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Resenha crítica sobre Juizado Federal e da Fazenda Pública

Aluno: Gabriel Gomes Furtado de Souza


Disciplina: Processo Civil V

No cenário jurídico brasileiro, o acesso à justiça tem sido objeto de constante debate
e busca por aprimoramento. Nesse contexto, os Juizados Especiais surgem como uma
alternativa viável e eficiente para lidar com demandas de menor complexidade, de forma
célere e acessível. Dentre os diversos tipos de Juizados Especiais existentes, dois
merecem destaque: o Juizado Federal e o Juizado da Fazenda Pública.
O Juizado Federal foi criado com o objetivo de atender a demandas envolvendo a
União, suas autarquias e fundações, trazendo maior celeridade e simplicidade na
resolução de conflitos de natureza previdenciária, tributária, dentre outras. Já o Juizado
da Fazenda Pública foi instituído para tratar de causas que envolvem os estados,
municípios, suas autarquias e fundações, abarcando questões relacionadas a servidores
públicos, fornecimento de serviços e outras matérias correlatas.
Diferentemente do que ocorre nos tribunais estaduais, o Juizado Especial Federal
opera com um único juiz profissional, sem a participação de juízes leigos. Isso pode levar
à redução da importância desse órgão, tornando-o uma mera especialização dentro do
sistema judiciário responsável por questões federais. A Lei nº 10.259/2001 estabelece as
regras específicas para o funcionamento do Juizado Especial Federal. Devido à sua
ênfase na oralidade, é permitida a apresentação oral das demandas e defesas. De acordo
com o princípio da simplicidade, o processo deve fluir sem a ocorrência de incidentes
processuais, como a intervenção de terceiros, embora isso não exclua a aplicação de
exceções processuais quando cabíveis. Ao contrário dos juizados especiais estaduais,
quando há uma vara do Juizado Especial Federal na Justiça Federal, o autor não tem a
opção de escolher entre ela e as varas comuns.
A competência do Juizado Especial Federal é absoluta no fórum onde está instalada
a vara correspondente. Se uma ação que se enquadre na competência do Juizado
Especial for distribuída para outra vara, o titular desta deverá recusar a competência ex
officio, e a parte poderá solicitar a transferência a qualquer momento, sem a necessidade
de formalizar uma exceção de incompetência. Esses juizados estão vinculados ao
respectivo Tribunal Regional Federal, que é responsável por resolver os conflitos de
competência que surgem entre eles.
Um departamento especializado na Justiça Federal será estabelecido como Juizado
Especial Federal, porém, é necessário a presença de mediadores, que serão designados
pelo juiz presidente do Juizado por um período de dois anos, com possibilidade de
reeleição. A Secretaria do Juizado é responsável por agendar, logo após o registro do
caso, a sessão de mediação, que deve ocorrer em até quinze dias. A ação regida pela Lei
nº 10.259 será movida no Juizado Especial Federal localizado na área onde o réu possui
domicílio ou residência. No âmbito da justiça federal, a competência da vara do juizado
especial é absoluta. A parte não tem a opção de escolher entre o tribunal comum e o
juizado especial, nem é possível alterar a competência absoluta deste último por conexão,
a fim de transferir o processo para uma vara do tribunal federal comum. No entanto, caso
não haja uma vara da Justiça Federal no fórum cuja competência corresponda ao caso, a
ação pode ser movida no Juizado Especial Federal mais próximo, conforme previsto no
artigo. Conflitos de competência podem surgir em relação aos juizados especiais, tanto
entre órgãos do próprio juizado, quanto em relação a órgãos da justiça federal. No
entanto, se o conflito ocorrer entre juízes de diferentes turmas ou entre juízes do juizado
especial e juízes da justiça federal, a competência será definida pelo Tribunal Regional
Federal. O Juizado Especial Federal tem competência, de acordo com o artigo 3º, caput,
da Lei nº 10.259, para "processar, mediar e julgar casos de competência da Justiça
Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar suas decisões".
