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2.1. Descentralização
Com significados diferentes que lhe são inerentes (participação, autonomia, reforma), a
descentralização intersecta as diferentes políticas públicas, sendo mais debatida nos países
marcados por uma forte tradição de centralização do Estado;
A partir dos modelos sistematizados por Lundgren (1996), Pacheco (2000: 94), aplicando `a
análise nas políticas curriculares, identificou quatro estratégias ou modelos principais:
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Trata-se de uma responsabilidade esseencialmente política dos órgãos ministeriais já que a
responsabilidade profissional do professor reside na implementação de orientações e
programas definidos urbi et orbe na base de um complexo quadro normativo;
Política cultural descentralizada ao nível dos discursos, mas recentralizada ao nível das
práticas;
Predominância das componentes profissional dos actores e institucional dos territórios locais;
A administração central define os referenciais da política cultural mas entrega aos territórios
locais a recontextualização realizada pela articulação do que pode se fazer ao que deve ser;
A indefinição dos limites entre as dimensões de localização do poder (nível central ou nível
local) e de assunção do poder (responsabilidade política ou responsabilidade profissional) é
uma das questões em permanente debate na concepção da política curricular e que
dificilmente merecerá um consenso;
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Na concepção das políticas públicas, a elaboração das políticas descentralizadas obedece
`a uma série de lógicas que constituem fundamentos das políticas descentralizadas,
nomeadamente:
A lógica do Estado, ou seja, do Estado regulador: O tempo de gerir tudo, controlar, passou. A
administração deve impulsionar, animar, dar coerência, contratualizar, avaliar;
A partir destes pressupostos, a escola, que agora funciona como um mercado pautado pela
concorrência, restrutura o seu funcionamento de modo a ser convertida numa organização
efeiciente, idêntica nos seus processos ao funcionamento de uma fábricaa, tal como se
pretendeu com a pedagogia por objectivos e que pode traduzir no paradigma contábil ou no
critério da exigência funcional;
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Modelo da eficiência que implica a promoção da eficácia relativamente ao custo do sistema
educativo através da gestão adequada dos recursos disponíveis;
Trata-se, assim, de uma estratégia que coloca no terreno da escola a solução dos
problemas mais complexos, que o poder centralizador ainda não foi capaz de resolver,
ao mesmo tempo que é reafirmado o argumento de que as escolas actuais não
respondem nem aos interesses do Estado nem às expectativas da sociedade
Alías, como sublinha Charlot (1994), a descentralização “não é uma conquista do local mas o
efeito de uma política nacional: ela foi desejada, definida, organizada e posta em prática pelo
Estado;
Projecto, actor, parceria e rede são noções que conferem identidade, poder e autonomia ao
território escolar. A ideia de projecto permite gerir a heterogeneidade, conciliando a
diversidade com a igualdade através da acção curricular; o actor, contrapondo-se a agente,
implica não só liberdade para decidir mas também capacidade para produzir mudança;
parceria e rede cinstituem os laços de interdepedência dos actores e dos territórios, apoiando-
se numa “lögica relacional” ou numa “lógica de solidariedade” .
Actividade de reflexão 2
1. Com base no que consta acima, acrescido ao que se pode ler no artigo de Rodriguez (in:
Bittar, 2006: 18), sobre “Políticas públicas e educação: a descentralização dos sistemas
nacionais de ensino, análises e perspectivas”, explique:
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responsabilização dos munícipos pela educação nos seus respectvos territórios.
c. Através de uma entrevista a, pelo menos, 5 (cindo) pessoas, demonstre o nível em que o
próprio Estado, no geral, e um município, a sua escolha, ao nível nacional, estão ou não
preparados para essa responsabilização pela gestão da educação no respectivo território
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Rousseau privilegia a participação dos indivíduos e não dos grupos e concebe a
participação como uma forma de intervenção nos processos de decisão, como uma forma
de proteger interesses privados e de garantir uma boa governação;
Sendo assim, a paticipação dos actores dentro de uma escola, sejam esles alunos,
professores ou membros da comunidade, exige uma certa autonomia. Eis porque,
recorrendo-se ao texto de Rui Moura Rui Moura (1999), publicado na revista
Educare/Educere (número 7, pgs 85-94), cujo t’itulo ‘e “ O conceito de Autonomia de
Escola: algumas reflexões”, importa tecer algumas considerações sobre a autonomia.
