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SISTEMA FINANCEIRO

INTERNACIONAL
SISTEMA FINANCEIRO
INTERNACIONAL: TAXAS DE
CÂMBIO E
MACROECONOMIA DAS
ECONOMIAS ABERTAS
Autor: Dr. Mateus Ramalho Ribeiro da Fonseca
Revisor: Cláudia Katherine

INICIAR

introdução
Introdução
Dada a complexidade do sistema financeiro internacional, é necessária uma análise da
taxa de câmbio de maneira aprofundada, com as diferentes variáveis macroeconômicas,
como o produto da economia, o nível de preços, entre outras. Nessa unidade, procura-se
analisar, quais seriam as relações entre o nível de preços e a taxa de câmbio em longo
prazo, se utilizando da análise da lei do preço único e da paridade do poder de compra.
Posteriormente, se examinará o nível de produção da economia e a taxa de câmbio de
curto prazo em que a demanda agregada da economia doméstica se relaciona com o
mercado cambial e monetário, gerando o equilíbrio de mercado. Em seguida, veremos os
tipos de câmbio fixo e o motivo de se intervir no mercado cambial utilizando o Banco
Central. Por fim, será destrinchado o sistema monetário internacional, desde o padrão
ouro, que vigorou de 1870 até 1914, quando houve seu abandono, entre as duas guerras
mundiais, também conhecido como o período entre guerras e o auge e a decadência do
sistema de Bretton Woods de 1945 até 1973.
Níveis de Preço e Taxa
de Câmbio de Longo
Prazo

Para entender o sistema financeiro internacional, precisa-se, antes de tudo, analisar como
a taxa de câmbio afeta os aspectos macroeconômicos das economias abertas. O ponto de
partida será o de analisar a relação entre a taxa de câmbio de longo prazo com o do nível
de preços. Essa análise mostra-se importante, pois, no longo prazo, os níveis de preços
praticados dentro de um determinado país, desempenham um papel importante na
determinação das taxas de juros e dos preços relativos aos produtos nos países onde são
comercializados. Para se analisar essa relação, será abordada a teoria da Paridade Poder
de Compra (PPC), que tem por objetivo explicar os movimentos da taxa de câmbio entre
as moedas de dois países e as modificações que ocorrem no nível de preços desses países.

Lei de Preço Único


Antes de se analisar a paridade de poder de compra, é preciso entender o conceito da lei
do preço único. Segundo Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 325),

A lei de preço único afirma que em mercados competitivos, livres de custos de


transporte e barreiras oficiais para negociar (como tarifas aduaneiras),
mercadorias idênticas vendidas em diferentes países devem ser vendidas pelo
mesmo preço quando seus preços são expressos em termos da mesma
moeda.
Isso significa que a lei do preço único é uma consequência da teoria do comércio. Quando
o comércio é aberto e não apresenta custos, os bens ou serviços idênticos devem ser
comercializados com os mesmos preços, independentemente do local em que sejam
vendidos (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

reflita
Reflita
O índice Big Mac foi inventado pelo The
Economist , em 1986, como um guia informal,
para saber se as moedas estão no nível
"correto". Baseia-se na teoria da paridade do
poder de compra (PPP) a noção de que, em
longo prazo, as taxas de câmbio devem
passar para uma taxa que iguala os preços de
uma cesta de bens e serviços idênticos (nesse
caso, um hambúrguer), em dois países.

Fonte: The Big Mac Index, 2020. Disponível


em: <
https://www.economist.com/news/2020/01/15/the-
big-mac-index >

Paridade do Poder de Compra (PPC)


Segundo a teoria da paridade do poder de compra, a taxa de câmbio entre as moedas de
dois países corresponde à razão entre os níveis de preços desses países analisados.
Basicamente, a teoria da PPC prevê que um aumento do poder de compra da economia
doméstica em relação à moeda está associado a uma apreciação de sua moeda de
maneira proporcional. Simetricamente, quando há uma queda no poder de compra da
moeda doméstica, o que indicaria um aumento do nível de preços, ou que esse aumento
está associada a uma depreciação proporcional da moeda no mercado de câmbio.

Assim, a PPC, estabelece que todos os níveis de preços dos países são iguais, quando
medidos em termos da mesma moeda.
A relação entre a PPC e a lei do preço único mostra que há uma diferença entre ambas. A
primeira, é que enquanto a lei do preço único se aplica apenas às mercadorias individuais,
a PPC se aplica ao nível geral de preços, o que equivale a dizer que a PPC refere-se ao
preço de todos os bens e serviços que estão computados na cesta de referência.

Feitas as considerações à lei do preço único e à paridade do poder de compra, passa-se a


uma análise de um modelo de taxa de câmbio de longo prazo, que tem por base a
paridade de poder de compra. Essa análise se baseia no enfoque monetário para taxa de
câmbio e se baseia na ideia de que aspectos monetários podem influenciar a taxa de
câmbio, desde que seja no longo prazo. Isso acontece por alguns motivos. O primeiro é
que no curto prazo, não se leva em conta os aspectos da rigidez de preços, que parecem
importantes para explicar a evolução macroeconômica no curto prazo, por exemplo, os
desvios do pleno emprego ou as oscilações do nível geral de preços.

Basicamente, a ideia por trás do enfoque monetário para as taxas de câmbio é que o
preço relativo de ambas as moedas são determinadas no longo prazo dado a demanda e a
oferta relativa entre essas duas moedas. Se o conceito existente no enfoque monetário for
verdadeiro, pode-se dizer que mudanças nas taxas de juros e nos níveis de produto da
economia, afetam diretamente o nível da taxa de câmbio através de suas influências sobre
a demanda de moeda.

Ainda nessa mesma linha de raciocínio, supondo um cenário de inflação persistente, de


paridade dos juros e PPC, pode-se admitir que, segundo Krugman, Obstfeld e Melitz (2015,
p. 329),

[...] o crescimento da oferta de moeda a uma taxa constante eventualmente


resulta em inflação em curso do nível de preço na mesma taxa, mas mudanças
nessa taxa de inflação em longo prazo não afetam o emprego pleno do nível
de produção ou os preços relativos de longo prazo das mercadorias e serviços.

