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GÊNERO E HUMANISMO NA FORMAÇÃO DE ALUNAS DE


PSICOLOGIA

Arlete Salante1 - SETREM –


Sociedade Educacional Três de Maio.
Subtema 4– Os valores do humanismo-histórico na educação contemporânea

Resumo

Estereótipos, violências físicas e psicológicas inferiorizam as mulheres e provocam


adoecimento mental. O Conselho Federal de Psicologia, em uma pesquisa nacional traça o
perfial dos profissionais e aponta a escassez de investigação e intervenção por parte das
Psicólogas no Brasil. Atento a demanda, o CFP disponibiliza materiais de apoio e contribui
com a formação profissional. Assim, inseriu-se num componente curricular do curso de
Psicologia a temática de gênero em paralelo ao Humanismo. Manteve-se presente nas aulas o
método fenomenológico que busca o em-si-da-coisa, que se revela no encontro. Este trabalho
tem por objetivo relatar e refletir sobre a experiência docente envolvendo a temática de
gênero por meio da apresentação da percepção das alunas sobre a inserção desta temática na
graduação em psicologia, associada a visão de homem no Humanismo. Como resultados, os
depoimentos revelam a vivencia e a tomada de consciência, das alunas que ampliaram a
compreensão de si mesmas. Considera-se a experiência exitosa.

Palavra-chave: psicologia, gênero e Humanismo

1. INTRODUÇÃO
O Conselho Federal de Psicologia desenvolveu uma pesquisa com o objetivo de compreender
como é a relação entre as psicólogas e a Psicologia. Foi traçado um perfil da profissão com
inúmeros dados que apontam lacunas. Uma delas é que apenas 1% das psicólogas
entrevistadas declarou trabalhar com questões de gênero, embora 89% dos profissionais são
mulheres (LHULIER, 2013).
Conforme Lhullier (2013), este dado evidencia a escassez de investigações científicas e de
intervenções de Psicólogos no Brasil sobre as relações de poder entre os sexos e os temas do
feminino e da mulher. Ressalta-se que o Conselho Federal de Psicologia, atento ao risco da
não identificação das problemáticas de gênero na saúde mental, contribui disponibilizando
entrevistas, vídeos, artigos e livros.
O objetivo deste estudo é relatar e refletir sobre a experiência docente envolvendo a temática
de gênero por meio da apresentação da percepção das alunas sobre a inserção desta temática
na graduação em psicologia, associada a visão de homem no Humanismo.

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Psicóloga, Psicoterapeuta, Professora na graduação. Doutoranda em Psicologia na UCES- Buenos Aires –AR.
MBA Busines Intuition na Antonio Meneghetti Faculdade- Recanto Maestro- R; Especialista em Psicologia
Clínica pelo IGTB- Brasília-DF; Especialista em Política e Gestão de ONGs pela UNB- Brasília DF. E-mail:
arletesalante@gmail.com
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2. DESENVOLVIMENTO

No primeiro semestre de 2016 inseriu-se no componente curricular de Gestalt-Terapia,


ofertado no 9ª semestre do curso de graduação em Psicologia da SETREM, as temáticas de
gênero em paralelo aos valores e a visão de homem do Humanismo. Margherita Carotenuto
ao descrever a pedagogia do Humanismo no período do Renascimento, aponta o retorno da
consciência positiva do homem como valor, enquanto portador da humanitas, indo além da
contingência histórica (CAROTENUTO, 2013). Buscou-se com o grupo de vinte alunas, o
nascimento deste lugar psíquico para seu autoconhecimento e autorrealização. Pautou-se as
discussões com aa perspectiva humanista, que transcende as barreiras culturais e sociais,
colocando o homem no centro de sua vida. Como estratégia para fazer frente aos modelos
fixos mentais que se representam em papéis sociais. Pois, sabemos que as condições de vida
de muitas mulheres no mercado de trabalho, na vida familiar e social, são permeadas de
mandatos de gênero que dificultam a autonomia e o empoderamento feminino.
Manteve-se presente o método fenomenológico que busca o em-si-da-coisa que se revela no
encontro (PETRELLI, 2001), para isso buscou-se realizar aulas vivas. Utilizou-se dos vídeos
do curso “Saúde Mental e Gênero” 2que esclareceu os dispositivos de gênero feminino e o
adoecimento mental. A coleta dos depoimentos escritos ocorreu no encerramento do
componente em julho de 2016 com o objetivo de perceber o vivido de cada aluna.

