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WBA0502_v2.

Planejamento, didática e
avaliação na alfabetização
Materiais de apoio na
aprendizagem da leitura e da
escrita
O abismo de 30 milhões de palavras

Bloco 1
Sonelise Cizoto
Você conhece o Efeito Mateus?

Figura 1 - Diferença produzida pelo As crianças que adquirem desde


Efeito Mateus
cedo habilidades fundamentais
para a alfabetização têm mais
sucesso no processo de
aprendizagem de leitura e escrita
e na vida escolar do que aquelas
que não as adquirem.

Na literatura especializada, esse


fenômeno ficou conhecido como
Efeito Mateus, expressão que o
cientista Keith Stanovich (1986)
tomou emprestado da sociologia,
Fonte: Brasil (2019, p. 22).
inspirado na parábola dos talentos
do Evangelho de São Mateus.
Efeito Mateus na literatura
Na literatura educacional, essa expressão passou a
ser amplamente utilizada para mostrar como as
crianças com mais dificuldades de leitura no início
do processo de alfabetização tendem a continuar
a ter dificuldades ao longo da vida escolar.
Bons leitores versus Maus leitores
A consequência disso é que a distância entre os
bons leitores e os maus leitores vai aumentando
com o tempo: enquanto os bons leitores se
sentem motivados a ler e, por isso, leem mais; os
maus leitores tendem a considerar a leitura algo
tedioso e penoso, logo, leem menos.
Para aqueles a leitura vai se tornando mais fácil,
para estes mais difícil, agravando as desigualdades
na trajetória escolar (STANOVICH, 2009).
Literacia na sala de aula
Quais são as habilidades necessárias para
um bom leitor?
• Oralidade.
• Conversação.
• Repertório.
• Interação com as narrativas orais.
• Exposição aos mais diferentes e variados
tipos de textos.
• Interação com os textos.
Literacia familiar
Aspectos marcantes e fundamentais do
desenvolvimento da Literacia Familiar:
• Antes do início do processo forma de aprendizagem
• Ao longo do processo de escolaridade.

Como orientar essas famílias/adultos cuidadores?

Que ações podem ser feitas com uma criança ou


adulto analfabeto?

Por que dizemos que “toda família aprende” na


literacia familiar?
Materiais de apoio na
aprendizagem da leitura e da
escrita
As crianças de 6 a 10 anos e os efeitos da
Pandemia da covid-19

Bloco 2
Sonelise Cizoto
Nunca estamos preparados
• A relação ensino-aprendizagem feita à distância.
• Como intermediar um processo que requer
presença estando à distância.
• As crianças das classes populares: seus saberes e
seus instrumentos.
• A mímica do alfabetizar.
Capital Cultural
Conceito criado pelo sociólogo francês Pierre
Bourdieu, em 1973, na obra Reprodução cultural
e reprodução social, com coautoria de Jean-
Claude Passeron.
Trata-se do acúmulo de conhecimentos,
comportamentos e habilidades que uma pessoa
pode utilizar para demonstrar sua competência
cultural e status social.
Capital Cultural
Variáveis como raça, gênero, nacionalidade e
religião costumam determinar quem tem acesso a
diferentes formas de conhecimento.
O status social também define algumas formas de
conhecimento como mais valiosas do que outras.
Reforça as diferenças de classes.
Capital Cultural
Figura 2 - Bens culturais e o As evidências sugerem que
capital cultural
o capital cultural repassado
pelas famílias ajuda com
que as crianças tenham um
desempenho melhor na
escola.
O sistema educacional
valoriza o conhecimento e
as formas de pensamento
Fonte: Shutterstock.com.
desenvolvidos pela
aquisição de capital
cultural.
Regredir duas décadas: a educação podia
se dar a esse luxo?
Crianças de 6 a 10 anos são as mais afetadas pela exclusão
escolar na pandemia, alertam UNICEF e Cenpec Educação.
Estudo traz um panorama da exclusão escolar antes e durante
a pandemia, e mostra que o Brasil corre o risco de regredir
duas décadas no acesso de meninas e meninos à educação.
Em novembro de 2020, mais de 5 milhões de meninas e
meninos não tiveram acesso à educação no Brasil – número
semelhante ao que o país tinha no início dos anos 2000.
Dessas crianças, mais de 40% eram de 6 a 10 anos de idade,
etapa em que a escolarização estava praticamente
universalizada antes da covid-19.
Materiais de apoio na
aprendizagem da leitura
e da escrita
Os direitos do leitor

