, através de vesículas cutâneas ou periorbitais, hiperemia
conjuntival, ceratite, coriorretinite e úlceras em orofaringe.
• Neurológica, com acometimento do sistema nervoso central,
apresentando convulsões, letargia, tremores e instabilidade térmica.

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• Disseminada, com acometimento de múltiplos órgãos, entre eles pele, neurológico, hepático, pulmonar, adrenal. A mortalidade
nesses casos pode ultrapassar 80%.
O tratamento no recém-nascido é feito com aciclovir na dose de 60mg/kg/dia, endovenoso, a cada 8 horas, por 14 a 21 dias.
A prevenção da herpes congênita deve ser realizada em todas as gestantes que já foram infectadas. Para isso, deve-se utilizar aciclovir
por volta da 36ª semana de gestação mesmo na ausência de sintomas, em gestantes com herpes genital prévia, para prevenir a recorrência
no termo e evitar o parto cesáreo. Caso a gestante apresente o primeiro episódio de herpes genital no momento do parto ou até 6 semanas
antes, é indicado realizar o parto cesáreo, apesar de não haver nenhum estudo randomizado que mostre a efetividade da cesárea em prevenir
transmissão de herpes neonatal. Frente à infecção herpética genital recorrente no momento do parto, também está indicado o parto cesárea.
Além disso, orienta-se suspender o aleitamento se houver comprometimento das mamas da puérpera. Orientar também que pessoas com
lesões ativas não devem tocar no bebê. O RN infectado deve ser mantido em isolamento de contato.

Dose profilática a partir de 36 semanas para todas as gestantes com história prévia de herpes genital : aciclovir 400 mg 3x ao dia , via oral,
até o parto.

CAI NA PROVA

(SP - HOSPITAL VERA CRUZ - HVC 2023 - 4000190303) Mulher de 36 anos de idade, primigesta, com idade gestacional de 38 semanas, é
admitida na unidade de emergência com queixa de saída de secreção vaginal líquida há 3 horas e contrações irregulares. Ao exame clínico,
apresenta dinâmica uterina de 2 contrações de 45 segundos em 10 minutos, líquido claro coletado em fundo de saco posterior visualizado
em exame especular e toque vaginal com 5cm de dilatação cervical. À inspeção vulvar, são visualizadas lesões vesiculares e ulceradas,
intensamente dolorosas, que, segundo a paciente, surgiram há 2 dias. Também relatou história de quadro semelhante anteriormente à
gestação. A sorologia para HIV foi negativa e o VDRL foi de 1:8. A paciente nega ter realizado qualquer tratamento previamente. Qual é a
conduta que deve ser adotada neste momento?

A) Iniciar esquema de aciclovir e realizar assistência ao parto.


B) Indicar a realização imediata de parto cesárea.
C) Iniciar ocitocina para diminuir o tempo de trabalho de parto.
D) Assistência ao trabalho de parto por via baixa.

COMENTÁRIOS:

Incorreta a alternativa A: como a paciente apresenta lesão ativa de herpes genital durante o trabalho de parto há indicação absoluta de
cesariana.
temos uma paciente no início do trabalho de parto, com rotura das membranas, que apresenta lesões
Correta a alternativa B:
vulvares ulceradas e vesiculares dolorosas, sugestivo de herpes genital. Como a paciente apresenta lesão

ativa durante o trabalho de parto, há indicação absoluta de cesariana.

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Incorreta a alternativa C: como a paciente apresenta lesão ativa de herpes genital, está contraindicado o parto vaginal.
Incorreta a alternativa D: como a paciente apresenta lesão ativa de herpes genital, está contraindicado o parto vaginal.