3. RESULTADOS

Como resultados, os depoimentos revelam percepções, reflexões, verdades e equívocos de


consciência que, muitas vezes a educação feminina planta no psiquismo da mulher. Também
mostram a importância dos olhares de gênero para sua formação profissional, a perspectiva de
empoderamento humano presente no Humanismo. Transcreve-se, para análise e reflexão, dois
depoimentos, preservados de autoria.
“Creio que esse semestre pode ser resumido na palavra ‘crescimento’, além de pessoal, o acadêmico e o futuro
profissional foram bem discutidos neste componente pois, consegui transcender, consegui absorver e entender
questões que me fizeram compreender melhor o todo e as partes de mim mesma, bem como da minha futura
profissão. Poucos componentes nos fazem refletir tanto e ver as coisas sobre nós mesmos que até então não
tínhamos conhecimento. Obrigada Profe.! Por fazer-nos pensar e criar.”
“ Hoje em particular, após assistir os vídeos da Psic. Valeska Z., eu consegui me identificar e entender o quão
importante é debatermos sobre o tema: gênero. Confesso que por muito tempo eu achei as feministas chatas,
cheias de ‘mimimis’. Agora e sinto um pouco envergonhada por ter pensamentos tão pequenos, por não
conseguir enxergar o quão duro é para as mulheres não poderem se empoderar de suas habilidades, escolhas,
carreiras, etc. Em relação a minha profissão, creio que este tema transformou minha visão Psi. Agora eu
entendo o impacto que o machismo e o sexismo têm na saúde mental das mulheres! Hoje eu aprendi que ‘só é
livre quem sabe dizer não’!!
Percebe-se nestes e em mais dezoito depoimentos uma tomada de consciência, pelos próprios
sentidos das alunas que ampliaram a compreensão de si mesmas, pressuposto inicial de uma
formação profissional responsável. Conforme Vidor (2014) é prioritária a construção pessoal
que organiza o mundo externo conforme o mundo interno.
Também pode-se refletir sobre o conceito de teto de vidro: “Segundo este conceito, o medo, a
inibição da agressão, as identificações alienantes e a obediência limitam a personalidade da
mulher e confirmam uma existência empobrecida; uma ordem cultural que impede superar os
mandatos do gênero.” (ALIZADE, 2007, p.46). A autora traduz a metáfora da estrutura
fechada e restritiva que existe no mundo interno e externo.

2 Saúde Mental e Gênero. Vídeo disponível em: https://saudementalegenero.wordpress.com/2016


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Percebe-se nos depoimentos um desejo pela verdade, pela liberdade de ser, que as vezes é
restrita nos limites do conhecimento ou nos conflitos com seus meios. Percebe-se os
estereótipos limitantes estão presentes na psicologia, na cultura, na educação familiar e
principalmente dentro do psiquismo feminino inibindo a própria força e restringindo sonhos e
aspirações. Zanello (2016) questiona a psiquiatrização das mulheres que sofrem por questões
de gênero apontando para a necessidade da autocrítica e a necessidade de produção de
conhecimento.
Através de Meneghetti ressaltamos que: “Para compreender o que é a graça na mulher, é
preciso antes enfrentar o aspecto negativo. Toda mulher – ainda que não compreenda, ainda
que não saiba a fundo – percebe constantemente em si mesma uma divisão” (MENEGHETTI,
2013, p. 35). O autor elabora os resultados da dinâmica psíquica da ambivalência como fator
impeditivo à mulher de exercitar com ritmo e constância seu egoísmo vital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se a experiência exitosa e analisa-se que as psicólogas têm um papel fundamental


diante dos sofrimentos humanos e da herança histórica-cultural sobre as mulheres. Assim, é
necessária uma formação que alcance a compreensão sobre delas próprias, desde sua
graduação em Psicologia.
Enquanto docente considera-se o cuidado de trabalhar gênero sem idealismos, mas buscando
ações inteligentes e responsáveis para assumir realizarem-se conforme sua própria identidade
pessoal. Em Pedagogia Ontopsicológica (MENEGHETTI, 2005), compreende-se que é
preciso responsabilizar antes o professor em ser coerente com sua existência, revendo sua
própria história, fazendo metanóia para si mesmo.
A base Humanista na formação profissional pode ser fator de empoderamento das mulheres,
uma vez que revela os valores próprios e promovendo a liberdade em exercê-los. Bem como,
a inserção do conhecimento de gênero, com uma disciplina sobre o tema na graduação,
conforme recomenda Zanello (2016).

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALIZADE, Mariam. y Seelig, Beth. El techo de cristal. In: El techo de cristal y el poder
feminino. Buenos Aires: Lumen 2007.
CAROTENUTO, Margherita. A Paidéia ôntica: dos Sumérios a Meneghetti. Trad.
Ontopsicológica Editora Universitária- Recanto Maestro- RS: Ontopsicológica Ed.
Universitária, 2013.
LHULIER, Louise.A. (Org.). Quem é a Psicóloga Brasileira? Mulher, Psicologia e Trabalho.
Conselho Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 2013.
MENEGHETTI, Antonio. Feminilidade como Sexo, Poder, Graça. Trad. Ontopsicológica
Editora Universitária- 5ª ed. Recanto Maestro, RS: Ontopsicológica Ed. Universitária, 2013.
________ Pedagogia Ontopsicológica. Trad. Ontopsicológica Editora Universitária- 2ª ed.
Recanto Maestro, RS: Ontopsicológica Ed. Universitária, 2005.
Petrelli, R. Fenomenologia: teoria, método e prática. Goiânia: Ed. UCG, 2001.
Vidor, Alécio. Opinião ou ciência: Tecnologia x vida. Recanto Maestro, RS: Ontopsicológica
Editora Universitária, 2014.
Zanello, Valeska. Saúde Mental e Gênero: o adoecimento psíquico e as violências
invisibilizadas. Jornal do Federal, Ano XXVII, nº 112 – Março 2016.

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