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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS - CCT


CURSO: ENGENHARIA CIVIL
DISCIPLINA: DIREITO E LEGISLAÇÃO
TARCÍSIO VIEIRA LISBOA ARAÚJO

LICITAÇÕES E CONTRATOS NO CONTEXTO DA ENGENHARIA:


COMPARAÇÃO ENTRE AS LEIS 14.133/2021 E 8.666/1993

São Luís
2023
TARCÍSIO VIEIRA LISBOA ARAÚJO

LICITAÇÕES E CONTRATOS NO CONTEXTO DA ENGENHARIA:


COMPARAÇÃO ENTRE AS LEIS 14.133/2021 E 8.666/1993

Trabalho avaliativo para a disciplina de


Direito e Legislação, no curso de
Engenharia Civil da UEMA.

Professora: Ma. Natália de Jesus Silva


Reis

São Luís
2023
Segundo notícia do site O Globo, o Ministério Público do Rio de Janeiro
denunciou, em Junho de 2023, quatorze pessoas por fraude em licitações e contratos
públicos, o que totalizou R$ 160 milhões de reais em prejuízo aos cofres públicos. Essa
lamentável notícia é apenas um exemplo dentre vários casos de irregularidades em
contratações públicas no Brasil. Logo, vê-se que essa é uma área que exige extrema
atenção não só pelo Poder Público como também por todos aqueles estão envolvidos no
processo licitatório, tendo em vista ser um campo de atuação no qual há grande
movimentação de recursos públicos.
Nesse contexto, é importante que haja uma legislação para regular todo o processo
das contratações públicas, a fim de evitar fraudes e garantir uma disputa justa entre os
concorrentes. Sabendo disso, o Legislativo brasileiro, mais especificamente o Congresso
Nacional, editou em 2021 a Lei 14.133, com o objetivo de regular as licitações e contratos
administrativos em nível nacional. Essa norma, apesar de ter sido promulgada para
revogar a Lei 8.666/1993, estabeleceu um prazo de dois anos para que essa revogação
fosse efetivada. O termo final desse período se encerraria em Abril do atual ano (2023),
porém foi editada uma Medida Provisória que prorrogou a vigência da “antiga” lei de
licitações até Dezembro desse ano. Portanto, tendo em vista que as duas normas estão
vigentes, torna-se oportuno destacar as diferenças entre algumas de suas previsões,
dando-se especial atenção àquilo que diz respeito a obras e engenharia.
A primeira distinção a ser tratada serão as modalidades de licitação, que foram
bastante modificadas entre uma lei e outra. Nesse diapasão, menciona-se que uma das
principais alterações foram as hipóteses de aplicação de cada modalidade, pois a antiga
lei estabelecia como um de seus critérios-base o valor do objeto da licitação, em outras
palavras, a Lei 8.666/93 analisava o valor do objeto a ser licitado e, com isso, indicava
qual a modalidade deveria ser aplicada. A nova lei, por outro lado, preconiza que deve-se
analisar a natureza do objeto a ser licitado, e não o valor, ou seja, deve-se verificar se o
objeto é simples, complexo ou de caráter artístico, por exemplo, e com isso indicar qual
modalidade de licitação é indicada. É evidente que existem outros critérios para a
aplicação da modalidade adequada a cada situação, mas, de forma geral, essa distinção
apresentada é o principal.
A priori, será apresentado um quadro resumo com o objetivo de sistematizar as
diferenças entre as modalidades nos dois normativos.
Figura 1: modalidades de licitações nas duas leis

Fonte: Preve (2022)

A concorrência é uma das modalidades mais importantes na Lei 14.133/21,


principalmente no contexto da engenharia, já que essa é a modalidade indicada para obras
e serviços complexos, como os serviços de engenharia. A lei 8.666/93 também previa a
possibilidade de utilizar essa modalidade para obras e serviços de engenharia, porém,
como já mencionado, exigia que o objeto apresentasse um certo valor para que sua
aplicação fosse possível. A seguir serão apresentados esquemas para as previsões da
referida modalidade nas duas normas analisadas.

