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O SUJEITO NAS ORGANIZAÇÕES: Uma proposta de análise a partir de Foucault, De

Certeau, Deleuze e Guattari

Resumo
Nossa proposta para esse ensaio teórico é desenvolver uma possibilidade de microanálise,
tomando como base os diversos agenciamentos que operam por meio do sujeito e compõem
as relações de poder no cotidiano das organizações. Desse modo, buscamos compreender que
os sujeitos que compõem os jogos de poder no espaço (Foucault, 2016), não seguem
passivamente as regras do jogo, existindo, como aponta de Certeau (2014), uma produção por
meio do consumo. Assim os sujeitos geram novos saberes que compõem a forma como se
percebem e desse modo, os produtos impostos são modificados por meio de suas ações
táticas, fomentando uma pluralidade cultural que é destacada por de Certeau (2016a). Deleuze
e Guattari (2015a; 2017a; 2017b; 2017c) destacam a multiplicidade de produções que
constitui o campo da imanência, nesse sentido, propomos observar essa multiplicidade
presente nas relações de poder dos sujeitos no cotidiano das organizações. As discussões que
apresentamos nesse ensaio teórico, reforçam a possibilidade de analisar as organizações a
partir do seu aspecto molecular, o sujeito, que para Deleuze e Guattari deve ser observado a
partir de suas singularidades. Isso possibilita a compreensão do sujeito sem buscar
equivalências, semelhanças ou generalidades, dando voz às diferenças antes marginalizadas
pelas organizações.

Palavras-Chave: Cotidiano; Diferença; Multiplicidade; Poder; Sujeito.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS PARA UMA LEITURA DO SUJEITO NAS


ORGANIZAÇÕES

Os Estudos Organizacionais têm se dedicado a análises que extrapolam o ambiente da


empresa formalmente constituída, estudando formas organizacionais diversas como: circos,
feiras, cooperativas de produtores, movimentos culturais e cidades. Os objetos das pesquisas
dos Estudos Organizacionais são caracterizados por uma construção histórica de lugares,
grupos, instituições, famílias, pessoas. Estudar as pessoas, que constituem por meio de suas
vivências cotidianas as organizações, é não ignorar as situações e formações que
historicamente construíram esses espaços. As evidências da história escrita podem ser
observadas por marcas espaciais, mas também por meio da história falada. Quando esses
sujeitos contam a história ouvida, lida ou até mesmo testemunhada, ocorre um processo de
produção, como apresenta de Certeau (2017), ao tratar da escrita da história.
Desenvolver uma pesquisa nos Estudos Organizacionais, também é olhar para as
diversas formas de contar a história do espaço e das pessoas que o habitam, suas estratégias e
táticas, processos organizativos e experiências produtivas. Nesse sentido, propomos para esse
ensaio teórico a articulação entre: as contribuições teóricas de Foucault (2016), no que se
refere ao poder e suas formas de controle dos corpos; de Certeau (2014), no seu entendimento
de cultura no plural que se dá por meio das invenções no cotidiano; e as contribuições de
Deleuze e Guattari, tanto em suas produções individuais como conjuntas, que retratam em
uma filosofia da diferença, as multiplicidades que permeiam o plano da imanência,
produzindo nossas subjetividades como corpos coletivos e individuais.
A utilização das contribuições teóricas desses autores, não é algo novo para as
pesquisas nos Estudos Organizacionais, pois estudos foram desenvolvidos utilizando essas
contribuições de forma isolada ou combinada com outros autores. Entre esses trabalhos
podemos destacar alguns, como o estudo desenvolvido por Oliveira e Cavedon (2013), que
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utilizaram as contribuições teóricas de Foucault e de Certeau, para apresentar o cotidiano
organizacional como um espaço de práticas que agem constituindo micropolíticas em meio à
normatização dos processos de gestão. Aguiar, Carrieri e Souza (2016) também trazem de
Certeau em um estudo sobre a gestão cotidiana dos circos itinerantes, representando assim as
complexidades e contradições na gestão dessas organizações. A abordagem foucaultiana tem
sido utilizada em trabalhos que discutem as relações de poder no entendimento de Biopolítica
e Biopoder, como os trabalhos desenvolvidos por Mendes et al (2015) e Aguiar e Carrieri
(2016).
Já a abordagem de Deleuze e Guattari, ainda é pouco trabalhada nos Estudos
Organizacionais no Brasil, sendo utilizada em conjunto com Foucault no trabalho de Souza e
Bianco (2011), que apresentam uma análise sobre o desejo e sua utilização na análise das
relações de poder no local de trabalho. Observando esse cenário de produções teóricas é que
apontamos a abordagem conjunta desses autores como uma nova possibilidade para os
Estudos Organizacionais, ao observar o sujeito marginalizado pelas organizações não apenas
como um corpo, mas como uma produção subjetiva individual e conjunta. A partir das
contribuições de Foucault, de Certeau, Deleuze e Guattari, propomos a possibilidade de
observar os pequenos movimentos que compõem as ações dos sujeitos nas organizações.
Diante dessas considerações iniciais, as questões que permeiam a construção desse
ensaio são: como esses autores (Foucault, De Certeau, Deleuze e Guatarri) compreendem o
sujeito moderno? Como essas concepções sobre o sujeito moderno podem gerar contribuições
para os estudos das organizações? De que forma a integração entre esses autores manifesta-se
como uma contribuição importante para os Estudos Organizacionais? Na tentativa de
responder a essas questões, a proposta nesse ensaio teórico é desenvolver uma perspectiva
pós-estruturalista de microanálise nos Estudos Organizacionais. A integração entre esses
autores (Foucault, De Certeau, Deleuze e Guatarri) possibilitará entender os diversos
agenciamentos que operam por meio do sujeito e compõem as relações de poder no cotidiano
das organizações, constituindo uma forma peculiar de compreensão das organizações.

2. QUEM É O SUJEITO PARA FOUCAULT, DE CERTEAU, DELEUZE E


GUATTARI?

