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Semiologia Neurológica
Reflexos:
→ São respostas motoras ou vegetativas que envolvem o SNA. São involuntárias e provocadas
por estímulos padronizados (fazendo -se o mesmo estímulo, espera -se sempre a mesma
resposta). Estes estímulos podem ser motores (martelo), fotomotores (luz) e sensitivos
(estímulo da pele em determinadas regiões).
→ Existem 3 tipos de reflexo:
1. Reflexos Proprioceptivos ou Profundos (ou Miotáticos ou de Tração Muscular): São
aqueles em que os receptores sensíveis à estimulação reflexa encontram -se no
ventre/interior do músculo, ou seja, no fuso neuromuscular. Geralmente usa-se o
martelo de reflexos para pesquisá -los.
2. Reflexos Exteroceptivos ou Superficiais : São aqueles em que os receptores sensíveis à
estimulação reflexa encontram -se na pele ou mucosa. Geralmente utiliza -se uma chave
ou objeto de ponta romba para pesquisá-los, como por exemplo no reflexo cutâneo -
plantar em que pode-se ou não encontrar o Sin al de Babinski.
3. Reflexos Interoceptivos ou Viscerais : São os reflexos responsáveis pela manutenção do
meio interno (exemplo: batimentos cardíacos, respiração, digestão , pressão) – envolve
as fibras do SNA. Não é utilizado na semiologia .
Reflexos profundos:
→ Arco reflexo: ao fazer a percussão de um tendão com o martelo, o músculo correspondente
faz um estiramento rápido de suas fibras musculares, estimulando e acionando os
receptores do fuso neuromuscular, que uma vez estimulados, levam o impulso nervoso at é
a medula, se conectando com o neurônio motor inferior que, por sua vez, leva o impulso
nervoso de volta até o músculo, determinando sua contração e, consequentemente, a
resposta reflexa.
→ Interpretação geral dos reflexos profundos:
O exame neurológico é metódico e comparativo, ou seja, deve -se obedecer uma
sequência para que não se esqueça de examinar nada e sempre deve -se comparar o
lado direito com o esquerdo, porção proximal e distal.
A resposta de um reflexo pode variar de pessoa para pessoa, podendo inclusive ser
influenciado pelo estado emocional – numa pessoa ansiosa, por exemplo, o reflexo
fica exaltado.
Todo sinal neurológico deve ser interpretado dentro de um contexto clínico. Por
exemplo, um paciente saudável pode estar com o reflexo patelar exaltado, o que não
significa nada, assim como pode ter reflexos abolidos e não ser nada também.
Os reflexos profundos podem ser muito discretos, mas são sempre presentes ,
constantes e são inesgotáveis (sempre que fizer estímulo, o reflexo estará lá e com
a mesma intensidade; sempre terá a mesma resposta ), diferente dos superficiais.
Por exemplo: se o examinador pesquisa um reflexo patelar e na primeira vez está
exaltado e na segunda vez es tá abolido é porque a pesquisa está sendo feita errada.
Carolina Alves Quintanilha – 25/09/2019
Todo reflexo tem seu nível de integração (em algum segmento medular ou tronco
encefálico), tem uma via aferente e outra eferente.
→ Nível de integração : É um nível do SNC em que a via aferente (que leva o impulso nervoso
para o SNC) faz conexão e se encontra com a via eferente (que leva o impulso nervoso
para periferia, para fora do SNC).
→ Hiperreflexia: Caracteriza síndrome do neurônio motor superior. Se estiver presente,
significa que a lesão está acima do nível de integração do reflexo.
Sinais clínicos de hiperreflexia:
Área reflexora aumentada: percute -se em diferentes pontos, havendo a mesma
resposta. Exemplo: no reflexo patelar, a área reflexora se encontra abaixo da patela,
porém se você percute em lugares próximos, como na coxa, ocorre o mesmo reflexo.
Obs: depois de percutir sobre a região correta do reflexo, deve -se percutir acima
para verificar se a área reflexora está aumenta e, portanto, há hiperreflexia. Numa
situação normal, ela não deve ter a mesma resposta que no lugar correto.
Período de latência curto: o tempo entre o estímulo e a resposta é curto.