Figura 2: Concorrência na Lei 14.133/21

Bens e serviços especiais

14.133/2021 Concorrência
Obras e serviços comuns e
especiais de engenharia

Fonte: O autor (2023)

Figura 3: Concorrência na Lei 8.666/93

Compras e outros serviços R$ + 1,43M


8.666/1993 Concorrência
Obras e serviços de engenharia R$ + 3,3M

Fonte: O autor (2023)


Seguindo a ordem das modalidades apresentadas no quadro-resumo tem-se a
Tomada de Preços, a qual não foi prevista na nova lei. Essa modalidade, assim como a
concorrência, também é adotada a partir da análise do valor do objeto da licitação. A
Tomada de preços caracteriza-se por ser uma modalidade intermediária entre a
concorrência e o convite, em termos de valor. A seguir será apresentado um esquema para
facilitar a compreensão e resumir as hipóteses de sua adoção em casos que possam
envolver a engenharia.

Figura 4: Tomada de Preços

Compras e outros serviços R$ até 1,43M


Tomada de
8.666/1993
Preços
Obras e serviços de engenharia R$ até 3,3M

Fonte: O autor (2023)

Outra modalidade mencionada na antiga lei de licitação que não foi prevista na lei
14.133/21 foi o convite, o qual caracteriza-se pelos diminutos valores, como observa-se
no esquema abaixo.

Figura 5: Convite

Compras e outros serviços R$ até 176 mil


8.666/1993 Convite
Obras e serviços de engenharia R$ até 330 mil

Fonte: O autor (2023)

Além dessas modalidades, existe também aquela que é denominada de concurso,


a qual, diferentemente das duas últimas modalidades mencionadas, foi previsto na nova
lei, apesar de ter sofrido algumas mudanças. Um exemplo das alterações feitas é que o
concurso, na nova lei, admite o critério de julgamento denominado melhor técnica ou
conteúdo artístico, o que difere da lei 8.666/93, que não admitia os critérios de julgamento
utilizados nas demais modalidades. Embora seja possível destacar algumas mudanças na
lei 14.133/21, essa modalidade em específico conservou várias de suas previsões, dentre
as quais se destaca sua finalidade, que caracteriza-se pela escolha do melhor trabalho
técnico, científico ou artístico. Nesse contexto, é plenamente possível citar os projetos de
engenharia como trabalhos técnicos, além de várias outras atuações do engenheiro civil,
como perícias e consultoria. Logo, essa é uma modalidade de extrema relevância para
aqueles que se enquadram em serviços técnicos de natureza predominantemente
intelectual.
A última modalidade apresentada na 8.666/93 é o leilão, que também foi mantida
na nova lei de licitações, apesar de ter sofrido algumas alterações também. Sob essa ótica,
destaca-se que a principal alteração foi que, a partir da lei 14.133/21, o leilão passou a ser
a modalidade adotada como regra para alienações, e não mais a concorrência. Essa
modalidade tem extrema relevância na engenharia também, principalmente no tocante
aos bens imóveis, pois a avaliações desses bens é competência do Engenheiro, conforme
previsto na lei na Lei 5.194/1966, art. 7º, alínea c, e na NBR 14653-1.
Passando-se, agora, à análise das modalidades previstas na 14.133/21 e não
previstas na 8.666, menciona-se o pregão, o qual era previsto na Lei 10.520/2002. O
pregão, segundo a nova lei, é de adoção obrigatória para aquisição de bens e serviços
comuns, ou seja, enquanto a concorrência é a modalidade utilizada para objetos
complexos, o pregão é utilizado para objetos simples. Portanto, essa modalidade de
licitação não poderá ser adotada para obras e serviços especiais de engenharia, sendo
admitido, no contexto de engenharia, apenas para os serviços comuns.
Para finalizar o tópico de modalidades de licitação, cita-se o Diálogo Competitivo,
que foi uma novidade da nova lei. O diálogo competitivo, de acordo com a lei 14.133/21,
envolverá debates entre os licitantes, sob orientação do gestor público licitante, visando
o desenvolvimento de uma solução capaz de atender às exigências do órgão. Nesse
diapasão, essa será a modalidade a ser adotada em casos de inovação tecnológica ou
técnica, além de situações complexas que envolvam uma solução que não pode ser
satisfeita sem a adaptação das alternativas disponíveis no mercado ou caso seja
impossível de as especificações técnicas serem definidas com a precisão adequada.
Outro tema a ser tratado dentro da comparação entre as duas leis de licitações e
contratos são os regimes de execução das obras e serviços de engenharia. Nesse contexto,
primeiramente serão apresentados os regimes de execução de contrato nas duas leis, para,
posteriormente, serem feitos comentários sobre.
Figura 6: Regimes de execução dos contratos na Nova Lei de Licitações
Regimes de execução na Lei 14.133/21
I – empreitada por preço unitário
II – empreitada por preço global
III – empreitada integral
IV – contratação por tarefa
V – contratação integrada
VI - contratação semi-integrada
VII – fornecimento e prestação de serviço associado
Fonte: O autor (2023)