Na prática, a maioria dos casos atribuídos aos juizados especiais federais se
concentra principalmente nas áreas previdenciária e tributária. Conforme estabelecido
pelo artigo 6º da Lei nº 10.259, pessoas físicas, microempresas e empresas de pequeno
porte, conforme definido na Lei nº 9.317 de 05.12.1996, podem atuar como autores no
juizado especial federal. No entanto, as pessoas jurídicas mencionadas só podem se
legitimar como rés, não podendo atuar como autoras no juizado especial federal. No
entanto, a situação é diferente para pessoas jurídicas de direito público quando obtêm
êxito em uma ação movida contra elas e decidem executar a sentença proferida pelo
juizado especial. Nesse caso, essas entidades públicas têm legitimidade ativa para
executar a sentença nos próprios juizados especiais. Conforme estabelecido no caput do
artigo 8º, incapazes, presos, massa falida e insolventes civis não podem ser partes no
juizado especial federal, seja como autores ou réus. Nos juizados especiais federais
cíveis, dispensa-se a representação por advogado, de acordo com o artigo 10 da Lei nº
10.259, embora essa regra não se aplique aos juizados criminais. A Lei nº 10.259 não
prevê a intervenção do Ministério Público nos casos processados no juizado especial
federal, exceto na fase de uniformização da interpretação da lei federal. A presença das
partes em juízo nos juizados especiais federais não depende de representação por
advogado.
Os representantes judiciais das pessoas jurídicas de direito público possuem os
mesmos poderes, permitindo que eles transijam e desistam dos processos no juizado
especial federal. As citações e intimações da União no processo do juizado especial
federal serão feitas nas pessoas indicadas, não sendo aplicável a citação por edital. As
pessoas jurídicas de direito público não desfrutam de prazos privilegiados no juizado
especial federal, nem mesmo para interpor recursos
Para facilitar o acesso das partes, as secretarias dos juizados devem adotar o uso
de fichas ou formulários. Além disso, é possível apresentar pedidos oralmente, que serão
reduzidos a escrito pela secretaria do juizado, preenchendo as fichas ou formulários
disponíveis.
O juiz designará uma pessoa qualificada para apresentar o laudo até cinco dias
antes da audiência, sem a necessidade de intimação das partes. Os honorários do perito
nomeado pelo juiz são adiantados pelo Tribunal a partir do orçamento disponível e, caso a
entidade pública seja derrotada na ação, o valor será incluído na ordem de pagamento em
favor do Tribunal.
As provas orais são normalmente coletadas pelo juiz durante a audiência de
instrução e julgamento. Nesse caso, o juiz titular, durante a audiência de instrução, pode
usar as informações coletadas pelo conciliador para "dispensar novos depoimentos, se
considerar suficientes para o julgamento os esclarecimentos já registrados nos autos, e se
não houver objeção das partes".
Ao examinar as provas para fundamentar a sentença, o juiz deve dar especial
atenção às "regras de experiência comum ou técnica". Essas regras são aplicadas
livremente pelo juiz como parte de sua cultura normal, independentemente de prova. Em
resumo, o juiz utiliza as regras de experiência comum de forma livre para avaliar as
provas apresentadas no processo pelos meios regulares e decidir sobre o que parece ser
a verdade.
O juiz não tem autoridade para substituir o perito, pois a prova técnica, assim como
qualquer outra, segue um procedimento necessário, no qual a participação de ambas as
partes é garantida por meio do contraditório.
Se o juiz realizar um exame técnico por iniciativa própria ao proferir a sentença, as
partes terão sido surpreendidas e prejudicadas no debate processual. A remessa ex
officio, que o Código Processual prevê nos casos de sentença desfavorável à Fazenda
Pública, não se aplica aos processos do juizado especial federal. Recursos no Juizado
Especial. Recurso especial e recurso extraordinário.