Ponto de exaltação: Nem todo reflexo pos sui e são pontos específicos que se
percutidos produzem uma resposta reflexa que não ocorreria em uma situação normal.
Exemplo: no reflexo bicipital, faz -se a percussão no tendão distal do bíceps; quando
o reflexo está muito exaltado, ao percutir na região supraclavicular ou no epicôndilo
lateral do úmero, que são pontos de exaltação do reflexo bicipital , eles irão produzir
uma resposta reflexa, o que não aconteceria em uma situação normal .
→ Arreflexia: Pode caracterizar síndrome do neurônio motor inferior, mas também pode ser
encontrada em situações normais. Algumas pessoas possuem reflexo abolido globalmente
sem apresentar nenhum significado patológico e isso ocorre geralmente em pacientes
idosos, obesos ou pacientes muito musculosos. Em casos patológicos, a lesão pode estar no
nível de integração do reflexo, na via aferente ou na via eferente (raiz, plexo , nervo
periférico ou na placa motora).
Obs: o paciente não deve olhar para o reflexo para não o inibir.
→ Reflexos apendiculares = membros.
→ Reflexos profundos dos Membros Superiores:
Reflexo bicipital:
▪ A percussão é feita no tendão distal do músculo bíceps braquial, com o
antebraço do paciente em semiflexão e apoiado no braço do examinador. Coloca -
se o dedo polegar sobre o tendão e percute sobre o dedo , a fim de otimizar o
reflexo.
▪ Resposta: contração do bíceps e discreta flexão do antebraço sobre o braço.
▪ Nível de integração : C5*-C6.
São 2 níveis de integração, mas algumas raízes carreiam os impulsos nervosos
de forma predominante. A principal raiz do nível de integração do reflexo é o
principal nível de integração dele, que neste caso é o C5.
▪ Inervação: nervo músculo-cutâneo.
▪ Pontos de exaltação : região supraclavicular, processos espinhos cervicais,
epicôndilo lateral do úmero e acrômio da escápula.
Carolina Alves Quintanilha – 25/09/2019
Reflexo tricipital:
▪ A percussão é feita no tendão distal do tríceps, com o braço
do paciente em abdução e sustentado pelo examinador e sem
utilizar a interposição do dedo.
▪ Resposta: extensão do antebraço.
▪ Nível de integração : C7*-C8.
▪ Inervação: nervo radial.
▪ Pontos de exaltação : não possui.
Sinal de Hoffman:
▪ A falange média do dedo médio do paciente é fixada entre o segundo e terceiro
dedos do examinador (como se fosse um cigarro) e com seu polegar faz uma
flexão brusca da falange distal do paciente .
▪ Resposta: ausente ou uma discreta flexão dos dedos. Se o paciente fizer uma
flexão rápida do indicador e polegar, o sinal de Hoffman está presente , indicando
síndrome do neurônio motor superior.
▪ É uma variação do reflexo anterior, portanto, possui o mesmo nível de
integração e os mesmos nervos responsáveis.
→ Manobras de Reforço:
Os reflexos profundos são sempre constantes, porém, o paciente pode estar tenso,
não colaborativo, sentindo dor, o que pode atrapalhar o mecanismo de reflexo. Quando
isso ocorre, podemos usar as manobras de reforço, pois ela ativa mecanismos
facilitadores, tornando os reflexos mais visíveis ou perceptíveis. São manobras que
distraem o paciente, a fim de convergir a atenção do paciente para outro ponto e
facilitar o exame. Além disso, a contração de outro músc ulo durante a manobra,
possibilita que o músculo alvo em que pesquisa -se o reflexo fique mais relaxado.
Manobra de Jendrassik: Para facilitar o exame d os membros inferiores. Pede -se ao
paciente para entrelaçar os dedos das mãos e tracioná -los em sentidos opostos.
Carolina Alves Quintanilha – 25/09/2019
Trincar os dentes: Para facilitar o exame dos membros superiores. Pede -se ao
paciente para trincar os dentes.
Obs: Pode-se pedir ao paciente para realizar algum cálculo mental como manobra
facilitatória também.
Obs: Reflexo policinético é aquele que está muito exaltado (indica síndrome do neurônio
motor superior). Ocorre quando o paciente tem mais de uma resposta à uma única
percussão. É muito visível no reflexo patelar quando está exaltado.