Isso quer dizer que o aumento esperado da taxa de inflação de um país, terá como
consequência o crescimento, na mesma proporção, da taxa de juros na qual os depósitos
de sua moeda são oferecidos. De maneira similar, quando há uma queda na inflação
esperada, o resultado esperado é uma queda da taxa de juros. Essa relação é chamada
efeito Fisher, em que há uma relação de longo prazo entre inflação e taxa de juros. Feita a
discussão acerca dos fatores monetários que afetam as taxas de câmbio de longo prazo,
partiremos para uma análise mais ampla da PPC, com um modelo geral de taxas de
câmbio de longo prazo (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

A PPC é útil, pois é um modelo que mostra situações importantes, por exemplo, quando
ocorrem mudanças monetárias, de maneira geral as suas relações econômicas e as
previsões do enfoque monetário sobre a taxa de câmbio são conhecidas no longo prazo.
Contudo, antes de analisarmos o modelo propriamente dito, é preciso definir alguns
pontos. O primeiro a ser definido é o conceito de taxa de câmbio real, que é a taxa de
câmbio na moeda entre dois países, descontada a inflação. Em outras palavras, a taxa de
câmbio real é definida como sendo a taxa de câmbio nominal, levando em consideração o
nível de preços de ambos os países a serem analisados. Um exemplo prático seria supor a
taxa de câmbio nominal entre Brasil e Estados Unidos. Dada uma taxa de câmbio entre os
dois países, comparando-se o nível de preços de ambos, obtém-se a taxa de câmbio real.
Esse conceito é importante, pois as mudanças, tanto da taxa de câmbio quanto da inflação
doméstica ou da inflação estrangeira afetam a taxa de câmbio real (KRUGMAN; OBSTFELD;
MELITZ, 2015).

Ademais, dada a condição descrita anteriormente, acerca da taxa de câmbio real,


mudanças na demanda e na oferta relativa afetam a taxa de câmbio nominal. A ideia, com
essa mudança, reside no fato de que o aumento da demanda relativa mundial de um
produto de um determinado país causará uma alteração na taxa de câmbio na qual a
moeda doméstica será apreciada, em relação à moeda internacional utilizada como
referência. Pode-se dizer, também, que uma alteração no sentido de redução da demanda
mundial de um produto de um determinado país causará uma depreciação da moeda
doméstica em relação à moeda internacional de referência. Esse conceito é importante,
uma vez que alterações relativas ao produto doméstico causam modificações da taxa de
câmbio real de longo prazo (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

O quadro a seguir mostra como as alterações no mercado monetário e no de produtos


alteram a taxa de câmbio nominal de longo prazo:
Efeito sobre a taxa de câmbio nominal
Mudança
de longo prazo

Mercado monetário

1. Aumento do nível de oferta de Aumento proporcional (depreciação


moeda na economia doméstica nominal da moeda doméstica)

2. Aumento do nível da oferta de Diminuição proporcional (depreciação


moeda da economia estrangeira nominal da moeda estrangeira)

3. Aumento da taxa de crescimento Aumento (depreciação nominal da


da oferta monetária doméstica moeda doméstica)

4. Aumento da taxa de crescimento Diminuição (depreciação nominal da


da oferta monetária doméstica moeda estrangeira)

Mercado de Produto

1. Aumento da demanda por Diminuição (apreciação nominal da


produto doméstico moeda doméstica)

2. Aumento da demanda por Aumento (apreciação nominal da moeda


produto estrangeiro estrangeira)

3. Aumento da oferta de produto


Ambíguo
doméstico

4. Aumento da oferta de produto


Ambíguo
estrangeiro
Quadro 2.1 – Efeitos de mudanças no mercado monetário e no de produto sobre a taxa de
câmbio nominal de longo prazo
Fonte: Adaptado de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).

Pode-se concluir que se todas as perturbações são monetárias por natureza, fazendo com
que as taxas de câmbio correspondam à PPC de longo prazo. Isso significa que, no longo
prazo,
[...] quando todas as alterações são de natureza monetária, as taxas de
câmbio obedecem à PPC relativa no longo prazo. Portanto, no longo prazo, a
alteração monetária afeta somente o poder de compra geral de uma moeda, e
essa mudança no poder de compra muda igualmente o valor da moeda em
termos de mercadorias nacionais e estrangeiras. Quando as alterações
ocorrem em mercados de produção, é improvável que a taxa de câmbio
obedeça à PPC relativa, mesmo no longo prazo. (KRUGMAN; OBSTFELD;
MELITZ, 2015, p. 345).

Dessa forma, haveria uma relação intrínseca entre a taxa de câmbio de longo prazo com o
nível de preços e o produto, tanto da economia doméstica, quanto das economias
estrangeiras.

praticar
Vamos Praticar
A teoria da PPC se apoia na lei do preço único, na qual se estabelece que, sob livre concorrência e
na falta de impedimento ao comércio, um bem será vendido a um preço único, em qualquer
parte do mundo. Isso quer dizer que, dado a teoria da PPC, um bem terá o mesmo valor em
qualquer parte do mundo dada a taxa de câmbio entre as moedas dos países analisados. Com
base nesse conceito, assinale a alternativa correta.

a) A diferença entre a PPC e a lei do preço único é que enquanto esta se aplica ao nível
geral de preços, que é composto de uma cesta de bens, aquela se aplica a mercadorias
individuais.
b) A diferença entre a PPC e a Lei do preço único é que enquanto esta se aplica ao nível
geral de preços do atacado do país doméstico, que é composto de uma cesta de bens,
aquela se aplica a mercadorias individuais.
c) Não há qualquer diferença entre a lei do preço único e a PPC.
d) A diferença entre a PPC e a lei do preço único é que enquanto esta se aplica a
mercadorias individuais, aquela se aplica ao nível geral de preços, que é composto de uma
cesta de bens.
e) A diferença está no fato de que enquanto a lei do preço único se aplica a mercadorias
individuais, a PPC se aplica ao nível geral de preços, que é composto de uma cesta de
bens do país estrangeiro, apenas.
Produção e a Taxa de
Câmbio no Curto Prazo

Há uma relação intrínseca entre o produto de uma economia e a determinação da taxa de


câmbio de curto prazo. Basicamente, esta seção analisará como as mudanças no produto
agregado podem alterar as condições econômicas do pleno emprego, assim como podem
afetar outras variáveis macroeconômicas importantes, como o saldo em transações
correntes e a balança comercial. Ademais, verificaremos como os instrumentos de política
macroeconômica afetam o produto e o balanço de pagamentos.

Demanda Agregada e Economia Aberta


Para averiguar como se comporta o produto de uma determinada economia no curto
prazo, dado a característica de preços rígidos, introduz-se o conceito de demanda
agregada para o produto/renda de um país. Basicamente, a demanda agregada seria a
quantidade de bens e serviços produzida no país e que é demandada por famílias,
empresas, pelo governo e pelo setor externo. Dito de outra forma, o nível de produto total
de curto prazo de um país depende diretamente da demanda agregada para os seus
produtos. Uma das suposições que se faz nessa análise é que a economia está em pleno
emprego no longo prazo, pois tanto os salários quanto o nível de preços se ajustarão para
segurar a condição de pleno emprego. Ou seja, no longo prazo, o produto interno de um
país depende diretamente apenas da oferta doméstica disponível dos fatores de
produção, conhecidos, também, como capital e trabalho.