Conforme destacam Souza, Machado e Bianco (2008) as pesquisas organizacionais


que tratam da subjetividade, assumem que o homem é autônomo e seu discurso necessita de
interpretação para alcançar seu verdadeiro significado. Revel (2005, p. 84) aponta que
Foucault busca em seus estudos apresentar “o sujeito como um objeto historicamente
constituído sobre a base de determinações que lhe são exteriores”. É nesse sentido que
Foucault (2014, p. 118) aponta como objetivo de seus estudos “produzir uma história dos
diferentes modos de subjetivação do ser humano em nossa cultura”.
Para Foucault (2014) o sujeito está preso em relações de produção, relações de sentido
e relações de poder, as duas primeiras dispõem de instrumentos adequados para estudo,
fornecidos pela história, economia e linguística. Faltava um instrumento para analisar as
relações de poder saindo dos modelos jurídicos e institucionais. É dessa forma que as análises
de Foucault (2013; 2015; 2016) buscam um distanciamento do entendimento de poder como
algo que pode ser possuído, exercido e que segue um esquema monótono de opressão. De
Certeau (2016b, p. 152) analisa que Foucault buscou apresentar um tipo de poder opaco, que
não é propriedade de alguém, nem ocupa um lugar privilegiado, sem a definição de sujeitos
inferiores ou superiores.
Em sua construção, Foucault (2016) distancia seu entendimento daquele que trata o
poder como essencialmente repressivo. Desse modo, é importante realizar, como expõe o
autor, uma análise não econômica do poder, não sendo um mecanismo para manutenção e
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reprodução das relações econômicas e sim uma relação de força. Foucault (2016) apresenta
dois sistemas de análise do poder, primeiro a forma de poder antigo ou o poder contrato, em
que o poder é entendido como um direito originário que se cede e constitui a soberania, que é
analisado segundo o esquema contrato-opressão. A segunda forma levantada pelo autor é o
sistema poder político analisado segundo o esquema guerra-opressão, caracterizado por uma
guerra silenciosa e repressão como efeito da relação de dominação, “a repressão seria a
prática, no interior da pseudopaz, de uma relação perpétua de força” (Foucault, 2016, p. 277).
Podemos compreender que o principal aspecto do poder para Foucault (2015; 2016) é
sua impossibilidade de ser possuído, de se caracterizar como propriedade de um sujeito ou um
grupo de pessoas. Uma vez que o poder é exercido em toda superfície do campo social a partir
de um sistema de intermediações, que pode se ramificar em finos capilares que compõem a
rede social de que trata Foucault (2015, p. 207), nesse sentido, o poder presente nessas
ramificações não é algo “possuído por alguém, mas como algo que passa, se efetua, se
exerce”. Existem relações de poder múltiplas, “que atravessam, caracterizam e constituem o
corpo social” (Foucault, 2016, p. 278), portanto, para analisar o poder é necessário observar as
relações entre os sujeitos, e não as formas regulamentares e legítimas do poder.
Foucault (2016) destaca que esta é a primeira precaução necessária aos pesquisadores
que buscam analisar o poder, evitar observar o poder em seu centro, ou seja, sua
regulamentação e aspectos legais e sim em suas extremidades, onde o poder toma forma, a
materialização dos seus procedimentos. Para estudar o poder para Foucault (2016) deve-se
observar os corpos periféricos, que são constituídos como sujeitos pelos efeitos do poder. É
nesse sentido, que o indivíduo é para o autor um corpo que se constitui como sujeito em
virtude do efeito do poder, a forma como é identificado e constituído, ou seja, o que faz com o
corpo, seus gestos, postura, discursos e desejos, portanto o indivíduo não é o outro do poder,
mas seu primeiro efeito. “O indivíduo é um efeito do poder e simultaneamente, ou pelo
próprio fato de ser um efeito, seu centro de transmissão” (Foucault, 2016, p. 285).
É nessa perspectiva que Foucault (2014, p. 123) destaca a existência de dois sentidos
para a palavra sujeito, sendo submisso ao outro pelo controle e dependência e ligado a sua
própria identidade, pela consciência ou conhecimento de si. Portanto, entender o indivíduo
como sujeito, é para Foucault (2014, 2016) compreender a existência de uma forma de poder
que subjuga e submete. Nesse sentido, com o poder como transmitido ou circulando através
dos sujeitos, a relação de poder não segue uma lógica de opressão, não existindo sujeitos que
detêm o poder e o aplica de forma brutal. Pelo contrário, o poder não é monolítico, não sendo
controlado totalmente por alguns, mas o poder se desenrola a cada instante, em “disputas
singulares, com inversões locais, derrotas e vitórias regionais, desforras provisórias”
(Foucault, 2015, p. 208).
Essas disputas e resistência também marcam os trabalhos realizados por de Certeau
(Faria & Silva, 2017), que em sua busca por demonstrar a resistência ao que é indicado como
verdade, pretende não generalizar aspectos como cultura e tradições. A partir dessa
