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LOGOTERAPIA, UMA ABORDAGEM DA PSICOLOGIA QUE BUSCA


O SENTIDO DA VIDA
LOGOTHERAPY, AN APPROACH OF PSYCHOLOGY THAT SEEKS
THE MEANING OF LIFE

Graciane Di Mario Eckermann1


Gessica Campos dos Santos2
Yasmin Marques3
Professora Bruna Naire Gumiero4
UNIFATEB – TELÊMACO BORBA/PR/BR

RESUMO: A logoterapia é uma abordagem psicoterapêutica que se baseia na ideia de que o ser humano
busca um sentido para a sua existência. Essa busca é vista como uma motivação primária e uma fonte de
saúde mental e bem-estar. Foi desenvolvida por Viktor Frankl, um psiquiatra e sobrevivente do
Holocausto, que se baseou em sua própria experiência de resistir à desumanização nos campos de
concentração. A logoterapia parte do princípio de que o ser humano é um ser espiritual, dotado de
liberdade e responsabilidade, que pode encontrar um propósito para sua existência mesmo nas situações
mais adversas. Essa abordagem oferece ferramentas para ajudar as pessoas a descobrir e realizar seus
valores, seus projetos e seus ideais, buscando assim uma vida mais plena e significativa. Ela propõe,
também, que, quando o sentido da vida é obscurecido ou frustrado, surge um estado de vazio existencial,
que pode levar a diversos problemas psicológicos, como depressão, ansiedade, tédio e até mesmo
comportamentos autodestrutivos. A logoterapia visa ajudar o indivíduo a encontrar o seu próprio sentido
da vida, através de um diálogo socrático, de exercícios reflexivos e de intervenções orientadas para os
valores. A logoterapia é considerada uma das principais vertentes da psicologia humanista e existencial.

PALAVRAS CHAVES: Logoterapia, sentido da vida, vazio existencial

ABSTRACT: Logotherapy is a psychotherapeutic approach that is based on the idea that human beings
seek a meaning for their existence. This search is seen as a primary motivation and a source of mental
health and well-being. It was developed by Viktor Frankl, a psychiatrist and Holocaust survivor, who
based his own experience of resisting dehumanization in the concentration camps. Logotherapy assumes
that human beings are spiritual beings, endowed with freedom and responsibility, who can find a purpose
for their existence even in the most adverse situations. This approach offers tools to help people discover
and fulfill their values, their projects and their ideals, seeking a more full and meaningful life. It also
proposes that, when the meaning of life is obscured or frustrated, a state of existential emptiness arises,
which can lead to various psychological problems, such as depression, anxiety, boredom and even self-
destructive behaviors. Logotherapy aims to help the individual find his own meaning of life, through a
Socratic dialogue, reflective exercises and value-oriented interventions. Logotherapy is considered one of
the main branches of humanistic and existential psychology.

KEYWORDS: Logotherapy, meaning of life and existential vacuum.

1
Aluna da graduação de Psicologia do 2° período da UNIFATEB – gekermann@hotmail.com
2
Aluna da graduação de Psicologia do 2° período da UNIFATEB – gessicacostadossantos@outlook.com

3
Aluna da graduação de Psicologia do 2° período da UNIFATEB – yasminstefhanicassulamarques@gmail.com

4
Docente de Psicologia na UNIFATEB campus sede – bruna.gumiero@unifateb.edu.br
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1. INTRODUÇÃO

O assunto “sentido da vida” já há muito discutido remontando às discussões


filosóficas gregas que debatiam os temas felicidade, origem da vida, finalidade da vida.
A procura de saber o real sentido da vida como resposta ao sofrimento do existir, a
título de enriquecer o tema, o Poeta de Cordel Brasileiro Leandro Gomes de Barros5 traz
a seguinte indagação:

Se eu conversasse com Deus


Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes


E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

A busca pelo sentido da vida como resposta ao sofrimento é um mote há muito


discutido que entremeia o mundo literário com a filosofia e a psicologia. O escritor
Rudolf Eucken (1846) retratou o tema com a seguinte profundidade:

A procura do sentido e do valor da vida não é de modo algum óbvia: surge


em épocas em que o indivíduo não mais discerne com clareza o conteúdo da
vida que o seu meio lhe apresenta, e essa incerteza, por seu lado, indica que
as relações tradicionais não se encontram à altura das exigências suscitadas
pelo progresso da vida.

Como citado, a literatura enriqueceu muito a discussão do tema em pauta, por


exemplo Dostoievski (1821 – 1881), escritor e filósofo russo que buscou abordar em
suas obras as questões acerca do sofrimento, culpa, livre-arbítrio, fé como sentido da