Figura 7: Regimes de execução dos contratos na Antiga Lei de Licitações


Regimes de execução na Lei 8.666/93
I – empreitada por preço unitário
II – empreitada por preço global
III – empreitada integral
IV – contratação por tarefa
Fonte: O autor (2023)

Os quatro primeiros regimes de execução apresentados são idênticos em ambos as


normas, havendo diferença, portanto, apenas no acréscimo de três novos regimes na lei
14.133/21. Diferentemente das modalidades de licitações, os regimes de execução dos
contratos que foram mantidos não sofreram expressivas mudanças. Assim, para analisar
os quatro primeiros regimes será adotada apenas a redação da nova lei, a fim de tornar o
texto mais conciso.
O primeiro regime a ser comentado será a empreitada por preço unitário, que,
conforme a nova lei de licitações, consiste na contratação da execução da obra ou do
serviço por preço certo de unidades determinadas. Sob essa ótica, ressalta-se que esse é o
regime de execução adotado quando a tarefa a ser executado apresenta considerável
incerteza no que diz respeito ao trabalho que efetivamente será concretizado, como no
caso da movimentação de terra, que caracteriza-se pela impossibilidade de previsão do
volume de terra a ser escavado. Nesses casos, para evitar-se que a Administração Pública
pague além do que foi executado, adota-se o regime de empreitada por preço unitário.
Essa situação apresentada é, inclusive, uma das vantagens ao adotar esse regime, como
mencionado no Acórdão 1.977/2013 do Tribunal de Contas da União.
Outro regime de execução do contrato administrativo é a empreitada por preço
global, que, diferentemente do regime visto há pouco, a contratada recebe por cada etapa
da obra concluída, ou seja, não interessa o volume escavado no movimentação de terra,
mas tão somente a conclusão da fase denominada movimentação de terra. A lei 14.133/21
define esse regime como sendo a contratação da execução da obra ou do serviço por preço
certo e total, em outras palavras, a Administração Pública fixará um valor certo por cada
etapa concluída do contrato.
Ademais, é importante mencionar, também, o regime de empreitada integral,
conhecida como “turn key”, que faz referência à entrega das chaves do empreendimento
construído, já que esse é o regime aplicado quando a contratada fica encarregado de
entregar o objeto da licitação em pleno funcionamento para a administração pública.
Exemplo disso é um hospital, que, para funcionar, não exige apenas que a edificação
esteja finalizada, mas também que todos os equipamentos e máquinas inerentes ao
trabalho dos médicos e enfermeiros estejam em pleno funcionamento. Assim, torna-se
oportuno transcrever a previsão da nova lei de licitações sobre o assunto, a fim de que
haja compreensão total sobre o tema:
14.133

Art. 6º, XXX - empreitada integral: contratação de


empreendimento em sua integralidade, compreendida a totalidade
das etapas de obras, serviços e instalações necessárias, sob
inteira responsabilidade do contratado até sua entrega ao
contratante em condições de entrada em operação, com
características adequadas às finalidades para as quais foi
contratado e atendidos os requisitos técnicos e legais para sua
utilização com segurança estrutural e operacional;