Sabe-se que o produto de uma economia é a soma de quatro tipos possíveis de gastos
que geram a renda nacional: consumo, investimento, gastos do governo e exportações
líquidas. Os dois principais itens a serem analisados para o propósito da sessão serão a
determinação do consumo e das transações correntes. No primeiro caso, a determinação
da demanda por consumo, basicamente, é dada pela propensão marginal a consumir
(ideia keynesiana) e pela renda disponível (que é a renda total menos os tributos). A
determinação das transações correntes necessita de dois fatores principais. O primeiro
fator é a taxa de câmbio real da moeda doméstica em relação à moeda estrangeira e a
renda interna disponível. Perceba que, aqui, não é importante apenas a renda das
pessoas, mas também a relação de preços da moeda doméstica em relação à moeda
estrangeira, que é caracterizada pela taxa de câmbio. Dada essa relação entre taxa de
câmbio e transações correntes, mudanças na taxa de câmbio real afetam de maneira
significativa o saldo em transações correntes.

Essas mudanças dependerão, basicamente, da composição dos termos da taxa de câmbio


real, isto é, dos itens que determinam a taxa de câmbio real. Sabendo que a taxa de
câmbio real é determinada pela taxa de câmbio nominal, descontada a inflação, isto é, o
preço relativo da moeda local em termos da moeda estrangeira levando em consideração
o preço da cesta de bens e serviços da economia doméstica em relação à cesta de bens e
serviços da economia estrangeira. Quando ocorrem alterações na taxa de câmbio nominal
local ou estrangeira ou quaisquer mudanças no nível de preços da cesta de bens da
economia doméstica ou estrangeira, há uma alteração na taxa de câmbio real, fazendo
com que haja flutuações no saldo em transações correntes. Ademais, sabe-se que
alterações da renda disponível da economia doméstica afetam a balança comercial, com
impacto direto nas transações correntes. Essas alterações da renda disponível podem ter
origem no aumento/diminuição da renda, propriamente, e também de um
aumento/diminuição da tributação incidente sobre a renda disponível doméstica.

O quadro a seguir resume como a taxa de câmbio real e a renda disponível afetam as
transações correntes.

Mudança Efeito sobre as transações correntes

1. Aumento da taxa de câmbio real Aumento das transações correntes

2. Diminuição da taxa de câmbio real Diminuição das transações correntes

3. Aumento da renda disponível Diminuição das transações correntes

4. Diminuição da renda disponível Aumento das transações correntes


Quadro 2.2 – Fatores que determinam as transações correntes
Fonte: Adaptado de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).
Assim, a demanda agregada tem o seguinte aspecto:

â
D = C(Y − T ) + I + G + T C(taxadec mbioreal, Y − T )

Em que D é a demanda agregada, C é o consumo, Y é a renda nacional, T são os tributos, I


é investimento, G são os gastos do governo e TC são as transações correntes. O primeiro
aspecto que deve ser percebido nessa equação é que uma alteração na taxa de câmbio
terá uma relação direta com a demanda agregada pelo produto local. Assim, se houver
uma depreciação real da moeda doméstica, aumentaria-se a demanda agregada que
impactaria numa elevação do produto nacional, dado tudo o mais constante. O inverso
também é verdadeiro: uma apreciação real da taxa de câmbio diminui a demanda
agregada do produto doméstico. Alterações da renda interna teriam um efeito sobre a
demanda agregada, isto é, caso haja um aumento da renda interna, a demanda agregada
da economia doméstica aumentaria. O inverso também aconteceria: se houver uma queda
da renda interna real, haverá uma diminuição da demanda agregada da economia
doméstica. Dessa forma, pode-se dizer que, em situação de equilíbrio, o produto interno é
igual à demanda agregada.

Equilíbrio de Mercado do Produto no Curto Prazo: A


Curva DD
Quando o mercado está em equilíbrio, pode-se examinar como a taxa de câmbio e o
produto são determinados simultaneamente no curto prazo. Essa relação é denominada
curva DD, ou seja, é a relação da curva de demanda com o produto e a taxa de câmbio.
Quando se analisa essa relação, adversos aspectos devem ser levados em consideração.
Supondo que os preços domésticos e internacionais são mantidos fixos, examinaremos as
mudanças na taxa de câmbio. Para o caso de um aumento na taxa de câmbio real, devido
a um crescimento na taxa de câmbio nominal, o resultado será um deslocamento da
função de demanda agregada e uma expansão do produto, visto que tudo mais
permanece constante. Por sua vez, qualquer queda na taxa de câmbio real fará com que o
produto doméstico diminua, permanecendo tudo mais de maneira constante (KRUGMAN;
OBSTFELD; MELITZ, 2015).

Contudo, é importante ressaltar que alguns fatores podem alterar a forma ou a posição da
curva de demanda agregada, como por exemplo, mudanças no nível de demanda do
governo, os impostos cobrados pelo governo, o nível de investimentos, os níveis de preços
domésticos e estrangeiros, a variação do comportamento do consumo doméstico e a
demanda estrangeira pelo produto local. No primeiro caso, uma mudança do gasto
governamental tem um efeito de alterar a demanda agregada, isto é, dado um aumento
dos gastos do governo haverá um aumento da demanda agregada. E de maneira
semelhante dada uma redução dos gastos do governo, haverá uma redução da demanda
agregada. O segundo caso é uma mudança nos impostos, que afeta a demanda agregada
de maneira direta, pois afeta a renda disponível pelo lado do consumo como também
afeta o saldo em transações correntes. Assim, quando há aumento da tributação, a renda
disponível é reduzida, fazendo com que haja diminuição da demanda agregada. Redução
de impostos provoca aumento da renda disponível, afetando positivamente o consumo,
em sua expansão. A terceira alteração ocorre quando há uma mudança no investimento,
isto é, quando há demanda por investimento, o efeito é muito parecido com o que
acontece com os gastos do governo: aumentos do investimento fazem crescer a demanda
agregada e reduções do investimento a reduzem.

Quando ocorrem alterações no nível de preços domésticos ou estrangeiros os efeitos são


diversos e devem ser analisados cuidadosamente. Começaremos a análise por uma
mudança nos preços domésticos. Quando há um aumento do nível de preços domésticos,
o produto interno torna-se mais caro em relação ao produto estrangeiro, fazendo com
que haja uma diminuição na demanda por exportações líquidas. Por outro lado, quando
há queda nos preços domésticos, os bens se tornam mais baratos, promovendo a
expansão da demanda por exportações líquidas. Já a mudança nos preços internacionais
provoca movimento inverso: quando há aumento do preço internacional, a demanda por
bens e serviços estrangeiros reduz, consequentemente, diminuindo as importações e
aumentando as exportações líquidas e a demanda por bens e serviços domésticos,
impactando diretamente, com o aumento da demanda agregada doméstica. E quando
ocorre redução dos preços internacionais, há aumento na demanda pelos produtos
importados, aumentando as importações e impactando diretamente na produção
doméstica, reduzindo a demanda agregada (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015;
BLANCHARD, 2017).

