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Severina Carla Vieira Cunha Lima

(Organizadora)

TERAPIA NUTRICIONAL
PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO
E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19
Reitor
José Daniel Diniz Melo
Vice-Reitor
Henio Ferreira de Miranda
Centro de Ciências da Saúde
Antônio de Lisboa Lopes da Costa
(Diretor)

Departamento de Nutrição
Karla Danielly da Silva Ribeiro Rodrigues
(Chefe)
Programa de Pós-Graduação em Nutrição
Karine Cavalcanti Maurício de Sena-Evangelista
(Coordenadora)
Coordenação de Nutrição
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(Coordenadora)

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(Diretora)
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(Diretor Adjunto)
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(Secretário)

Editoração
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Revisão
Wildson Confessor
Design editorial
Rafael Campos
Fotografia
Pexels
Severina Carla Vieira Cunha Lima
(Organizadora)

TERAPIA NUTRICIONAL
PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO
E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

NATAL 2020
Fundada em 1962, a Editora da UFRN (EDUFRN)
permanece até hoje dedicada à sua principal missão:
produzir livros com o fim de divulgar o conhecimento
técnico-científico produzido na Universidade, além
de promover expressões culturais do Rio Grande do

anos Norte. Com esse objetivo, a EDUFRN demonstra o


desafio de aliar uma tradição de quase seis décadas ao
espírito renovador que guia suas ações rumo ao futuro.

Coordenadoria de Processos Técnicos


Catalogação da Publicação na Fonte.UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Terapia nutricional para prevenção, tratamento e reabilitação de indivíduos com


COVID-19 [recurso eletrônico] / Severina Carla Vieira Cunha Lima
(Organizadora). – Natal, RN : EDUFRN, 2020.
67 p. :, PDF ; 8.700 Kb.

Modo de acesso: http://repositorio.ufrn.br


ISBN 978-65-5569-043-9

1. Doenças respiratórias. 2. Nutrição. 3. SARS-CoV-2. 4. Saúde - Aspectos


nutricionais. I. Lima, Severina Carla Vieira Cunha.

CDD 616.2
RN/UF/BCZM 2020/37 CDU 616.2:613.2

Elaborado por Márcia Valéria Alves – CRB-15/509

Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN


Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário
Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil
e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br
Telefone: 84 3342 2221
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

PREFÁCIO

A doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) tem causado


alterações históricas no perfil epidemiológico mundial, com impactos
marcantes nas esferas social, econômica, política e cultural. Em meio a
esse cenário, recebi com muita honra o convite para realizar o preâmbulo
desta importante obra, cuidadosamente preparada com o intuito de
trazer informações atualizadas sobre orientações e a terapia nutricional
indicada no tratamento da COVID-19 sob diversos contextos.
O estado nutricional adequado representa um aspecto fundamental
no enfrentamento da COVID-19, requerendo dos profissionais
nutricionistas a realização de intervenções, por meio de prescrições
dietéticas e orientações sobre alimentação saudável na perspectiva de
prevenção, tratamento e reabilitação de pessoas acometidas por essa
enfermidade. Diante da velocidade alarmante do número de casos
registrados no mundo e do comportamento obscuro do novo coronavírus
no organismo humano, a comunidade científica tem se debruçado em
estudar sobre a COVID-19, haja vista as inúmeras publicações que têm
sido diariamente veiculadas.
Imbuído do compromisso de contribuir com a sociedade, esse e-book,
elaborado pelo grupo seleto de docentes que compõem a área de Nutrição
Clínica do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), bem como discentes de graduação e pós-
graduação da instituição, contempla informações de qualidade e rigor
científico, distribuídas em três seções: (a) enfoque nutricional para a

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

prevenção e tratamento de indivíduos com sintomas leves da COVID-19;


(b) informações sobre a terapia nutricional empregada para indivíduos
com COVID-19 hospitalizados; (c) e a terapia nutricional indicada
na reabilitação pós-COVID-19. Os conhecimentos contemplados nos
tópicos são fundamentados nas evidências científicas baseadas em
consensos e diretrizes mais atualizadas sobre as temáticas e combinam
textos, quadros e fluxogramas, construídos com o objetivo de tornar a
leitura mais objetiva e de fácil acesso.
Sabendo que o combate ao COVID-19 inicia com medidas de
prevenção, e que a alimentação é aliada para o fortalecimento do
sistema imunológico, o primeiro tópico foi estruturado com foco nas
orientações sobre alimentação saudável, baseadas nas informações do
Guia alimentar para a população brasileira, ressaltando-se a importância
de nutrientes específicos no contexto da prevenção de populações de
risco e no tratamento de pessoas com COVID-19 apresentando sintomas
leves. O segundo tópico, por sua vez, contempla informações preciosas
sobre triagem nutricional e a terapia nutricional indicada no tratamento
de pacientes com COVID-19 hospitalizados, particularizando as
situações em que as pessoas são tratadas no ambiente de enfermaria e
os casos críticos que necessitam de internação em Unidade de Terapia
Intensiva sob ventilação mecânica. São destacadas as recomendações
de energia, proteínas e outros nutrientes, em diversos cenários de
pacientes internados por COVID-19. Por último, são apresentadas as
informações sobre os impactos das alterações clínicas pós-COVID-19
com repercussão no aspecto nutricional. As autoras reúnem uma
gama de orientações com uma riqueza de detalhes para auxiliar no
restabelecimento do estado nutricional dos indivíduos. Dessa forma,

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

com muito profissionalismo, seriedade e compromisso com a qualidade,


esses tópicos se somam para fornecer informações globais sobre o
manejo nutricional para o enfrentamento da COVID-19.
Para finalizar, gostaria de registrar a minha alegria de contribuir com essa
obra e o meu orgulho e satisfação de fazer parte do grupo de docentes
da UFRN, sobretudo da área de Nutrição Clínica do Departamento de
Nutrição, composto por colegas de renomada competência e dedicação
pela excelência no ensino superior. Esperamos que essa produção, com
forte potencial de visibilidade, seja objeto de consulta de profissionais
nutricionistas, membros das equipes multiprofissionais e acadêmicos
do Curso de Nutrição e áreas afins, para fundamentar condutas,
qualificando o atendimento nutricional no contexto da COVID-19.
Parabenizo a todos do Departamento de Nutrição e de outras unidades
acadêmicas da UFRN, pelas ações voltadas para o combate à pandemia,
com impacto social relevante diante do cenário atual.

Karine Cavalcanti Maurício de Sena-Evangelista


Docente Associada Classe 1 do Departamento de Nutrição da UFRN.
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Nutrição da UFRN.

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Sumário

Introdução ....... 9
David Franciole de Oliveira Silva
Ana Paula Trussardi Fayh

Aspectos nutricionais na
prevenção e tratamento de indivíduos
com sintomas leves da COVID-19 ....... 13
Eduarda Pontes dos Santos Araújo
Adriana Leão de Miranda Ferreira
Ana Paula Trussardi Fayh
Severina Carla Vieira Cunha Lima

Terapia nutricional para


o tratamento de pacientes com COVID-19
em ambiente hospitalar ........ 26
Severina Carla Vieira Cunha Lima
Karine Cavalcanti Maurício de Sena-Evangelista
Lúcia Leite Lais
Maria Eduarda Bezerra da Silva

Terapia nutricional
na reabilitação pós-COVID-19 ......... 47
Márcia Marília Gomes Dantas Lopes
Jéssica Bastos Pimentel
Sancha Helena de Lima Vale

Sobre os autores ......... 62


TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Introdução
David Franciole de Oliveira Silva
Ana Paula Trussardi Fayh

A doença do coronavírus (COVID-19), atualmente o mais grave proble-


ma de saúde pública no mundo,1 é causada por um novo betacoronaví-
rus inicialmente denominado 2019-nCov pela Organização Mundial de
Saúde (OMS). Mais recentemente esse vírus passou a ser chamado de
SARS-CoV-2 (do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus
2).2 Essa doença foi inicialmente identificada na China, tendo se alastra-
do para todos os continentes.1 Consequentemente, em março de 2020,
foi caracterizada pela Organização Mundial da Saúde como pandemia.
Até meados de maio de 2020, foram registrados mais de 4 milhões de
casos e 278.892 mortes em todo o mundo.3
Os sintomas clínicos da COVID-19 são semelhantes aos sintomas leves
de pneumonia viral e a gravidade da doença varia de leve (80% dos ca-
sos) a grave (14% dos casos). É possível que a gravidade da doença esteja
associada à idade avançada e à presença de comorbidades. Os sintomas
mais comuns incluem febre (>=37,8ºC), tosse, dispneia, mialgia e fadi-
ga. Os sintomas menos comuns são anorexia, produção de escarro, dor
de garganta, confusão, tonturas, dor de cabeça, dor no peito, hemoptise,
diarreia, náusea/vômito, dor abdominal, congestão conjuntival, anos-
mia súbita ou hiposmia.2
Até o momento, não existe tratamento medicamentoso com eficácia
comprovada para a prevenção ou tratamento da COVID-19.4 No en-
tanto, por meio do reposicionamento de fármacos, pesquisadores têm

