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5902/1984644438111
RESUMO
A partir do cenário da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, decidiu-se realizar
uma investigação do sistema avaliativo na EJA, considerando a cidade de Vila
Velha, no Espírito Santo, buscando-se detectar a adequação do procedimento
avaliativo na perspectiva de professores e estudantes. Tomou-se como objetivo
geral, portanto, estabelecer um panorama de como estudantes e professores das
escolas investigadas compreendem a avaliação, se entendem que os métodos são
satisfatórios e adequados para a construção de uma formação plena e crítica.
Metodologicamente, a pesquisa teve caráter misto, ou seja, em parte abordou o
tema de forma qualitativa e bibliográfica, e, em parte, ofereceu análise quantitativa,
descritiva e interpretativa. Empreendeu-se a pesquisa através de questionários, bem
como realização de entrevistas, com amostra de 200 estudantes e 50 docentes.
Constatou-se que embora os educadores tenham claras concepções em torno das
especificidades de trabalho com a EJA, dificuldades e de todo o ambiente dos
alunos, no que toca ao processo avaliativo, continuam mantendo a distribuição de
60% dos pontos por meio de prova escrita. Além disso, 60% dos estudantes pensam
com certa frequência em desistir dos estudos por medo das notas e provas, apesar
de considerarem que o sistema avaliativo é justo. Concluiu-se que há uma
necessidade, para o desenvolvimento da EJA, de se abandonar a metodologia
avaliativa quantitativa, partindo-se para um novo modelo, que envolva efetivamente
o aluno, fomentando a avaliação mediadora do ensino-aprendizagem, como
diagnóstico do que deve ser melhorado por todos os envolvidos no processo
educativo.
Palavras-chave: Ensino-Aprendizagem; Procedimentos Avaliativos; Educação
Mediadora.
ABSTRACT
Based on the scenario of Youth and Adult Education in Brazil, it was decided to
investigate it, considering the city of Vila Velha, in Espírito Santo, seeking to detect
the appropriateness of the evaluation from the perspective of students and teachers.
The general objective was to establish an overview of the students and the teachers,
about how they comprise the evaluation, if it is appropriate for a critical formation of
students. Methodologically, this paper had mixed characteristics; that is, we
approached the subject in a qualitative and bibliographical way, and, in part, offered
the quantitative, descriptive and interpretative analysis. The investigation was
conducted through questionnaires, as well as interviews, with a sample of 200
students and 50 teachers. It was found that, although educators understand well the
specificities of working with Youth and Adult Education, the difficulties and the
environment of the students, they continue to distribute 60% of the points by means
of proof writing. In addition, 60% of students often think about dropping out of school
for fear of grades and tests, even though they believe the system is fair. It was
concluded that there is an important task for the development of Youth and Adult
Education, to abandon a quantitative methodology, starting with a new model, which
involves the students, promoting a mediating evaluation of teaching-learning, such as
a diagnosis of which must be improved by all those involved in the educational
process.
Keywords: Teaching-Learning; Evaluation Procedures; Moderator Education.
Introdução
desenvolver não apenas atividades impostas, mas a si mesmos, haja vista serem
dotados de consciência, capazes de tomar suas próprias decisões, e que intervêm,
pensam, que se refazem e (re)constroem tornando-se seres éticos.
Nesse contexto, o significado da avaliação dos estudantes deveria deixar de
ser um reduzido instrumento de verificação do rendimento para se tornar um dos
principais elementos que norteiam o processo de ensino-aprendizagem. Como
apontou Luckesi (1995), o recurso avaliativo precisa incidir sobre os aspectos
globais da educação, tanto mensurando o desenvolvimento e aprendizado do aluno,
quanto a eficácia do trabalho docente, sua metodologia e estratégias pedagógicas, o
que gera uma nova percepção de que o aluno não é mais o único a ser avaliado.
O passo inicial em prol de uma compreensão mais coesa da avaliação escolar
é a busca por teorias mais amplas, que procurem explicar as relações entre
indivíduos, educação e sociedade. Como afirma Soares (1991, p. 67), “é nessa
direção que se situam críticas denunciando a função de controle social que a
avaliação educacional exerce, reforçando e justificando a seleção e discriminação
sociais inerentes à sociedade capitalista”. Reconhecer isso significa reconhecer que
a avaliação é um objeto social e que todo o seu processo está, portanto, socialmente
determinado. O reconhecimento da determinação social da avaliação é, pois, o
primeiro passo em direção à construção de uma nova lógica da avaliação, e abre
outras alternativas para a produção do conhecimento nessa área, o que justifica o
presente trabalho social e academicamente.
Foi a partir desse cenário inicial que se decidiu realizar uma investigação mais
ampla do sistema avaliativo na EJA, considerando a cidade de Vila Velha, no
Espírito Santo, fundamentando a pesquisa em uma pergunta norteadora: Os
procedimentos avaliativos utilizados na EJA em Vila Velha são satisfatórios e
adequados para a construção de uma formação plena de seus estudantes?