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Leandro Gomes de Barros (1865-1918) foi um importante poeta brasileiro de cordel. Ele nasceu no Nordeste do
Brasil, na cidade de Pombal, no estado da Paraíba. Leandro Gomes de Barros é amplamente reconhecido por suas
contribuições para o gênero da literatura de cordel, uma forma de poesia popular e folclórica que é característica da
região nordeste do Brasil.
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vida, racionalismo, niilismo, altruísmo, bem como, em suas obras muitas vezes analisou
transtornos mentais e o tema suicídio. Alberto Camus (1942) aborda o tema “sentido da
vida” em relação ao ser humano vivenciando situações absurdas e se a vida tem ou não
um significado, num ensaio filosófico “Le Mythe de Sisyphe”, usa uma metáfora ao
Mito de Sísifo para analisar o assunto. Em se tratando dessa discussão no mundo da
filosofia, importante citar Schopenhauer (1788 – 1860) que abordou o tema “sofrimento
da vida” associado ao amor, supondo que a ação humana é determinada pela vontade e
não pela razão, expondo uma visão bastante pessimista em relação à existência humana.
Já Nietzsche (1844 – 1900), bastante próximo ao que ora se desenvolve no texto sobre
logoterapia, defende que a “vontade de poder” é determinada na ação do ser humano,
cabendo a esse a sua superação individual e a transcendência. Heidegger (1889 – 1976)
e Jean-Paul Satre buscaram na fenomenologia de Edmund Hurssel (1859 – 1938) uma
análise ontológica sobre a existência. Satre e Heidegger contribuíram com suas
indagações a respeito do tema numa análise da relação vida e busca pelo sentido,
analisando a relação subjetiva-objetiva e às implicações no quotidiano do homem.

No contexto da psicologia da psicologia, buscou-se procurar uma resposta ao


sofrimento humano considerando que as desordens psicopatológicas em muito se
relacionam ao sofrimento humano. Para Freud (1856 – 1839), pai da psicanálise e Adler
(1870 – 1937) mentor da psicologia individual, o sofrimento provinha de “sentimentos
de inferioridade”.

Viktor Frankl, psiquiatra e neurologista vienense, nasceu em 26 de março de


1905 na Áustria, oriundo de uma família judaica que sempre teve, conforme sua
autobiografia publicada em 1995, nas tradições, valores e família um apego muito forte.
Na sua literatura se observa que o tema judaico repercute por muitas vezes quando,
principalmente, faz referências à Tora, versículos bíblicos e sua evidente fé em Deus
como citou:

A experiência suprema entre todas, para o homem que regressa a casa, é o


sentimento maravilhoso de que, depois de tudo quanto sofreu, não há mais
nada a temer – exceto o seu Deus6.

O médico Frankl é o criador da Logoterapia que é uma abordagem da psicologia


que busca o sentido da vida como forma de superar os desafios e as crises existenciais,
6
FRANKL, Viktor (1946a). O Homem Em Busca de Sentido. (Trad. Francisco J. Gonçalves). (4ᵃ ed.). Lisboa:
Lua de Papel, (2026), p. 100.
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bem como, entender o vazio existencial, ou seja, a sensação de falta de sentido na vida.
Foi desenvolvida pelo psiquiatra e neurologista, judeu austríaco Viktor Frankl,
sobrevivente ao Holocausto, esteve prisioneiro em quatro campos de concentração
nazistas, perdeu seus pais, irmãos, esposa e filho, bem como, testemunhou o poder da
vontade de viver. Sua experiência de miserabilidade humana o levou a entender o vazio
existencial, isto é, a sensação de falta de sentido na vida. A logoterapia foi desenvolvida
por Frankl acreditar que o ser humano tem uma motivação primária para encontrar um
propósito na existência e que a sua felicidade depende de como ele responde às
situações que enfrenta. A abordagem propõe que o vazio existencial pode ser superado
através da descoberta de valores pessoais, projetos de vida e responsabilidade diante do
próprio destino. Sua experiência de vida, principalmente, baseou seu pensamento em
que o ser humano é livre para escolher o seu destino. A logoterapia propõe que o
sentido da vida pode ser encontrado em três dimensões: a criativa, a experiencial e a
atitudinal. A dimensão criativa se refere à capacidade de realizar algo significativo,
como um trabalho, um projeto ou uma obra de arte. A dimensão experiencial se refere à
capacidade de vivenciar algo valioso, como o amor, a amizade ou a beleza. A dimensão
atitudinal se refere à capacidade de assumir uma postura positiva diante das
circunstâncias adversas, como o sofrimento, a doença ou a morte. A logoterapia é uma
forma de ajudar as pessoas a encontrar o seu propósito e a sua motivação para viver.

Quanto a Freud e Adler, Frankl reconheceu na psicanálise freudiana e na


psicologia individual adleriana, a preocupação com um equilíbrio interno, numa perene
busca pela cessação de tensão, como objetivo maior da recompensa dos impulsos e da
satisfação das necessidades, estabelecendo-se, de tal forma, o fim de toda atividade que
envolva a vida (Pereira, 2007, p. 127).

A Logoterapia se tornou mundialmente conhecida a partir do momento que


Viktor Frankl (2008) influenciou com seu livro intitulado “Em busca de sentido”, no
qual narra sua vivência em campos de concentração a partir das ideias da Logoterapia e
Análise Existencial, ela se tornou conhecida mundialmente. Apresentada como a
Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, atualmente conta com mais de 110
instituições que se dedicam a essa abordagem (Viktor Frankl Institute [VFI], 2013).
Também agrega um grande número de interessados não apenas da psicologia e
psiquiatria, mas de diversas áreas de conhecimento, como educação (Damásio, Silva, &
Aquino, 2010), filosofia (Rocha & Gomes, 2012), teologia (Einsfeld, 2010),
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enfermagem (Lima & Santa Rosa, 2008), literatura (Feitosa & Gaudêncio, 2012), entre
outras. No Brasil, há um crescente interesse na pesquisa do acerca do tema Logoterapia
e, em particular, o número de publicações vem crescendo nesse novo século (Véras &
Rocha, 2014).

2. OBJETIVO GERAL

- Analisar os conceitos e as aplicações da logoterapia, como abordagem


terapêutica, sendo uma forma de promover o bem-estar psicológico e a realização
pessoal dos indivíduos.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Apresentar a origem e o desenvolvimento da logoterapia, bem como seus


principais fundamentos teóricos e metodológicos.