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

analisado a eficácia e a segurança destas substâncias, incluindo hidro-


xicloroquina e remdesevir,5-7 alguns medicamentos têm sido utilizados
de acordo com o protocolo estabelecido pela instituição, os quais apre-
sentam indicações e implicações nutricionais diversas (Anexo 1). Atual-
mente, não há evidências de ensaios clínicos randomizados de que qual-
quer terapia potencial melhore os resultados em pacientes com suspeita
ou confirmação de COVID-19, assim como não há dados de ensaios
clínicos que apoiem qualquer terapia profilática.8
Sendo assim, faz-se necessária a identificação de outras intervenções
não farmacológicas para auxiliar no adequado tratamento de pacientes
com COVID-19, tanto os hospitalizados em condições de estabilida-
de hemodinâmica, quanto os que requerem maior suporte na Unidade
de Terapia Intensa (UTI), como a ventilação mecânica.9 A abordagem
por meio da terapia nutricional tem importante papel, uma vez que a
avaliação de pacientes em risco nutricional, aliada a uma terapia espe-
cializada, considerando a interação droga-nutriente, favorece o melhor
prognóstico e recuperação de pacientes com COVID-19.10,11
Nesse contexto, o presente e-book reúne informações sobre orientações
e terapia nutricional, fundamentadas nas mais recentes evidências cien-
tíficas para o enfrentamento da COVID-19, com abordagem na pre-
venção, terapia nutricional tanto nos pacientes estáveis hemodinami-
camente, quanto naqueles que requerem maior suporte mecânico em
UTI e na reabilitação pós-COVID-19. Esse documento será importante
para fundamentar condutas dos profissionais nutricionistas que atuam
na linha de cuidados dos pacientes com COVID-19, proporcionando
um atendimento nutricional mais direcionado e qualificado.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Referências

1. Gates B. Responding to Covid-19: a once-in-a-century pandemic?.


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2. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia,


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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

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8. Sanders JM, Monogue ML, Jodlowski TZ, Cutrell JB. Pharmacologic


Treatments for Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): A Review.
JAMA [Internet]. 2020 Apr 13 [cited May 2020];323(18):1824–36.
doi:10.1001/jama.2020.6019

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Lancet Public Health [Internet]. 2020 Apr 17 [cited May 2020]. doi:
10.1016/S2468-2667(20)30090-6

10. Caccialanza R, Laviano A, Lobascio F, Montagna E, Bruno R, Lu-


dovisi S, et al. Early nutritional supplementation in non-critically
ill patients hospitalized for the 2019 novel coronavirus disease
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tocol. Nutrition [Internet]. 2020 Apr 3 [cited May 2020];74. doi:
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11. Barazzoni R, Bischoff SC, Krznaric Z, Pirlich M, Singer P. ESPEN ex-


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2020 Mar 31 [cited 2020 May];1-8. doi: 10.1016/j.clnu.2020.03.022

12. Silva TFA, Filho MAA, Brito MRM, Freitas RM. Mechanisms of ac-
tion, pharmacological effects, clinical studies and adverse reactions
of ceftriaxone: a review of literature. Revista Eletrônica de Farmá-
cia. 2014;11(3):48–57.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Aspectos nutricionais
na prevenção e tratamento
de indivíduos com sintomas
leves da COVID-19
Eduarda Pontes dos Santos Araújo
Adriana Leão de Miranda Ferreira
Ana Paula Trussardi Fayh
Severina Carla Vieira Cunha Lima

Em tempos desafiadores como os que a humanidade tem vivenciado,


além das ações de isolamento social e higiene amplamente divulgada,
medidas associadas ao estilo de vida exercem papel importante na pre-
venção da COVID-19, sendo a alimentação saudável um dos aspectos
que mais se destacam.1, 2 Ademais, o grande número de pessoas que se
recuperará da COVID-19 pode levar a um aumento nas doenças crôni-
cas que podem ser exacerbadas por dietas não saudáveis ou em popula-
ções vulneráveis.3
Uma alimentação saudável pode auxiliar na prevenção da COVID-19,
não só por fornecer os nutrientes e compostos bioativos necessários
para a integridade da barreira imunológica mas também por garantir
a manutenção do peso saudável. Esse aspecto em particular, tem sido
relatado na literatura como importante, uma vez que tanto a desnutri-
ção como a obesidade estão associadas a piores desfechos em pacientes
acometidos pela COVID-19, com maior risco de hospitalização, maior
tempo de internação e mortalidade.4

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Alguns estudos publicados demonstraram que pacientes com obesidade


geralmente apresentam disfunção respiratória, caracterizada por alte-
rações nos mecanismos respiratórios, aumento da resistência das vias
aéreas, alteração das trocas gasosas e baixo volume pulmonar e força
muscular. Esses indivíduos estão predispostos a pneumonia associada à
hipoventilação, hipertensão pulmonar e estresse cardíaco.5,6

Dessa forma, para prevenção da COVID-19, a primeira


orientação é que os indivíduos mantenham o peso saudável,
podendo os profissionais utilizar o IMC (Índice de Massa
Corporal) como parâmetro mais acessível para avaliação do
estado nutricional antropométrico da população em geral.

Pontes de corte de classificação do IMC


Em adultos: IMC 18,5 kg/m2 a 24,9 kg/m2 – Eutrofia
Em idosos: IMC 22 kg/m2 a 27 kg/m2 – Eutrofia

Orientações nutricionais para prevenção


da COVID-19 em indivíduos saudáveis
ou para aqueles com sintomas leves da COVID-19

A manutenção ou adoção de uma dieta balanceada é a recomendação


para toda a população e também para pessoas que foram afetadas pela
COVID-19 com sintomatologia leve e/ou assintomáticas. Nesse sentido,
as orientações apresentadas no Guia alimentar para a população brasi-
leira7 são válidas para que os indivíduos se alimentem de modo saudá-

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

vel, de uma forma simples e objetiva. Além disso, seguir as orientações


do Guia alimentar irá estimular a população a ingerir alimentos ricos
em vitaminas, minerais e fibras que, em sinergia, irão favorecer a saúde
imunológica e intestinal.

Regra de Ouro do Guia alimentar para a população


brasileira: Prefira sempre alimentos in natura ou
minimamente processados e preparações culinárias
a alimentos ultraprocessados.

A compreensão adequada da nova classificação dos alimentos a partir


do grau de processamento pode auxiliar a população a fazer escolhas
alimentares mais saudáveis. Nesta perspectiva, conforme o Guia, se-
guem os três grandes grupos de alimentos, bem como as características
de cada um deles.

Alimentos in natura ou minimamente processados: alimentos obtidos


diretamente de plantas ou de animais, que não sofreram qualquer altera-
ção após deixar a natureza ou que foram submetidos a processos de lim-
peza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, fracionamento,
moagem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congela-
mento e processos similares que não envolvam agregação de sal, açúcar,
óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original. Podemos citar
como exemplos: legumes, verduras, frutas, grãos, raízes e oleaginosas.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Alimentos processados: alimentos fabricados pela indústria com a adi-


ção de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário a alimentos in
natura para torná-los duráveis e mais agradáveis ao paladar. Podemos
citar como exemplos: alimentos em conserva na salmoura, extratos de
tomate concentrados em sal ou açúcar, frutas cristalizadas, carne seca ou
de sol, peixes enlatados, queijos e pães feitos apenas com trigo, água e sal.

Alimentos ultraprocessados: alimentos que possuem em sua com-


posição, basicamente, óleos, gorduras hidrogenadas, açúcar, amido
modificado e substâncias sintetizadas em laboratório com base em
matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes,
realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para dotar os
produtos de propriedades sensoriais atraentes). Podemos citar como
exemplos: biscoitos, sorvetes, macarrão instantâneo, refrigerantes, io-
gurtes adoçados e aromatizados e embutidos.

Outras orientações para a adoção de uma alimentação saudável incluem:


Utilizar óleos, gorduras, açúcar e sal em pequenas quantidades nas pre-
parações culinárias.
Manter uma boa ingestão de líquidos ao longo do dia para se manter
hidratado. A recomendação deve ser, em média, 35 ml/kg/dia. A hidra-
tação deve receber atenção especial em idosos, que podem ter reflexo da
sede diminuído e indivíduos acometidos com COVID-19 com sintoma
de febre e tosse.3 A desidratação pode tornar as secreções respiratórias
mais espessas e dificultar a eliminação pelos pulmões, aumentando o
risco de pneumonia. Caldos, sopas, sucos e o consumo de frutas e ver-
duras também contribuem com a ingestão hídrica.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Consumir, ao menos, três porções de frutas e duas porções de verduras,


de preferência regionais e da safra, além de alimentos integrais.
Dar preferência a carnes magras, leite e derivados com baixo teor de
gordura e preferir fontes de gorduras boas como oleaginosas e azeite
extravirgem.
Para lactentes, o aleitamento materno deve ser mantido. Até o momen-
to, não há evidências de que o vírus possa ser transmitido pelas mães
por meio do leite materno. Desse modo, a Organização Mundial da Saú-
de (OMS) e o Ministério da Saúde orientam que a amamentação deve
ser mantida, em virtude do seu papel na prevenção de diversas doenças.
Ressalta-se que se recomenda amamentar de forma exclusiva até os 06
meses e, a partir dessa idade, introduzir a alimentação complementar.
Para mais informações sobre a alimentação de crianças, consulte o Guia
alimentar para crianças menores de 02 anos, publicado recentemente
pelo Ministério da Saúde.8
Informações adicionais sobre o grau de processamento dos alimentos
podem ser consultadas no Guia alimentar para a população brasileira,
disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_ali-
mentar_populacao_brasileira_2ed.pdf.