Ao todo, 21 escolas do município oferecem EJA, das 18:20 às 22 horas,
funcionando com turmas divididas por faixa etária, em salas com capacidade de
atendimento de 35 a 40 alunos. Com relação ao currículo escolar, as instituições se
organizam seguindo o padrão estipulado pela Secretaria Municipal de Educação. Os
professores se reúnem e planejam suas aulas, sem seguir uma tendência
específica. Tais planejamentos ocorrem duas vezes por semana e têm duração de
50 minutos. Nesse período, os alunos ficam sozinhos em sala, concluindo alguma
atividade. Não há participação de pais ou alunos na seleção e desenvolvimento do
currículo.
Para que fosse possível delimitar melhor o estudo, optou-se por direcionar a
pesquisa para a Região V do município de Vila Velha, abarcando as seguintes
escolas: Umef Alger Ribeiro, Cidade da Barra; Umef Governador Christiano Dias
Lopes, São Conrado; Umef Aylton de Almeida, Terra Vermelha; Umef Professor
Darcy Ribeiro, Morada da Barra, e Umef Professor Paulo Cesar Vinha, Terra
Vermelha. Participaram da investigação 200 alunos e 50 professores.
Metodologicamente, esta pesquisa tem caráter misto, ou seja, em parte aborda
o tema de forma qualitativa, e, em contrapartida, também oferece análise
quantitativa, descritiva e interpretativa. Assim, optou-se, em primeiro momento, por
uma investigação bibliográfica, empreendida através da análise de livros, revistas,
publicações diversas, bem como demais meios de informações que dizem respeito à
avaliação educacional e à EJA. Posteriormente, empreendeu-se uma pesquisa de
campo, através de questionários direcionados a professores e alunos, bem como
realização de entrevistas.
Procurou-se analisar tanto as práticas pedagógicas, quanto o processo de
avaliação no escopo da EJA. Entretanto, como a pesquisa se desenvolveu no
âmbito do doutoramento, entende-se necessário, para o presente artigo, uma maior
delimitação, e, dessa forma, tomou-se como objetivo geral, neste trabalho,
estabelecer um panorama de como estudantes e professores das escolas
investigadas compreendem a avaliação, se entendem que os métodos são
satisfatórios e adequados para a construção de uma formação plena e crítica.
Perpassaram-se os seguintes objetivos específicos: i. Discorrer sobre o ensino-
aprendizagem na EJA; ii. Abordar a teoria em torno do processo avaliativo; iii.
Apresentar dados e informações colhidas na Região V do município de Vila Velha
em torno, especificamente, dos procedimentos avaliativos nas escolas, entrelaçando
as percepções de estudantes e professores com o que os estudiosos afirmam sobre
o tema. Este artigo está disposto na ordem dos objetivos específicos, para, nas
Ensino-aprendizagem na EJA
democrático e libertador.
Pese ao direito constitucional de acesso à educação enquanto direito universal
à aprendizagem e ampliação de conhecimentos e saberes, encontra-se, agora, a
percepção da EJA no escopo da educação pública gratuita não apenas como uma
imposição em torno da escolarização, mas da própria formação do sujeito. A
mediação pedagógica não dever ter como pressuposto os moldes utilitaristas,
imediatistas, mas é preciso entender que a busca do conhecimento deve partir de
um processo de aprendizagem, ou seja, dos princípios reais de vida do aluno
(LAFFIN, 2011).
As experiências e circunstâncias culturais, históricas e sociais contribuem para
promover constantemente situações de aprendizagem e do desenvolvimento
psicológico. É fundamental perceber quem é esse sujeito com o qual se lida, para
que os conteúdos a serem trabalhados façam sentido, tenham significados, sejam
elementos concretos na sua formação, instrumentalizando-o para uma intervenção
significativa na sua realidade. Entende-se, assim, que é através da história de vida
que se pode analisar o processo de escolarização dos alunos da EJA. Por meio do
contexto social, das experiências de vidas desses sujeitos, tanto professores, quanto
educandos traçam objetivos para que esse processo de aprendizagem seja
construído. Nesse sentido, Piconez (2002) pontua que:
Importa trazer para a sala de aula as vivencias do aluno, colhidas em seu
meio ambiente e que estão relacionadas com os conteúdos escolares.