- Discutir as contribuições da logoterapia para o entendimento da dimensão


espiritual e existencial do ser humano, especialmente em situações de crise, sofrimento
e vazio existencial.

- Exemplificar as técnicas e as estratégias da logoterapia para auxiliar os


indivíduos a descobrir e a realizar o sentido de suas vidas, de acordo com seus valores,
propósitos e projetos pessoais.

- Avaliar os benefícios e os desafios da logoterapia para a prática clínica, da


psicologia, bem como para o desenvolvimento humano e social.

3. JUSTIFICATIVA

Logoterapia é uma escola psicológica de caráter multifacetado de cunho


fenomenológico, existencial, humanista e teísta, conhecida também como a
"Psicoterapia do Sentido da Vida" ou, ainda, a Terceira Escola Vienense de
Psicoterapia. A teoria de Viktor Emil Frankl (1905-1997) engendra uma visão de
homem diferenciada das demais visões psicológicas de seu tempo ao propor a
compreensão da existência mediante fenômenos especificamente humanos e a
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identificação de sua dimensão espiritual, a qual pela sua dinâmica própria pode abrir os
olhos a uma vivência da religiosidade.

Se Kant ousou retirar o objeto do conhecimento do centro da epistemologia,


ousa-se afirmar que Frankl libertou a psicoterapia do introspectivismo, desconstruindo a
noção de uma autor realização solipsistai do centro das motivações primárias do ser
humano (Pereira, 2007). A pergunta não deveria ser "o que eu ainda devo esperar da
vida", todavia, "o que a vida espera de mim". Kierkegaard utiliza uma metáfora para
relacionar o esforço humano na busca da felicidade: a porta da felicidade abre-se "para
fora", ou seja, ela fecha-se exatamente para quem tenta empurrá-la para dentro, essa
figura de linguagem que correlaciona a porta que se abre para fora é uma maneira de
enfatizar que a busca pela felicidade não é um processo de preenchimento de
necessidades externas, mas sim um processo de autodescoberta e auto aceitação.
Todavia Frankl, a partir de sua experiência nos quatro campos de concentração durante
o nazismo alemão, foi mais longe, apontando para uma magnitude única que só Deus
pode justificar, na fidelidade ao sentido da existência, à missão do ser humano sobre a
face da terra. "Não se trata da busca de um, mas da busca do sentido" (Gomes, 1988, p.
31).

4. METODOLOGIA

Na intenção de apresentar a pesquisa bibliográfica sob essa perspectiva, o


presente artigo busca abordar o conceito e a importância da Logoterapia com
procedimentos metodológicos que permitem definir um estudo como sendo
bibliográfico. Através da exposição de exemplos, construídos a partir de uma pesquisa
dessa natureza, pretende-se chamar a atenção para os trabalhos já desenvolvidos a
respeito do tema e que a escolha por esse tipo de procedimento apresenta às
pesquisadoras à medida que constroem a busca por conhecer o objeto de estudo
proposto. Entende-se pesquisa como um processo no qual o pesquisador tem "uma
atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente
inacabado e permanente", pois realiza uma atividade de aproximações sucessivas da
realidade, sendo que esta apresenta "uma carga histórica" e reflete posições frente à
realidade (MINAYO, 1994, p.23). Desse modo, ao considerar a pesquisa qualitativa,
todo objeto de estudo apresenta especificidades, pois ele: a) é histórico e está localizado
temporalmente, podendo ser transformado; b) possui consciência histórica não é apenas
o pesquisador que lhe atribui sentido, mas a totalidade dos homens, na medida em que
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se relaciona em sociedade, e confere significados e intencionalidades a suas ações e


construções teóricas; c) apresenta uma identidade com o sujeito ao propor investigar as
relações humanas, de uma maneira ou de outra, o pesquisador identifica-se com ele; d) é
intrínseca e extrinsecamente ideológico porque "veicula interesses e visões de mundo
historicamente construídas e se submete e resiste aos limites dados pelos esquemas de
dominação vigentes" (MINAYO, 1994, p. 21).

5. DESENVOLVIMENTO

A logoterapia é caracterizada pela indagação da experiência imediata com base


na motivação humana para a liberdade e para o encontro do sentido de vida. Frankl a
define como uma psicoterapia orientada para o espírito, de modo a se entender que a
logoterapia origina-se "do" espiritual, enquanto a análise existencial se move "para" o
espiritual. A análise existencial focaliza a batalha do homem pelo sentido da sua
existência, não apenas considerando as dores, a morbidez, a miserabilidade e o
sofrimento, mas principalmente o “sentido da vida” (Frankl, 1978). A abordagem em
pauta tem a finalidade de proporcionar o saber necessário para uma leitura de mundo a
partir dos seus conceitos fundamentais.

Destarte, a logoterapia se aproxima da análise e descrição das experiências


vividas e percebidas pelo sujeito, aproximando-se do método fenomenológico a saber,
"o método fenomenológico é o que deve ser tomado, pois o fenômeno não é a
exterioridade, e sim, a manifestação de que há a coisa mesma ou o ser em si, sendo o
abrir-se e o revelar-se da própria realidade vivida pelo sujeito" (Pettengill & Angelo,
2000, p. 92).