Controlando o estresse na quarentena


por meio da alimentação saudável

Para muitos indivíduos, a quarentena está associada à interrupção da


rotina de trabalho, que pode resultar em situações emocionais como
tédio, estresse e ansiedade, que impactam diretamente no consumo de
alimentos com maior ingestão de energia, ricos em gordura e açúcar e

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

a chamada comfort food.1 Contudo, esse hábito alimentar rotineiro as-


sociado ao sedentarismo pode aumentar o risco de desenvolver obesi-
dade, que, além de ser um estado crônico de inflamação, pode levar a
complicações como doenças cardíacas, diabetes e doenças pulmonares
que demonstraram aumentar o risco de complicações mais graves da
COVID-19.9
Nesse sentido, para o manejo dos sintomas emocionais, é importan-
te estimular o consumo de alimentos que contenham ou promovam a
síntese de serotonina e melatonina a partir do aminoácido triptofano,
principalmente durante a refeição do jantar, tais como: kiwi, banana,
cacau, sementes como amêndoas, cerejas, aveia e alimentos proteicos,
como leite e derivados.9 Evite o consumo de alimentos com alta densi-
dade calórica e ricos em açúcar, gordura e sódio, que aumentam o risco
de desenvolvimento de comorbidades como obesidade, hipertensão e
diabetes, consideradas fatores de risco para COVID-19.10

Qual o papel de nutrientes específicos


na prevenção da COVID-19?
Além das orientações gerais de alimentação saudável, conhecer o pa-
pel que nutrientes específicos e compostos bioativos exercem na saúde
imunológica é importante para prevenção da COVID-19. Porém, uma
vez que nenhum nutriente isolado ou composto bioativo tem eficácia
comprovada em evitar a infecção por SARS-COV2, o ideal é aderir a
uma alimentação saudável a fim de fortalecer o sistema imunológico e
combater infecções.11

1 Comfort Food: “Comida confortável”, que desperta conforto e bem-estar ao ser consumida.

18
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

A má alimentação também é caracterizada pela baixa ingestão de mi-


cronutrientes, comumente associada a respostas imunes prejudicadas,
particularmente imunidade mediada por células, função de fagócitos,
produção de citocinas, resposta secretora de anticorpos, afinidade de
anticorpos e sistema de complemento, tornando o indivíduo com maus
hábitos alimentares mais suscetível às infecções virais.12 Existem muitos
mitos sobre a influência da nutrição no reforço do sistema imunológico.
No entanto, vários estudos de revisão publicados em revistas científi-
cas apresentam como foco o papel da dieta no sistema imunológico e a
atuação em infecções virais respiratórias. Essas informações foram sin-
tetizadas a seguir no Quadro 1.

Quadro 1 – Principais nutrientes e compostos bioativos


com papel no sistema imunológico

Nutriente Função Principais Recomendação Observação


Alimentos Fontes
por 100g13,14

Vitaminas Desempenham Verduras, frutas e 5 a 9 porções As necessidades podem


(A, B6, B12, ação antioxidante, legumes estar aumentadas em
folato, D, E combatendo os 1 a 2 porções situações de estresse por
e C) radicais livres. Es- Leite e derivados, 1 porção ao dia doença e/ou poluição.16
Elementos ses nutrientes têm Carne, Frango (carne vermelha A suplementação de
traços (zinco, ação na imunida- 1 a 2x semana) vitaminas e minerais
cobre, selênio, de inata e adapta- Frutos do mar 1x semana15 quelados deve ser consi-
magnésio e tiva, prevenindo derada em caso de baixa
ferro) contra as infecções ingestão e em situações
respiratórias.15 de estresse/inflamação
acentuados.15

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Vitamina C Comprovada ação Acerola - 941,4 mg Crianças - 15 a Doses acima de 200mg/


na imunidade Caju -219,3mg 25mg dia tem demonstrado
celular; melhora Kiwi -70,8mg Adulto - 45 a ação na prevenção e
migração dos neu- Morango - 63,9mg 90mg redução da severidade
trófilos (quimio- Laranja - 57,4 mg Mulheres - 45 a de doenças infecciosas
taxia), melhora a Pinha - 35,9mg 75mg respiratórias.15
fagocitose, elimina Limão - 38,2mg Homens - 45 a
espécies reativas Maracujá - 19,8mg 90mg
de oxigênio (ROS). Gestantes - 80 a
Dá suporte a en- 85mg17
zima caspase para
a apoptose celular
e inibe a necrose
celular, atenuando
a resposta infla-
matória e dano aos
tecidos.16

Selênio Antioxidante Castanha-do-brasil Crianças: 1-3 Em um estudo realizado


essencial para uma - 1917µg anos - 20 µg; na China, identificou-se
resposta imune Semente de girassol 4-8 anos - 30µg; uma associação positiva
adequada (inata - 79,3µg 9-13 anos – 40 significativa entre a
e adquirida). A Atum - 90µg µg taxa de cura e estado
deficiência causa Farelo de trigo Adultos e idosos nutricional anterior de
redução nos níveis -77µg de ambos os selênio, demonstrando
de IgM e IgG, Fígado - 54,6 µg sexos - 55µg maior taxa de cura em
dificultando a Sardinha - 52,7µg Gestantes - 60µg pessoas que tinham me-
quimiotaxia de Salmão - 31,4µg - Lactantes lhor status de selênio.19
neutrófilos, produ- Camarão - 37,5µg 70µg16
ção de anticorpos Ovo - 31,1µg
por linfócitos e
aumentando as
mutações dos vírus
para formas mais
virulentas.15 Com-
ponente essencial
de uma família de
selenoproteínas,
incluindo a gluta-
tiona peroxidase e
tioredoxina redu-
tase, que atuam na
proteção contra a
replicação viral.18

20
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Vitamina D Protege o trato Sardinha - 4,8µg Crianças: 0-12 Meta-análises demos-


respiratório, Salmão - 10,9 µg meses - 10 µg; traram que a suplemen-
preservando as Atum - 1,7µg 1-8 anos - 15µg tação (50µg/dia) reduz
junções epiteliais Fígado - 1,2µg Adultos (ho- doenças respiratórias em
(tight junctions), Ovos - 2,46µg mens e mulhe- crianças e adultos.20
regulação das cate- Leite - 1,3µg res) - 15µg
licidinas (envolvi- Idosos (>70
das na eliminação anos) - 15µg
dos vírus).20 Gestantes e lac-
tantes - 15µg21
Zinco Importante para Camarão - 1,24mg Crianças: 1-3 Autores observaram que
imunidade inata Ovo - 1,29mg anos - 3mg; 4-8 a cloroquina e a hidro-
e adaptativa. A Leite - 1,2mg anos - 5mg; 9-13 xicloroquina, duas das
deficiência de Amendoim - 3,7mg anos - 8mg drogas utilizadas no tra-
zinco prejudica Castanha-de-caju Adolescentes: tamento da COVID-19,
a formação, ma- -5,78mg 14-18 anos - podem induzir a absor-
turação, ativação 11mg (sexo ção de zinco no citosol
dos linfócitos masculino); 9mg da célula, possibilitando
e, em crianças, )(sexo feminino a inibição da RNA
tende aumentar a Mulheres acima polimerase dependente
suscetibilidade a de 19 anos - 8mg de RNA e, finalmente,
diarreia e infecções Homens acima causando a interrupção
respiratórias.15 de 19 anos - da replicação do coro-
11mg navírus no hospedeiro.
Gestantes - 11 a Sendo assim, sugere-se
13mg22 ensaios clínicos baseados
em uma administração
sinérgica de suplemento
de zinco com cloroquina
ou hidroxicloroquina
contra o novo vírus
SARS-CoV-2.23
Flavonoides Reduzem a infla- Vinho tinto, laran- Não definido
mação e a resposta jas, frutas verme-
imune, bloquean- lhas e legumes
do a transloca-
ção nuclear de
NF-Κb.11
Polifenóis Chá verde, brócolis, Não definido
maçã
3 Ômega Salmão, sardinha, Ingestão diária
atum, nozes, linha- de 250 mg / dia
ça, chia de EPA + DHA

Fonte: Messina et al. (2020),11 USDA. (2020),15 Calder et al. (2020),16 Gombart et al. (2020),17
Institute of Medicine (2000),18 Guillin et al. (2019),19 Zhang et al. (2020),20 Martineau et al.
(2017),21 Institute of Medicine (2002),22 Institute of Medicine (2011),22 Shittu et al. (2020)23

21
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Considerações finais

A nutrição saudável se torna uma prioridade no momento atual tanto


para a população sob estresse devido a quarentena, assim como também,
para as pessoas que foram afetadas pela COVID-19 com sintomatologia
leve e/ou assintomáticas. Uma alimentação equilibrada em nutrients,
aliada a adequada hidratação e horas de sono, auxiliam no fortaleci-
mento da imunidade e dá ao organismo maiores chances de lutar e se
proteger contra o vírus. Entretanto, ainda não é possível comprovar que
exista um alimento específico ou uma conduta nutricional que combata
a contaminação, mas é de extrema importância o autocuidado e a ma-
nutenção do estado de saúde saudável.