CLONO: contração e relaxamento muscular alternam -se de forma rápida e sucessiva .
É observado quando o examinador ca usa um estiramento brusco de um músculo e
tenta manter o músculo estirado. Está presente apenas em casos de hiperreflexia e
indica síndrome do neurônio motor superior. Existem duas formas de se obter o clono:
▪ Clono do pé: O paciente pode estar sentado com as pernas pendentes ou deitado
(melhor posição). O examinador faz uma flexão dorsal do pé de forma passiva,
brusca e mantida. Se o clono for presente, ele se manifesta por uma série de
flexões plantares repetidas por vários segundos. O paciente pode relatar que
o pé está “tremendo”, mas na verdade, se trata de um clono.
Obs: Este exame pode ser feito com o paciente em coma.
Obs: Alguns pacientes têm o clono tão intenso que só de apoiarem a ponta do
pé no chão já desencadeia as flexões plantares sucessivas.
▪ Clono do quadríceps: o examinador com o dedo indicador e polegar segura
lateralmente nos bordos da rótula e desloca a mesma bruscamente para baixo
e tenta mantê-la nesta posição. Este clono quando presente manifesta-se por
um tremor grosseiro rápido da rótula (que faz ela voltar para cima).
Obs: é um exame menos fidedigno, pois pode ser um pouco doloroso.
Reflexos superficiais:
→ Ao contrário dos reflexos profundos, são facilmente esgotáveis (o reflexo some após
aproximadamente 3 pesquisas sucessivas) , não são tão consistentes e são polisinápticos
(possuem muitas vias). Seus receptores se encontram na pele ou na mucosa.
Carolina Alves Quintanilha – 25/09/2019
→ Reflexo Cutâneo-abdominal:
Pesquisa: estimula-se a pele do abdome com um objeto de ponta romba ( por exemplo:
chave) no sentido látero -medial em direção a cicatriz umb ilical (faz-se dos dois lados) .
Resposta: contração dos músculos abdominais ipsolaterais e desvio da linha alba e da
cicatriz umbilical para o lado estimulado .
Este reflexo está ausente em muitas pessoas, mas também pode estar presente
bilateralmente em outras. Portanto, só tem valor patológico se em um lado o reflexo
estiver presente e no outro não – o lado abolido indica lesão do neurônio motor
superior contralateral ( síndrome piramidal).
Obs: cuidado para não confundir! Neste caso, mesmo sendo trato piramidal (neurônio
motor superior), o reflexo não está aumentado, mas sim abolido, pois o trato pira midal
otimiza esse reflexo.
Obs: é um reflexo difícil de ver em pacientes obesos ou com flacidez abdominal ou
com cicatriz abdominal.
Nível de integração : T6 a T12.
→ Reflexo Cutâneo-plantar:
Pesquisa: estimula-se a borda lateral da planta do pé com um objeto de ponta romba
no sentido póstero-anterior, em direção do 2º e 3º pododáctilos (2° e 3° dedos).
Resposta normal: cutâneo-plantar em flexão – flexão dos dedos do pé.
Resposta patológica : cutâneo-plantar em extensão – extensão/flexão dorsal do hálux
= Sinal de Babinski (indica síndrome do neurônio motor superior).
Obs: cutâneo-plantar em extensão (invertido) – é normal em crianças até um ano de
idade, em sono profundo, estado pós- convulsivos e anestesia geral.
Se o reflexo estiver abolido (indiferente): lesão da via aferente ou eferente/fase
aguda da síndrome piramidal ou lesão do neurônio motor inferior (tudo depende do
contexto clínico).
Nível de integração : S1-S2
Inervação: nervo tibial.
Sucedânios de Babinski:
▪ São métodos alternativos para se estimular a extensão do hálux em lesões do
trato piramidal. São úteis em pacientes que sentem cócegas e tiram o pé ou
fazem algo que possa atrapalhar na hora da pesquisa do reflexo e que podem
Carolina Alves Quintanilha – 25/09/2019
deixar o examinador em dúvida , em pacientes em coma (exame neurológico é
mais difícil), ou quando fez muitas vezes e o reflexo já esgotou etc.