No juizado especial cível ou federal, não há recurso para os tribunais superiores da
justiça comum. A lei prevê apenas a possibilidade de interposição de recurso ordinário
perante um colegiado de juízes de primeira instância, composto por membros do próprio
juizado ou de outros juizados da mesma natureza. O prazo para esse recurso é de dez
dias. Caso haja a necessidade de recurso especial ou recurso extraordinário, conforme
estabelecido no artigo 5º da Lei nº 10.259, o recurso seguirá as regras do Código de
Processo Civil.
Embora não seja denominado como agravo, o recurso contra decisão intermediária
deve seguir o procedimento semelhante ao do agravo de instrumento, a fim de evitar a
paralisação do processo, o que seria incompatível com o princípio de celeridade. Quanto
a outras decisões intermediárias, não há recurso direto. A parte afetada deve apenas
fazer uma ressalva para impugná-las, se necessário, como uma preliminar no recurso
ordinário contra a sentença final. No entanto, o mesmo não se aplica ao Recurso
Extraordinário ao Supremo Tribunal Federal.
No entanto, para que o recurso extraordinário seja aceito, é necessário esgotar
todos os recursos disponíveis no âmbito do juizado, ou seja, deve-se primeiro interpor o
recurso ordinário para obter a decisão final de última instância no âmbito local. Em
relação à Justiça comum, divergências de interpretação da lei federal são objeto de
recurso especial, no qual o Superior Tribunal de Justiça realiza a desejada uniformização.
Como as sentenças nos juizados especiais federais são sujeitas a recursos decididos
pelas Turmas Recursais, que não são passíveis de revisão por recurso especial, a Lei nº
10 não faz uso explícito da palavra "recurso", mas é de fato um recurso que está em
questão.
Se a Turma de Uniformização, em questões de direito material, contrariar uma
súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça, a parte interessada
pode solicitar a manifestação deste último, que irá discutir a divergência. Novamente, o
meio de levar o caso ao Superior Tribunal de Justiça será, sem dúvida, um recurso. Cabe
aos Tribunais Regionais Federais regulamentar, em sua jurisdição, a composição dos
órgãos e os procedimentos a serem seguidos nos julgamentos de uniformização.
O prazo para apresentar o pedido de uniformização perante a TNU foi estabelecido
em quinze dias, a contar do acórdão recorrido. A petição deve ser apresentada à Turma
recursal ou regional de origem, que deverá intimar a parte contrária para apresentar
contrarrazões dentro do mesmo prazo.
A execução das sentenças proferidas nos casos tramitados no Juizado Especial
Federal civil é de responsabilidade desse juizado. Embora não haja disposição explícita
na Lei nº 10.259, também se entende que faz parte da competência do Juizado Especial
Federal a execução de títulos extrajudiciais contra a Fazenda Pública Federal, desde que
o valor esteja dentro do limite de sessenta salários mínimos. Não é necessário pensar em
um segundo grau obrigatório nesse caso, uma vez que esse instituto foi excluído
legalmente do âmbito do juizado especial. O juiz enviará à autoridade responsável pela
causa uma cópia da sentença ou do acordo, juntamente com uma ordem para o
cumprimento correspondente.
O magistrado, ao conduzir o processo no juizado especial federal, sempre terá a
opção de tomar medidas cautelares necessárias, mesmo sem um pedido das partes,
conforme estabelecido no artigo. Quando solicitada pela parte, a concessão da tutela
cautelar não é apenas uma opção do juiz. Desde que os requisitos legais estejam
presentes, a medida faz parte do direito subjetivo do requerente, ao qual o juiz não pode
deixar de atender, sob pena de negar justiça.
No âmbito da Justiça Estadual, foi prevista explicitamente a competência do juiz
para determinar, de ofício ou a pedido das partes, "quaisquer medidas cautelares ou
antecipatórias durante o curso do processo, a fim de evitar danos de difícil ou incerta
reparação".
Não é possível escolher entre os Juizados da Fazenda Pública e a justiça ordinária.
