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Nota sobre o uso da configuração clássica de divisor de tensão para

a medição dos valores de resistência dos sensores flexíveis (aplicável


aos demais sensores resistivos)
Max Moura • Dr. Marcos Enê • Dr. Claudio Carvalho
12/06/2018

O conversor analógico--digital (ADC, na sigla em inglês) utilizado no projeto é


o ADS1115. Sua saída é um inteiro de 16 bits1 com sinal (signed integer), sendo
1 bit da saída utilizado para indicar se o valor de tensão medido é positivo ou
negativo (±) e os demais 15 bits, para efetivamente indicar o valor da voltagem
medida. Portanto sua escala completa (full span) é composta de 215 = 32.768
passos, representados pelos números inteiros de 0 a 32.767.
O ADS1115 possui um amplificador de ganho programável (PGA, na sigla em
inglês) que permite o ajuste de sua escala para ±6,144 V, ±4,096 V, ±2,048 V,
±1,024 V, ±0,512 V ou ±0,256 V. Com o PGA ajustado para ±1,024 V, cada passo
da escala representa 1,024 V ÷ 32.767 = 0,0312509537 mV.
Durante os experimentos previamente realizados, a mínima resistência lida
nos flexômetros foi de 36,27648 kΩ (no maior ponto de distensão do caule), e a
máxima resistência lida foi de 38,58684 kΩ (no maior ponto de contração do cau-
le). Tais valores mínimo e máximo devem servir apenas como parâmetros preli-
minares, dado que, quando em campo, os flexômetros terão de lidar com açaizei-
ros2 (Euterpe oleraceae) com variadas medidas de diâmetro de caule (estipe), quer
seja em função da idade das árvores, quer seja em função do fenômeno de dis-
tensão/contração que ocorre no caule ao longo do dia, que é justamente o objeto
das medições dos sensores que estamos desenvolvendo conjuntamente. Acrescen-
tando, então, uma margem de ±25% às resistências máxima e mínima observa-
das, podemos esperar que as resistência medidas nos flexômetros estarão entre
36,27648 kΩ − 25% ≈ 27,5 kΩ e 38,58684 kΩ + 25% ≈ 48,5 kΩ, conforme esque-
mático apresentado na figura 1.
Aplicando esses valores à fórmula de divisão de tensão, podemos calcular as
tensões mínima (𝑉mín ) e máxima (𝑉máx ) esperadas nas entradas analógicas do
conversor ADS1115, como segue:

𝑅f lex
𝑉mín = ⋅ 𝑉ref
𝑅ref + 𝑅f lex
27,5 kΩ
= ⋅ 2,5 V
75 kΩ + 27,5 kΩ
= 670,73171 mV.

1
http://www.ti.com/lit/ds/symlink/ads1115.pdf
2
http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/acai/Abertura.html
Figura 1 Esquemático dos divisores de tensão com 𝑅f lex = 27,5 kΩ
(à esquerda) e 𝑅f lex = 48,5 kΩ (à direita).

𝑅f lex
𝑉máx = ⋅ 𝑉ref
𝑅ref + 𝑅f lex
48,5 kΩ
= ⋅ 2,5 V
75 kΩ + 48,5 kΩ
= 981,78138 mV.

Considerando esses dois pontos como mínimo e máximo teóricos das futuras
medições, a amplitude esperada do sinal medido pelo ADS1115 será 981,78138 −
670,73171 = 311,04967 mV. Com o PGA do ADS1115 ajustado para a escala de
±1,024V, serão necessários 311,04967÷0,0312509537 ≈ 9.953 passos para repre-
sentar a amplitude do sinal esperado, ou seja, utilizaremos mais de 13 bits (dos
15 disponíveis).
A resolução alcançada com essa configuração é quase 10 vezes maior que aque-
la que estava disponível nos primeiros experimentos realizados, que utilizaram o
conversor analógico--digital de 10 bits3 embutido no microcontrolador Atmega328,
cujo full span é de 210 = 1.024 passos (resolução de 4,887585533 mV por pas-
so), mas, ainda assim, foi capaz de captar as medidas sintetizadas no gráfico da
figura 2. Essa melhoria na resolução se dá sem exigir um circuito mais comple-
xo, simplesmente com ajuste no PGA do conversor analógico--digital ADS1115 por
meio de software.
Se, por outro lado, desejarmos utilizar toda a resolução disponível no ADS1115,
será necessário acrescentar um circuito com a configuração de amplificador opera-
cional diferencial4. De modo simplificado, nesse circuito um amplificador operaci-
onal subtrai uma tensão de referência da tensão efetivamente lida. Criando uma
tensão de referência igual (ou muito próxima) a 𝑉mín , é possível igualar (ou apro-

3
https://www.sparkfun.com/datasheets/Components/SMD/ATMega328.pdf
4
https://www.embarcados.com.br/amplificador-operacional-amplificador-de-instrumentacao/
Figura 2 Gráfico de medições realizadas anteriormente e captadas
com o conversor analógico--digital de 10 bits embutido no Atmega328.

ximar) 𝑉mín de 0. No outro extremo da escala, o resultado da subtração da tensão


de referência do valor de 𝑉máx deverá ser amplificado para se igualar (ou se aproxi-
mar) ao ponto máximo da resolução disponível. A título de exemplo, aproveitando
os cálculos acima, precisaríamos de uma tensão de referência de 670,73171 mV e
um fator de amplificação de 3.292 vezes (já que 311,04967 mV × 3.292 ≈ 1,024 V)
para utilizar a escala completa do ADS1115. Juntamente com a amplificação do
sinal, haverá, obviamente, a amplificação do ruído captado. Cuidados extras no de-
sign do circuito deverão ser adotados para manter em níveis adequados a relação
sinal--ruído5 (signal--to--noise ratio).
Esses fatores, em minha opinião, pesam contra a adoção dessa solução na atu-
al etapa do projeto. Não considero que as medidas do fenômeno que desejamos
observar vão ser prejudicadas, se adotarmos a solução menos complexa. De um
modo geral, para um projeto tão completo quanto o atual, acredito que devamos
evitar quaisquer otimizações precoces. O necessário — creio eu— é que o projeto
como um todo aconteça e que os primeiros resultados se realizem. As partes que
constituem o projeto poderão ser otimizadas no momento adequado.
Quando (e se) esse momento chegar, ainda poderemos simplesmente substi-
tuir o ADS1115 por outro conversor com maior resolução. Um bom candidato é
o MCP3424, que possui saída de 18 bits6. Utilizando os mesmo dados acima, pa-
ra uma excursão de 670,73171 mV a 981,78138 mV, aproveitaríamos 311,04967 ÷
0,00781256 ≈ 39.814 passos do MCP3424 para representar a amplitude do sinal
esperado, o que equivale a mais de 15 bits. Isso tudo com adaptações mínimas ao
design do circuito e ao firmware já desenvolvidos.

5
https://pt.wikipedia.org/wiki/Relação_sinal-ruído
6
http://ww1.microchip.com/downloads/en/DeviceDoc/22088b.pdf

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