Também pode haver uma mudança na função de consumo, isto é, na forma como a
sociedade consome. Suponha que a sociedade decida poupar mais, gastará menos com
consumo e mais com poupança, o que acarreta a redução da demanda agregada.
Entretanto, se houver uma redução da poupança, haverá mais gasto e o aumento da
demanda agregada. Por fim, ocorrerá uma mudança na divisão da demanda entre bens
estrangeiros e domésticos, que pode decorrer do fato de que residentes domésticos e
estrangeiros decidirão consumir mais ou menos bem nos serviços produzidos no país
local. Geralmente, essa mudança está associada a um apelo para se valorizar o produto
nacional em detrimento do produto importado. Esse consumo faz com que haja uma
alteração tanto das transações correntes quanto da demanda agregada do país local
(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

Equilíbrio no Mercado de Ativos de Curto Prazo: A Curva


AA
A curva AA é a combinação da taxa de câmbio e nível de produto, o que equilibra o
mercado monetário e o mercado de câmbio. A curva AA relaciona o movimento do
mercado de ativos com o produto doméstico e alterações do preço da moeda doméstica
em relação à moeda estrangeira. Um exemplo prático seria, dado um equilíbrio no
mercado de ativos, um aumento do produto interno deve ser sempre acompanhado de
uma apreciação da moeda doméstica permanecendo tudo o mais constante. De maneira
simétrica, uma queda do produto doméstico, acompanhada de uma depreciação.
Utilizando o mesmo raciocínio, alguns fatores conseguem alterar a curva: mudanças no
nível de preço doméstico, na taxa de câmbio esperada, na taxa de juro estrangeira e
deslocamento da curva de demanda agregada por moeda real (KRUGMAN; OBSTFELD;
MELITZ, 2015).

Com relação à mudança na oferta doméstica, suponha que, para um dado nível fixo de
produto, um aumento da oferta monetária faz com que haja uma depreciação da moeda
doméstica no mercado de câmbio, permanecendo tudo mais constante.
Proporcionalmente, uma diminuição da oferta monetária faria com que houvesse uma
apreciação da moeda doméstica. A segunda forma de mudança da curva AA é oriunda de
uma mudança do nível de preços domésticos: uma elevação do nível de preços faz com
que haja uma redução da oferta de moeda real, e por consequência, uma elevação da taxa
de juros, se tudo o mais permanecer constante, faria com que a taxa de câmbio nominal
caia. Se houver uma redução do nível de preços, a oferta de moedas se leva, causando
uma redução da taxa de juros, impactando diretamente a elevação da taxa de câmbio
(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

Uma mudança na taxa de juros estrangeira também tem o poder de influenciar o mercado
de câmbio, caso haja um aumento da taxa de juros estrangeira, elevando o retorno
esperado. Dada a condição de paridade da taxa de juros, os depósitos em moeda
estrangeira fazem com que haja uma depreciação da taxa de câmbio. Por sua vez, uma
queda da taxa de juros resulta em uma apreciação da taxa de câmbio.

Por fim, supondo uma mudança na demanda por moeda real, com a previsão de redução
dessa demanda, dado o produto da economia constante, a taxa de juros se reduz,
provocando um aumento da taxa de câmbio. Assim, uma redução na demanda por moeda
tem o mesmo efeito de um aumento da oferta de moeda, pois altera a curva AA
(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

Quando se tem as duas curvas juntas – a curva DD e a curva AA –, obtém-se o equilíbrio de


curto prazo para uma economia aberta, na qual a curva DD representa a demanda
agregada da economia, enquanto a curva AA representa o lado monetário da economia e
a sua relação com a taxa de câmbio.
Mudanças Temporárias nas Políticas
Fiscal e Monetária
No curto prazo, a economia pode ser afetada utilizando-se de políticas governamentais
que alterem o produto e também a taxa de câmbio. Basicamente, há dois tipos de políticas
governamentais que conseguem alterar o produto e taxa de câmbio: a política monetária,
por meio da mudança na oferta de moeda, e a política fiscal, que atua por meio de
mudanças nos gastos governamentais ou nos impostos. A política monetária trabalhará
em cima da curva AA, pois afeta diretamente a oferta monetária. A condição de paridade
de juros e a da taxa de câmbio e alterações da oferta monetária, como redução ou
expansão, provocam apreciações (reduções da taxa de câmbio) ou depreciações
(elevações da taxa de câmbio) da taxa de câmbio, a depender do tipo de política adotada.
A política fiscal tem um efeito diferente, pois atua sobre a curva DD, e não sobre a curva
AA. Dessa forma, política fiscal expansionista faz com que ocorram alterações da
demanda, tendo como consequência um aumento do produto e uma redução da taxa de
câmbio (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

Mudanças Permanentes nas Políticas


Fiscal e Monetária: O Longo Prazo
Políticas macroeconômicas permanentes afetam a taxa de câmbio de longo prazo, que,
por sua vez, afeta as expectativas futuras sobre a taxa de câmbio. Comecemos analisando
alterações na política fiscal. Expansões fiscais causam, no curto prazo, uma expansão do
produto da economia, mas, em razão do fato de a economia estar num estado produtivo
acima do equilíbrio de longo prazo, a expectativa futura da taxa de câmbio é influenciada,
o que impacta o mercado monetário e, assim, a taxa de câmbio se aprecia. Como
resultado líquido, a produção não se altera, afetando apenas a taxa de câmbio de longo
prazo. De maneira simétrica à política fiscal, a redução permanente da política fiscal causa
o efeito oposto: não se tem efeito líquido sobre o produto da economia, influindo apenas
numa mudança na taxa de câmbio e ocorrendo depreciações.