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INDIVÍDUOS COM COVID-19

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INDIVÍDUOS COM COVID-19

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TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

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25
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Terapia nutricional
para o tratamento de
pacientes com COVID-19
em ambiente hospitalar
Severina Carla Vieira Cunha Lima
Karine Cavalcanti Maurício de Sena-Evangelista
Lúcia Leite Lais
Maria Eduarda Bezerra da Silva

Antes da instituição da terapia nutricional (TN), é importante a reali-


zação da triagem e avaliação nutricional dos pacientes com suspeita de
COVID-19 ou com diagnóstico já confirmado. Como medida preventi-
va para evitar a disseminação do vírus, apoiada pelo Conselho Federal
de Nutricionistas (CFN), o nutricionista deve coletar as informações
para triagem, avaliação e monitoramento nutricional mediante telenu-
trição (áudio e/ou vídeo), coleta de dados secundários nos prontuários
ou por intermédio de membros da equipe multiprofissional que já este-
jam em contato direto com o paciente. Entretanto, havendo necessidade
da visita presencial, seja na enfermaria ou na UTI, o nutricionista deve
usar os equipamentos de proteção individual (EPIs) e seguir os demais
regimentos internos do hospital quanto ao controle de infecções, em
conformidade com as recomendações do Ministério da Saúde (MS) e da
Organização Mundial de Saúde (OMS).1

26
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Pacientes em enfermaria

Os pacientes internados em enfermaria são beneficiados com o cuidado


nutricional integral envolvendo triagem, avaliação, terapia e monitora-
mento nutricional. A TN do paciente internado em enfermaria objetiva
melhorar os desfechos clínicos, evitando o agravamento do quadro e a
necessidade de cuidados intensivos. Nesse momento, é importante con-
siderar que todos os pacientes com suspeita de COVID-19 são prioritá-
rios, especialmente aqueles do grupo de risco e/ou com comorbidades,
que podem potencializar o quadro dessa infeção. Recomenda-se que
cada instituição hospitalar estabeleça o seu protocolo, e siga-o de forma
que a recuperação e a alta hospitalar do paciente aconteçam o mais bre-
vemente possível. (Fluxograma 1).

Triagem e Avaliação Nutricional

A triagem nutricional deve ser feita em todos os pacientes admitidos


com suspeita ou diagnóstico de COVID-19. Segundo Piovacari et al.
(2020),1 a presença de risco nutricional está presente nos pacientes que
apresentarem pelo menos um dos fatores descritos no Quadro 1. Os
pacientes que não apresentarem risco nutricional devem ser reavaliados
a cada 48h.

27
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Quadro 1 – Principais fatores de risco que devem ser avaliados


em pacientes com suspeita ou diagnóstico de COVID-19

Risco Nutricional (considerar pelo menos 1 critério):


• Idosos ≥65 anos
• Adulto com IMC < 20 kg/m2
• Risco elevado ou presença de lesão por pressão
• Pacientes imunossuprimidos
• Pacientes inapetentes
• Diarreia persistente
• Histórico de perda de peso
• Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma,
pneumonias estruturais
• Cardiopatias, incluindo hipertensão arterial
• Diabetes insulinodependente
• Insuficiência renal
• Gestante

Fonte: Piovacari et al. (2020)1

Outros instrumentos de triagem nutricional (MUST e NRS-2002) e de


avaliação do estado nutricional (ASG e MAN), já validados e utilizados
na prática clínica, podem ser incorporados no protocolo de atendimento
nutricional de pacientes hospitalizados com suspeita ou diagnóstico de
COVID2.19- Entretanto, detectando o risco nutricional nesse paciente,
mediante a presença de pelo menos um fator de risco (Quadro 1), já é im-
portante verificar se há ou não presença de desnutrição. Nesse contexto, o

28
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

consenso para diagnosticar a desnutrição proposto pela Global Leadership


Initiative on Malnutrition (GLIM) vem sendo recomendado (Quadro 2).2,3
Segundo esse consenso, o diagnóstico de desnutrição requer a presença
de pelo menos 1 critério fenotípico e 1 critério etiológico.4 2

Quadro 2 – Critérios fenotípicos e etiológicos


para o diagnóstico de desnutrição
Critérios Fenotípicos
)%( Perda de peso > 5% nos últimos 6 meses OU
> 10% em mais de 6 meses
Baixo Índice de Massa Corporal < 18,5 se < 70 anos OU
(Kg/m2) < 22 se > 70 anos
Redução da massa muscular Redução avaliada por métodos validados
de composição corporal (DXA, BIA, TC, RM)
Critérios Etiológicos
Redução da ingestão alimentar ou Consumo de 50% das necessidades energéticas por >
prejuízo da absorção de nutrientes. 1 semana ou qualquer redução da ingestão alimentar
por > 2 semanas, ou qualquer condição gastrointestinal
que afete a digestão dos alimentos e a absorção dos
nutrientes*
Inflamação Doença aguda/trauma ou doença crônica associada**

Fonte: Cederholm et al. (2019), Barazzoni et al. (2020)2


4

*Considerar condições de disfagia, náuseas, vômitos, diarreia, constipação, dor abdominal e de-
sordens disabsortivas (síndrome do intestino curto, insuficiência pancreática, pós-cirurgia bariá-
trica etc.). **Considerar condições de grandes infecções, queimaduras, traumas, câncer, doença
pulmonar obstrutiva crônica, inflamação crônica. A COVID-19, devido à sua gravidade, deve ser
considerada como critério etiológico para o diagnóstico de desnutrição. DXA: densitometria por
emissão de raios X de dupla energia; BIA: bioimpedância; TC: tomografia computadorizada; RM:
ressonância magnética.
2 MUST (Malnutrition Universal Screening Tool): ferramenta de rastreio em cinco passos que
identifica adultos que sofram de malnutrição, ou seja, que estejam em risco de desnutrição ou que
sofram de obesidade. NRS-2002 (Nutritional Risk Screening): método de triagem nutricional que
detecta o risco de desenvolver desnutrição, durante a internação hospitalar. ASG (Avaliação Subje-
tiva Global): método que avalia o estado nutricional a partir da combinação de fatores como perda
de peso, alterações na ingestão alimentar, sintomas gastrintestinais, alterações funcionais e exame
físico do paciente. MAN (Mini Avaliação Nutricional): método validado e considerado padrão
ouro para avaliar o estado nutricional de idosos.

29
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Terapia Nutricional
O objetivo da Terapia Nutricional (TN) do paciente com risco ou diag-
nóstico de COVID-19 é oferecer um aporte adequado de energia, pro-
teína e micronutrientes, visando a prevenção da desnutrição e o fortale-
cimento do sistema imunológico.

Energia e macronutrientes
Conforme parecer da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Ente-
ral (BRASPEN) e da AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasilei-
ra), as recomendações de energia e proteína sugeridas na fase aguda da
doença estão descritas a seguir (Quadro 3) e devem ser instituídas grada-
tivamente, conforme tolerância. Nesse parecer, não se recomenda o uso
da calorimetria indireta, mesmo quando disponível, devido ao risco de
disseminação da doença. Assim, as fórmulas de bolso são as escolhidas
para o cálculo das necessidades de energia e proteína desses pacientes.