Bloco 3
Sonelise Cizoto
O valor do letramento

Figura 3 - Direitos do leitor


Na obra Como um romance, Daniel
Pennac (1993, p. 139), apresenta os
direitos do leitor:
1) O direito de não ler.
2) O direito de pular páginas.
3) O direito de não terminar um livro.
4) O direito de reler.
5) O direito de ler qualquer coisa.
6) O direito ao bovarismo (doença
textualmente transmissível).
7) O direito de ler em qualquer lugar.
8) O direito de ler uma frase aqui e
outra ali.
Fonte: https://praxis.com.br/2785-2/. Acesso em:
13 out. 2022. 9) O direito de ler em voz alta.
10) O direito de calar.
1) O direito de não ler
2) O direito de pular páginas
1) Ler não é um verbo imperativo, logo, estando ausente a
vontade de ler um livro, pode-se simplesmente não ler. Ou um
bom livro nos tira a vontade de ler outros. Segundo Pennac
(1993, p. 143): “A maior parte dos leitores se concede
cotidianamente o direito de não ler. Sem macular nossa
reputação, entre um bom livro e um telefilme ruim, o segundo
muitas vezes ganha, mesmo que preferíssemos confessar ser
o primeiro.”
2) Certas páginas que não nos chamam atenção. O direito de
pular as páginas por correr o risco de desistir do livro inteiro.
Podemos simplesmente pulá-las e, depois, retomá-las em um
momento que nos desperte o interesse.
3) O direito de não terminar um livro
4) O direito de reler
3) Ao iniciar uma leitura se mergulha em outro universo. A
viagem pode ser prazerosa ou, ao contrário, uma tortura. No
segundo caso, não devemos ser obrigados a finalizar um livro
apenas porque o começamos. Não finalizar uma leitura não
significa um completo abandono.
4) O leitor tem o direito de se redescobrir fazendo releituras
gratuitas, simplesmente relendo aquilo que deseja: o prazer da
repetição, a alegria dos reencontros. Quando terminamos de
ler um livro não significa que é o seu fim.
5) O direito de ler qualquer coisa
6) O direito ao bovarismo

5) Os “bons” e “maus” romances: pode-se ler “literatura


industrial”, best-sellers. Chegaremos, aos poucos, aos “bons”
romances, sem imediatismos, como Guerra e Paz, Doutor
Jivago e Madame Bovary, Ensaio sobre a Cegueira, entre
outros.
6) O direito de confundir um livro com sua vida real, a
memória que nos lança para o que fomos um dia, ou
imaginamos ter sido. “Nos emocionar com aquilo que fomos,
rindo daquilo que nos emocionava” (PENNAC, 1993, p. 158).
7) O direito de ler em qualquer lugar
8) O direito de ler uma frase aqui outra ali
7) Leitores podem devem ler onde quiserem, inclusive no
banheiro, em metrôs ou ônibus lotados, e também no
conforto de suas camas.
8) O direito e a necessidade de se ler aquilo que queremos
no momento em que nos convém. São as pequenas leituras e
colheitas que o leitor faz dentro de seu tempo e espaço
curtos e corridos do dia a dia das tarefas, libertando-se da
prisão de não ter tempo para a leitura, viajando brevemente,
lendo o que lhe agrada, captando as informações lidas
conforme suas necessidades.
9) O direito de ler em voz alta
10) O direito de calar

9) “O homem que lê de viva voz se expõe totalmente aos


olhos que o escutam.” (PENNAC, 1993, p. 166). E aprende
com sua exposição os benefícios da leitura em voz alta que,
além de fazer bem àquele que lê e a quem escuta, cria
vínculo de diversão e experimentação.

10) Não precisamos prestar contas daquilo que lemos, a


leitura de certos textos e livros é pessoal. É o direito de
poder manter íntimo aquilo que lemos e internalizamos. É o
reconhecimento e respeito da intimidade de cada leitor e o
seu modo único e pessoal de enxergar cada livro.
Teoria em Prática
Bloco 4
Sonelise Cizoto
Reflita sobre a seguinte situação
O pequeno Felipe chegou na escola e teve contato, pela
primeira vez, com um livro. Ele jamais havia manuseado um
livro, não sabe o que é interagir com esse tipo de material.

Felipe precisará se familiarizar com os livros e conhecer as


possibilidades que ele pode carregar.

Mesmo considerando que o tempo para a aprendizagem é


único para cada aprendiz, será que Felipe precisará de mais
oportunidades e mais tempo do que outra criança que
chegou na escola já conhecendo livros?
Reflita sobre a seguinte situação
Felipe vive em uma classe desfavorecida, é uma criança
em situação de vulnerabilidade.

Investigue: quais são os materiais de leitura e escrita


disponíveis para as crianças vulneráveis, as que estão nas
classes menos favorecidas?

Quando essas crianças entram em contato com os


materiais de leitura e escrita?

Por que podemos dizer que as crianças das classes menos


favorecidas são duplamente penalizadas?
Reflita sobre a seguinte situação

O Efeito Mateus presente nos seus alunos.