Já as alterações permanentes da política monetária influenciam diretamente o


comportamento da taxa de câmbio. Há dois momentos para um aumento permanente da
oferta de moeda: um no curto prazo, e outro, no longo prazo. No curto prazo, uma
expansão permanente da oferta de moeda causa uma expansão do produto e um
aumento da taxa de câmbio esperada. Entretanto, como o produto da economia não
poderá permanecer acima do seu nível de equilíbrio de longo prazo e ocorrendo uma
alteração no nível de preços da economia, a expansão monetária acomoda. O resultado
será o retorno ao produto de equilíbrio de longo prazo, mas com uma taxa de câmbio um
pouco mais elevada (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

praticar
Vamos Praticar
A demanda agregada em uma economia aberta é composta de quatro componentes, que
correspondem aos quatros componentes do PIB: demanda por consumo, demanda por
investimento, demanda pelo governo e transações correntes. Dado esse conceito, assinale a
alternativa correta.

a) Uma elevação dos tributos altera a demanda agregada, representada pela curva AA,
expandido-a.
b) Uma redução da cobrança de tributos altera a demanda agregada, representada pela
curva DD, expandido-a.
c) Uma elevação do consumo alteraria a demanda agregada, representada pela curva DD,
reduzindo a demanda agregada.
d) A redução dos tributos não altera nada na demanda agregada.
e) A redução dos tributos altera a taxa de câmbio real, pois gera inflação.
Taxas de Câmbio Fixas
e Intervenção Cambial

Seria inocência supor que as taxas de câmbio são completamente flexíveis, sem qualquer
intervenção das autoridades monetárias nacionais. Na vida real, é bem diferente. No final
da Segunda Guerra Mundial, até 1973, a economia mundial operou sobre um sistema de
câmbio fixo, em que havia uma relação entre moeda doméstica, dólar e ouro. Esse sistema
ficou conhecido como padrão ouro-dólar, em que todas as moedas tinham uma
equivalência no dólar, e este era lastreado em ouro. A partir de 1973, o padrão ouro-dólar
foi abandonado, fazendo com que nenhuma moeda fosse lastreada em ouro, e como
consequência, fez com que os bancos centrais atuassem sobre as taxas de câmbio de sua
moeda doméstica em relação às moedas internacionais. Atualmente, os países
industrializados atuam com sistema híbrido conhecido como taxa de câmbio com
flutuação administrada. Entretanto, isso não é uma exclusividade dos países
industrializados. Países em desenvolvimento e países em transição também podem atuar
sobre as taxas de câmbio vigentes (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).

O estudo das taxas de câmbio fixas se baseia em quatro motivos principais: taxa de
câmbio administrada, arranjos regionais de moedas, países em desenvolvimento e países
em transição, e por fim, lições do passado para o futuro. No primeiro caso, da flutuação
administrada, o Banco Central atua de forma que a taxa de câmbio tenha uma certa
flutuação e que operem um intervalo determinado pela autoridade monetária. Isso faz
com que a flutuação seja suja, quando há muita intervenção no mercado cambial, ou
limpa, quando há pouca ou nenhuma intervenção no mercado cambial. O segundo motivo
– os arranjos de moedas regionais – diz respeito à acordos bilaterais ou multilaterais em
que os países transacionam bens e serviços utilizando suas próprias moedas, sem a
utilização de uma moeda de conversão internacional, como o dólar, por exemplo.
O terceiro motivo reside no fato de que, nos países em desenvolvimento ou em países em
transição, que são países que estão se desenvolvendo economicamente, podem atuar
sobre a taxa de câmbio de forma a favorecer o seu balanço de pagamentos. É o caso do
Brasil e de outros países da América Latina. Por fim, é relevante considerar lições do
passado para o futuro, em que em episódios específicos, como da década de 1920 e entre
anos 1940 e 1970, houve a ampla utilização do câmbio fixo. A partir de então, não houve
mais nenhum acordo internacional que estabelecesse uma nova forma de fixação das
taxas de câmbio.

A primeira coisa que se deve ter em mente quando se fala em intervenção no mercado
cambial é que o Banco Central altera seu balancete, em virtude da sua composição de
ativos e passivos. Toda vez que há aquisição de moeda estrangeira na forma de reserva
cambial, elevam-se os ativos estrangeiros no balancete do Banco Central, provocando um
aumento dos ativos que deverá ser contrabalanceado com o aumento da moeda em
circulação, representado pelo seu passivo. Com isso, qualquer compra de ativos que o
Banco Central faça resulta em um aumento da oferta da moeda doméstica. Em
contrapartida, caso haja uma venda de ativos do balancete disponível no Banco Central,
automaticamente, ocorre uma redução da oferta de moeda (KRUGMAN; OBSTFELD;
MELITZ, 2015).

Uma das formas de o Banco Central adquirir ou reduzir seus ativos sem alterar a oferta
monetária seria a utilização da operação de esterilização. Essa operação funciona da
seguinte forma: o governo, ao adquirir ativos estrangeiros e não objetivando o aumento
da base monetária, emitem-se títulos públicos de maneira automática, causando a
esterilização do aumento da moeda em circulação, em razão da compra de ativos
estrangeiros. Essa relação também está presente quando se leva em conta o balanço de
pagamentos. Segundo Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 392)

Se os bancos centrais não estão esterilizando e o país de origem tem um


superávit do balanço de pagamentos, por exemplo, qualquer aumento
associado de ativos estrangeiros do banco central doméstico implica uma
maior oferta de moeda doméstica. Da mesma forma, qualquer diminuição
associada de créditos de um banco central estrangeiro no país de origem
implica uma diminuição da oferta de moeda estrangeira.

Dessa forma, há uma estreita relação entre a forma como atua o Banco Central sobre as
reservas cambiais e, consequentemente, sobre o resultado do balanço de pagamentos.

A análise parte, agora, para a forma como o Banco Central fixa a taxa de câmbio. Esse ato
de fixar a taxa de câmbio é obtido por meio das transações financeiras que o Banco
Central realiza, assegurando que o mercado de ativos permanece em equilíbrio quando a
taxa de câmbio estiver em seu nível ótimo. Isso significa que, para obter o equilíbrio no
mercado de ativos, deve haver equilíbrio simultâneo do câmbio e também do mercado
monetário, que é obtido quando há uma paridade entre as taxas de juros internacionais e
a taxa de juros doméstica. Essa condição de paridade de juros garante o equilíbrio no
mercado monetário e, por conseguinte, a taxa de câmbio permanecerá no patamar
desejado.

A intervenção feita na taxa de câmbio fixa deve considerar os efeitos das diversas políticas
macroeconômicas. Serão considerados, para efeito de estudo, três tipos de políticas: a
monetária, a fiscal e uma mudança abrupta no nível fixo da taxa de câmbio. Quando o
interesse é analisar a política monetária, a taxa de câmbio fixa é a mais descomplicada,
pois “as ferramentas de política monetária do banco central são impotentes para afetar a
oferta de moeda da economia ou a sua produção." (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015,
p. 395).

A política fiscal tem um comportamento distinto, comparado à política monetária. Se


houvesse expansão do gasto público, haveria uma expansão da demanda agregada e,
consequentemente, uma alteração da taxa de câmbio fixa e também do produto.
Entretanto, para a taxa de câmbio voltar ao patamar anterior, atua sobre o mercado
cambial (compra de moeda estrangeira), causando um aumento ainda maior do produto.
Desse modo, entende-se que sobre o câmbio fixo, políticas fiscais são altamente efetivas
em comparação à taxa de câmbio flutuante.