(GO - FUNDAÇÃO BANCO DE OLHOS DE GOIÁS - FUBOG 2023 4000189208) Há uma infecção congênita que ocorre, geralmente, por infecção
genital materna. É mais comum sua transmissão durante o trabalho de parto ou pós-natal e chega a 50% no parto vaginal. Mulheres com
primoinfecção geralmente são assintomáticas, enquanto aquelas com infecção recidivante têm a transmissão intraparto diminuída para uma
taxa de 3% a 5% pela presença de anticorpos preexistentes. A alternativa correspondente à infecção é:

A) Infecção congênita por herpes simples.


B) Sífilis congênita precoce.
C) Infecção congênita por citomegalovírus.
D) Rubéola congênita.

COMENTÁRIOS:

a infecção congênita transmitida durante o parto quando a gestante apresenta infecção genital no momento
Correta a alternativa A:
do parto é o herpes simples genital.
Incorreta a alternativa B: a sífilis raramente é transmitida durante o trabalho de parto e isso ocorre apenas quando há lesão no canal de parto.
Incorreta a alternativa C: o citomegalovírus não é transmitido durante o parto.
Incorreta a alternativa D: a rubéola não é transmitida durante o parto.

(UFMT 2022 4000169793) M.A.S., 18 anos, G2P1NA0, IG: 39 semanas e 6 dias, admitida em pronto atendimento com queixa de contrações
frequentes. Nega comorbidades, mas refere aparecimento de lesões dolorosas na vulva há uma semana. Ao exame: dinâmica uterina 3
contrações de 40 segundos em 10 minutos, BCF: 138 bpm, colo 70% apagado, centralizado, 08 cm de dilatação, bolsa íntegra, cefálico, plano
0 De Lee. Inspeção da vulva com lesões bolhosas e dolorosas de acordo com imagem abaixo.
Assinale a alternativa que apresenta a correta associação entre o agente etiológico e a via de parto que deve ser orientada.

A) Herpes simples (HSV-1/HSV-2), encaminhar imediatamente para cesárea para


reduzir os riscos de transmissão vertical.
B) Papilomavírus humano (HPV), realizar a assistência ao parto vaginal, pois não há
riscos de transmissão vertical.
C) Papilomavírus humano (HPV), encaminhar imediatamente para cesárea para
reduzir os riscos de transmissão vertical.
D) Herpes simples (HSV-1/HSV-2), realizar a assistência ao parto vaginal, pois não há
risco de transmissão vertical.

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COMENTÁRIOS:

a lesão descrita é compatível com herpes simples genital ativa e, quando há lesões no momento do parto,
Correta a alternativa A:
está indicada a cesariana para diminuir os riscos de transmissão vertical.
Incorreta a alternativa B: a lesão descrita é compatível com herpes simples genital ativa, não de HPV. As lesões de HPV não são dolorosas e
não indicam cesariana.
Incorreta a alternativa C: a lesão descrita é compatível com herpes simples genital ativa, não de HPV. As lesões de HPV não são dolorosas e
não indicam cesariana.
Incorreta a alternativa D: a lesão descrita é compatível com herpes simples genital ativa e, quando há lesões no momento do parto, está
indicada a cesariana para diminuir os riscos de transmissão vertical.

CAPÍTULO

8.0 VARICELA CONGÊNITA


A varicela é causada pelo herpes vírus tipo 3. É uma doença exantemática autolimitada, caracterizada por exantema polimorfo difuso.
A prevenção é feita por vacinação, sendo aplicada em crianças aos 15 meses e aos 4 anos. É recomendado que os adolescentes e adultos, que
nunca tiveram a doença, façam duas doses da vacina. Os infectados previamente mantêm imunidade natural pela vida toda.
A infecção congênita é pouco frequente e observada principalmente no segundo trimestre de gestação.
Os sinais e sintomas neonatais característicos mais encontrados são:

• Lesões cicatriciais na pele;