Além desses regimes, há também a contratação por tarefa, utilizada para pequenas
contratações. A literalidade da nova lei de licitações diz que é o regime de contratação de
mão de obra para pequenos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento de
materiais.
Agora inicia-se os regimes que não eram previstos na antiga legislação, a começar
pela contratação integral. Nesse regime de execução, o licitante vencedor elabora não só
o projeto básico como também o projeto executivo, o que caracteriza uma exceção à regra,
já que, geralmente, é a administração quem elabora o projeto básico. Nessa toada, mostra-
se pertinente já definir a contratação semi-integrada, pois é bastante semelhante à
contratação integrada, diferindo apenas no fato de que na contratação semi-integrada é a
Administração Pública quem elabora o Projeto Básico.
Para finalizar os regimes de execução, menciona-se o fornecimento e prestação de
serviço associado, que, de acordo com a nova lei de licitações, é o regime de contratação
em que, além do fornecimento do objeto, o contratado responsabiliza-se por sua operação,
manutenção ou ambas, por tempo determinado.
Por fim, será tratado a diferença das previsões dos projetos básico e executivo nos
dois normativos analisados nesse trabalho. A priori, vale ressaltar que não houve grandes
alterações conceituais nessas duas peças técnicas, mas tão somente nos itens do projeto
básico. Nesse contexto, a inteligência da lei 14.133/21 prevê que o projeto básico é,
basicamente, o conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão
adequado para definir e dimensionar o objeto da licitação, ou seja, no contexto da
engenharia, essa é a peça técnica que vai definir toda a obra, suas soluções e as técnicas
a serem utilizadas. A seguir serão apresentados os itens previstos na nova lei que não
eram previstos anteriormente: levantamentos topográficos e cadastrais, sondagens e
ensaios geotécnicos, ensaios e análises laboratoriais, estudos socioambientais e demais
dados e levantamentos necessários para execução da solução escolhida. Ademais,
destaca-se que, segundo a Lei 14.133, o orçamento detalhado do custo global da obra é
obrigatório exclusivamente para os regimes de empreitada por preço unitário, empreitada
por preço global, empreitada integral, contratação por tarefa e fornecimento e prestação
de serviço associado.
O projeto executivo, por outro lado, não apresentou mudanças conceituais
relevantes nem nos itens previstos nessa peça técnica. Desse modo, será apresentado a
literalidade da nova lei de licitações e, logo em seguida, serão feitos comentários pontuais:
14.133

Art. 6º, XXVI - projeto executivo: conjunto de elementos


necessários e suficientes à execução completa da obra, com o
detalhamento das soluções previstas no projeto básico, a
identificação de serviços, de materiais e de equipamentos a serem
incorporados à obra, bem como suas especificações técnicas, de
acordo com as normas técnicas pertinentes;
Portanto, observa-se que o projeto executivo é o documento que, no contexto da
engenharia, vai orientar a execução das obras e serviços de engenharia, pautando-se
principalmente no detalhamento de informações que já foram apresentadas em outros
documentos, como o roteiro de execução de uma fundação profunda.
REFERÊNCIAS

PREVE, Murillo. Quais são as modalidades de licitação? Entenda as suas


principais características. Portal Jurídico Investidura, Florianópolis/SC, 20 Abr. 2022.
Disponível em: investidura.com.br/biblioteca-juridica/artigos/direito-
administrativo/338796-quais-sao-as-modalidades-de-licitacao-entenda-as-suas-
principais-caracteristicas. Acesso em: 08 Jul. 2023

CADIP - CENTRO DE APOIO AO DIREITO PÚBLICO; TJ-SP (TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO). NOVA LEI DE LICITAÇÕES E
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: Lei Nº 14.133/2021. Nova Lei de Licitações, São
Paulo, n. 3, p. 1-433, 29 abr. 2022. Disponível em:
https://www.tjsp.jus.br/Download/SecaoDireitoPublico/Pdf/Cadip/Esp-CADIP-Nova-
Lei-Licitacoes.pdf. Acesso em: 8 jul. 2023.

CONGRESSO NACIONAL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Institui normas


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8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993, Brasília, 21 jun. 1993. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 8 jul. 2023.

CONGRESSO NACIONAL. Lei nº 14.133, de 1 de abril de 2021. Lei de


Licitações e Contratos Administrativos. LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021,
Brasília, 1 abr. 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14.653-1.


Avaliação de Bens – Parte 1: Procedimentos Gerais. Rio de Janeiro, 2019.

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profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro-Agrônomo, e dá outras providências.
Brasília, DF: Diário Oficial da União, 24 dez. 1966. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5194.htm. Acesso em: 3 jul. 2023.
O GLOBO. MPRJ denuncia dois secretários de Obras da Baixada Fluminense por
esquema de desvio de verbas: Outras 12 pessoas também foram denunciadas; polícia
realizou operação nesta quinta-feira para cumprir mandados de prisão e de busca e
apreensão. Fraude em licitações, Rio de Janeiro, p. ?-?, 22 jun. 2023. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2023/06/policia-realiza-operacao-contra-fraudes-
em-licitacoes-na-baixada-fluminense.ghtml. Acesso em: 8 jul. 2023.

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