Contudo, conforme Frankl entende que há uma aproximação da fenomenologia


ao mesmo tempo em que vê as diferenças, entendendo a fenomenologia como uma
abordagem filosófica que teve suas raízes nos trabalhos de filósofos como Edmund
Husserl e outros no final do século XIX e início do século XX. Ela não foi
originalmente desenvolvida como uma abordagem terapêutica, mas sim como uma
metodologia filosófica para a investigação da experiência consciente, já a logoterapia se
se concentra essencialmente na busca e no cultivo do sentido da vida. Viktor Frankl
ressaltou que a busca por um propósito, um escopo ou significado na vida é uma força
motivadora fundamental para os seres humanos. Ele desenvolveu técnicas terapêuticas
para ajudar as pessoas a encontrar sentido em suas vidas, mesmo diante de
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circunstâncias adversas. Entretanto, em muitos momentos logoterapia e fenomenologia


se sobrepõe em alguns aspectos, mas, têm origens, focos e aplicações distintas. A
logoterapia é especificamente uma forma de psicoterapia que se baseia nas ideias de
Viktor Frankl sobre a busca de sentido na vida, enquanto a fenomenologia é uma
abordagem filosófica mais ampla que influenciou várias disciplinas acadêmicas.

Frankl, contudo entender diferenças, aceitou a indicação de outros autores de


situar sua teoria dentro da psicologia humanista ou da psiquiatria existencial (Frankl,
1983). Porém, manteve a importância de salientar as diferenças com essas orientações.
Por exemplo, com relação ao humanismo, Frankl critica quanto à utilização do termo
auto realização, o qual tenderia a enfatizar demasiadamente a possibilidade de a pessoa
se realizar em si mesma. Para a logoterapia, esta realização só ocorre após o sentido de
vida ser concretizado, o que é possível quando o indivíduo transcende, vai ao encontro
de alguém ou de algo que está no mundo. Desta forma Frankl escolhe falar de
autotranscedência, como condição para a realização. Outra diferença, agora com os
existencialistas, é em se tratando ao sentido da vida. Alguns afirmam que a vida carece
de sentido, que o ser humano para viver, para suportar sua rotina, necessita que se
"invente" um sentido para a vida. Já Frankl assegura que a vida sempre tem sentido, o
qual está no mundo, sendo unicamente necessário que este sentido seja "descoberto"
pelo sujeito.

Viktor Frankl (1991) assinalava que o homem só se torna realmente um homem


e só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela atenção e apego a uma
tarefa, quando se esquece de si mesmo em prol de uma causa, ou no amor a uma pessoa.
O sentido da vida tem um modo objetivo, um ultimato no exigir a busca e essa está no
mundo a disposição de ser encontrada e não no sujeito que a experiência.

O psiquiatra e neurologista, estudioso e, acima de tudo ex-prisioneiro de um


Campo de Concentração Nazista, depois de vivenciar a miserabilidade humana, tomou
para si a importância de assinalar as diferenças com a psicanálise e a psicologia
individual. Ele jamais desconsiderou a importância de ambas e que essas duas escolas
pretendiam levar à consciência do homem - os instintos e a responsabilidade com os
laços sociais, respectivamente -, mas alertava a real necessidade de trazer à consciência
o sentido e os valores para a vida do homem.
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Na logoterapia, proposta como uma nova psicoterapia, Frankl vê o indivíduo


orientado a dar sentido a sua vida, revendo a clássica psicanálise, que na sua diferença,
observa o neurótico como dominado pelo princípio do prazer, ou seja, a vontade
orientada ao prazer, e a psicologia individual como determinado pela busca de prestígio,
ou seja, a vontade de poder (Frankl, 1991b, p. 120).

O que de fato impele o homem não é nem a vontade de poder (Adler), nem a
vontade de prazer (Freud), mas sim o que Frankl chama de vontade de sentido.

Conscientizando-se a pessoa da questão do sentido, o qual é realizado pela


concretização de valores, imputa-se ao ser humano, o que Frankl marcava como um
dever-ser (Frankl, 1978, p. 198). Outra diferença marcante entre as três escolas,
novamente se pode ver anotado quando Frankl cita Hofstatter: "cada uma das três
entidades psíquicas encontrou seu advogado entre os terapeutas - o id em Freud, o ego
em Adler, o superego em C. G. Jung, R. Allers, e V. Frankl." (Frankl, 1978, p. 199). Ao
interpretar esta citação, Frankl avalia- a verdadeira. E mais ainda, ao trazer para a
psicoterapia, através da logoterapia e da análise existencial, a reflexão sobre a liberdade
e a responsabilidade, oferece para este campo um poder-ser do ser humano, já que a
liberdade lhe abre possibilidades que podem ou não ser efetivadas.

Já em 1950, na conferência Sobre Psicoterapia, para neurologistas e psiquiatras


austríacos, Frankl intercede pelas recomendadas propostas de Max Scheler (1984) e
suas teorias de valores, quando apontava a necessidade de associar à visão de homem
uma dimensão mais além das dimensões física e psíquica, lembrando que apesar de o
homem ser uma unidade físico-psíquica "esta unidade não constitui o homem total;
precisamente o espiritual é que institui, funda e garante a totalidade do homem" (Frankl,
1991b, p. 117. Frankl admite que "a logoterapia é o resultado de uma aplicação dos
conceitos de Max Scheler à psicoterapia" (Frankl, 1970, p. 10).