Quadro 3 – Recomendações de energia e proteínas para pa-


cientes hospitalizados com risco ou diagnóstico de COVID-19
Recomendação Observações
Energia 15 a 25 kcal/kg/dia Sugere-se iniciar aporte calórico mais baixo e progredir
para 25kcal/kg/dia, após o quarto dia de internação
daqueles pacientes em recuperação.
Proteína 1,5 a 2,0 g/kg/dia Essa recomendação é válida mesmo para pacientes com
disfunção renal. Sugere-se progressão da oferta proteica:
Dias 1 a 2: < 0,8 g/kg/dia
Dias 3 a 5: 0,8 a 1,2 g/kg/dia
Dia 5 em diante: > 1,2 g/kg/dia

Fonte: Campos et al. (2020)5

30
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Em relação aos pacientes idosos e polimórbidos (com duas ou mais co-


morbidades), infectados com o SARS-CoV-2, a Sociedade Europeia de
Nutrição Parenteral e Enteral (ESPEN) sugere recomendações de ener-
gia e proteínas específicas (Quadro 4). Apesar da ESPEN endossar o
uso da calorimetria indireta para determinar as necessidades energé-
ticas desses pacientes, também apoia o uso de fórmulas de bolso. As
recomendações de energia e proteínas nesse grupo de pacientes estão
descritas a seguir (Quadro 4). As recomendações de gorduras e carboi-
dratos devem ser ajustadas às necessidades de energia, considerando
uma proporção de energia de gorduras e carboidratos entre 30:70, em
indivíduos sem deficiência respiratória.2

Quadro 4 – Recomendações de energia e proteína para


pacientes idosos e polimórbidos hospitalizados
infectados com o SARS-CoV-2

População Recomendação

Energia Pacientes idosos 30 kcal/kg/dia*

Pacientes idosos e polimórbidos 27 kcal/kg/dia

Pacientes polimórbidos e com muito baixo peso 30 kcal/kg/dia**

Proteína Pacientes idosos 1 g/kg/dia*

Pacientes polimórbidos ≥1 g/kg/dia***

Fonte: Barazzoni et al. (2020)2


* Esse valor deve ser individual e ajustado em relação ao estado nutricional, nível de atividade
física, estado da doença e tolerância individual. **A meta de 30 kcal/kg/dia deve ser alcançada de
forma gradativa e com cautela, pois essa população tem alto risco para síndrome de realimentação.
*** O maior aporte proteico visa prevenir a perda de peso, reduzir o risco de complicações e de
readmissão hospitalar e melhorar o estado funcional.

31
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Micronutrientes
Uma das condutas nutricionais para manejo de infecções virais é a su-
plementação e/ou aporte adequado de vitaminas e minerais a fim de
reduzir os efeitos nocivos da doença ao organismo. Os micronutrientes
atuam sinergicamente e desempenham papéis em todos os estágios da
resposta imunológica. Nesse contexto, merecem destaque as vitaminas
A, D, C, E, B6, B12 e folato, além dos minerais zinco, ferro, cobre, selê-
nio e magnésio.6 Desse modo, sugere-se que a oferta de doses diárias de
vitaminas e minerais (RDAs) seja garantida aos pacientes hospitalizados
em risco ou diagnosticados com o COVID-19, com a finalidade de auxi-
liar a defesa nutricional geral contra infecções.2

Necessidades hídricas
A hidratação desses pacientes deve ser mantida e avaliada. Deve-se ga-
rantir um aporte hídrico de 30 a 40 ml/kg ou 2,2 l/dia para mulheres e
3 l/dia para homens.3

Suplementos orais
Os suplementos nutricionais são indicados para pacientes desnutridos
ou em risco de desnutrição, e quando a ingestão energética estimada
for inferior a 60-70% dos requerimentos energéticos.3,5 Nos pacientes
infectados que estão em quadro de risco ou desnutrição, sendo idosos
ou polimórbidos, a utilização desses suplementos deve ser precoce, nas
primeiras 24/48 horas. Ademais, esses suplementos devem fornecer,
pelo menos, 400 kcal/dia, incluindo 30 g de proteína/dia e devem ser
mantidos pelo período mínimo de um mês.2,3

32
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Probióticos
Embora se conheça a importante relação entre a microbiota intestinal
e outros sistemas orgânicos, e já tenha sido notificada disbiose intesti-
nal em pacientes infectados por COVID-19, ainda há poucas evidên-
cias que suportem o uso de probióticos nesses pacientes. O uso cego de
probióticos convencionais para COVID-19 não é recomendado até que
se tenha um entendimento mais aprofundado da patogênese da SARS-
CoV-2 e seu efeito na microbiota intestinal.7

Via de alimentação
A via oral é a preferencial e deve ser utilizada em pacientes não graves. A
nutrição enteral (NE) é indicada em pacientes que não estão atingindo
seus requerimentos energéticos via oral.5 São exemplos de indicação da
NE, pacientes com ingestão energética inferior a %50 dos requerimentos
energéticos por mais de uma semana ou casos em que se espera que a
ingestão oral adequada seja impossível por mais de três dias.2

33
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Fluxograma 1 – Protocolo nutricional de pacientes em enfer-


maria, com risco ou diagnosticados com COVID-19

Fonte: Adaptado Piovacari et al. (2020),1 Barazzoni et al. (2020),2 Bermúdez et al. (2020),3 Ce-
derholm et al. (2019),4 Campos et al. (2020)5

34
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Pacientes em Unidade de Terapia Intensiva


A insuficiência respiratória aguda é uma das complicações mais graves
de pacientes infectados pelo vírus SARS-CoV-2, causador da doença
COVID-19. Atingindo esse quadro grave, o paciente infectado preci-
sa de cuidados intensivos. Na UTI, o suporte nutricional adequado é
elemento coterapêutico essencial para recuperação do paciente com
COVID-19. Na verdade, o manejo nutricional do paciente de UTI com
COVID-19 é, em princípio, muito semelhante a qualquer outro pacien-
te de UTI admitido com comprometimento pulmonar. Dada a falta de
evidências diretas em pacientes com COVID-19, especialmente aqueles
com choque, muitas dessas recomendações são baseadas em evidências
oriunda de pacientes críticos em geral e de pacientes com sepse e sín-
drome do desconforto respiratório agudo (SDRA).8

Triagem e Avaliação Nutricional


Os fatores que levam ao risco nutricional (Quadro 1) e o consenso da
GLIM para diagnóstico da desnutrição (Quadro 2), comentados ante-
riormente, podem ser aplicáveis aos pacientes em UTI. Além disso, o
NUTRIC Score é uma alternativa para verificar o risco de desnutrição
em pacientes críticos.2,9 Alguns parâmetros bioquímicos, como albumi-
na e a proteína C reativa, parecem estar associados ao prognóstico dos
pacientes infectados e também podem ser monitorados nesses pacientes
(Fluxograma 2).10

35
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Terapia Nutricional
Conforme a diretriz da ESPEN, o suporte nutricional de pacientes com
COVID-19 em UTI, dependerá do suporte ventilatório alocado ao pa-
ciente (Quadro 5).2

Quadro 5 – Suporte nutricional do paciente com COVID-19


em UTI, conforme suporte ventilatório

Enfermaria UTI UTI Alta da UTI


Dia 1 a 2 Dia 2 em
diante

Oxigenoterapia Nenhuma ou CNAF, acompa- VM Possível extubação


e ventilação cânula nasal de nhada de VM e transferência
mecânica alto fluxo para enfermaria

Disfunção Pneumonia Deterioração do Possível Recuperação


orgânica bilateral; trom- estado respirató- disfunção progressiva após
bopenia rio; SDRA; de múltiplos extubação
possível choque órgãos

Suporte nutri- Triagem nutri- Definir meta Preferir NE Avaliar presença de


cional cional; NO/SO; de energia e precoce; disfagia e, se possí-
se necessário, proteína. proteína e vel, indicar NO;
NE ou NP Em caso de mobilização se não for possível,
CNAF ou VNI, NE ou NP;
administrar NO aumentar o aporte
ou NE; proteico e estimu-
se não for possí- lar mobilização/
vel, NP exercício

Fonte: Barazzoni et al. (2020)2


CNAF: cânula nasal de alto fluxo; NO: Nutrição Oral; SO: Suplemento Oral; NE: nutrição enteral;
NP: nutrição parenteral; VM: ventilação mecânica; VNI: ventilação não invasiva; SDRA: síndrome
do desconforto respiratório agudo.

36
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Pré-intubação
Pacientes com COVID-19 em UTI, não intubados, que não estejam
atingindo a meta de energia pela via oral, devem receber suplementos
nutricionais orais. Se ainda não atingirem essa meta, considerar a NE.
Havendo limitações para via enteral, aconselha-se a nutrição parenteral
periférica para auxiliar o alcance da meta energética e proteica.
Quando a NE precisa ser iniciada em pacientes com ventilação não in-
vasiva (VNI), a colocação da sonda nasogástrica pode ocasionar vaza-
mento de ar e/ou dilatar o estômago. Em ambos os casos, pode haver
comprometimento da eficácia da VNI. Esses fatos geram uma imple-
mentação inadequada da NE, sobretudo nas primeiras 48h na UTI, po-
dendo causar inanição do paciente, desnutrição e suas complicações. A
nutrição parenteral periférica pode ser considerada nessas condições.2
É de suma importância avaliar a ingestão energético-proteica de
pacientes oxigenados pela cânula nasal que estão retomando a dieta oral.
Um aporte insuficiente de energia e proteínas nesses pacientes aumenta
o risco de desnutrição e suas complicações. Nesses casos, considerar a
possibilidade da suplementação nutricional oral.2

Ventilação mecânica e intubação


Quando a cânula nasal de alto fluxo e a VNI não tiverem êxito, o pacien-
te precisará ser intubado e receber a ventilação mecânica. A prevenção
da desnutrição e a manutenção do estado nutricional desses pacientes
deverá ser foco da terapia nutricional.