Por fim, quando se tem mudanças abruptas da taxa de câmbio, por exemplo, processos
de desvalorização ou valorização, o que está sendo alterado é o mercado cambial e o
mercado monetário, e essa alteração poderá promover aumento ou redução do produto
na mesma magnitude em que se altera a taxa de câmbio.

Crises do Balanço de Pagamentos e Fugas


de Capitais
Até o momento, supomos que o Banco Central atua sobre a taxa de câmbio sem se
preocupar com a quantidade de moeda estrangeira que precisará para atuar sobre a taxa
de câmbio. Todavia, nem sempre o Banco Central tem quantidade suficiente de reservas
estrangeiras ou mesmo pode passar uma situação de elevado desemprego doméstico.
Isso faz com que os participantes do mercado vislumbrem uma fragilidade do Banco
Central em realizar as suas políticas, forçando-o a aplicar uma desvalorização da moeda
doméstica. Esse cenário de crença do mercado para que haja uma iminente
desvalorização da taxa de câmbio conduz à crise do balanço de pagamentos. Pois,
A expectativa de uma futura desvalorização provoca uma crise do balanço de
pagamentos, marcada por uma queda acentuada nas reservas e um aumento
na taxa de juros doméstica acima da taxa mundial. Da mesma forma, uma
revalorização esperada provoca um aumento abrupto nas reservas de
dinheiro estrangeiro, junto com uma queda na taxa de juros doméstica abaixo
da taxa mundial (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 399).

Por vezes, essa perda de reservas, acompanhada de uma suspeita de valorização, é


associada à fuga de capitais. Isto é, há um fluxo de capital de economia doméstica para a
economia internacional. Essa situação em que o Banco Central está vulnerável à
especulação monetária, força, inevitavelmente, o abandono da taxa de câmbio fixa,
adotando uma taxa de câmbio flutuante chama-se de crises monetárias autorrealizável.

saiba
mais
Saiba mais
O Brasil passou por uma crise de balanço de
pagamentos, em 1999, quando se utilizava do câmbio
fixo como âncora inflacionária. A partir de meados de
1999, as reservas cambiais foram se esgotando, o
que fez com que o Brasil passasse por uma crise
monetária autorrealizável, tendo de renegociar sua
dívida externa no Fundo Monetário Internacional
(FMI) e adotar um regime monetário cuja âncora seria
as metas de inflação e taxa de câmbio flutuante.

Fonte: Averbug e Giambiagi (2000).

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Essas crises advindas do balanço de pagamentos têm um efeito perverso sobre a


economia doméstica. A começar pelo fato de que acarreta uma interrupção momentânea
dos fluxos real e monetário do resto do mundo para o país doméstico. Ademais, afeta as
importações e exportações da balança comercial e os fluxos de capital para economia
doméstica.
Flutuação Administrada e Intervenção
Esterilizada
Flutuação administrada com intervenções esterilizadas são mecanismos que o Banco
Central aplica, de forma a influenciar a política monetária e a taxa de câmbio com vistas a
atender às suas necessidades. Um exemplo simples dessa prática é que quando há muita
volatilidade no mercado internacional, ocorrem movimentos de influxo de capital da
economia doméstica para o resto do mundo. Isso fará com que a taxa de câmbio se
deprecie de maneira acelerada. Assim, o Banco Central poderá, dada essa volatilidade,
atuar, lançando mão das reservas cambiais para aumentar a oferta de moeda estrangeira,
reduzindo o valor da taxa de câmbio.

De maneira geral, há alguns mecanismos que mostram como que funciona essa
intervenção esterilizada na administração da taxa de câmbio. O primeiro mecanismo é a
substituição perfeita de ativos e a ineficácia da intervenção esterilizada. Com isso, quando
o Banco Central realiza uma operação de esterilização cambial, suas transações mantêm a
oferta de moeda doméstica igual ao que era anteriormente. Contudo, para que isso ocorra
de maneira eficiente, deve-se ter em mente que o Banco Central troca ativos domésticos e
estrangeiros. Essa substituição será considerada perfeita entre ativos quando o
rendimento esperado, ou seja, o retorno dos ativos domésticos e internacionais for igual;
caso contrário, mesmo no equilíbrio, se os retornos esperados dos ativos forem
diferentes, a substituição será imperfeita.

Moedas de Reserva no Sistema Monetário


Internacional
Cada país tem sua característica institucional e capacidade de emitir moeda. Entretanto
nem todas as moedas são plenamente conversíveis. Algumas são consideradas mais
robustas e mais seguras do que outras. Isso se deve ao fato de que o sistema financeiro
internacional é um sistema de hierarquia de moedas. Moedas fortes e seguras, que estão
no topo da pirâmide, são consideradas reserva, que os bancos centrais têm na forma de
reservas internacionais. Todas as outras moedas estrangeiras (todas exceto o dólar e o
Euro) não são consideradas de reserva, sendo, desse modo, descartado o uso para
reservas internacionais. Antes, havia um padrão monetário internacional chamado de
padrão-ouro na qual todos os países lastreavam suas reservas monetárias em ouro. Esse
sistema vigorou até 1914, quando deixou de ser empregado, na Primeira Guerra Mundial.
E que foi substituído pelo padrão ouro-dólar após a Segunda Guerra Mundial até o ano de
1973.

praticar
Vamos Praticar
A desvalorização da taxa de câmbio é, muitas vezes, usada pelos países para melhorar suas
contas-correntes. No entanto, desde que a conta‑corrente seja igual à poupança nacional menos
o investimento doméstico, essa melhoria pode ocorrer somente se o investimento cair, a
poupança subir ou ambos.

KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. J. Economia internacional . São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2015.

Com base nessa afirmação, assinale a alternativa correta.

a) A taxa de câmbio atua como uma tarifa geral sobre os produtos importados e
exportados. Ao valorizar, torna os produtos domésticos mais baratos, e os importados,
mais caros, fazendo com que haja uma tendência de melhoria na conta corrente.
b) Ao depreciar a taxa de câmbio, não há nenhuma alteração no preço dos bens
domésticos ou importados, fazendo com que não haja nenhum impacto sobre a
transação corrente.
c) A depreciação cambial não impactaria o saldo em transações correntes, mas afetaria os
fluxos de capital entre a economia doméstica e o exterior.
d) A depreciação cambial afetaria as exportações, mas não as importações, pois as
importações não seriam afetadas.
e) A taxa de câmbio atua como uma tarifa geral sobre os produtos importados e
exportados. Ao desvalorizar, torna os produtos domésticos mais baratos, e os
importados, mais caros, fazendo com que haja uma tendência de melhoria na conta
corrente.
Sistemas Monetários
Internacionais

Nas economias abertas, os policy-makers têm como objetivo manter o equilíbrio interno,
pelo qual se busca o pleno emprego e nível de preços estáveis, e o equilíbrio externo, cujo
nível de transações correntes não seja demasiado negativo, o que faz com que o país não
consiga pagar sua dívida externa, e nem tão demasiado positivo, fazendo com que os
estrangeiros tenham risco de ficarem inadimplentes. Essa definição de equilíbrio externo
depende de alguns fatores, o que inclui o regime de taxa de câmbio adotado pela
economia analisada e as condições econômicas mundiais. De maneira geral, considerando
as políticas macroeconômicas adotadas pelo país doméstico, que causariam impactos nos
países estrangeiros, a forma como cada país tem para atingir os equilíbrios interno e
externo simultaneamente depende, basicamente, da política econômica que os outros
países adotam.