inquietação, de Certeau (2016a) produziu o material que compõe a obra “A cultura no plural”,
em que propõe uma mudança na compreensão do conceito de cultura. Desconfiando da visão
generalizada de cultura, de Certeau (2016a) desenvolveu uma crítica ao poder e teorias
totalizantes da cultura, sendo para o autor, problemático a generalização de culturas ou
tradições, como aponta Barbieri Jr. (2002).
A cultura para de Certeau (2016a, p. 141), vai além da existência de práticas sociais,
sendo também necessária a significação dessas práticas por seu ator, uma vez que a cultura
consiste em “realizar o ato pelo qual cada um marca aquilo que outros lhe dão para viver e
pensar”. Portanto, podemos compreender que para de Certeau (2016a), a cultura não é uma
categoria minoritária de criações e práticas sociais, em que um setor particular da sociedade
fornece aos outros o que necessitam de significação.
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Pensar a cultura como singular, como “a” cultura, é para de Certeau (2016a) uma
restauração do modelo unitário, de imposição de uma religião e uma ideologia. Em seus
questionamentos, o autor destaca se existe algum grupo com direito de definir no lugar dos
outros o que deve ser significativo para eles. A indagação feita por de Certeau (2016a) sobre
cultura também se remete ao entendimento de uma cultura popular, para Ahearne (1995) o
entendimento de popular compreende a existência de um grupo de consumidores
aparentemente passivos. Definir uma cultura como popular compreende uma caracterização
das práticas culturais de uma maioria, pressupondo a homogeneidade dessas práticas (de
Certeau, 2016a; Ahearne, 1995).
Considerando que a cultura é a significação dada pelo ator para as práticas sociais,
seria, conforme apresenta de Certeau (2016a), mais coerente compreender a cultura no plural,
como “as” culturas. A cultura no singular é, para de Certeau (2016a), uma mistificação
política, mortífera e que ameaça a criatividade. A cultura no plural possui sistemas de
referência e de significados heterogêneos entre si, sendo dessa forma um combate e não a
imposição de um poder. Essa multiplicidade de significações que compõem as culturas e
impossibilita a existência da cultura no singular, são invenções dos sujeitos no cotidiano e
Buchanan (2000) destaca a rejeição que de Certeau faz ao modelo generalista de cultura ao
trabalhar os conceitos de estratégias e táticas. Ao tratar de estratégias e táticas, de Certeau
(2014) reforça a ação do sujeito, que não está entregue a uma passividade cotidiana, mas
inventa as condições que o cerca.
Para de Certeau (2014), as estratégias são a manipulação das relações de forças, que
apenas é possível quando o sujeito de querer e poder pode ser isolado, o que necessita da
existência de um lugar de querer e poder que o autor caracteriza como próprio. O próprio,
para o autor, é a base para que o sujeito possa gerir as relações com uma exterioridade.
“Como na administração de empresas, toda racionalização ‘estratégica’ procura em primeiro
lugar distinguir de um ‘ambiente’ um ‘próprio’, isto é, o lugar do querer e do poder próprios”
(de Certeau, 2014, p. 93). Como destaca Buchanan (2000), a estratégia é uma função do lugar,
e ela trabalha para limitar o grande número de variáveis que nos afetam por meio do próprio,
compreendido como um tipo de zona protegida, que pode tornar o ambiente previsível.
Nesse sentido, o próprio é para de Certeau (2014) uma vitória do lugar sobre o tempo,
uma vez que, é possível acumular vantagens conquistadas, estudar e preparar expansões e
obter independência da variabilidade das circunstâncias. O próprio é também um domínio dos
lugares pela vista, pois ao dividir os espaços é possível uma prática panóptica, que por meio
da vista transforma “forças estranhas em objetos que se podem observar e medir” (de Certeau,
2014, p. 94).
A possibilidade que a existência de um lugar próprio fornece, é apresentada por de
Certeau (2014, p. 94) como o poder de saber, ou a “capacidade de transformar as incertezas da
história em espaços legíveis”. É importante destacar, nesse ponto, que esse é um tipo diferente
e específico de saber, que sustenta e determina o poder de conquistar um lugar próprio, como
ocorre com as estratégias militares ou científicas que para ocorrerem necessitam de campos
próprios, como cidades autônomas, instituições neutras ou dependentes. Por outro lado, as
táticas são determinadas pela ausência de um próprio, portanto não possui autonomia, seu
lugar é o lugar do outro, e como destaca de Certeau (2014, p. 94) “deve jogar com o terreno
que lhe é imposto tal como o organiza a lei de uma força estranha”, é o movimento presente
no campo de visão e espaço do inimigo. Ou como destacado por Ahearne (1995, p. 162), as
táticas são a furtividade noturna do caçador e as estratégias são o brilho da vigilância.
Buchanan (2000) destaca que as táticas estão constantemente imersas no espaço do outro,
correndo risco de serem submergidas pelo fluxo de eventos, elas são as práticas que as
estratégias não conseguiram domesticar.