• Malformações de membros ou dedos;
• Atrofia cortical cerebral;
• Hidrocefalia;
• Distúrbios sensoriais;
• Coriorretinite;
• Catarata;
• Microftalmia.
Mais comum que a varicela congênita é a infecção perinatal. Neonatos, filhos de mães que adquiriram a doença em
A infecção materna em até 21 dias antes do parto está associada à até 2 dias antes do parto ou até 5 dias depois, devem realizar a
doença e sua gravidade aumenta quanto mais perto do parto for imunoglobulina anti-varicela-zóster em dose única.
o acometimento. Os neonatos podem apresentar hemorragias, A vacinação é a melhor forma de prevenção, mas não pode
distúrbios pulmonares e hepáticos e irem a óbito em até 35% dos ser aplicada durante a gestação, por se tratar de uma vacina com
casos. vírus vivo, recomenda-se a sua aplicação pelo menos um mês antes
Para prevenção durante a gestação, gestantes suscetíveis da concepção. Caso a gestante seja vacinada inadvertida, deve-se
expostas à varicela devem receber imunização passiva, por meio tranquilizá-la, pois não há relatos de acometimento fetal.
da administração de imunoglobulina específica até 96 horas após O tratamento em caso de infecção neonatal confirmada deve
o contato. A administração recomendada é de 125 UI/10 kg, até a ser realizado com aciclovir endovenoso na dose de 60mg/kg/dia, a
dose máxima de 625 UI, via intramuscular. cada 8 horas, por 7 a 10 dias.

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CAPÍTULO

9.0 OUTROS
Essas doenças são menos frequentes e foram cobradas apenas como diagnóstico diferencial, então, vamos resumi-las para vocês.

9.1 DOENÇA DE CHAGAS CONGÊNITA

Essa infecção congênita raramente é diagnosticada, pois não megaesôfago.


há triagem obrigatória no pré-natal. Apenas alguns estados como O diagnóstico é baseado na busca do Trypanosoma cruzi em
Mato Grosso do Sul e Goiás pesquisam essa infecção. sangue periférico ou líquido cefalorraquidiano, ou sorologias. O
Além de abortamento, natimortos, prematuridade e tratamento neonatal é feito com Benzonidazol 7,5mg/kg/dia por
restrição de crescimento intrauterino, o neonato pode apresentar 60 dias e o índice de cura chega a 100% se iniciado até um ano de
hepatoesplenomegalia, icterícia, meningoencefalite, tremores, idade.
convulsões, pneumonite, deficiência visual, megacólon e

9.2 DENGUE CONGÊNITA

A dengue congênita é frequentemente subdiagnosticada. No mundo, há poucos casos relatados da doença. Os neonatos podem
apresentar plaquetopenia, malformações do tubo neural, prematuridade e baixo peso ao nascer. As manifestações ainda podem mimetizar
um quadro de sepse neonatal.

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CAPÍTULO

10.0 TABELA COMPARATIVA DAS PRINCIPAIS


INFECÇÕES CONGÊNITAS

Características Toxoplasmose Citomegalovírus Rubéola Parvovírus Zika vírus

Toxoplasma RNA vírus Parvovírus Arbovírus do


Etiologia DNA herpesviridae.
gondii-protozoário. togavirus. B19- DNA vírus. gênero Flavivírus.

Ingestão de
Contato
oócitos em Picada do
interpessoal
comida, água ou Contato com mosquito
íntimo e Via respiratória e
Transmissão solo contaminado fluidos corporais Aedes
prolongado por sanguínea.
ou ingestão de cistos infectados. aegypti e via
gotículas da
em carnes cruas ou sexual.
nasofaringe.
malcozidas.

Via transplacentária,
Via transplacentária,
Transmissão raramente no parto Via Via Via
raramente no parto
vertical e na transplacentária. transplacentária. transplacentária.
e amamentação.
amamentação.

Doença
Eritema
Eritema exantemática,
maculopapular
Febre, mialgia, infeccioso na febre,
Quadro centrífugo,
Manifestação linfadenomegalia infância, adultos mialgia,
mononucleose- febre, cefaleia,
clínica cervical, rash, assintomáticos artralgia,
símile. conjuntivite,
coriorretinite. , aplasia conjuntivite,
coriza, tosse e
eritrocitária. cefaleia,
linfadenomegalia.
prurido.