37
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Quadro 6 – Recomendações de energia e proteína para


pacientes com COVID-19 em UTI, entubados
e em ventilação mecânica

Recomendações Observações
Energia A alimentação deve ser iniciada com Embora os requerimentos energéticos
baixa dose de EN, definida como por calorimetria sejam mais fidedig-
hipocalórica ou trófica, avançando nos, as fórmulas de bolso são uma
gradativamente até a dose completa alternativa prudente para reduzir o
durante a primeira semana de doença risco de disseminação do vírus.8
crítica, para atingir a meta de energia
de 15-20 kcal/kg peso atual/dia (≈70- Se o paciente fizer uso de propofol,
80% VCT).8 lembrar de contabilizar as calorias
extras que estão sendo ofertadas me-
diante esse anestésico (1,1kcal/mL).8

Proteína A meta de proteína é de 1,2 a 2,0 g/kg Uma fórmula enteral isosmótica
peso atual/dia.8 polimérica hiperproteica (> 20% de
proteína) deve ser usada na fase aguda
Durante a fase crítica, a meta de 1,3 da doença.2
g/kg/dia deve ser atingida de forma
gradativa.2
O peso ajustado em pacientes obesos
Em pacientes com obesidade, usar 1,3 pode ser calculado da seguinte forma:2
g/kg peso ajustado/dia.2 PA = Peso ideal + (Peso atual – Peso
ideal) x 0.33

Fonte: Martindale et al. (2020),8 Barazzoni et al. (2020)2

Recomenda-se a instituição da NE precoce, nas primeiras 12 horas, prefe-


rencialmente pela via nasogástrica. Um agente procinético pode ser usado
para aumentar a motilidade e acelerar o esvaziamento gástrico. Isso não
deve ser uma contraindicação para uso da NE.2 Caso haja risco de bron-
coaspiração, o posicionamento pós-pilórico da sonda é recomendado.3 No
entanto, deve-se ter cautela na técnica de colocação da sonda pós-pilórica,
pois o uso de endoscopia e orientação fluoroscópica pode violar o isola-
mento aéreo e trazer risco de contaminação aos profissionais de saúde.8

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Tanto as diretrizes da Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e


Enteral (ASPEN) como da ESPEN sugerem fortemente a administração
da NE de forma contínua e não em bolus. Evidências mostram que a
administração contínua está associada à redução da diarreia e, também,
diminui a exposição de membros da equipe multiprofissional junto aos
pacientes. No caso de escassez de bombas de infusão, deve-se priorizar
os pacientes com sonda pós-pilórica ou com sintomas de intolerância.
A administração da NE por gravidade é uma alternativa, caso não haja
bomba de infusão para todos os pacientes.8
A NE deve ser contraindicada tanto na presença de choque não con-
trolado, instabilidade hemodinâmica e baixa perfusão tecidual, como
no caso de hipoxemia não controlada, hipercapnia ou acidose. Porém,
quando houver um período de estabilização, a NE precoce trófica já
pode ser instituída. Esse período de estabilização é verificado quando
há controle do choque com fluidos vasopressores ou inotrópicos (sem
deixar de observar se há sinais de isquemia intestinal) e em pacientes
com hipoxemia estável e compensados.2
A posição prona é uma manobra utilizada para combater a hipoxe-
mia nos pacientes com SDRA. É uma técnica barata para melhorar a
oxigenação e aumentar a depuração da secreção brônquica. Tem sido
associada à diminuição da lesão pulmonar induzida pela ventilação e
ao aumento da sobrevida em pacientes com SDRA.8 Mesmo quando os
pacientes estabilizados estão em decúbito ventral (posição prona), a NE
trófica pode ser iniciada, seguindo meta de 20kcal/kg/dia, ofertando de
50 a 70% VCT no dia 2, e aumentando essa oferta para 80 a 100% no
dia 4. A meta proteica de 1,3 kg/g/dia deve ser atingida entre os dias 3 e

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

5. Caso seja observado resíduo gástrico acima de 500mL, o posiciona-


mento da sonda deve ser intestinal (pós-pilórico). Havendo intolerância
à NE, considerar a nutrição parenteral. A glicose sanguínea deve ser
mantida entre 6 e 8 mmol/L (108 a 144mg/dL), juntamente com o mo-
nitoramento de triglicerídeos e eletrólitos no sangue, incluindo fosfato,
potássio e magnésio.2
Quanto aos pacientes com COVID-19 internados na UTI que não tole-
ram a evolução da NE durante a primeira semana na UTI, deve-se avaliar
a possibilidade de introdução da nutrição parenteral, após todas as estra-
tégias para maximizar a tolerância à NE terem sido implementadas.2,3
A nutrição parenteral (NP) deve ser iniciada logo que possível em pa-
cientes de alto risco, ou seja, aqueles com sepse ou choque que requerem
altas doses de medicamentos ou uma combinação de vasopressores, ou
quando for necessário suporte respiratório de alta pressão. Nos casos de
pacientes com COVID-19, a nutrição parenteral precoce subverterá as
preocupações com o intestino isquêmico e reduzirá a transmissão de ae-
rossóis aos profissionais de saúde, por evitar a colocação e a manutenção
de uma sonda de acesso entérico.8
Pacientes idosos polimórbidos, com quadros graves de COVID-19, po-
dem apresentar um risco maior de apresentar a síndrome de realimen-
tação. Portanto, é importante identificar desnutrição preexistente ou
outros fatores de risco para a síndrome de realimentação em pacientes
críticos. Se houver risco de síndrome de realimentação, recomenda-se
iniciar a alimentação com aproximadamente 25% da meta calórica, em
pacientes alimentados com NE ou parenteral, combinado com o moni-
toramento frequente das concentrações séricas de fosfato, magnésio e

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

potássio, à medida que as calorias aumentam lentamente. As primeiras


72 horas de alimentação são o período de maior risco.8
Antes mesmo dos sintomas respiratórios, alguns pacientes com CO-
VID-19 podem apresentar inicialmente diarreia, náusea, vômito, des-
conforto abdominal e, em alguns casos, sangramento gastrointestinal,
cujas evidências sugerem maior gravidade da doença.11 Estudo aponta a
presença de componentes virais de RNA em amostras fecais e respirató-
rias desses pacientes, e o envolvimento gastrointestinal na COVID-19 foi
confirmado pela presença da proteína ACE2 (receptor celular para SARS-
CoV-2) encontrada nas células glandulares da mucosa esofágica, gástrica,
duodenal e retal.12 Sendo assim, embora o mecanismo exato dos sintomas
gastrointestinais induzidos por COVID-19 ainda não esteja totalmente
esclarecido, nos casos de sintomas gastrointestinais graves ou incoercí-
veis, recomenda-se o uso precoce da nutrição parenteral, com a transição
para NE mediante o desaparecimento dos sintomas gastrointestinais.7

Pós-ventilação mecânica e disfagia

De maneira geral, após a extubação, os pacientes tendem a apresentar


disfagia, podendo limitar consideravelmente a ingestão de nutrientes
por via oral, mesmo diante da melhora da condição clínica. De forma
semelhante, a maioria dos pacientes submetidos à traqueostomia pode
retornar à ingestão oral após esse procedimento, mas a cânula prolonga-
da na traqueia retarda a ingestão oral adequada de nutrientes. A disfagia
pós-extubação é comum em idosos e está associada à pneumonia, rein-
tubação e mortalidade hospitalar.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

É recomendado segundo Barazzoni et al. (2020):2


• Orientar a modificação da textura dos alimentos, facilitando a
deglutição e a aceitação das refeições;
• Administrar a NE quando a deglutição não for segura. Quando
houver elevado risco de broncoaspiração, optar pelo posiciona-
mento pós-pilórico da sonda de alimentação;
• Caso a NE não seja possível, recomenda-se nutrição parenteral
temporária, durante treinamento da deglutição com a sonda
nasoenteral removida;
• A nutrição parenteral não foi muito estudada nessa população,
porém pode ser considerada, caso as metas de ingestão energético
-proteica não estejam sendo alcançadas.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Fluxograma 2 – Protocolo nutricional de pacientes


com COVID-19, em UTI

Fonte: Adaptado Barazzoni et al. (2020),2 Bermúdez et al. (2020),3 Martindale et al. (2020),8
Heyland et al. (2011)9

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Considerações finais
Apesar do grande desafio que enfrentamos no combate ao COVID-19, é
necessário garantir a qualidade da assistência multidisciplinar à saúde,
de maneira que esta ocorra de forma sólida e coesa. Considerando que
a manutenção/recuperação do estado nutricional do paciente está asso-
ciada a menores complicações e melhores desfechos clínicos, a TN deve
ser valorizada como parte integrante dos protocolos de cuidado ao pa-
ciente hospitalizado com suspeita ou diagnóstico de COVID-19. Além
disso, o profissional nutricionista deve valorizar o desenvolvimento e
a implementação de protocolos nutricionais atualizados e fundamen-
tados nas principais diretrizes clínicas que apoiam recomendações ba-
seadas em evidências. Esses instrumentos devem estar presentes como
documento orientador da rotina dos nutricionistas clínicos e membros
da equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN), sempre vi-
sando à recuperação do paciente.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Terapia nutricional
na reabilitação
pós-COVID-19
Márcia Marília Gomes Dantas Lopes
Jéssica Bastos Pimentel
Sancha Helena de Lima Vale