▪ Sinal de Chaddok: é o mais confiável e mais utilizado. E stimula-se a borda lateral
do pé em torno do maléolo externo com um objeto de ponta romba (faz -se uma
fricção, estimulando a pele lateral do pé em torno do maléolo externo). Em
situações normais não há resp osta nenhuma, mas se houver extensão do hálux
é o Sinal de Chaddok.
▪ Sinal Gordon: faz-se uma compressão da musculatura da panturrilha (aperta a
panturrilha).
▪ Sinal de Oppenhem: o examinador com os dedos polegar e indicador irá comprimir
a tíbia do paciente deslizando sobre ela até o final da perna (faz-se uma fricção
na face anterior da tíbia até o pé) .
▪ Sinal de Shafer: faz-se uma compressão do tendão de aquiles com os dedos
polegar e indicador.
Coordenação Motora:
→ A coordenação motora depende da:
Propriocepção consciente : são responsáveis – os receptores situados nas
articulações, tendões e músculos, o funículo posterior da medula, o lemnisco medial,
o giro pós- central do córtex parietal e o corpo estriado. O paciente com alguma
deficiência da propriocepção consciente consegue suprir com a visão.
Propriocepção inconsciente : depende da função cerebelar. O paciente com lesão no
cerebelo, não consegue suprir a deficiência com a visão.
Obs: Propriocepção – é a noção que o cérebro tem da posição e da velocidade das
partes do corpo no espaço.
→ Coordenação entre tronco e membros:
É avaliada primeiramente no equilíbrio estático e dinâmico e no teste de Romberg.
Manobra para pesquisar incoordenação de tronco e membros:
▪ O paciente deve estar em decúbito dorsal com os braços cruzados, pede -se
então para o paciente levantar-se desta forma (sem descruzar os braços) . Em
uma situação normal o paciente consegue se levantar. H á incoordenação entre
Carolina Alves Quintanilha – 25/09/2019
tronco e membros se o paciente não consegu e se levantar e eleva rapidamente
os membros inferiores, deixando -os cair no leito logo depois.
Obs: paciente obesos, gestantes e idosos tem maior dificuldade para realizar
esta manobra sem apresentar nenhuma alteração neurológ ica.
▪ Geralmente a lesão se encontra na região mediana do cerebelo (vermis
cerebelar).
→ Coordenação Apendicular:
Prova índex-nariz:
▪ O paciente estende lateralmente os mmss (abre os braços) e toca a ponta do
nariz com a ponta do indicador de forma alternada com os dois braços.
Prova índex-nariz-índex:
▪ O paciente irá tocar o nariz com a ponta do indicador e i mediatamente depois
irá tocar o dedo do examinador, repetindo o gesto de forma sucessiva (o
examinador vai mudando a posição do seu dedo durante a prova).
Carolina Alves Quintanilha – 25/09/2019
Prova calcanhar-joelho:
▪ O paciente deitado eleva uma da pernas e deve colocar o calcanhar desta mesma
perna sobre a patela da perna oposta e deslizar sobre a tíbia em linha reta até
o hálux.
Obs: a principal diferença entre a ataxia sensitiva e a cerebelar é o fechar dos olhos. Na
ataxia sensitiva, a marcha e a coordenação se tornam piores ou até mesmo impossíveis ao
fechar os olhos, o que não acontece na ataxia cerebelar, pois o cerebelo não é influenciado
pela visão.
Carolina Alves Quintanilha – 25/09/2019
Ataxia cerebelar Ataxia sensitiva
Lesão das vias da
propriocepção consciente.
Topografia da Lesão do cerebelo ou vias cerebelares
Locais mais comuns: funículo
lesão
posterior da medula ou
raízes dorsais.
Etiologia Álcool, avc, anticonvulsivantes Deficiência de vitamina B12,
neurosífilis, esclerose
múltipla
Romberg Não tem sinal de Romberg . Pode ter Romberg funicular ou
dança dos tendões. clássico.
Marcha atáxica cerebelar ou ebriosa. Marcha atáxica talonante ou
calcaneante.
Marcha O fechamento dos olhos praticamente
não interfere na marcha e na O fechamento dos olhos
coordenação. interfere na marcha e na
coordenação, piorando-as ou
tornando-as impossível.