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Antes, a atividade agrícola poderia ser caracterizada como um setor
autárquico, com equilíbrio interno próprio. A inserção de novos
métodos/equipamentos no sistema de produção e o desenvolvimento
das agroindústrias integraram o setor agrícola ao restante do sistema
econômico, a tal ponto que não é mais possível separá-lo dos setores
fornecedores de insumos e/ou compradores de seus produtos. Talvez
não seja mais possível tratar a atividade agrícola ou o mundo rural
identificando-o apenas com as atividades estritamente ditas rurais
(GRAZIANO DA SILVA, 2002).
SILVA, J. G. da O novo rural brasileiro. 2. ed. rev. Campinas: Instituto de Economia da Unicamp, 2002. (Coleção
Pesquisas, 1).
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1.2) Definições sistema agroindustrial,
complexo agroindustrial, cadeia de
produção agroindustrial e agronegócio
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1 Introdução
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1 Introdução
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INTRODUÇÃO
• Dois principais conjuntos de ideias geraram metodologias de
análise de problemas relacionados ao sistema agroindustrial:
1) Davis e Goldberg, no âmbito da escola de negócios de Harvard,
criaram o conceito de agribusiness (A concept of agribusiness, 1957)
e, posteriormente, usaram a noção de commodity system approach
(CSA).
2) Durante os anos 1960, no âmbito da escola industrial francesa, se
difundiu a noção de analyse de filière (cadeia de produção) – muito
utilizada por economistas agrícolas e pesquisadores ligados ao rural e
às agroindústrias (cadeia de produção agroindustrial - CPA).
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• No Brasil, essas ideias de um caráter sistêmico das atividades
agroindustriais ganharam maior importância nos meios
acadêmicos, empresariais e políticos no final dos anos 1980.
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Por que é importante olhar para a cadeia produtiva como um
todo? Fica mais fácil entender por meio de alguns exemplos:
i) Para manter/ampliar sua participação em mercados mais exigentes, como os
Europeus, as indústrias do abate precisarão garantir que a carne exportada
não tem conexão com desmatamento. Isso não é possível sem uma
coordenação com os elos anteriores da cadeia produtiva, onde ocorre a
produção do boi (cria, recria e engorda do boi).
ii) Ferramentas de gestão da qualidade na indústria de laticínios também
devem ultrapassar as fronteiras da firma e se situar no nível da cadeia.
iii) Indústrias como a de açúcar e álcool e de suco de laranja, para garantir o
controle do fornecimento da matéria-prima, têm adotado estratégias de
verticalização – essa estratégia da indústria afeta sobremaneira a produção
agrícola também.
iv) Há discussões sobre como o poder de mercado nas indústrias de insumos
pode estar capturando as margens de lucro da produção dentro da porteira.
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1 Introdução
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COMMODITY SYSTEM APPROACH E ANÁLISE DE FILIÈRES
Commodity System Approach:
• O conceito de agribusiness surgiu nos anos 1950 na Universidade
de Harvard, com os trabalhos de Davis e Goldberg.
• O objetivo era analítico: entender as relações e vínculos
intersetoriais – a análise separadamente dos setores primário,
secundário e terciário não era mais suficiente para explorar vários
dos problemas práticos naquele momento.
• O ambiente nos EUA era de especialização produtiva nas fazendas e
crescimento das indústrias de alimentos e isso pedia novas ferramentas de
análise, novas perspectivas.
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Commodity System Approach:
• Agribusiness: soma das operações de produção e
distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de
produção nas unidades agrícolas, do armazenamento,
processamento e distribuição dos produtos agrícolas e
itens produzidos a partir deles.
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Commodity System Approach:
• Em 1968, Goldberg usou a noção de commodity system
approach para estudar o comportamento dos sistemas de
produção da laranja, trigo e soja nos EUA.
• Pela simplicidade e coerência do aparato teórico com
resultados uteis e certeiros: a aplicação foi um sucesso.
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Análise de filières:
• A análise de cadeias de produção é uma das ferramentas da
escola francesa de economia industrial.
• Há grande variedade de definições e conceitos. Mas, há três
elementos que estariam ligados a uma cadeia produtiva:
1) é uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, mas
ligadas entre si por um encadeamento técnico;
2) é um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem
um fluxo de troca entre todos os estados de transformação;
3) é um conjunto de ações econômicas que presidem a valoração dos
meios de produção e asseguram a articulação das operações.
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Análise de filières:
• Uma cadeia de produção agroindustrial (CPA) pode ser
segmentada, de modo geral, em três macro-segmentos:
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CPA 1 CPA 2
PRODUÇÃO
INSUMOS INSUMOS INSUMOS
Operação 7 Operação 8
Operação 12 Operação 13
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NÍVEIS DE ANÁLISE DO SISTEMA AGROINDUSTRIAL
• Na literatura no Brasil ainda há confusão entre as
expressões Sistema Agroindustrial, Complexo
Agroindustrial, Cadeia de Produção Agroindustrial e
Agronegócio.
• São expressões relacionadas mas que refletem níveis de
análise diferentes do Sistema Agroindustrial.
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Sistema agroindustrial (SAI):
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Sistema agroindustrial (SAI):
• Representação esquemática do SAI (modificado da versão do livro):
Indústrias de apoio
Combustíveis; Indústria química; Indústria mecânica; Ind. Eletrodomésticos; Embalagens; Serviços
financeiros, jurídicos, contábeis, entre outros.
