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Ensaio sobre a impossibilidade de uma psicologia Tomista (Parte 1)

No Brasil, graças as iniciativas do professor Sidney Silveira, do Centro Dom Bosco e do professor
Carlos Nougué, Santo Tomás de Aquino tem sido retomado em diversas áreas do conhecimento
como a salvação do Brasil atual. Com isso, surgiu um movimento dentro da área da psicologia
que se auto intitula “psicologia tomista” e que consiste em uma aplicação deliberada da
antropologia filosófica do aquinate, presente em sua Suma Teológica, aos casos de transtorno
mentais, juntamente de uma separação dualista entre corpo e alma em que, durante o
tratamento, o psiquiatra cuida dos aspectos corporais do paciente, enchendo-o de remédios, e
o psicólogo “tomista” cuida de sua alma. Sendo que, muitas vezes, o psicólogo simplesmente
ignora os aspectos corporais, que são capazes de causar transtornos mentais, e trata apenas da
alma como se ela fosse o mais importante.

Ora, aqui já encontramos alguns problemas. Primeiro, Santo Tomás admite o corpo e a alma
como uma unidade, sendo a alma a forma do corpo e o corpo a matéria. Logo, se o corpo for
afetado, a alma também será afetada, da mesma forma que se ele for tratado a alma também
receberá algum benefício. Portanto, a dualidade corpo e alma é totalmente anti-tomista.

Segundo, a finalidade da psicologia “tomista” nunca é bem esclarecida pelos psicólogos que a
utilizam como abordagem. A medicina, por exemplo, é uma arte que tem como finalidade a
saúde e a alcança através dos estudos das causas das doenças, seu tratamento mais
adequado e das causas da saúde do corpo humano. Afinal, qual a finalidade da psicologia? A
psicologia é uma arte que tem como finalidade a saúde mental e a alcança através do estudo
das causas psíquicas, dos transtornos mentais e de seus respectivos tratamentos. A dita
psicologia “tomista”, no entanto, permanece um mistério com áureas de mística e discurso
filosófico e teológico. Para tratar a alma existe o diretor espiritual, geralmente um padre, para
tratar o corpo existe o médico e para tratar a psiquê humana existe o psicólogo. Todos esses
aspectos precisam ser tratados de forma conjunta sem que um se sobreponha ao outro como
mais importante.

Peguemos um caso prático e, infelizmente, muito comum nos consultórios de psicologia: Um


jovem com depressão severa e tendências suicidas. Um psicólogo de linha comportamentalista
irá passar exercícios que estimulem mudanças de hábitos do paciente para que ele, aos
poucos, vá substituindo os maus hábitos por bons hábitos, sem fazer um discurso filosófico-
religioso, e tratando o corpo de forma estritamente biológica, juntamente do psiquiatra. O
psicólogo de linha “tomista” irá discursar sobre a importância da Beleza, do Bem e da Verdade
e, juntamente disso, dizer que a depressão acontece porque o jovem sofre de ácidia e que o
suicídio é uma covardia que irá levá-lo para o inferno. Geralmente, o psicólogo
comportamentalista consegue curar o paciente de forma mais rápida e eficiente justamente
porque ele busca as causas físicas do problema e apresenta soluções concretas e rápidas para o
paciente, trabalhando em conjunto com o
psiquiatra, ou seja, ele cumpre a finalidade da ciência psicológica. O psicólogo tomista muitas
vezes piora ainda mais a situação do paciente, gerando ainda mais neuroses e não
apresentando soluções concretas, eficientes e rápidas. Isto acontece por conta da falta de uma
finalidade bem definida, da falta de estudos e de uma técnica bem desenvolvida.
Nenhuma antropologia filosófica irá curar um homem de uma depressão severa que o leva a
odiar a própria vida e a desejar o suicídio. Chamar isso de acídia é absurdo e diabólico, pois, se
a acídia é um movimento deliberado da vontade que decide rejeitar qualquer bem de ordem
espiritual, quem, em sã consciência, irá desejar ter
depressão por enxergar a própria existência como um fardo e querer cometer suicídio?
Portanto, a turma da psicologia “tomista” se utiliza da obra de Santo Tomás para propagar
charlatanismo místico e piorar a situação dos pacientes.

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