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Por não ter um espaço próprio para agir, as táticas operam “golpe por golpe, lance por
lance”, se aproveitando das ocasiões, não podendo acumular vantagens e vitórias, “o que ela
ganha não se conserva” (de Certeau, 2014, p. 94-95). Destacamos que para de Certeau (2014),
o poder é determinante para a existência de um lugar próprio, portanto as táticas existem na
ausência de poder, quando apenas a astúcia é possível, nesse sentido as táticas são as práticas
do fraco, ou seja, astúcias que compreendem o último recurso de ação do homem ordinário.
Para Buchanan (2000) as táticas não são em si subversivas, mas possuem valor
simbólico que não pode ser subestimado, pois oferecem provas diárias da parcialidade do
controle estratégico, mantendo dessa forma a esperança de que mesmo que as coisas estejam
ruins elas não são necessariamente assim, portanto, as táticas agem principalmente no plano
da crença. Vorley e Rodgers (2014) apresentam a construção teórica de Certeau de estratégias
como relações de poder formais que afetam grupos externos, enquanto que as táticas são
ações ou formas de operação dos indivíduos que buscam preservar e aumentar os interesses
individuais. As táticas em oposição as estratégias como ações marcadas pela existência de um
espaço próprio, demonstram as possibilidades de inversão nas relações de poder, como é
destacado por Foucault (2016).
Como uma boa forma de utilizar o tempo e as oportunidades, as táticas são para de
Certeau (2014) uma forma de jogar com o poder. Nesse sentido, as táticas “manifestam
igualmente a que ponto a inteligência é indissociável dos combates e dos prazeres cotidianos
que articula, ao passo que as estratégias escondem sob cálculos objetivos a sua relação com o
poder que os sustenta, guardado pelo lugar próprio ou pela instituição” (de Certeau, 2014, p.
46-47). A tática engana a ordem explorada pelo poder, onde antes era espaço de repressão do
discurso ideológico, agora é campo da arte das táticas (de Certeau, 1980). Portanto, uma
cultura popular não é um corpo inerte, criado para exibição e que produz sobre objetos as
mesmas situações preparadas para os sujeitos, ela é a arte de fazer com o produto imposto,
criando caminhos, leituras, usos, escritas, histórias. E todas essas produções ocorrem no
espaço controlado pelo poder, com fronteiras bem definidas e delimitação das práticas aceitas.
Mas, ainda assim, existem espaços para a ação do homem comum, que com suas táticas cria
possibilidades de ação no jogo do outro (de Certeau, 1980; 2014; Buchanan, 2000).
Em sua construção teórica Deleuze e Guattari (2015a, 2015b, 2017a, 2017b, 2017c)
também buscam combater o modelo generalista de entendimento do sujeito. Deleuze (2013)
reforça a necessidade em afirmar as singularidades e não subjugá-las com base em um
fundamento previamente estabelecido. Desse modo, o autor constrói sua compreensão de
sujeito, que possui poder de ação, inventa e cria a partir das suas experiências (Cavalcante,
2016), semelhante ao homem ordinário, herói comum estudado por de Certeau (2014) que é
representado como agindo em meio às forças hegemônicas.
A partir dos conceitos iniciais de Deleuze, podemos destacar que seus trabalhos na
filosofia são uma crítica à tradição filosófica ocidental, desenvolvendo uma filosofia da
multiplicidade, que foca na construção de um pensamento sem imagem, pluralista, heterodoxo
(Cavalcante, 2016). Para Alliez (1996), Deleuze semeia a confusão quanto à prática e
realidade da sua filosofia da diferença, “que não tem de resto outra questão que não a do
pensamento e das imagens do pensamento que a animam” (Alliez, 1996, p. 11). Conforme
destaca Craia (2009), a ontologia deleuziana apresenta uma nova dimensão reflexiva, a
diferença.
Para a construção do conceito de diferença, Deleuze (2013) parte da compreensão das
subjetividades que compõem a vida, que são apresentadas no entendimento de três dimensões:
saber, poder e pensamento. “As relações formadas, formalizadas sobre os estratos (Saber); as
relações de força ao nível do diagrama (Poder); e a relação com o lado de fora, essa relação
absoluta, como diz Blanchot, que é também não-relação (Pensamento)” (Deleuze, 2013, p.
103). A dimensão do pensamento é a chave para compreender o entendimento do autor para
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subjetivação, pois o pensamento vem do lado de fora e permanece no lado de fora, é externo
ao sujeito, mas ao mesmo tempo surge no lado de dentro o que não pensa e não pode pensar, o
impensado.
A construção do pensamento e da subjetividade do sujeito envolve questões como o
modo de sujeição apresentado por Foucault (2017), que seria o modo de constituir-se como
sujeito, ou a relação do sujeito com a regra, se reconhecendo obrigado a cumpri-la. Aspecto
esse, apresentado por de Certeau, Giard e Mayol (2013) ao tratar da conveniência das práticas,
como a submissão a códigos de linguagem e comportamento. O controle das práticas dos
sujeitos pode se exercer por meio de dispositivos, que é um conjunto heterogêneo, o dito e o
não dito, sendo a rede que liga discursos, instituições, proposições filosóficas, organizações
arquitetônicas, leis, medidas administrativas (Foucault, 2016).
Para Foucault (2017, p. 37) os modos de sujeição indicam não apenas a existência de
códigos de comportamento, mas também de formas de subjetivação, ou seja, a maneira que os
indivíduos se constituem como sujeitos de conduta moral, as relações para consigo, a reflexão
sobre si, o conhecimento, exame e decifração de si por si mesmo. Já Guattari (2006) quando
se refere à subjetividade a descreve como plural e produzida em instâncias individuais,
coletivas e institucionais. É assim que o autor busca rever o entendimento de inconsciente, a
existência de fatores subjetivos na atualidade histórica, as produções maquínicas de
subjetividade e os aspectos etológicos e ecológicos relacionados à subjetividade humana
(Guattari, 2006). A imanência da vida para Deleuze ressalta que o poder de criação não está
fora do mundo, mas que a vida é um processo criativo, nesse sentido, o pensamento como
forma de subjetivação faz parte do fluxo do mundo, e não é apenas uma representação da
vida, mas um agir sobre a vida (Colebrook, 2003; Deleuze, 2013).
O agir sobre a vida para Deleuze (2013) seria como a invenção que o sujeito comum
para de Certeau (2014) realiza no cotidiano, por meio de práticas não autorizadas, uma
trampolinagem, o jogo que se faz no espaço do outro, nas lacunas das práticas estratégicas
estipuladas. A invenção do cotidiano é como “frases imprevisíveis num lugar ordenado pelas
técnicas organizadoras de sistemas” (de Certeau, 2014, p. 91), produções heterogêneas desses
sistemas, que circulam sem destino aparente, seguindo o terreno imposto. Entretanto, essas
práticas não autorizadas não se caracterizam como algo diferente do espaço em que está
circulando, como se tratasse de um líquido circulando por uma base sólida, seguindo os
declives, curvas, planícies do terreno. Pelo contrário, as práticas não autorizadas apresentadas
por de Certeau (2014) seguem com movimentos diferentes, fazendo uso dos elementos que
compõem o terreno, em trajetórias diferentes e imprevisíveis.
As invenções do sujeito no cotidiano ocorrem à semelhança de um processo de eterno
retorno, conceito que Deleuze (2018) retoma de Nietzsche, como uma crítica à dialética
hegeliana, em que as singularidades são subjugadas por um pensamento ideal e moral
(Williams, 2010; Cavalcante, 2016). O eterno retorno para Deleuze (2018) não representa um
retorno do idêntico, mas sim um fim das identidades prévias. Spinks (2010) aponta o uso do
conceito de eterno retorno na filosofia deleuziana como um destaque para a existência das
diferenças que constituem os sujeitos e as coisas.
A abordagem de Deleuze (2018; 2013) apresenta a diferença como um tratamento
afirmativo das singularidades, em que ao nos encontrarmos diante de, ou em uma oposição,
devemos questionar quais diferenças aquela situação supõe, “um pluralismo de diferenças
livres, selvagens ou não domadas, um espaço e um tempo propriamente diferenciais,
originais, que persistem através das simplificações do limite e da oposição” (Deleuze, 2018, p.
79). Para Cavalcante (2016), a forma deleuziana de abordar as singularidades que compõem a
diferença, sugere maneiras poéticas e criativas de apresentar as diferenças encontradas, não se
deve negar a existência de singularidades ou buscar organizar e rotular essas singularidades
em modelos ideais. O que Deleuze (2018) apresenta com a utilização do conceito de diferença
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é a compreensão da natureza do mundo como ela é percebida, pois cada aspecto da realidade
demonstra a diferença que não precisa se fundamentar em nenhum outro aspecto, pois se
refere às particularidades e singularidades de cada indivíduo, momento, objeto, percepção
(Deleuze, 2018; Stagoll, 2010).
Para Stagoll (2010) a individualidade é o principal fato da filosofia deleuziana, que
recusa a abordagem generalista de agrupar os indivíduos e explora seu desenvolvimento
específico e único. A diferença que caracteriza cada indivíduo revela todo o potencial, dos
caminhos não percorridos e potencialidades não atualizadas. Colebrook (2002) destaca que
considerar a diferença apenas como o que está na superfície é considerar a vida humana como
já constituída. É necessário compreender a filosofia deleuziana como um exercício de
representação da potência do indivíduo, das potencialidades virtuais ou não atendidas,
questionando não apenas o que se vê, mas o que pode existir em um futuro, o que podemos
nos tornar (Colebrook, 2002).

