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CENTRO INTERNACIONAL DE ANÁLISE RELACIONAL

CONVENIADO COM A FACULDADE DE ARTES DO PARANÁ


FORMAÇÃO ESPECIALIZADA EM PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL

A COMPREENSÃO DA ESCUTA PARA A CONSTRUÇÃO DA ATUAÇÃO COM A


FEMINILIDADE

MORO, Suzana Lina Grybosi1


GUERRA, Ana Elizabeth Luz 2

RESUMO

O presente estudo apresenta algumas reflexões sobre a feminilidade e a escuta, tendo como
objetivo analisar a importância da escuta para vivenciar as situações de feminilidade no setting
da Psicomotricidade Relacional. Estas reflexões foram estabelecidas dentro das observações das
filmagens, relatórios das sessões, fotos, e orientações da supervisão sobre as dificuldades em lidar com
a escuta e a feminilidade. Partindo desses documentos foi possível compreender que a feminilidade é
parte integrante das relações de gênero, e que ao longo da constituição da história foi percebida sob
diversas formas, entre elas a trazida por Freud, onde ......Para que se possa entender as situações de
feminilidade surgidas no setting da Psicomotricidade Relacional é preciso que o Psicomotricista se
permita entrar na relação por inteiro, assumindo em si a postura feminina,validando assim, as
demandas das crianças, tanto meninas como meninos, pois elas precisam integrar no seu próprio corpo
essas características e eles precisam compreender o corpo do seu oposto, pois ambos são
complementares. Portanto conclui-se que me a escuta das situações de vivencias de feminilidade no
setting são fundamentais para que se possa não somente auxiliar as crianças a potencializarem suas
características feminina e masculina, mas também para me permitir compreender minha própria
feminilidade, ressignificando assim, não somente a prática de atuação enquanto profissional, mas
sobretudo minha constituição enquanto pessoa e mulher, além de mediar possibilidades de intervenção
para que as crianças explorem pelo brincar sua constituição e compreensão das diferenças do corpo e
do seu agir.

Palavras chave: Escuta. Feminilidade. Psicomotricidade Relacional.

ABSTRACT

Key words:

1 INTRODUCÃO

O estudo aqui apresentado teve como objetivo compreender a escuta para a construção
da atuação com a feminilidade no “setting” da Psicomotricidade Relacional. Esse objetivo
surgiu das minhas dificuldades em vivenciar a feminilidade quando no processo de Estágio,
onde a cada situação que exigia de mim uma intervenção que levasse as crianças,

1
Aluna do Curso de Pós-Graduação Latu sensu em Psicomotricidade Relacional do Centro Internacional de
análise Relacional, interinstitucional com a Faculdade de Artes do Paraná – Estágio Supervisionado III
2
Supervisora do Estágio III do Curso de Pós-Graduação Latu sensu em Psicomotricidade Relacional do Centro
Internacional de Análise Relacional, interinstitucional com a Faculdade de Artes do Paraná
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principalmente as meninas, a perceberem o potencial da feminilidade no contexto de suas