O ser humano não é um ser isolado, ele é “intrinsecamente um ser de relação.” (Pinto,
1998, p. 17). A literatura mais relevante sobre a autonomia na aprendizagem acentua a
importância da inter-relação com os outros para que o aprendente possa assumir um maior
controlo na sua aprendizagem (Kerka, 1994; Brookfield, 1993; Long, 1992; Mezirow,
1985): o aprendente autónomo não é independente ou dependente, mas sim
interdependente (Garrison, 1992). Assim, “a autonomia acontece quando a gestão das
relações que tecem a nossa existência permite a afirmação do sujeito, nomeadamente na
concretização de projectos.” (Pinto, 1998, p. 17).
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Barroso (1996B) observa que o conceito de autonomia está ligado à ideia de autogoverno,
onde os sujeitos se regulam por regras próprias. Contudo, isto não é sinónimo de
indivíduos independentes:
Para esta autora, a essência da autonomia da escola passa pela capacidade de efectuar
trocas com os outros sistemas que envolvem a escola. A autonomia da escola não é algo
adquirido, mas sim algo que se vai construindo na inter-relação, pois só assim a escola vai
criando a sua própria identidade.
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Reflectindo sobre o conceito de autonomia de escola, Barroso (1995B) observa que este
envolve duas dimensões: a jurídico-administrativa, e a socio-organizacional:
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Mas se todos estes elementos restringem o leque de escolhas dos actores , nem por isso
eliminam a sua possibilidade de escolher. Assim, o seu comportamento nunca é redutível a
tais estruturas englobantes e não pode por conseguinte deduzir-se a partir delas. (Friedberg
, 1995, p. 16)
Neste sentido, Lima (1991) afirma que mesmo num sistema educativo altamente
estruturado e centralizado, impondo as suas regras através da produção legislativa aos
estabelecimentos de ensino da sua dependência, tal não significa que esses mesmos
estabelecimentos de ensino cumpram uniformemente essas regras. “O actor é o elemento
central – aquele que, mesmo nas situações mais extremas, conserva sempre um
mínimo de liberdade que utilizará para bater o sistema.” (p. 148).
Por isso, este autor fala de infidelidade normativa por parte das escolas às regras impostas
que pode passar pela reprodução total, parcial, ou a não reprodução dos conteúdos
normativos. Esta infidelidade às regras do sistema deve-se ao facto de os actores
interagirem entre si e serem fieis aos seus objectivos, interesses, e estratégias, permitindo
que a escola assuma a sua identidade dentro do sistema em que está inserida. Assim, “a
escola não será apenas uma instância hetero-organizada para a reprodução, mas também
uma instância auto-organizada para a produção de regras e tomada de decisões” (Barroso,
1996B, p. 31).
Sarmento (1998) afirma que as organizações escolares podem assumir diversas formas de
regulação, tendo em conta duas grandes linhas: o formal / informal, e a diacronia /
sincronia (correspondendo à continuidade / mudança). Desta forma, o autor refere que, no
cruzamento destas duas grandes linhas, as escolas podem assumir quatro formas de
regulação. A primeira forma é a regulação normativa, correspondendo a um conjunto
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consignado de finalidade e intenções. A segunda forma é a regulação institucional, onde a
tradição institucional, através das mais variadas formas conduz a “um alto grau de
conformidade simbólica” (p.22). A terceira forma é a regulação administrativa, onde se
procura mobilizar os dispositivos e os recursos de acção para “atingir determinados fins no
contexto organizacional da escola.” (p.22). Finalmente a quarta forma é a regulação
contigencial, distinguindo-se das outras formas, pelo facto da regulação “não se exercer
sob a forma de normas, de comportamentos, de atitudes ou de actos administrativos, mas
de se apresentar sobretudo como dependente do momento e da situação.” (p. 22).