Até 1914, o sistema internacional que vigorou foi o sistema de padrão ouro, em que havia
um poderoso mecanismo automático de equilíbrio externo. Esse mecanismo se baseava
no fluxo de metais preciosos. Basicamente, os fluxos de ouro que acompanhavam os
déficits e os superávits impunham alterações nos preços dos bens importados e
exportados, fazendo com que se reduzissem os equilíbrios das transações correntes
tendendo a levar os países ao equilíbrio externo. Entretanto, o desempenho do sistema de
manter o equilíbrio interno não foi uniforme no mundo.

Após o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, tentou-se, sem êxito, retornar ao
padrão ouro vigente nos anos da guerra. Entre 1918 e 1929, a economia mundial não
estabeleceu um padrão monetário internacional, o que gerou problemas econômicos,
culminando na depressão de 1929. Como as condições econômicas desse período foram
extremamente turbulentas, os governos focaram o equilíbrio interno e tentavam
minimizar o desequilíbrio externo, fechando suas economias ou mesmo depreciando suas
taxas de câmbio.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, foi acordada, em Bretton Woods, a arquitetura que
seria aplicada no sistema financeiro internacional. Esse sistema ficou conhecido como o
sistema Bretton Woods, em que se arquitetou, primeiramente, o fundo monetário
internacional, que tinha por objetivo projetar um sistema de taxa de câmbio fixa, que
incentivasse o crescimento do comércio internacional, mas ao mesmo tempo, tornasse os
requisitos para equilíbrio externo suficientemente flexíveis, de modo que o equilíbrio
interno não fosse sacrificado. Com essa finalidade, o regulamento do fundo monetário
internacional previa financiamento aos países deficitários e, ao mesmo tempo, permitia
que esses países ajustassem a taxa de câmbio em condições de manter o desequilíbrio no
menor patamar possível. Essa arquitetura baseava-se na premissa de que todos os países
deveriam atrelar suas moedas ao dólar, e os Estados Unidos atrelaria sua emissão
monetária em ouro, fazendo com que o preço da Onça Troy de ouro equivalesse a US$35.

Em 1958, restaurou-se, na Europa, o que ficou conhecido como conversibilidade de


moeda, fazendo com que os mercados financeiros europeus se tornassem mais
integrados e tornando a política monetária menos efetiva, assim como o movimento das
reservas internacionais se tornaram mais voláteis. Essa grande mudança revelou um
enfraquecimento do sistema. Para atingir o equilíbrio interno e externo ao mesmo tempo,
os países deveriam adotar políticas de mudança nos gastos e de troca de gastos. Contudo,
a possibilidade de serem adotadas políticas de mudanças de gastos, isto é, nas taxas de
câmbio, aumentava os fluxos de capitais especulativos, minando as taxas de câmbio fixas.
Os Estados Unidos, como um país de moeda reserva, tinham um único problema externo
de equilíbrio: um problema da confiança, que surgiria à medida que os agentes
econômicos percebessem que os saldos oficiais estrangeiros em dólar cresciam e que
poderiam exceder a quantidade de ouro presente nos estoques norte-americanos.

Ao final dos anos 1960, as políticas adotadas pelos Estados Unidos, de arcabouço
macroeconômico, contribuíram para a falência do sistema de Bretton Woods, que se daria
em 1973, com a política fiscal expansionista americana. Assim, tornou-se necessária, logo
no início dos anos de 1970, uma desvalorização da moeda norte-americana, frente às
outras moedas. Havia o temor de que essa desvalorização pudesse afastar os capitais
especulativos do dólar, causando um grande aumento nas ofertas das moedas
estrangeiras. Essa aceleração monetária norte-americana fomentou a inflação dentro e
fora do país, deixando os países estrangeiros cada vez mais relutantes em continuar
importando a inflação americana, por meio de taxas fixas, o que gerou diversas críticas e
forçou o abandono da paridade dólar-ouro e das taxas de câmbio fixas do dólar entre os
países industrializados.
Muitos economistas começaram a defender as taxas de câmbio flutuantes antes mesmo
de 1973, em razão de falhas do sistema de Bretton Woods. Os argumentos principais em
favor na flutuação eram três. No primeiro, os economistas consideravam que as taxas
flutuantes poderiam permitir, aos formuladores de políticas macroeconômicas, maior
autonomia para administrar as economias domésticas. O segundo argumento é que as
taxas de câmbio flutuantes removem as assimetrias dos arranjos construídos com o
sistema de Bretton Woods. Já no terceiro argumento, alegava-se que as taxas de câmbio
flutuantes poderiam eliminar rapidamente os desequilíbrios externos fundamentais que
haviam levado, na atualidade, ataques especulativos sobre as taxas de câmbio fixas.

Contudo, havia críticos das taxas flutuantes, com alguns contra-argumentos. Esses
economistas temiam que a flutuação da taxa de câmbio pudesse propiciar excessos
monetários e fiscais e políticas do tipo “empobreça seu vizinho”. Outros argumentam que
a taxas flutuantes de câmbio estariam sujeitas à especulação, desestabilizadora e que a
incerteza sobre as taxas de câmbio prejudicaria o investimento internacional. Por fim,
diversos economistas especularam que os países estariam dispostos, na prática, a
desconsiderar a taxa de câmbio e formular suas políticas monetárias fiscais, o que nunca
ocorreu, na prática.

Entre 1973 e 1980, as taxas flutuantes pareciam funcionar bem após o abandono do
padrão ouro-dólar. Com os dois choques de petróleo nos anos de 1970, seria de se
esperar que os países industrializados, conseguissem manter suas taxas de câmbio fixas
durante o período de estabilização. Mas o dólar, ao seu passo, sofreu uma grande
depreciação após 1976, quando os Estados Unidos adotaram deliberadamente políticas
macroeconômicas expansionistas.

A partir dos anos de 1980, houve algumas tentativas de coordenação dos países
industrializados, mas sem qualquer resultado efetivo. Apenas um acordo, em fevereiro de
1987, conseguiu deixar as moedas mais estáveis. A partir da década de 1990, estabilidade
da taxa de câmbio deixou de ser o principal objetivo das políticas macroeconômicas. Em
vez disso, os governos objetivam conter a inflação doméstica e, ao mesmo tempo, manter
o crescimento econômico (CINTRA; MARTINS, 2013).