vidas bem como na constituição da personalidade, eu travava e não conseguia inferir, o que
me levou a buscar na minha própria vida situações que me impediam de atuar de forma mais
adequada. Compreendo que como sujeitos somos constituídos pelas representações que os
outros criam para nós da pessoa que somos, ou esperam que sejamos, pois segundo pontua
Freud (apud LACAN, 2003) é possível entender que nossa personalidade é construída a partir
dos signos e seus sentidos e significados a nós repassados principalmente pelas nossas mães.
Encontro então, diversas situações de minha mais tenra infância que me mostraram que ser
feminina não valia a pena, pois as representações do ser feminina me foram passadas como
sendo sinal de fragilidade, de incompetência, de impossibilidades diante da vida, ou mesmo
de vulgaridade diante dos homens. E na realidade do contexto social atual, essas percepções
de fortificam, pois a mulher cada vez mais para se sentir segura na competição exacerbada do
mercado de trabalho, vem desenvolvendo posturas e atitudes estereotipadas como masculinas,
como se a feminilidade não fizesse parte do mundo dos negócios, conseqüentemente do seu
mundo.
Quando me refiro que viver a feminilidade foi algo dificultoso para mim durante os
Estágios I, II e II, não significa que não pude aprender com o que foi vivenciado e apreender
comportamentos ditos femininos, e auto valorização da minha própria condição de
feminilidade, mas sim que essa dificuldade me impedia de atuar com a competência
necessária diante de demanda apresentadas no setting. Desta forma entendo que esta
dificuldade me fez perceber gradativamente que através das sensações corporais eu tinha
condições de internalizar a feminilidade, pois quando permitimos que o corpo sinta tais
sensações isto fica integrado.
Ao ir me percebendo, compreendi que outra dificuldade que me acompanhava era a
escuta, dificuldade essa muito bem destacada pela supervisão, mas somente no Estágio III,
pois a minha dificuldade em escutar seja porque ainda eu não pude me escutar, não me
permiti dar um tempo, um tempo sem ansiedade para poder escutar o que esta ressoando
dentro de mim, impossibilitava que eu pudesse escutar as crianças no transcurso das sessões.
Assim compreendi que precisava aproveitar a constatação de minhas dificuldades para
construir novos comportamentos, ou seja, para atuar com um mínimo de eficiência no setting.
Essa compreensão me levou a sentir que tendo a dificuldade em vivenciar a feminilidade e a
escuta precisava no mínimo me permitir aceitar a situação e aprender com a feminilidade das
crianças/meninas, pois não me permitindo viver a feminilidade, não conseguiria enquanto
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Psicomotricista Relacional atender as demandas de outras crianças que não tinham integrado
em si essa característica específica da mulher.
Passei então a rever meu processo de formação profissional e me permitir exercitar a
escuta revendo as filmagens com a postura de não mais me recriminar nas minhas condutas.
Desta forma, busco neste estudo explorar de forma direta e objetiva minhas mudanças de
conduta ao atuar no setting, ou seja, busco expor reflexões a respeito da escuta para aprender
a lidar com situações de feminilidade no setting da Psicomotricidade Relacional, onde escuta
conforme apontam Vieira, Batista e Lapierre (2005) exerce uma função primordial nas
percepções das demandas durante a sessão de Psicomotricidade Relacional.
Partindo dessas proposições, e compreendendo que era necessário um caminho para
atingir o objetivo proposto, estabeleci como objetivos específicos os seguintes passos:
conceituar escuta, feminilidade e Psicomotricidade Relacional; entender como a escuta
favorece as percepções das demandas de feminilidade; identificar no “setting” da
Psicomotricidade Relacional as situações de feminilidade.mediadas pelo brincar.

2 A ESCUTA, A FEMINILIDADE E POTENCIALIDADES NO SETTING DA


PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL

Para falar sobre escuta, feminilidade e potencialidades no setting da Psicomotricidade


Relacional, conforme o título se propõe é preciso que antes seja esclarecido o que é a
Psicomotricidade Relacional
A Psicomotricidade Relacional é uma metodologia que visa desenvolver e
aprimorar os conceitos relacionados ao enfoque da Globalidade Humana. Busca superar o
dualismo cartesiano corpo/mente, enfatizando importância da comunicação corporal, não
apenas pela compreensão da organicidade de suas manifestações, mas essencialmente,
pelas relações psicofísicas e sócio-emocionais do sujeito. Preza por uma abordagem
preventiva, com uma perspectiva qualitativa e, portanto, com ênfase na sua saúde, não na
doença. É uma pratica que permite a criança, ao jovem e ao adulto, a expressão e
superação de conflitos relacionais, interferindo de forma clara, preventiva e
terapeuticamente, sobre o processo de desenvolvimento cognitivo, psicomotor e sócio-
emocional, na medida em que estão diretamente vinculados a fatores psicoafetivos
relacionais.

Introduz em sua prática ao espontâneo que o corpo participou em todas as suas


dimensões, privilegiando a comunicação não – verbal, onde, através de situações lúdicas e
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dinâmicas, joga com o corpo em movimento, buscando induzir situações nas quais sejam
expressos atos desencadeados por sentimentos, que somente mais tarde traduzirão em
termos conscientes, as emoções em que se originaram, ou seja, num primeiro momento de
forma impulsiva e inconsciente, para depois chegar ao consciente.

A Psicomotricidade Relacional, enfim, é uma pratica que permite a liberação do


desejo e do prazer de ser, de comunicar-se, de estar vivo!