Sigmund Freud não ignorava a magnitude espiritual, apenas não considerava


com tamanha importância com que Frankl o fazia. Consigna Frankl:

Freud foi suficientemente genial para ser consciente das limitações do seu
sistema, como quando confessou a Ludwig Binswanger que se havia ‘sempre
limitado’, em seu caso, ‘ao andar térreo e ao porão do edifício (Frankl, 2001,
p. 32).

É importante iterar que Frankl demonstrou com muita importância, que o sentido
espiritual não significa propriamente um sentido religioso, propondo inclusive uma
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outra etimologia - dimensão nooética - para sua sugestão antropológica, evitando assim,
qualquer possibilidade de confusão conceitual.

Contudo Frankl ter uma ótica voltada à divergência no que tange à Psicanálise e
Psicologia Individual, jamais deixou de atribuir a importância devida a tais escolas
como afirma em 1946:

Como falar de psicoterapia sem citar os nomes de um Freud e um Adler?


Seria impossível, com efeito, tratar de um problema de psicoterapia sem
tomar como ponto de partida a psicanálise e a psicologia individual e sem
fazer constante referência a eles. Pois não é em vão que se trata dos dois
únicos grandes sistemas no campo psicoterápico. Não é possível apagar
mentalmente da história da psicoterapia a obra de seus criadores, obra que
podemos qualificar de histórica no melhor sentido da palavra, porém também
no sentido do que já passou à história, ou seja, do que foi superado e
ultrapassado pelo curso ulterior dos acontecimentos (Frankl, 1967, p. 11).

Reitera sempre a importância de se homenagear os grandes mestres, contudo,


importa saber que novos caminhos são necessários. Frankl atribui o mérito aos mestres,
mas, intui que há uma obrigação de caminhar rumo a um novo norte e cita, nesta mesma
página a postura de Stekel e relação a Freud, de que "um anão sobre os ombros de um
gigante pode dominar um campo visual maior que o gigante mesmo" (Frankl, 1967, p.
11). Destarte, Frankl com essa postura e citando Stekel lembra da importância sobre as
contribuições, quando se referiu "temos o dever de voltar o olhar para elas", realçando,
entretanto, que "também temos o direito de delas nos afastarmos" (Frankl, 1991b, p.
116).

Frankl sinaliza as limitações que percebe na ótica do ser humano destes grandes
mestres:

(...) a neurose, para a psicanálise, representa em última instância uma


limitação do eu enquanto consciência, e, para a psicologia individual, uma
limitação do eu enquanto responsabilidade (...). Tanto a psicanálise como a
psicologia individual vêem, portanto, somente um dos dois lados do ser-
homem, um dos fatores da existência humana (Frankl, 1967, pp. 12-13).

Nesta mesma passagem, Frankl aponta a valorosa contribuição dos precursores,


e que sempre será a base de seu trabalho futuro:

(...) a consciência e a responsabilidade constituem precisamente os dois fatos


fundamentais da existência humana. O qual, traduzido numa forma
antropológica fundamental, podia expressar-se assim: ser-homem equivale a
ser-consciente-e-responsável (...) são os dois aspectos juntos e combinados
que oferecem a imagem total e verdadeira do homem (Frankl, 1967, p. 13).
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A dedicação a um propósito é o que torna o homem em um verdadeiro ser, posto


que a partir de sua dedicação a uma causa é o que o fará transcender, se esquecer de si
mesmo em prol de algo maior que não ele mesmo.

A logoterapia enxerga na vontade de sentido do homem uma orientação para a


realização de sentido, ou seja, "com uma razão para ser feliz, a felicidade surge
automaticamente como efeito colateral" (Pereira, 2007, p. 129). Com esse argumento,
os conceitos de "felicidade", de "prazer" ou de "poder", como elementos de finalidade
humana são negados. E essa procura incessante do estado “felicidade” a todo custo,
praticamente uma busca patológica de uma felicidade incondicional foi denominada por
Frankl como "princípio auto anulativo", entendido como quanto mais o homem
persegue uma ideia pronta de felicidade, prazer, encantos, conquistas ou sucesso, em
prejuízo da realização de sentido, mais o homem se distanciará desse objetivo. Para
Frankl a felicidade decorre não da busca intensa, mas, perpassa pela razão de que a
felicidade é espontânea e automática a partir da razão que haja para ela existir. De modo
que a "auto realização, se transformada num fim em si mesmo, contradiz o caráter auto
transcendente da existência humana" (Pereira, 2007 citado por Frankl, 1988, p. 38).

Sobre usar o termo “noogênico”, Frank se refere à busca de propósito e


finalidade. Ele manifesta ao expressar o conteúdo de busca de sentido como um homem
que perdeu o sentido, o significado da vida cai em um vazio existencial e sofre; tal
sentimento de perda de sentido se associa ao vazio existencial como uma falta de
projetos e valores, uma crise de identidade e tal frustração existencial resulta em
sintomas de neurose como uma adaptação patológica que se manifesta em ansiedade,
depressão, culta e muitas vezes agressividade (Perez, 1997, p. 65).

Viktor Frankl foi um inovador ao usar o termo “neuroses nooéticas” ou neuroses


existenciais para caracterizar a existência de sintomas clínicos que não estão baseados
em condições intrapsíquicas como diria Freud, mas associado à perda de sentido de vida
em conjunto com o empobrecimento de seus valores que leva este ser humano à
desesperança e muitas vezes a uma angústia e ansiedade que abrirá portas ao suicídio.