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Sistema agroindustrial (SAI):
• Sobre o macro segmento industrial: em geral, assume-se que
engloba empresas de 1ª, 2ª e 3ª transformação:
• 1ª transformação: responsáveis pelos primeiros processos de
transformação (como trituração e moagem de matérias primas
vegetais, por exemplo). Seus produtos podem ser fornecidos
ao consumidor final ou servir como matérias-primas para as
indústrias de 2ª e 3ª transformação.
• 2ª transformação e 3ª transformação: promovem a geração
de produtos mais elaborados (tortas, pizzas, refrigerantes,
doces, vestuários, móveis, etc.)
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Complexo agroindustrial (CAI):
• Tem como ponto de partida determinada matéria-prima
agropecuária.
• Exemplos: complexo soja, complexo leite, complexo cana-de-
açúcar, complexo café.
• A arquitetura do CAI é ditada pela da matéria-prima principal
que o originou, passando pelos diferentes processos
industriais e comerciais que ela pode sofrer até se
transformar em diferentes produtos finais.
• Assim, o CAI pode exigir a participação de um conjunto de
cadeias de produção.
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Cadeia de produção agroindustrial (CPA):
• Diferentemente do complexo agroindustrial, é definida a partir
do produto final.
• Após esta identificação, encadeia-se de jusante a montante as
várias operações técnicas, comerciais e logísticas necessárias a
sua produção.
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1 Introdução
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APLICAÇÕES DO CONCEITO DE CADEIA
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Metodologia de divisão setorial do sistema produtivo:
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Formulação e análise de políticas públicas e privadas:
• Nesse enfoque, o conceito é usado fundamentalmente para
identificar os elos fracos de uma cadeia de produção e
incentivá-los através de uma política adequada.
• Embasado na visão de que o sucesso de uma CPA depende do
desenvolvimento harmonioso de todos seus agentes.
• O enfoque de cadeia permite : i) uma visão global do sistema,
evidenciando a importância da articulação entre os agentes
privados, o poder público e os consumidores; ii) uma melhor
coordenação entre os agentes envolvidos diretamente com as
atividades da CPA e os agentes “de apoio”, entre os quais se
destaca o governo.
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Ferramenta de descrição técnico-econômica:
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Metodologia de análise da estratégia das firmas:
• Agentes econômicos buscam maximizar os lucros: a relação
da firma com seu ambiente concorrencial é essencial na
definição de estratégias.
• Esse é um dos pontos fortes da análise de CPA: entender
as relações tecnológicas e econômicas da firma e então os
posicionamentos estratégicos.
• Exemplo de estratégia – diversificação: após avaliar as
vantagens ligadas à entrada em outro setor em função das
ligações comerciais e tecnológicas com a atividade atual da
empresa, uma usina de açúcar e álcool decide atuar na
produção de cana-de-açúcar a montante.
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Análises de competitividade:
• Abordagens usuais de competitividade focam na competividade
das firmas; a competitividade de um setor ou nação seria a
soma da competitividade dos seus agentes (firmas).
• Nos agronegócios, um conjunto de especificidades resulta na
definição de um espaço de análise diferente: a CPA.
• A competitividade nesses casos não pode ser vista como a
simples soma da competitividade individual dos seus agentes.
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GERENCIAMENTO DE SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS
• Um sistema agroindustrial deve ser gerido de forma
eficiente e eficaz:
• Eficácia: capacidade e atender às necessidades do
consumidor.
• Eficiência: capacidade de disponibilizar produtos com nível
adequado de qualidade e preço.
• Gestão interna: controle de custos, qualidade, logística,
planejamento e controle da produção, compras, vendas
etc., devem ser geridas eficientemente.
• Entre agentes da CPA: a eficiência é dependente de uma
coordenação adequada dos agentes produtivos.
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GERENCIAMENTO DE SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS
• Naturalmente, as condições para atingir patamares aceitáveis
de eficiência e eficácia existem num contexto mais amplo que
envolve aspectos legais, sociais, culturais, tecnológicos e
econômicos (revelam ameaças e oportunidades).
• Essa discussão não é exclusiva de sistemas agroindustriais
(SAI); mas, os SAI possuem especificidades que ressaltam a
importância do desenvolvimento de um ferramental próprio
de modelos e técnicas de gerenciamento.
• Há inadequação de grande parte das ferramentas modernas de
gestão desenvolvidas para setores outros que o agroindustrial.
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Especificidades dos sistemas agroindustriais de produção:
• Sazonalidade de disponibilidade de matéria-prima:
aprovisionamento de matérias-primas sujeito a regimes de
safra e entressafra; gera dificuldades para a rentabilidade,
planejamento e controle da produção industrial.
• Variações de qualidade de matéria-prima: agropecuária
está sujeita a variações climáticas e de técnicas de manejo,
o que pode ter impactos profundos na qualidade final do
produto industrial; padronização e regularidade de padrões
de qualidade podem ficar comprometidas.
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Especificidades dos sistemas agroindustriais de produção:
• Perecibilidade da matéria-prima: produtos agropecuários
perecíveis devem ser transformados rapidamente; gera
dificuldades de logística, de planejamento da produção;
• Sazonalidade de consumo: há algumas importantes variações
de demanda ao longo do ano (Ex. Páscoa (chocolates); Dia da mulher
(Flores); Quaresma (Ovos); Verão (Laranja)).
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REFERÊNCIAS
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