Dentro de sua proposta trás materiais considerados como clássicos, entre eles temos a
bola, bambolê, corda, bastões, caixas, tecidos e jornal. Tendo como foco uma sessão de
tecidos pode-se dizer que o uso dos objetos nas sessões possibilita que cada um crie seu
próprio personagem, ao usar os tecidos a crianças pode se identificar com aqueles que fazem
parte do seu cotidiano seja ela familiar ou social. As meninas mais especificamente podem
explorar os tecidos como uma forma de vivenciar na sua fantasia o papel da mulher, a mulher
mãe, a mulher adulta, enfim aquela idealizada pela criança trazendo no seu olhar nos seus
gestos o seu desejo inconsciente de viver a feminilidade. (Lapierre 2010).
A escuta é uma espera/observação que o psicomotricista relacional deve ter durante as
sessões, pois este momento de escuta deve ter um tempo para que possamos baixar a
ansiedade, ou seja, dedicar um tempo de espera/observação nas reações das crianças. Desta
forma o psicomotricista relacional poderá realizar intervenções de forma mais adequada,
facilitando a evolução individual e ate mesmo do grupo. (V. B. L página 121).
A escuta pode ser melhor compreendida como o momento em que o Psicomotricista
Relacional se usa da observação da ação das crianças, ação do corpo mais o objeto que esta
criança esta utilizando e ainda o sentimento que ela esta expressando através de suas atitudes
corporais. Ou seja, o jogo em que ela esta vivenciando é o ponto observado pelo
Psicomotricista Relacional para se situar no lugar do outro e procurar compreender os
conteúdos que a criança trás na sua brincadeira. Enfim conforme aponta Vieira, Batista e
Lapierre (2005) para que haja a escuta é necessário que o psicomotricista relacional se
permita parar e observar, para que possa decodificar as demandas das crianças, seus
sentimentos, suas atitudes, suas expressões corporais.
Essa portanto, é uma capacidade fundamental para o Psicomotricista Relacional, pois é
por meio dela que ele poderá responder de maneira justa, envolvendo-se no jogo da criança,
seja para reforçar, reconduzir, ou mesmo apresentar novas propostas, podendo inclusive entrar
e sair nos diversos tipos de jogo e estilos de relação que acontecem no setting. É o que
acontece por exemplo nas situações onde a feminilidade se mostra presente, como no caso da
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sessão com tecidos, seja esse material utilizado sozinho ou em conjunto com outros. O que
leva a um envolvimento “[...] de forma especial com determinadas crianças com as quais se
produz uma relação de empatia similar ao namoro, quando uma parte interna e sensível de
cada um responde em um diálogo fluído frente ao sentir do outro”. Situações estas
vivenciadas no setting da Psicomotricidade Relacional quando as meninas se usaram dos
tecidos e buscaram por mim, para validá-las enquanto modelo de mulher.
Surge então a razão da feminilidade como um dos focos deste estudo, pois essas
situações foram sim momentos de decodificação não somente das demandas das crianças mas
também como uma demanda minha enquanto mulher.
Destaca Freud (apud Nunes, 2000, p. 14) que a feminilidade é uma experiência
primária, “[...] como uma espécie de condição de possibilidade para o processo de
subjetivação dos indivíduos enquanto sujeitos sexuados”, ou seja, Freud segundo aponta
Nunes (2000) concebe a mulher como dotada de uma essência que pressupõe passividade e
masoquismo. Já para Rousseau (apud Nunes, 2000, p.38) “[...] a mulher não seria inferior,
nem imperfeita; ao contrário ela seria perfeita em sua especificidade dotada de características
biológicas e morais condizentes com as funções maternas e a vida doméstica [...]”. desta
forma pode-se dizer que as colocações de Rousseau colocam as características fundantes da
mulher na maternidade e no lar, sendo sua condição imposta pelas suas características
biológicas. Ou seja, conforme pontua Nunes (2000) esse modelo não foi pensado “[...] numa
relação de inferioridade, mas sim de complementariedade”, trazendo fundamentalmente a
característica de diferença entre a mulher e o homem.
Os aspectos postos por Rousseau (apud Nunes, 2000, p.43) para a mulher, são “[...]
fragilidade, timidez, doçura, sedução e afetividade. [...] características fundamentais para o
bom funcionamento do casal. Assim, [...] feminilidade rima com passividade.
Portanto, pode-se dizer que quando a mulher busca não responder a esse papel, ela
acaba sendo vista como alguém que não é feminina, pois este poder fálico é do homem.
Tendo em vista que o falo é o poder que diferencia o homem da mulher....(buscar no outro
livro na intenet sobre o falo)

Na verdade o poder fálico é do homem mas a “mulher também tem o poder fálico....”
exemplo é a sedução....
O falo é o poder do homem
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pg10
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Pg 118
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Feminilidade

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ser uma mulher feminina tem um significado de ser poderosa, gentil, amável, delicada,
decidida sem ser grosseira, ser calma e não desbaforida, apavorada, desajeitada,
desengonçada, apressada, sem modos...enfim ser feminina e não ser masculina como sempre
escutei... dói muito escutar isto, pois eu não quero ser assim, mais ainda não sei porque sou
assim, não sei como proceder, como agir para ser uma mulher feminina. Não quero
representar quero sim sentir ser mulher e deixar o que esta preso, sufocado aqui dentro de
mim vir para fora...não quero ter mais vergonha de me mostrar para ninguém, não quero mais
ter medo de ser vista, olhada, desejada

REFERÊNCIAS
LACAN, J. (1969). Outros escritos. In: LACAN, J. Duas notas sobre a criança. RJ. Jorge Zahar Editor, 2003.

VIEIRA, J.L.; BATISTA, M.I.B.; LAPIERRE, A. Psicomotricidade Relacional: a teoria de uma


prática. Curitiba: CIAR, 2005.

LAPIERRE

NUNES, S. A. O corpo do diabo entre a cruz e calderinha: um estudo sobre a mulher, o


masoquismo e feminilidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
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