Surdez,
Tétrade de Sabin: Microcefalia,
restrição de Surdez, defeitos
Coriorretinite, microftalmia, pé
crescimento, cardíacos,
hidrocefalia/ Anemia, torto congênito,
Manifestação microcefalia, alterações
microcefalia e hidropisia fetal não artrogripose,
congênita ventriculomegalia, oculares e
calcificações imune. hidropisia,
calcificações alterações
intracranianas, restrição de
intracranianas neurológicas.
retardo mental. crescimento.
periventriculares.

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Características Toxoplasmose Citomegalovírus Rubéola Parvovírus Zika vírus


Sorologia IgM
Sorologia IgM Sorologia IgM
positivo, Sorologia e
Diagnóstico positivo, teste de positivo, teste de Sorologia IgM
teste de avidez PCR no sangue
materno avidez abaixo <16 avidez abaixo <16 positivo.
abaixo <16 materno.
semanas. semanas.
semanas.

Alteração do PVS-
PCR positivo no PCR positivo no PCR positivo no PCR positivo no
Diagnostico fetal ACM indica anemia
líquido amniótico. líquido amniótico. líquido amniótico. líquido amniótico.
fetal .

Sorologia IgM.
Sorologia IgM e IgA
Isolamento viral na Isolamento viral
positivas ou IgG após
urina e na saliva. em orofaringe, Exames Exames
Diagnóstico 12 meses.
Exames liquor, urina. complementares e complementares
pós-natal Exames
complementares e Exames especializados. e especializados.
complementares e
especializados. complementares
especializados.
e especializados.

Valaciclovir até Transfusão


Conduta na Profilaxia fetal:
20 semanas de sanguínea
gestação espiramicina
gestação. intraútero.

Sulfadiazina,
pirimetamina e ácido
folínico. Associar
Tratamento Ganciclovir e Não há Não há
corticoterapia
neonatal valaciclovir tratamento. tratamento.
na presença de
proteinorraquia ou
coriorretinite.

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CAPÍTULO

11.0 CARACTERÍSTICAS-CHAVE DAS PRINCIPAIS


INFECÇÕES CONGÊNITAS

SÍFILIS CONGÊNITA

TOXOPLASMOSE
CMV

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RUBÉOLA ZIKA

VARICELA-ZÓSTER HERPES

fonte: Shutterstock

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CAPÍTULO

13.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de
Notificação e Investigação: Toxoplasmose gestacional e congênita. 2018.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico Especial. Vigilância em saúde no Brasil 2003-2019.
2018.
3. Universidade Federal da Bahia. Protocolo de infecção na gravidez. 2016.
4. FEBRASGO. Guia prático: infecções no ciclo gravídico-puerperal. 2016.
5. Zugaib obstetrícia 4 ed. Manole 2020.
6. Neu N, DuchonJ, ZachariahP. TORCH infections.Clin Perinatol 2015;42:77.
7. FEBRASGO. Coleção FEBRASGO Medicina Fetal. Elsevier 2012.
8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico Especial. Síndrome congênita associada a infecção
pelo vírus Zika. 2018.
9. Pena LT, Importância do teste de avidez da imunoglobulina G ( IgG) anti- Toxoplasma Gonddi no diagnóstico da toxoplasmose em gestantes.
Rev Inst Adolfo Lutz. 2013; 72(2):117-23
10. Kieffer F, Congenital toxoplasmosis. Handbook of Clinical Neurology, Vol. 112 (3rd series)
11. Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria – 5a Edição.
12. Nelson textbook of pediatrics – 21ª edição.

CAPÍTULO

14.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Lembrem-se que aqui no Estratégia MED temos o Fórum de dúvidas!
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Natália Carvalho
Helena Schetinger

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