A pandemia por coronavírus encontra-se em constante evolução, porém


já é possível perceber a necessidade que emergiu de um entendimen-
to geral das necessidades de reabilitação pós-COVID-19.1 Os déficits
cognitivos, físicos e funcionais são resultantes de várias situações: 1) do
distanciamento social imposto por vários países para combater a disse-
minação da doença; 2) dos períodos de quarentena para recuperação da
saúde para os casos suspeitos e confirmados sem maiores complicações;
e 3) da permanência no hospital com a utilização de diversas medica-
ções e uso de ventilação mecânica invasiva. Essas condições exigem in-
tervenções e cuidados de reabilitação com abordagem multidisciplinar
a longo prazo.2,3,4
Diante da realidade de pacientes com algum tipo de incapacidade rela-
cionada ao COVID-19, a atuação imediata dos profissionais de saúde é
crucial para ajudar a restabelecer a melhora do quadro3. Neste sentido,
o nutricionista pode auxiliar na terapêutica das alterações clínicas pós
COVID-19, com condutas dietoterápicas específicas considerando as-
pectos nutricionais e socioeconômicos do indivíduo.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Principais alterações clínicas de impacto nutricional


no pós-COVID-19
Alterações clínicas como ansiedade, distúrbios do sono, estomatites, al-
terações do peso corporal e sensoriais têm sido associadas a mudanças
no estado nutricional. Essas mudanças produzem um impacto nutri-
cional tanto em pessoas sintomáticas quanto nas assintomáticas para
COVID-19. A seguir será feita uma abordagem especificando como
alimentos e componentes alimentares podem atenuar, ou até mesmo
reverter, as principais alterações clínicas citadas.

Ansiedade
Os problemas de saúde mental estão aumentando durante a pandemia do
COVID-19. Entre os casos diagnosticados, destaca-se a ansiedade. Baixas
concentrações de serotonina no cérebro podem contribuir para o aumen-
to da ansiedade e depressão. No aspecto nutricional, alimentos fontes de
triptofano, que promove a síntese de serotonina e melatonina, desempe-
nham papel importante na regulação do humor e da ansiedade.5

Distúrbios do sono
O sono é uma atividade biológica fundamental na consolidação de
diversas funções corporais. Portanto, a desregulação nos períodos de
sono e vigília pode acarretar alterações significativas no funcionamen-
to físico, ocupacional, cognitivo e social do indivíduo, comprometen-
do substancialmente a qualidade de vida6. Em relação à nutrição, a má
qualidade do sono está associada à alta ingestão de bebidas açucaradas
e de cafeína.7,8

48
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Alterações do peso corporal


A obesidade é um fator de risco para o agravamento da COVID-19.
Contudo, essa doença está relacionada com flutuações no peso corporal.
As mudanças no peso podem refletir perda ou ganho de massa corporal
ou de fluidos. A abordagem desse paciente fundamenta-se, sempre que
possível, na correção dos fatores causais. É necessária a atenção precoce
à nutrição e à prevenção da perda de peso durante períodos de estresse
ou trauma agudo9. Em infecções virais, a inapetência e, consequente-
mente, o baixo consumo de alimentos é um dos fatores principais da
perda de peso.10 Por outro lado, podem ser observadas situações rela-
cionadas ao ganho de peso persistente decorrente do período de distan-
ciamento social quando fatores como ansiedade, distúrbios do sono e
inatividade física estiveram presentes.2

Alterações de olfato e paladar


Os distúrbios da quimiossensibilidade, olfação e gustação são sintomas
de algumas infecções virais; por isso, o tratamento depende da sua cau-
sa. A hidratação oral e o estímulo sensorial são importantes modali-
dades de tratamento.11,12 A perda ou redução do olfato e, consequen-
temente, do paladar, são achados clínicos recorrentes na infecção por
SARS-COV-2. Poderá haver um aumento de pacientes com perda pós-
viral persistente como resultado dessa doença.13

Estomatite e/ou fissuras orais


Caracterizadas pelo aparecimento de lesões ulcerativas em qualquer re-
gião da mucosa jugal. Sua etiologia é multifatorial, estando associadas às
causas sistêmicas, como as infecções e as doenças imuno-hematológicas.14

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Cansaço respiratório
A síndrome respiratória aguda causada pela infecção por SARS-CoV-2
pode ser caracterizada por doenças respiratórias leves ou pneumonia mo-
derada a grave, que pode causar Síndrome da Angústia Respiratória Agu-
da (SARA) e falência de múltiplos órgãos. Além da reabilitação neuro-
motora e do suporte neuropsicológico, a terapêutica nutricional também
é um aspecto relevante na reabilitação de indivíduos com esse sintoma.4

Disfagia pós-intubação orotraqueal


A intubação orotraqueal é utilizada em pacientes que necessitam de
auxílio para a manutenção da respiração. Porém, apesar dos evidentes
benefícios, quando o tempo de utilização é prolongado, pode propor-
cionar lesões na cavidade oral, faringe e laringe. Essas lesões causam
diminuição da motricidade e da sensibilidade local e comprometem o
processo da deglutição, determinando as disfagias orofaríngeas. Sendo
assim, a introdução da alimentação por via oral, para os pacientes que
fizeram uso de tubo orotraqueal, deve ser cuidadosa a fim de garantir a
nutrição adequada e evitar complicações respiratórias.15,16

Condutas nutricionais para os principais sinais e sintomas de


impacto nutricional no pós-COVID-19
O coronavírus é um agente etiológico de infecções graves em animais e
humanos, que pode causar desordem não apenas no trato respiratório
mas também no trato digestivo e sistemas associados.17 Suas manifesta-
ções sintomáticas são bem particulares e podem se apresentar de ma-
neira diferente nos indivíduos acometidos pela doença. Abaixo, apre-
sentamos os principais sinais e sintomas do COVID-19, que algumas
vezes permanecem após a doença, e respectivas condutas nutricionais.
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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Fonte: Adaptado Lindseth et al. (2015),5 Brasil (2015),19 Dutheil et al. (2016),20 Ramón-Arbués et al.
(2019)21 e Muscogiuri et al. (2020)22

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Receitas que auxiliarão na reabilitação, relacionada as altera-


ções clínicas de impacto nutricional, no pós-COVID-19

Sabendo da importância dos alimentos e nutrientes no processo de rea-


bilitação, sugerimos receitas específicas com o intuito de oferecer op-
ções nutritivas, saborosas e práticas, apoiando e estimulando práticas
alimentares adequadas, voltadas às principais alterações clínicas de im-
pacto nutricional após o COVID-19.

Ansiedade Bolo integral de banana com mel e oleaginosas

Ingredientes:
3 ovos
1 pote de iogurte natural desnatado
½ xícara de chá de azeite ou óleo da sua preferência
½ xícara de chá de mel
2 xícaras de chá de farinha de aveia
1 colher de sopa de fermento em pó
2 bananas nanicas em cubos pequenos
50g de oleaginosas picadas (nozes, castanha-do-brasil, castanha-de-caju)

Modo de preparo: Bata no liquidificador os ovos, o iogurte, o óleo, o mel


e a farinha de aveia. Em uma vasilha, adicione essa mistura, acrescente as
bananas picadas e, por último, o fermento em pó. Despeje a mistura em uma
forma untada e enfarinhada. Adicione as oleaginosas picadas. Leve ao forno
médio preaquecido (180º C), por cerca de 30 minutos ou até que, colocando
um palito, ele saia seco.

Distúrbios Suco calmante


do sono
Ingredientes:
5 folhas de alface
1 colher de sopa de salsa
Polpa de 2 maracujás

Modo de preparo: Bata todos os ingredientes no liquidificador e sirva.

Rendimento: 1 porção

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Perda de peso Bolo de abacate

Ingredientes:
4 ovos
1 xícara de chá de leite de coco
1 xícara de chá de açúcar
1 colher de chá de manteiga
1 abacate médio
2 xícaras de farinha de arroz ou de trigo
3 colheres de sopa de semente de chia
1 colher de sopa de fermento

Modo de Preparo: Pré-aqueça o forno. Coloque os ovos, o leite de coco, o açú-


car, a manteiga e o abacate no liquidificador e bata bem até formar um creme.
Em uma vasilha misture os secos, a farinha de arroz, a chia e o fermento,
adicionando o creme batido e mexendo bem. Colocar esta mistura em uma
forma untada e enfarinhada e levar ao forno a 150° C, por aproximadamente
40 a 50 minutos.