De maneira prática, a experiência da flutuação não confirma as previsões dos defensores


e nem dos críticos. A grande lição que se pode tirar dessa experiência é que nenhum
sistema de taxa de câmbio funciona bem quando a cooperação econômica internacional
acaba. Futuramente, dificilmente serão restaurados limites externos com a flexibilização
da taxa de câmbio, mas um contato maior entre os formuladores de políticas
macroeconômicas dos países industrializados e dos países em desenvolvimento
melhoraria o desempenho das taxas flutuantes (CINTRA; MARTINS, 2013).
praticar
Vamos Praticar
Sob um padrão‑ouro, que vigorou no mundo entre os anos de 1870 a 1914, os países puderam
adotar políticas monetárias excessivamente contracionistas, já que todos os países lutam em vão
por uma parcela maior da oferta limitada de reservas de ouro do mundo.

KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. J. Economia internacional . São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2015.

Sobre esse aspecto do padrão-ouro e os desdobramentos com Bretton Woods e o pós-Bretton


Woods, assinale a alternativa correta.

a) No padrão-ouro, a política monetária se comporta de maneira expansiva, mesmo não


havendo aumentos das reservas auríferas, enquanto no padrão ouro-dólar, todos os
países, exceto os EUA, tinham de manter suas reservas de ouro para emitir moeda.
b) O padrão-ouro ficou conhecido como a era de ouro do capitalismo, na qual todos os
países realizavam suas políticas monetárias, sem qualquer forma de lastreamento,
caracterizando, assim, o período da moeda fiduciária.
c) Enquanto no padrão-ouro a política monetária fica restrita à expansão das reservas
auríferas, no padrão ouro-dólar, todas as moedas passam a não ser lastreadas, e apenas
o dólar passou a ser lastreado a partir de 1945 até 1973.
d) O padrão ouro-dólar é assim conhecido, pois os EUA passaram a ter uma política
monetária expansionista sem qualquer forma de lastro, enquanto nos outros países, a
política monetária se baseava no lastreamento em ouro, fazendo com que o dólar se
tornasse uma moeda internacional.
e) Após o abandono do padrão ouro-dólar, em 1973, grande parcela dos países voltou ao
velho padrão-ouro, como uma forma de garantia e segurança monetária e institucional
para a negociação com os outros países.
indicações
Material
Complementar

FILME

O Mágico de Oz
Ano : 1939
Comentário : o filme conta a história de Dorothy (interpretada
por Judy Garland), que vive em uma fazenda com seus tios, no
Kansas. Um dia, um tornado chega à região, e a menina e seu
cachorro são carregados pelo ciclone. Os dois aterrissam na
terra de Oz, caindo em cima da Bruxa Má do Leste, matando-a. A
protagonista é vista como uma heroína, contudo, a garotinha só
quer voltar para a sua terra natal. Para isso, precisará de ajuda
do Mágico de Oz, que mora na Cidade das Esmeraldas, para
retornar para casa. No caminho, é ameaçada pela Bruxa Má do
Oeste (interpretada por Margaret Hamilton), que culpa Dorothy
pela morte da irmã. Juntaram-se à jornada três companheiros:
um leão covarde (interpretado por Bert Lahr), que precisa de
coragem; um homem de lata (interpretado por Jack Haley), que
anseia por um coração e um espantalho (interpretado por Ray
Bolger), que quer ter um cérebro. O filme, na realidade, é uma
alegoria à disputa política ocorrida nos EUA nos anos 1870 até
1910, quando se criticava o padrão-ouro, até então, o padrão
monetário da época. Os personagens listados – o leão, o homem
de lata e o espantalho – representavam setores da sociedade na
época, que buscavam por uma conversibilidade maior, não
apenas com o ouro, mas também com a utilização da prata,
podendo aumentar, assim, as emissões monetárias da época,
com o intuito de se expandir a base monetária.
Para saber mais sobre o filme, acesse o trailer , disponível em:

TRAILER

LIVRO

The Battle of Bretton Woods: John Maynard Keynes,


Harry Dexter White, and the Making of a New
World Order
Editora : Princeton University Press, Edição: Reprint (23 de
março de 2014)
Benn Steil
ISBN : Princeton University Press; Edição: Reprint (23 de março
de 2014)
Comentário : após um período extremamente turbulento da
história humana, atingindo os mercados monetário e financeiro
mundial, os líderes, invariavelmente, pedem um acordo, que
ficou conhecido como “Bretton Woods", para neutralizar
conflitos políticos e evitar desordens econômicas catastróficas. O
nome da remota cidade de New Hampshire, onde
representantes de 44 nações se reuniram, em julho de 1944, no
meio da segunda grande guerra, tornou-se o palco de um
interessante embate político,. A Batalha de Bretton Woods é uma
obra clássica da geopolítica econômica de nossa história.
conclusão
Conclusão
O sistema cambial vigente, com a globalização crescente e com grande fluxo de capitais,
mostra-se complexo e com nuances que podem alterar completamente economias
centrais e periféricas. Isso torna as políticas macroeconômicas fundamentais, como meio
de se estabilizar e desenvolver a economia. Ademais, o sistema monetário internacional
passou por diversas modificações desde 1870, a começar com um sistema baseado no
padrão-ouro, que vigorou até 1914 e foi abandonado por completo até 1944, período em
que se adota um padrão internacional baseado no ouro-dólar. Após 1973, esse padrão
deixa de ser empregado pelos EUA, o que fez com que o dólar ainda seja, até os dias de
hoje, a moeda de conversão internacional, assim como todas as moedas do mundo são
fiduciárias, isto é, moedas sem qualquer lastreamento em ativos físicos.

referências
Referências
Bibliográficas
AVERBUG, A.; GIAMBIAGI, F. A crise brasileira de 1998/1999 : origens e conseqüências.
Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: http://www.tharcisio.com.br/arquivos/textos/td-77.pdf
. Acesso em: 30 maio 2020.

BLANCHARD, O. Macroeconomia . São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017.

CINTRA, M. A. M.; MARTINS, A. R. A. (org.). As transformações no Sistema Monetário


Internacional . Brasília: IPEA, 2013. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_as_transformacoes_smi.pd
. Acesso em: 1º maio 2020.
KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. J. Economia internacional. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2015.

STEIL, B. The battle of Bretton Woods : John Maynard Keynes, Harry Dexter White, and
the making of a new world order. Princeton University Press, 2013.

THE BIG Mac Index. The Economist , jan. 2020. Disponível em:
https://www.economist.com/news/2020/01/15/the-big-mac-index . Acesso em: 1º maio
2020.

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