Ao valer-se do termo noodinâmica, Frankl repreende o entendimento de saúde


mental a partir do ideal do equilíbrio homeostático, pois conforme sua linha de
raciocínio, alguma tensão é necessária para a existência humana. A noodinâmica é a
crise essencialmente humana, é a própria dinâmica existencial; é a tensão que se
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estabelece entre o homem e o sentido, entre o ser e o dever-ser. E nela está presente a
essencial liberdade do ser humano a qual permite escolher uma ou outra possibilidade
(Roehe, 2005).

Ainda sobre o sentido de vida, Frank refere-se ao significado de propósito e


coerência de propósitos e finalidade. O médico expressa que o homem que perdeu o
sentido da vida cai num vazio existencial. Conforme Rage (1994) Frankl considerava a
neurose existencial como à crise de sentido vital. No mesmo sentido Salvador Maddi,
citado por Rage contextualiza doença existencial como uma consequência de um
fracasso generalizado no intuito de encontrar um sentido vital, assim seja lá o que o
indivíduo faça, não enxerga importância ou valor sobre às quais se dedica. Rage (pag.
161) também cita Benjamin Wolman que define a neurose existencial a seguir:

É o fracasso em encontrar um significado na vida, o sentimento de que não se


tem nenhuma razão para viver, para esperar... de que se é incapaz de
encontrar uma meta ou uma diretriz na vida, o sentimento de que, embora os
indivíduos se esforcem muito em seu trabalho, na realidade não têm nenhuma
aspiração.

Adler enfatizou o termo “sentimento de comunidade” para os valores pelos quais


um homem constrói o sentido de sua vida, embora não fale de neurose existencial, a
escolha de um estilo de vida inadequado, aponta o papel que nisso desempenha a falta
de desenvolvimento de um sentimento pró-social (Adler, 1955).

Frankl afirmava que o sentido da vida é a principal motivação humana e que,


quando esse sentido é perdido ou frustrado, surge o vazio existencial. Quanto ao vazio
existencial é um estado de falta de sentido, de desorientação, de tédio, de angústia e de
desespero. É uma sensação da falta de propósito na vida, de que nada tem valor e que
não há nada pelo que lutar ou esperar.

Na visão de Frankl o vazio existencial não é uma doença, mas, um sintoma de


uma falta de sentido que pode ser preenchida pela descoberta ou pela criação de um
sentido pessoal. Tendo em vista as questões da consciência e da responsabilidade como
constitutivas da estrutura ontológica, Frankl (2003a) incentiva o uso de três objetivos da
sua escola de psicoterapia: restabelecer no paciente sua capacidade de amar, de
trabalhar e de suportar o sofrimento. Frankl acreditava que o ser humano é livre para
escolher o seu sentido e que essa escolha é uma responsabilidade moral.

O vazio existencial relacionado a um transtorno, que para Frankl (2005) se


explica o homem moderno perdido em sua existência, que não sabe mais o que quer e o
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que deve fazer de sua existência devido à perda dos instintos, valores, interesses e da
tradição. A partir do momento que o homem. Dessa forma, o ser humano abstém-se de
sua autenticidade e unicidade para seguir o que os outros fazem, decidem ou ordenam,
seja para este homem se ajustar aos grupos, sentir-se pertencente a uma categoria, um
conjunto que o defina, mas, assim torna-se um ser ludibriado por contextos alheios.
Considerando que que cerca de 20% das neuroses são provocadas pelo sentimento de
falta de sentido (Frankl, 2003c), propõe o médico a necessidade real de trabalhar de
forma preventiva a frustração do sentido da vida e a frustração existencial. Portanto em
1927, ainda como estudante de Medicina, esse fundou os postos de aconselhamento para
a juventude buscando reduzir os altos índices de suicídio na Europa Central,
constatando, em 1930, que não havia sido registrada nenhuma tentativa de suicídio em
Viena (Frankl, 1995).

A desesperança ocorre em várias fases da vida humana, seja por motivos


internos (dificuldade na percepção de um sentido) ou externos (perda de valores,
espírito da época), de tal modo que se faz imperioso aumentar a sensação de sentido e
de valor da vida, constituindo dessa forma um fator de prevenção de crises, como
defende Ortiz (2006)

Hacer prevención es generar un clima lleno de condiciones para que sea


posible, un clima en que a través del encuentro existencial de experiencias, el
educando y el preventor aprenden y fomentan sus capacidades, tomando
posición y decisión frente a su participación y continua construcción (p. 167)

A importância da educação para a prevenção de tantos vazios existenciais e a


maiores problemas relacionados ao tema, para Frankl (2003b), seriam solucionados a
partir da educação. Segundo esse autor,

Vivemos na era da sensação de falta de sentido. Nesta nossa época, a


educação deve procurar não só transmitir conhecimento, mas também aguçar
a consciência, para que a pessoa receba uma percepção suficientemente
apurada, que capte a exigência inerente a cada situação individual (p. 70)

Uma educação, contudo, que conscientize o ser humano a buscar uma tarefa
significativa que o imunize, porém, do excesso narcisista de si mesmo e do autor
realização desmedida (Frankl, 1987), conclui o autor que a busca de significado da vida
deve apelar para os aspectos especificamente humanos.
14

A logoterapia visa ajudar as pessoas a superar o vazio existencial e a encontrar o


seu sentido na vida, respeitando a sua individualidade e a sua liberdade. A logoterapia
não oferece receitas prontas nem impõe valores universais, mas sim estimula as pessoas
a descobrirem os seus próprios valores e a se comprometerem com eles. A logoterapia
também ajuda as pessoas a enfrentarem os seus problemas existenciais, como a morte, a
liberdade, a solidão e a culpa, reconhecendo-os como desafios e oportunidades para o
crescimento pessoal.