Alterações Bolinho de feijão


de olfato e
paladar Ingredientes:
190g (1 xícara de chá) de feijão-branco cozido com temperos amassados –
pode substituí-lo por feijão-fradinho ou carioca
50g (½ xícara de chá) de cenoura crua ralada
2 colheres de azeite de oliva
2 colheres de amido de milho ou farinha de trigo
Temperos: salsa, orégano, semente de coentro moída, pimenta-do-reino e sal

Modo de Preparo: Misture bem todos os ingredientes, modele com uma


colher na mão e coloque em uma frigideira antiaderente, em fogo baixo com
a frigideira tampada.

Rendimento: 28 bolinhos

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Estomatite e/ Creme de laranja e cenoura


ou fissuras
orais Ingredientes:
½ xícara de chá de cenoura picada
½ xícara de chá de água
1 xícara de chá de suco de laranja
2 colheres de sopa de maisena
2 colheres de sopa de açúcar

Modo de preparo: Bata no liquidificador a cenoura com a água e acrescente


o suco de laranja. Junte a maisena e o açúcar, mexa bem e leve ao fogo para
engrossar. Cozinhe até desprender do fundo e sirva gelado.

Rendimento: 1 porção
Cansaço Suco antioxidante
respiratório
Ingredientes:
200ml de água mineral
Suco de 1 laranja
Duas xícaras de chá de frutas vermelhas (inclua a acerola, fruta regional)
1 rodela de gengibre
Duas folhas de hortelã
1 colher de oleaginosas de sua preferência, picadas/trituradas

Modo de preparo: Bata todos os ingredientes no liquidificador.

Rendimento: 1 porção
Disfagia pós Purê de abóbora
intubação
orotraqueal Ingredientes:
2 colheres de sopa de óleo ou azeite de oliva
Sal à gosto
1 dente de alho amassado
2 xícaras de abóbora cozida e amassada
1 xícara de leite

Modo de preparo: Levar o legume amassado para refogar em uma panela com
o óleo, o sal e o alho. Deixar refogar e posteriormente acrescentar o leite aos
poucos até que se obtenha a consistência desejada

*Se necessário, acrescente na preparação o espessante indicado pelo fonoau-


diólogo ou nutricionista.
Dica: Pode ser feito com qualquer legume.

Rendimento: 3 porções
Rendimento

Fonte: ASBRAN (2020),23 Brasil (2016)24

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Considerações finais

Atualmente, não existem terapias específicas para o COVID-19. No


entanto, as medidas implementadas permanecem limitadas a terapias
preventivas e de suporte, projetadas para evitar complicações adicio-
nais e possíveis danos aos pacientes infectados durante o período de
reabilitação.18

Referências

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
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INDIVÍDUOS COM COVID-19

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
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INDIVÍDUOS COM COVID-19

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59
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Anexo 1

Quadro 1 – Principais medicamentos utilizados no


tratamento de pacientes com COVID-19, com destaque
para as indicações e implicações nutricionais
Princípio ativo Indicação Implicações nutricionais

Ceftriaxona Infecções causadas por Alterações gastrointestinais: diarreia, náu-


microorganismos.12-13 sea, vômito, fezes amolecidas, estomatite e
glossite.12-13

Azitromicina Infecções causadas por Alterações gastrointestinais: diarreia e


bactérias.14 colite. A forma em pó contém açúcar,
portanto, deve ser usada com cautela em
diabéticos. Devido à presença de sacarose
na forma em pó, não é indicado a pacien-
tes com intolerância à frutose (intolerância
à frutose hereditária), má absorção de
glicose-galactose ou deficiência de sacara-
se-isomaltase.14

Hidroxicloro- Eleva o pH endossômico e Comum: Anorexia; Desconhecida:


quina inibe o pH ideal no proces- hipoglicemia. Alterações gastrointestinais:
so de replicação viral.15-16 Muito comum: dor abdominal, náusea.
Comum: diarreia, vômito.15-16

Tamiflu Tratamento dos sintomas Alterações gastrointestinais: diarreia,


da gripe.17-18 náusea, vômito e dispepsia.17-18

Remdesivir Análogo de nucleotídeo Hipotensão. Alterações gastrointestinais:


incorporado a cadeia de náuseas e vômito.18
RNA viral e resulta em
terminação prematura da
cadeia.18

Cloroquina Eleva o pH endossômico e Alterações gastrointestinais: irritação


inibe o pH ideal no proces- gastrointestinal, náuseas, vômito e esto-
so de replicação viral.15-16 matite.15-16

Fonte: Adaptado Silva et al. (2014),1 Menezes et al. (2020),3 Mehta et al. (2020),4 FDA (2020)5
60
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Referências
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macêuticos S.A.

61
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Sobre os autores

Adriana Leão de Miranda Ferreira


Nutricionista pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO). Mestranda em Nutrição pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). Especialista em Nutrição Pediátrica e Esco-
lar pela Universidade Gama Filho e em Gestão da Educação pela FESP.
Possui Aprimoramento em Nutrição Oncológica Infantil pela Univer-
sidade Federal de São Paulo (UNIFESP/GRAAC) e Curso de Alimen-
tação Coletiva Universidade do Porto. Auditora em Nutrição Clínica
Hospitalar (UNIMED).

Ana Paula Trussardi Fayh


Nutricionista pelo Instituto Metodista de Educação e Cultura e gradua-
da em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Doutora em Endocrinologia pela UFRGS. Professora Asso-
ciada de Nutrição Clínica da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). Membro Efetivo dos Programas de Pós-Graduação em
Nutrição, Educação Física e Ciências da Saúde da UFRN. Líder do Gru-
po de Estudos em Metabolismo, Exercício e Nutrição.

David Franciole de Oliveira Silva


Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Saúde da Família pela Universidade de Brasília
(UnB). Mestre em Nutrição pela UFRN. Doutorando em Saúde Coletiva
pela UFRN. Nutricionista da Prefeitura Municipal de Passa e Fica/RN.
Nutricionista da Prefeitura Municipal de Bom Jesus/RN.

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

Eduarda Pontes dos Santos Araújo


Nutricionista e Mestra em Ciências da Nutrição pela Universidade Fe-
deral da Paraíba (UFPB). Especialista em avaliação de serviços de Saúde
pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UF-
CSPA). Doutoranda em Ciências da Saúde pela UFRN. Pós-graduanda
em Nutrição Clínica Funcional pela VP Centro de Nutrição Funcional e
Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL). Nutricionista da Secretaria
Municipal de Saúde de Natal e do Hospital Walfredo Gurgel.

Jéssica Bastos Pimentel


Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro
do Sul (UNICSUL-SP). Mestranda em Nutrição pela UFRN.

Karine Cavalcanti Maurício de Sena Evangelista


Nutricionista pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Especia-
lista em Nutrição Clínica pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). Mestre em Ciências Farmacêuticas pela UFRN. Doutora
em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Docente Associa-
da do Departamento de Nutrição da UFRN, área de Nutrição Clínica.
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Nutrição da UFRN.

Lucia Leite Lais


Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Nutrição Clínica pela UFRN. Especialista

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

em Pesquisa Clínica pela Faculdade de Educação em Ciências da Saú-


de (FECS). Health Coach pelo Institute for Integrative Nutrition (IIN).
Doutora em Ciências da Saúde pela UFRN. Pós-Doutora em Genômica
Nutricional pela University of Florida (UFL). Docente Adjunta do De-
partamento de Nutrição da UFRN, área de Nutrição Clínica.

Márcia Marília Gomes Dantas Lopes


Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Avaliação e Terapia Nutricional em Pacientes
com Enfermidades Renais pelo Instituto Cristina Martins. Especialista
em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pela Universidade Anhem-
bi Morumbi. Especialista em Nutrição Clínica Funcional pela Univer-
sidade Cruzeiro do Sul. Mestre e Doutora em Ciências da Saúde pela
UFRN. Docente Adjunta do Departamento de Nutrição da UFRN, na
área de Nutrição Clínica.

Maria Eduarda Bezerra da Silva


Graduanda em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Inicia-
ção Científica (PIBIC). Membro do núcleo de pesquisa em Alimentos,
Nutrição e Saúde do Departamento de Nutrição da UFRN.

Sancha Helena de Lima Vale


Nutricionista pela Universidade Nilton Lins. Farmacêutica pela Univer-
sidade Federal do Espírito Santo (UFES). Especialista em Nutrição Hos-
pitalar pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia

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TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
INDIVÍDUOS COM COVID-19

de Vitória. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do


Rio Grande do Norte (UFRN). Docente Adjunta do Departamento de
Nutrição da UFRN, na área de Nutrição Clínica.

Severina Carla Vieira Cunha Lima


Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Nutrição Clínica pela UFRN. Especialista em
Saúde Pública pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Mes-
tre em Ciências Farmacêuticas pela UFRN. Doutora em Ciências Saú-
de pela UFRN. Docente Associada do Departamento de Nutrição da
UFRN, na área de Nutrição Clínica.

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Este livro foi
produzido pela equipe
da EDUFRN
em junho de 2020.
TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO,
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
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