2.1. O sujeito e sua produção, uma forma de perceber a multiplicidade nas organizações

O sujeito entendido como empírico (Deleuze, 2018; Cavalcante, 2016) ao observar seu
potencial de criação, ordinário (de Certeau, 2014) ao focar em suas invenções cotidianas ou
subjugado e submetido a uma forma de poder (Foucault, 2014; 2016) representa importante
ponto de análise. Observar o sujeito e as produções que compõem sua subjetividade permite
uma análise para além dos pacotes prontos, das verdades aceitas, da necessidade de
generalizar e da homogeneidade (de Certeau, 2014; Foucault, 2016; Deleuze, 2018; Deleuze
& Guattari, 2017c). Nos leva a um questionamento sobre a diferença que compõe as relações
de poder no cotidiano, partindo da compreensão de Foucault (2016) que o poder não é um
fenômeno de dominação maciço e homogêneo, pois podem ser identificadas disputas
constantes e possibilidades de inversões em sua ação. Uma vez que, o poder não é algo que se
divide entre os sujeitos que o possui, mas algo que circula e funciona em cadeia (Deleuze,
2013), ele não possui homogeneidade, mas se define pela singularidade dos pontos por onde
passa, é dessa forma que o poder para Foucault (2016) funciona em rede, circulando entre os
sujeitos. Os sujeitos, nesse sentido, “nunca são o alvo inerte ou consentido do poder, são
sempre centros de transmissão” (Foucault, 2016, p. 284).
A característica dos sujeitos como centros de transmissão e não alvos inertes do poder
(Foucault, 2016), os relacionam a movimentos não autorizados no espaço organizado, que são
caracterizados por de Certeau (2014) como uma produção, por fazer uso dos elementos
presentes no espaço e se movimentar de forma astuciosa. Entretanto, esses movimentos não
são classificados, calculados ou tabulados pelas estatísticas. Os materiais consumidos pelas
práticas são calculados, mas as maneiras de utilizá-los, a produção que se dá por meio do
consumo passa despercebida. É nesse sentido que a proposição feita por de Certeau (2014)
dos conceitos de estratégias e táticas, refletem o aspecto relacional do poder para Foucault
(2016).
Semelhante à pluralidade da cultura para de Certeau (1980; 2014; 2016a) que
representa novos sentidos produzidos pelos sujeitos no cotidiano, destacados como uma
produção por meio do consumo. Quando se refere à produção realizada pelos consumidores,
de Certeau (2014) destaca a impossibilidade dos sujeitos rejeitarem um produto cultural
imposto, que pode se caracterizar como um conhecimento, uma prática, uma leitura ou um
produto material. A produção por meio do consumo como expressão da cultura no plural é
destacada pelo autor no ato da leitura. Para de Certeau (2014), existe uma ideologia de
informar por meio do livro, em que os autores, como produtores de informação, buscam
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formar ou informar a população, compreendendo desse modo que os leitores assimilam
passivamente a informação apresentada no livro.
A compreensão de que o público é moldado por meio dos produtos impostos, nesse
caso, a literatura, é criticada por de Certeau (2014), por não representar o ato de consumir.
“Supõe-se que ‘assimilar’ significa necessariamente ‘tornar-se semelhante’ àquilo que se
absorve, e não ‘torná-lo semelhante’ ao que se é, fazê-lo próprio, apropriar-se ou reapropriar-
se dele” (de Certeau, 2014, p. 237). Para o autor, consumir algo não significa apenas assimilar
aquilo que é oferecido pelos produtores. É desse modo que de Certeau (2014; 2016a) destaca
o papel da educação como forma de reformar a sociedade, por meio de seu ensino
normalizador e enquadramento disciplinar que sugere a passividade dos corpos.
Assim Foucault (2016) retrata o poder como disciplinar, um poder que penetrou no
corpo e se encontra exposto no próprio corpo, que o autor define como o corpo social, ou a
materialidade do poder se exercendo sobre o corpo dos sujeitos. O poder disciplinar tratado
por Foucault (2013; 2016), se exerce continuamente por meio da vigilância e minuciosas
coerções materiais, exerce dessa forma um controle dos corpos, um biopoder, que tem se
exerce sobre a vida do sujeito. Esse corpo disciplinado constitui o corpo social apresentado
anteriormente; quando alguns dos corpos representam perigo à constituição do corpo social, é
necessário fazer uma higienização e retirar esse corpo problemático da unidade do corpo
social. O corpo passa a ser adestrado, suas aptidões ampliadas e suas forças extorquidas, por
meio de dispositivos disciplinares, permitindo tanto o crescimento da utilidade do corpo como
sua docilidade (Foucault, 2017).
Os dispositivos disciplinares na construção teórica de Foucault (2016, p. 364)
representam um conjunto heterogêneo, de “discursos, instituições, organizações
arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos,
proposições filosóficas, morais, filantrópicas”. Caracterizam-se, portanto, não apenas no que é
dito, mas também no não dito. Por meio dos dispositivos, é possível mascarar e reinterpretar
uma prática, colocando-a em outro campo de racionalidade. Essas mudanças que se operam
por meio dos dispositivos, ocorrem segundo Foucault (2016) porque eles se inscrevem em um
jogo de poder.
Entretanto, existe como aponta de Certeau (2014) uma criatividade nos consumidores,
que o sistema normalizador representou como inexistente. Nesse sentido, o autor destaca que
não existe consumo passivo de produtos culturais, e sim uma produção por meio do consumo.
E para de Certeau (2014, p. 90), apontar a vulgarização de uma cultura é destacar “a revanche
que as táticas utilizadoras tomam do poder dominador da produção”, pois ao mesmo tempo
em que consome, o sujeito produz a partir do produto que lhe é imposto.
Podemos compreender a produção dos consumidores, como a diferença retratada por
Deleuze (2018), que contém uma profundidade de significados. Stagoll (2010) complementa
que a diferença geralmente é compreendida como uma variação entre dois estados. Ou, como
apresenta Colebrook (2002), o relacionamento de pontos de substâncias já distintas. Essa
compreensão para Stagoll (2010) assume a possibilidade de comparar dois estados ou
momentos, entendendo a diferença como a variação que pode ser observada ou deduzida.
Para compreender a essência da diferença e sua capacidade de representar a potência,
Deleuze (2018, p. 17) destaca a impossibilidade da generalidade, que “apresenta duas grandes
ordens: a ordem qualitativa das semelhanças e a ordem quantitativa das equivalências”. O
grande problema da generalidade é a compreensão de que um termo pode ser trocado ou
substituído por outro. Combatendo a ideia de generalidade, Deleuze (2018, p. 17) apresenta o
entendimento de repetição, como “uma conduta necessária e fundada apenas em relação ao
que não pode ser substituído”. A repetição destaca a existência de uma singularidade que não
pode ser trocada ou substituída.