Barroso (1996B) observa, também, que as escolas variam entre a heteronomia absoluta e
a quase completa anomia (ausência de normas claras e comprometedoras, vivendo as
escolas numa absoluta rotina), existindo, todavia, muitas situações em que diversos
estabelecimentos de ensino souberam construir uma real autonomia . Este autor assinala
ainda a existência de diversas situações onde “os órgão de gestão ‘contornam’ certos
preceitos legais que impedem (ou dificultam) a tomada de decisão em domínios
considerados estrategicamente importantes” (p. 25). Este tipo de situação corresponde
àquilo que Lima (1991) chama de infidelidades normativas, e ao qual Barroso apelida de
autonomias clandestinas.
A regulação das escolas é o conjunto de processos que permitem que, de uma forma
sustentada e contínua, se possam articular, no plano da acção, a regularidade e a mudança,
o formal e o informal, a racionalidade a priori e a racionalidade a posteriori, a aplicação da
norma e a sua contradição. (p. 19)
Face ao que se disse acima, surge nos a questão sobre como a autonomia se concretiza na
escola. E para essa questão Rui Moura, no mesmo artigo citado anteriormente explica-nos
o seguinte:
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É pertinente reflectir sobre algumas formas de concretização da autonomia da escola,
permitindo perceber quais os princípios teóricos, ideológicos, ou políticos que estão na base
de uma determinada visão da autonomia escolar. Além disso, esta reflexão contribui
também para uma melhor compreensão dos diversos caminhos possíveis na construção da
autonomia da escola, não sendo, contudo, uma descrição exaustiva.
Em diversos países de língua inglesa têm-se assistido ao reforço da autonomia das escolas,
tendo este movimento sido designado por school based management (SBM). Como o próprio
termo indica trata-se de um movimento descentralizador, dando à escola autonomia para a
sua gestão. Apesar de em cada um destes países a aplicação do SBM ter assumido diferentes
formas de transferência de poderes para as escolas, em todos eles ele implicou um aumento
do poder de decisão na escola a nível financeiro, curricular, e gestão de recursos. Assim, o
poder de decisão passa a ser partilhado ao nível de órgãos constituídos pelos diversos actores
da escola.
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o Permitir que pessoas competentes nas escolas tomem decisões que favoreçam a
aprendizagem; dar voz à comunidade escolar nas decisões cruciais; acentuar a
prestação de contas das decisões; conduzir a uma maior criatividade na
formulação dos programas; redireccionar recursos a fim de suportar os objectivos
desenvolvidos em cada escola; permitir a realização de orçamentos realistas
devido a pais e professores estarem mais cientes da situação financeira da escola,
dos limites de duração e custo dos programas; melhorar o moral dos professores e
ajudar a sua liderança a todos os níveis. (p. 1)
Wohlstetter e Mohrman (1996) referem que esta descentralização deve envolver quatro
vertentes: 1) poder, 2) conhecimento, 3) informação, 4) recompensa. O poder significa a
capacidade “de tomar decisões que influenciam as práticas, as políticas e as direcções
organizacionais” (p.33). A dimensão do conhecimento permite aos diversos membros da
escola perceberem e contribuírem para os resultados da mesma. Este conhecimento “inclui
conhecimento técnico para realizar o trabalho ou proporcionar o serviço, capacidades
interpessoais, e conhecimentos e práticas administrativas” (p.33). A dimensão da
informação refere-se ao conhecimento que os membros têm acerca da performance da
organização, e à “informação estratégica acerca de políticas mais amplas e sobre o
ambiente económico” (p.33). A vertente da recompensa baseia-se nos resultados da
organização e nas contribuições dos seus membros para esses mesmos resultados. Esta
contribuição dos membros é favorecida através da recompensa do trabalho desenvolvido,
ajudando a uma participação mais efectiva desses mesmos membros da organização
escolar.