Poder-se-ia, dessa forma, enriquecer os meios didáticos usualmente
empregados, além de atingir a tão almejada valorização e priorização do
aluno. Isso tem mostrado que a qualidade de ensino pode trazer no seu
bojo a melhoria da auto-estima do aluno, que é mais uma condição para sua
efetiva autonomia no processo de aprendizagem. (PICONEZ, 2002, p. 50)
Nos dizeres de Paulo Freire (2008), a educação deve ser permeada pela
contextualização do mundo. Deve-se ensinar a partir da vivência e da realidade do
aluno, em sua diversidade. Observa-se que a metodologia de ensino desenvolvida
pelo educador foi inovadora, na medida em que ensinava através da palavra
mediatizada pelo mundo. Nessa perspectiva, Laffin (2011) declara que somente por
meio da mediação do professor haverá possibilidades de aprimorar os
conhecimentos ditos do mundo letrado, entendendo que essa mediação não permite
[...] que se conheça esse aluno adulto, sua história de vida, suas
experiências e necessidades, seus processos operatórios de aprendizagem;
que se considere toda e qualquer bagagem anterior à escola – seus
conhecimentos prévios adquiridos em sua cultura de origem, valores,
crenças, em seu ambiente de trabalho etc.; que se considere que sua
capacidade de aprendizagem é potencialmente capaz de apropriação dos
conteúdos científicos e formais; que se tenha como resultado a ampliação
das capacidade de estabelecer relações entre sua bagagem e o
conhecimento novo, com significado, e que respeite o direito que ele tem de
utilizar tanto o conhecimento novo como o anterior, na lida de seu cotidiano
(PICONEZ, 2002, p. 98).
Procedimento Avaliativo
A utilidade da avaliação deve ser reconhecida pelo aluno, porque ele precisa
ser visto como um ser crítico e social, sujeito do seu próprio desenvolvimento.
Hoffmann (1998, p. 23), afirma que “a função seletiva e eliminatória da avaliação é
responsabilidade de todos. A avaliação, na perspectiva de uma pedagogia
sintam estimulados, mas esse estímulo viria da prática avaliativa constante, sem que
os próprios estudantes tenham a oportunidade de discutir suas notas, de interagir
com seu processo avaliativo? Não se pode ignorar que os professores, em sua
maioria, declararam que não discutem o processo avaliativo em sala. A
aprendizagem não é uma tarefa fácil. Os alunos da EJA são pessoas que já têm
certas experiências de vida, experiências que contribuem para o seu aprendizado.
Ainda assim, essas experiências não são suficientes para mantê-los na escola, pois
os fatores externos (família, trabalho), além da diversidade em sala de aula,
influenciam diretamente no ensino e na aprendizagem. Quando esses estudantes
pensam em abandonar os estudos porque têm medo de não conseguir alcançar nota
de aprovação suficiente, não se está deixando de lado a avaliação mediadora e
recorrendo à velha pedagogia, colocando o professor como uma espécie de juiz da
aprendizagem?
Considerações finais
maioria das aulas, ao passo que muitos estudantes afirmaram não realizar. E, além
disso, mostra-se um problema a ser solucionado o fato de a grande maioria dos
professores não discutirem a avaliação com os alunos. Caso o docente não saiba
como conduzir a educação e avaliação de jovens e adultos, fazendo com que eles
participem de todo o contexto, desde a sua definição e concepção até o resultado
final, acaba-se incorrendo nas mesmas práticas que se repetem, ao longo da
história, mas que não solucionam o grave problema que é ser excluído do direito à
educação plena e crítica.
Tomou-se, tal qual foi apontado inicialmente, como objetivo geral, estabelecer
um panorama de como estudantes e professores das escolas investigadas
compreendem a avaliação, se entendem que os métodos são satisfatórios e
adequados para a construção de uma formação plena e crítica. Constatou-se que os
professores se esforçam para cumprir sua parte e ofertar um ensino de qualidade ao
alunado da EJA, nas palavras deles mesmos, para recuperar o tempo perdido. A
EJA existe porque as questões sociais e econômicas nunca foram solucionadas,
porque os pobres sempre foram marginalizados, usados como mera mão-de-obra
para suprir as demandas econômicas, e, ainda hoje, com um ensino voltado à
profissionalização. Embora os educadores envolvidos na EJA, dentro das escolas
investigadas, tenham uma clara concepção em torno desses fatos, no que toca ao
processo avaliativo, continuam mantendo o sistema designado pela proposta
metodológica determinada pelo município, e distribuindo 60% dos pontos por meio
de prova escrita. Mesmo que 60% dos estudantes pensem com certa frequência em
desistir dos estudos por medo das notas, consideram que o sistema avaliativo é
justo, o que pode indicar ausência de um pensamento mais profundo e crítico acerca
do que se vive no próprio ambiente escolar e acerca do sistema a que se está
submetido. Ou seja, professores e estudantes entendem que o sistema avaliativo é
justo, mas esse pensamento, especialmente por parte dos estudantes, não parece
auxiliar na formação plena e crítica, inclusive porque não percebem que consideram
justo algo que lhes impulsiona a abandonar os estudos, ao menos para 60% deles.
Por sua parte, os professores demonstram se importar com o processo avaliativo,
com o entrosamento com os estudantes, mas, ainda assim, estão submetidos às
Referências
Correspondência