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Nesse sentido, repetir, para Deleuze (2018), é um comportamento em relação a algo
que é único ou singular, sem semelhante ou equivalente, que pode ser a expressão de algo
secreto, uma repetição interior e mais profunda na singularidade que a abriga. Existe nessa
construção de Deleuze (2018, p. 18) ao invés de uma generalidade do particular uma
universalidade do singular, desse modo a repetição é para o autor uma transgressão, uma
“singularidade contra o geral”, com o propósito de denunciar o caráter nominal e geral da lei
defendendo uma “realidade mais profunda e mais artística” pautada nas singularidades do
sujeito, ou o que o torna diferente. Cavalcante (2016) destaca que a diferença é o que dá razão
ao aspecto sensível dos fenômenos analisados, e o pesquisador deve extrair da repetição algo
novo, ou a diferença que a habita.
Olhar a diferença é olhar para as extremidades e mecanismos das relações de poder
(Foucault, 2016), bem como o cuidado de si ou a constituição do sujeito pelo poder (Foucault,
2014; 2016; 2017). A sujeição do indivíduo pelo poder, pode ser melhor compreendida ao
olharmos para o conceito de Corpos sem Órgãos (CsO) de Deleuze e Guattari (2004), em que
a máquina de produção representada pelo sujeito, ou sua ação como CsO passa a ser
organizado pela máquina social (Deleuze & Guattari, 2004), pelos dispositivos disciplinares
(Foucault, 2016; 2017) e pelas práticas (Certeau, 2014). Esse organizar revela a existência de
discursos verdadeiros e saberes menores, é o papel dos intelectuais na crítica levantada por
Foucault (2016), que possuem autoridade para falar pelo outro. É dessa forma que Foucault
(2016), de Certeau (1980; 2014) e Deleuze e Guattari (2004) questionam essa produção de
verdade ao olhar para o sujeito produtor de saberes não qualificados e desprezados.
Desse modo, a concepção de sujeito em Deleuze e Guattari foge do entendimento de
algo fixo e passa a ser um resultado provisório de um processo de subjetivação constante
(Deleuze, 2018; Boundas, 2010). É nesse sentido que Deleuze e Parnet (1998) apontam a
inexistência de sujeito como representando um nome próprio ou algo fixo. O que existe, para
os autores, é um conjunto de agenciamentos, de fluxos nos estratos. O sujeito aqui tem poder
de ação e apenas se constitui como sujeito ao ultrapassar sua experiência e inventar e
acreditar. Nesse ponto, a construção de Deleuze e Guattari se aproxima em partes da de
Foucault (2014), que apresenta o sujeito como sujeitado pelo poder, podendo ser submisso
pelo controle ou ligado a sua própria identidade pelo conhecimento de si.
O processo que leva o sujeito a ultrapassar sua experiência e se caracterizar como
sujeito empírico, pode ser compreendido quando Deleuze (2008; 2013, p. 103) apresenta o
pensamento, como processo em constante estado de transformação, “uma interiorização do
lado de fora” ou ainda “uma reduplicação do Outro”, do diferente. Esse estado de duplicação
ou reprodução do outro que constitui o pensamento e a subjetivação constante do sujeito
empírico, ocorre em uma multiplicidade que existe no campo da imanência (Cavalcante,
2016; Deleuze, 2008; 2013). As multiplicidades não podem ser consideradas múltiplas
expressões de um único conceito ou unidade, que deve ser considerada em sua forma
substantiva e não como um adjetivo (a multiplicidade de alguma coisa), mas uma coleção ou
conexão de peças (Roffe, 2010; Colebrook, 2002).
A importância de tratar o múltiplo como substantivo é destacado por Deleuze e
Guattari (2018) ao tratar do princípio da multiplicidade, que passa a não ter relação com o
uno. Nesse sentido, as multiplicidades, para os autores são rizomáticas (aleatórias,
proliferante, com conexões descentralizadas) e denunciam as peseudomultiplicidades
arborescentes (hierárquicas) (Colebrook, 2002). O rizoma representa para a construção teórica
de Deleuze e Guattari uma forma de mapear o processo, não criando hierarquias, mas
considerando o pensamento em rede, relacional e transversal, e que não deve ser visto como
fixo (Colman, 2010). O rizoma é na descrição de Colman (2010) uma matriz móvel, composta
por partes orgânicas e não orgânicas, que formam conexões simbióticas e aparalelas em rotas
ainda indeterminadas.
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O rizoma é uma formação molecular, que Deleuze e Guattari (2017c) destacam como
traçando um plano que não possui dimensões, constitui uma multiplicidade que não está
subordinada ao Uno, ou seja, é livre em seu movimento de agir no plano da imanência. Para
compreender o sentido de formação molecular utilizado pelos autores, destacamos a
exposição feita por Conley (2010), que apresenta a utilização dos conceitos como forma de
observar os objetos como massas dinâmicas de moléculas, e não sua imagem visível a olho
nu. Conley (2010) complementa que a molecularidade para Deleuze e Guattari, descreve os
processos das coisas e da criação e acompanha a percepção das totalidades, é uma
micropolítica da percepção, dos afetos e conversações. Já o conceito de molar, se refere a um
agregado de matéria, não focando em sua propriedade molecular, são os padrões gerais de
comportamento de um órgão (Conley, 2010).
Diferente do rizoma, o sistema arborescente é uma formação do tipo molar. Para
Deleuze e Guattari (2017c) tanto o rizoma como o sistema arborescente são constituídos por
meio de um complexo de linhas, entendidos como estratos e agenciamentos. Os estratos são,
na descrição de Deleuze (2013, p. 57) “formações históricas, positividades ou empiricidades”,
são formados por coisas e palavras, o que se vê e o que se fala. Os agenciamentos, por outro
lado, são distintos dos estratos, mas que se realizam ou operam nos estratos, em zonas de
descodificação dos meios, de onde extraem inicialmente um território (Deleuze & Guattari,
2017c).
Conforme descrição de Livesey (2010) o agenciamento são arranjos ou processos de
organização e montagem, que criam formas de funcionamento ou novos territórios. Deleuze e
Guattari (2017c, p. 67) descrevem o agenciamento como algo que se constitui por meio do
desejo, que para os autores não possui uma “determinação natural ou espontânea”, mas é