A competência do Juizado da Fazenda Pública é absoluta, conforme estabelecido na Lei
nº 12.153, artigo. A competência absoluta nesse caso se aplica apenas aos processos
iniciados após a instalação do juizado especial, o que significa que é proibida a
transferência de casos que tenham sido apresentados anteriormente nas varas da justiça
ordinária.
A Lei nº 12.153, por sua vez, permite que os Tribunais de Justiça estabeleçam
Juizados Especiais com competência temporariamente reduzida em relação ao
estabelecido em seu artigo correspondente. O Juizado Especial da Fazenda Pública será
liderado por um juiz togado, com o auxílio de conciliadores e juízes leigos.
No caso de pretensões relacionadas a obrigações futuras, "para fins de competência
do Juizado Especial, a soma de 12 parcelas futuras e quaisquer parcelas vencidas não
pode exceder o valor mencionado no início deste artigo", ou seja, sessenta salários
mínimos.
Não há previsão de intervenção do Ministério Público no procedimento. Em relação
à representação das partes no Juizado Especial da Fazenda Pública, prevalecem, em
princípio, as regras estabelecidas pelo artigo correspondente. No que diz respeito a
pessoas jurídicas requeridas, elas devem atuar por meio de seus representantes judiciais,
aos quais é reconhecido o poder de conciliar, transigir ou desistir em processos nos
Juizados Especiais, de acordo com as disposições previstas na lei do respectivo órgão da
Federação.
As citações e intimações nos procedimentos dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública seguirão as regras do Código de Processo Civil. No entanto, a citação deve ser
feita com pelo menos trinta dias de antecedência da audiência de conciliação. Os prazos
da Fazenda Pública são os mesmos da parte contrária.
O réu é citado para comparecer a uma audiência de conciliação, na qual deverá
apresentar sua contestação, se necessário.
O juiz presidente do Juizado Especial da Fazenda Pública tem o poder de deferir, de
ofício ou a pedido das partes, medidas provisórias, cautelares e antecipatórias durante o
processo, a fim de evitar danos de difícil ou incerta reparação. Serão observadas tanto as
disposições gerais do novo Código de Processo Civil quanto as disposições especiais
sobre medidas cautelares e tutela antecipada contra a Fazenda Pública
Existe a possibilidade de interpor recurso extraordinário para o Supremo Tribunal
Federal em relação ao que for decidido pelas turmas recursais internas do juizado. O
recurso contra a sentença é encaminhado à Turma Recursal, composta por juízes em
exercício no primeiro grau de jurisdição, conforme estabelecido na legislação local, com
um mandato de dois anos. A preferência para o recrutamento dos juízes será dada aos
que estão integrados ao sistema dos Juizados Especiais.
No contexto do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, esse incidente foi
incluído no Novo Código de Processo Civil. A tese jurídica adotada no incidente será
aplicada a todos os processos que envolvam a mesma questão de direito na área de
jurisdição do tribunal que proferiu o acórdão, inclusive aqueles que tramitam nos juizados
especiais. O relator, nos casos de uniformização presididos pelo Tribunal de Justiça ou
pelo Superior Tribunal de Justiça, poderá conceder, de ofício ou mediante solicitação das
partes interessadas, uma medida liminar suspendendo os processos nos quais a
controvérsia esteja em discussão.
A Lei nº 12.153 estabelece regras especiais para o cumprimento da sentença ou do
acordo nos processos dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, fazendo uma
diferenciação necessária entre a efetivação das obrigações de fazer, não fazer, entregar
coisa certa e pagar quantia certa.
O cumprimento do acordo ou da sentença transitada em julgado que impõe a
obrigação de fazer, não fazer ou entregar uma coisa específica será realizado através de
um ofício do juiz à autoridade citada para a causa, juntamente com uma cópia da
sentença ou do acordo. Se o valor for superior ao definido como de pequeno valor, o
cumprimento da sentença ocorrerá por meio de um precatório.

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