Este modelo insere-se, pois, naquilo a que Barroso (1995B) refere como lógica gestionária,
onde “o objectivo é o de aumentar a ‘eficácia’ e a ‘eficiência’ da escola reforçando a
responsabilidade dos seus órgãos de gestão por uma correcta aplicação dos meios que lhe
são distribuídos.” (p. 7). Não é pois de estranhar que a aplicação do SBM tenha estado
ligada a políticas neo-liberais onde o privado e o mercado são as palavras chave. Um
desses exemplos é o caso inglês com a reforma educativa denominada Education Reform
Act, aplicada em 1988 pelo governo de Margaret Tacther.
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Muitas vezes dissociam-se as questões, o funcionamento do mercado por um lado e o
funcionamento da sociedade civil no plano da cidadania por outro. Do meu ponto de vista,
o funcionamento do mercado é inerente ao funcionamento da sociedade civil democrática,
eu não dissocio o mercado da democracia, e por isso não vejo oposição entre a formação
para a cidadania e a organização do serviço para o mercado. (p. 20)
Lima (1995) critica esta perspectiva neo-liberal da educação, que acentua os valores da
concorrência e competição. Para este autor, a transposição das ideias do sector privado para
o serviço público de educação pode ser perniciosa, pois pode conduzir a uma concepção do
cidadão como um utente, cliente ou consumidor, e assim não promover a cidadania, a
participação e a emancipação do mesmo. Desta forma, o serviço público de educação deve
caminhar noutro sentido diferente da competitividade, do individualismo e do cálculo
custo-benefício:
Michael Porter, por exemplo: o que ele afirma é que há uma educação
mais importante do que outra. A mais importante é aquela que suporta a
criação de ‘vantagens competitivas’ na economia. Aquela que não se
dedica sobretudo a formar o cidadão mas sobretudo forma uma agência
racionalista de cálculo de custo-benefício; é a formação do cidadão da
pós-modernidade, individualista e dotado de grande capacidade de cálculo,
que constrói a sua própria história de vida ritualizada, de vida de sucesso
que exige competição. (…) Eu quero uma escola eficaz, quero uma escola
eficiente, quero uma escola de qualidade, mas é através dum padrão de
aferição de uma escola democrática com determinados valores, com a
recuperação de algumas utopias. Hoje a falta dessas utopias levou-nos a
acreditar neste one best way ideológico que seria uma ideologia do
privado, da competição, da concorrência. (p. 17)
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Neste mesmo sentido, Barroso (1995A) alerta para os perigos de se ver a gestão com um
fim em si, como um conjunto de princípios que podem ser generalizados, não tendo em
conta a especificidade das organizações. Assim, este autor refere que a gestão da escola
deve ser “uma gestão adequada às características organizativas de uma escola” (p. 22). A
escola é pois uma organização social onde coabitam pessoas das mais variadas faixas
etárias (adultos, crianças, adolescentes, jovens); é uma organização com fins educativos,
sendo o seu produto o crescimento dos alunos; e é uma organização com forte implantação
social tendo “uma finalidade objectiva, concreta e imediata, para as pessoas que vivem ali
ao lado dela.” (p. 22).
Desta forma, Barroso (1996A) considera que a autonomia da escola deve ser construída
e não decretada. A autonomia da escola tem de ter em conta a especificidade da
organização escolar, sendo construída pela interacção dos diferentes actores
organizacionais em cada escola (Barroso, 1995B). A interacção destes diferentes actores
conduz sempre a que se juntem diferentes interesses que é necessário saber articular. A
autonomia, é, pois, o resultado do equilíbrio de forças numa escola entre os diversos
detentores de influência. A autonomia da escola pressupõe a autonomia dos seus actores.