agenciado e está constantemente agenciando. Portanto, os agenciamentos são todo conjunto
de singularidades e traços extraídos do fluxo, que são selecionados, organizados e
estratificados, e desse modo, convergindo naturalmente ou artificialmente, se apresentando
como uma invenção (Deleuze & Guattari, 2017c).
Deleuze e Guattari (2017c) apresentam os agenciamentos como territoriais. Para
analisar os agenciamentos, primeiro é necessário descobrir a territorialidade que o envolve,
porque segundo os autores sempre haverá uma territorialidade envolvendo os agenciamentos.
Analisar os agenciamentos é analisar o território que o envolve, agenciar é tornar algo seu,
como “minha casa” ou “meu trabalho” ou “meu amigo”. Nesse sentido, podemos
compreender os territórios na perspectiva de Deleuze e Guattari (2017c) como além de um
espaço geográfico, feito de fragmentos descodificados dos meios, que adquirem um valor de
propriedade.
Os agenciamentos extraem os fragmentos dos meios e lhes confere novo sentido, que
Deleuze e Guattari (2017b; 2017c) denominam de ritornelo. O ritornelo é para os autores
essencialmente territorial, territorializante ou reterritorializante. Ele possui uma relação com o
território ao exprimir a tensão com algo mais profundo, remetendo a um acontecimento
(Deleuze & Guattari, 2017b; 2017c; Deleuze, 2008). São três aspectos simultâneos ou uma
mistura deles, que compõem o ritornelo para Deleuze e Guattari (2017b), um imenso buraco
negro com um ponto frágil fixado como centro, uma pose calma e estável em torno do ponto
central do buraco negro (então o buraco negro tornou-se um “em casa”), e uma escapada
nessa pose, saindo do buraco negro.
O ritornelo, para Deleuze e Guattari (2017b; 2017c) é um movimento pelo território,
caracterizado por diversas formas de agenciamentos, o ritornelo é um desenvolvimento
constante de devires, devir homem, devir homem-pai, devir homem-animal. São todos
aspectos que compõem as subjetivações, que por sua vez são produzidas por agenciamentos
de enunciação, ou produção de sentido, que não estão vinculados a um agente individual, mas
agentes grupais (Guattari & Rolnik, 1996).
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As subjetivações ou processo de produção de sentido que apresentam Guattari (2006)
e Guattari e Rolnik (1996) ocorrem tanto na existência de um estado de nada ou inércia, como
também em um estado de sujeito não humano, que é o estado da máquina. O estado da
máquina faz referência à impossibilidade de limitar objetos técnicos aos aspectos que
compõem sua materialidade, uma vez que existem elementos que o compõem, mas escapam
de sua materialidade e que compõem as dimensões maquínicas de subjetivação (Cavalcante,
2016; Guattari, 2006; Guattari & Rolnik, 1996).
É nesse sentido que Deleuze e Guattari (2004) destacam que funcionamos como
máquinas, onde o desejo é o motor que faz andar o processo de produção das nossas
subjetivações. Para os autores, somos máquinas desejantes, um corpo que sofre por ser
organizado e que está em constante processo de produção. Lawley (2005) destaca que existe
uma tensão entre o desejo e sua organização, contrastando o entendimento de organismo
(corpo organizado) com o Corpo sem Órgãos, ou o fluxo ilimitado e descontrolado de desejo,
que tem por inimigo o organismo.
As construções teóricas de Deleuze e Guattari (2017c; 2004) contemplam a
possibilidade de seguir linhas de fuga, sair das limitações impostas pelos estratos como
formações históricas. É nesse sentido que o conceito de Corpo sem Órgãos representa essa
possibilidade de fuga, por meio da potência representada pelo desejo não organizado que
compõe o corpo sem órgãos. Message (2010) destaca o corpo sem órgãos como um substrato
que compõe o plano da consistência (não estratificado), ou seja, não compõem os estratos,
representam uma possibilidade de escapar do tradicional e suas deficiências, fazendo do
desejo que compõe o corpo sem órgãos uma máquina produtiva, múltipla e em fluxo
constante.
Por meio dos agenciamentos é que o desejo vai produzindo possibilidades de
construção das nossas subjetivações. Esses agenciamentos são descritos por Deleuze e
Guattari (2017c) como agenciamentos maquínicos, que operam primeiro nas co-adaptações de
conteúdo e expressão num estrato. Cavalcante (2016) diferencia as formas de agenciamento
como de conteúdo ou agenciamento maquínico do desejo, e de expressão, ou agenciamentos
coletivos de enunciação. Com os movimentos do ritornelo pelo território, territorializando,
desterritorializando e reterritorializando é que se dá uma produção das subjetivações que
compõem a expressão de quem é o indivíduo.
O ritornelo é expresso por um movimento, nesse sentido, para Deleuze e Guattari
(2017c), a relação com o território será de abandono e posse, em um movimento de
desterritorialização ou abandono de um território, seguido de movimentos de
reterritorialização. A reterritorialização compensa a desterritorialização, portanto podemos
compreender a desterritorialização como negativa, pois ela sempre vem acompanhada de uma
reterritorialização e nas situações em que ela pode ser dita absoluta, ela possui falhas e
buracos negros (Deleuze & Guattari, 2017c).
Observando os processos de territorialização, desterritorialização e reterritorialização
de Deleuze e Guattari (2017c) como movimentos do ritornelo, em que o desejo produz por
meio de agenciamentos, é que podemos identificar a potência representada pelo sujeito. Essa
potência também se revela por meio das invenções do sujeito em seu cotidiano (de Certeau,
2014), suas ações táticas e inversões nas relações de poder (Foucault, 2016). Tais ações são
imperceptíveis, uma vez que, toda atenção está centrada no discurso aceito como verdade
(Foucault, 2016), nas forças que constituem a máquina social (Deleuze & Guattari, 2004) e no
poder que constitui um lugar próprio permitindo o desenvolvimento de ações estratégicas
(Certeau, 2014). Desse modo, partindo da compreensão da filosofia deleuziana da diferença
em conjunto com os demais conceitos que exploram os aspectos moleculares da realidade,
buscamos levantar uma nova possibilidade para desenvolvimento de pesquisas nos estudos