Como ensinar a ler e escrever para quem só vivencia
isso na escola?
A leitura e a escrita estão impregnadas de valor?
Para quem? Onde?
Norte para a resolução
1. Considere o Efeito Mateus e o O abismo de 30 milhões
de palavras.

2. Analise o contexto onde Felipe vive e as formas para


otimizar a alfabetização e o letramento.

3. Você vai mudar o destino do Felipe.


“O melhor da escola pública está em contrariar destinos.
Podemos ser amanhã uma coisa diferente de que somos
hoje. Uma escola que confirma destinos, que transforma
em operário o filho do operário, é a pior escola do
mundo.” (António Nóvoa)

(PAIVA, 2017)
Prêmio Nobel de Literatura de 1998
Figura 4 – O Evangelho
Segundo Jesus Cristo
José Saramago ganhou o maior prêmio de
literatura mundial com a obra: O evangelho
segundo Jesus Cristo (1991).

Filho de trabalhadores rurais, ele não pôde


fazer faculdade, fez curso técnico em
serralheria mecânica, o qual concluiu em 1940,
ano em que conseguiu seu primeiro emprego
na área. Trabalhava durante o dia e, à noite,
dirigia-se a uma biblioteca municipal para ler.
Seus avós maternos eram analfabetos.
Segundo o próprio autor: “O homem mais sábio
que conheci em toda a minha vida não sabia ler
nem escrever.”

Fonte: O Evangelho Segundo


Jesus Cristo/José Saramago/Cia
das Letras/1991.
Dicas do(a) Professor(a)
Bloco 5
Sonelise Cizoto
Leitura Fundamental
Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis
em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o login
por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites
acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.
Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de
autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que
você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.
Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da
nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!
Indicação de leitura 1
A página intitulada The Nobel Prize in Literature 1998
traz o discurso de José Saramago ao receber o Prêmio.
Vale a pena a leitura e se enveredar pelos caminhos da
literatura e observar como ela pode transformar a vida
dos leitores.

Referência:
SARAMAGO, J. De como a personagem foi mestre e o autor seu
aprendiz. Nobel Prize, 1998.
Indicação de leitura 2
Tomando como ponto de partida os dez direitos do leitor
apresentados por Pennac (1997), em sua obra Como um
romance, o presente artigo tem por objetivo explicitar e
discutir os dez direitos do leitor propostos pelo autor.

Referência:
CAVALLEIRO, S. F.; RIBEIRO, N. C. R.; PEREIRA, I. H. L. Os direitos do leitor:
uma análise a partir da obra como um romance de Daniel Pennac.
Reader’s rights: an analysis from the work reads like a novel, by Daniel
Pennac. Revista Bibliomar, São Luís, v. 19, n. 2, p. 166–177, 2020.
Dica do(a) Professor(a)
No Youtube, você encontrará o vídeo intitulado Mudanças em
Curso - Parte I.
Trata-se do primeiro vídeo do Módulo I do Programa de
Formação de Professores Alfabetizadores (Profa), realizado
pelo MEC em 2001.

Esse vídeo traz a apresentação institucional do programa e a


explicação das mudanças conceituais e práticas nos processos
de ensino e aprendizagem da alfabetização, introduzidas
pelas pesquisas realizadas por Emilia Ferreiro e Ana
Teberosky, desde a década de 1970.

Você também poderá assistir na sequência os demais vídeos


que compõe o programa.
Referências
BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto
Alegre, RS: Zouk, 2007.

BOURDIEU, P.; PASSERON, J. A reprodução: elementos para uma teoria do


sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1970.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA Política


Nacional de Alfabetização. Brasília: MEC; SEALF, 2019.
Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/images/banners/caderno_pna_final.pdf. Acesso em:
10 maio 2022.

UNICEF. Crianças de 6 a 10 anos são as mais afetadas pela exclusão escolar na


pandemia, alertam UNICEF e Cenpec Educação. Unicef, 29 abr. 2021. Disponível
em: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/criancas-de-6-10-
anos-sao-mais-afetadas-pela-exclusao-escolar-na-pandemia. Acesso em: 2 jun.
2022.
Referências
PAIVA, T. “Se fosse brasileiro, estaria indignado com a situação da educação”.
Carta Capital, 28 mar. 2017. Disponível em:
https://www.cartacapital.com.br/educacao/se-fosse-brasileiro-estaria-
indignado-com-a-situacao-da-educacao/. Acesso em: 13 out. 2022.

PENNAC, D. Como um romance. Tradução: Leny Werneck. Rio de Janeiro:


Rocco, 1993.

STANOVICH, K. E. Matthew effects in reading: some consequences of


individual differences in the acquisition of literacy. Journal of Education, [s. l.],
v. 189, n. 1-2, p. 23-55, 2009.
Bons estudos!

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