A autonomia da escola não se constrói por decreto; pelo contrário “esta perspectiva retira
sentido à tentativa de encontrar, a partir das chamadas ‘escolas eficazes’, estruturas e
modalidades de gestão que funcionem como padrão da autonomia para todas as escolas.”
(1996A, p. 186).
A autonomia de escola passa pela capacidade da mesma se identificar e, por isso mesmo,
de se diferenciar daquilo que a envolve. Mas, esta capacidade de se diferenciar implica
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que seja capaz de se relacionar e interagir com o meio que a envolve. Autonomia não
significa independência, mas sim interdependência.
Torna-se, pois, necessário conceptualizar a escola com esta dinâmica de interacção entre
os diversos actores, na perspectiva da sociologia da acção organizada (Crozier e
Friedberg, 1977; Friedberg, 1995). Parafraseando o Professor João Barroso, a autonomia
não se define pela existência de um determinado ordenamento jurídico. Se este último
pode ser importante com vista a uma maior dinâmica na autonomia das escolas, no
entanto a autonomia tem de partir da própria dinâmica da escola na construção da sua
identidade. Assim, a concepção de autonomia de escola tem de ter em conta a
diversidade, pois “a transferência para a escolas não deve ser uniforme e decidida
globalmente, mas deve ser adequada às diferentes situações existentes.” (Barroso, 1996C,
p. 19). Trata-se, pois, de uma mudança de percepção da escola como espaço de repetição,
para a noção da escola como lugar de produção e inovação (Canário, 1992
Como diz Rui Moura, para o caso português, o Decreto lei 43/89, mais conhecido por
decreto da autonomia, refere que “a autonomia da escola concretiza-se na elaboração de
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um projecto educativo próprio, constituído e executado de forma participada” (preâmbulo).
Desta forma, o projecto educativo tem um papel importante na concretização da autonomia
da escola. Convém referir que projecto educativo não é sinónimo de autonomia, mas sim
expressão da autonomia da escola (Madeira, 1995; Macedo, 1991).
A ‘capacidade de responder de forma original’ tem de ter como base a inter-relação dos
diferentes intervenientes ou parceiros da comunidade escolar. Pinhal (1993), referindo-se à
ideia de Território Educativo, observa que o projecto educativo deve ser o produto da
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negociação entre os diferentes interesses e formas de avaliar a realidade local. Assim, o
projecto educativo deve envolver um conjunto amplo de actores, contribuindo “para
identificar estas potencialidades e limites que se colocam à acção da escola e à intervenção
da comunidade educativa” (Madeira, 1995). Assim, a negociação entre os diversos
parceiros da comunidade educativa é crucial para que exista um “compromisso conjuntural
sobe os princípios que vão orientar a política da escola” (Macedo, 1991, p. 135).
Actividade de reflexão 3
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A educação, desde o nível básico até ao superior, tem sido apontada como um dos principais
factores da diferença resultante da inserção das classes sociais no sistema produtivo e do seu
poder político derivado;
Nesta perspectiva, a política educacional assume uma importância estratégica, pois sua
implementação está inevitavelmente vinculada ao projecto de desenvolvimento que as classes
sociais propõem `a sociedade, tal como se pode depreender pelo ideário da globalização e o
efeito do neoliberalismo nas políticas educativas;
No contexto que se apresenta, a lógica empresarial se impõe à política. Esse clima levou ao
surgimento da Organização Mundial do Comércio – OMC, que prega como política o livre
comércio internacional e a livre concorrência entre os mercados;
Contudo, Pacheco (2000: 10) considera que a educação é, acima de tudo,um serviço que
envolve finalidades, processos e resultados e que não pode ser totalmente justificado a partir
da variável que mais interessa à lógica de mercado.
Porém, a educação é, hoje em dia, fortemente intersectada pelos ideais e práticas neoliberais.