5.1 Logoterapia como um processo de Psicoterapia

Viktor Frankl não deixou exatamente um manual ou, mesmo um caminho


literário sobre como o Psicoterapeuta deve atuar. Entretanto ressaltou em seus estudos o
valor da criatividade e da capacidade de improvisação do Terapeuta que deve se ajustar
a diversidade de situações e casos a serem tratados.

Uma das mais preciosas passagens dos livros de Frankl é uma em que responde
a um paciente, que depois de lhe questionar o que era a logoterapia, Frankl lhe
perguntou o que seria para ele a psicanálise, ao que o paciente responde: “deitar e contar
coisas desagradáveis de se contar” então, Frankl em apenas uma frase respondia o que
seria a logoterapia: "Bem, na logoterapia o paciente pode ficar sentado normalmente,
mas precisa ouvir certas coisas que às vezes são muito desagradáveis de se ouvir"
(Frankl, 1991a, p. 91). Certamente que Frankl reconhece que não se pode tratar do tema
com sua resposta tão simplifica acerca, inclusive das duas escolas, mas admite que há
elementos que podem ser comparados e diferenciados entre as duas, a partir das
fórmulas concentradas. Para a psicanálise os problemas do ser humano estão conectados
aos contrastes entre suas instâncias psíquicas internas e a elementos anteriormente
reprimidos por este indivíduo. Quanto a logoterapia, por centrar-se na questão do
sentido a ser realizado, o objeto a ser perseguido está no futuro, tenderia a ser mais
prospectiva do que retrospectiva, ou seja, mais focada na dimensão futura. Ainda é
importante trazer a baila que, ao afirmar que os sentidos a realizar estão no mundo e no
encontro com os outros, e não em si mesmo, destaca que o indivíduo deve transcender
de si mesmo para realizar os sentidos - a auto transcendência -, a logoterapia teria que
ser menos introspectiva. Frankl, ao conscientizar o indivíduo do valor que tem o sentido
e os valores em sua vida, se está norteando o paciente para seu futuro e retirando seus
olhos do seu passado. Da mesma forma, ao combater círculos viciosos oriundos de
excessiva introspecção - reflexão e hiper-atenção - que teriam um papel fundamental no
15

nascimento de muitos distúrbios neuróticos, teria que ser menos introspectiva, menos
voltada para um auto-centramento.

Frankl esclarece que sua resposta ao paciente mencionado foi "uma brincadeira,
sem a intenção de fornecer uma fórmula concentrada da logoterapia", verdade que "esta
formulação simplifica demais as coisas", mas que "não deixa de ter sua razão." (Frankl,
1991a, p. 91).

Uma obra fantástica a respeito de Frankl e a Logoterapia pertence a Guilhermo


Pareja Herrera (Herrera, 1987), quando ofereceu o primeiro curso de formação sobre
logoterapia no Brasil e, salientou que não havia conselhos específicos quanto ao "como"
devia atuar o logoterapeuta numa sessão clínica, mas que havia sim especificações sobre
o conteúdo que devia ser trabalhado. Em seu discurso apontou: "Quem me ensinou
como fazer foi Rogers, mas quem me ensinou o que fazer foi Frankl" 7. Ao sentir-se livre
para usar uma abordagem de atuação de outra escola, Herrera afirmava algo que Frankl
sempre teve muito evidente: o caráter extremamente dinâmico do agir psicoterapêutico
e as muitas variáveis que tornam impossível uma normatização pronta para esta tarefa.
Porém, Frankl observava o que devia fazer o terapeuta: "O papel do logoterapeuta
consiste em ampliar e alargar o campo visual do paciente de forma que todo o espectro
do significado e dos valores se torne consciente e visível para ele" (Frankl, 1977, pp.
173-174).

Frankl rende homenagem a um grande psicanalista ao interceder pela


necessidade de considerar a individualidade do terapeuta. A citação é preciosa e, para
tanto, vale a pena coloca-la na íntegra, como um antídoto para a severidade
metodológica:

Um psicanalista uma vez falou sobre o seu tipo de terapia: "Esta técnica
provou ser o único método adequado à minha individualidade; eu não ouso
negar que um médico constituído de forma bastante diferente poderia se
sentir impelido a adotar uma atitude diferente com relação a seus pacientes
e à tarefa que tinha pela frente”.

O autor que fez esta confissão foi Sigmund Freud (Frankl, 1970, p. 110).

Assim, claro está que para Frankl o método psicoterapêutico deve ser trabalhado
de acordo com a individualidade do paciente e a personalidade do terapeuta,

7
Anotações de uma das etapas do "Curso de Formação em Logoterapia", realizado pela Sociedade
Brasileira de Logoterapia (SOBRAL), em Porto Alegre, RS, em 1987.
16

relembrando seu ensinamento que "nunca se deve esquematizar, o essencial é


improvisar e individualizar" (Frankl, 1978, p. 200). Segundo Frankl (1970, p. 108):

[...] o método de escolha em um determinado caso é como uma equação com


duas incógnitas [...] A primeira incógnita representa a personalidade
singular do paciente. A segunda incógnita representa a personalidade
singular do terapeuta. Ambas devem ser levadas em conta antes de que um
método de psicoterapia seja escolhido.