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organizacionais, investigando, como destaca Cavalcante (2016), elementos marginalizados
pelas formas de conhecer dominante.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento desse ensaio teve como proposta discutir uma nova possibilidade
de análise do sujeito nas organizações, considerando para tanto não apenas o aspecto material
e individual que o compõem, mas aumentando o alcance teórico para os aspectos subjetivos
de produção do sujeito. Para tanto, apresentamos a discussão teórica realizada por Deleuze e
Guattari, focando na filosofia da diferença de Deleuze (2018). A utilização da abordagem de
Deleuze e Guattari, propõe um rompimento com a ideia de generalidade, compreendendo que
a realidade apenas pode ser analisada quando observamos as singularidades que compõem os
objetos, sujeitos, coisas, situações, instrumentos, emoções, etc.
Trabalhar com as perspectivas teóricas de Foucault, de Certeau, Deleuze e Guattari
significa não aceitar os conhecimentos e formas pré-estabelecidos. Esses autores desenvolvem
em seus estudos questionamentos quanto à existência de verdades absolutas. Desse modo,
trabalhar essas perspectivas nos estudos organizacionais é compreender que não se deve
avaliar algo como certo ou errado, pois os julgamentos da realidade estão fadados ao
preconceito social. Foucault, de Certeau, Deleuze e Guattari são autores que questionam a
capacidade de alguém ou algum grupo de falar pelo outro. E nesse sentido as contribuições de
Deleuze e Guattari para o plano molecular da realidade permitem uma análise dos aspectos
que compõem o sujeito como construção coletiva.
Enquanto Foucault (2016) apresenta o poder como relacional, como uma rede de
relações, que apenas pode ser compreendido ao analisar sua extremidade, Deleuze e Guattari
contribuem com a compreensão da produção dessas relações de poder, ou como essas
constituem e limitam o sujeito. Para Deleuze (2008), o poder é o elemento informal que passa
entre e por baixo das formas de saber, que constituem o pensamento.
Desse modo, as relações de poder podem ser compreendidas por meio dos variados
agenciamentos que elas operam nos estratos, que podem ser observados em sua forma
arborescente ou rizomática. A observação dos agenciamentos compondo as relações de poder
leva a uma percepção das singularidades apresentadas pelos sujeitos, mas também permitem
compreender a construção social que envolve esse agente, como sujeito de um enunciado ou
criador de um saber.
Seguindo o movimento do ritornelo, ou os novos sentidos que os agenciamentos
produzem no sujeito individual e coletivo, é possível desenhar os movimentos de resistência,
que esses operam nos jogos de poder. Essa resistência pode ser observada nas formas de
utilizar os produtos culturais impostos (de Certeau, 2014). Em um constante movimento de
desterritorialização e reterritorialização marcado pelo ritornelo, o sujeito cria territórios e
saberes (Deleuze & Guattari, 2015a, 2017b). Esse entendimento para as pesquisas em estudos
organizacionais nos leva a observar o saber do homem comum como produção coletiva, ou
seja, existem aspectos do Outro que compõe a subjetividade do sujeito empírico, que é
destacado na repetição de saberes. Por outro lado, existem também diferenças, singularidades,
que devem ser observadas como universais, ou seja, tomadas como únicas e suficientes para
compreensão da construção do sujeito, não necessitando de parâmetros, devem ser tomadas da
forma que aparecem. Observar os sujeitos e suas singularidades, relacionando-os a outros é
apagar ou mascarar o que é diferente em uma busca por destacar o que é igual.
Portanto, trabalhar a perspectiva teórica de Foucault, de Certeau, Deleuze e Guattari
permite ao pesquisador dos estudos organizacionais assumir um olhar não hierarquizado e
generalista ao observar os sujeitos nas organizações. Permite, compreender que as relações de
poder como apresentadas por Foucault (2016) constituem as relações entre os sujeitos, e que
12
essa microfísica do poder compõe as relações, que nos leva a compreender as disputas e o
jogo de forças que constroem a história dos sujeitos e das organizações.
Ao acrescentar, ao entendimento de poder e controle, as invenções do cotidiano por de
Certeau (2014), podemos analisar as estratégias e táticas dos sujeitos como produto das
relações de poder retratadas por Foucault (2016). As estratégias e táticas em de Certeau
(2014) podem ser observadas como produto das relações de poder, pois sua existência ou
ausência está marcada pela existência de um espaço próprio, cuja definição de seus limites
está sujeita ao poder. Uma vez que, as táticas como invenções do cotidiano marcam a
produção por meio do consumo e, portanto, a multiplicidade da cultura, podemos tomar a
perspectiva molecular de análise utilizada por Deleuze e Guattari (2015a; 2017a; 2017b;
2017c), para compreender as microproduções que ocorrem no cotidiano.
O consumo diferenciado apontado por de Certeau (2014) pode ser analisado a partir
das multiplicidades que compõem o campo da imanência para Deleuze e Guattari (2015a;
2017a; 2017b; 2017c), e que por fim representam a potência dos desejos que constituem os
sujeitos como máquinas desejantes. Desse modo, propomos uma microanálise das relações de
poder no cotidiano das organizações, partindo das contribuições de Deleuze e Guattari
(2015a; 2017a; 2017b; 2017c) para a observação das diferenças como expressão das
singularidades que compõem os sujeitos e revelam sua potência como produtores do espaço
que os envolve. Por meio de uma observação universalista das singularidades, destacando o
que é diferente como característica fundante para compreensão não apenas do sujeito, mas da
máquina social que compõem o ambiente (Deleuze & Guattari, 2015a; 2017a; 2017b; 2017c),
podemos partir do micro para o macro, e observar a organização como máquina, que é
composta pelas singularidades de cada sujeito.

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