Tais realidades, material e mental – existentes, quer nas práticas de privatização, de
descentralização, quer nas ideias que são veiculadas pelos meios de comunicação social - ,
dão forma a um ideário educacional, cujo referente principal deve ser identificado como a
ideologia de mercado, isto é, uma ideologia que nos faz crer que a educação é um negócio
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que será mais bem administrado e produzirá excelência escolar se for regulado pelos
interesses dos grupos sociais que controlam o mercado;
O mercado como alternativa `a política de educação é legitimado pela vaga de termos que, no
quotidiano, são utilizados nos textos de orientação das políticas educativas e curriculares:
qualidade, flexibilidade, participação, autonomia, descentralização, devolução, etc;
A máxima “ mais mercado e menos Estado” não se aplica totalmente `a educação. Daí que
um dos aspectos mais contraditórios do pensamento educacional seja o da conjugação do
lema mais mercado, representado pelo neoliberalismo, com a ideia de mais Estado,
defendida pelos neoconservadores, ou por aqueles que pugnam pela conservação, por
intermédio da escola, dos símbolos tradicionais;
Esta contradição pela existência, ora de um Estado mínimo, na regulação do mercado, ora de
um Estado máximo na definição e avaliação dos conteúdos curriculares, justifica a defesa de
ideias e práticas educativas que privilegiam mais os resultados do que os processos de
aprendizagem. Poder-se-ia dizer de outra forma: os propósitos são definidos e controlados
pelo que é público e os resultados são entregues aos interesses dos grupos de mercado;
Assim, a educação torna-se num propósito bem definido que a aliança, aparentemente
contraditória, formada por neoliberais e neoconservadores, transforma quer num mero
serviço e produto sujeito `as mais elementares regras de mercado, quer num símbolo que
agrega valores e define standards nacionais em termos de escolarização do saber;
A conciliação de interesses tão divergentes, para além de permitir que a escola seja pensada a
partir de críticas que a colocam na crescente maré da mediocridade dos resultados da
aprendizagem, possibilita a formação de um quadro global de gestão da educação basedo na
centralização do Estado, isto é, a conjugação de propósitos de estandartização do que se deve
aprender no contexto das escolas com processos de decisão mais próximos dos contextos
locais que são orientados pela filosofia da descentralização;
Uma das ideias fortes deste pensamento é a de que, sendo o sector público o respons’avel
pela crise da economia e pela ineficiência da sociedade, o privado é a solução adequada para
a qualidade, eficiência e competitividade da educação;
É evidente que o pilar desse referente simbólico é o currículo que, para além de fazer parte
do processo de construção da identidade colectiva, é o instrumento adequado de regulação
não só para a formulação dos objectivos de aprendizagem, que se encontram nas diversas
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formas se selecção e organização do conhecimento oficial, bem como para o estabelecimento
de critérios de controlo dos alunos e professores;
A avaliação da qualidade passa a ser, assim, o discurso dominante que tanto serve para
legitimar a intervenção do Estado no processo de regulação do sistema, como é utilizado para
responsabilizar as escolas, professores, alunos e os pais pelos resultados obtidos;
Concluindo, Pacheco (ibid: 14) diz que como a educação não é propriamente um produto
sujeito `a regras de oferta e procura do mercado, pois trata-se de um serviço orientado para a
cidadania – nunca a do consumo - , o neoliberalismo reconhece-se nas políticas de “ quase-
mercado”, assim descritas:
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são enquadrados profissionalmente em termos de medição de resultados e o sucesso é
perspectivado em função de parâmetros de custos-resultados. Aqui o profissional, legitimado
pela retórica da autonomia, é comparado ao manager, o elemento eficiente de uma
organização controlada pelos resultados.
Actividade de reflexão 4
As políticas publicas, em educação, podem ser feitas como parte de políticas globais de um
certo Estado ou Governo, figurando-se deste modo como sectoriais por se referirem a um
sector específico da actividade humana, na qual se pretendem obter determinados outputs;
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exemplo, devem assim definir e integrar uma regulação eficiente e equitável aos fluxos nas
diferentes fileiras e niveis de formação;
Deste modo, no contexto de integração das políticas sectoriais da educação, podemos nos
referir aos seguintes casos:
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