Enfim, as técnicas não o desviaram do foco a ser mantido, pois para ele "o que
importa em terapia não são as técnicas, mas sim as relações humanas entre o
profissional e o paciente, ou o encontro pessoal", chegando até mesmo a afirmar que
"um enfoque puramente tecnológico à psicoterapia pode bloquear seu efeito
psicoterapêutico" (Frankl, 1970, p. 6). Frankl usou o método do diálogo socrático grego
como um modelo psicoterápico: "(...) toda psicoterapia, em particular a logoterapia,
deve ter por base, e como modelo, o clássico diálogo socrático da conversa entre dois
seres humanos." (Frankl, 1976, p. XI)

A logoterapia tem muito a oferecer ao mundo da psicologia e ao ser humano


(Paulo Kroeff, 2002, 2007). Outro autor, Emiliano Lukas também oferece orientações
muito claras do atuar psicoterapêutico, permitindo que o terapeuta seja "capaz de dizer
‘não’, um ‘não’ muito decidido, quando o paciente se sente dependente de
determinantes infelizes que impedem o desenvolvimento de sua personalidade (Lukas,
s/d, p. 156). Na verdade, autoriza o logoterapeuta para intrometer-se:

O logoterapeuta, pelo contrário, intervém pessoalmente na conversação e


inclusive apresenta uma oposição saudável, quando é necessária. Diz ‘não’ ao
neurótico obsessivo: ‘Não, não vais fazer isto que te dá medo; pode estar
seguro de que não vai acontecer! ’. Diz ‘não! ’ Ao depressivo: ‘Não, não é
verdade que tua vida careça de valor e de sentido; vou te demonstrar isso! ’.
A logoterapia ensina que uma falsa compreensão e um simples reflexo dos
problemas apresentados aprisionam cada vez mais neles, o paciente. Se um
paciente vem e afirma que a vida já não lhe proporciona nenhuma alegria, um
logoterapeuta não dirá nunca: ‘Queres dizer, então, que não desejas continuar
vivendo, que queres morrer? ’ (Reflexo), nem tampouco: ‘Compreendo-o
muito bem depois de tudo pelo que passaste...’ (compreensão), mas dirá
talvez: ‘E as tarefas da vida que lhe aguardam? ’ (Lukas, s/d, p. 155-156).

6. CONCLUSÃO
17

A psicoterapia é um campo com múltiplas abordagens. O presente trabalho se


debruçou a apresentar a visão da psicoterapia sob a ótica da logoterapia, a qual poderia
ser considerada como de orientação humanista-existencial.

Na logoterapia, o ser humano é contextualizado como um ser de natureza


libertária, capaz de tomar consciência desta liberdade, e de agir determinado a
considerar os sentidos de sua vida. Quando o sentido de vida está ausente da vida da
pessoa, certamente ela vivencia um vazio existencial. A abordagem da logoterapia
propõem-se a desenvolver a capacidade do indivíduo em perceber todas as
possibilidades existentes de sentido em sua vida, escolhendo a fim de realizar aquelas
que aprecia por mais significativas. Não há padronização, contudo, sobre como dirigir
as sessões de psicoterapia, mas são há orientações, a partir do ponto de vista filosófico
logoterápico, baseado, principalmente, em Max Schelerii, e na forma de agir dos
psicoterapeutas de logoterapia, principalmente de Viktor Frankl e Elisabeth Lukas.

Lukas, ao consignar o fato de que a psicoterapia tem que abranger todas as


dimensões do ser humano, finaliza que isto "implica nada menos que a obrigação [...]
de que o psicoterapeuta se ocupe também do sentido" o que demonstraria, além de sua
natureza como terapia específica ou concorrente entre outras psicoterapias, "o caráter
complementar da logoterapia" (Lukas, s/d, p. 73). A logoterapia buscou expandir o que
devia ser considerado no estudo das neuroses, adicionando "as categorias dos valores e
do sentido" (Frankl, 1991b, p. 118), o que envolve a inclusão da dimensão
antropológica espiritual do ser humano, transformando a questão "herança e ambiente",
em "a pessoa escolher livremente", adicionando que "não pode bastar-lhe à
psicoterapia de hoje capacitar ao homem para gozar ou trabalhar: tem que capacitá-lo
em certo sentido, para sofrer" (Frankl, 1991b, p. 127), concluindo que o sofrimento é
um elemento inescapável da existência (Kroeff, 2000b).

Concluindo, entende-se que a logoterapia, à medida do seu desenvolvimento e


ampliação, partiu de uma proposta inicial de complemento à psicoterapia, para ser a
terapia específica nos tratamentos de neurose noogênica, progredindo, também, para ser
uma escola de psicoterapia entre outras, chegando enfim, a manifestar-se como
possibilidade de um complemento para as outras psicoterapias.

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O solipsismo é um conceito filosófico que desafia a ideia de uma realidade objetiva e a existência de outras mentes além da própria.
No entanto, é uma visão amplamente rejeitada na filosofia devido às suas implicações extremas e à falta de evidências convincentes a
seu favor.
ii
Max Scheler foi um dos mais importantes filósofos do século XX, considerado o fundador da fenomenologia axiológica, ou seja, a
ciência dos valores. Scheler se interessou pela fenomenologia de Edmund Husserl, que buscava descrever as essências das coisas a
partir da intuição, contudo, ampliou o método fenomenológico para além da esfera do conhecimento e aplicou-o ao estudo dos
valores, que são as qualidades que atribuímos às coisas e que orientam nossas ações e sentimentos. Scheler influenciou vários
pensadores posteriores, como Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Emmanuel Levinas e Karol Wojtyla (o papa João Paulo II).

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